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2018 - D - Regina Thaise Ferreira Bento


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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO 
PUC - SP 
 
 
 
Regina Thaise Ferreira Bento 
 
 
 
Um estudo das geometrias prática e teórica presentes em The 
Pathewaie to knowledge de Robert Recorde: Possíveis diálogos 
 
 
 
 
 
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2018 
REGINA THAISE FERREIRA BENTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
Um estudo das geometrias prática e teórica presentes em The 
Pathewaie to knowledge de Robert Recorde: Possíveis diálogos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PUC-SP 
2018 
 
Tese apresentada à Banca Examinadora 
da Pontifícia Universidade Católica de 
São Paulo, como exigência parcial para 
obtenção do título de Doutor em 
Educação Matemática sob a orientação 
do Prof. Dr. Saddo Ag Almouloud 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Banca Examinadora 
 
Prof. Dr. Saddo Ag Almouloud 
 
Profa. Dra. Bárbara Luthaif Bianchini 
 
Prof. Dr. Gerson Pastre de Oliveira 
 
Prof. Dr. José Messildo Viana Nunes 
 
Prof. Dr. Méricles Thadeu Moretti 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Autorizo exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou 
parcial desta Tese por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos, desde que citada 
a fonte. 
Assinatura: _______________________________Local e Data:_______________ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho ao meu filho Guilherme e minha mãe Izabel. 
 Sem vocês não haveria a inspiração necessária para a conclusão desta jornada. 
 
 
 
. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Bolsista CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). 
 
AGRADECIMENTOS 
Ao apoio institucional da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e à 
CAPES pelo auxílio financeiro. 
 
A todos os professores do Programa de Estudos Pós-graduados em Educação 
Matemática da PUC-SP e, principalmente, a professora Dra. Bárbara Lutaif Bianchini, por 
manter suas portas sempre abertas. 
 
Agradeço em especial ao meu orientador, professor Dr. Saddo Ag Almouloud, por seu 
apoio, estímulo e gentileza, sempre. 
 
Aos professores Dr. Gerson Pastre de Oliveira, Dr. José Messildo Viana Nunes e Dr. 
Méricles Thadeu Moretti e a professora Dra. Bárbara Lutaif Bianchini por aceitarem 
compor a banca examinadora deste trabalho e por contribuírem com valiosas críticas e 
sugestões. 
 
Agradeço imensamente à Ana Rebeca Miranda Castillo. Não imaginaria esta trajetória 
sem seu apoio e confiança. Aprendi muito contigo e serei eternamente grata por ter se 
mantido sempre ao meu lado. 
 
Aos colegas da PUC, pelas inúmeras contribuições e, principalmente às amigas, Roseli 
Moura e Ângela Maria dos Santos e ao amigo Jorge Henrique Gualandi, por 
compartilharem de minhas aflições e sempre, com carinho e cuidado me aconselharem e 
principalmente...me ouvirem. 
 
À amiga Sandra Dower, minha irmã desta e de outras vidas. 
 
À amada amiga Lilian Ribeiro de Oliveira e ao amigo Cláudio Alves que não me 
esqueceram e não desistiram de mim, mesmo diante de tantas e repetidas ausências. 
 
À amiga de todas as horas Nádia El Kadri. 
 
Agradeço a todos os amigos do Centro Universitário Anhanguera Campo Limpo, em 
especial aos meus coordenadores Renato Matroniani e Viviane Miriam Cruz pelo apoio 
constante. 
 
Agradeço a todos os amigos da E.E. Prof. Dr. Lauro Pereira Travassos, em especial ao 
diretor Agenor Luis pelo carinho, incentivo e prontidão em ajudar...sempre. 
 
Aos meus alunos, que continuamente me motivaram e me deram a alegria e a vontade 
necessária de aprender cada vez mais para compartilhar com eles. 
 
Agradeço em especial à minha mãe Izabel e meu irmão Eder, com os quais eu pude 
contar incondicionalmente. Se esta jornada foi possível, sem dúvida, devo muito a vocês. 
Ao meu amado filho Guilherme, cujo sorriso e amor são os combustíveis da minha vida. 
E principalmente, a Deus, pai misericordioso que possibilitou a realização deste sonho e 
deu-me asas e força para voar. 
 
A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da 
busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da 
alegria. 
Paulo Freire 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do 
que os outros fizeram de nós. 
Jean-Paul Sartre 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Paciência: O intervalo entre a semente e a flor. 
Ana Jácomo 
 
BENTO, R. T. F. Um estudo das geometrias prática e teórica presentes em The 
Pathewaie to Knowledge de Robert Recorde: possíveis diálogos. 2018. Tese 
(Doutorado em Educação Matemática). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 
São Paulo, 2018. 
RESUMO 
Neste trabalho, apresentamos o matemático inglês Robert Recorde (1512-1558) e seu 
tratado sobre geometria entitulado The Pathewaie to Knowledge, escrito em inglês 
moderno e cuja primeira edição foi impressa no ano de 1551. Analisamos neste tratado a 
presença e possível diálogo estabelecidos entre os conhecimentos geométricos 
provenientes de antigas tradições ligadas à prática e a geometria teórica que era estudada 
nas universidades e baseada no tratado geométrico escrito por Euclides. Para tanto, 
analisamos o contexto no qual a obra e seu autor estavam inseridos, identificamos quais 
os conhecimentos matemáticos estão presentes nesse tratado e como se relacionam com 
as práticas matemáticas e o saber erudito da época. Além disso, procuramos indícios que 
nos permitissem evidenciar a presença de outras tradições geométricas. Esta análise 
utilizou-se da articulação entre três esferas: a historiográfica, a contextual e a 
epistemológica. Essa junção permitiu-nos um olhar ampliado sobre as possíveis 
motivações que teriam levado Recorde a escrever o tratado em questão. Verificamos que 
Recorde era um homem culto e atento às demandas de seu povo e de seu tempo. A 
Inglaterra do século XVI estava em um momento de transformação social, política e 
religiosa, havia uma grande demanda por investimentos nas ciências voltadas às 
questões práticas, tais como a artilharia, horologia, navegação e medição de terras. 
Assim, profissionais tais como os agrimensores e navegadores assumiram um papel 
determinante para o desenvolvimento da Inglaterra e necessitavam de maiores 
conhecimentos matemáticos para avançarem em suas práticas. Contudo, o acesso ao 
ensino era restrito para a maioria da população e o pouco material disponível era escrito 
em latim. Essa demanda por conhecimentos voltados às matemáticas praticadas neste 
período, tais como aritmética, álgebra e geometria fez com que profissionais que 
dominavam seus ofícios começassem a produzir materiais escrevendo-os na língua 
vernacular. Recorde, com sua formação privilegiada, foi o primeiro a elaborar uma coleção 
de livros textos em inglês com matemática básica voltada diretamente aos interesses 
desses profissionais. The Pathewaie to Knowledge foi o primeiro tratado sobre geometria 
prática escrito em inglês. Nesse período a geometria prática e teórica eram 
independentes. Com os resultados desse trabalho conclui-se que de fato Robert Recorde 
estabeleceu um diálogo entre as geometrias prática e teórica, contribuindo com a 
disseminação dos conhecimentos matemáticos especulativos e a validação da geometria 
utilizada há séculos pelos praticantes das matemáticas. Essa análise indica que a 
compreensão do processo que envolve a construção de conhecimentos matemáticos 
pode auxiliar de forma efetiva em uma aprendizagem mais crítica pelos educadores 
matemáticos. 
Palavras-chave: História da Matemática. Educação Matemática. Geometria Prática. 
Praticantes das Matemáticas. Robert Recorde. 
 
ABSTRACT 
In this work we present the English mathematician Robert Record (1512-1558) and his 
treatise on geometry titled The Pathewaie to Knowledge, written in modern Englishand whose first edition was printed in the year 1551. We analyze in this treatise the 
presence and possible dialogue established between the geometric knowledge from 
ancient traditions linked to practice and the theoretical geometry that is studied in the 
universities and is based on the geometric treatise written by Euclides. To do so, we 
analyze the context in which the work and its author were inserted, identify what 
mathematical knowledge is present in this treatise and how they relate to the 
mathematical practices and the scholarly knowledge of the time. In addition, we sought 
indications that would allow us to evidence the presence of other geometric. This 
analysis was made use of the articulation between three spheres: the historiographical, 
the contextual and the epistemological. This combination gave us a broader look at the 
possible motivations that would have led Recorde to write the treatise in question. We 
find that Record was a man cultivated and attentive to the demands of his people and 
his time. Sixteenth-century England was at a time of social, political, and religious 
transformation; there was a great demand for investments in the practical-oriented 
sciences such as artillery, horology, navigation, and land measurement. Thus, 
professionals such as land surveyors and navigators assumed a determining role for 
the development of England and needed greater mathematical knowledge to advance 
their practices. However, access to education was restricted to most of the population 
and the little available material was written in Latin. This demand for mathematical 
knowledge practiced in this period, such as arithmetic, algebra, and geometry, made 
professionals who mastered their craft begin to produce materials written in the 
vernacular. Recorde, with his privileged background, was the first to produce a 
collection of textbooks in English with basic mathematics aimed directly at the interests 
of these professionals. The Pathewaie to Knowledge was the first treatise on practical 
geometry written in English. At that time practical and theoretical geometry were 
independent. With the results of this work it is concluded that in fact Robert Record 
established a dialogue between practical and theoretical geometries, contributing to 
the dissemination of speculative mathematical knowledge and the validation of 
geometry used for centuries by mathematicians. This analysis indicates that the 
understanding of the process that involves the construction of mathematical knowledge 
can effectively aid in a more critical learning by mathematical educators. 
 
