Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
( 1 ) CONCEITOS PRELIMINARES A importância do FLUORETO Para entender o papel do flúor na atividade de cárie, o primeiro passo é esclarecer as diferenças nas seguintes nomenclaturas: · FLÚOR: é o elemento químico, presente na natureza, comum na forma de minerais, ligado a outros elementos químicos, como o cálcio. Em inglês: Fluorine. · FLUORETO: é o flúor na forma iônica F-, responsável pelo mecanismo anticárie do elemento químico. Em inglês: Fluoride. A ação anticárie somente ocorre quando está na forma iônica. Em português, o termo flúor é usado para mencionar o mecanismo de ação do seu íon, o fluoreto. Neste roteiro de estudo será usada a nomenclatura fluoreto, mas em outros materiais o termo flúor poderá ser encontrado como seu sinônimo. · Fonte natural: A água é a fonte natural mais comum. · Fontes especiais:, Peixes crustáceos, sal marinho e folhas para chá. Pode estar presente na cerveja e no vinho tinto. Nenhum outro elemento químico causa tanta polêmica quanto a questão do flúor na Odontologia. Com isso, são formados dois grandes grupos: · O Grupo dos ANTIFLUORACIONISTAS (Fatalistas anti flúor - atribuem ao flúor toda classe de problemas). · O grupo dos HIPERFLUORADOS (Fanáticos por flúor – atribuem ao flúor todo tipo de benefícios). O ideal é ter cuidado com as “fake News” e seguir os conceitos da odontologia baseada em evidências científicas! · BASES CIENTÍFICAS · O uso de fluoreto é a abordagem que demonstrou maior sucesso no controle de cárie em nível mundial devido à facilidade na administração e à diversidade de suas formas de aplicação. · O efeito do fluoreto é físico-químico interferindo na dinâmica do processo de desenvolvimento de lesões de cárie. · O fluoreto exerce efeito anticárie pela ação tópica nas superfícies dentárias. · Se o fluoreto estiver disponível desde o momento da irrupção e a exposição for continuada durante o tempo de vida dentária, o benefício máximo será alcançado. · O fluoreto precisa estar disponível no ambiente bucal e sua incorporação ao esmalte durante a sua formação tem menor significado. · As recomendações para ingestão de fluoreto são extremamente errôneas, pois não é necessário ingerir flúor para obter seus benefícios. · ABSORÇAO, DISTRIBUIÇAO E ELIMINAÇAO PELO ORGANISMO · Absorção: Após a ingestão, o fluoreto é rapidamente absorvido pelo plasma sanguíneo, predominantemente no estômago. · Distribuição: é distribuído do plasma sanguíneo para todos os tecidos. É transportado do plasma sanguíneo para o leite materno em quantidade pequena, mesmo quando a mãe possui uma alta ingestão. Já as fórmulas dos leites preparados comercialmente podem ter um conteúdo variável de fluoreto, e se forem preparadas com água fluoretada, as crianças acabam ingerindo doses altas. · Eliminação: Se a absorção for alta, será excretado principalmente pelos rins. · ASPECTOS TOXICOLÓGICOS DO FLUORETO Toxicidade aguda: A ingestão de grande quantidade de fluoreto de uma vez provoca desde irritação gástrica até a morte. · Dose Provavelmente Tóxica (DPT) = 5 mgF - /Kg peso corporal/dia. Ex: para uma pessoa de 70 kg a DPT é de 350 mg/F - /dia. · Dosagem letal = 32 a 64 mgF - /Kg peso corporal/dia. Ex: para uma pessoa 70 kg a dose letal é de 2240 a 4480 mg/F - /dia. · MEDIÇAO DA CONCENTRAÇAO DO ÍON FLUORETO - ppmF · CONCENTRAÇAO DE FLUORETO NOS DENTES · MECANISMO DE AÇAO DOS FLUORETOS Principais teorias (3) para explicar a prevenção das cáries pelos fluoretos: · 1 Redução da solubilidade dos componentes orgânicos dentais. · O fluoreto se adere firmemente na superfície do esmalte na forma de fluorapatita ou apatita fluoretada- Ca10(PO4)6.F2 , que é mais resistente e menos solúvel em ácidos do que a hidroxiapatita Ca10(PO4)6.