Prévia do material em texto
3 ENFERMAGEM CLÍNICO-CIRÚRGICA 4 Sumário Unidade 1: O Papel do Enfermeiro no Processo de Cuidar Sistematizado e Humanizado em Enfermagem no Âmbito Hospitalar ............................................. 5 Seção 1.1: Atribuições do enfermeiro ......................................................................... 6 Seção 1.2: O paciente hospitalizado ......................................................................... 17 Seção 1.3: Considerações ........................................................................................ 21 Unidade 2: Humanização na Assistência Hospitalar ........................................... 23 Seção 2.1: Conceito de humanização ....................................................................... 23 Seção 2.2: A humanização como processo gradual de construção .......................... 25 Seção 2.3: A humanização e o cuidado de enfermagem .......................................... 28 Unidade 3: Um Marco Conceitual da Clínica do Cuidado de Enfermagem na Terapia Intensiva ..................................................................................................... 33 Seção 3.1: Introdução ............................................................................................... 33 Seção 3.2: Enfermagem - ciência e arte ................................................................... 36 Seção 3.3: Ambiente ................................................................................................. 38 Seção 3.4: Ser humano ............................................................................................. 40 Seção 3.5: Saúde ...................................................................................................... 41 Seção 3.6: Considerações e discussões ................................................................... 42 Unidade 4: O Enfermeiro no Gerenciamento do Centro Cirúrgico ..................... 47 Seção 4.1: Introdução ............................................................................................... 47 Seção 4.2: Enfermagem da gerência à assistência .................................................. 48 Seção 4.3: Gerência do enfermeiro no centro cirúrgico ............................................ 50 Seção 4.4: Cotidiano da enfermagem no centro cirúrgico ......................................... 52 Referências .............................................................................................................. 55 5 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 6 Unidade 1: O Papel do Enfermeiro no Processo de Cuidar Sistematizado e Humanizado em Enfermagem no Âmbito Hospitalar Seção 1.1: Atribuições do enfermeiro De acordo com Barreira (1999) perpassar por alguns aspectos históricos para a compreensão da evolução da Enfermagem, contudo de seu ensino no Brasil é de suma importância uma vez que a erudição histórica permite a construção de uma memória possibilitadora de tomadas de consciência daquilo somos de fato, enquanto resultado histórico, o desenvolvimento da auto estima coletiva, e a tarefa de (re) construção da identidade profissional. A educação e saúde no Brasil dividem-se em dois pressupostos, sendo o primeiro relacionado às medidas preventivas e curativas com a finalidade a obtenção da saúde e o enfrentamento das doenças, enquanto que o segundo refere-se às estratégias da promoção da saúde com o objetivo de apoiar a construção social da saúde e do bem estar. O pressuposto das estratégias preventivas e curativas de enfrentar a doença e de obter saúde é coerente com os princípios que regem as atuais culturas e sociedades, pois são baseadas na produção incessante e sempre renovada de variados serviços que se fundamentam na tecnologia e na ciência oferecidos para o consumo das pessoas (GUEDES; SILVA; FREITAS, 2004). A partir dos estudos de Silva (2008) ao colocar que a Enfermagem no Brasil teve seu processo de profissionalização por volta do final do século XIX constata-se que desde sua origem esteve marcada pela superação de obstáculos para se tornar respeitada e reconhecida. Seus executores ainda continuam empenhados para melhorar o status da profissão e adquirir o respeito e reconhecimentos merecidos. Atualmente, a Legislação de Enfermagem reconhece de um modo geral três classes de profissionais de Enfermagem: o auxiliar de Enfermagem, o técnico de Enfermagem e o enfermeiro, sendo que suas missões e ações são estabelecidas pela Lei 7.498 de julho de 1986. Geovanini et al. (2005), com relação à profissionalização da Enfermagem, destaca que um aspecto primordial a ser analisado é o desenvolvimento da Educação para seu exercício. No Brasil, este desenvolvimento aconteceu em cidades com mercado mais desenvolvido como São Paulo e Rio de janeiro, devido ao 7 desenvolvimento industrial que nessas cidades se intensificou resultando em acelerado crescimento urbano. A saúde então passou a constituir uma questão delicada sob os aspectos econômicos e sociais devido às doenças infecto- contagiosas conduzidas pelos europeus e escravos africanos atingindo grandes proporções nos principais eixos urbanos. Nesse sentido Silva (2008) ressalta que devido a essa problemática, o governo brasileiro assume a assistência à saúde visando proteger a expansão comercial brasileira ainda que sob pressões externas. Entre outras ações, há a criação de serviços públicos, a vigilância e o controle mais efetivo sobre os portos e, instalam-se então o Serviço de Profilaxia da Febre Amarela e o Instituto Soroterápico Federal, que viria a se transformar posteriormente no Instituto Oswaldo Cruz. Segundo Faria (1995) baseado em Polignano analisa-se que em uma experiência de reorganizar os serviços de saúde, em 1920 com a Reforma Carlos Chagas, tem origem o Departamento Nacional de Saúde Pública normalizando as atividades de Saúde Pública no Brasil. Visando a princípio atender os hospitais civis e militares, posteriormente investiu-se na formação do pessoal de Enfermagem, quando da criação pelo governo da Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras na cidade do Rio de Janeiro, ligado ao Hospital Nacional de Alienados do Ministério dos Negócios do Interior. Neste contexto Geovanini et al. (2005) traz que esta é a primeira escola de Enfermagem no Brasil, edificada pelo Decreto Federal 791 de 27 de Setembro de 1890, hoje conhecida por Escola de Enfermagem Alfredo Pinto e pertencente à Universidade do Rio de Janeiro/UNIRIO. Porém, mesmo com necessidade urgente de pessoal para atuar na saúde pública, constata-se que a formação era em grande parte, desenvolvida à área hospitalar com o desenvolvimento de longos estágios em hospitais. No Brasil colonial a figura masculina é citada enquanto executorada Enfermagem doméstica e empírica, uma vez cabia aos escravos a atividade de cuidar, inclusive nas Santas Casas de Misericórdia, fundadas nas principais capitais brasileiras a partir de 1543 (GEOVANINI et al, 2005). Por conseguinte, a necessidade de pessoas devidamente treinadas e capazes foi o que propiciou a criação de cursos de Enfermagem como no caso do Hospício Nacional de Alienados, já que neste faltavam enfermeiros para cuidar dos enfermos, das vitimas da guerra e outras. 8 A história então deixa claro tratar-se de um equivoco o fato de que o profissional Enfermeiro surgiu no Brasil para atender as necessidades de saúde pública (MOREIRA, 2005). No bojo desta reflexão é que Geovanini et al. (2005) ressalta que mais tarde, a escola de Enfermagem Anna Nery, criada em 1923, que redimensionava a Enfermagem profissional no Brasil foi uma iniciativa do Departamento Nacional de Saúde Pública, dirigido por Carlos Chagas que contou com o apoio do governo americano o qual enviou enfermeiras para ajudar nesta iniciativa, baseada no modelo nightingaleano. Os estudos de Geovanini (2005) e seus colaboradores mostram também que Florence Nightingale (1820-1910) foi um verdadeiro rito de iniciação para o surgimento da profissão em escala mundial. De fato, sua influência pessoal e a força de sua personalidade causaram um impacto duradouro em muitas regiões da Europa ocidental. Entretanto, os artefatos básicos do profissionalismo receberam o incentivo, sobretudo, das freqüentes relações e associações entre propagadoras dos novos preceitos e das práticas do cuidar. Silva (2008) fortalece que o apoio de uma política interessada em promover o desenvolvimento desta profissão mesmo que com interesses particulares e a característica de seleção da então escola que selecionava moças de origem social elevadas, com um maior grau de escolaridade colaborou para que esta fosse reconhecida como padrão de referência para as demais escolas, sendo que na Escola de Enfermagem Ana Nery as alunas eram preparadas para a efetuação de serviços com complexidade intelectual, a partir da formação destas alunas que pessoalizava a verdadeira enfermeira brasileira eram assim consideradas padrão. Ser enfermeira subtendia ser formada pela escola Anna Nery. Desde então, todas as demais escolas deveriam inserir os padrões da escola Anna Nery como ficava estabelecido pelo decreto 20.109 de 15/06/31, ou seja, com conceitos provindos do modelo nightingaleano. Reconhecendo a responsabilidade com a problemática educacional, cultural e da saúde da população tem-se a instalação do Ministério da Educação e Saúde em 1931, ano em que se criam as normas legais para o ensino e exercício da Enfermagem. Em 1973, ocorre à criação do Conselho Federal de Enfermagem, órgão disciplinador do exercício profissional. 9 Exigindo que a educação em Enfermagem fosse concentrada em centros universitários, o Projeto de lei 775 também controlou a expansão das escolas havendo assim na década de 40, a agregação da Escola Anna Nery à Universidade do Brasil em 1949. Em 1961, a partir da Lei 2.995/56 todas as escolas passaram a exigir curso secundário completo e no ano seguinte a Enfermagem passou a ensino de nível superior. (GEOVANINI et al. 2005) A Associação Nacional de Enfermeiras Diplomadas Brasileiras (ABEn) cria em 1979, o Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem (CEPEN) visando promover pesquisa em Enfermagem, conseqüência de um aumento contínuo da produção cientifica em Enfermagem devido ao incremento dos cursos de pós-graduação. De um lado enfermeiros se especializam e de outro há a multiplicação de novos ocupacionais promovendo o processo de proletarização da Enfermagem. Dentre alguns avanços para a Enfermagem na década de 80 observa-se à criação da Lei 7.498, em julho de 1986, que eliminava a anterior já defasada (2.604 de 1955). Ainda, quanto à trajetória da profissionalização é possível constatar o empenho desta categoria para adquirir o reconhecimento e o respeito, pois a falta destes na realidade é motivo de descontentamento e desmotivação pessoal. Neste contexto, Santos e Luchesi (2009) em estudo sobre a imagem da Enfermagem frente aos estereótipos, afirmam que ainda hoje, muitas pessoas desconhecem o que é a Enfermagem e muitos envolvidos com a profissão também ignoram seu próprio papel e os objetivos de suas ações. De fato ser reconhecida, valorizada e ter o fazer como algo importante traz um alento para o dia-a-dia do trabalho na Enfermagem, porém as mudanças de pensamento quanto a essa profissão têm que nascer primeiro na consciência da própria categoria (SANTOS e LUCHESI, 2009) Apesar dos constantes esforços para o estabelecimento de uma prática baseada na Atenção Primária em Saúde, o hospital permanece como o local onde a maioria dos enfermeiros trabalha e desenvolve suas habilidades profissionais. Para melhor compreender a prática no presente, faz-se necessário analisar o papel dessa instituição na nossa formação e exercício profissional. O hospital como cenário terapêutico é fato relativamente recente. No passado ele estava destinado a propiciar não a cura, mas a salvação de quem estava morrendo (PITTA, 1991). 10 Esta concepção ideológica sobre o hospital, isto é, local onde se vai para morrer, persiste na atualidade em qualquer cenário onde a enfermeira atua. Reforça- se assim o caráter caritativo do trabalho da enfermeira que, organizado pelas regras do modo de produção capitalista, traduz-se por uma prática ambígüa entre a mítica religiosa e as normas do mercado (BARROS; SILVA, 1990; MOURÃO, 1993). Para esta concepção ideológica de hospital, a tecnologia dominante, ou seja, os instrumentos, a experiência, os hábitos que caracterizam a força de produção, constitui-se fundamentalmente das técnicas do poder disciplinar, das técnicas gerenciais e tayloristas, em detrimento das técnicas terapêuticas, das técnicas de diagnóstico, prescrição e avaliação do resultado de enfermagem - formadas pelos ritos e saberes instrumentalizados a partir de uma relação artesanal enfermeira-cliente. As práticas utilizadas estão estruturadas sobre relações de produção que desconsideram os conhecimentos sobre a clientela, dificultando assim nosso atendimento às necessidades socialmente postas, a saber: o diagnóstico e tratamento das respostas do cliente, da família e da comunidade aos problemas de saúde ou processos vitais. A avaliação oposta ao modelo taylorista de produção, é o modo de produção artesanal no qual a enfermeira é o agente de seu diagnóstico e cuidado, sem a intermediação de uma categoria profissional na relação enfermeira-cliente e com uma relação de cooperação entre os membros de uma mesma categoria. Com base no que discute-se sobre a natureza do trabalho do enfermeiro, considera-se que as atividades administrativas e de supervisão da equipe auxiliar constituem o método de trabalho cotidiano do enfermeiro (taylorismo), alienando-a de sua função primordial que é diagnosticar e tratar as respostas de seus clientes aos problemas de saúde ou processos vitais. As determinantes principais do método de trabalho alienado que agem dinâmica e eficientemente entre si e com outras estariam na formação da enfermeira, nas formas de organização deste trabalho e na falta de consenso sobre as atividades básicas da profissão. A formação do enfermeiro, por uma análise do currículo, livros textos e experiências de aprendizagem, está firmemente alicerçada no conhecimento e modelo biomédicos. Preparado para implementar a assistência médica, tem na organização de seu trabalho a valorização das atividades gerenciais, em detrimento do cuidado direto. 