Keywords: History of Mathematics. Mathematical Education. Practical Geometry. 
Practitioners of Mathematics. Robert Recorde. 
LISTA DE FIGURAS 
Figura 1: Esferas de análise....................................................................................................................... 22 
Figura 2: Distância de Tenby a Oxford - Inglaterra ................................................................................ 27 
Figura 3: Vista de Tenby no ano de 1586 ................................................................................................ 28 
Figura 4: Imagem atribuída a Robert Recorde ....................................................................................... 29 
Figura 5: Frontispício de The Pathewaie to Knowledge ........................................................................ 66 
Figura 6: Croked e Right lines ................................................................................................................... 76 
Figura 7: Ângulos retos ............................................................................................................................... 77 
Figura 8: Sharpe angles .............................................................................................................................. 78 
Figura 9: Croked Platte ............................................................................................................................... 79 
Figura 10: Mixte Platte ................................................................................................................................ 80 
Figura 11: Cubo e Globo ............................................................................................................................. 82 
Figura 12: Figuras formadas por pontos .................................................................................................. 83 
Figura 13: Plumbe-line ................................................................................................................................ 85 
Figura 14: Bias Line ..................................................................................................................................... 86 
Figura 15: Classificação de Paralelas ...................................................................................................... 86 
Figura 16: Twiste e Spirall Line ................................................................................................................. 87 
Figura 17: Matche Corner ........................................................................................................................... 88 
Figura 18: Corda........................................................................................................................................... 89 
Figura 19: Cantles ........................................................................................................................................ 89 
Figura 20: Nooke cantle e Nooke plainlie ................................................................................................ 90 
Figura 21: Egg e Tunne Fourmes ............................................................................................................. 91 
Figura 22: Eye Fourme................................................................................................................................ 92 
Figura 23: Classificação de triângulos...................................................................................................... 94 
Figura 24: Classificação de triângulos...................................................................................................... 95 
Figura 25: Classificação de triângulos com lados diferentes ............................................................... 95 
Figura 26: Inner e Utter angles .................................................................................................................. 96 
Figura 27: Tipos de quadriláteros .............................................................................................................. 96 
Figura 28: Cinkangles.................................................................................................................................. 97 
Figura 29: Squire .......................................................................................................................................... 97 
Figura 30: Bodies ......................................................................................................................................... 98 
Figura 31: Construção do triângulo equilátero ...................................................................................... 104 
Figura 32: Cortar em dois o ângulo retilíneo dado ............................................................................... 106 
Figura 33: Cortar em duas a reta limitada dada ................................................................................... 107 
Figura 34: Traçado de uma reta perpendicular .................................................................................... 109 
Figura 35: Traçado de uma reta perpendicular a um ponto próximo ao final da reta .................... 110 
Figura 36: Construir um quadrado igual à retilínea dada ....................................................................113 
Figura 37: Divisão de um arco em duas partes iguais ........................................................................ 114 
Figura 38: Segunda sugestão de como dividir um arco em duas partes iguais ............................. 115 
Figura 39: Terceira sugestão de como dividir um arco em duas partes iguais ............................... 116 
Figura 40: Exemplos de figuras inscritas e não inscritas .................................................................... 118 
Figura 41: Inscrição de um círculo em um triângulo dado .................................................................. 119 
Figura 42: Inscrição de um círculo em um triângulo dado – Outro possível exemplo ................... 120 
Figura 43: Circunscrição de um círculo em um triângulo dado.......................................................... 121 
Figura 44: Traçar uma linha reta perpendicular à reta limitada dada, a partir do ponto dado, que 
não está sobre ela ...................................................................................................................................... 136 
Figura 45: Pelo ponto dado, traçar uma linha reta paralela à reta dada .......................................... 138 
Figura 46: Construção de um triângulo a partir de três linhas ........................................................... 139 
Figura 47: Construção do ângulo reto .................................................................................................... 141 
Figura 48: Construção de um quadrado a partir da linha dada ......................................................... 142 
Figura 49: Construir um paralelogramo igual ao triângulo dado, no ângulo retilíneo dado .......... 143 
LISTA DE QUADROS 
Quadro 1: Divisão proposta em The Pathewaie to Knowledge ........................................................... 69 
Quadro 2: Definições presentes na primeira parte do Livro I de The Pathewaie to Knowledge ... 72 
Quadro 3: Construções ............................................................................................................................... 99 
Quadro 4: Contruções presentes no livro IV de Os Elementos ......................................................... 117 
Quadro 5: Construções que não constam em Os Elementos ............................................................ 122 
SUMÁRIO 
Capítulo 1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS ....................................................................... 16 
1.1 Metodologia ............................................................................................................................ 21 
Capítulo 2 – ROBERT RECORDE E O CONTEXTO INGLÊS DO SÉCULO XVI ..... 27 
2.1 Uma breve cronologia .......................................................................................................... 27 
2.2 O Fundador da escola britânica de escritores matemáticos ..................................... 30 
2.3 As influências políticas e religiosas na vida e obra de Robert Recorde ................. 34 
2.4 O público-alvo dos tratados ............................................................................................... 44 
2.5 Os tratados matemáticos de Robert Recorde ................................................................ 49 
2.6 A Geometria prática e a Geometria Teórica ................................................................... 53 
2.6.1 Os Elementos de Euclides ........................................................................................................ 56 
2.6.2 Hugo de São Victor ..................................................................................................................... 60 
2.6.3 Villard de Honnecourt ................................................................................................................ 61 
Capítulo 3 – The Pathewaie to Knowledge ................................................................... 64 
3.1 A obra ..................................................................................................................................... 64 
3.2 A divisão proposta no tratado ........................................................................................... 68 
3.3 Primeira parte do livro I - The definicions of the principles of Geometrie .............. 71 
3.4 Segunda Parte do livro I - The practike woorkyng of sondrie conclusions 
geometricall .................................................................................................................................. 99 
3.4.1 Comparação com o Livro I de Os Elementos...................................................................... 103 
3.4.2 Comparação com o Livro II de Os Elementos .................................................................... 111 
3.4.3 Comparação com o Livro III de Os Elementos ................................................................... 113 
3.4.4 Comparação com o Livro IV de Os Elementos ................................................................... 116 
3.4.5 As construções que não constam em Os Elementos ....................................................... 122 
Capítulo 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 124 
REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 130 
ANEXO A: Construções de The Pathewaie to Knowledge referentes ao livro I de 
Os Elementos. .................................................................................................................... 136 
 
16 
 
Capítulo 1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
 
O estudo de conceitos geométricos pode ser associado a diversas pessoas que 
contribuíram com o desenvolvimento desse campo ao longo do tempo. Muitos nomes 
são comumente citados em livros didáticos e materiais acadêmicos reconhecidos. 
Porém, existem outros nomes na história que se destacaram por suas realizações e 
por vezes recebem um papel secundário pela historiografia tradicionalmente 
conhecida. Esse é o caso de Robert Recorde (1512-1558) e seus inúmeros tratados 
matemáticos produzidos durante o século XVI na Inglaterra. 
Nascido em Tenby (Inglaterra), Recorde foi um homem culto, filho de prósperos 
comerciantes. Com uma formação privilegiada, ele frequentou as universidades de 
Cambridge e Oxford, formando-se médico. Além disso, foi conhecido da côrte inglesa 
e exerceu funções variadas, tais como o de agrimensor geral nas minas Irlandesas. 
Suas contribuições com a divulgação e ensino das matemáticas vigentes no 
século XVI concedem a ele um lugar especial na história e justificam as pesquisas que 
acrescentem informações sobre sua biografia. Normalmente, ele é lembrado por ser 
o criador do sinal de igual (=) tal como conhecemos hoje. Porém, seus feitos e sua 
contribuição com a história vão muito além disso. Em uma Inglaterra em que o idioma 
oficial nas publicações acadêmicas era o latim, Recorde foi o primeiro a escrever em 
inglês uma série de livros sobre as matemáticas vigentes no período, com 
representações esquematizadas e ênfase na aplicação prática dos conhecimentos 
matemáticos utilizados em sua época. 
Quanto ao entendimento do que eram as “matemáticas” nesse período, 
devemos destacar, conforme Saito (2015) que: 
[...] a ‘matemática’ como área autônoma e unificada de ‘conhecimentos 
matemáticos’ só surgiu em finais do século XIX. Antes disso, esses 
conhecimentos matemáticos encontravam-se ‘pulverizados’ e eram parte 
integrante de outros segmentos de conhecimento, tais como a astronomia, a 
música, a agrimensura etc., que eram conhecidas como ‘matemáticas’. 
(SAITO, 2015, p. 29) 
Assim, durante esse período, conhecido como Renascimento, não haviam 
disciplinas como conhecemos hoje. Bromberg e Saito (2010) esclarecem que as 
matemáticas estavam coligadas com outras áreas do saber. Segundo Roux (2010), 
para uma melhor compreensão do que eram as matemáticas,devemos observar que 
17 
 
