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LIDERANÇA P ág in a2 Faculdade de Minas Sumário 1 – INTRODUÇÃO ........................................................................................... 4 2 - A IMPORTÂNCIA DA LIDERANÇA MÉDICA PARA O HOSPITAL ........ 5 3 - LIDERANÇA EM AMBIENTES CRÍTICOS ............................................. 8 3.1- Liderança como parte do processo de trabalho da enfermeira ............. 8 3.2- Liderança e sua importância no contexto do trabalho em unidades críticas .................................................................................................................... 9 4 - COMUNICAÇÃO, RH E RELAÇÕES INTERPESSOAIS ...................... 14 4.1 - Liderança e cuidado ........................................................................... 16 BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 20 FACUMINAS P ág in a3 Faculdade de Minas A história do Instituto Facuminas, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a Facuminas, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A Facuminas tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. P ág in a4 Faculdade de Minas 1 – INTRODUÇÃO A busca constante pelo aprimoramento do atendimento mostra que liderança será mais uma das funções médicas de relevância para os hospitais. Além dos desafios comuns da profissão, que exigem aplicação de todo o conhecimento de anatomia, fisiologia, farmacologia e patologia aprendidos na graduação, um médico precisa lidar com seu papel de autoridade em uma entidade de saúde. Um dos principais equívocos é acreditar que líderes são, efetivamente, natos. Mesmo CEOs, empresários e empreendedores precisam de treinamento, prática e aprendizado para conseguir conciliar as duas tarefas. O tema liderança em Saúde é, normalmente, deixado de lado frente à urgência dos demais assuntos, entretanto poderia ser, exatamente, o antídoto para a recorrência desses problemas que exigem resposta rápida, explicam especialistas. Por não ter uma visão integral do que ocorre no hospital, o médico não consegue apresentar soluções estratégicas que auxiliem a retirar a sobrecarga da assistência. “O líder antigo está acostumado com um modelo centrado na patologia, produtor de procedimentos e dependente de custos elevados”, afirma o médico Rubens Covello, vice-presidente do Colégio Brasileiro de Executivos da Saúde (Cbexs). Covello explica, ainda, que o novo líder é aquele que desconstrói os paradigmas que por muito tempo nortearam o funcionamento da Saúde, já que, agora, ele deve ter “a capacidade de sensibilizar a alta administração e engajá-la na gestão da qualidade”. Covello expõe alguns princípios excepcionais que devem nortear a postura do médico na hora de pensar além das suas funções cruciais e descobrir-se líder, como disposição para encarar novos desafios e ousar, apostando em novas tecnologias, incentivando o progresso, sabendo os momentos de arriscar com prudência e segurança; sensibilidade para tomar decisões corretas, de forma ética e transparente, entendendo, ao mesmo tempo, que nem todas as relações dentro de P ág in a5 Faculdade de Minas um hospital são baseadas em protocolos, processos e resultados e, por fim, compreensão do hospital e de sua cadeia de funcionamento como um todo, superando o ponto de vista individual. 2 - A IMPORTÂNCIA DA LIDERANÇA MÉDICA PARA O HOSPITAL O sistema de Saúde sofre, constantemente, com severas críticas. Demora no atendimento, longas filas de espera e falta de recursos para a obtenção de um atendimento de qualidade são algumas das reclamações. O médico, como líder, pode estimular a implantação de soluções de gestão integrada, como o ERP (Enterprise Resource Planning) e o PEP (Prontuário Eletrônico do Paciente), operando como uma espécie agente evangelizador da transformação do hospital convencional em Hospital Digital, por exemplo. Assim como em qualquer caso de liderança, a postura e a imagem do médico impactam diretamente em sua capacidade de influência e, dessa maneira, nos resultados esperados. Para motivar a equipe e conduzir a mudança, tanto estrutural quanto de mentalidade, o