11 A legislação profissional, por sua vez, não define as atividades da prática e só prevê a prescrição para clientes graves, sem contudo determinar sobre qual diagnóstico eladeve ser feita. Segundo Cruz (1994) a forte combinação destas categorias delineiam o taylorismo, enquanto método de trabalho do enfermeiro. Paradoxalmente, mesmo com um método de trabalho alienado, o enfermeiro é capaz de se aproximar de seu cliente e diagnosticar, prescrever e avaliar sua resposta ao problema de saúde, ainda que precária ou eventualmente. A execução das atividades básicas do enfermeiro depende contudo de condições facilitadoras que valorizam estas ações. É possível observar que hoje na grande parte dos hospitais os enfermeiros se ocupam com as atividades do cotidiano tais como a elaboração da escala de trabalho da equipe de auxiliares; o planejamento, a coordenação e a supervisão das atividades e do pessoal; e a organização ou suprimento do setor quanto a pessoal, material de consumo e permanente. Ainda citando Cruz (1994) as atividades relacionadas corroboram a com a teses de que o taylorismo constitui o método de trabalho do cotidiano profissional. Este fato pode não constituir nenhuma novidade, mas é a partir da denúncia, da tomada de consciência, do conhecimento da realidade que pode-se transformá-la. Nota-se que existe uma falta de consenso na equipe de enfermagem quanto às determinantes do trabalho, pode-se identificar aspectos referentes à organização do trabalho sobre as atividades profissionais. Observa-se que muitos profissionais enfermeiros sempre ficam ocupados com a organização do trabalho, há referências ao tempo, à falta de apoio para a execução destas atividades e ao número excessivo de incumbências de natureza administrativa. Há referências ainda ao número reduzido de auxiliares de enfermagem e, principalmente, de enfermeiros, além da falta de treinamentos periódicos. Referindo-se ainda à falta de consenso sobre as atividades profissionais, pode- se observar que a falta de padronização da metodologia, falta de padronização das atividades e ausência de protocolos que unifiquem as condutas frente aos problemas de saúde, pode ser resolvido com um pouco de boa vontade por parte dos enfermeiros. Noronha, Araújo (1998) afirmam que na enfermagem brasileira, muitas têm sido as buscas em sistematizar a assistência, que é prestada à população, as quais são 12 incentivadas e respaldadas pela Lei nº 7.498/86 (BRASIL, 1986), regulamentada pelo Decreto nº 94.406/87 (BRASIL, 1987), que dispõe sobre o exercício da profissão e determina que ao enfermeiro incumbe privativamente a prescrição da assistência de enfermagem, dentre outras atribuições. A sistematização das ações de enfermagem tem contribuído para o registro e documentação de ocorrências e procedimentos realizados pelos diversos integrantes da profissão, para análise quantitativa e qualitativa do cuidado prestado e juntamente com outras conquistas, para o reconhecimento social do enfermeiro. Contém como etapas essenciais o levantamento de dados, o diagnóstico, planejamento das ações de enfermagem e a avaliação do processo assistencial. Segundo Atkinson; Murray (1989, p.89): O processo de enfermagem é uma tentativa de melhorar a qualidade de assistência ao paciente. A assistência de enfermagem é planejada para alcançar as necessidades específicas do paciente, sendo então redigida de forma a que todas as pessoas envolvidas no tratamento possam ter acesso ao plano de assistência. Quando esse plano não é redigido, observam-se omissões e repetições. Não havendo um plano escrito, o paciente precisa repetir informações pessoais e referências a cada pessoa que o assiste. Vê-se então a importância do processo de enfermagem, pois existindo um, cada enfermeiro é capaz de prestar assistência que inclua as preferências individuais do paciente, contribuindo assim para a continuidade da assistência de enfermagem. Os padrões da prática de enfermagem da American Nurse Association refletem sobre a utilização de um processo de enfermagem. É necessário planos de assistência bem elaborados, para que não haja uma enfermagem não coordenada baseados em erros e acertos, ela deve ser alicerçada na identificação correta dos problemas do paciente. De acordo com Atkinson; Murray (1989, p.91) Que um sentimento de orgulho e de realização é experimentado, quando os objetivos de um plano de assistência são alcançados e reduzem os problemas do paciente. O processo de enfermagem contribui para o crescimento profissional de cada enfermeiro. Quando um enfermeiro conclui o plano e consegue avaliar a sua eficácia em atingir as necessidades individuais de um paciente, ele aumenta a sua perícia que pode ser adaptada para satisfazer as necessidades de outros pacientes no futuro. À medida que esse aprendizado se expande pela experiência com diversos pacientes, o enfermeiro ganha em conhecimento e em experiência. O processo de enfermagem tem sido aceito como a essência da assistência de enfermagem. Ele se constitui de uma abordagem deliberada de identificação e resolução de problemas para atender aos cuidados de saúde e às necessidades de 13 assistência de enfermagem dos pacientes. Assim, os pontos comuns encontrados em todas as definições são a avaliação, o diagnóstico de enfermagem, o planejamento, a implementação e a análise final. Esses componentes fundamentais podem ser usados na definição do processo de enfermagem. Para Smeltzer; Bare (1994, p. 121), A divisão do processo de enfermagem em cinco etapas ou componentes distintos serve para enfatizar as ações críticas de enfermagem, que têm de ser desenvolvidas quanto o enfermeiro assume a responsabilidade por resolver os diagnósticos de enfermagem do paciente. Entretanto, o enfermeiro tem de recordar-se que as divisões são artificiais e que o processo como um todo é cíclico, sendo as etapas inter-relacionadas, interdependentes e recorrentes. Segundo Noronha, Araújo (1998) o processo de enfermagem engloba todos os setores de atividade dos enfermeiros, dentre eles o Centro Cirúrgico. Do processo de assistência ao paciente, no período perioperatório (pré-operatório imediato, transoperatório, recuperação pós-anestesica e pós operatório imediato). Em resumo, o processo de cuidados profissionais de enfermagem constitui o instrumento ou a metodologia da enfermagem profissional que auxilia os profissionais a tomar decisões, bem como a prever e a avaliar consequências. Para a utilização proveitosa do processo de enfermagem, um profissional necessita da aplicação dos conceitos e teorias de enfermagem, das ciências biológicas, físicas e comportamentais e das ciências humanas, para que ofereça um fundamento racional para a tomada de decisões, julgamentos, relações interpessoais e ações. Espera-se que os profissionais que aprendem a utilização do processo de enfermagem tenham necessidade de utilizar inúmeras referências e recursos para incrementar seu conhecimento e habilidades, à medida que avançam em seu programa de estudos de enfermagem profissional. O avanço do conhecimento humano é um dos mais importantes fenômenos da história atual, bem como as suas inegáveis contribuições, assim o é também na Enfermagem, onde na tentativa de melhorar a qualidade da assistência que é prestada à população, os profissionais de saúde têm procurado direcionar seus esforços no sentido de valorizar de forma enfática as ações de ensino e pesquisa, a fim de subsidiar a descrição, a reflexão e a compreensão dos fenômenos relacionados à sua prática cotidiana de cuidados aos clientes, quase sempre em condições graves de enfermidade. Todavia, pensa-se que este seja um movimento ainda bastante discreto frente aos inúmeros desafios que nos são apresentados e que nos impedem de 14 prestar um cuidado capaz de ultrapassar as barreiras do biologicismo, quando na verdade sabe-se que é preciso ir um pouco mais adiante e, ao mesmo tempo, todos os discursos teóricos, principalmente os advindos da academia convidam os profissionaistodo o tempo a repensar o quotidiano de suas práticas através de uma proposta mais humana de intervenção (ORNELLAS ,1992, p.100-101). Segundo a teoria de Horta (1979), a enfermagem é uma ciência e arte de assistir o ser humano no atendimento de suas necessidades básicas, tornando-o independente desta assistência quando possível (através do ensino do autocuidado), recuperando, mantendo e promovendo a saúde em colaboração com outros profissionais. Alencar; Diniz; Lima (2004) afirmam que a enfermagem vem acumulando no decorrer de sua historia, juntamente com conhecimento empírico, teórico, o conhecimento científico, a executar suas atividades baseadas não somente em normas disciplinares, mas também em rotinas repetidas da sua atuação. Com a afirmação da Enfermagem como Ciência, as modificações da clientela, da organização do avanço tecnológico e dos próprios profissionais de Enfermagem, a prática da profissão deixa de ser mecânica, massificada e descontínua, utilizando-se de métodos de trabalho que favorecem à individualização e à continuidade da Assistência de Enfermagem, bem como do estudo crítico do atendimento que se presta. Foucault (1995) diz que na terapia intensiva, campo das práticas e cuidados, verifica-se uma série de fatores e movimentos que corroboram para que os profissionais deste ramo específico busquem desenvolver uma vontade de saber, caracterizada pelo domínio incessante e massificado de conhecimentos de cunho técnico-científico para que sejam capazes de subsidiar a prática de suas ações junto à clientela assistida, obtendo com isso melhores resultados, reconhecimento, satisfação pessoal e poder, entretanto, constata-se na prática que a valorização excessiva deste binômio saber-poder, nem sempre traz reais benefícios à clientela que é assistida. Ademais, vê-se constantemente que este comportamento tem possibilitado a criação de fissuras nas relações que se estabelecem entre os sujeitos que cuidam e os que são cuidados, desfavorecendo a qualidade e eficácia do produto final de sua interação: o cuidado. Segundo Kurcgant (1991) é da competência do enfermeiro a avaliação da assistência, sendo que o resultado desta avaliação implica muitas vezes na decisão 15 sobre a assistência no dia seguinte, portanto se no decorrer do dia houver falhas em uma decisão, isto ocasionará uma situação grave. Por isso o enfermeiro, nessa área, engloba o conhecimento profundo das necessidades dos pacientes no que se refere à doença enquanto processo mórbido e suas consequências. Pode-se dizer que o conhecimento necessário para um enfermeiro vai desde a administração e efeito das drogas até o funcionamento e adequação de aparelhos, atividades estas que integram as atividades rotineiras de um enfermeiro desta unidade e deve ser por ele dominado. De acordo com Hudak e Gallo (1997) o papel do enfermeiro consiste em obter a história do paciente, fazer exame físico, executar tratamento, aconselhando e ensinando a manutenção da saúde e orientando os enfermos para uma continuidade do tratamento e medidas. Além disso, compete ao enfermeiro a coordenação da equipe de enfermagem, sendo que isto não significa distribuir tarefas e sim o conhecimento de si mesmo e das individualidades de cada um dos componentes da equipe. Frente a estes apontamentos, é possível dizer que o enfermeiro desempenha funções cruciais dentro da unidade de terapia intensiva, no que concerne à coordenação e organização da equipe de enfermagem. A esse respeito Gomes (1988) afirma que o enfermeiro que atua nesta unidade necessita ter conhecimento científico, prático e técnico, a fim de que possa tomar decisões rápidas e concretas, transmitindo segurança a toda equipe e principalmente diminuindo os riscos que ameaçam a vida do paciente. Os enfermeiros devem ainda, aliar à fundamentação teórica (imprescindível) a capacidade de liderança, o trabalho, o discernimento, a iniciativa, a habilidade de ensino, a maturidade e a estabilidade emocional (HUDAK; GALLO, 1997). Sendo assim a constante atualização destes profissionais, é necessária, visto que desenvolvem com a equipe médica e de enfermagem habilidades para que possam atuar em situações inesperadas de forma objetiva e sincrônica, na qual estão inseridos. Frente às características específicas, o trabalho em equipe torna-se crucial. O enfermeiro deve ser uma pessoa tranquila, ágil, de raciocínio rápido, de forma a adaptarse, de imediato, a cada situação que se apresente à sua frente. Este profissional deve estar preparado para enfrentar intercorrências emergentes necessitando para isso conhecimento científico e competência clínica (experiência). 16 O conjunto das atividades desenvolvidas pelos enfermeiros, pode-se afirmar que apesar destes profissionais estarem envolvidos na prestação de cuidados diretos ao paciente, em muitos momentos existe uma sobrecarga das atividades administrativas em detrimento das atividades assistências e de ensino. Esta realidade vivenciada pelos enfermeiros vêm ao encontro da literatura quando se analisa a função administrativa do enfermeiro no contexto hospitalar e observa-se que este profissional tem se limitado a solucionar problemas de outros profissionais e a atender às expectativas da instituição hospitalar, relegando a plano secundário a concretização dos objetivos do seu próprio serviço (GALVÃO; TREVIZAN; SAWADA,1998). Entende-se a necessidade dos enfermeiros repensarem a sua prática profissional pois, quando o enfermeiro assume sua função primordial de coordenador da assistência de enfermagem, implementando-a por meio de esquema de planejamento, está garantido o desenvolvimento de suas atividades básicas (administrativas, assistências e de ensino) e promovendo, consequentemente, a melhor organização do trabalho da equipe, que passa a direcionar seus esforços em busca de um objetivo comum que é o de prestar assistência de qualidade, atendendo às reais necessidades apresentadas pelos pacientes sob seus cuidados(CHAVES, 1993). De acordo com Kugart (1991), no aspecto informal, a insegurança e o medo também permeiam os membros da equipe de enfermagem. O relacionamento franco e amistoso, mas, exigente, promove um ambiente seguro e calmo.Seres humanos são os pacientes e seres humanos são os integrantes da equipe de enfermagem. Além do conhecimento de sua equipe e da visão de que a equipe é constituída de seres humanos com fraquezas, angustias e limitações, é papel do enfermeiro também estabelecer programas de educação continuada de sua equipe. Outra área de competência do enfermeiro é assumir o papel de elo de ligação entre o paciente e a equipe multiprofissional. Embora, discutível nesse papel, o enfermeiro assume, nas 24 horas do dia, a coordenação da dinâmica da unidade. Galvão; Trevizan; Sawada (2000) relatam que a própria dinâmica de uma unidade de assistência não possibilita momentos de reflexão para que seu pessoal possa se orientar melhor. Parte-se da premissa de que a liderança pode e deve ser aprendida pelo enfermeiro, entende-se que o preparo em liderança deste profissional seja essencial para a sua prática diária. A busca de meios que viabilizem o 17 desenvolvimento da habilidade de liderar do enfermeiro é fundamental, assim, é necessário o embasamento teórico e a comunicação, como instrumentos imprescindíveis na prática do enfermeiro. Para Nishide; Cintra; Nunes (2003), o enfermeiro assume a responsabilidade de cuidar do paciente, tanto nos casos de emergência quanto no apoio à vida, capacitado, independente do diagnóstico ou do contexto clínico, a cuidar de todos os doentes, utilizando-se de uma abordagem ampla assegure-lhe sua estima e integridade, quanto a uma ampla base de conhecimentos científicos e de especializações. Resumindo: os enfermeiros precisam integrar suas habilidades técnicas e intelectuais à práticadiária. O papel do enfermeiro ocupa um importante papel nos momentos de fragilidade, dependência física e emocional do paciente, configura-se num importante ponto de apoio para a equipe, quer seja no que se refere à educação e preparo, quer seja, na coordenação do serviço de enfermagem, atua no limiar entre o humano e o tecnológico, diante disso conclui-se que o enfermeiro necessita dispor de habilidades e competências que o permitam desenvolver suas funções com eficácia aliando o conhecimento técnico científico e o domínio da tecnologia a humanização e individualização do cuidado. Fala-se muito sobre humanização, principalmente quando se trata do atendimento de saúde e esta temática ganha um novo status no ano de 2000, quando o Ministério da Saúde regulamenta o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar, incluso na pauta da 11ª Conferência Nacional de Saúde. Seção 1.2: O paciente hospitalizado O cenário Hospitalar é desconhecido do paciente ele passa a conviver com outros pacientes doentes, sendo assim transportado para um ambiente associado, não só por ele, ao sofrimento e à morte. Ao ser hospitalizado, o individuo é afastado abruptamente de sua família, de sua casa, de seus amigos, o que gera situações de extrema insegurança. Entretanto, esta situação vem sendo modificada através de inúmeras iniciativas que já foram adotadas em alguns Hospitais do Brasil. A finalidade primordial no hospital é o atendimento e o cuidado do paciente como pessoa. “Nenhum complexo tecnológico poderá jamais substituir a capacidade humana de formar aquele outro complexo, o de pessoas, diversificadas em suas características individuais( MEZOMO, 1979, p.13). 