elas estavam diretamente ligadas às atividades com características práticas, tais 
como os ofícios dos marinheiros e agrimensores. Também ocorria seu estudo e 
aprendizado nas universidades, porém enfatizando uma dimensão teórica distante 
das atividades desses trabalhadores. 
Consoante com esse caráter prático, os tratados de Robert Recorde dedicados 
às matemáticas abordaram aritmética, geometria, astronomia e álgebra. Nesta 
pesquisa investigaremos o seu tratado dedicado à geometria: The Pathewaie to 
Knowledge, destinado à agrimensura, que contou com três edições e foi publicado 
pela primeira vez em 1551. Analisaremos o livro I da segunda edição1, escrito em 
inglês moderno e datado de 1574. 
Alguns estudiosos, tais como Comarck (2006) e Gillispie (1970-1980), 
classificam The Pathewaie to Knowledge como uma tradução simplificada de Os 
Elementos (tratado de Euclides dedicado à geometria). Porém, seu estudo indica 
muito mais que uma tradução. The Pathewaie to Knowledge é um reflexo das 
demandas vivenciadas pela Inglaterra no século XVI. De fato, essa obra expõe parte 
do trabalho de Euclides, mas apresenta divergências em conteúdo e forma. Muitos 
pesquisadores, tal como Hownson (1982) e Johnson (1935) concordam que 
possivelmente, essas diferenças representam uma resposta de Recorde para as 
necessidades do público a quem esse tratado se dirigia. 
Sendo The Pathewaie to Knowledge fruto das necessidades de uma época, 
para compreendê-lo foi necessário buscar indícios a respeito dos possíveis interesses 
que motivaram sua elaboração. Nota-se que a vida de Recorde é singularmente 
diferente ao que se costuma associar a um típico escritor. Hownson (1982, p. 8) 
observa, por exemplo, que alguns de seus tratados matemáticos foram escritos 
enquanto ele servia à monarquia em postos oficiais2. 
Recorde vivenciou o reinado dos Tudor (1485-1603). Nesse período, a 
Inglaterra, assim como outros países, passava por grandes modificações. Além das 
 
1 Optamos por analisar a segunda edição de The Pathewaie to Knowledge, porque segundo Lipscombe 
(2012), ela foi utilizada como alternativa ao tratado sobre geometria de Euclides: Os Elementos, 
traduzida para o inglês moderno por Henry Billingsley (1530? – 1606) em 1570. 
2 Para saber mais consulte: Hownson (1982) e Gillispie (1970-1980). 
18 
 
questões voltadas à expansão territorial, também houve o rompimento com a Igreja 
Católica e a fundação da Igreja Anglicana da Inglaterra. 
Além disso, a Inglaterra passava por um movimento de expansão, envolvendo 
questões ligadas as navegações, cartografia, questões territoriais e de defesa, entre 
outros aspectos. Também, a agrimensura e o cálculo de impostos exigiam grande 
atenção nesse período. Os tratados de Recorde indicam que ele estava atento a essas 
demandas. The Pathewaie to Knowledge, por exemplo, é escrito em um momento em 
que a agrimensura ganha um novo impulso, devido à necessidade de se medir os 
territórios recém adquiridos pelo rei. 
Cabe ressaltar que nesse período, havia uma significativa separação na 
classificação dos conhecimentos. Os saberes empregados nos ofícios diretamente 
vinculados ao trabalho manual (tais como marinheiros, agrimensores e artesãos) 
pertenciam às artes mecânicas, e o conhecimento contemplativo, de caráter mais 
acadêmico era vinculado às artes liberais3, estudadas e ensinadas nas universidades. 
O programa de ensino estudado nas universidades, que compunha as artes 
liberais era dividido entre o Trivium e o Quadrivium4, sendo amplamente valorizado e 
voltado para a contemplação e o estudo de antigos textos escritos em latim. No 
entanto, as artes mecânicas eram desvalorizadas pela sociedade vigente, e seus 
praticantes eram menosprezados e considerados servis. 
De acordo com Debus (1978), devido esse cenário de expansão, que 
demandava conhecimento prático, a desvalorização das artes mecânicas sofreu uma 
modificação importante durante o século XVI. Consequentemente, isso causou um 
aumento no número de pessoas interessadas em dominar essas artes, que como 
mencionamos até então eram desprezadas. 
Segundo Ash (2004) esse movimento ocasionou uma busca por tratados 
matemáticos tanto em geometria quanto em astronomia, pois esses conhecimentos 
 
3 As sete artes liberais eram compostas pelo Trivium e Quadrivium. Essas artes eram ensinadas em 
latim e grego e tinham como característica principal uma plena e total dedicação ao estudo, livre de 
qualquer esforço. (RUGIU, 1998) 
4 O Trivium era composto pela retórica, gramática e lógica, sendo destinado à uma educação mais 
refinada. O Quadrivium contemplava as áreas de aritmética, música, geometria e astronomia e era 
destinado à uma educação mais informativa, voltada para algum tipo de aplicação profissional. 
(BORGES FILHO, 2005) 
19 
 
estavam fortemente vinculados à prática. Além disso, Saito (2014) observa que a 
geometria também ganhara novo status devido ao reconhecimento de suas possíveis 
aplicações em ofícios variados, tais como, por exemplo, agrimensura, navegação e 
assuntos militares. 
Porém, a despeito dessa necessidade, a maioria do material para estudo que 
estava disponível à época era escrito em latim e esse idioma era dominado por poucas 
pessoas. Assim, apesar da valorização das artes mecânicas decorrente da 
necessidade de se obter conhecimentos práticos gerada por esse movimento de 
expansão, a maioria dos ingleses tinha grande dificuldade em ter acesso e 
compreender os materiais teóricos disponíveis. É nesse contexto, em que o 
conhecimento prático se sobressai, que as obras de Recorde ganham destaque. 
Esse contexto propiciou um movimento de produção de manuais práticos, que 
começaram a ser escritos pelos praticantes das artes manuais que dominavam seus 
ofícios. Esses profissionais eram chamados de praticantes das matemáticas5 e é para 
esse público, em grande parte, que Recorde escreveu seus tratados. Segundo Taylor 
(1954), esse era um grupo de profissionais que exerciam seu ofício empregando 
conhecimentos matemáticos ligados à prática. 
Atento a esse contexto e atendendo a essa demanda, Recorde elaborou 
tratados matemáticos voltados à prática, muito associados as navegações e 
consequentemente à agrimensura, como observado em The Pathewaie to Knowledge 
que é dedicado aos praticantes das matemáticas e em especial aos agrimensores. 
Seus tratados foram escritos em linguagem vernacular, de forma simples e organizada 
(JOHNSON, 1935). Esse caráter prático nas obras de Recorde, e o público para quem 
esses estudos eram direcionados são comumente citados em vários artigos. 
No entanto, não podemos afirmar que a elaboração de livros que são 
apontados por muitos autores como didáticos6, tenha sido a preocupação de Recorde, 
ou ao menos a única. A escrita desses tratados demonstrava sua proficiência no 
 
5 Para saber mais sobre os praticantes das matemáticas, consulte Harkness (2007) e Taylor (1954). 
6 Adotaremos o termo “didático” quando usado por autores de nossas fontes secundárias, com o 
objetivo de manter a interpretação do conceito empregado, mas ressaltamos que esse termo ainda não 
existia no século XVI. 
20 
 
assunto, também necessária para ser reconhecido pela monarquia e ser indicado a 
cargos oficiais, como os que ele assumiu durante sua vida. 
Em nossa análise, identificamos em The Pathewaie to Knowledge a presença 
de conhecimentos propedêuticos provindos de Euclides e também conhecimentos 
vinculados à prática, possivelmente advindos de outras antigas tradições. Assim, essa 
inédita junção entre ambas as geometrias em um tratado dedicado à geometria, fez 
emergir nosso interesse em analisar este que pode ser um dos primeiros diálogos 
estabelecidos entre as geometriasprática e teórica presentes no século XVI. 
Diante de um contexto tão amplo, optamos por analisar o livro 1 do The 
Pathewaie to Knowledge. Nessa análise, identificamos os conhecimentos geométricos 
que faziam dessa parte do tratado, que continha 4 livros, buscando responder a 
seguinte questão: Quais são os traços que nos permitem evidenciar um possível 
diálogo entre a geometria teórica e a geometria prática em The Pathewaie to 
Knowledge? 
Embora possa nos parecer uma pergunta de fácil resposta, cabe ressaltar que 
nesse período ainda não estava institucionalizado um diálogo entre ambas as 
geometrias pois, não havia uma dependência entre a geometria prática e a teórica, 
isto é, elas existem de forma independente sendo desenvolvidas de acordo com os 
propósitos a que se destinavam. A geometria teórica estava presente nas 
universidades e a geometria voltada à prática, muitas vezes, era aprendida por meio 
de corporações dedicadas a ensinar o ofício, utilizando o conhecimento transmitido de 
geração em geração, frequentemente por meio da oralidade. 
Com isso, a análise desse tratado buscará indícios que possibilitem tecer 
conjecturas sobre o porquê da elaboração dessa obra pioneira por Recorde, Assim 
sendo, definimos os seguintes objetivos específicos para o desenvolvimento de nossa 
pesquisa: 1) Identificar o contexto no qual a obra e seu autor estavam inseridos. 2) 
Identificar, a partir desse contexto, quais os conhecimentos matemáticos estão 
presentes nesse tratado e como se relacionam com as práticas matemáticas e o saber 
erudito da época. 3) Examinar se há indícios que nos permitam evidenciar a presença 
de outras tradições geométricas. 4) Confirmar ou não se de fato há indícios de que 
The Pathewaie to Knowledge estabelece um diálogo entre as geometrias prática e 
teórica. 
21 
 
