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LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA AULA 5 Profª Marcella Gomes de Oliveira 2 CONVERSA INICIAL A constituição de um fato, em seu sentido jurídico, pressupõe a produção de documentos, de uma linguagem para a existência do direito, cuja elaboração compete a autoridade pública ou a sujeito de direito privado, como no lançamento e no autolançamento, que dizem respeito ao direito tributário material. No que se refere a tributo, este tem como sua noção empírica a de que o particular deve entregar uma quantia em dinheiro ao Estado, limitada por meio do direito. Nesta aula, iremos abordar os seguintes temas: Tributos em espécie Impostos Impostos sobre comércio exterior Imposto de Importação (II) Imposto de Exportação (IE) Para entendermos mais os impostos que serão trabalhados, primeiramente, precisamos entender o que são os tributos em espécie, considerando os ensinamentos de aulas anteriores sobre conceito de tributo e espécies tributárias. Nesta aula, iremos entender melhor o que são os impostos. CONTEXTUALIZANDO O sistema tributário nacional se refere às normas que dizem respeito à tributação. Já vimos que esse sistema se trata de um subsistema constitucional, em observância à hierarquia das normas (Brasil, 1988). Há que se mencionar o impacto que uma possível reforma tributária pode causar nesse sistema. Para isso, vamos analisar esses impactos em relação à tributação sobre o comércio exterior, com apoio da matéria de Rosa (2019), disponível em: <https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI306854,71043- Impactos+da+reforma+tributaria+para+a+tributacao+sobre+comercio>. Já abordamos o tema em relação à possível criação do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS). Cabe mencionar que, no atual regime jurídico, incidem sobre as operações de comércio exterior os seguintes impostos: 3 II; IE; Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS); Imposto sobre Serviços (ISS); Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), na revenda de produtos importados (IPI). Há ainda a incidência de contribuições e taxas, sendo que a natureza do fato tributável (fato gerador) irá determinar a incidência de cada tributo referente às operações realizadas. Quanto à possível reforma proporcionada pela Proposta de Emenda Constitucional (PEC) n. 45/2019, se aprovada, com a proposta de simplificação da carga tributária diante da unificação dos tributos sobre consumo no Imposto sobre Valor Agregado (IVA), surgem alguns problemas sobre a tributação relacionada ao comércio exterior, a localidade do pagamento, o contribuinte de fato e de direito e também em que etapa incide o tributo e a questão da geração de créditos (Brasil, 2019a). Enquanto não há soluções práticas em relação à PEC n. 45/2019 (Brasil, 2019a), cumpre a nós estudarmos os impostos mencionados. TEMA 1 – TRIBUTOS EM ESPÉCIE O tributo subdivide-se em várias espécies, podendo ser imposto, taxa, contribuição, empréstimo compulsório etc. O Código Tributário Nacional (CTN), em seu art. 3º, explica o tributo como sendo a relação de crédito e débito, invocando o princípio da legalidade estrita, ou seja, todos os tributos devem estar instituídos em lei, porém, na lei em sentido estrito, o que significa leis ordinárias, complementares e medidas provisórias (Brasil, 1966c). Já no que se encontra disposto no art. 4º da mesma legislação, a natureza específica do tributo é determinada pelo fato gerador da respectiva obrigação, tornando irrelevante para o fato gerador qualificá-la, ou seja, no que tange a sua denominação e demais características formais adotadas pela lei e à destinação legal do produto da sua arrecadação. Os tributos ainda podem ser classificados em tributos vinculados, que podem ser direta ou indiretamente vinculados ao Estado. Os diretamente vinculados são os relacionados a um comportamento do Estado, vinculados à 4 sua manutenção, por exemplo, as taxas. Os indiretamente vinculados não se relacionam apenas à manutenção do Estado, mas também necessitam de um fato adicional, que é a valorização imobiliária, por exemplo, a Contribuição de Melhoria. Nos tributos não vinculados, como impostos, o fato gerador se realiza pelo próprio particular e não se relaciona com o comportamento do Estado. Dessa forma, o pagamento é realizado quando o fato gerador se realiza, como no caso de emissão de passaporte. Ainda sobre essa matéria, os insumos doutrinários dos constituintes acerca da teoria dos fatos geradores vinculados e não vinculados verificam que o vínculo ocorre em relação a uma atuação estatal, ou seja, os tributos vinculados a uma atuação