médico precisa “vestir a camisa” da liderança e seguir alguns princípios essenciais para lidar com as turbulências da Saúde. Rubens Covello lista alguns deles: Respeite os valores da instituição: o líder entende que, apesar de sua autonomia, é preciso manter-se de acordo com as regras e a cultura do hospital, valorizando e respeitando essas diretrizes. Sensibilize a alta administração: para promover a mudança, é preciso fazer com que seus superiores entendam a proposta e estejam de acordo com ela e que possam, assim, apoiar suas medidas, facilitando a disseminação pelos setores subsequentes. Envolva todas as camadas: é preciso que todos estejam envolvidos nessa mudança e estejam realmente por dentro de todas as transformações, contribuindo, cada um em seu setor, para o desenvolvimento em conjunto. P ág in a6 Faculdade de Minas Vá além da racionalização de processos: dedicar-se à esfera emocional é parte crucial dessa função de liderança médica, já que visa humanizar as relações, valorizando o papel de cada funcionário dentro do hospital. Seja condizente com a mudança: não adianta exigir dos outros se você mesmo não age de acordo com o que prega. Como líder, é preciso, mais do que nunca, ter uma postura que sirva de exemplo, aconselha Covello. Esteja atento e dedicado: para estreitar os laços e criar um envolvimento realmente genuíno, o médico precisa se empenhar em cultivar o engajamento. Lidere os líderes informais: existem diversos níveis de liderança dentro da estrutura de um hospital. Esses podem ser grandes aliados, fortalecendo o gerenciamento quando há uma equipe muito grande. Implemente soluções formais: há uma série delas, como, por exemplo, melhoria de infraestrutura, sistema de recompensa e treinamentos. Isso motiva a equipe, ampara o crescimento e leva a instituição mais longe. Implemente soluções informais: não menos importantes do que as soluções formais, essas ideias não precisam de burocracia, rigor e padrões para florescer. Criatividade e simplicidade também podem ser ferramentas para resolução de problemas. Monitore e analise resultados: acompanhar os dados, números e índices da instituição pode dizer muito sobre o rumo que ela está tomando. Estar atento a isso embasa, muito melhor, a tomada de decisões, finaliza Covello. De acordo com Chiavenato (2016) a liderança é “(...) igualmente essencial em todas as funções administrativas: planejamento, organização, direção e controle” CHIAVENATO, 2016, p. 275). Na função de direção da organização, ela se torna mais importante ainda. Contudo, é comum que as pessoas confundam direção com liderança. É preciso que se entenda a diferençaentre gestão e liderança, na medida em que um gestor nem sempre é um bom líder e um líder poderá ou não ser um bom gestor (OLIVEIRA, 2017). A liderança pode ser entendida como um fenômeno social que acontece unicamente em grupos sociais ou em organizações. Nesse sentido, a liderança é “(...) uma influência interpessoal exercida em uma dada situação para a consecução de um P ág in a7 Faculdade de Minas objetivo específico”. Através da liderança, um indivíduo contribui com, instiga e entusiasma uma equipe em direção a objetivos comuns (CHIAVENATO, 2016, p. 276). O tema liderança é extremamente pertinente, haja vista o cenário de incertezas que afeta a sociedade contemporânea e consequentemente as organizações hospitalares e os serviços de enfermagem no que diz respeito à sua administração, pois estas instituições, como as demais empresas, enfrentam instabilidades políticas, sociais, econômicas, como também tecnológicas, colocando as instituições hospitalares em crise, especialmente no Brasil. O enfermeiro(a) são profissionais que precisam organizar o trabalho de forma que cada integrante da equipe de enfermagem contribua com eficiência e competência no atendimento das pessoas que procuram o serviço, especialmente quando este serviço é de cuidados críticos, onde são comuns situações que exigem observações e decisões rápidas e seguras, cuidado frequente e prolongado, que envolve uma sequência de procedimentos invasivos e complexos, mediados pela tecnologia. Diante