Para tanto, iniciamos o capítulo 2 discorrendo sobre a biografia de Recorde e 
suas obras, com vistas a apresentar o contexto em que a Inglaterra se encontrava e 
que possivelmente o teria influenciado na escrita de seus tratados. 
No capítulo 3, apresentamos e analisamos a obra The Pathewaie to 
Knowledge, identificando as diferentes geometrias presentes no tratado e buscando 
tecer uma análise desse conteúdo, procurando semelhanças e diferenças com a 
geometria presente na obra Os Elementos, além da presença de outras antigas 
tradições geométricas. Contudo, a comparação entre essas obras restringe-se 
basicamente ao caráter prático presente em ambos os tratados. 
Para estabelecer esse diálogo com Os Elementos, utilizamos a atual versão 
brasileira, transcrita por Bicudo (2009). 
1.1 Metodologia 
Não encontramos nenhuma pesquisa concluída no Brasil que discorra sobre a 
vida e obra de Robert Recorde. A maioria dos documentos encontrados provêm de 
países que utilizam a língua inglesa. Ainda assim, os trabalhos existentes indicam que 
pouco se sabe sobre sua biografia. De acordo com Smith (1921), grande parte do 
material que está disponível sobre Recorde encontra-se em Londres, no Public 
Record Office of Great Britain, departamento responsável por guardar os arquivos 
nacionais da Inglaterra. Também buscamos referências em bibliotecas e analisamos 
dados em periódicos internacionais disponibilizados em sites especializados. Para 
ampliar nossa busca, palavras-chave como agrimensura, geometria, geometria 
prática, cartografia, produção de almanaques, protestantismo, praticantes das 
matemáticas e demais questões ligadas ao século XVI foram de grande auxílio. 
Para compreender o texto em análise, isto é The Pathewaie to Knowledge, 
realizamos uma análise historiográfica documental, além de tecermos uma análise 
documental por interpretadores de Robert Recorde. Para tanto, estabelecemos um 
diálogo entre fontes primárias e secundárias 7 , obtendo assim uma malha de 
informações que nos permitiram contextualizar o documento em questão. 
 
7 Conforme Beltran, Saito e Trindade (2014, p. 18) referindo-se as fontes primárias e secundárias 
entendemos que “[...]os originais podem ser textos, imagens ou documentos da cultura material (objetos 
físicos) que chegaram a nossos dias trazendo registros de conhecimentos elaborados, transmitidos, 
22 
 
Segundo Alfonso-Goldfarb e Ferraz (2013), para que um documento seja 
devidamente contextualizado, de modo a restituí-lo à malha histórica, é necessário 
que consideremos três níveis, ou esferas de análise. Observamos na Figura 1 que 
essas esferas são a epistemológica, historiográfica e contextual. 
Figura 1: Esferas de análise 
 
Fonte: Beltran, Saito e Trindade, p. 17, 2014 
Goldfarb (2008)8 destaca ainda a importância de se construir uma análise a 
partir da interseção dessas esferas, de modo a escrever uma história sem 
anacronismos, isto é, evitando analisar o período em estudo com a percepção dos 
dias atuais, sem levar em consideração as diferenças presentes em cada período, 
compreendendo as motivações que muitas vezes não podem ser percebidas pela 
análise isolada do documento. 
Assim, o desenvolvimento desta pesquisa fez-se na interface entre as três 
esferas de análise. Corroborando essa ideia, Saito (2014, p. 16) acrescenta que a 
construção do objeto de pesquisa acontece na interface entre a epistemologia, a 
história e o contexto. 
A esfera epistemológica refere-se à análise epistêmica dos principais conceitos 
e argumentos que se encontram internos ao texto. É o conjunto de ações e 
 
adaptados em outros tempos e culturas. [...] já a literatura secundária abrage trabalhos sobre o tema 
focalizado, escrito por estudiosos contemporâneos.” 
8 Mais a respeito das três esferas de análise, vide A.M. Alfonso-Goldfarb (2008) e Beltran, Saito e 
Trindade (2014). 
Epistemológica
ContextualHistoriográfica
23 
 
conhecimentos compartilhados pelos contemporâneos de Recorde. Com essa análise 
procuramos compreender a dimensão interna do documento. Assim, com essa leitura 
cruzada entre literatura primária e secundária, buscamos estabelecer um diálogo entre 
as fontes, identificando e compreendendo o conhecimento geométrico que estava 
disponível e era praticado no século XVI e como ele está presente no tratado objeto 
de nosso estudo. 
A esfera historiográfica concerne às várias formas por intermédio das quais já 
se analisou um determinado documento, analisando e evidenciando os critérios da 
escrita da história. 
A terceira esfera trata do contexto histórico em que o documento foi produzido, 
considerando as circunstâncias que levaram à sua construção (ALFONSO-
GOLDFARB; FERRAZ, 2013, p. 45). Pois, conforme Saito (2015), compreendemos 
que a matemática não é mera contadora da história passada, mas é propulsora de 
acontecimentos, motivada em seu desenvolvimento pelas necessidades 
apresentadas em cada época. 
No que tange à esfera contextual propriamente dita, a análise das origens de 
Recorde em Tenby, sua família, seu desenvolvimento acadêmico em Oxford e 
Cambridge, seu relacionamento com a côrte e o contexto da Inglaterra nesse período 
foram de fundamental importância para entender seu envolvimento com questões 
ligadas ao conhecimento matemático. Tudo isto está diretamente ligado ao “fazer 
matemático” daquela época, no que se refere ao Quadrivium e mais especialmente 
em sua ligação com a geometria, sempre analisando aspectos que podem ter 
influenciado a escrita de The Pathewaie to Knowledge. 
Toda essa análise foi feita à luz da nova historiografia, que conforme 
esclarecem Bromberg e Saito (2010, p. 53): “busca reconstruir a história da 
matemática em seu contexto, levando-se em consideração não só os aspectos 
internos, mas também externos ao desenvolvimento do conhecimento matemático. ” 
Neste viés, Bloch (2002), afirma que deve-se ter um cuidado redobrado ao trabalhar 
com um tempo passado que já não temos mais acesso,buscando pequenos detalhes 
que frequentemente estão ocultos na escrita literária. 
 
24 
 
Inicialmente analisamos o desenvolvimento da geometria ao longo da história 
e parte dos diferentes conhecimentos geométricos reconhecidos durante o 
desenvolvimento da sociedade inglesa. O resultado desses estudos é apresentado no 
capítulo 2. 
Na sequência, nossa pesquisa dedicou-se a compreender a Inglaterra do 
século XVI em seus múltiplos aspectos, incluindo, entre eles, os reinados, questões 
religiosas (catolicismo e o protestantismo), domínio da Igreja Romana na Inglaterra, 
sistema de educação vigente, divisões sociais, impostos, agrimensura, guerras, entre 
outros aspectos. 
Concomitantemente a essas pesquisas, iniciamos a leitura e a tradução do 
tratado The Pathewaie to Knowledge. Este tratado está escrito, como já foi dito, em 
inglês moderno, idioma utilizado na época. As diferenças gramaticais e ortográficas 
encontradas na leitura e tradução deste tratado são destacadas por Roberts (2016): 
A ortografia do Early Modern English era semelhante a de hoje, mas a 
ortografia era instável. Impressoras precoces consideravam as letras "i" e "j" 
como variações intercambiáveis da mesma letra e, da mesma forma, as letras 
"u" e "v" não foram consideradas distintas ou separadas. O uso da forma 
longa da letra "s", que os leitores modernos, muitas vezes confundem com a 
letra "f", podem ser particularmente problemático. Impressoras 
frequentemente faziam uso de abreviações não encontradas em livros 
modernos, e capitalização, pontuação e hifenização foram geralmente ao 
acaso. Tudo isso pode fazer a leitura do Early Modern English cansativa para 
alguém desacostumado a ortografias do século XVI e convenções 
tipográficas.9 (ROBERTS, 2016, p. xi, tradução nossa) 
Essa tradução e posterior análise tiveram por objetivo identificar os 
conhecimentos geométricos presentes neste tratado, analisando-o junto à obra Os 
Elementos. Elencamos também as possíveis diferenças existentes entre estes 
tratados geométricos. Com tal cuidado, buscamos identificar indícios de que Recorde 
estivesse utilizando conhecimentos geométricos provindos de outras tradições. Pois, 
conforme observa Saito (2014, p. 29) “[...] diferentemente do que costumamos pensar, 
muito do conhecimento geométrico, compartilhado por artesãos, eruditos e outros 
 