(OH)2. · Os fluoretos formam uma camada na superfície do esmalte que impede ou retarda a desmineralização. · 2 Inibição enzimática. · Os fluoretos inibem enzimas envolvidas na formação de ácidos orgânicos: · Fosfatases: inibindo a liberação de ácidos orgânicos livres que são agentes desmineralizadores de esmalte. · Enolases: bloqueando a via glicolítica e a formação final do ácido láctico, diminuindo também a proliferação de microrganismos (MO) no meio bucal. As enolases são muito sensíveis à ação dos fluoretos. · 3 Remineralização do dente. Fonte: CURY, J. A.; TENUTA, L. M. A.; TABCHOURY, C. P. M. Bioquímica oral. São Paulo: Artes Médicas, 2017. · EFEITOS BENÉFICOS OU DELETÉRIOS Usar racionalmente, pois pode trazer efeitos benéficos ou deletérios à dentição: · Efeitos benéficos do fluoreto contra a cárie: Em função do efeito tópico sobre os dentes que já irromperam. · Efeitos deletérios do fluoreto no germe dentário: Devido à ingestão e absorção sistêmica de quantidades excessivas de fluoreto durante o período de desenvolvimento dentário, podendo resultar na fluorose dentária. · FLUOROSE DENTÁRIA Consiste na hipomineralização do esmalte dentário. Costuma ser bilateral e simétrica. A fluorose dentária pode ocorrer apenas quando os dentes estão em desenvolvimento! Afeta com especial frequência os premolares e os segundos molares, seguidos dos incisivos superiores. Fluorose dentária ≠ Dente rico em flúor (Murray, 1986). · Classificação da fluorose dentária Dependendo do grau de exposição ao fluoreto observam-se distintos graus de severidade da fluorose. ÍNDICE de DEAN (1936): Dean classificou a FLUOROSE de 0 a 5, de acordo com suas características clínicas. ÍNDICE de THYLSTRUP-FEJERSKOV - TF (1978): Thylstrup-Fejerskov classificaram a FLUOROSE de 0 a 9, de acordo com suas características clínicas e histopatológicas. · DOSE DE FLUORETO E FLUOROSE DENTÁRIA. Lembrando que existe o risco de fluorose somente quando a dentição está em desenvolvimento, antes de irromper. · CONCENTRAÇAO ÓTIMA DE FLÚOR É aquela que traz a máxima redução da cárie com o mínimo risco de fluorose. Dean relacionou a fluorose à concentração de fluoreto na água potável. Foi estipulado um nível seguro de fluoreto nos suprimentos de água de: 0.7 ppmF que forneceu redução máxima da cárie enquanto causou nível mínimo de fluorose dentária do ponto de vista de saúde pública. Portanto, considera-se altos níveis os valores ˃1 ppmF (mais que 1 mg de fluoreto em 1 litro de água). OBS: lembrando que a concentraçao de fluoreto é dada em ppmF e a dose ou dosagem é dada em mgF/ Kg peso/dia. · MÉTODOS ATUAIS NA ADMINISTRAÇAO DE FLUORETO Para que um sistema de liberação de fluoreto seja bem-sucedido, ele deve garantir que: · O fluoreto esteja topicamente disponível na cavidade bucal: Em concentrações que possam afetar significativamente os processos de desmineralização e remineralização. · A ingestão seja minimizada: Para evitar a fluorose. · O método seja custo efetivo: Razoável custo benefício. · Tipos: 1. Intervenções com fluoreto baseadas na comunidade 2. Métodos autoaplicáveis para liberação de fluoreto 3. Uso profissional dos métodos de liberação de fluoreto 1. INTERVENÇÕES COM FLUORETO BASEADAS NA COMUNIDADE · Meios de uso coletivo. · Atingem toda a população. · Baseado na ingestão diária de baixas concentrações de fluoreto. 