da complexidade do tema surgem as seguintes indagações: qual a importância da liderança da enfermagem em uma unidade de cuidados intensivos? Em que situações esta liderança se expressa? Que características a enfermeira deve ter para ser líder da equipe? Quão preparadas estão as futuras líderes da enfermagem de cuidados críticos? Para responder a estes questionamentos traçou-se como objetivo refletir sobre liderança da enfermagem em ambientes de cuidados críticos. Para melhor entendimento deste presente estudo, buscou-se nos meses de outubro e novembro de 2007 conhecer a percepção sobre liderança da enfermagem, de enfermeiras que atuam em unidades de tratamento intensivo adulto e neonatal, de professoras que ministram a disciplina Cuidado de Enfermagem ao Indivíduo Adulto em Condição Crítica de Saúde do Curso de Graduação em Enfermagem da P ág in a8 Faculdade de Minas Universidade Federal de Santa Catarina e de acadêmicas que atuaram nestas unidades no último estágio do referido curso. Dois eixos sustentam a reflexão, quais sejam a liderança como parte do processo de trabalho da enfermeira e a liderança no contexto do trabalho em unidades críticas. 3 - LIDERANÇA EM AMBIENTES CRÍTICOS 3.1- Liderança como parte do processo de trabalho da enfermeira No processo de trabalho a enfermeira desenvolve ações de cuidado, de gerenciamento, de pesquisa e educação, que possuem objetivos específicos, de acordo com cada processo particular, visando, de uma maneira geral, o bem-estar do ser humano. Reconhece-se que o cuidado do ser humano em sua complexidade tem sido apontado como objeto epistemológico da enfermagem, por diversos autores. O cuidado terapêutico é uma ação que se desenvolve e termina na e com a pessoa, carregado de valor (ético e estético), sendo um bem necessário às pessoas. E eis então que emerge um grande desafio: liderar a equipe no sentido de que este cuidado seja efetivamente terapêutico e executado com o compromisso de todos. Destaca-se que a formação da enfermeira privilegia o cuidado direto, a educação e o gerenciamento da assistência, no entanto, o mercado de trabalho espera que a enfermeira realize o controle burocrático da instituição. P ág in a9 Faculdade de Minas Há, portanto, um descompasso no fazer da enfermeira, que precisar ser discutido, visando encontrar alternativas que atendam o desenvolvimento desses papéis instituídos: cuidar, gerenciar, pesquisar e educar. No espaço assistencial, principalmente no hospitalar, é a enfermeira que articula diferentes serviços, realizando a coordenação do cuidado, desempenhando um papel silencioso no cotidiano de trabalho, visando garantir os insumos necessários ao cuidado. Assumir o cuidado significa ter responsabilidade de articular os diferentes profissionais, em um trabalho em equipe, interdisciplinar, horizontal, de colaboração, visando o sujeito do cuidado em sua integralidade bio-psico-social, com necessidades a serem atendidas, mas também com desejos, emoções, com objetividade e subjetividade. 3.2- Liderança e sua importância no contexto do trabalho em unidades críticas A liderança se torna uma tarefa cada vez mais árdua, em função da exigência de melhores resultados, da inovação e crescimento constantes, sendo uma ferramenta imprescindível no processo de trabalho da enfermeira. Um estudo fenomenológico com o intuito de explorar como os indivíduos experenciavam a liderança, apontou a importância da presença do líder no seu trabalho diário para prestar um cuidado de qualidade ao paciente, cujos participantes descreveram o distanciamento das líderes em enfermagem como um obstáculo ao crescimento da equipe e a melhoria do cuidado ao paciente. Dentre as várias definições de liderança concorda-se que a "liderança é um processo grupal, onde ocorre uma influência com a finalidade de alcançar uma meta; portanto, está ligada a um sentido de ação, um senso de movimento, passível de ser aprendida" e, neste sentido, a enfermeira deve estar preparada para um novo agir, desenvolvendo e amadurecendo um novo tipo de liderança, mudando o perfil de burocrata para coordenadora do cuidado, sendo