9 Em ingles lê-se: “The orthography of Early Modern English was similar to that of today, but spelling 
was unstable. Early printers regarded the letters ‘i’ and ‘j’ as interchangeable variations of the same 
letter, and similarly the letters ‘u’ and ‘v’ were not considered distinct or separate. The use of the long 
form of the letter ‘s’, which modern readers often confuse with the letter ‘f ’, can be particularly 
troublesome. Printers often made use of abbreviations not found in modern books, and capitalisation, 
punctuation and hyphenation were usually haphazard. All this can make reading Early Modern English 
tiresome for anyone unaccustomed to sixteenth-century spellings and typographical conventions.” 
(ROBERTS, 2016, p. xi) 
25 
 
estudiosos de matemática do século XVI, não tinha por base apenas Os Elementos 
de Euclides, mas também outras obras ligadas às práticas matemáticas.” 
Essa análise contextual, feita a partir de fontes secundárias10, buscou também 
indícios que demonstrassem a motivação da escrita de seu tratado, ou seja, essa 
união entre o conhecimento teórico presente nas universidades e o conhecimento 
prático presente no cotidiano dos praticantes das matemáticas, sempre considerando 
que nesse período as geometrias existiam sem que houvesse dependência entre elas. 
Paralelamente, analisamos e confrontamos informações de documentos 
secundários que apresentam a biografia de Recorde, bem como sua participação em 
assuntos relacionados à época. Sobre isso, consideramos pertinente em nossa 
investigação fazer um estudo aprofundado do livro de Williams (2011). 
Também utilizamos a obra de Gordon Roberts, intitulada de Robert Recorde: 
The Tudor scholar and mathematician, publicado em 2016 pela universidade de 
Wales, e a tese de Thavit Sukhabanij, Mathematical Messiah: Robert Recorde and the 
popularization of mathematics in the sixteenth century, publicado em 1980 pela 
universidade de Denton, Texas. 
A análise de pesquisas biográficas sobre Robert Recorde mostrou-se 
necessária devido à escassez de materiais sobre Recorde e por propiciarem uma 
maior compreensão sobre as circunstâncias que possibilitaram e o conduziram a 
organizar e escrever os tratados matemáticos, em especial o tratado sobre geometria. 
Todos os documentos presentes no desenvolvimento desta pesquisa foram 
analisados considerando a interface entre as três esferas proposta pela historiografia 
atualizada. 
Com relação às traduções feitas ao longo deste trabalho, indicamos em notas 
de rodapé os escritos originais, nos casos que se referem ao tratado em estudo, isto 
é, The Pathewaie to Knowledge. 
Com esta pesquisa, esperamos contribuir com o estabelecimento de um 
diálogo entre a História e a Educação Matemática, colaborando para uma visão 
 
10Entre as principais fontes secundárias utilizadas em nosso estudo estão: Ash (2004), Bennett (1991), 
Easton (1966), Fauvel (1987), Harkness (2007), Higton (2001), Hownson (1982), Johnson (1935), 
Lipscombe (2012), Roberts (2012), Roberts (2016), Rossi (1989 e 2001), Rugiu (1998), Smith (1917 e 
1926), Shelby (1972) e Taylor (1954). 
26 
 
reflexiva que considera o indivíduo e suas necessidades ao longo de um processo 
histórico que envolve o desenvolvimento da Matemática como uma área autônoma e 
unificada, observando que os conceitos matemáticos amplamente estudados no 
sistema formal de ensino atual, frequentemente derivam entre diversos fatores das 
necessidades de uma época e, do contexto histórico nela implicado. 
Entendemos que, conforme observam Dias e Saito (2014, p. 1228), esses 
tratados dedicados às matemáticas, assim como The Pathewaie to Knowledge, foram 
deixados à margem pela tradicional historiografia da História da Matemática e seu 
estudo têm revelado novas evidências, dando-nos uma compreensão mais 
contextualizada do processo da construção do conhecimento matemático. Assim, sua 
análise permite construir uma visão diferenciada da história tradicionalmente contada, 
aproximando a história da Educação Matemática da história das pessoas. Além disso, 
ao apresentarmos outras tradições no trabalho com a geometria, ressaltando seu 
caráter humano, possibilitaremos o entendimento de que o estudo de conceitos 
geométricos está presente além da geometria de Euclides e em grande parte 
representam respostas às necessidades enfrentadas pela sociedade em seu 
desenvolvimento. 
Esse olhar humano poderá propiciar que os educadores sejam mais críticos na 
elaboração e construção de suas aulas e, da mesma forma, que os educandos 
também despertem para esse olhar diferenciado e investigativo sobre os 
conhecimentos matemáticos propostos em aula e muitas vezes compreendidos como 
sem significado para muitos deles. Assim, a utilização da história da Matemática 
enquanto recurso pedagógico possibilitará uma compreensão mais alargada da 
sociedade em que vivemos e da importância de entendermos nosso posicionamento 
diante dela. 
27 
 
Capítulo 2 – ROBERT RECORDE E O CONTEXTO INGLÊS DO 
SÉCULO XVI 
2.1 Uma breve cronologia 
O inglês Robert Recorde nasceu na cidade portuária de Tenby11, pertencente à 
Pembrokeshire, ao oeste do País de Gales (Figura 2). A data de seu nascimento é 
incerta, sendo estimada entre os anos de 1510 e 151212. Sua morte ocorreu como 
prisioneiro no King’s Bench Prison13 (HOWSON, 1982) provavelmente, em 18 de junho 
de 155814. Ele foi o segundo filho de Rose Johns e Thomas Recorde. Sua família era 
de prósperos comerciantese seu pai foi prefeito em Tenby no ano de 1515. 
Figura 2: Distância de Tenby a Oxford - Inglaterra 
 
Fonte: www.google.com.br/maps/place/Tenby. Acesso em 29 de março de 2016 
Segundo Roberts (2012), apesar de alguns historiadores não creditarem aporte 
cultural a esta localidade, Tenby (Figura 3) foi de grande influência na formação de 
Recorde, pois nesse período respondia como rota de navegação, sendo uma 
importante cidade portuária, responsável por grande fluxo de mercadorias. Assim, 
recebia constantemente navegadores, comerciantes e advogados, que com sua 
diversidade e riqueza de idiomas, culturas e negócios teriam influenciado em grande 
parte a formação e interesses futuros de Robert Recorde. Nascido em uma família de 
 
11 Tenby está localizado a aproximadamente 400 km de Londres em rotas atuais. 
 
12 Alguns pesquisadores como Ebert (1937), Roberts (2012), Gillispie (1970-1980) e Smith (1926) 
datam o nascimento de Recorde em 1510, porém essa data não é consenso. Outros pesquisadores 
como Howson (1982) e Comarck (2006) datam em 1512. Em sua lápide, na Igreja Paroquial de Tenby, 
consta a data de 1510 (SMITH, 1921, p. 296). Contudo, os documentos concordam que sua morte 
ocorreu em 1558. 
 
13 The King’s Bench Prison era uma prisão em Southwark, sul de Londres, na Inglaterra, desde a época 
medieval até seu fechamento em 1880. Era responsável pelos casos de difamação, falência e outros 
delitos. Fonte: www.british-history.ac.uk/survey-london/vol25/pp9-21. Acesso em 09 de agosto de 
2017. 
 
14 Para maiores detalhes sobre sua morte ler: Smith (1921; 1926). 
http://www.google.com.br/maps/place/Tenby
http://www.british-history.ac.uk/survey-london/vol25/pp9-21
28 
 
comerciantes, certamente muito de seu conhecimento resulta dessa troca constante 
de informações. 
Em face desse contexto, alguns pesquisadores, tal como Willians (2001), 
atribuem às origens de Recorde ao interesse verificado em seus tratados por questões 
ligadas as navegações. 
Figura 3: Vista de Tenby no ano de 1586 
 
Fonte: Roberts, 2016, p. 8 
Pesquisas recentes indicam que não há registros comprovadamente legítimos 
sobre sua fisionomia. Roberts (2016) observa que Recorde não tem nenhum retrato 
conhecido, infelizmente e contrariamente ao que é indicado em pesquisas anteriores 
sobre sua biografia, como a de Smith (1921), que até poucos anos indicava que um 
retrato feito em um painel de carvalho durante o século XVI pudesse representar a 
imagem de Recorde. 
Porém, mesmo sua imagem não sendo conhecida, existe uma comumente 
atribuída a ele que inclusive, estampa seu túmulo (Figura 4), em sua cidade Natal, 
Tenby. 
29 
 
Figura 4: Imagem atribuída a Robert Recorde 
 
Fonte: http://b-c-ing-u.com/2016/05/14/22790/. Acesso em 30/4/2017 
Muitas informações sobre sua vida são desconhecidas. Essa lacuna é indicada 
por Smith (1926) ao observar o fato de que diante de tantas contribuições em áreas 
diversas, tais como matemática e literatura médica, a quantidade de informações 
sobre Recorde é muito pequena e imprecisa em muitos pontos. 
http://b-c-ing-u.com/2016/05/14/22790/
30 
 