18 O processo de hospitalização é agressivo e doloroso, além de inevitável e inadiável. Os pacientes, de um modo geral, são surpreendidos pela doença e pela hospitalização, tendo que deixar seus compromissos à serem resolvidos, sua família sem assistência e tendo que mudar-se para um ambiente estranho e impessoal, levando como bagagem o medo e a incerteza. Sai de sua casa onde tem total autonomia e vai para uma instituição desconhecida que lhe traz lembranças de coisas ruins, entre elas a morte sempre está presente. De acordo com Manzolli (1987) a hospitalização é responsável pelo afastamento do paciente de seu cotidiano para um ambiente com rotinas e normas rígidas, podendo refletir de forma negativa, levando esta pessoa a experimentar sentimentos como o medo e a carência. Por si só, essa pode ser uma experiência desagradável por envolver inúmeros aspectos negativos como o distanciamento do ambiente familiar, de pessoas significativas, além de, às vezes, significar um certo grau de dependência. A hospitalização é um dos eventos da vida moderna que envolve profunda adaptação do homem às várias mudanças que acontecem em seu dia-a-dia. Este reajustamento pode ocorrer de forma mais fácil em certas pessoas; em outras entretanto, apresenta-se de forma difícil, exigindo mais tempo, grande esforço e intensa assistência( MANZOLLI, 1987, p.49). Verifica-se que a partir do momento que a pessoa adoece e é encaminhada para a internação, perde a privacidade do lar ou do ambiente onde vive, sofre uma redução do próprio espaço, diminuindo assim sua autonomia. Com isso, observa-se que o sujeito terá que criar novos espaços e pontes; dessa forma modificam-se horizontes, pois o ambiente hospitalar é diferente de seu habitat, passando a ser tudo diferente, o que é uma situação muito triste. Prado (1991, p.81) afirma que: “os mistérios universais relacionados ao nascimento, sexo e morte sempre foram cercados de tabus e mitos sociais, os sentimentos desconhecidos ligados a eles mantendo-se secretos e poderosos através do desenvolvimento da humanidade”. Pode-se afirmar então que, a internação é a ruptura da história do indivíduo, pois ele percebe que não é mais o mesmo. Com isso ele passa a sofrer diante da imagem de si mesmo, já alterada. 19 Com isso, o paciente ao ser internado passa a sentir medo da situação que o aguarda, ou seja, o medo do isolamento, de dependência, de sofrimento, o que o pode tornar um ser diferente e exigente. Ele se vê separado de tudo o que constitui sua vida habitual, de seus laços afetivos. O paciente sente-se e torna-se dependente de todos. Dependente do médico, cuja “ciência” o poderá salvar e que, por isto mesmo, o deseja todo tempo perto de si. Dependente da equipe de cuidados para sua alimentação, medicação e higiene. Dependente da família e dos amigos, que o vêm visitar (AMIN, 2001, p.16). De acordo Sawada et al (1998) ao ser internado o indivíduo perde o controle sobre os parâmetros espaciais, o que pode levar ao estresse psicológico, pois seu território é invadido, com a invasão deste espaço o paciente é levado a reações adversas como ansiedade, inquietação, luta ou fuga. Essa reação dependerá da percepção do indivíduo à uma multiplicidade de fatores como necessidade individual, experiências anteriores de vida e pressões culturais. Melchiades (2008) ratifica as observações anteriores e ressalta que ao contrário do paciente de consultório que mantém seu direito de opção em aceitar ou não o tratamento e desobedecer à prescrição, o doente hospitalizado perde tudo, ou seja, nesse momento perde sua autonomia, deixando de ser o sujeito e passando a ser o objeto da prática médica hospitalar. A equipe de enfermagem e o paciente estabelecem um relacionamento interpessoal a partir do momento que se inicia sua estada na unidade de saúde. Segundo, Moscovici (1995, p. 32-33): Pessoas convivem e trabalham com pessoas e portam-se como pessoas,isto é, reagem às outras pessoas com as quais entram em contato:comunicam- se, simpatizam e sentem atrações, antipatizam e sentem aversões, aproximam-se, afastam-se, entram em conflito, competem,colaboram, desenvolvem afeto. Essas interferências ou reações, voluntárias ou involuntárias, intencionais ou inintencionais, constituem o processo de interação humana, em que cada pessoa na presença de outra pessoa nãofica indiferente a essa presença estimuladora. O processo de interação humana é complexo e ocorre permanentemente entre as pessoas sob forma de comportamentos manifestos e não manifestos, verbais e não- verbais,pensamentos, sentimentos, reações mentais e/ou físico-corporais Nesse período de internação hospitalar, o relacionamento passa a acontecer de várias reações sob a forma de comportamentos, palavras, pensamentos, sentimentos ou outras formas. É imprescindível que o profissional de enfermagem esteja atento ao seu próprio comportamento já que suas atitudes são determinantes da relação desenvolvida com 20 o paciente. Vale lembrar que este profissional tem por objetivo a cura da doença ou, quando isso não é possível, o alívio dos problemas de saúde do paciente, o que está em perfeita concordância com o pensamento do paciente que se encontra internado, pois certamente ele anseia pela resolução de seu problema de saúde.(SILVA, 2008) Diante disso, verifica-se a que deverá haver uma distância entre o profissional e o cliente; ou seja, o enfermeiro deve conhecer e respeitar as variações da distância que deve ser mantida nas diferentes situações de interação com o paciente de forma que ambos se sintam confortáveis (SAWADA, 1998) A distância mantida entre profissional e paciente, faz parte do processo de comunicação, pois, a forma como um interlocutor se coloca, interfere no processo de comunicação. Um outro aspecto importante na comunicação é o sentimento, já que conhecer o sentimento da outra pessoa em relação a determinado evento, faz com que a comunicação possa ser alterada, a fim de melhorar o relacionamento (SAWADA, et al, 1998). Portanto, acredita-se que a forma como o profissional de enfermagem estabelece relação como o paciente influenciará no cuidado prestado etambém pode ser, ela mesma, uma maneira de cuidar. É visando ao relacionamento humano que os enfermeiros procuram dialogar com o paciente, seus familiares, as comunidades e a equipe de saúde; é também através do relacionamento que procuram desenvolver métodos de trabalho de grupo, em equipes, que propiciem um melhor entendimento para si mesmos e para os outros. Sendo o cerne da própria profissão, o relacionamento ocupa lugar bastante elevado na escala de valores da mesma (MANZOLLI, 1983, p. 1). É imprescíndivel lembrar a importância do aspecto da empatia,em um relacionamento, pois é através dela que será estabelecido o relacionamento entre paciente e profissional de saúde. Para que ocorra a empatia como processo terapêutico, é fundamental que se desenvolva um relacionamento de respeito mútuo e que o profissional de saúde trate- o de forma individualizada, respeitando a cultura, crenças e valores da pessoa. A empatia é uma habilidade que pode ser desenvolvida junto ao paciente. Sua importância residindo também no fato de que um paciente que percebe o entendimento do seu problema pela equipe de enfermagem tem mais chances de desenvolver um melhor relacionamento com esta equipe (TAKAKI E SANT’ANA, 2004). 21 Seção 1.3: Considerações “A capacidade e disponibilidade de ouvir os usuários e suas necessidades, interagindo com eles, levando em conta seus contextos e seu modo de levar a vida, podem ser um bom começo.”( CECÍLIO, 2001, p.114-115) Pode-se observar no decorrer deste trabalho a importância que os autores dão ao reconhecimento técnico sobre a perspectiva do usuário quando se aborda a qualidade de serviços de saúde. O seu papel como protagonista do sistema de saúde tem impacto direto na melhoria da relação entre ele e o serviço. Assim, é fundamental conhecer como os usuários avaliam o atendimento a eles prestado, para repensar as práticas profissionais ou intervir sobre a forma de organização dos serviços, visando seu aperfeiçoamento. O acesso e acolhimento são fatores essenciais do atendimento, para que se possa incidir efetivamente sobre o estado de saúde do indivíduo e da coletividade. Ouve-se diversos relatos de instituições de saúde com relação a acesso e acolhimento. Há serviços com áreas físicas tão pequenas que não dispõem de uma sala de espera, outros em que, mesmo contando com um bom local para espera, não encontraram fórmulas para extinguir as filas. Às vezes as condições materiais são boas e busca-se praticar um bom atendimento, mas inexiste qualificação adequada dos funcionários da recepção ou, pelo contrário, monta-se um bom serviço de recepção, triagem e pré-consulta que culmina com um mau atendimento no momento da consulta, na qual se estabelecem relações frias, desumanizadas, de desinteresse. Levando-se em consideração a melhoria da assistência à saúde aos pacientes sugere-se aos profissionais de saúde de todas as áreas e principalmente de enfermagem que façam uma reflexão sobre suas próprias atitudes e comportamentos durante o relacionamento com os pacientes. A fim de melhorar o relacionamento com os pacientes e buscar levar-lhes boas sensações. Em virtude dos aspectos mencionados, este estudo propicia um acréscimo do conhecimento acerca do tema abordado, mas acredita-se na necessidade de mais pesquisas a respeito da influência do relacionamento entre a equipe de enfermagem e paciente no seu estado de saúde. Possivelmente outras metodologias de pesquisa poderão trazer a ampliação do saber sobre o tema e como ele ocorre em diferentes lugares. 22 Espera-se que a abordagem deste tema, venha contribuir para que os profissionais de enfermagem reflitam o seu agir, vendo o cliente como ser humano, que necessita de uma assistência digna, utilizando-se a empatia como termômetro na humanização, A responsabilidade por prestar um cuidado que valorize a intersubjetividade dos sujeitos, os direitos e a cidadania. Finalmente, que busque melhores condições de trabalho, valorizando assim sua categoria e ocupando seu espaço no contexto dos serviços de saúde. 23 Unidade 2: Humanização na Assistência Hospitalar Seção 2.1: Conceito de humanização Iniciar-se-á este capítulo com a definição de Humanização, tendo em vista que será muito citado no decorrer do trabalho. Para o dicionário, humanização é o ato de humanizar, que por sua vez significa: 1. Tornar humano; dar condição humana a; humanar. 2. Tornar benévolo, afável, tratável; humanar. 3. Fazer adquirir hábitos sociais polidos; civilizar; 4. Amansar (animais). 5. Tornar-se humano; humanar-se. Estas definições levam os indivíduos a se questionarem sobre o que é ser humano. Com a experiência cotidiana pode-se concordar e assumir a definição tal qual o dicionário descreve. Desde Freud e Marx sabe-se que também faz parte do humano a exploração do outro, a alienação, a agressão, o equívoco e a culpa. Os neo-biologistas querem nos convencer de que somos produtos pura e simplesmente da combinatória genética. Os neo-relativistas querem nos convencer de que o todo é inter-subjetivo e relativamente justificável. E o social? O social foi para o fundo da gaveta pósmoderna, sai de vez em quando, somente para se justificar que nada de novo é possível no mundo humano (ONOCKO, 1998, p. 16). A autora quer dizer que o ser humano é um ser biopsicossocial, ou seja, ou seja: biológico, subjetivo e social, tendo em vista que somos o tempo todo misturado, inseparável, ao mesmo tempo. Não se deixa de ser biológico quando submetido à emoções boas ou más, somos humanos, passíveis de amor e ódio. Não deixamos os problemas de lado e entramos no nosso local de trabalho. É impossível deixar as emoções de lado. Onocko (1998) conceitua Humanizar como tornar humano. Em sentido estrito, mas situado no contexto presente, significa tratar os usuários e familiares como gente, respeitá-los como sujeitos de uma dignidade especial e senti-los como pessoas potencialmente iguais a nós próprios, ou seja, simplesmente respeitar a pessoalidade e a dignidade inerentes aos seres humanos. Com maior latitude, o termo humanizar pode abranger os conceitos de humanismo e de humanitarismo. Neste sentido amplo, verifica-se que o termo humanização inclui o humanismo, que pode ser definido como uma tendência doutrinária progressista de pensar a 24 sociedade, caracterizada pela defesa da dignidade, da liberdade e da plena realização da personalidade e dirigida para fomentar a satisfação das necessidades individuais e sociais dos seres humanos. Hoje, mais que nunca, o humanismo está orientado para o respeito aos direitos humanos e sua efetivação para todas as pessoas, sem exclusão de qualquer uma. É necessário o investimento em ambiência , para oferecer um acolhimento tanto para o usuário como para o funcionário, traduzindo em mudanças pensando na melhoria do ambiente e na qualidade de vida dos servidores e usuários, tais como: Implantação nas instituições de mudanças que propociem um ambiente mais favorável para o funcionário como também para os usuários, tais como: Criação de um ambiente humanizado aos cidadãos e servidores das unidades de saúde; Oferecimento de conforto ao cidadão e dispensar um atendimento humanizado e com qualidade; Melhoria das condições de trabalho dos profissionais de saúde; Criação de balcão de atendimento, com universitários devidamente treinados para receber e orientar os cidadãos, Manutenção do prédio (limpeza, suprimento de material, consertos e outros; Implementação de tecnologia da informação em todos os trabalhos da delegacia; e Favorecer uma maior interação e aproximação dos profissionais de saúde com a comunidade contribuindo para a cura de doenças enquanto oferece ao cidadão educação para prevençãode doenças. Finalmente, vale lembrar que é inevitável refletir sobre meios eficazes para transformar uma cultura, pois normalmente as pessoas vêem hospitais como locais que devem ser desprovidos de qualquer beleza ou conforto. Obviamente não se muda uma cultura apenas fazendo mudanças físicas em um hospital, mas, certamente, um investimento sério na formação e valorização dos servidores pode, de fato, fortalecer idéias outrora consideradas utópicas ou fora do âmbito e do papel dos profissionais de saúde. Isso pode dar subsídios para que no curso da história (seja de curta, média ou longa duração) e no campo da negociação da ordem política de gestão, os 25 profissionais de uma determinada organização constituam novos parâmetros para ação, introduzindo mudanças na cultura da assistência de saúde. Rivera (2003) pondera que para mudar as regras do jogo organizacional e as bases da cultura é preciso ir além da mudança das estruturas mentais. Torna-se fundamental um projeto de gestão que democratize as estruturas de poder, que fortaleça a comunicação, desenvolva formas de avaliação e se comprometa com a prestação de contas. O autor chega a enunciar que mais comunicação é a estratégia genérica para a mudança cultural. A comunicação é fator importante dentro de uma instituição, faz necessária a sensibilização dos gestores sobre sua importância seja por meio das palavras, seja através do corpo; demonstrar posturas, formas de apresentação e acolhimento, tendo em vista que estes são a imagem da empresa, mesmo aqueles que não realizam o atendimento direto ao cliente (RIVERA, 2003). É necessária uma comunicação com múltiplas estratégias comunicativas, com visão e ação transdisciplinar, com objetivo de maximizar as informações, sendo esta congruente com os valores, visão e missão da instituição, bem como com as estratégias, planejamentos e ações daqueles que compõe a corporação. Neste sentido há a