estatal são as taxas e contribuições, já os não vinculados são os impostos (Brasil, 1988). Isso significa dizer que, no caso das taxas e das contribuições, há a necessidade da atuação do Estado, pois o seu fato gerador implicará sempre uma atuação estatal. No caso dos não vinculados, o fato gerador irá se constituir de situações que não implicam a atuação estatal, pois se desvincula do fato gerador uma manifestação do Estado, como se pode verificar no CTN, em seu art. 16, que faz referência ao imposto e a sua não vinculação (Coêlho, 2007, p. 60-61): “Art. 16 - Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte” (Brasil, 1966c). Destaca-se também a diferença entre os tributos diretos e indiretos, sendo que os tributos diretos são aqueles que recaem sobre o contribuinte que está direta e pessoalmente ligado ao fato gerador e os indiretos, aqueles que, a cada etapa econômica, são repassados para o preço do produto/mercadoria/serviço. Dessa forma, observa-se que a Constituição atribui à lei complementar a função de conceituar o tributo e também suas espécies (Brasil, 1988), sendo que as espécies tributárias dependem dos princípios tributários, de modo que estão sujeitas a eles, pois, por meio de sua aplicação, pode-se modificar ou inviabilizar uma exigência. TEMA 2 – IMPOSTOS O art. 5º do CTN dispõe que os tributos são: impostos, taxas e contribuições de melhoria, fazendo supor que são só essas as espécies 5 tributárias. No entanto, cabe destacar que há figuras tributárias que não se enquadram na tipologia do art. 5º do CTN (Brasil, 1966c). Vamos examinar a figura do imposto, que encontra disposição legal no art. 16 do CTN: “imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte” (Brasil, 1966c). Nas palavras de Luciano Amaro (2011, p. 52, grifos nossos): O fato gerador do imposto é uma situação (por exemplo, aquisição de renda, prestação de serviços, etc.) que não supõe nem se conecta com nenhuma atividade do Estado especificamente dirigida ao contribuinte. Ou seja, para exigir imposto de certo indivíduo, não é preciso que o Estado lhe preste algo determinado. A atuação do Estado dirigida a prover o bem comum beneficia o contribuinte, mas este frui das utilidades que o Estado fornece porque é membro da comunidade e não por ser contribuinte. Se o fato gerador do imposto não é um ato do Estado, ele deve configurar uma situação à qual o contribuinte se vincula. O legislador deve escolher determinadas situações materiais (por exemplo, aquisição de renda) evidenciadoras de capacidade contributiva, tipificando-as como fatos geradores da obrigação tributária. As pessoas que se vinculam a essas situações (por exemplo, as pessoas que adquirem renda) assumem o dever jurídico de pagar o imposto em favor do Estado. Os impostos, além de atenderem ao conceito de tributo, apresentam outras características: a. São instituídos mediante a previsão legal (hipótese) de fatos típicos, que quando ocorrem dão nascimento à obrigação tributária; b. Não se relacionamcom a atuação estatal divisível e referível ao sujeito passivo; c. Não estão relacionados a determinado aparelhamento estatal ou paraestatal, nem a atividades privadas que persigam fins de interesse público. Os impostos, portanto, como ficaram designados pelo ordenamento jurídico, deveriam prestar-se ao financiamento das atividades gerais do Estado, ou seja, eles não incorporam, no seu conceito, a destinação a essa ou aquela atuação estatal e é isso o que difere os impostos das taxas, já que as taxas estão diretamente ligadas a uma atuação estatal referível ao contribuinte, isto é, há nelas uma contraprestação do Estado em relação a sua atuação (exemplo: taxa de coleta de lixo). No caso dos impostos, não é possível dizer que a atuação estatal está de algum modo ligada ao contribuinte e a inexistência dessa característica integra o conjunto de notas que distinguem essa espécie tributária, 6 já que, quando ocorre o pagamento do ICMS ou do Imposto de Renda (IR) ou até mesmo do carnê de Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), ainda que, nesse carnê, esteja presente a cobrança da taxa de coleta de lixo. Mesmo assim, em relação ao IPTU não é possível dizer que uma atuação estatal está sendo prestada diretamente ao contribuinte, ou seja, que ele esteja vinculado a uma atuação estatal específica para com o contribuinte. TEMA 3 – IMPOSTOS SOBRE COMÉRCIO EXTERIOR Os impostos sobre importação e exportação são impostos de caráter predominantemente extrafiscal, visam regular a economia e é por meio deles que é possível incentivar ou não a entrada/saída de produtos no território nacional. Como exemplo, vamos considerar que uma empresa