motivadora e integrada às ações das pessoas e da equipe. P ág in a1 0 Faculdade de Minas Quando se discute a importância da liderança da enfermagem em ambientes de cuidados críticos, estas questões do líder como motivador do grupo estiveram presentes, tanto nos depoimentos das enfermeiras, como das professoras. Para tanto, liderar é saber conduzir, organizando o trabalho da equipe, visando um atendimento eficiente, pois o líder é o ponto de apoio para a equipe, quer na educação ou na coordenação do serviço, estimulando a equipe para desenvolver plenamente seu potencial, o que interferirá diretamente na qualidade da assistência. Evidenciou-se ainda a importância da enfermeira enquanto coordenadora da equipe, principalmente em situações críticas, que exigem a tomada de decisão rápida. A enfermeira é a articuladora, sendo reconhecida em função do seu saber, de sua competência, que influencia o seu fazer e o próprio reconhecimento e credibilidade da equipe. Tem um papel de destaque nas situações de urgência e emergência, que exigem escolhas rápidas, sendo assim, a importância da liderança para a enfermeira de uma UTI reside na utilização do conhecimento teórico, filosófico e científico que possibilita escolhas técnicas sustentadas pela ética e bioética. Neste contexto, ela utiliza uma abordagem multifacetada incorporando bases técnicas, emocionais, gerenciais, psicossociais, além de habilidades cognitivas e de liderança. Ao mesmo tempo é um trabalho fundamental porque concilia os resultados e as adversidades do cuidado ao paciente ao ambiente efetivo de prática. Considerando a UTI como um ambiente em que estão presentes: vida e morte; humanidade e tecnologia; objetivo e subjetivo; a liderança da enfermagem acaba transparecendo mais, principalmente frente ao risco iminente de morte. E, neste sentido, acredita-se que a utilização dos equipamentos de ponta, deve ser permeada pela escuta sensível, acolhimento, cuidado, olhar ao outro, superando o mito da UTI como local de morte. Para viabilizar a integralidade do cuidado há que se estabelecer mudanças no cotidiano das instituições de saúde, buscando-sea responsabilização no cuidado ao paciente, estabelecendo-se um vínculo e um cuidado que tenha como princípio as necessidades singulares dos sujeitos. O trabalho interdisciplinar depende do compartilhar saberes e poderes, sendo necessário flexibilizar as relações, convivendo de forma mais harmônica com as diferentes especialidades, entendendo a complementaridade do cuidado e P ág in a1 1 Faculdade de Minas garantindo-se a autonomia profissional. Desta forma, a liderança se manifesta em diferentes momentos, entre os quais, como afirma uma das acadêmicas: "Nas decisões junto à equipe interdisciplinar na condução clínica do paciente, através de planos de cuidados de enfermagem...". Portanto, as principais características e comportamentos de um líder na prática clínica envolvem dedicação, entusiasmo, otimismo, comportamento profissional, abertura a ideias, habilidades visionárias, habilidade para priorizar, focalizar os objetivos e comprometimento com a aprendizagem e a pesquisa. Outro fator que interfere na liderança da enfermeira é a comunicação, já que está na base das práticas de liderança, pois permite a essa "profissional o desempenho de suas ações através de inter-relações com o cliente, a instituição, a equipe médica e o pessoal de enfermagem, buscando a melhoria da qualidade da assistência prestada". A liderança e a comunicação se fazem necessárias, em função de diferentes conflitos que precisam ser administrados, quer internamente na equipe, quer com os demais profissionais. Este é um dos desafios colocados pelas profissionais e na própria literatura. Em uma unidade de cuidados críticos, em que o trabalho ocorre em um ambiente restrito, tenso e estressante, superar as diferenças e os conflitos é algo extremamente necessário. E é na equipe de enfermagem que se tem um espaço para construir novos laços e relações, em que compartilhar seja uma premissa, em que o respeito à diversidade esteja presente, em que a comunicação seja um instrumento e não um