explosão da comunicação eficaz, principal ferramenta interrelacional entre funcionários, usuários e parceiros nos processos de trabalho. Para que haja uma boa comunicação na instituição é imprescindível um bom planejamento de comunicação baseado na clareza, transparência e simplicidade da linguagem para alcançar a compreensão dos servidores, como também de seus usuários e conquistar o comprometimento da equipe, como também melhorar o relacionamento com o público. Seção 2.2: A humanização como processo gradual de construção Segundo Prado (1984) a humanização é um processo de construção gradual, realizada através do compartilhamento de conhecimentos e de sentimentos. A humanização é uma nova visão do atendimento tanto no sentido antropológico quanto no psicológico. Todos os profissionais são seres humanos, tal como os usuários, mas nem todos podem ser chamados de humanizados (GARCIA, 2005, p. 95). Segundo Rios (2003, p. 6), humanização significa: 26 Valorizar a dimensão subjetiva e social em todas as práticas de atenção e gestão, fortalecendo e estimulando processos integradores e promotores de compromissos; Garantir condições para que os profissionais efetuem seu trabalho de modo digno e criador de novas ações e para que possam participar como co-gestores do processo de trabalho; Fortalecer o trabalho em equipe multiprofissional, estimulando a transdisciplinariedade e a grupalidade. Verifica-se que o atendimento humanizado envolve várias questões que extrapolam a relação profissional/usuário. É a forma como o usuário é atendido, incluindo-se, nesse contexto, a conscientização sobre a necessidade de ser visto como ser humano. Segundo Garcia (2005) o usuário é um ser humano que tem família, que estuda, trabalha, tem planos, sonhos e sofre por ter sido, de uma hora para outra, extraído de sua vida e de sua rotina pessoal, tornando-se vulnerável por alguma situação. Quando acontece algum problema com um de seus familiares, alguém dela se desestrutura, visto que o ocorrido a um de seus membros, influencia a todos e, desta maneira, cada família irá enfrentar um momento de crise de forma singular. Por isso, conforme destaca Martins (2002, p. 25), deve-se levar em conta que: O usuário está inserido em um contexto pessoal, familiar e social complexo; A assistência deve efetuar uma leitura das necessidades pessoais e sociais do usuário; As necessidades de quem assiste e de quem é assistido interagem na instituição. É visível que o atendimento prestado pelos profissionais de saúde desumanizouse. As novas tecnologias contribuíram para isso, pois muitos fatos e ocorrências, atualmente, podem ser registrados através de computadores e até mesmo a obtenção de atestados são realizados à distância, restringindo o contato pessoal e a disponibilidade de profissional em atender bem seus usuários e seus colegas de trabalho. De acordo com Garcia (2005, p. 96), são tópicos importantes na humanização do atendimento: O interesse e a competência do profissional; 27 O diálogo entre o profissional e o usuário e/ou seus familiares; O favorecimento de facilidades para que a vida do usuário e/ou familiares seja melhor e para que se evitem aborrecimentos e constrangimentos; O respeito aos horários de atendimento. Segundo Garcia (2005, p. 97): A humanização deve abranger o conjunto de relações nas instituições, recepção/usuário, profissional/equipe, profissional/instituição. É função do gestor regular e estimular a melhoria desse conjunto de relações. Muitos problemas podem ser resolvidos ou atenuados quando o usuário/ servidor sente-se compreendido e respeitado pelo profissional, devendo esse oferecer uma maior receptividade àquele. É fundamental ao profissional incorporar o aprendizado e o aprimoramento dos aspectos interpessoais à tarefa assistencial, desenvolvendo a sensibilidade para conhecer a realidade do usuário/ funcionário e a ouvir suas queixas. Com as propostas de humanização, cresce uma valorização das inter- relações humanas, como uma trincheira de resistência contra o avassalador convencimento da superioridade moral do mercado, e eleva-se a um valor superlativo a busca da dignidade humana. Por outro lado, seu desenvolvimento fragmentado, segundo diferentes experiências, e o fato de cada um de seus singulares realizadores tentar explicar as dificuldades do mundo com um horizonte de análise reduzido têm colocado as razões e motivações de tal movimento humanizador em caminhos diferentes e até mesmo conflituosos (PUCCINI; CECILIO, 2005, p. 1343). De acordo com Benevides; Passos (2005) para um processo de mudança que possa responder aos anseios dos usuários e profissionais, a humanização deve contar com o apoio e o incentivo do gestor. É imprescindível o apoio do gestor para que tal processo dê certo, não adianta apenas a boa vontade dos agentes públicos é necessário o empenho de toda a equipe. Observa-se que a humanização deve ganhar outra amplitude quando implicada na construção de políticas públicas de saúde. De nada serve o esforço se isso não resultar em alterações nas práticas dos serviços, na melhoria da qualidade de vida dos usuários e na melhoria das condições de trabalho dos profissionais de saúde. Segundo Benevides; Passos (2005) são necessárias mudanças nos processos de produção de saúde para que a política de humanização seja implantada nos serviços de saúde, culminando com a transformação das próprias práticas. A humanização constróise conjuntamente com a atenção à saúde e a gestão. É a partir dessas transformações que as práticas de saúde pública podem ser efetivamente alteradas. É fundamental descobrir a própria identidade da instituição. Algumas instituições conseguem fazer uma verdadeira revolução que resulta em maior 28 satisfação da equipe e em melhor atendimento ao usuário, centralizando esforços na construção de uma aliança forte e solidáriaentre o gestor e os servidores (MALDONADO; CANELLA, 2003, p. 215). Nota-se de acordo com a literatura e diversos teóricos que para o sucesso de uma instituição/empresa, deve-se valorizar os recursos humanos, pois não adianta apenas investimentos em tecnologia se o pessoal não estiver preparado e satisfeito com o seu local de trabalho. Mesmo sabendo da dificuldade em se motivar os agentes públicos nos dias de hoje, tendo em vista os salários percebidos, acredita-se que oferecendo-lhe um ambiente de trabalho agradável é meio caminho andado. De acordo com Garcia (2005) todos os profissionais são seres humanos, tal como os usuários, mas nem todos podem ser chamados de humanizados e para um bom acolhimento e um atendimento com qualidade é necessária a sensibilização destes por meio de treinamentos. Verifica-se então que, o fazer saúde, compreendido na humanização implica em transformar o modo de como o usuário tem acesso aos serviços de saúde desde a procura até a consulta e encaminhamentos pertinentes a necessidade do momento, com isso, além de contribuir para formação de um atendimento humanizado e melhoria na qualidade da atenção, é também uma estratégia de reorientação dos profissionais quanto ao atendimento qualificado e nas relações dos usuários na melhora do seu bem-estar. O acolhimento é primordial nas unidades de saúde,pois partindo de um atendimento humanizado, integral aos usuários é que se pode intervir de maneira eficaz no cuidado com o paciente, o que tem se tornado um grande desafio nas Instituições de saúde. É nesse contexto que as mudanças estão ocorrendo, com a implementação de medidas que visem melhorar a qualidade de vida do usuário, através de um acolhimento adequado para o paciente. Seção 2.3: A humanização e o cuidado de enfermagem A área da saúde vem sofrendo limitações em suas práticas para responder de maneira afetiva e atenciosa à saúde dos indivíduos e das populações. Isso se revela um contraste em relação ao desenvolvimento tecnológico e aperfeiçoamento das técnicas cada vez mais evidentes e ao mesmo tempo uma preocupação com propostas de mudanças. 29 Os movimentos de reformas sanitárias, as Conferências de Saúde e os grupos militantes ligados a ações pelo desenvolvimento da consciência cidadã, os quais atuaram a partir da década de 80 foram responsáveis pela origem do movimento do processo de humanização. Esse processo foi institucionalizado com a constituição de 1988 e com a estruturação do SUS. Assim a idéia de humanização passou a ser compreendida como a valorização dos diferentes sujeitos envolvidos na produção da saúde (REIS, MARAZINA, GALLO, 2004). Na área hospitalar e no setor da UTI a concentração de tecnologia e valorização da ciência se intensificou, e isso levou ao detrimento do homem e seus valores humanos. Em maio de 2000, o Ministério de Saúde regulamentou o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), e a pauta da 11ª Conferência Nacional de Saúde teve incluso a humanização em dezembro de 2000. O programa nos dias de hoje foi substituído por uma política de assistência intitulada por HUMANIZA SUS (DESLANDES, 2004). Deslandes (2004) diz que o rápido crescimento de Unidades de Cuidados Intensivos na década de 60 trouxe o progresso tecnológico que disponibilizou equipamentos invasivos e não invasivos para medir, monitorar, e regular os sistemas orgânicos. O que tornou os cuidados intensivos mais aversivos, solitários e desumanizantes. O desenvolvimento das Unidades de Terapia Intensiva tem sido observado no aspecto arquitetônico, no aspecto tecnológico, e na constante busca pela humanização em que se revela no conforto físico e psicológico. A humanização deve estar presente nas equipes de terapia intensiva como um indicador de qualidade de serviços (KNOBEL, 1998). Humanizar é fazer boas ações, demonstrar ternura e respeito, sentir o outro. É ver o outro. É ver o outro como um ser humano, um ser total - corpo, mente, emoção e espírito ( NASCIMENTO e MARTINS, 2003: p. 16). A palavra humanização foi determinada para definir esse processo de mudanças pela ênfase ao humano, e renasceu para valorizar o gênero humano. Esse processo envolve todos os membros da equipe fazendo com que as responsabilidades da equipe se estendam além das intervenções tecnológicas e cientificas no paciente (MAGALHÃES, GUANAES, CELLI et. al.,2004). 30 O termo humanização revela uma ampla variedade de iniciativas responsáveis por definir a forma de assistência empregada que evidencia a qualidade do cuidado técnico, mas também reconhecendo os direitos dos pacientes, de sua subjetividade e cultura, além do reconhecimento e valorização do profissional e a comunicação entre as equipes (DESLANDES, 2004). A proposta da política nacional a respeito da humanização quer modificar o modelo de assistência hospitalar tornando-o centrado na comunicação e no diálogo entre os pacientes e usuários, profissionais e gestores, proporcionando mudanças na cultura de atendimento e levando-se em consideração a necessidade de aperfeiçoar a qualidade dos serviços prestados. A humanização é a forma de se oferecer atendimento de qualidade, inter-relacionando os avanços tecnológicos com o bom relacionamento (DESLANDES, 2004). O resgate da humanização nos centros de terapia intensiva implica na atenção a três itens de grande importância que são: o cuidado disponibilizado ao paciente e seus familiares que se encontram em situação de fragilidade e desconsideração, a atenção ao profissional da saúde que atua na equipe confrontada diariamente com sofrimento, e as peculiaridades do ambiente físico nocivo (KNOBEL, 1998). As iniciativas de humanização procuram intensificar o desenvolvimento de uma nova cultura que fortaleça a política de respeito e valorização humana. Humanizar o ambiente hospitalar é fortalecer o comportamento ético, o cuidado técnico-científico interado com o cuidado que incorpora o acolhimento diferente baseado na singularidade. É adotar uma maneira em que profissionais e usuários considerem o conjunto dos aspectos físicos, subjetivos e sociais e possam alcançar benefícios mútuos para a saúde dos usuários, dos profissionais e da comunidade (PENIDO, GORETTI, BAMBIRRA et. al., 2004). Em uma visão mais ampla, Zaher et al. (2003) vão além da valorização do gênero humano e do atendimento às necessidades biopsicossocioespiritual, humanização é um processo de transformação da cultura institucional que reconhece e valoriza os aspectos subjetivos, históricos e sócio-culturais tanto dos clientes como dos profissionais de saúde em função de uma melhoria das condições de trabalho e da qualidade do atendimento, por meio de ações que promovam competência técnica e tecnológica, valorizando a dimensão subjetiva dos clientes e dos profissionais de saúde. 31 Neste processo de transformação é imprescindível compreender saúde como bemestar físico, mental, social e espiritual e não apenas ausência de doença. Tem-se urgência em abandonar o conceito biologicista e puramente curativo, é preciso reconhecer o cliente como um indivíduo ativo no processo saúde–doença, como sujeito de direitos e capaz de exercer sua autonomia. A dignidade da pessoa, bem como sua liberdade e bem-estar são fatores a serem ponderados na relação cliente e profissional de saúde. Humanizar a relação com o cliente exige que o profissional da saúde valorize a afetividade e a sensibilidade como elementos necessários ao cuidar. Porém, compreendemos que tal relação não supõe um ato de caridade exercido por profissionais abnegados e já portadores de qualidades humanas essenciais, mas um encontro entre sujeitos, pessoas humanas, que podem construir uma relação saudável, compartilhando saber, poder e experiência vivida (CASTE; CORRÊA, 2003). Com base nesta pesquisa bibliográfica, algunsestudos demostraram que muito frequentemente as expectativas dos clientes quanto ao cuidado, relacionado às atividades de enfermagem são direcionadas ao aspecto emocional, classificadas por Watson et al. (1979) como interacional/expressiva que envolve o aspecto psicossocial, tal como oferta de suporte emocional minimizando os valor da atividade instrumental e técnica que focaliza mais o espaço físico e o atendimento das necessidades dos clientes, tais como medicação, higiene entre outros. Isto nos remete ao estudo de Silva (1994), no qual os clientes apontaram que no cuidado de enfermagem, com qualidade, a dimensão expressiva se sobressai à instrumental. Destaca-se assim um instrumento importante na relação cliente/profissional de saúde, ingrediente fundamental no processo de humanização e no ato de cuidar: a comunicação. Na enfermagem, a comunicação é o melhor caminho para um bom relacionamento, uma vez que cuida-se de pessoas com diferentes culturas, crenças e hábitos, tendo sempre que disponibilizar de uma comunicação clara e objetiva, para que estas possam se inteirar das rotinas do serviço, das suas condições clínicas e de suas limitações. Para Ferreira (1999, p. 167), comunicação é o ato ou efeito de emitir, transmitir e receber mensagens por meio de métodos e/ou processos convencionais, quer 32 através da linguagem falada ou escrita, quer de outros sinais, signos ou símbolos, quer de aparelhamento técnico especializado, sonoro e/ou visual. Conforme Silva (2002) relata, a comunicação para ser efetiva deve ser bidirecional para que haja entendimento e compreensão, posto que a comunicação faz parte do ser humano. Para tal ato, faz-se uso de diversos tipos de comunicação entre elas a verbal e a não-verbal, sendo a primeira caracterizada por palavras expressas por meio da linguagem escrita ou falada e a segunda obtida por meio de gestos, posturas, expressões faciais, orientações do corpo, naturais ou artificiais, organização dos objetos no espaço e até pela relação de distância mantida entre os indivíduos. A autora acima ainda nos apresenta um terceiro tipo de comunicação: a terapêutica. Esta é definida como “a habilidade de um profissional em ajudar as pessoas a enfrentarem seus problemas, a relacionarem-se com os demais, ajustarem o que não pode ser mudado e enfrentarem os bloqueios à auto-realização”. (p. 40) Isto não é uma tarefa fácil, contudo, é uma habilidade que pode e deve ser desenvolvida, ao considerarmos a comunicação como instrumento fundamental no relacionamento profissional/cliente, fazendo parte não apenas na questão do respeito, mas sim, de uma forma terapêutica. Desse modo, fica clara a relevância da comunicação no processo de humanização. Entretanto, vale lembrar o que Santana e Silva (2000) dizem, ou seja, não há regras e nem fórmulas para a viabilidade do processo, já que este depende fundamentalmente da conscientização de sua importância. Os autores acima ainda sugerem como alternativas de otimização o investimento na formação de recursos humanos e na compreensão do cliente como um ser único e indivisível. 