decida realizar importação no âmbito de um segmento têxtil, ou seja, ela importa tecido, de outro país, que, para entrar em território nacional, receberá incidência do II. Ainda nesse cenário, verifica-se que a venda de tecidos fabricados no Brasil esteja decaindo. Com o viés de fomentar a economia interna, aumenta-se o II para que os preços dos produtos vindos de fora se equiparem aos nacionais ou então para que fiquem mais altos do que os produtos fabricados e vendidos no Brasil. Assim, diminuem-se as importações para aquecer a economia interna, estimulando o consumo de produtos nacionais, ou seja, se realizando uma regulação de conduta por meio de tributação. O mesmo pode ocorrer em relação ao IE. Considerando o mesmo exemplo, após o aumento do II, diminui-se o IE para incentivar a venda internacional dos produtos nacionais (a sua saída do território brasileiro), fazendo com que seja possível a competição com outros países que fabricam tecidos, buscando aumentar a exportação de produtos nacionais para o exterior, interferindo na economia mediante a tributação. Aqueles dois impostos são impostos federais, ou seja, são de competência da União e estão previstos no art. 153, incisos I-II e parágrafo 1º, da Constituição Federal (CF): Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: I - importação de produtos estrangeiros; II - exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados; [...] 7 § 1º É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos incisos I, II, IV e V. (Brasil, 1988) Analisando a legislação, identificamos nos incisos I e II a competência da União para instituir esses dois tributos e que a forma de regulação é realizada por meio da alteração das alíquotas, lembrando que a alíquota é o percentual que será aplicado sobre a base de cálculo (Brasil, 1988). Então, temos que, para se aumentar o II, aumenta-se a alíquota (em seu percentual). Caso o interesse seja comercializar produtos vindos do exterior, diminui-se a alíquota. O mesmo faz-se em relação ao IE, atendendo a objetivos de uma regulação da economia. O II e o IE são, pois, tributos regulatórios, utilizados com fins extrafiscais, para regular condutas, além de arrecadar. O Executivo federal pode realizar alterações da alíquota por ato administrativo e essas alterações, como se referem a tributos com caráter regulatório, não observam o princípio da anterioridade e da anterioridade nonagesimal, ou seja, para que as alterações das alíquotas desses impostos comecem a ter efeito, não é necessário esperar o próximo exercício financeiro e nem 90 dias, destacando-se que é uma exceção a não observância do princípio da anterioridade (exercício financeiro) e do princípio da anterioridade nonagesimal (90 dias), como vimos em aulas anteriores. Apenas para relembrar: a anterioridade, prevista no art. 150, inciso III, alíneas b e c da CF, dispõe que a lei que cria ou majora um tributo só pode incidir sobre fatos ocorridos no exercício financeiro subsequente ao de sua entrada em vigor. Já no caso da anterioridade nonagesimal, destaca-se que não se pode cobrar um tributo antes de decorridos 90 dias da data em que haja sido publicada a lei que o instituiu ou aumentou (Brasil, 1988). Assim, II e IE são exceções a essa regra. Para Sacha Calmon Navarro Coêlho (2010, p. 287-288): Por outro lado, as exceções à legalidade e à anterioridade e ao prazo nonagesimal no manejo das alíquotas são justificáveis. O Executivo Federal precisa de instrumentos lépidos para regular o comércio internacional, desde que obedecidos os limites e condições fixadas em lei complementar. Basta não olvidar as políticas antidumping, os contingenciamentos, as crises cambiais e a necessidade de incentivar importações para modernizar as indústrias e para evitar desabastecimento no país quando os preços de certos produtos de grande consumo pela população sobre espetacularmente no exterior, provocando a despressurização do mercado interno e o sugamento das mercadorias pelo mercado externo. 