entrave, em que se construam relações mais harmônicas e democráticas, embora se reconheça que os são necessários para impulsionar mudanças e assim devem ser trabalhados. A liderança da enfermagem se expressa, portanto, em diferentes aspectos: nas situações críticas que envolvem a tomada de decisão, na resolução de conflitos; na articulação com outros profissionais visando a interdisciplinaridade; na comunicação e nas relações interpessoais com equipe de enfermagem, equipe de saúde e pacientes/famíliares. P ág in a1 2 Faculdade de Minas Por outro lado, a liderança está presente também no planejamento do cuidado, nos momentos de conflitos ético e bioéticos e de advogar em favor do paciente, na monitorização de indicadores de avaliação de desempenho e de qualidade na unidade, na supervisão dos cuidados, na interação com familiares e equipe multiprofissional, na administração da unidade, entre outros. E para dar conta de todas estas competências, alguns atributos são necessários e foram destacados pelas enfermeiras, professoras e acadêmicas: ser humanitário, saber reconhecer os limites do outro e as necessidades pessoais e profissionais, ser responsabilidade, ser ética, hábil e competente. Além disto é preciso ter um bom relacionamento com o grupo, ser uma pessoa neutra, ativa, que articule assistência e gerenciamento, estar disponível, ter capacidade de tomar decisões e saber trabalhar em equipe, ser segura, hábil, rápida e decidida quando necessário, ao mesmo tempo calma e tolerante quando apropriado. É importante também ser compreensiva, uma vez que a experiência em UTI é traumática para pacientes, familiares e o trabalho da equipe é desgastante por si só. Ser líder implica, ainda, ser um facilitador e regente da equipe, compreender claramente as competências e habilidades essenciais da profissão, distribuir poder. Estes atributos apontados também aparecem na literatura, dando credibilidade ao líder, principalmente no que concerne aos aspectos de comunicação, honestidade, integridade, determinação e responsabilidade. Para ser líder, em uma unidade de cuidados críticos, há que se ter conhecimento, ser agregador, utilizar-se da comunicação como uma ferramenta para o exercício da liderança, pautar-se na ética, respeitar o outro em sua individualidade, sendo humano e trabalhar as questões interpessoais, estimulando a equipe, motivando-a a um cuidado sensível e terapêutico. Ainda, o papel de líder em unidades críticas, exige clareza de pensamento sobre a natureza exata da contribuição da enfermagem nos ambientes de cuidados críticos. Requer avaliação da evidência estabelecida para apoiar esta prática de cuidado, requer a liderança na segurança do paciente. Por fim, exige a capacidade de crítica e, de objetivamente saber afirmá-la utilizando suas próprias habilidades de argumentação e impacto. P ág in a1 3 Faculdade de Minas Mas estas são características presentes apenas nos líderes das unidades críticas? O que difere a liderança da enfermagem em uma unidade de cuidados críticos das demais unidades? Entende-se que o exercício da liderança, bem como as características ressaltadas são pertinentes em qualquer ambiente de cuidados em saúde, especialmente porque a liderança não requer um tipo específico de personalidade ou um treinamento formal. Sobretudo, porque os líderes de sucesso frequentemente alcançam êxito nos seus objetivos por galgar passos pequenos e firmes, cuidadosos e eficientes, ponderados e assertivos, para influenciar outras pessoas a atingir um determinado objetivo e advogar em favor do paciente. As instituições de saúde no Brasil são compostas majoritariamente por hospitais privados. Segundo a Federação Brasileira de Hospitais (2010), o setor hospitalar brasileiro possui cerca de 7.543 instituições, sendo 2.745 hospitais públicos, 4.671 hospitais privados e 127 universitários. Constituindo-se como empresas, estas organizações objetivam lucros, ou seja, são instituições rígidas, com níveis hierárquicos bem definidos, organogramas, níveis decisórios etc. Estas organizações possuem os mesmos problemas de empresas com finalidades lucrativas, como