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Julia Laguna Pollo Agentes carcinógenosAnatomia Patológica · Introdução · Compreendem um conjunto de agentes ambientais de índole variada que produzem ou predispõe a danos genéticos por mecanismos diversos, induzindo a transformação neoplásica das células · Pode dividir se em 3 grupos: 1. Microrganismos oncogênicos (principalmente vírus) 2. Carcinógenos químicos 3. Energia radiante. · A exposição a maioria desses agentes pode ser prevenida, daí sua importância. Além disso, é possível identificar grupos de risco expostos ao agente e desenvolver estratégias de detecção precoce. · Carcinogênese por agente químico · Introdução · Compreendem agentes químicos de diversas índoles, sejam naturais ou sintéticos, produtos primários ou de dejetos, e incluso fármacos, que estão relacionados de alguma maneira ou outra no desenvolvimento de câncer. · O estudo da estrutura química permite estabelecer uma hipótese dedutiva do mecanismo de lesão genética. · Iniciação · Consequência da exposição a uma dose suficiente de um agente carcinógeno “iniciador” que facilita o nascimento de um tumor. Não é suficiente para a formação do tumor, mas constitui um passo prévio indispensável · De acordo se requerem uma transformação previa ou não para exercer seu efeito se dividem em carcinógenos incompletos ou completos. · Causa dano permanente ao DNA (mutações) atuando de maneira rápida, irreversível e duradoura. Doses fracionadas múltiplas exercem o mesmo efeito que uma dose comparável única. · Promoção · É consequência da indução de tumores por determinados agentes químicos em células já previamente iniciadas · Estes produtos químicos não são cancerígenos por si, porque a exposição dos mesmo em ausência de uma iniciação previa carece de efeitos carcinógenos. · As alterações não afetam o DNA diretamente, sendo reversíveis. · As doses sub-umbrais ou muito espaçadas carecem de efeito. · Carcinógenos completos · São produtos que não requerem uma transformação química para exercer seu efeito carcinógeno. Induzem tumores sem nenhum outro fator adicionado. · São electrofilos sumamente reativos que podem reacionar com localizações celulares nucleofilas (ADN, ARN, proteínas) · A alteração não é letal para as células iniciadas e afeta fundamentalmente o DNA · Carcinógenos incompletos · Compreendem a maioria dos carcinógenos e são substâncias (prós carcinógenos) que requerem de uma transformação química in vivo para exercer seu efeito e transformar se em agentes carcinógenos · Esta ativação constitui um passo essencial para o desenvolvimento da potência carcinogênica (capacidade de induzir tumores) de estas substâncias. · A potência carcinogênica depende não só da atividade inerente de seus derivados electrofilos se não também do equilíbrio entre as reações de ativação e de inativação metabólicas. · O metabolismo da maioria se realiza através de mono-oxigenasas dependentes do citocromo P-450 · Diferenças constitucionais genéticas com respeito as enzimas implicadas na ativação de estes compostos explicam as variações enquanto a incidência do desenvolvimento de tumores em pessoas diferentes expostas ao mesmo agente. · Não todas as variáveis de ativação ou destoxificação doa carcinógenos tem uma base genética, influindo também a idade, sexo e o estado nutricional. · Carcinógenos químicos · De ação direta - Agentes alquilantes - Agentes acilantes · De ação indireta - Hidrocarburos aromáticos policíclicos e heterocíclicos - Aminas aromáticas, amidas e corantes azoicos - Produtos naturais de plantas e micróbios - Outros. · Dianas moleculares · A diana primaria dos carcinógenos químicos é o DNA. Não existe uma alteração única que se associe a iniciação da carcinogênese · A interação de cada carcinógeno químico não é completamente aleatória e cada classe de carcinógeno tende a produzir um padrão limitado de lesão do DNA. · A presença de certos tipos de lesão do DNA pode proporcionar indícios moleculares sobre sua causa (“huella dactilar” molecular) · A célula iniciada · Constitui uma célula que há sofrido mutações devido a ação de um carcinógeno químico · Esta lesão não deve ser letal, de modo que a célula seja capaz de replicar se é deste modo perpetuar a mutação produzida · Por tanto, faz falta também estímulos proliferativos que induzem a célula a replicação, de modo que a mudança no DNA passe a ser permanente. · Promoção · As substâncias promotoras são aquelas que induzem a proliferação celular em células previamente iniciadas · Isto pode provocar a expansão clonal seletiva de células com danos genéticos. Forçando a proliferar, o clone de células iniciadas sofre novas mutações, até que desenvolve o tumor maligno. · O processo de promoção tumoral consta de vários passos: proliferação de células pre neoplásicas, conversão