33 Unidade 3: Um Marco Conceitual da Clínica do Cuidado de Enfermagem na Terapia Intensiva Seção 3.1: Introdução A temática da clínica na enfermagem é abordada de diferentes formas que vão desde a discussão da constituição de um conhecimento clínico orientador da prática do enfermeiro, perpassando a formação clínica e seus nexos com a produção do cuidado até chegar a um conceito de clínica na enfermagem. As publicações da enfermagem brasileira sobre tal tema tratam da pesquisa clínica como subsídio ao cuidado e também sobre o próprio cuidado que subsidia a pesquisa clínica. Há também preocupação com esse tema no campo da enfermagem psiquiátrica no intuito de se delinear uma clínica específica dessa área. Considera-se que a clínica na enfermagem ocorra numa relação de cuidado entre dois sujeitos, agentes transformadores do ato de cuidar. Essa clínica está centrada no cuidado e inclui o saber, as necessidades e desejos do outro. Todavia, pouco se tratou do debate de uma clínica de enfermagem relacionada aos modos de cuidar do enfermeiro, o que conduz à necessidade de se investigar sobre o que fazem os enfermeiros ou o que precisa ser feito numa determinada área de atuação para alcance do cuidado. A incorporação de tecnologias de processo aos modos de agir do enfermeiro ante o cliente vem sendo proposta à clínica do cuidado de enfermagem, foco deste artigo. Assim, no idoso, em especial, a clínica pauta-se na valorização da cultura e na dialogicidade na configuração de um cuidado compartilhado. Internacionalmente a clínica da enfermagem é considerada indefinida, pois seus saberes não são próprios, os métodos difíceis de identificar e os instrumentos inscritos no campo médico. A clínica da enfermagem na terapia intensiva apresenta particularidades da atuação profissional nesse cenário que conformam a dinâmica de cuidado dos enfermeiros. Cita-se como uma delas a objetividade tecnológica marcada nas ações dos profissionais, indicando posicionamentos diferenciados sobre os modos de agir dos enfermeiros intensivistas em face das tecnologias, colocandoas no alvo de críticas. Entender tal problemática remete ao papel dos conceitos, que correspondem a ideias e percepções de um fenômeno, que orientam a compreensão dos fatos e das 34 proposições, que articulam conceitos na tentativa de explicar um fenômeno. Conceitos e proposições formam o marco conceitual, ferramenta de identificação do saber/fazer que constrói o conhecimento científico por meio da reflexão dos conceitos que circundam seu processo de trabalho. Identificar os elementos que integram o marco conceitual de uma clínica do cuidado de enfermagem na terapia intensiva torna-se fundamental, pois, assim, têm- se melhores condições de conhecer como se conformam as práticas nesse setor e que sentido os aspectos que estruturam tal marco e guiam as ações assumem nele. Então, a questão central desta pesquisa é: quais elementos integram o marco conceitual para uma clínica do cuidado de enfermagem na terapia intensiva? Objetiva- se propor um marco conceitual para uma clínica do cuidado de enfermagem na terapia intensiva. Método Pesquisa de campo, descritiva, de abordagem qualitativa, que se apoia no metaparadigma da enfermagem. Esse está centrado na inter-relação de quatro conceitos que fundam as ações e identificam os núcleos primários de interesse da profissão, sendo eles: enfermagem - ciência e arte de cuidar para que o indivíduo alcance um nível ótimo de saúde; ser humano - totalidade individual, com qualidades e potencialidades física, intelectual, emocional, social e espiritual; saúde - bem-estar físico, mental e social, que resulta do equilíbrio do organismo, sendo a doença um desequilíbrio que ameaça a vida e a segurança e ambiente - processo saúde/doença que deriva da relação do sujeito com o ambiente. O campo foi a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital federal no município do Rio de Janeiro, no qual atuam 24 enfermeiros. Participaram 21, 17 mulheres e quatro homens que atenderam os critérios de inclusão: atuarem diretamente na assistência, no período da pesquisa, de janeiro a junho de 2011. Foram excluídos três deles (afastados do serviço e gerentes). Majoritariamente, os enfermeiros tinham até 10 anos de formação (61,9%); 52,4% com até 35 anos de idade; 57,1% com dois empregos, atuação no turno diurno e especialistas em terapia intensiva; 66,7% escolheram trabalhar na UTI e 71% com até 5 anos de atuação nessa UTI. Os dados foram produzidos por meio de entrevista individual, com aplicação de um roteiro semiestruturado, com questões abertas sobre a prática diária na UTI, estilo de cuidar, emprego de tecnologias dentre outros. Realizou-seteste-piloto do 35 instrumento com enfermeiros de UTI de outra instituição para adequação das perguntas e verificação de sua funcionalidade para o alcance do objetivo proposto. As entrevistas foram realizadas no campo de estudo, no período da tarde, e tiveram duração média de uma hora e trinta minutos, sendo gravadas eletronicamente. A análise foi realizada por meio do software Alceste 2010, que é um método informatizado de análise textual. Divide o texto em Unidades de Contexto Elementar (UCE) que distribui o vocabulário em classes lexicais. O perfil de cada classe corresponde às palavras mais associadas a essas, e cuja associação é calculada por um qui-quadrado (chi2). O Alceste gerou um relatório com 58% de aproveitamento do texto e seis classes lexicais. Analisouse o conjunto das seis classes e a relação entre elas, explorando-se especificamente os léxicos de classes que pudessem retratar a discussão do marco conceitual. Os conteúdos das classes, bem como seu aproveitamento quantitativo, são: classe 1 tratou das funcionalidades da tecnologia (10,4%), classe 2 tratou dos elementos organizativos dos estilos de cuidar (10%), classe 3 tratou do cotidiano assistencial (18,1%), classe 4 tratou dos fatores estruturais externos ao cuidado (19,0%), classe 5 tratou da prática de cuidar com a tecnologia (11,6%) e a classe 6 tratou das características do paciente como indicador do trabalho no CTI (30,9%). Realizou-se, também, a técnica de análise temática de conteúdo das entrevistas, rastreandose nos depoimentos a ocorrência e coocorrência dos temas, com aplicação do procedimento por milha. Essa técnica foi complementar para se captar conteúdos temáticos que traduzissem, de forma expressa ou latente, os elementos do marco conceitual que não foram identificados pelo Alceste. Os núcleos de sentido elaborados foram contrastados com as classes lexicais produzidas pelo Alceste, enriquecendo os exemplos de conteúdos ilustrativos dos eixos de análise, à luz do metaparadigma da enfermagem. Considerando tal triangulação de técnicas de análise e a apreensão do metaparadigma da enfermagem, organizou-se a caracterização dos elementos envolvidos no marco conceitual em quatro eixos: enfermagem - ciência e arte; ambiente; ser humano e ser humano e saúde. De acordo com esses eixos, as UCE geradas pelo Alceste e as Unidades de Registo (UR), recortadas da análise de conteúdo, ilustram a apresentação descritiva dos elementos que integram o marco conceitual do cuidado de enfermagem em terapia intensiva. 36 O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do hospital – campo da pesquisa (Protocolo nº35/10). A participação dos enfermeiros foi voluntária com assinatura com assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Seção 3.2: Enfermagem - ciência e arte Saberes especializados: instrumental acessado pelos enfermeiros para o desenvolvimento das suas ações na unidade de terapia intensiva. Orienta a aplicação de tecnologias no cuidado e o manejo clínico do cliente, delineando um perfil para trabalho nesse setor. As palavras da classe 2, tais como buscar (chi²:78,9), conhecimento (chi²:72,5), querer (chi²:32,5) ilustram esses saberes, assim como as presentes na classe 5. A apropriação dos saberes inerentes ao trabalho na UTI é uma exigência para o desempenho das ações, sobretudo em face das tecnologias avançadas. Isso, por sua vez, depende de esforços individuais de busca desse conhecimento, que irá se refletir na prática por meio de um estilo de cuidar próprio, diferenciando as formas de cuidar ante o cliente. Primeiro tem que ter vontade de aprender, mas depois que essa vontade passa, que você domina, você vira tarefeiro, aí você tem que buscar mais, mas vai de cada um querer buscar mais ou não (UCE 3405, enf. 20). Você tem que detectar o problema e verificar as causas daquilo ali, mas para isso tem que saber a clínica, e você tem que estar perto do paciente, tem que estar olhando para ele e junto dele (UCE 1912, enf. 13). A despeito do perfil, o domínio do conhecimento especializado teórico e prático é em si uma obrigação do profissional que opta por atuar nesse setor. Em vista disso, organiza-se um conjunto de características pessoais e profissionais para dar sustentação a esse requisito. Na classe 2, as palavras adaptar (chi²:44,8) e perfil (chi²:39,7) mostram que a adaptação e o perfil englobam a atualização do saber para manejar os instrumentos de cuidado. Na hora que você faz uma seleção, você tem que fazer de acordo com o perfil de cada um, porque realmente se não tem perfil não vai se adaptar, não se adapta (UCE 3336/3329, enf. 20). Ter agilidade em determinadas situações, não é só agilidade, tem que saber manusear as coisas, tem que saber interpretar as coisas, tem que saber lidar com as coisas, manipular as coisas (UCE1435, enf. 9). 37 Atividades assistenciais: compreendem um conjunto de ações de cunho gerencial e de atenção direta ao cliente, abarcando procedimentos técnicos, avaliação e intervenção clínica, registros, suporte medicamentoso, diálogo, uso de tecnologias. A atividade burocrática de cunho medicamentoso envolve planejar a administração de medicamentos e essa preocupação cotidiana do cuidar aparece na classe 3, através dos léxicos medicação (chi²:201,7), horário (chi²:97), prescrição (chi²:74,1). Você tem um acompanhamento, a prescrição já está aprazada, você só vai tirar, você tira a medicação para não atrasar o horário, para o técnico administrar a medicação (UCE 1544, enf. 10). O que é prioridade para o sistema hoje eu tenho que cumprir, porque se eu não perder a manhã quase toda tirando a medicação, a medicação do horário da manhã não vai ser feita (UCE 755, enf. 5). A execução do banho (chi²:89,9), curativo (chi²:88,1) e passagem de sonda (chi²:39,1) são exemplos de atividades assistenciais diretas que mostram também o interesse do enfermeiro pelo cuidado procedimental no dia a dia dos seus afazeres. A gente costuma entrar nos banhos com os técnicos, faz todos os procedimentos invasivos, faz o exame clínico, a gente tira as medicações, estamos falando de cuidado (UCE 3032, enf. 19). Na hora de virar (no banho) já fico lá de vez, faço todos os curativos que tem que fazer, já examino, já saio de lá sabendo o que fazer, para você ir lá antes ficar só segurando, jogando aguinha (UCE 846, enf. 6). Interação: utilizada pelo enfermeiro durante as ações de cuidado ao cliente para apreensão de suas necessidades e realização de intervenções. Ao interagir com o paciente, o enfermeiro aplica referenciais clínicos e também se pauta na intersubjetividade. Se a interação for utilizada como instrutiva (protocolar) do cuidado, guia-se somente pela informação clínico-hemodinâmica produzida pelos equipamentos; se tiver uma intenção construtiva, de negociação e coparticipação produz subjetividades que vêm ao encontro dos princípios da ciência e da arte da enfermagem. Esse tema da interação com o cliente na terapia intensiva emergiu da análise de conteúdo temático com 17 UR. A interação instrutiva é evidenciada quando o enfermeiro, diante do ambiente da UTI, classifica o doente a partir do seu nível de gravidade, voltando sua atenção para os dados objetivos daquele de maior índice. A 38 interação com o cliente é clínica, desconsiderando demandas subjetivas, principalmente a daqueles de menor gravidade. Existem pessoas que estão com um olhar mais direcionado para o respirador, para o monitor, enfim, para as monitorizações, para a máquina de uma forma geral (...) por isso que as pessoas falam que não gostam, porque as pessoas preferem um paciente sedado, que não interage, e comatoso, porque você não vai ter uma troca com o paciente e vai se basear somente na monitorização (UR, Enf. 8). O gerenciamento administrativo e assistencialé fator que contribui para a interação instrutiva, pois o atendimento das rotinas, mormente as burocráticas, distancia o enfermeiro do cliente, que se apoia nos equipamentos e vai até ele apenas em momentos pontuais. O plantão fica esse caos de agitação, procedimentos acontecendo ao mesmo tempo, quando você acaba de fazer uma rotina aí já vem o próximo horário, para você dar continuidade ao serviço, aí me incomoda não conseguir ver nem o rosto do paciente. Não sei se é o dia a dia, acaba acontecendo de o enfermeiro estar mais distante do paciente e mais próximo da máquina (...) sobra até pouco tempo para ir aos leitos (UR, Enf. 4). Na condição construtiva há envolvimento com o cliente, com o intuito de entender a vivência do adoecimento em seu contexto de vida. Importam as informações clínicas, mas também se valoriza o diálogo com ele e a família, permitindo conhecê-los integralmente. Eu acho que aqui tem pessoas que se preocupam com esse aspecto subjetivo sim. Tem pessoas que se envolvem com o paciente, mas lidam com isso de uma forma muito mais descontraída (UR, Enf. 8). Em síntese, Enfermagem na UTI traduz-se pela execução de atividades assistenciais que demandam o domínio de saberes especializados pautados na interação mediada por aspectos clínicos e intersubjetivos, que expressam a ciência e a arte da profissão. Seção 3.3: Ambiente Contexto de trabalho na terapia intensiva: cenário em que se processa o trabalho do enfermeiro, composto por especificidades ambientais, estruturais e institucionais que interferem no cuidado, pela geração de sentimentos positivos e negativos, a partir da experiência vivida. A estrutura da instituição é entendida como uma variável externa ao cuidado, mas presente no contexto onde ele se realiza que implica na sua qualidade. Isso 39 porquê um número reduzido de funcionários ou a falta de material produz condições de trabalho inapropriadas que provocam sobrecarga no profissional, repercutindo no cuidado, situações alertadas na classe 4 nos termos estrutura (chi²:70,2), serviço (chi²:51,1), hospital (chi²:41,5). Existem fatores externos, outras variáveis que vão interferir no cuidado, e acho que a minha principal preocupação hoje é essa, a gente estar no serviço público que tem uma estrutura deficiente (UCE 3694, enf. 21). Em alguns momentos o cansaço é forte, e isso acaba sendo nítido não só nas conversas, mas até na figura do enfermeiro, as questões fora da assistência acabam interferindo nesse cansaço (UCE 3769, enf. 21). As relações de trabalho entre os profissionais que