8 Como o que se busca é a regulação da economia, mediante alteração das alíquotas, incentivando ou coibindo comportamentos, é compreensível que o Executivo federal possa fazer essas alterações e que não seja necessário esperar 90 dias ou o próximo exercício financeiro para que as alterações comecem a fazer efeito, pois é preciso instrumentos rápidos para regular o comércio internacional. Para maior esclarecimento do texto do professor Coêlho (2010), alguns conceitos devem ser explicados, sendo o primeiro deles o que se refere a políticas antidumping. Essas políticas têm como objetivo coibir práticas que prejudiquem produtores nacionais por importações realizadas a preços desleais, em termos de comércio. Já o contingenciamento significa retardar ou até mesmo não realizar parte da programação de despesa que se está prevista na lei orçamentária, por causa da insuficiência de receitas. Por meio de decreto de contingenciamento, há a apresentação de limites orçamentários para determinação de limites financeiros. Por fim, entende-se como crise cambial a alta desvalorização das moedas locais em razão de não ser possível cumprir com o pagamento de dívidas externas. Tais situações interferem diretamente nas importações e exportações, podendo inclusive comprometer a importação de produtos essenciais (exemplo: itens necessários para produção de medicamentos). Assim, buscando evitar ou contornar situações oscilantes na economia, como as que foram descritas, é que II e IE, na figura de tais mecanismos, são exceções aos princípios da anterioridade e anterioridade nonagesimal. Dessa forma, verificando a importância daqueles dois impostos, vamos estudar cada um deles separadamente, destacando que, no CTN, o Capítulo II versa sobre impostos sobre o comércio exterior, dividindo-se em duas seções – a Seção I – Impostos sobre a Importação e a Seção II – Impostos sobre a Exportação (Brasil, 1966c). TEMA 4 – IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO (II) O II diz respeito ao imposto cobrado quando há entrada de produtos estrangeiros em território nacionale está disposto nos art. 19 a 22 do CTN: CAPÍTULO II Impostos sobre o Comércio Exterior SEÇÃO I Impostos sobre a Importação 9 Art. 19. O imposto, de competência da União, sobre a importação de produtos estrangeiros tem como fato gerador a entrada destes no território nacional. Art. 20. A base de cálculo do imposto é: I - quando a alíquota seja específica, a unidade de medida adotada pela lei tributária; II - quando a alíquota seja ad valorem, o preço normal que o produto, ou seu similar, alcançaria, ao tempo da importação, em uma venda em condições de livre concorrência, para entrega no porto ou lugar de entrada do produto no País; III - quando se trate de produto apreendido ou abandonado, levado a leilão, o preço da arrematação. Art. 21. O Poder Executivo pode, nas condições e nos limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas ou as bases de cálculo do imposto, a fim de ajustá-lo aos objetivos da política cambial e do comércio exterior. Art. 22. Contribuinte do imposto é: I - o importador ou quem a lei a ele equiparar; II - o arrematante de produtos apreendidos ou abandonados. (Brasil, 1966c) O fato gerador do imposto é a entrada, em território nacional, do produto importado do exterior. Sendo assim, esse fato gerador, para o II, consuma-se na data do registro da declaração de importação, o que ocorre no caso de importação de mercadoria despachada para consumo. Dessa forma, temos que o II tem como fato gerador a entrada de produtos estrangeiros no território. No entanto, tratando-se de mercadoria despachada para consumo, considera-se ocorrido o fato gerador na data do registro, na repartição competente, da declaração apresentada pelo importador, sendo irrelevantes a data de celebração do contrato de compra e venda ou a do embarque ou a do ingresso no país de mercadoria importada. Esse é o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) quanto ao fato gerador de II. A determinação do momento da ocorrência do fato gerador é importante para o aspecto temporal, para, assim, se definir a alíquota vigente a ser aplicada. Dessa forma: O Executivo pode variar a alíquota do imposto para evitar dumping e para harmonizar a intercadência de preços entre o mercado interno e externo, daí os preços de referência, mas “As resoluções do Conselho de Política Aduaneira, destinadas à fixação de pauta de valor mínimo, devem conter motivação expressa” (Súmula nº 97 do TRF, hoje STJ), pois “o fato gerador está na entrada da mercadoria no território nacional, sendo, pois, a alíquota devida aquela contemporânea ao fato gerador...” (STF, RE nº 734/19, DJ de 13.04.1973). “Sendo lícito ao Poder Executivo alterar as alíquotas referentes ao imposto de importação nas condições e limites fixados em lei...” (STJ, MS nº 3.696/DF, DJ de 20.02.1995). Trata-se de tributo com ênfase na extrafiscalidade, por isso pode ter suas alíquotas alteradas por ato do Poder Executivo e não há que respeitar a anterioridade e a espera nonagesimal, como vimos em capítulo próprio (Coêlho, 2010, p. 425, grifo nosso). 