1.1 Fluoretação das águas de abastecimento público Vantagens: · Medida de saúde pública com melhor custo-benefício para controle de cárie dentária. · A concentraçao de F- na boca se mantém alta por até 1 h. · Método de liberação passiva. Desvantagens: · Falta de liberdade de escolha. · Possibilidade de múltiplas exposições ao fluoreto. · Consumo variável dentro da comunidade. · Estudos mostram que o flúor não precisa ser ingerido. Obs: · Água otimamente fluoretada: 0.7 ppmF. · Suspensa em alguns países “desenvolvidos”. Insuficiente em alguns países “subdesenvolvidos”. · Água fluoretada só em água potável! 1.2 Fluoreto no sal de cozinha Vantagens: · É liberado em pequenas quantidades quando o alimento é consumido. · A concentraçao F- na boca se mantém alta por até 2 hs. · Liberdade de escolha. Desvantagens: · Consumo variável dentro das famílias. · Difícil controle de dosagem. · Possibilidade de múltiplas exposições ao fluoreto. · O consumo do salnão deve ser incentivado. · Necessidade de mais estudos para documentar a relação eficácia-segurança. Obs: · Contem geralmente 183.4 mgF/Kg sal. · Originou-se na Suíça após o sucesso do iodo no sal de cozinha para impedir o bócio. 1.3 Fluoreto no leite Vantagens: · É liberado em pequenas quantidades quando o alimento é consumido. · Liberdade de escolha. Desvantagens: · Difícil controle de dosagem (nível de ingestão/idade). · Possibilidade de múltiplas exposições ao fluoreto. · É absorvido mais lentamente do que na água. · Necessidade de mais estudos para documentar a relação eficácia-segurança. Obs: · Visa segmentos populacionais de maior risco de cáries e desnutrição, especialmente em escolas. · Sucos de fruta fluoretados são uma alternativa. 2. MÉTODOS AUTOAPLICÁVEIS PARA LIBERAÇÃO DE FLUORETO 2.1 Dentifrício fluoretado Vantagens: · Motivação cosmética de limpeza. · Liberdade de escolha. · Possibilita a manutenção de níveis elevados de flúor durante o dia com pequenas aplicações frequentes. · A concentraçao F- na boca se mantém alta por até 2 hs. Desvantagens: · Fácil ingestão acidental. Obs: · Método mais usado para aplicação de fluoreto no mundo, a partir de 1955 nos EUA (0.4% fluoreto de estanho). Hoje: monofluorfosfato de sódio ou fluoreto de sódio. · Nível de flúor no dentifrício: Brasil: restrito a 1500 ppmF; EUA: restrito a 1000 ppmF; Europa: restrito a 1500 ppmF. Cuidados no uso de dentifrício fluoretado para crianças: · Pequenas quantidades (tamanho de um arroz até 3 anos, depois tamanho de uma ervilha). · Encorajar a criança a cuspir a maior quantidade possível do resíduo de pasta dental que fica na boca. · A deglutição de pasta fluoretada aumenta o consumo geral de fluoreto, aumentando o risco de fluorose nas populações que vivem em áreas com fluoreto na água potável, ou que usam outras formas. 