compõem a equipe são outro aspecto da classe 4 que exemplificam essa influência externa. As palavras enfermeiro (chi²:157,8), profissionais (chi2:96), interação (chi2:40,3), relacionamento (chi2:32,4), médico (chi²-36,6) revelam assimetrias e conflitos e seus nexos com o cuidado prestado. No geral o relacionamento é bom, a maioria é de pessoas que estão ali dentro na maior parte do tempo: fisioterapeutas, médicos e enfermeiros. Com relação às pessoas de fora, da terapia nutricional, a gente não tem uma relação, fala o básico, eles falam às vezes coisas que a gente não concorda (UCE 2753, enf. 17). Agora eu acho que lá a gente não consegue ter uma interação muito boa com, não é interação, eu acho que os médicos, os intensivistas lá que não são intensivistas (UCE 3099, enf. 19). Tecnologia na terapia intensiva: instrumento potencializador da recuperação do cliente aplicado pelos enfermeiros, com base nos dados objetivos gerados pelos equipamentos. Seu uso é mediado por valores e saberes profissionais. Sua face cuidativa é expressa na classe 1 quando utilizada para avaliar o cliente, identificar, direcionar e prever as alterações clínicas. As palavras tecnologia (chi²:275,74), cuidado (chi²:116,9) e tecnológico (chi²:103) apontam seu uso pragmático na assistência. A tecnologia favorece uma melhor avaliação, te dá maior segurança no cuidado e possibilita questões adiante, mais concretas do que quando você não a tem a seu favor (UCE 2210, enf. 15). O alcance desse uso pragmático implica proximidade ao paciente. A palavra ‘questão’ (chi²:83,1) denota que a utilização da tecnologia apela aos valores 40 profissionais, sobretudo o da dignidade humana, na resolução das necessidades integrais do cliente. O cuidado de enfermagem não pode ser deixado de lado, no sentido de prevalecer a questão da tecnologia em detrimento daquela questão de estar próximo do paciente, cuidando (UCE 2211, enf. 15). A face organizativa do trabalho significa que o enfermeiro a utiliza para gerenciar as respostas clínicas do cliente à distância, enquanto realiza suas atividades administrativas. Tal funcionalidade da tecnologia demarcada na classe 1 pelas palavras administrativo (chi2:96,8) e distante (chi²:66,7) mostra que o enfermeiro se volta para as atividades administrativas por ser mais cômodo para ele. Essa questão da tecnologia no cuidado é muito mais dividida com questões administrativas (...) hoje ele tem muito mais atividade administrativa para cumprir e aí ele prioriza isso (UCE 2273/2245, enf. 15). Ultimamente, como o enfermeiro permanece mais distante do leito no seu trabalho, deixando a cargo do técnico de enfermagem essa execução, o procedimento fica mais descoberto da observação coerente que o enfermeiro tem, embora muitos profissionais o fazem por comodidade, por facilidade (UCE 2218, enf. 15). Ambiente de UTI é tecnológico, possui dinâmica interna própria em que os equipamentos influenciam no tipo de cuidado prestado ao paciente crítico. As mudanças ocorridas nesse ambiente interferem no trabalho que lá se desenvolve. Seção 3.4: Ser humano Paciente de terapia intensiva: ser humano singular, com características que o definem como específico a esse cenário, requer acompanhamento intensivo do continuum saúde/doença por meio de recursos avançados e demanda cuidados técnicos e sensíveis. As concepções ligadas ao paciente estão presentes na classe 6, principalmente pelas palavras falar (chi²:76,3), paciente (chi²:67,8), acordado (chi²:53,1), sedado (chi²:41,2) e lúcido (chi2:39,6). Reconhecese que o trabalho do enfermeiro na UTI incita nesse a vivência de sentimentos a partir da condição de comunicação apresentada pelos clientes. Quando o cliente acorda e fala após uma fase crítica, denota os efeitos do trabalho do enfermeiro, que se sente gratificado, mas a preferência ainda é pelo cliente sedado, pela menor ocupação, pois, quando acordado, as solicitações e a 41 demanda emocional são inúmeras. Isso revela a imagem-tipo do paciente ideal de UTI: grave/sedado/entubado/recuperável. Essa é a questão da evolução que eu já falei, ver o paciente gravíssimo sair daqui bem, rindo, falando, isso é super supergratificante para mim, não me vejo trabalhando de outra forma (UCE 2944, enf. 18). Tem pessoas, como eu já ouvi falar aqui: ah, não me coloca com paciente acordado, eu prefiro paciente sedado, não me coloca com esse paciente, porque esse paciente solicita (UCE 1227, enf. 8). Enfermeiro de terapia intensiva: profissional com conhecimentos formais, científicos e especializados, entre outros atributos, que o habilita a prestar cuidados a pessoas em estado crítico com auxílio de tecnologias. Alia técnica e sensibilidade em vista de sua recuperação. Os atributos pessoais/profissionais que compõem a figura do enfermeiro intensivista se destacam na classe 2, abarcando aspectos relativos ao cliente e aos equipamentos, como gostar, agilidade, estabilidade, responsabilidade, manejo/interpretação, identificados nas UCE a seguir. Ter estabilidade emocional para trabalhar lá, saber trabalhar em equipe (UCE 1435, enf. 9). Acho que tem que ter respeito e responsabilidade, comprometimento, conhecimento, ser humano, humanização, tratar o paciente como ser em todos os aspectose companheirismo (UCE 2553, enf. 16). Em síntese, os seres humanos estão em constante inter-relação. O enfermeiro de UTI exerce um trabalho especializado e possui atributos típicos para cuidar de pacientes que têm características de estado crítico que despertam afetos que orientam seu modo de cuidar. Seção 3.5: Saúde Referenciais assistenciais: princípios pautados em bases teórico-filosóficas no âmbito da saúde e enfermagem que orientam linhas assistenciais na terapia intensiva. A existência de um referencial biomédico, pautado em um conceito de saúde de base racional, é observada em trechos de UCE da classe 3, quando os enfermeiros abordam a execução de ações automatizadas para atender as necessidades biológicas, as quais ocorrem de maneira desarticuladas às outras dimensões do cuidado do cliente. Dei banho, evolui meus pacientes, não faço mais nada, negativo, não tem porquê ser assim, as coisas poderiam ser programadas, embora dependa da prescrição, deveria estar fazendo junto (UCE 2529, enf. 16). 42 Tudo isso vai gerando uma angústia muito grande, esse estar da gente de fazer as coisas, que às vezes a gente faz no automático, vou fazer uma medicação ali, foi ali onde está o acesso fiz (UCE 733, enf. 5). A classe 5 também traz impressa os referenciais alinhados ao ambiente e à profissão, pautados na dignidade humana, na medida em que mostra os esforços da equipe para a recuperação do paciente crítico, aplicando um cuidado intensivo e terapêuticas avançadas. O doente fazendo febre, por quê? Taquicárdico, hipertenso, aumentar a noradrenalina ou diminuir? Preciso estar avaliando, preciso tomar iniciativa, essas coisas servem para intervir (UCE 1634, enf. 11). O referencial de saúde é entendido como: estado de equilíbrio, alcançado pela aplicação de cuidados terapêuticos avançados voltados à recuperação biológica do paciente crítico, e de cuidados expressivos direcionados à dimensão integral do ser humano. Seção 3.6: Considerações e discussões A enfermagem entendida como ciência e arte de ajudar abarca de um lado o saber teórico, com seus princípios e conceitos organizadores, e de outro o saber prático oriundo da experiência vivida. Na UTI, a ciência e a arte se materializam nos conhecimentos especializados, cuja importância é demarcada nas produções dessa área. Estudo com profissionais de UTI móvel sobre o cuidado intensivo à pessoa em risco de vida evidenciou o conhecimento como um dos integrantes do núcleo central da representação social, constituindo a essência do cuidado intensivo. Outros autores defendem a existência do cuidado tecnológico na UTI, em que a aplicação de um gradiente maior de conhecimento pelo enfermeiro direciona sua atenção na busca de dados objetivos e subjetivos oriundos do cliente, bem como objetivos provenientes dos equipamentos. Na UTI, o domínio de conhecimento se evidencia e define o estilo de cuidar do enfermeiro, principalmente pelas exigências relacionadas ao manejo dos equipamentos. Essa peculiaridade ganha repercussão internacional pela discussão da necessidade de se utilizar a expertise clínica do enfermeiro na prevenção de incidentes envolvendo as tecnologias. Esses incidentes demonstram a influência dos 43 conhecimentos técnicos na promoção do uso seguro dos equipamentos na UTI, suscitando a participação ativa do enfermeiro nesse processo. Quanto à arte da enfermagem, a relação intersubjetiva mediada pela interação vem sendo foco de interesse nos estudos pelo fato de as diferentes dimensões envolvidas no cuidado intensivo não serem compreendidas como um todo complexo e integrado. Nessa direção, a preocupação ocorre na tentativa de resgatar o respeito aos aspectos que dão sustentação à expressão de tal arte como, por exemplo, as relações e interações interpessoais. Há profissionais que preferem os pacientes “quietinhos” e familiares que não incomodam ou não demandam envolvimento(8) e, ao encontro desse resultado, o depoimento da Enf. 8 reitera a predominância de referenciais clínicos objetivos de base tecnológica, orientando a interação do enfermeiro com o cliente. O estímulo à comunicação efetiva entre os envolvidos no cuidado é uma realidade atual, no sentido de que as falhas não tragam danos aos pacientes, já que se estima que muitos dos erros e eventos adversos ocorrem devido a falha na comunicação. Isso revela a importância do entendimento da complexidade do cuidado e da relação dialógica como base para a interação e vivência da intersubjetividade, despertando a percepção sensível no outro. O ambiente em saúde é parte de um sistema no qual se situam os indivíduos que constituem a rede de cuidados, os quais interagem entre si e com o ambiente, influenciando-se mutuamente. As influências do contexto no cuidado têm diferentes abordagens na literatura, a exemplo da saúde do trabalhador, pelas configurações do trabalho na atualidade, em que ritmo, carga horária e controle rigoroso são características ainda mais acentuadas nas UTIs. Nos dados sobre os fatores de riscos à saúde dos trabalhadores de UTI, destaca-se a organização do trabalho, classificada como grave, e as relações socioprofissionais, avaliadas como risco de moderado a crítico, em vista das disputas profissionais. Apesar do eixo de análise sobre o contexto não se referir especificamente à saúde do trabalhador, indica que lidar diariamente com contingências estruturais e ambientais produz experiências negativas que podem comprometer a saúde e impactar os estilos de cuidar, mostrando as relações entre a atuação profissional e o contexto no qual ocorre o cuidado. 44 As tecnologias relacionadas aos equipamentos geram representações que guiam as maneiras com que os enfermeiros lidam com elas. Pesquisas internacionais trazem ideias que associam o sujeito-máquina a uma unidade indissociável interdependente, numa relação de simbiose, ou que indicam que a tecnologia modifica a dinâmica entre enfermeiro e paciente, pois a linguagem comunicada por ela e traduzida pelos enfermeiros os coloca numa posição distante dos clientes. Tais aspectos, no contraponto com os dados, sobretudo quando os sujeitos atribuem funções à tecnologia, revelam o lugar central que essa ocupa nessa clínica, ou seja, a partir do sentido que o profissional lhe atribui é que se organiza a prática de cuidar do cliente na UTI. O conceito de ser humano, em torno do qual se organizou uma das categorias de análise, define os indivíduos envolvidos nas ações e se coadunou com o de outras produções, pois esse ser convive e se relaciona com outros semelhantes, sendo histórico, social, singular, integrado, constituído de uma dimensão física e de outras que abarcam os sentimentos, desejos, pensamentos, lembranças. Ao tratar das dificuldades de comunicação do enfermeiro com o cliente, traz-se à tona sua tipificação, qual seja: aquele que não se comunica e com pouca demanda interativa. Essa tipificação apoia-se na dimensão imagética do cuidado intensivo, isto é, um paciente crítico/grave que porta equipamentos avançados e requer atendimento especializado nas situações de urgência/emergência. O paciente ideal é ainda visto nas fontes de sentimentos de prazer desses enfermeiros: cuidar de um paciente grave, com tecnologias e perceber sua recuperação até o momento em que consegue falar, quando deve ter alta. No interesse dos elementos da clínica, essa figuratipo anunciada pelo Enf. 3 demanda intervenções, a fim de reorganizar os significados que constroem essa representação, e que implica em práticas excludentes. Sobre o perfil, as discussões situam-se numa adequação que atenda às peculiaridades desse setor. Assim, buscam-se qualidades pessoais e técnicas que assegurem competência clínica no manejo das tecnologias e das intercorrências com o cliente, com base nos conhecimentos, habilidades e julgamento.Por fim, o arcabouço teórico da prática de enfermagem traz uma filosofia de cuidado em que o conceito saúde depende da harmonia do homem com a natureza, num estado de equilíbrio entre diferentes componentes, mente, corpo e ambiente. Todavia, esse referencial de natureza holística nem sempre é aplicado na UTI, caso 45 dos enfermeiros que se referem às suas atividades assistenciais como práticas simplificadas pautadas em necessidades biológicas. Assim, problematizam-se as correntes que os orientam, buscando incorporar o referencial de integralidade no cuidado da clientela, apreendendo a complexidade de forma multidimensional, e, desse modo, dando condições para atender o ser humano globalmente. A articulação dos elementos que constituem a clínica do cuidado de enfermagem na terapia intensiva permite estruturar seu marco conceitual que, por sua vez, explica tal clínica e lhe serve de arcabouço. Encontramse nas publicações definições de clínica como, por exemplo, campo de saberes e práticas biopsicossociais que interagem de maneira circular e se refletem sobre os profissionais nos seus modos de atuar. Na enfermagem, os autores defendem a definição de uma clínica própria dessa área, já que foi apropriado um plano de clínica médica, assumindo um papel de organizadora dos espaços e corpos, objetivando os sujeitos e suas necessidades. Portanto, é preciso reinventar a clínica na enfermagem calcada na valorização do saber do outro em paralelo ao científico, uso de ferramentas de escuta em que a palavra é a matéria-prima, o objetivo central é o cuidar, a doença é parte da experiência da existência do sujeito. Apesar da limitação de ser realizado com uma única equipe de um campo específico hospitalar, o estudo indica que a clínica do cuidado de enfermagem na terapia intensiva se pauta na interação de seres humanos, a partir da qual, modulada pelos saberes especializados e tecnologia, o enfermeiro executa atividades assistenciais voltadas a um paciente crítico, que expressam sua ciência e arte de cuidar e refletem as características próprias do ambiente relativas ao trabalho e aos referenciais assistenciais de saúde, sendo esse seu marco conceitual. A contribuição deste estudo pode ser evidenciada pela proposicão de um marco conceitual, no qual os seres humanos e o ambiente se influenciam mutuamente, cuja alteração em um deles repercute no outro. Pensar intervenções nesses sistemas que visem a melhoria na qualidade do cuidado prestado é necessário. Pressupõese que intervir no contexto de trabalho impactaria diretamente a interface entre o enfermeiro e o paciente crítico; modificar os referenciais assistenciais de saúde traria interferência na expressão da ciência e arte da enfermagem, com maior qualidade às ações; investir nos saberes especializados do 46 enfermeiro repercutiria na execução das atividades assistenciais, especialmente na expressão da ciência da enfermagem. O marco conceitual para a clínica do cuidado de enfermagem na terapia intensiva compõe-se de elementos que se organizam em torno dos saberes especializados, atividades assistenciais, tecnologia, interação, contexto do trabalho, tipo de paciente e de enfermeiro próprios da terapia intensiva e dos referenciais assistenciais. Tais elementos são próprios da dinâmica desse cenário: objetivos em relação às tecnologias e subjetivos relacionados à interação humana. Tal marco conceitual indica ações voltadas: à formulação de políticas públicas no que tange ao número de funcionários, à formação dos enfermeiros intensivistas à luz do perfil profissional e de referenciais de integralidade, no nível da atenção direta ao cliente na mudança do modelo assistencial e na valorização dos sujeitos enquanto copartícipes face à Política Nacional de Humanização, com estratégias pautadas no diálogo e na negociação. 