10 A fim de regular a economia, pode o Executivo alterar a alíquota do II, buscando evitar preços desleais em comparação com o comércio internacional, tentando, assim, encontrar um equilíbrio entre os preços dos mercados interno e externo (preços de referência). Outro ponto a destacar é a expressão indicada no art. 153, inciso I, da CF: importação de produtos estrangeiros (Brasil, 1988). Entende-se como produtos tanto bens destinados tão somente ao uso ou consumo pelo importador, como também as mercadorias que têm finalidade comercial. Produto estrangeiro é qualquer bem produzido no exterior, pela natureza ou pelo homem, tangível ou intangível, corpóreo ou incorpóreo. Quanto aos contribuintes do II, consideram-se: o importador, seja pessoa física, seja jurídica; o arrematante de produtos apreendidos ou abandonados (nos casos em que tenha ocorrido a decretação da perda do produto ingressado irregularmente, mediante contrabando ou descaminho; ou de produto abandonado, assim considerado aquele não desembaraçado no prazo legal). O Decreto-Lei n. 37/1966 “dispõe sobre o imposto de importação, reorganiza os serviços aduaneiros e dá outras providências” (Brasil, 1966a). No seu Capítulo VI, que versa sobre contribuintes e responsáveis, destaca-se que: Art. 31 - É contribuinte do imposto: I - o importador, assim considerada qualquer pessoa que promova a entrada de mercadoria estrangeira no Território Nacional; II - o destinatário de remessa postal internacional indicado pelo respectivo remetente; III - o adquirente de mercadoria entrepostada. Art. 32 - É responsável pelo imposto: I - o transportador, quando transportar mercadoria procedente do exterior ou sob controle aduaneiro, inclusive em percurso interno; II - o depositário, assim considerada qualquer pessoa incubida da custódia de mercadoria sob controle aduaneiro. Parágrafo único. É responsável solidário: I - o adquirente ou cessionário de mercadoria beneficiada com isenção ou redução do imposto; II - o representante, no País, do transportador estrangeiro; III - o adquirente de mercadoria de procedência estrangeira, no caso de importação realizada por sua conta e ordem, por intermédio de pessoa jurídica importadora. [...] c) o adquirente de mercadoria de procedência estrangeira, no caso de importação realizada por sua conta e ordem, por intermédio de pessoa jurídica importadora; d) o encomendante predeterminado que adquire mercadoria de procedência estrangeira de pessoa jurídica importadora. (Brasil, 1966a) A base de cálculo mais usual do II é a aplicação de alíquota ad valorem, que se refere ao percentual a incidir sobre o valor da importação. O valor da 11 importação não é o valor de aquisição do produto, resultante do negócio jurídico, mas sim o valor aduaneiro, segundo as normas do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (Gatt, 1947). A seguir, os cinco critérios da descrição da regra-matriz de incidência tributária do II: 1. Critério material: importação de produtos estrangeiros. 2. Critério espacial: entrada do produto estrangeiro em território nacional e nas repartições aduaneiras. 3. Critério temporal: momento de admissão aduaneira definitiva – registro da declaração de importação para fins de desembaraço aduaneiro. 4. Critério pessoal: a. ativo: União; b. passivos: importador (pessoa física ou jurídica) e arrematante. 5. Critério quantitativo: a. base de cálculo: valor aduaneiro; b. alíquota: variada, de acordo com a Tarifa Externa Comum (TEC). TEMA 5 – IMPOSTO DE EXPORTAÇÃO (IE) O IE é aquele que incide quando ocorre a saída de produtos nacionais ou nacionalizados do território nacional, ou seja, quando ocorre a sua exportação para o estrangeiro. Além da previsão constitucional no inciso II do art. 153 (Brasil, 1988), o IE está disposto nos art. 23 a 28 do CTN: SEÇÃO II Imposto sobre a Exportação Art. 23. O imposto, de competência da União, sobre a exportação, para o estrangeiro, de produtos nacionais ou nacionalizados tem como fato gerador a saída destes do território nacional. Art. 24. A base de cálculo do imposto é: I - quando a alíquota seja específica, a unidade de medida adotada pela lei tributária; II - quando a alíquota seja ad valorem, o preço normal que o produto, ou seu similar, alcançaria, ao tempo da exportação, em uma venda em condições de livre concorrência. Parágrafo único. Para os efeitos do inciso II, considera-se a entrega como efetuada no porto ou lugar da saída do produto, deduzidos os tributos diretamente incidentes sobre a operação de exportação e, nas vendas efetuadas a prazo superior aos correntes no mercado internacional o custo do financiamento. Art. 25. A lei pode adotar como base de cálculo a parcela do valor ou do preço, referidos no artigo anterior, excedente de valor básico, fixado de acordo com os critérios e dentro doslimites por ela estabelecidos. Art. 26. O Poder Executivo pode, nas