satisfazer consumidores cada vez mais exigentes, gerenciar receitas, e tendo que se preocupar com os custos e as despesas cada vez mais altas em função da necessidade de investimentos em novas tecnologias. Diante de tantos avanços científicos e tecnológicos integrados no movimento de globalização em que o mundo todo está inserido, as empresas são levadas a acompanhar de forma paralela a tudo. Em decorrência deste processo os profissionais das mais diversas áreas de atuação são exigidos que se ingressem neste novo mercado de trabalho. Os trabalhos nesta nova visão de mundo estão inseridos outros valores do que apenas competência. São exigidos dos profissionais a honestidade, compromisso e principalmente a liderança. Portanto faz-se necessário que haja grupos de pessoas que deliberam e grupos que executam. E neste contexto a enfermagem corresponde ao um grande número de profissionais que desenvolvem o papel de deliberar as atividades e as obrigações dentro das organizações, constituindo então o papel de liderança em enfermagem. P ág in a1 4 Faculdade de Minas Segundo Knickerbocker (1979), para um grupo de pessoas se organizarem e agirem como uma unidade há a necessidade da coordenação das discussões e decisões, bem como os métodos a serem adotados. Ele considera que, para a efetividade de um plano de ação, é necessária a atuação de um indivíduo, e que à medida que aumenta a complexidade e volume das atividades dos grupos, aumenta também a necessidade de um líder. A liderança é retratada na literatura por diferentes definições, variando conforme a visão, mundo e formação do estudioso, por tanto este assunto é denatureza multidimensional com implicações de caráter social, histórico e político. De acordo com Kron (1978) a liderança é a capacidade que as pessoas têm de influenciar a mudança, não importando o quão insignificante seja. Na gestão em enfermagem o trabalhar com e através de colaboradores, que formam as equipe, constitui a parte integral da liderança em enfermagem. Apesar de várias mudanças ocorridas na gestão em enfermagem ao longo dos anos, a liderança ainda representa a principal ferramenta do enfermeiro para a construção de laços de confiança e trabalho em equipe. O trabalho do enfermeiro é caracterizado por uma série de atividades em diversas situações, que inclui a coordenação da assistência prestada pelos colaboradores que apresenta diferenças individuais. Os líderes eficazes adequam seu estilo de liderança as necessidades dos liderados e a situação. 4 - COMUNICAÇÃO, RH E RELAÇÕES INTERPESSOAIS Quando se discute sobre gerência em enfermagem e seu processo de trabalho, torna-se imprescindível abordar alguns aspectos que envolvem o mesmo, como o dimensionamento de pessoal, comunicação intra e entre setores e relacionamentos. Isto se deve ao fato de que a enfermagem em sua totalidade de trabalho é de estar e cuidar de pessoas. Segundo Santos & Silva (2003), foi realizada uma pesquisa em que os gestores passam cerca de 80% do seu dia de trabalho em comunicação direta com pessoas, representado em reuniões, conversas pessoais e ao telefone. E os outros 20% do tempo são gastos em trabalhos escritos. P ág in a1 5 Faculdade de Minas Desta forma observa-se que em uma organização, principalmente as hospitalares a comunicação e relacionamento se torna essencial para o exercício das funções. No entanto o que acontece no cotidiano de trabalho da enfermagem devido à grande demanda de pacientes e de tarefas, faz com que esta interação profissional/profissional, profissional/paciente/família, fique extremamente dificultada. De acordo com Magalhães et al., (2009), em um estudo nacional foi constatado que os trabalhadores de enfermagem apresentam absenteísmo relacionados às doenças provenientes do cansaço físico e mental, más condições de trabalho, jornada de trabalho exaustiva e realização de tarefas em ritmo acelerado. Assim, verifica-se que há uma necessidade de mudanças nas ações, buscando reavaliações tanto na parte assistencial quanto na gestão de pessoas. E para isso o dimensionamento de pessoas e a relação entre profissionais e gestores se tornam