Essa imprecisão é notada, por exemplo, em sua formação acadêmica. Grande 
parte dessas informações é pontual, sem muitos detalhes. Sabemos que seus estudos 
foram privilegiados devido às instituições nas quais ele estudou. Recorde iniciou seus 
estudos em Oxford no ano de 1525, graduando-se bacharel nas artes liberais em 
1531, mesmo ano em que se tornou “fellow” do All Souls College, fundação dedicada 
ao estudo de teologia, medicina e leis. (GILLISPIE, 1970-1980). Prosseguindo em 
seus estudos, licenciou-se em medicina no ano de 1531 e formou-se mestre nas artes 
liberais em 1534 (HOWNSON, 1982, p. 6). Segundo Roberts (2012), Recorde iniciou 
os estudos em Cambridge em 1535 e em 1545 obteve o título de doutor em medicina. 
2.2 O Fundador da escola britânica de escritores matemáticos 
Essa sólida formação acadêmica possibilitou que Robert Recorde contribuísse 
para o estudo e divulgação das matemáticas na Inglaterra do século XVI. O grande 
valor e pioneirismo atribuído aos seus tratados matemáticos permitem que 
pesquisadores como Smith (1926) o considerem o fundador da escola britânica de 
escritores matemáticos. 
De fato, a análise dos materiais pesquisados sobre sua vida e obra indica que 
a contribuição de Recorde com a história da Matemática foi extensa e profícua. A 
relevância dos seus tratados está diretamente vinculada às demandas da Inglaterra 
durante o século XVI. Assim, a perspicácia de Recorde, ao elaborar esses tratados, 
permite que historiadores como Cajori (1922) afirmem que “Robert Recorde é a estrela 
da manhã da literatura matemática inglesa, o primeiro escritor a usar a língua inglesa 
como o veículo do pensamento em aritmética, álgebra e geometria.” 
Dentre suas contribuições com o ensino, Smith (1921) observa que Recorde é 
reconhecido como o primeiro matemático a publicar trabalhos na língua inglesa, fato 
que como veremos adiante, foi de grande relevância para grande parcela dos ingleses. 
Além disso, Cajori (1922, p. 298) observa que ele foi o primeiro inglês a adotar os 
sinais de soma (+) e subtração (-) em escritas matemáticas. Também Francis (1935) 
referindo-se ao The Pathewaie to Knowledge, confirma que ele foi o primeiro autor de 
um tratado sobre geometria escrito em inglês a utilizar a obra de Euclides como 
referência. 
Sua inovação também é notada em demais áreas de conhecimento. A esse 
respeito, Sanford (1957) relata que Recorde foi um dos precursores dos estudos sobre 
31 
 
o campo da álgebra na Inglaterra. Essa inovação na escrita também é notada por 
Cajori (1922) ao afirmar que seu tratado sobre álgebra: The Whetstone of Witte foi o 
precursor na Inglaterra em qualquer linguagem. 
Toda essa erudição permitiu que Recorde inovasse também nos termos 
empregados em seus tratados. De fato, como veremos adiante, em The Pathewaie to 
Knowledge verifica-se a presença de uma grande quantidade de neologismos, 
possivelmente criados por Recorde com o objetivo de facilitar a compreensão de 
alguns conceitos matemáticos para seu público-alvo. 
Um de seus neologismos mais famosos é o desígnio do sinal de igual (=) tal 
como conhecemos e utilizamos atualmente. Essa definição aparece em 1557, em sua 
obra The Whetstone of Witte. Recorde, ao justificar a escolha do símbolo designado 
para igualdade, observa que: 
E para evitar a tediosa repetição destas palavras: é igual a: vou estabelecer 
como frequentemente faço no trabalho, um par de paralelas, ou linhas 
gêmeas de mesmo comprimento, assim: = porque não pode haver 2 coisas 
que possam ser mais iguais. (RECORDE, 1556 apud SANFORD, 1957, p. 
258, tradução nossa)15 
Segundo Sukhabanji (1980) Recorde introduziu 35 novos termos matemáticos 
que são utilizados até hoje. Além disso, alguns de seus neologismos foram usados 
posteriormente por outros pesquisadores. Cajori (1921) observa que Isaac Newton 
utilizou a palavra pricke, para designar ponto. Esse termo foi apresentado por Recorde 
em seu tratado dedicado à geometria, The Pathewaie to Knowledge em 1551. 
E, dentre muitas de suas realizações que discutimos nessa tese, podemos 
apontar que ele foi o autor da primeira sequência de livros “didáticos” (textbooks) em 
inglês. 
De fato, Recorde inovou pela publicação de uma sequência de tratados 
matemáticos, que cobriram grande parte deste conteúdo, mas também se destacou 
pela forma como o fez, tanto na linguagem quanto nas opções de escrita. Uma das 
características de sua escrita mais abordada pelos pesquisadores e um dos 
 
15 Em inglês lê-se: “To avoide the tediouse repetition of these words: is equalle to: I will sette as I doe 
often in woorke use, a paire of paralleles, or gemowe lines of one lengthe: = because noe 2 thynges, 
canbe moare equalle.” (RECORDE, 1556 apud SANFORD, 1957, p. 258) 
32 
 
diferenciais em seus tratados, é o formato como o conteúdo era apresentado, com 
uma proposta de diálogo entre o mestre e o aprendiz. 
Muitos pesquisadores, assim como Fauvel (1987), afirmam que todas as suas 
obras, com exceção da publicação sobre geometria (The Pathewaie to Knowledge), 
estão nesse formato. Howson (1982) e Johnson (1935) concordam que provavelmente 
o tratado sobre geometria não foi escrito no formato de diálogo por uma adequação 
de conteúdo. 
Gillispie (1970-1980) observa que essa opção pelo uso do diálogo seria mais 
uma característica que indicaria a inclinação didática de Recorde. Observa-se tal 
cuidado no prefácio de The Ground of Artes, no qual ele justifica sua opção pelo 
diálogo: "Porque eu julgo que é a maneira mais fácil de instrução, quando o escolar 
pode perguntar cada dúvida de forma ordenada, e o Mestre pode responder a suas 
perguntas claramente." (RECORDE, 1542 apud EBERT,1937, p.110, tradução 
nossa)16 
Em seus diálogos observamos uma antecipação por parte do professor das 
possíveis dificuldades que poderiam ser apresentadas em cada conteúdo. Cajori 
(1922) especula que essa habilidade indicaria que Recorde tinha grande desenvoltura 
como professor. Tal questão é relevante ao avaliarmos que seus tratados, assim como 
The Pathewaie to Knowledge, alcançaram um sucesso expressivo na Inglaterra, o que 
pode estar relacionado a uma possível didática, presente em suas obras, além de um 
reflexo de sua experiência docente. 
A esse respeito, Hownson (1982) observa que há indícios de que Recorde teria 
lecionado algumas das disciplinas matemáticas na universidade. Smith (1921) 
corrobora essa informação ao afirmar que provavelmente, ele teria ensinado 
matemática em aulas particulares tanto em Oxford quanto em Cambridge. 
Apesar de existirem poucas informações sobre esse período na vida de 
Recorde, Roberts (2012) sugere que sua familiaridade com o ensino das matemáticas 
voltadas à prática pode ser notada desde sua passagem por Oxford. Segundo ele: 
 
16 Em inglês lê-se: “Because I judge that to be the easiest way of instruction, when the Scholar may ask 
every doubt orderly, and the Master may answer to his questions plainly.” (RECORDE, 1542 apud 
EBERT, 1937, p.110) 
33 
 
Durante seu tempo em Oxford sua reputação como um claro elucidador das 
matemáticas, enfatizando a aplicação prática, é notada, em particular, por 
Wood em sua passagem sobre ele: ‘Ele ensinou publicamente aritmética e os 
fundamentos da matemática, com a arte do verdadeiro cálculo. Tudo ele 
tornou tão claro e óbvio para aprender, que ninguém nunca fez semelhante 
antes dele na memória do homem’ (ROBERTS, 2012, p. 127, tradução 
nossa).17 
Outra possibilidade, é que sua experiência docente, vamos assim dizer, pode 
ter sido adquirida por meio de seu trabalho como tutor, o que era muito comum nesse 
período. Howson (1982) observa que Recorde fora tutor de uma das vinte e cinco 
crianças de Richard Whalley (1498-1583), a quem inicialmente dedicou seu primeiro 
livro voltado às matemáticas, The Ground of Artes. 
Um aspecto relevante nas escritas vernáculares de Recorde apontado por 
Sukhabanji (1980) e verificado em The Pathewaie to Knowledge foi provavelmente a 
sua habilidade de articular seu conhecimento abstrato em prosa inglesa clara e 
simples. Essa habilidade possibilitou que parte dos ingleses compreendesse e 
utilizasse conhecimentos matemáticos em seus ofícios. 
Além de sua ampla formação nas matemáticas, Recorde também era 
reconhecido como um homem culto. Gillispie (1970-1980) detalha o interesse de 
Recorde por textos medievais, antiguidades britânicas e manuscritos. Ele também era 
familiar com o grego e foi um dos primeiros estudantes do idioma anglo-saxão. De 
fato, como analisamos adiante, em The Pathewaie to Knowledge, verifica-se a 
introdução de neologismos que derivam destes idiomas. 
Essa percepção de homem culto e estudioso é notória na descrição feita a 
respeito de Recorde em 1619, pelo estudante católico John Pitts, em sua obra escrita 
em latim, intitulada De Illustribus Angliæ Scriptoribus: 
 
17 Em inglês lê-se: “During his time at Oxford his reputation as a clear elucidator of mathematics, 
emphasizing practical application, is noted in particular by Wood in his passage on him: ‘He publicy 
taught arithmetic and the grounds of mathematics, with art of true accompting. All which he rendered so 
clear and obvious to capacities, that none ever did the like before him in the memory of man.” 
(ROBERTS, 2012, p. 127) 
34 
 
Um homem de gênio feliz e famoso por ensinar assuntos complexos. Um 
escritor polido e preciso, altamente qualificado em todas as artes liberais e 
nas ciências matemáticas. Ele era um filósofo famoso. Ele contemplou os 
movimentos dos corpos celestes, e alcançou conhecimentos consideráveis 
em astronomia. Ele sondou os segredos da filosofia natural, de plantas, ervas, 
raízes, dos elementos, e examinou com curiosidade os pontos fortes e as 
virtudes dos metais. Pode-se dizer com bom motivo que ele entrou nos céus 
e penetrou as entranhas da terra. (PITTS, 1619 apud ROBERTS, 2016, p.3, 
tradução nossa)18 
Contudo, conforme observado por pesquisadores como Roberts (2016), a 
trajetória e contribuições de Robert Recorde tem sido longamente negligenciadas, 
pois, apesar de encontrarmos algumas pesquisas a seu respeito, ele ainda não é um 
nome frequente no estudo da história da Matemática. Nesse sentido, conforme 
discutiremos adiante, Gillispie (1970-1980, p. 339) afirma que um dos possíveis 
motivos de Recorde não ter alcançado reputação internacional foi por ter escrito em 
linguagem vernacular (inglês) e em um nível elementar. 
2.3 As influências políticas e religiosas na vida e obra de Robert Recorde 
Algumas possíveis motivações para a escrita de seus tratados, assim como em 
The Pathewaie to Knowledge, são melhores compreendidas quando analisamos o 
contexto no qual ele estava inserido. 
Por isso, para o estudo do tratado em análise, segundo as esferas propostas 
pela historiografia atualizada, é necessário compreender as ligações políticas e 
religiosas estabelecidas por Recorde, pois conforme verificamos em nosso 
levantamento biográfico e como observa Howson (1982), muito do que sabemos sobre 
ele está diretamente vinculado ao agitado contexto político da Inglaterra durante o 
século XVI. 
 
