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Paula Cássia e Mariana Tardelli - @resumex.odonto Uso de Fluoretos em Odontopediatria Flúor O flúor é o elemento mais eletronegativo da tabela periódica, reagem com tudo que está ao seu redor Flúor + cálcio = fluoreto de cálcio (é o mais importante e famoso para nós, pois é ele que permite a remineralização do esmalte) - permitiu o declínio mundial na prevalência e incidência da doença cárie - principais: fluoretação das águas, políticas públicas de saúde bucal - anos 70: fluoretação da água de abastecimento público obrigatório - anos 90: incorporação de fluoretos em dentifrícios Ingestão: - sistêmico ou tópico que é deglutido - uma parte permanece na saliva Absorção, distribuição e excreção: - tem uso tópico e sistêmico Absorção: via gastro-intestinal Distribuição: vai para o plasma, e a concentração máxima é atingida em 30-45 minutos - atinge vários tecidos, como dentes, ossos e tecidos moles - volta através das glândulas salivares, e fica armazenado no biofilme dental (3-10 ppm) e na saliva (0,02 ppm) Excreção: após 24hrs Se o flúor se acumula em maior concentração no biofilme é correto fazer profilaxia antes? Não, pois além de reserva do flúor também é reserva de microorganismos patogênicos, pois é a causa da doença cárie. Devemos ensinar o paciente a remover o biofilme mecanicamente Mecanismo de ação dos fluoretos Sistêmico: - fluorapatita Tópico: - fluoreto de cálcio Hidroxiapatita X Fluorapatita pH crítico da Hidroxiapatita: 5,5 pH crítico da Fluorapatita: 4,5 - é melhor ter o esmalte formado com a incorporação de Fluorapatita, pois precisa de um pH mais baixo para desmineralizar Hidroxiapatita: cálcio, fosfato e hidroxila (não tem flúor) Ca10(PO4)6OH2 Fluorapatita: cálcio, fosfato e 2 íons flúor (38.000 ppmF) Ca10(PO4)6F2 *porém é incorporado em apenas 10 a 20% do esmalte dentário humano (se ingerir fluoreto durante a formação do esmalte) Na presença de fluoreto durante a mineralização dental é formado a Apatita fluoretada! Paula Cássia e Mariana Tardelli - @resumex.odonto Apatita fluoretada: cálcio, fosfato, hidroxila e flúor (apenas uma hidroxila é substituída pelo íon flúor – formando OHF) Ca10(PO4)6OHF - não é a mesma coisa que a fluorapatita ATENÇÃO! Isso derruba a teoria de ingestão de fluoreto pelo período de mineralização do esmalte, pois o pH crítico de desmineralização da apatita fluoretada é muito próximo ao da Hidroxiapatita Alguns suplementos vitamínicos para gestantes têm flúor (com a ideia do benefício) porém não é o que ocorre, pois quando o bebê nasce há poucas estruturas dentárias mineralizadas USO DE SUPLEMENTOS PRÉ-NATAIS É CONTRAIINDICADO NA GESTAÇÃO! Há teorias que falam que não ultrapassa a barreira placentária e mesmo que passe não há benefícios A ação do flúor para prevenção da doença cárie se dá pelo mecanismo de ação Tópico! Dinâmica da cárie dentária DESmineralização x REmineralização - ocorre em todos, quando desequilibrado há a doença cárie dental Saliva saturada: biofilme dental ecológico, condição de saúde bucal Saliva ácida: sai da condição de equilíbrio, o dente passa a perder minerais na tentativa de equilibrar a solução da saliva - se for constante há o início da doença cárie, desde a mancha branca até a cavitação Formação da camada de Fluoreto de cálcio - CaF2 Na presença de Fluoreto, ele se liga ao Ca++, formando a camada de Fluoreto de cálcio, que é uma proteção adicional a perda mineral, quando o pH caí, perde primeiro essa camada ao invés dos minerais do dente Formação da camada de Fosfato de cálcio - Ca(PO4)2 Camada de fosfato de cálcio com proteínas salivares e até biofilme – se forma sobre a camada de Fluoreto de cálcio Diante de uma queda de pH, antes que o dente perca seus minerais e sofra desmineralização, perde primeiro as camadas adicionais, e só depois perda os minerais do dente se continuar em queda de pH, na remineralização pode haver a reincorporação do flúor no dente formando a apatita fluoretada. Atenção! As camadas uma vez perdida só são repostas pela nova aplicação tópica de flúor, pela escovação com dentifrício fluoretado para reposição Não é necessária reaplicação tópica de flúor profissional a cada 6 meses, se a criança não tem fatores de risco para doença cárie, se faz bom controle do biofilme e escovação com dentifrício fluoretado em casa. Conceito atual: “Efeito pós-eruptivo e local – o efeito mais importante do fluoreto é a ação fisicoquímica local, reduzindo a desmineralização e favorecendo a remineralização do esmalte.” Toxicologia do fluoreto Toxicidade aguda: ingestão de grande quantidade de flúor de uma única vez - comeu um vidro de flúor gel no consultório Toxicidade crônica: ingestão de pequenas quantidades de flúor por um longo tempo - deglutição de dentifrício fluoretado Paula Cássia e Mariana Tardelli - @resumex.odonto Aguda - toxicidade aguda que leva a morte são raras, porém tem casos relatados de crianças menores de 3 anos - manter produtos fluoretados longe do alcance das crianças Dose provavelmente tóxica: 5mg F/Kg Dose certamente letal: 32 a 64 mg F/Kg Sinais e sintomas: - gastrointestinais: náusea, vômitos, diarreia e cólica - cardiovasculares: hipotensão, palidez, batimento irregular e falha do coração - neurológicos: depressão do SNC e coma - sanguíneos: hipocalcemia e hipomagnesemia * demora de 30 a 45 minutos para começar a apresentar sintomas * se a criança ingeriu muito levar ao médico para monitoramento hospitalar imediatamente Medidas após a intoxicação aguda < 5 mg F/kg: - cálcio via oral (leite) ou antiácido hidróxido de alumínio (Papsamar) - observação de 30 a 45 minutos * o fluoreto se liga ao cálcio ou ao alumínio e não se espalha pela corrente sanguínea > 5 mg F/kg: - indução de vomito (agua morna com sal) - hospitalização imediata Crônica A manifestação mais comum é a Fluorese dental Dose tóxica: 0,05 mg F/kg/dia Período crítico é até os 7 anos de idade - é comum crianças deglutirem parte do dentifrício, tanto pela idade quanto pela falta de coordenação motora Medidas para evitar a toxicidade crônica - dentifrícios com teor reduzido de flúor (500 ppm) * nada comprova a eficácia na prevenção de cárie - dentifrícios convencionais (no mínimo 1000 ppm) Recomendações da ADA (2014) e da American Academy of Pediatric Dentistry (2018) - uso de dentifrícios convencionais com restrição da QUANTIDADE de dentifrício 0 a 3 anos – 0,1 mg 3 a 6 anos – 0,25 mg (pea-size / grão de ervilha) - o ideal é mostrar para a mãe e ver ela fazendo - molhar a escova na tampinha da pasta de dente A partir dos 6 anos de idade – 0,36 mg (técnica transversal) Cuidados adicionais - sempre sob supervisão de um adulto - escovação após as refeições (na presença de alimentos no estômago reduz em 40% a absorção) - manter produtos fluoretados longe do alcance de crianças - rever outras fontes de ingestão de fluoretos (alimentos, bebidas, chicletes) Meios de utilização - coletivos - individuais - profissionais Paula Cássia e Mariana Tardelli - @resumex.odonto Individuais - dentifrícios (o melhor meio de administração) - enxaguatórios (0,05% - diário, ou 0,2% - semanal) Profissional Indicação - crianças com alto risco e alta atividade da doença cárie (lesões ativas) - quando o dente ainda não teve maturação pós- eruptiva - dentes recém-irrompidos (mais susceptibilidade à doença cárie) Gel: - baixo custo (7 reais), alto rendimento - acidulado - neutro Quanto mais concentrado e menor pH, maior fluoreto se forma (acidulado) - neutro é indicado para restaurações de porcelana, crianças pequenas, que deglutem muito Tixotrópia: para uso em moldeiras, ele mantém sua forma física, e apenas quandopressionado contra a superfície ele é fluidificado, para evitar a ingestão inadvertida pelas crianças Técnica – Gel - profilaxia - paciente em posição vertical (sentado) - pouco gel o mousse - isolamento relativo e sugador - aplicação por 1 – 4 minutos - fio dental (para entrar na área interdental) - expectoração para eliminar os possíveis resíduos * não pode colocar fluoretos em superfícies de vidro/metal, reduz a atividade do fluoreto pois ele reage com as superfícies Mousse - Fluor fosfato acidulado (FFA) 1,23% - custo maior (45 reais) - uso com moldeiras Verniz - NaF 5% (F 2,26%) *maior concentração de fluor - mais caro (30 a 200 reais) Indicação: - remineralização de manchas brancas - molares em erupção Vantagem – Verniz em doses unitárias - maior custo - menor risco de acidentes - menior controle de infecção Desvantagem - estética (é amarelo) * existe um que não tem cor, que não tem essa desvantagem * gotejar água para o verniz endurecer e pedir para a criança escovar os dentes apenas no outro dia (porque é caro, precisa ficar em contato o maior tempo possível) Diamino fluoreto de prata - é um cariostático e dessensibilizante (prata se deposita nos canalículos dentinários) - deixa uma coloração preta na cavidade (ponto de vista estético é questionável, mas é usado em algumas populações, em tempos de pandemia) - no Brasil é comercializado em várias concentrações, porém, apenas na concentração de 38% (Riva Star – 227 reais) é efetivo e é necessário 2 aplicações no ano Técnica - profilaxia - proteção dos tecidos adjacentes com vaselina - isolamento relativo e sugador - proteção do dente com tira de poliéster - aplicação de 1 min cada (primeiro o cinza, depois o verde) - lavagem * demora um tempo para ficar escurecido Alternativas de tratamento - devido a toxicidade dos fluoretos - fosfopeptídeo de caseína + fosfato de cálcio (CCP ACP) - a ideia é fornecer proteínas que são liberadas antes dos minerais - ainda são muito caros
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