ferramentas indispensáveis para a condução do processo de trabalho e a segurança do paciente. Os enfermeiros reprovam em sua maioria alguns aspectos no processo de comunicação entre eles e seus superiores, seja por problemas de comunicação com outros setores, não acolhimento das opiniões, reconhecimento do trabalho e também ausência de elogios. E é desta forma que todo o trabalho fica totalmente desordenado, desmotivado, desqualificado etc. São sábias as palavras de Chiavenato (1999), quando diz “o ouvir é a mais importante, a mais difícil e negligenciada das habilidades na comunicação. Ela requer que nos concentremos nos significados, nas palavras não ditas e nas expressões das pessoas. Atitude que ajudará o líder a compreender melhor a situação.” Portanto afirma-se que no atual cenário em que a enfermagem está inserida, destaca-se a importância das lideranças em buscar soluções e novos modelos de gestão que respondam às dificuldades de alocação de recursos humanos, tecnológicos e financeiros. Ou seja, precisa-se de enfermeiros que estejam comprometidos com o processo de gestão e que tenham qualidades como à criatividade, emoção, inovação, iniciativa e a capacidade de se relacionar. O P ág in a1 6 Faculdade de Minas profissional que desenvolve sua competência interpessoal possui maior capacidade em lidar com as situações de conflito, em potencializar talentos e gerir trabalho em um clima de confiança e satisfação. No estudo de Amestoy et al., (2009), citam um modelo de liderança denominada “liderança integrativa”. De acordo com este modelo, o líder tem que se afastar de sua postura diretiva para poder reconhecer as potencialidades de cada membro de sua equipe, estimulando a co responsabilidade e autonomia profissional dos mesmos. Assim o enfermeiro líder terá consciência de que exerce influência e é influenciado pelos seus colaboradores. Utilizando de relações dialógicas e reflexivas que fortificarão o processo mútuo e permanente de ensinar e aprender, através de relações interpessoais. No entanto, o desenvolvimento de habilidades no campo das relações humanas, que é um aspecto muito presente na atualidade, é pouco explorado no cotidiano do gestor de enfermagem. E espera-se seja uma meta para aqueles que pretendem obter uma atuação mais competente e assertiva como gestor de enfermagem. Pois esta habilidade está sendo procurada por muitas instituições hospitalares, por ser considerado um diferencial. 4.1 - Liderança e cuidado Com a evolução dos conceitos sobre saúde e o cuidado, que passaram a serem definidos por aspectos mais amplos como a visão holística do paciente, e na aproximação com o outro e o mundo. A visão administrativa e consequentemente a liderança em enfermagem, também passaram a ser questionados e analisados sobre uma nova ótica. Visto que o cuidar é a essência da enfermagem. Dentro da pesquisa feita sobre a liderança, os autores defendem que a atuação do enfermeiro líder na atualidade deve consistir no resgate constante do cuidado, não somente com os pacientes, mas também com sua equipe de trabalho. Ou seja, sustentando a ideia de que só é possível exercer a liderança através do cuidado pelo próprio cuidado com os membros da equipe que o enfermeiro lidera. P ág in a1 7 Faculdade de Minas E para alcançar tais objetivos, o profissional não precisa possuir as características de um líder, pode-se através do autoconhecimento e vivência de situações de comando, passar a desenvolver-se na liderança. Ao contrário de muitas literaturas e pré-conceitos que afirmam que a habilidade de liderança depende de características pessoais natas, de possuir um dom. O desenvolvimento das habilidades de um líder ocorre na medida em que o profissional se deixa permitir o amadurecimento de novas ideias, evidenciando sempre o aprendizado. De acordo com Lourenço e Trevizan (2002), através de uma pesquisa feita para análise de estilos de enfermeiros-líderes de um hospital filantrópico de São José do Rio Preto, constata-se que os enfermeiros por insegurança ou até por falta de referenciais sobre gestão e liderança de equipe, passam a assumir seu “jeito