18 Em inglês lê-se: “A happy man of genius, and famous for teaching complex subjects. A polished and 
accurate writer, highly skilled in all the liberal arts and the mathematical sciences. He was a most famous 
philosopher. He contemplated the motions of the heavenly bodies, and achieved considerable expertise 
in astronomy. He probed the secrets of natural philosophy, of plants, herbs, roots, of the elements, and 
examined with curiosity the strengths and virtues of the metals. It may be said with good reason, that 
he climbed into the heavens and penetrated the bowels of the earth.” (PITTS, 1619 apud ROBERTS, 
2016, p. 3) 
35 
 
Robert Recorde vivenciou três reinados 19 durante a dinastia Tudor (1485-
1603). Esse foi um período turbulento na Inglaterra, marcado pela alternância entre 
as religiões católica e protestante. 
De acordo com Roberts (2016), Recorde estava estudando em Oxford, quando, 
o rei Henrique VIII, no ano de 1534, rompeu com o catolicismo20, decretando o Ato de 
Supremacia, tornando-se soberano em relação à Igreja Católica Romana, e chefe 
supremo da Igreja em seu país, fundando assim a Igreja da Inglaterra, conhecida 
também como Igreja Anglicana. 
Segundo Lipscombe (2012), havia também questões políticas e econômicas 
ligadas ao interesse do rei Henrique VIII em concretizar esse rompimento, pois,por 
essa época, a Igreja Católica era detentora da posse de uma grande porcentagem das 
terras inglesas, exercendo grande influência sobre as decisões tomadas pela 
monarquia, além de comandar o valioso comércio de relíquias sagradas. E assim, ao 
romper com a Igreja Católica, e expulsar seus representantes, o rei tomou posse de 
todos os seus terrenos e bens. 
Uma das consequências ao Ato de Supremacia foi a necessidade de medição 
desses terrenos para a divisão das terras desapropriadas. Também houve a 
necessidade de se calcular os impostos sobre a produção realizada nessas 
propriedades. Com isso, houve uma maior demanda por conhecimentos matemáticos 
que facilitassem esse trabalho, impulsionando o desenvolvimento da agrimensura. 
Cabe observar que é nesse contexto que sua obra sobre geometria, The Pathewaie 
to Knowledge foi escrita. 
Outro aspecto importante em nossa análise e que possivelmente impactou os 
tratados de Recorde são as guerras em que a Inglaterra estava envolvida nesse 
período. Sabemos que Henrique VIII também é conhecido pelas guerras que 
 
19 Ele nasceu logo após Henrique VIII (1491-1547) ter sido coroado rei da Inglaterra, em 1509. Também 
presenciou os reinados de Eduardo VI e da rainha Maria I da Inglaterra. Segundo Cajori (1922) sua 
morte ocorreu pouco antes da ascensão da rainha Elizabeth I (1533-1603), em 1558. 
 
20 Segundo Roberts (2016) esse rompimento com o catolicismo aconteceu devido o rei Henrique VIII 
desejar o anulamento do seu casamento com sua primeira esposa, Catarina de Aragão. Como a Igreja 
Católica impede tal procedimento, o rei teria rompido com a Igreja e fundado a Igreja Anglicana. Com 
tal medida, nomeada de ato de Supremacia, a Inglaterra obteve soberania jurídica das leis civis sobre 
as leis da Igreja Católica. E com isso, deixou de pagar impostos à Roma, bem como tomou posse das 
propriedades pertencentes à Igreja Católica, e a partir desse momento, o rei dispôs delas de acordo 
com seus interesses. 
36 
 
envolveram seu reinado21. Esse cenário de invasões e expansão territorial exigiu 
investimento em áreas diversas, tal como nas técnicas de navegação, que como 
veremos adiante, eram precárias na Inglaterra. 
Essas contendas e outros aspectos ligados à sociedade inglesa daquele 
período influenciaram de certa maneira a formação de Recorde, assim como também 
em sua produção literária, pois a análise de seus tratados bem como das pesquisas 
que o referenciam indicam que ele estava atento a esse cenário de modificações. 
Essa astúcia de Recorde pode ser observada em seu empenho para comprovar 
seus conhecimentos matemáticos necessários à época, por meio das dedicatórias 
feitas em seus livros. Seu tratado sobre geometria, The Pathewaie to knowledge, por 
exemplo, foi dedicado ao rei Eduardo VI. Também The Castle to Knowledge foi 
dedicado à rainha Maria I da Inglaterra. 
Além disso, alguns pesquisadores, como Howson (1982), observam que por 
Recorde ser um protestante assumido, essas dedicatórias foram uma importante e 
necessária precaução, pois devido sua amizade com protestantes radicais, tais como 
Edward Underhill (1512-1576?)22, haveria, por parte dele, o medo de ser capturado e 
morto, como tantos outros foram ao declararem-se protestantes. 
Recorde esteve ligado diretamente à nobreza. Ele é conhecido como provável 
médico do rei Eduardo VI e da rainha Maria I (SMITH,1926). Segundo Lipscombe 
(2012) o relacionamento de Recorde com a monarquia é atestado pelos registros que 
indicam sua participação em importantes julgamentos promovidos nesse período, 
 
21 A Inglaterra invadiu a França em 1513 e 1544, e foi invadida pela Escócia no ano de 1513. Além 
disso, também disputou território com a Irlanda nesse mesmo período. 
 
22 Edward Underhill era conhecido por ser um protestante radical. Ele foi preso durante o reinado da 
católica rainha Maria I da Inglaterra por ter participado de um grupo que a teria atacado por questões 
religiosas. Lipscombe (2012) esclarece que Recorde, também protestante, cuidou de seu amigo 
enquanto ele esteve preso e por isso era considerado tão protestante quanto Underhill, o que poderia 
ser muito perigoso durante reinados católicos. 
37 
 
como por exemplo, no ano de 1550 quando testemunhou contra o Bispo de 
Winchester23 e a favor do protestantismo24. 
Alguns pesquisadores, tal como Ebert (1937), indicam que essa relação com a 
nobreza teria se iniciado em 1547. Nesse período ele estava em Londres lançando 
seu primeiro tratado dedicado à medicina, intitulado Urinal of Phisyc25. 
Segundo Howson (1982) a aproximação de Recorde com a monarquia teria lhe 
rendido o posto de Controlador das minas de Bristol, em 1549. Foi por essa época 
que ele teria se envolvido em questões políticas 26 que o levaram a prisão e, 
posteriormente, à sua morte anos mais tarde27. 
Ainda segundo Howson (1982, p. 6), em 1551, devido sua boa relação com o 
rei Eduardo VI, ele teria sido nomeado para a função de agrimensor das minas e 
finanças da Irlanda, que nesse período pertencia aos domínios ingleses. É nesse 
momento que ele publica a primeira edição de The Pathewaie to Knowledge, tratado 
matemático justamente dedicado à agrimensura. 
Convém ressaltar que durante esse período, que marca o fim da idade média 
e o início da era moderna, conhecido como Renascimento, a sociedade inglesa, bem 
como o mundo passavam por inúmeras transformações. Um exemplo disso é o fato 
de Recorde ter sido contemporâneo de pensadores como Girolamo Cardano (1501-
 
23 Segundo Lipscombe (2012) durante a tentativa de anulamento do matrimônio com a rainha Catarina, 
o rei Henrique VIII contou com os serviços do bispo Stephen Gardiner. Como reconhecimento de seus 
esforços, o rei o teria nomeado bispo de Winchester. Porém, em 1550, após a morte de Henrique VIII, 
e ascensão do príncipe Eduardo VI, esse mesmo bispo teria se pronunciado contra as mudanças que 
estavam acontecendo na Igreja. Com isso, ele foi levado a julgamento pelo conselho privado e Recorde 
testemunhou contra ele e a favor do protestantismo. 
24 Um dado histórico largamente citado quando se estuda a história da Inglaterra e que pode dar pistas 
do posicionamento e importância de Recorde em seu relacionamento com a nobreza, seria sua 
participação no julgamento de um feiticeiro que havia previsto a morte do rei Henrique VIII. Segundo 
pesquisadores, tal como Lipscombe (2012), é nesse momento (1550), que Recorde teria conhecido o 
protestante Edwards Underhill, tornando-se posteriormente seu amigo e se aproximando do convívio 
real. 
25 Tratado sobre os benefícios e métodos de exame da urina com o objetivo de determinar a saúde ou 
doença do paciente. Foram publicadas dez edições entre 1547 e 1665 e foi dedicado à Companhia de 
Cirurgiões. Para maiores informações ler: Lipscombe (2012), Gillispie (1970-1980) e Sanford (1957). 
26 Segundo Howson (1982) Recorde esteve envolvido em intrigas enquanto controlador dessa mina, 
pois teria se negado a desviar dinheiro para financiar o exército comandado pelo Conde de Pembroke. 
Por isso, mais tarde foi acusado de traição contra o rei Eduardo VI. Sanford (1957) acrescenta que 
como punição Recorde teria ficado preso durante 6 dias. 
27 Maiores detalhes encontram-se em Gillispie (1970-1980), Howson (1982) e Smith (1926). 
38 
 