condições e nos limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas ou as bases de cálculo do 12 imposto, a fim de ajustá-los aos objetivos da política cambial e do comércio exterior. Art. 27. Contribuinte do imposto é o exportador ou quem a lei a ele equiparar. Art. 28. A receita líquida do imposto destina-se à formação de reservas monetárias, na forma da lei. (Brasil, 1966c) Conforme a legislação apresentada (Brasil, 1966c), é possível verificar os critérios de incidência do IE, destacando-se a possibilidade de alteração de alíquota ou base de cálculo pelo Poder Executivo, com a finalidade de ajustá-los aos objetivos econômicos. Sobre a ocorrência do fato gerador: Por questão de praticidade considera-se, por presunção legal, ocorrido o fato gerador quando da expedição da guia de exportação (TRF, Ac. nº 86.450-RS, DJ de 10.03.1983). Se a exportação não se realiza, é devida a devolução do imposto. Tal como o imposto de importação, o de exportação é imposto tipicamente regulatório do comércio exterior (extrafiscalidade), por isso também autoriza o Texto Constitucional que as alíquotas sejam fixadas por ato do Poder Executivo e dispensa a anterioridade e a espera nonagesimal. É utilizado, às vezes, para evitar o desabastecimento do mercado interno, quando no mercado externo os preços são muito atraentes. A Lei nº 5.072/66 chega a dizer que seu caráter é monetário e cambial, tendo por finalidade disciplinar os efeitos monetários que decorrem da variação de preços no exterior, preservando as receitas de exportação. As suas alíquotas, por isso mesmo, por expressa determinação constitucional, podem ser fixadas e alteradas por ato administrativo. Por serem impostos regulatórios, compreende-se por que os impostos aduaneiros devem ser manejados rapidamente pelas autoridades administrativas. É que as conjunturas que envolvem os fluxos de importação e exportação formam-se com inusitada rapidez, exigindo respostas lépidas e prontas dos gestores do comércio exterior. (Coêlho, 2010, p. 426) Considera-se ocorrido o fato gerador, verbo mais complemento, quando realizada a expedição da guia de exportação. Caso a exportação não se realize, faz-se necessária a devolução do imposto, destacando-se, novamente, que tanto o II como o IE são impostos regulatórios do comércio exterior, tendo como principal objetivo fiscal a extrafiscalidade, ainda que tenham cunho arrecadatório (fiscalidade). A Lei n. 5.072/1966 (Brasil, 1966b) foi revogada pelo Decreto-Lei n. 1.578/1977, que é o decreto que “dispõe sobre o imposto sobre a exportação, e dá outras providências” (Brasil, 1977). A competência de instituir o II é da União, tendo o seu campo material circunscrito ao significado da expressão: exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados. Dessa forma, refere-se à exportação de produtos nacionais ou nacionalizados para a economia interna de outro país, sendo 13 considerado produto nacionalizado aquele que foi importado e sofreu transformação, beneficiamento ou acondicionamento, cabendo ao Poder Executivo relacionar os produtos sujeitos a esse imposto, estando as classificações fiscais das mercadorias dispostas no portal do Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex, S.d.), divididas por seções, com acesso mediante o seguinte link: <https://portalunico.siscomex.gov.br/classif/#/sumario?perfil=publico>. O critério espacial (de território geográfico) é definido no momento da saída do produto nacional ou nacionalizado do território nacional e o fato gerador ocorre com o registro da exportação no Siscomex. O contribuinte é o exportador, seja pessoa física, seja jurídica (em nome de quem se realiza a exportação) ou a quem a lei a ele equiparar. Quanto à base de cálculo: Para a fixação da base de cálculo, que é o preço normal, deduzem- se os tributos que incidem na exportação e o custo dos financiamentos arcados pelos exportadores. Dado que o imposto é extrafiscal e devido ao fato de que o equilíbrio da balança comercial depende fundamentalmente do esforço de exportação, o imposto é minimamente exigido, comuníssimo o uso da alíquota zero (isenção atípica), pois o fator constitutivo do dever tributário está no mandamento da norma de tributação e não na sua hipótese de incidência (ou fato gerador). Mas basta ocorrer a necessidade de barrar dada exportação, visando evitar o desabastecimento do mercado interno, para mover o administrador a subir a alíquota zero para 5%, 10% ou 15% ad valorem. A alíquota zero, portanto, é extremamente útil, já que a isenção e sua revogação dependem, sempre, de lei. No caso da alíquota zero, a suposição é de que, por definição, o produto é tributado. A alíquota