próprio” de coordenar, que, no entanto o método adotado desconsidera totalmente o ambiente, a situação e o papel ativo do liderado no processo, e dá alta ênfase nas atividades/tarefas. Segundo Kim, uma personagem da obra de James C. Hunter “O monge e o executivo - uma história sobre a essência da liderança”, explica que quando o profissional se concentra apenas nas tarefas, subestimando o relacionamento entre os membros da equipe, faz com que haja um descontentamento e falta de motivação geral no grupo. É por este motivo que existe na enfermagem um alto índice de rotatividade. A falta de sintonia e comunicação entre os profissionais da equipe de enfermagem, além de prejudicar a assistência, faz com que o ambiente de trabalho fique totalmente desagradável e com pouca produtividade. Sendo assim, almejar um melhor desempenho dos enfermeiros como líderes de equipes de enfermagem, necessita-se que haja mudanças de comportamentos, ideias, conceitos, buscando sempre novos conhecimentos e habilidades, sejam elas pessoais, interpessoais e organizacionais. P ág in a1 8 Faculdade de Minas Em relação ao exercíciode liderança em enfermagem, destaca-se a liderança integrativa como modelo, pois facilita a formação de relações interpessoais saudáveis, além de estimular a co-responsabilização, a socialização dos saberes e a autonomia profissional de toda a equipe. Diante as grandes dificuldades que os enfermeiros encontram no que tange a liderança em enfermagem, pode-se ilustrar a existência de lacunas no processo de ensino-aprendizado da liderança durante a graduação, lacunas estas evidenciadas pelo pouco tempo demandado ao ensino de tal competência e distanciamento dos docentes da prática assistencial. Os enfermeiros estão pouco instrumentalizados para exercer a liderança enquanto competência profissional, reforçando assim a responsabilidade das instituições de ensino superior e hospitalares o desenvolvimento permanente de enfermeiros líderes, disponibilizando para o mercado de trabalho profissionais capacitados. O enfermeiro-líder deverá conhecer e desenvolver habilidades, a fim de construir um conhecimento em grupo visando estabelecer uma liderança responsável e ética, onde a busca contínua do conhecimento, a confiança e a fluidez prevaleçam para alcançar uma maior qualidade da assistência. Os fatores que envolvem o processo de trabalho da enfermagem vão além das dimensões técnicas ou explícita do cuidado ao paciente, devendo ser analisado e medido o desgaste físico e psicológico dos profissionais da saúde. Destaca-se ainda a fundamental importância das lideranças de enfermagem na busca de soluções e novos modelos de gestão que respondam ás dificuldades de alocação de recursos humanos, tecnológicos e financeiro visando a satisfazer as necessidades da organização. P ág in a1 9 Faculdade de Minas Conclui-se que a enfermagem deve desenvolver uma liderança dialógica e libertadora, gerenciando o cuidar em enfermagem, mediante um processo educativo e contínuo visando o incentivo e a orientação dos liderados na execução de suas atividades. E, possivelmente, a principal diferença da liderança em uma unidade de cuidados críticos seja o desafio em integrar o cuidado complexo de pacientes graves e de risco a um ambiente seguro, harmônico e científico alicerçado não apenas na objetividade, mas também na subjetividade, na qual o sujeito do cuidado esteja no centro das atenções, no sentido de manutenção da vida e também como uma pessoa que tem medos, sensações, emoções e seja compreendido como integral único e indivisível, um sujeito cidadão. Acredita-se que a liderança vai se constituindo ao longo da trajetória do profissional e deve estar a serviço da mudança efetiva, alicerçada na justiça, na liberdade, na busca da autonomia, na responsabilidade, que pode "elevar os trabalhadores de enfermagem à condição de construtores de seu tempo, sua história e sua vida". P ág in a2 0 Faculdade de Minas BIBLIOGRAFIA Amestoy SC, Cestari ME, Thofehrn MB, Milbrath VM, Trindade LL, Backes VMS,. Processo de formação de enfermeiros líderes. 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