1576) e Tartaglia28 (1499-1557). Acompanhando esse movimento de descobertas, em 
1543, Nicolau Copérnico (1473-1543) publicou seu tratado De Revolutionibus Orbium 
Celestium. É também em 1450 que a imprensa iniciou seus trabalhos com Johannes 
Gutenberg (1400-1468)29. 
Consoante com essas tranformações encontrava-se a necessidade iminente do 
desenvolvimento das navegações, bem como da marinha mercante e de outras áreas, 
tal como a agrimensura, que se expandia coma descoberta de novas terras. 
Nesse contexto, Saito (2014) observa que a arte de medir tornava-se cada vez 
mais necessária e importante para os governantes e isso exigia um aprofundamento 
nos conhecimentos matemáticos disponíveis, inclusive no que se refere à geometria: 
Descobertas e mapeamentos de novas terras, a busca de métodos para 
localização das naus em alto-mar, a divisão de terras para o cultivo da 
agricultura e pecuária, a construção de fortificações, a organização bélica e 
militar de diferentes regiões da Europa, bem como da recém-descoberta 
América e da Ásia, foram um conjunto de fatores que fomentou o 
desenvolvimento de novas técnicas de medição. (SAITO, 2014, p. 35) 
Nesse viés, cabe ressaltar que, segundo Saito (2012, p. 6) a agrimensura deve 
ser entendida como um conjunto de práticas que envolviam não somente técnicas de 
medida, mas também de agricultura. 
Saito (2013-b) observa ainda que essa necessidade de desenvolvimento fez 
com que príncipes, comerciantes, banqueiros e outros investissem no conhecimento 
matemático necessário para atingir o desenvolvimento adequado para lidar com a 
nova ordem econômica e social que surgia não somente na Inglaterra, mas também 
na Europa. 
Esse investimento é ressaltado por Taylor (1954), ao observar que as demais 
nações estavam investindo no desenvolvimento científico em várias frentes, como por 
exemplo, por meio do aprimoramento dos métodos de navegação, publicação de 
almanaques, estudo da variação e do mergulho da agulha magnética e investindo no 
estudo para a determinação da longitude, que ainda representavam mistérios para 
matemáticos e outros cientistas. 
 
28 Nicolo Fontana, também conhecido como Tartaglia (1499-1557). 
29 Johannes Gutenberg (1400-1468) é o inventor da prensa com tipos móveis. Seu primeiro impresso 
é conhecido como Bíblia de Gutenberg sendo publicada inicialmente no ano de 1452. 
39 
 
Contudo, Sanford (1957) observa que a Inglaterra ficou para trás nessa corrida 
pelo desenvolvimento científico. Essa precariedade é evidenciada, por exemplo, em 
relação a navegação, que desempenhava um papel importante para os londrinos, por 
deter responsabilidade tanto na expansão do território inglês, quanto por sua defesa, 
e ainda assim era praticada baseada em experiência, senso comum e bons 
marinheiros. 
Essa falta de diálogo é apontada por Taylor (1954) ao ressaltar que na 
Inglaterra havia um divórcio entre a prática e a teoria. Segundo ela, os marinheiros 
não conheciam a matemática formal, e os matemáticos não conheciam a aplicação 
prática desses conceitos e isto dificultava o progresso técnico. Essa falta de 
articulação atingia outras áreas além da navegação, tais como a agrimensura, a 
cobrança de impostos, a artilharia e mesmo a relojoaria. 
Enquanto esse entrosamento entre teoria e prática não acontecia, a prática 
avançava, porém não no ritmo que poderia se ambas caminhassem juntas. Esse 
contexto de buscas e desejadas inovações também é comentado por Harckness 
(2007) ao afirmar que os londrinos buscavam novidades, projetos e técnicas fáceis 
para utilização de instrumentos de navegação, agrimensura ou assuntos militares. 
Essa valorização do estudo das matemáticas, segundo Johnston (1994), deve-
se ao reconhecimento de sua utilidade prática, acontecendo devido o entendimento 
de que sua aplicação era imprescindível em áreas como perspectiva, mecânica, e 
astronomia, além de ser necessário para realizar estudos de fortificação e melhoria 
das estruturas, desenvolvimento e aperfeiçoamento de artilharia, design de navios e 
estratégias para ordenação de tropas. Além de sua possível aplicação em melhorias 
no comércio e as contas dos comerciantes, para cronometragem e calendário; para a 
arquitetura; o levantamento de terra; medição de materiais; técnicas de navegação 
oceânica, entre outros ofícios. Nesse viés, Johnston (1994), afirma ainda que, no final 
do século XVI, as ciências matemáticas eram vistas como responsáveis por avanços 
em variados aspectos. 
Diante deste cenário, cabe-nos indagar o motivo desta falta de entrosamento 
entre o conhecimento prático e o teórico. Verificamos em nossas pesquisas que a falta 
do emprego de um conhecimento geométrico mais refinado pelos navegadores, 
agrimensores e demais profissionais ligados às artes manuais provavelmente se devia 
40 
 
ao fato da educação formal ser reservada a uma pequena parcela da população. 
Quanto à isso, Taylor (1954) observa que durante o século XVI, o ensino oferecido 
em escolas inglesas se restringia basicamente ao estudo de latim. A pouca 
matemática ensinada referia-se ao ensino de aritmética simples e ainda assim era 
reservada inicialmente aos clérigos. 
Além disso, na Inglaterra,a maioria absoluta das pessoas estava fora do 
sistema oficial de ensino, como observa Hownson (1982) que estima que da 
população de cerca de 5 milhões ao tempo da dissolução dos mosteiros, somente 
26.000 estavam na escola. Sobre o sistema de ensino, Hownson (1982) esclarece 
que: 
[...] A classe média, os agricultores, os detentores de terra menores e 
comerciantes prósperos tendem a fornecer os alunos das escolas 
secundárias; os filhos da nobreza e aristocracia poderiam ter tido um tutor ou 
foram acolhidos em um mosteiro, enquanto suas filhas, se foi sentida a 
necessidade, foram educadas por um professor particular ou ocasionalmente 
foram enviadas para conventos para a sua educação; para as classes mais 
baixas, as escolas de música e de caridade forneciam uma forma de 
educação elementar. (HOWNSON, 1982, p.8, tradução nossa)30 
Borges Filho (2005, p. 161) observa que, inicialmente, a educação formal era 
oferecida pelas escolas monásticas31. Essas tinham sua localização no mundo rural, 
distante das aglomerações das cidades, formando leigos, cultos, filhos da nobreza e 
de seus servidores, que aprendiam o estudo do latim, o Trivium e o Quadrivium. 
Ao longo dos anos as escolas monásticas foram sucedidas pelas escolas 
episcopais, universidades e corporações de ofício 32 . O currículo ensinado nas 
universidades era o que abrangia as artes liberais. Além disso, na Inglaterra, existiam 
exatamente as duas universidades em que Recorde estudou, ou seja, Oxford e 
Cambridge. 
 
30 Em inglês, lê-se: “The middle class, farmers, lesser land-holders and prosperous tradesmen tended 
to supply the students of the grammar schools; the sons of the nobility and gentry might have had a 
tutor or been boarded in a monastery, whilst their daughters, if the need was felt, were educated by a 
private tutor, or occasionaly were sent to nunneries for their education; for the lower classes, the song 
and charity schools provided a form of elementary educacion. Yet, despite such provisions, it has been 
estimated that of the population of about 5 million at the time of the dissolution of the monasteries, only 
26,000 were at school. Schooling was still a rare commodity.” (HOWNSON, 1982, p.8) 
31 Segundo Borges Filho (2005) as escolas monásticas inicialmente tinham por objetivo formar os 
futuros monges. Porém, com o tempo também encarregaram-se de formar os filhos da nobreza e de 
seus servidores. 
32 Para mais informações sobre o sistema de ensino vigente durante o século XVI na Inglaterra ler: 
Rugiu (1998) e Borges Filho (2005). 
41 
 
A geometria ensinada na universidade estava de acordo com o plano de ensino 
estabelecido pelo Quadrivium, no qual prevalecia um cunho teórico, sendo baseada 
principalmente nos textos de Boécio33, que como discutiremos adiante, representavam 
uma tradução de fragmentos da obra de Euclides. Também havia, por exemplo, a 
presença de textos de Isidoro de Sevilha (c. 560-636), Frontino (c. 40-103) e Gerberto 
(946-1003). Contudo, segundo Taylor (1954), mesmo diante da importância de seu 
estudo e aprofundamento, o tratamento