47 Unidade 4: O Enfermeiro no Gerenciamento do Centro Cirúrgico Seção 4.1: Introdução O centro cirúrgico (CC), também conhecido como unidade cirúrgica (UC) ou bloco cirúrgico (BC), refere-se a um espaço dentro da unidade hospitalar destinado a cirurgias de baixa, média e alta complexidade. Todavia, independentemente desse grau, o CC é um ambiente complexo, que requer profissionais qualificados e treinados, (estes por sua vez devem ser especialistas nas suas funções). É digno de menção, salientar que este local deve ser equipado com recursos tecnológicos, que muitas vezes são responsáveis pela manutenção da vida dos pacientes. (FIGUEIREDO, LEITE e MACHADO, 2006). Partindo desse pressuposto, Kurcgant et al. (1991), enfatiza que o CC deve estar sempre preparado para a cirurgia, e é de suma importância que todos os materiais e equipamentos estejam em seus devidos lugares, evitando atropelos, que podem expor o cliente a risco. Destarte, para quem está participando do ato cirúrgico, é desagradável e estressante a falta de materiais, a qual denota desqualificação e falta de profissionalismo dos indivíduos atuantes no local. A enfermagem é responsável por gerenciar e coordenar os profissionais que realizam esse trabalho. Para o paciente, o centro cirúrgico é um local desconhecido, com procedimentos cirúrgicos que, muita das vezes, invadem sua privacidade, despertando medo e ansiedade, tornando-o dependente da ação de terceiros. Por essa razão, o planejamento desse setor se torna tão relevante. De acordo com Marquis e Huston (2010), o planejamento é essencial e de extrema importância, e deve anteceder todas as funções administrativas. Essa ferramenta reconhece antecipadamente o que fazer; quem o fará; como; quando; e onde será feito. Trata-se de um processo proativo e deliberativo que reduz risco e incertezas. Quando realizado de forma eficaz, o gerente pode identificar metas a curto, médio e longo prazo, e, assim, assegurar mudanças necessárias que a organização necessita para alcançar os objetivos previamente elaborados. Outro ponto importante é a liderança, que, em enfermagem, não se difere muito das outras áreas, por ser um processo que concretiza a administração de pessoal na organização, compreendendo basicamente gerência ou coordenação de equipes. Na 48 formação do enfermeiro, com raras exceções, enfatiza-se o cumprimento de ordens e regras, a responsabilidade inquestionável a ele prescrita e o conhecimento direcionado ao cumprimento da assistência ao cliente hospitalizado. Segundo Figueiredo, Leite e Machado (2006), a equipe de enfermagem é responsável por atender o cliente em todas as fases da cirurgia: pré-operatório (antes do ato cirúrgico), transoperatório (durante a cirurgia) e pós-operatório (após a finalização da cirurgia). Para que haja total eficiência e eficácia nesse processo, o enfermeiro deve coordenar, gerenciar, realizar programas de treinamento e de educação continuada, verificar o bom funcionamento do CC e estar constantemente em processo de atualização. Não se pode deixar de mencionar que é praticamente impossível que não exista participação do enfermeiro na elaboração do mapa cirúrgico, isso porque ele detém todas as informações da rotatividade do setor, contribuindo para diminuir possibilidades de suspensões de atos cirúrgicos. O trabalho do enfermeiro no CC tem se tornado cada vez mais complexo, na medida em que há a necessidade de integração entre as atividades que abrangem a área técnica, gerencial, administrativo-burocrática, assistencial, de ensino e pesquisa, e na dimensão de sua atuação, por ser um profissional que atua diretamente com uma equipe diversificada profissionalmente. Sendo assim, esse estudo é relevante para evidenciar a importância do enfermeiro no gerenciamento e na coordenação do centro cirúrgico, descrevendo quais os principais problemas que o mesmo enfrenta e delineando, assim, possíveis soluções.Seção 4.2: Enfermagem da gerência à assistência Por gerenciar profissionais diretamente a ele subordinados, o enfermeiro, muitas vezes, na tentativa de proporcionar maior proximidade entre os profissionais de enfermagem, assume um estilo de liderança democrática ou participativa, porém, isso ocasiona conflito com a administração superior, levando o enfermeiro a moldar seu estilo de liderança para autocrático. Com isso, a equipe irá apenas executar suas ordens e, em consequência disso, produzirá quantitativamente bem, mas qualitativamente mal, e sempre sem o conhecimento da totalidade do trabalho realizado. Em serviços de saúde, é raro encontrar liderança democrática como modelo 49 de gerência em enfermagem, pois os níveis hierárquicos superiores são os responsáveis pela elaboração de normas a serem seguidas (KURCGANT et al., 1991). Segundo Spagnol (2005), o enfermeiro, para gerenciamento da assistência em enfermagem, utiliza métodos e estratégias de gestão oriundos da teoria clássica da administração. De acordo com Marquis e Huston (2010), a teoria clássica da administração tem sua caracterização pela ênfase na estrutura organizacional, com visão do homem econômico e pela máxima eficiência. Os autores citam ainda que Henri Fayol, em 1925, foi o primeiro a identificar as funções administrativas de planejamento, organização, comando, coordenação e controle. Em concordância, Silva, Mendonça e Costa (2005), discorrem sobre as atividades desenvolvidas pelo enfermeiro dentro do seu campo de atuação, abrangendo desde as gerenciais até as assistenciais. Também são trabalhadas a educação continuada, a pesquisa, a competência e a eficiência emergente da introdução dos princípios da administração científica e burocrática, como essenciais para o desenvolvimento de suas atividades no coletivo e na área hospitalar. Para que o enfermeiro desempenhe uma gerência inovadora na busca pela melhoria na qualidade da assistência de enfermagem, com maior satisfação para a equipe e organização às quais presta serviço, a liderança e a comunicação são estratégias fundamentais. Além disso, o embasamento teórico consiste em um norteador nesse processo. Dar ênfase na comunicação é extremamente essencial, pois a mesma aproxima o líder de seus liderados (GALVÃO et al., 2000). De acordo com Spagnol (2005), a gerência de enfermagem, especificamente a desenvolvida no âmbito hospitalar, tem assumido uma relevância significativa na articulação entre os vários profissionais da equipe, organizando o processo de trabalho da enfermagem para a concretização de ações junto aos clientes, na busca por melhoria nos serviços prestados, atendendo, assim, as necessidades das pessoas em processo de doença-saúde. O autor destaca, também, que na enfermagem o enfermeiro é o profissional legalmente responsável por assumir as atividades gerenciais, a quem compete a coordenação de auxiliares e técnicos em enfermagem. Destarte, Svaldi e Siqueira (2010) mostram que, na prática, a enfermagem constrói um processo expressivo na área de saúde hospitalar, tomando decisões coerentes e rápidas conjuntamente com outros profissionais, ou, até mesmo, de forma independente, contribuindo de maneira significativa para manutenção e recuperação da vida. Os profissionais de enfermagem conhecem todos os espaços que constituem 50 o ambiente hospitalar. Os autores acreditam que o enfermeiro tem potencial transformador, devido à capacidade de pensar, elaborar respostas aos problemas emergentes e agir criativamente na busca do equilíbrio, para si e para os demais conjuntos da organização, adquirido no decorrer da sua atividade realizada como coordenador e gerente de sua equipe. Na prática, o enfermeiro tem se limitado ao cumprimento de cuidados rotineiros, à execução de prescrições médicas, às exigências da administração da organização hospitalar. A administração da assistência de enfermagem tem como centro o cliente é orientada para a assistência e envolve o planejamento, a direção, a supervisão e a avaliação das atividades desenvolvidas pelos seus subordinados, visando o atendimento das necessidades dos pacientes. O planejamento conduz a uma organização do trabalho. Para que isso se efetive, faz se necessário que os indivíduos responsáveis pela administração e os que levarão a efeito as propostas, trabalhem de forma integrada. (KURCGANT et al., 1991). Seção 4.3: Gerência do enfermeiro no centro cirúrgico O centro cirúrgico é um território desconhecido para o cliente, repleto de pessoas que expõem e invadem seu corpo. Desta forma, o enfermeiro deve orientar sua equipe para que os mesmos não se tornem profissionais mecanizados, ao ponto de atender o cliente como se esses fossem meras máquinas. A comunicação nesse local deve ser pautada e instrumentalizada, usufruindo de um diálogo que proporcione conforto e equilíbrio emocional para o cliente nesse momento (FIGUEIREDO, LEITE e MACHADO, 2006). Para Feldman, Ruthes e Cunha (2008), a criatividade e a inovação são recursos que os profissionais de enfermagem estão utilizando cada vez mais para a realização de seu trabalho, inclusive em local repleto de medo e incertezas como o CC. O enfermeiro é o profissional que aplica essas competências, pois, às vezes, é necessária a busca por soluções imediatas e inéditas para prestar uma assistência segura, prevendo riscos e aprimorando a qualidade. Do ponto de vista dos autores, as organizações estão cada vez mais buscando profissionais com essas competências, aliadas a uma assistência humanizada na prestação dos serviços. No entanto, a área de enfermagem, no que diz respeito às atividades assistenciais e gerenciais, envolve ações com complexidade e especificidade, o que 51 demanda conhecimento e estudos de modelo de gestão na aquisição de novas ferramentas que possam viabilizar o trabalho. A tendência nas organizações de saúde é a busca de competências que auxiliem os profissionais nas suas necessidades, em especial nos serviços de gerência. Cabe, portanto, ao enfermeiro gestor estar atento e preparado às mudanças, buscando alternativas sustentáveis para o serviço de enfermagem, contribuindo com a organização de saúde na melhoria da gestão, o que impacta o atendimento aos clientes (RUTHES e CUNHA, 2007). Em busca de técnicas modernas e inovadores, o CC está em constante evolução tecnológica, utilizando inúmeros equipamentos para suprir o atendimento em diferentes especialidades médicas. Para isso, a atuação do enfermeiro deve ser baseada em um processo de trabalho planejado, com uma série de ações integradas, para proporcionar uma assistência adequada ao cliente, à equipe cirúrgica e de enfermagem, como serviços gerais e de manutenção, entre outros. Profissionais atuantes no local (SILVA E GALVÃO, 2007). No centro cirúrgico, a dinâmica do trabalhador, com o relacionamento dos profissionais que atua na referida unidade, deve acontecer de forma harmoniosa. Sendo assim, é indispensável um trabalho integrado, com profissionais treinados e capacitados, favorecendo o enfrentamento das exigências impostas pelo referido ambiente, visando à segurança e ao bem estar do cliente. O centro cirúrgico é um local fechado, de risco, repleto de normas e rotinas; considerando o número elevado de procedimentos anestésico-cirúrgicos realizados e a complexidade da unidade, exige-se do enfermeiro gerente, além de conhecimento científico, responsabilidade, habilidade técnica, estabilidade emocional, aliados aos conhecimentos de relações humanas. Dessa forma, favorece-se a administração de conflitos que são frequentes, em especial devido à diversidade de profissionais que ali atuam (STUMM, MAÇALAI e KIRCHNER, 2006). Figueiredo, Leite e Machado (2006) salientam que o enfermeiro que realiza a gerência do CC, tem relação com toda a organização hospitalar, apesar de se tratar deum ambiente fechado, de exclusividade para os profissionais que ali trabalham, e para os clientes que irão ser submetidos a algum procedimento cirúrgico. O enfermeiro tem que estar em constante comunicação com a unidade de recuperação pós- anestésica, a central de material e esterilização, a unidade de terapia intensiva, os quartos privativos, as enfermarias, a portaria/recepção da instituição etc., para que assim ele possa dimensionar as cirurgias, bem como os clientes pós-cirúrgicos. 52 De acordo com Maquis e Hustun (2010), o conflito é resultante da discordância interna ou externa por diferenças de ideias, valores ou sentimentos entre duas ou mais pessoas. Uma vez que a liderança tem relações interpessoais com indivíduos que apresentam uma série de valores, como antecedentes e metas diferentes, diversificação de valores econômicos e profissionais, escassez de recursos etc., são recorrentes os conflitos nas organizações. Para resolver esses conflitos, o enfermeiro deve conhecer sua origem, minimizar as condições que influenciem situações conflitantes, realizar o mapeamento das responsabilidades, promover métodos de negociação, estabelecer consenso entre as partes, entre outros. No entanto, os autores enfatizam que pouco conflito resulta em estagnação organizacional e pode imobilizar os funcionários. Assim, o enfermeiro deve ter uma gestão estratégica pré- definida e, para isso, o planejamento é crucial. Seção 4.4: Cotidiano da enfermagem no centro cirúrgico O estilo de vida contemporâneo, aliado às condições de trabalho A que muitos profissionais de saúde estão expostos, tornou-se uma das preocupações e que podem influenciar o bem estar psicossocial do indivíduo. Entre os problemas mais comuns, está o estresse, que coloca diretamente em risco a saúde dos membros da organização, e tem como consequência o desempenho ruim, a baixa moral, a alta rotatividade, o absenteísmo e a violência no ambiente de trabalho. Em se tratando de enfermeiros atuantes em ambientes fechados, o risco de desenvolver problemas de saúde é ainda maior. Segundo o estudo realizado, a maioria dos trabalhadores de enfermagem encontram-se em uma exposição intermediária ao estresse ocupacional. (SCHMIDT, 2009). Por isso, dá-se importância a programas que criem um ambiente motivador e diferenciado. O enfermeiro gerente do centro cirúrgico, como cita Svaldi e Siqueira (2010), deve apoiar-se nas relações pessoais, sendo essencial o cultivo e o fortalecimento dos valores dos seres humanos, entre os quais, o respeito, a gentileza e a amorosidade, a humanidade, os quais estão além do cumprimento das regras e leis trabalhistas. Além das funções assistenciais competentes exclusivamente aos enfermeiros, o desenvolvimento de procedimentos de intervenção vêm demandando novas práticas não relacionadas diretamente ao cuidado, como o controle de infecção 53 hospitalar, o controle de qualidade, a captação de órgãos, a gerência da higiene hospitalar, entre outros. Porém, essas novas funções não devem de forma alguma desmerecer ou atrapalhar os serviços assistenciais ao cliente (BARTOLOMEI E LACERDA, 2006). Segundo Santos, Garlet e Lima (2009), a