quantificadora do dever é que pode variar de zero a 40%. Assim pensa, também, o STF. (Coêlho, 2010, p. 426-427, grifo nosso) Assim, para a definição da base de cálculo do IE, considera-se o preço normal que o produto alcançaria no momento da exportação, observadas as normas elaboradas pelo Poder Executivo, mediante ato da Câmara de Comércio Exterior (Camex). A alíquota está definida no Decreto-Lei n. 1.578/1977, em seu art. 3º: Art. 3o A alíquota do imposto é de trinta por cento, facultado ao Poder Executivo reduzi-la ou aumentá-la, para atender aos objetivos da política cambial e do comércio exterior. Parágrafo único. Em caso de elevação, a alíquota do imposto não poderá ser superior a cinco vezes o percentual fixado neste artigo. A alíquota pode ser ajustada a fim de atingir os objetivos da política cambial e do comércio exterior. Destaca-se, novamente, que o IE possui caráter extrafiscal. 14 A seguir, os cinco critérios da regra-matriz de incidência tributária do IE de produtos: 1. Critério material: exportação de produtos nacionais ou nacionalizados. 2. Critério espacial: saída do produto nacional ou nacionalizado do território nacional. 3. Critério temporal: momento da saída aduaneira definitiva – registro da exportação. 4. Critério pessoal: a. ativo: União; b. passivo: exportador ou quem a lei a ele equiparar. 5. Critério quantitativo: a. base de cálculo: o preço normal que o produto, ou seu similar, alcançaria, no tempo da exportação, em uma venda em condições de livre concorrência; b. alíquota: 30%, facultado ao Poder Executivo reduzi-la ou aumentá-la para atender aos objetivos da política cambial e do comércio exterior. TROCANDO IDEIAS Os impostos são tributos considerados não vinculados, ou seja, que independem de uma contraprestação estatal, e têm como objetivo a fiscalidade, arrecadar recursos para a manutenção do Estado. Sendo assim, a criação de um novo imposto visa necessariamente à arrecadação, uma vez que tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte, assim como está disposto no art. 16 do CTN (Brasil, 1966c). Considerando o que já foi visto sobre as modalidades tributárias, especificamente sobre o imposto, podemos trazer para a discussão a seguinte matéria: “Reforma tributária: governo indica CPMF de 0,4% sobre saques e depósitos para desonerar folha”, disponível no link: <https://www.infomoney.com.br/politica/reforma-tributaria-governo-indica-cpmf- de-04-sobre-saques-e-depositos-para-desonerar-folha/>. Nela, o que se discute é a criação de um imposto sobre transações financeiras, batizado de Contribuição sobre Pagamentos (CP), para reduzir gradualmente os impostos que as empresas pagam sobre a folha de salário dos funcionários. Há também 15 uma comparação desse imposto com a antiga Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) (Mortari, 2019). Em contrapartida, temos outra matéria, retirada do site da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Refeita Federal do Brasil (Anfip, 2019): “Desoneração da folha é ummanual de ‘como não fazer’, alerta Anfip”, com acesso pelo link: <https://www.anfip.org.br/noticias/historia-de-desoneracao-da- folha-e-um-manual-de-como-nao-fazer-alerta-anfip/>. Ela traz à tona que a forma como a desoneração da folha foi implementada acabou por provocar muitas possibilidades de manobras fiscais. Em respeito ao princípio da legalidade, em que se destaca que a criação de um imposto só é possível mediante lei; e, considerando as notícias analisadas (Mortari, 2019; Anfip, 2019), reflita sobre a questão da desoneração da folha de pagamento e da criação de novos impostos com a finalidade de arrecadação de dinheiro para o Estado. NA PRÁTICA Para efeito do comércio internacional, cabe mencionar a possibilidade de um acordo de livre comércio realizado entre Brasil e China. A relação internacional entre os países foi negociada referente à redução de tarifas de forma gradual. Destaca-se assim que, como II e IE possuem caráter extrafiscal, é possível a alteração de alíquotas para a regulação da economia. Logo, a criação de uma área de livre comércio entre o Brasil e a China provocaria impactos positivos na economia brasileira, com ganhos de Produto Interno Bruto (PIB), investimentos, exportações e importações. Para entender mais, foi realizada, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a pedido do governo federal, uma avaliação dos impactos, sobre a economia brasileira, de um acordo de livre comércio do Brasil com a China. É possível lê-la em <http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_institucional/1912 04_ri_avaliacao_dos_projetos.pdf> (Brasil, 2019b), assim como acessar uma matéria do próprio