maligna e progressão do tumor. · Os agentes promotores induzem a proliferação por vários mecanismos: - Ativação da proteína -quinasa C - Inibição das fosfatasas de proteínas - Secreção de fatores de crescimento · Uma proliferação mantida aumenta o risco de mutagênese e de transformação neoplásica · Carcinogênese por radiação · Introdução · A exposição a energia radiante se tema associado a alguns casos ao desenvolvimento de neoplasias malignas. · Esta energia pode ser em forma de raios ultravioletas (luz solar) ou de radiação ionizante (radiações eletromagnéticas ou de partículas) · Apresenta efeitos acumulativos e as consequências usualmente aparecem anos depois da exposição. · Pode atuar sinergicamente com outros agentes carcinogênicos. · Raios ultravioletas · Os raios ultravioletas procedentes da luz solar incrementam a incidência de carcinomas escamosos, basocelulares e melanomas cutâneos. · Fatores condicionantes da lesão por UV: - Tipos de raios (UVB) - Intensidade da exposição - Quantidade de melanina cutânea. · Mecanismo: formação de dímeros de pirimidina em DNA (mutações) · Radiação ionizante · Todas as radiações eletromagnéticas (raios X, raios γ) e de partículas (α, β, nêutrons) são carcinogênicas. · A exposição a estas radiações podem ser acidental ou iatrogênica. O período de latência usualmente é de anos. · Os tumores mais frequentes implicados são as leucemias, o câncer de tiroide e os canceres de mama, pulmão, e glândulas salivares. · Carcinogênese por agentes biológicos · Introdução · Os principais agentes biológicos implicados na carcinogênese humana são os vírus. · Há um interesse crescente no papel da bactéria Helicobacter pylori no desenvolvimento de linfomas gástricos. · Esses agentes biológicos desempenham seu papel oncogênico por meio de lesões genéticas ou hiper estimulação proliferativa produzida durante a infecção causada nos hospedeiros. · Vírus DNA oncogênicos · Os vírus de DNA implicados em cânceres humanos incluem vírus do papiloma humano (HPV), vírus de Epstein-Barr (EBV), vírus da hepatite B (HBV) e vírus do herpes SK (SKHV). · Esses vírus formam associações estáveis com o genoma da célula hospedeira. · Os genes virais que são transcritos primeiro (genes iniciais) no ciclo de vida são importantes para a transformação e são expressos em células transformadas. · Vírus do papiloma humano · Mais de 100 tipos genéticos diferentes de HPV. - · Alguns são uma causa definitiva de lesões verrucosas (1, 2, 4 e 7). · Relacionado ao câncer cervical e câncer da região anogenital, bem como câncer de boca e laringe. · HPV de alto risco (16 e 18) vs. HPV de baixo risco (6 e 11). - · Integração genômica clonal do DNA viral epissomal na transformação maligna. · Implicação das proteínas virais E6 e E7 no potencial oncogênico. - · genes supressores de tumor pRb (E7) e p53 (E6) na progressão do tumor. · Transmissão venérea. Predileção por epitélio escamoso metaplásico. · -Pode permanecer em silêncio por longos períodos. · O sinal mais óbvio de infecção por HPV é coilocitose. · Vírus de Epstein barr · Membro da família do herpesvírus, agente causador da mononucleose infecciosa. · Infecta preferencialmente células B (através do receptor CD21) e células epiteliais da mucosa orofaríngea. · O DNA viral assumeuma forma epissomal nas células infectadas. A infecção é latente, o vírus não se replica e as células não morrem. · A infecção do vírus causa a imortalização das células infectadas. · A imortalização das células infectadas é realizada alterando a regulação da proliferação normal e dos sinais de sobrevivência. · LMP-1 (proteína de membrana latente) impede a apoptose de células B através da estimulação da expressão de bcl-2. · EBNA-2 causa a transativação dos genes da ciclina D e membros da família src, que estimulam a proliferação celular. Também ativa a transcrição de LMP-1. · Linfoma de burkitt · É uma neoplasia maligna de células B que afeta principalmente crianças da África Central e da Nova Guiné (forma endêmica). · Um linfoma morfologicamente idêntico (forma esporádica) é encontrado esporadicamente no resto do mundo. · O DNA do EVB é encontrado em> 90% dos casos africanos. · 100% dos pacientes têm altos títulos de · Anticorpos contra antígenos do capsídeo viral. · O VEB não tem capacidade oncogênica direta, mas atua como um mitógeno policlonal para células B. · - Isso leva a uma proliferação policlonal de células B infectadas com EBV, auxiliadas por outros cofatores (malária crônica). · - Isso cria um cenário favorável para o aparecimento de uma translocação t (8,14) que coloca o proto-oncogene c-myc próximo a um dos loci da imunoglobulina. · A superexpressão do produto c-myc (proteína reguladora nuclear) dá às células uma vantagem para o crescimento. · A ativação do c-myc não é suficiente; outras