gerência de enfermagem tem sido amplamente marcada por questões burocráticas inerentes ao desenvolvimento da profissão, como a organização do trabalho e o gerenciamento do setor saúde, especialmente no âmbito hospitalar. Constituíram-se historicamente, sob influência taylorista/fordista da administração clássica e do regime burocrático. Para que isso seja minimizado e se tenha uma atividade gerencial mais eficiente, há a necessidade da incorporação de novos conhecimentos e habilidades ao exercício gerencial do enfermeiro, como competência relacional, ética, política e humanista. Sendo assim, o bom desempenho do CC está diretamente condicionado ao bom gerenciamento e coordenação realizado pelo enfermeiro, combinados ao bom estado de conservação dos materiais, instalações físicas, equipe especializada e recursos tecnológicos. Os autores propõem, para maior efetividade nos processos desenvolvidos, a criação de programas de avaliação, com base em critérios previamente escolhidos, garantindo, ao enfermeiro gestor, a verificação da qualidade da sua gestão. Para isso, podem ser adotados indicadores, nos processos, de resultados e da estrutura, destarte, o enfermeiro poderá melhor desenvolver seu plano de atuação ou corrigir erros, melhorando a gestão do centro cirúrgico (DUARTE E FERREIRA, 2006). Muitas atividades são desenvolvidas pelo enfermeiro do centro cirúrgico, e o seu estilo de liderança condiciona diretamente o sucesso ou fracasso de suas atividades, como enfatiza Spagnol (2005). Por trabalhar em um local em que há equipes multiprofissionais atuando, o bom exercício de sua gerência é fundamental. Para isso, o enfermeiro precisa deixar de supervalorizar somente o controle, a hierarquia, a ordem e a impessoalidade, para que assim possa ter uma prática que viabilize um processo de trabalho com base no diálogo, na participação e no debate junto à equipe, adotando, então, melhores decisões. Durante a graduação, o estudante de enfermagem cursa várias disciplinas, em sua grande maioria, direcionadas ao processo saúde/doença; poucos são as destinadas aos processos gerenciais e administrativo/burocrático. De acordo com Alencar, Diniz e Lima (2004), o enfermeiro tem sido, no decorrer de sua história, 54 associado ao conhecimento empírico, conhecimento científico, realizando suas atividades não apenas em normas disciplinares, mas também de acordo com a repetição decorrente de sua atuação. A enfermagem torna-se ciência em saúde, passando a exigir dos profissionais de enfermagem, procedimentos não mais mecanizados e, sim, técnicas sistematizadas e recursos gerencias em saúde. Os hospitais estão atendendo pacientes cada vez mais graves, e estes, em alguma fase de seu tratamento, dependerão de procedimentos realizados dentro do CC. É um equívoco grave considerar o CC como apenas mais uma unidade do hospital; este deve ser visto como o coração do mesmo, o qual, não raramente, recebe pacientes em condições de morte iminente. Portanto, um planejamento deve ser dimensionado para atender os casos previstos e também os imprevistos. O enfermeiro gestor do CC tem, por atividade, gerenciar o local, que, por sua vez, deve estar prontamente preparado para atender essa demanda. Os novos modelos de gestão têm exigido uma postura inovadora por parte dos gestores, e, portanto, é necessário desenvolver novas competências que contribuam para ampliação da vida organizacional, bem como para o reconhecimento do potencial dos profissionais que integram a equipe de saúde. É imprescindível, para a qualidade, a eficácia no funcionamento do setor. 55 Referências AMIN, Tereza Cristina Coury. O paciente internado no hospital, a família e a equipe de saúde: redução de sofrimentos desnecessários”, 2001, CARVALHO, Ariana Rodrigues Silva; PINHO, Maria Carla Vieira; MATSUDA Laura Misue; SCOCHI, Maria José. CUIDADO E HUMANIZAÇÃO NA ENFERMAGEM: REFLEXÃO NECESSÁRIA, , 2º Seminário Nacional Estado e Políticas Sociais no Brasil, 13 a 15 de outubro de 2005 – UNOESTE Campus de Cascavel. ROSSI, L. A. Processo de enfermagem: a ideologia da rotina e a utopia do cuidado individualizado. In: Cianciarullo, T.; Gualda, D.; Melheiro, M.; Anabuki, M. (org.). Sistema de assistência de enfermagem: evolução e tendências. São Paulo: Ícone; 2001. BAGNATO, Maria Helena Salgado e COCCO, Maria Inês Monteiro. Memória educativa e a tessitura de conceitos educacionais: experiência vivenciada na licenciatura em enfermagem. Rev. Latino-Am. Enfermagem [online]. 2002, vol.10, n.3 [citado 2011-05- 25], pp. 439-445. BATISTA N.A. Desenvolvimento docente na área da saúde: uma análise. Trabalho,Educação e Saúde 2005. DELL'ACQUA, Magda Cristina Queiroz e MIYADAHIRA, Ana Maria Kazue. Ensino do processo de enfermagem nas escolas de graduação em enfermagem do estado de São Paulo. Rev. Latino-Am. Enfermagem [online]. 2002, vol.10, n.2 [citado 2011-05- 25]. FARIA LR. Os primeiros anos da reforma sanitária no Brasil e a atuação da Fundação Rockefeller: 1915-1920. Physis 1995. FARIA, Josimerci Ittavo Lamana; CASAGRANDE, Lisete Diniz Ribas. A educação para o século XXI e a formação do professor reflexivo na enfermagem.Rev. Latino- Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 12, n. 5, out. 2004. FREIRE. P. Pedagogia do Oprimido. 9 ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1981. 63-87p. GEOVANINI, Telma. et al. História da Enfermagem: versões e interpretações. 2 ed. Rio de Janeiro: Revinter. 2005. GOODING, C.T.; PITTENGER, O.E. Teorias da aprendizagem na prática educacional. São Paulo, EPU/EDUSP, 1977. LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola Pública. São Paulo : Loyola, 1990. MANZOLLI, Maria Cecília. Relacionamento em Enfermagem: Aspectos psicológicos . São Paulo: Sarvier, 1983 MASETTO M. Docência na universidade. 3ª ed. Campinas: Papirus; 2001. 56 MELCHIADES, Ana Paula. O Paciente Hospitalizado: Um foco para Psicologia da Saúde, Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina, Palhoça, 2008. MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986. MOREIRA, Almerinda; Oguisso Taka. Profissionalização da Enfermagem brasileira. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. MOSCOVICI, Felá. Desenvolvimento Interpessoal: Treinamento em Grupo .5ªed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1995. BENEVIDES DE BARROS, R. & PASSOS, E. Humanização na saúde: um novo modismo?. Interface, 9(17): 389-394, 2005. PERSEGONA, Karin Rosa; LACERDA, Maria Ribeiro; ZAGONEL, Ivete Palmira. A subjetividade permeando o processo de cuidar em Enfermagem à criança com dor. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 9, n. 2. 2007. RIOS, Izabel Cristina, Caminhos da Humanização na saúde: prática e reflexão. São Paulo: Aurea, 2003. SANTOS, Claudia B. dos; LUCKESI, Luciana Barizon. A imagem da Enfermagem frente aos estereótipos: uma revisão bibliográfica. SANTOS, Roberto Vatan dos. Abordagens do processo de ensino e aprendizagem. 2005. SILVA, David Ribeiro. A importância atribuída pelo paciente hospitalizado quanto ao seu relacionamento com a equipe de enfermagem Trabalho Monográfico apresentado a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia –Campus de Jequié-BA, 2008. SMELTZER e BARE, Enfermagem Médico-Cirúrgica. 7ª edição, Volume 1, Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1994. SAWADA, N.O.; GALVÃO, C.M.; MENDES, I.A.C.; COLETA, J.A.D. Invasão do território e espaço pessoal do paciente hospitalizado: adaptação de instrumento de medida para a cultura brasileira. Rev.latino-am.enfermagem, Ribeirão Preto, v. 6, n. 1, p. 5-10, janeiro 1998. TAKAKI, Maria Harue; SANT’ANA, Débora de Mello Gonçalves. A Empatia como essência no Cuidado Prestado ao Cliente pela Equipe de Enfermagem de uma Unidade Básica de Saúde.Cogitare Enfermagem , Curitiba, vol. 9, n.1, p. 79-83, jan/jun, 2004. UCHÔA, Maria das Graças; LEMES, Maria Madalena Del Duqui. A Visão dos Enfermeiros que Trabalham em Unidade Hospitalar Pública sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem, 2010. 57 Matumoto S, Fortuna CM, Kawata LS, Mishima SM, Pereira MJB. Nurses’ Clinical Practice in Primary Care: a Process Under Construction. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2011;19(1):123-30. Vieira NA, Silveira LC, Franco TB. A formação clínica e a produção do cuidado em saúde e na enfermagem. Trab Educ Saúde. 2011;9(1):9-24. Oliveira DC, Vidal CRPM, Silveira LC, Silva LMS. O processo de trabalho e a clínica na enfermagem: pensando novas possibilidades. Rev Enferm UERJ. 2009;17(4):521- 6. Sousa LD, Lunardi Filho WD, Lunardi VL, Santos SSC, Santos CP. A produção científica de enfermagem acerca da clínica: uma revisão integrativa. Rev Esc Enferm USP. 2011;45(2): 495-500. Moreira LHO, Loyola CMD. Internação involuntária: as implicações para a clínica da enfermagem psiquiátrica. Rev Esc Enferm USP. 2011;45(3):692-9 Teixeira MLO, Ferreira MA. Cuidado compartilhado: uma perspectiva de cuidar do idoso fundamentada na educação em saúde. Texto Contexto Enferm. 2009;18(4):750- 8. Etienne MS. Éléments d’une clinique en soins. RSI. 2005;(82):11-5. Backes MTS, Backes DS, Erdmann AL, Büscher A. O cuidado intensivo oferecido ao paciente no ambiente de Unidade de Terapia Intensiva. Esc Anna Nery. 2012;16(4):689-96. Browne M, Cook P. Inappropriate trust in technology: implications for critical care nurses. Nurs Crit Care. 2011;16(2):92-8. Taube SAM, Zagonel IPS, Meier MJ. Um marco conceitual ao trabalho da enfermagem na central de material e esterilização. Cogitare Enferm. 2005;10(2):76-83. Ferreira MA, Alvim NAT, Teixeira MLO, Veloso RC. Saberes de adolescentes: estilo de vida e cuidado à saúde. Texto Contexto Enferm. 2007;16(2):217-24. Kendall-Gallagher D, Blegen MA. Competence and certification of registered nurses and safety of patients in Intensive Care Units. Am J Crit Care. 2009;18(2):106-14. Mattox E. Medical Devices and Patient Safety. Crit Care Nurse. 2012;32(4):60-8. Nascimento KC, Tosoli AM, Erdmann AL. A estrutura representacional do cuidado intensivo para profissionais de Unidade de Terapia Intensiva móvel. Rev Esc Enferm USP. Silva RC, Ferreira MA. Representações sociais dos enfermeiros sobre a tecnologia no ambiente da terapia intensiva. Texto Contexto Enferm. 2009;18(3):489-97. 16. Abraham J, Kannampallil T, Patel B, Almoosa K, Patel VL. Ensuring patient safety in care transitions: an empirical evaluation of a Handoff Intervention Tool. AMIA Annu Symp Proc. 2012:17-26. 58 Campos JF, David HSL.Work Context Assessment in intensive therapy units from the perspective of work psychodynamics. Rev Esc Enferm USP. 2011;45(2):359-64. Brangier É, Hammes-Adelé S, Bastien J-MC. Analyse critique des approches de l’acceptation des technologies: de l’utilisabilité à la symbiose humain- technologieorganisation. Revue européenne de psychologie appliquée. 2010;60:129- 46. O’Keefe-McCarthy S. Technologically mediated nursing care: the impact on moral agency. Nurs Ethics. 2009;16(6):786-96. Martins JT, Robazzi MLCC, Garanhani ML. Sentimentos de prazer entre enfermeiros de unidades de terapia intensiva. Cienc Enferm. 2009;15(3):45-53. ALENCAR, Karleny dos Santos; DINIZ, Rita de Cássia Moura; LIMA, Flavia Regina Furtado. Administração do tempo nas atividades de enfermagem de uma UTI. Revista brasileira de enfermagem. Brasília (DF), v.57, n.4, p. 417-420, 2004. BARTOLOMEI, Silvia Ricci Tonelli; LACERDA, Rúbia Aparecida. Trabalho do enfermeiro no Centro de Material e seu lugar no processo de cuidar pela enfermagem. Revista da escola de enfermagem. USP. São Paulo (SP), p.412-417, 2006. BONI, Valdete; QUARESMA, Sílvia Jurema. Aprendendo a entrevistar: como fazer entrevista em Ciências Sociais. Revista eletrônica dos pós-graduandos em sociologia política da UFSC. Santa Catarina, v.2, n.1, p.68-80, 2005. BRITO, Maria José Menezes et al. Traços identitários da enfermeira-gerente em hospitais privados de Belo Horizonte, Brasil. Saúde Sociedade. São Paulo, v.17, n.2, p.45-57, 2008. BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução 196/96. Dispõe sobre diretrizes e normas reguladoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília. 1996. CAREGNATO, Rita Catalina de Aquino; LAUTERT, Liana. O estresse da equipe multiprofissional na Sala de Cirurgia. Revista brasileira de enfermagem. v.58, n.5, p.545-550, 2005. DUARTE, Ivomar Gomes; FERREIRA, Deborah Pimenta. Uso de indicadores na gestão de um centro cirúrgico. Revista de Administração em Saúde. São Paulo (SP), v.8, n.31, p.63- 70, 2006. FELDMAN, Liliane Bauer; RUTHES, Rosa Maria; CUNHA, Isabel Cristina Kowal Olm. Criatividade e inovação:competências na gestão de enfermagem. Revista brasileira de enfermagem. São Paulo (SP), v.61, n.2, p. 239-242, 2008. FIGUEIREDO, Nébia Maria Almeida de; LEITE, Joséte Luiza; MACHADO, Wiliam César Alves. Centro cirúrgico: atuação, intervenção e cuidados de enfermagem. São Caetano do Sul, SP: Yendis, 2006. FONSECA, Rosa Maria Pelegrini; PENICHE, Aparecida de Cássia Giani. Enfermagem em centro cirúrgico: trinta anos após criação do Sistema de Assistência de 59 Enfermagem Perioperatória. Acta paulista de enfermagem. São Paulo (SP), v.22, n.4, p. 428-433, 2009. GALVÃO, Cristina Maria. et al. Liderança e comunicação: estratégias essenciais para o gerenciamento da assistência de enfermagem no contexto hospitalar. Revista LatinoAmericana de enfermagem. Ribeirão Preto (SP), v.8, n.5, p.34-43, 2000. MARQUIS, Bessie L.; HUSTON, Carol J. Administração e liderança em enfermagem. 6.ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec - Abrasco, 2004 KURCGANT, Paulina et. al. Administração em enfermagem. São Paulo: EPU, 1991. RUTHES, Rosa Maria; CUNHA, Isabel Cristina Kowal Olm. Contribuição para o conhecimento em gerenciamento de enfermagem sobre gestão por competência. Revista gaúcha de enfermagem. Porto Alegre (RS), p.570-575, 2007. SANTOS, José Luís Guedes dos; GARLET, Estela Regina; LIMA, Maria Alice Dias da Silva. Revisão sistemática sobre a dimensão gerencial no trabalho do enfermeiro no âmbito hospitalar. Revista gaúcha de enfermagem. Porto Alegre (RS), p.525-532, 2009. SILVA, Carla Silvana Oliveira; MENDONÇA, José Márcio Girardi de; COSTA, Helen Juliana. O papel do enfermeiro dentro da equipe de enfermagem: a percepção do auxiliar. UNIMONTES Científica. Montes Claros (MG), v.7, n.2, p.113-119, 2005. SILVA, Edna Lúcia da; MENEZES, Estera Muszkat. Metodologia da pesquisa e dissertação. 3.ed. revisada e atualizada. Laboratório de ensino a distância da UFSC. Florianópolis (SC), 2001. SILVA, Marcos Antonio da; GALVÃO, Cristina Maria. Aplicação da liderança situacional na enfermagem de centro cirúrgico. Revista escola de enfermagem da USP. São Paulo (SP), v.41, n.4, p.104-112, 2007. SCHMIDT, Denise Rodrigues Costa; DANTAS, Rosana Aparecida Spadoti. Qualidade de vida no trabalho de profissionais de enfermagem, atuantes em unidades do bloco cirúrgico, sob a ótica da satisfação. Revista Latino-Americana de enfermagem. São Paulo (SP), v.14, n.1, p.54-60, 2006. ______ et. al. Estresse ocupacional entre profissionais de enfermagem do bloco cirúrgico. Texto contexto – enfermagem. Florianópolis (SC), v.18, n.2, p. 330-337, 2009. SPAGNOL, Carla Aparecida. (Re)pensando a gerência em enfermagem a partir de conceitos utilizados no campo da Saúde Coletiva. Ciências e saúde coletiva. Belo Horizonte (MG), v.10, n.1, p.119-127, 2005. SVALDI, Jacqueline Sallete Dei; SIQUEIRA, Hedi Crecencia Heckler de. Ambiente hospitalar saudável e sustentável na perspectiva ecossistêmica: contribuições da enfermagem. Escola Anna Nery. v.14, n.3, p. 599-604, 2010. 60 STUMM, Eniva Miladi Fernandes; MAÇALAI, Rubia Teresinha; KIRCHNER, Rosani Maria. Dificuldades enfrentadas por enfermeiros em um centro cirúrgico. Texto contexto Enfermagem. Florianópolis (SC), p. 464-471, 2006. VECINA NETO, Gonzalo; MALIK, Ana Maria. Gestão em saúde. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.