Ipea a respeito da análise: <http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id= 35219&catid=6&Itemid=4> (Ipea, 2019). O estudo referido analisa os impactos, sobre as principais variáveis macroeconômicas e setoriais da economia brasileira, de um acordo de livre 16 comércio entre o Brasil e a China, de forma que as simulações consideram um cronograma de redução bilateral das tarifas ao longo de dez anos, com reduções graduais a cada dois anos, até que elas cheguem a zero (Brasil, 2019b). Considerando que as importações e as exportações estão diretamente ligadas ao aspecto regulatório da economia, tente elaborar um texto sobre as vantagens da realização de acordos internacionais ou, então, sobre as vantagens da realização do controle da economia de forma interna (pelos atos administrativos de alteração de alíquota e base de cálculo). Justifique seu pensamento acerca do tema. FINALIZANDO Nesta aula, conseguimos entender um pouco mais os impostos em sua modalidade tributária e trabalhar os tributos em espécie, começando com os impostos sobre comércio exterior. Vimos como funcionam o II e o IE, e que possuem caráter extrafiscal, sendo uma exceção ao princípio da anterioridade e anterioridade nonagesimal, podendo haver alteração de alíquota desses impostos pelo Poder Executivo, interferindo na economia. Identificamos em cada um dos impostos o fato gerador e também montamos a sua regra-matriz de incidência tributária, completando cada um dos critérios para uma visualização mais clara sobre a incidência de cada um dos tributos referidos. Nas próximas aulas, continuaremos nosso estudo dos tributos em espécie. Até lá! 17 REFERÊNCIAS AMARO, L. Direito tributário brasileiro. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. ANFIP – Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Refeita Federal do Brasil. Desoneração da folha é um manual de “como não fazer”, alerta Anfip. Brasília, 3 dez. 2019. Disponível em: <https://www.anfip.org.br/assuntos- tributarios-e-previdenciarios/previdencia/historia-de-desoneracao-da-folha-e- um-manual-de-como-nao-fazer-alerta-anfip/>. Acesso em: 10 fev. 2020. BRASIL. Câmara dos Deputados. Proposta de Emenda Constitucional n. 45. Brasília, abr. 2019a. BRASIL. Decreto-Lei n. 37, de 18 de novembro de 1966. Diário Oficial da União, Brasília, p. 13.403, 21 nov. 1966a. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del0037.htm>. Acesso em: 10 fev. 2020. _____. Decreto-Lei n. 1.578, de 11 de outubro de 1977. Diário Oficial da União, Brasília, 12 out. 1977. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1578.htm>. Acesso em: 10 fev. 2020. _____. Lei n. 5.072, de 12 de agosto de 1966. Diário Oficial da União, Brasília, 17 ago. 1966b. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1950- 1969/L5072.htm>. Acesso em: 10 fev. 2020. _____. Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966. Diário Oficial da União, Brasília, p. 12.452, 27 out. 1966c. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm>. Acesso em: 10 fev. 2020. BRASIL. Ministério da Economia. Avaliação dos impactos sobre a economia brasileira de um acordo de livre comércio do Brasil com a China. Brasília: Ipea, 2019b. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_institucional/1912 04_ri_avaliacao_dos_projetos.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2020. BRASIL. Senado Federal. Centro Gráfico. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988. 18 COÊLHO, S. C. N. Os princípios gerais do sistema tributário da Constituição. In: MARTINS, I. G. da S. (Coord.). O tributo: reflexão multidisciplinar sobre sua natureza. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 55-86. _____. Curso de direito tributário brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 2010. GATT – Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio. Genebra, 1947. MORTARI, M. Reforma tributária: Governo indica CPMF de 0,4% sobre saques e depósitos para desonerar folha. InfoMoney, 10 set. 2019. Disponível em: <https://www.infomoney.com.br/politica/reforma-tributaria-governo-indica-cpmf- de-04-sobre-saques-e-depositos-para-desonerar-folha/>. Acesso em: 10 fev. 2020. ROSA, G. Impactos da reforma tributária para a tributação sobre comércio exterior. Migalhas, 19 jul. 2019. Disponível em: <https://www.migalhas.com.br/depeso/306854/impactos-da-reforma-tributaria- para-a-tributacao-sobre-comercio-exterior>. Acesso em: 10 fev. 2020. SISCOMEX – Sistema Integrado de Comércio Exterior. Sumário. Brasília, [S.d.]. Disponível em: <https://portalunico.siscomex.gov.br/classif/#/sumario?perfil=publico>. Acesso em: 10 fev. 2020.
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