2.2 Fluoreto em tabletes Vantagens: · Os tabletes para mastigação mantem níveis de fluoreto nos fluidos bucais, que ajudam na prevenção da cárie. · Liberdade de escolha. Desvantagens: · Não são adequados para os programas de saúde. Atualmente possuem recomendação limitada mesmo para o uso individual. · A dosagem prescrita deve ser relacionada ao peso corporal. Obs: · Existem tabletes ou comprimidos de fluoreto de sódio para deglutição e mastigação. · Lembrando: Dosagem recomendada: 0.1 mgF/Kg peso corporal/dia Dosagem tóxica: 5 mgF/Kg peso corporal/dia Dosagem letal: 32 a 64 mgF/Kg peso corporal/dia 2.3 Bochechos com fluoreto Vantagens: · Excelente perfil risco-benefício se usados corretamente. · Garante máxima exposição tópica com pouca ingestão. · Liberdade de escolha. Desvantagens: · Não recomendados para menores de 7 anos. · Pode conter níveis elevados de álcool. Obs: · Bochecho diário a 0.05% NaF (227 ppmF) ou bochecho semanal a 0.2% NaF (909 ppmF). · Bochechar 10 ml de solução por um minuto. · Mínimo de 25 bochechos semanais por ano. 2.4 Fluoreto em gel para auto aplicação · Disponível em alguns países para auto aplicação. · Variedade de níveis de fluoreto de 5000 ppmF. · A tampa tem diâmetro menor para tentar garantir pouco produto aplicado. · Surgiu por questão da erosão dentária, mas ainda não há estudos que comprovem a sua eficácia. · Tb há estudos visando o controle da cárie radicular, tb ainda sem comprovação científica. · Foi uma grande discussão nos EUA, pois com 5000 ppmF já se torna um método de uso profissional. · A viscosidade favorece o uso em moldeiras. 3. USO PROFISSIONAL DOS MÉTODOS DE LIBERAÇÃO DE FLUORETO 3.1 Fluoreto em gel para aplicação em consultório odontológico · Concentrações maiores que os de uso caseiro (5000-12300 ppmF). - Flúor fosfato acidulado em gel: Produto com pH ácido- desmineraliza os dentes- liberação de íons cálcio- para reação com fluoreto- e formação de fluoreto de cálcio (CaF2). · Para ajudar a impedir a ingestão: · Paciente sentado em posição ereta. · Não mais que 2.5 ml de produto na moldeira de aplicação. · Uso de sugadores durante e depois da aplicação. · Remover o excesso de gel com gaze. · O paciente deve ser encorajado a cuspir completamente. 3.2 Vernizes com fluoreto · Usados para liberar fluoreto em superfícies com risco específico. · Contém altos níveis de fluoreto de sódio. · Resulta na formação local de fluoreto de cálcio, agindo como um reservatório para liberação lenta, quantidade máxima de liberação: após 24 hs. · Aplicação: 1 vez por semana por 4 semanas. Aplicados em intervalos de três ou seis meses. · Duraphat: 5% de NaF (22600 ppmF) em suspensão alcoólica com sistema resinoso. Toma presa em contato com a saliva. 3.3 Dispositivos de liberação lenta de fluoreto para prevenção da cárie · São materiais que devem manter um nível constante de liberação de fluoreto e devem estar retidos no dente sem se soltar ou causar danos aos tecidos moles. · Agem como reservatório, absorvendo fluoreto de outras fontes como os dentifrícios e liberando-o lentamente à medida que seus níveis caem na cavidade bucal. · Ajudam a impedir a cárie secundária e a preveni-la nas adjacências. · Exemplos: · Tabletes bioadesivos. · Selantes. · Compósitos. · Cimentos de ionômero de vidro. · Mat. de colagem de braquetes ortodônticos. · Técnica: · A técnica envolve a colagem (com o auxílio de um compósito adesivo) de um pequeno dispositivo contendo fluoreto à coroa de um dente. · Geralmente na face vestibular de um molar superior. · Após sua fixação, o dispositivo libera lentamente o fluoreto no ambiente bucal pelo período de um ano. · Mantém uma concentração elevada de fluoreto na saliva, que ajuda a aumentar a concentração do mesmo no biofilme, auxiliando na remineralização durante os ataques ácidos mediados pelo açúcar à superfície do esmalte. · Como é uma técnica nova, necessita de mais estudos antes de recomendá-la. (Assim como as microesferas degradáveis). .
Compartilhar