mutações são necessárias para o desenvolvimento da neoplasia. · O principal deles é a mutação de N-ras, cujo produto intervém na transdução do sinal. · Também há alteração na expressão de antígenos virais na superfície celular · Carcinoma nasofaringe · É endêmico no sul da China, em algumas partes da África e entre os esquimós do Ártico. A distribuição geográfica limitada sugere coação com outros fatores (predisposição genética e fatores ambientais). · 100% dos tumores em qualquer parte do mundo contêm DNA de EBV de padrão clonal. · A iniciação requer a expressão de BVS, mas a indução e manutenção do fenótipo tumoral requer mutações genéticas. · Enfermidade de Hodgkin · O DNA do EBV é detectado em 40-50% dos casos, com a presença do genoma com padrão clonal. · Mais frequente no padrão de celularidade mista. · Não existe uma relação de causa e efeito bem determinada. · A infecção provavelmente atua como um cofator na patogênese tumoral. · Linfomas em imunodeprimidos · Eles aparecem em pacientes com AIDS ou em imunoterapia depressiva. · Incluem linfomas multifocais de células B, nos quais aparecem no tecido linfoide ou no SNC. · O fato de alguns casos apresentarem regressão após a supressão do tratamento imunossupressor demonstra a importância da imunovigilância no controle do desenvolvimento tumoral. · Vírus B da hepatite · Uma clara associação entre o VHB e o carcinoma hepatocelular (CHC) foi observada com uma maior incidência de CHC em áreas endêmicas (África e Extremo Oriente). · No HCC, é observada uma integração do DNA viral no genoma do hospedeiro com um padrão monoclonal. · O vírus não codifica nenhuma oncoproteína nem existe um padrão constante de integração na vizinhança de um proto-oncogene conhecido. · A infecção por HBV causa lesão crônica das células hepáticas com hiperplasia regenerativa reativa. · Isso fornece um terreno fértil para o aparecimento de mutações espontâneas ou por agentes ambientais (aflatoxinas). · No final das contas, uma proliferação aparece neoplásico monoclonal. · O HBV também sintetiza a proteína Hbx que ativa a transcrição de vários fatores de crescimento e se liga ao p53, alterando sua atividade supressora. · Herpes vírus SK · Há fortes evidências de que o sarcoma de Kaposi que aparece em pacientes com HIV (+) é causado por um agente infeccioso sexualmente transmissível do tipo herpesvírus. · O sarcoma de Kaposi é um tumor vascular maligno cuja incidência aumentou dramaticamente após o aparecimento do HIV e é a neoplasia mais comum nesses pacientes. · - · Este vírus, também denominado herpesvírus humano tipo 8 (HHV-8), codifica produtos homólogos aos de vários genes humanos envolvidos na proliferação celular (IL-6, MIP-1, ciclina D e bcl-2). · Vírus ARN oncogênicos · Apenas um vírus de RNA, o vírus da leucemia de células T humanas tipo 1 (HTLV-1), está claramente implicado no desenvolvimento do câncer. · O HTLV-1 está associado a uma leucemia / linfoma de células T endêmico no Japão e na bacia do Caribe, embora possa aparecer em qualquer parte do mundo. · Apresenta tropismo para células T CD4 +. A infecção é adquirida por meio de linfócitos T infectados por meio de relações sexuais, derivados do sangue ou leite materno. · Apenas 1% dos infectados desenvolvem leucemia e após um período de latência de 20-30 anos. · O vírus não contém nenhum v-onc nem uma integração constante na proximidade de um oncogene. · A infecção pelo HTLV-1 estimula a proliferação através do gene tax, que ativa os genes codificadores do crescimento (IL-2 e IL-2R). · Essa proliferação policlonal é mais suscetível a mutações que levam ao crescimento monoclonal descontrolado e ao desenvolvimento de neoplasias. · Helicobacter pylori · Existem fortes evidências ligando a infecção por H. pylori ao desenvolvimento de linfomas e, em menor extensão, carcinomas gástricos. · A infecção persistente estimula os linfócitos T, que, por sua vez, estimulam os linfócitos B na zona marginal dos folículos linfoides da mucosa gástrica. · Essa proliferação policlonal de linfócitos B pode sofrer mutações e desenvolver um linfoma de células B (MALT-oma), mas ainda são dependentes de linfócitos T. · O tratamento da infecção leva à regressão tumor. · Conclusão · Existem vários agentes ambientais (biológicos e não biológicos) envolvidos na carcinogênese humana. · Alguns desses agentes causam danos genéticos diretamente (produtos químicos, radiação e alguns vírus), enquanto outros são fortes estimulantes da proliferação celular (agentes biológicos), o que cria um terreno fértil para o aparecimento de mutações. · A exposição à maioria desses agentes pode ser evitada. - · O conhecimento adequado desses agentes permitirá a identificação de grupos de risco para a detecção precoce da lesão.
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