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Leitura e Producao de Textos II

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115
LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO II
Evangelina M.B. Faria
Maria de Fátima Almeida
Maria Regina Baracuhy Leite
Apresentação
Esta disciplina Leitura e Produção Textual II tem como prioridade o 
desenvolvimento das habilidades para a escrita. Em LPT I, a ênfase foi dada ao 
processo da leitura. Agora voltaremos nossa atenção para a produção da escrita, embora 
entendamos que leitura e escrita são processos complementares.
A nossa disciplina está dividida em três unidades temáticas. São elas:
1. A produção da escrita, em que apresentaremos algumas concepções de escrita 
, bem como a relação entre escrita e interação; 
 
2. Texto e textualidade, em que discutiremos vários fatores que são fundamentais 
na produção de um texto escrito; 
3. O trabalho com os gêneros escritos. Neste terceiro momento, aplicaremos 
a teoria dos gêneros discursivos em três gêneros do cotidiano: a carta, o artigo de 
opinião e a propaganda. 
Quanto ao processo de avaliação, ele ocorrerá de forma contínua. Você será 
solicitado a fazer exercícios e questionários periódicos; a participar efetivamente dos 
debates através do fórum ou on line, o que terá fundamental importância, pois será o 
momento de esclarecer dúvidas, dar opiniões e sugestões. 
A partir das leituras e pesquisas sobre os temas abordados, você deverá também 
produzir textos ao longo do curso, a fim de exercitar suas habilidades escritas. 
Um outro momento do processo avaliativo ocorrerá de modo presencial, em 
que os conhecimentos serão avaliados por meio de avaliações escritas.
Ao estudar esse material, questione, critique, sugira, opine, sua participação é 
fundamental para o sucesso do nosso trabalho. Vai ser muito bom aprendermos juntos 
e trocarmos experiências. 
Um grande abraço!
116
117
UNIDADE I
A PRODUÇÃO ESCRITA
 Considerações preliminares sobre a escrita1.1. 
Gostaria de iniciar minha conversa com você sobre a escrita, a partir da fala. É 
muito fácil falar. Todos nós, homens e mulheres, gostamos de falar, porém as mulheres 
têm uma fama de falar mais. Não sei se é verdade, mas gosto de opinar sobre tudo: nos 
serviços da casa, na educação dos filhos, na roupa do marido, na vida política do país, 
na educação, nos conflitos religiosos, nas eleições dos Estados Unidos, enfim, em tudo 
que o meu olhar leitor encontra. Com a escrita, é diferente, parece que nossa relação só 
funciona na escola. Escrevemos como um martírio, só por obrigação. È assim também 
com você?
Não deveria. Fomos habituados a criar essa relação com a escrita. Escrever para 
alguém corrigir. Essa visão restringe o papel da escrita. Nesse nosso curso, veremos que 
a fala e a escrita são duas modalidades do sistema da língua, que hoje são vistas dentro 
de um continuum que vai do nível mais informal aos mais formais. Tomamos a fala e a 
escrita como atividades de interação. Nessa perspectiva, são atividades cooperativas, 
em que pelo menos dois sujeitos agem conjuntamente para a interpretação de um 
sentido presente nelas; são contextualizadas, pois se situam em um espaço e em um 
tempo e, naturalmente, textuais, pois se materializam em textos orais ou escritos. 
Vimos que a escrita é interação, isto é, escreve-se para dizer algo a alguém 
num determinado momento. Se prestarmos atenção, nunca fazemos algo sem um 
motivo. Assim, na nossa vida, quando falamos ou escrevemos, dizemos algo a alguém 
num momento, que inclui tempo e espaço, com um propósito. Simples assim. 
Para que essa nova visão de escrita chegue até você e a seus futuros alunos, 
esse curso terá como objetivos gerais:
◘ Promover estratégias para que você descubra a escrita como forma de 
interação;
◘ Desenvolver suas habilidades de produzir textos de acordo com as condições 
de produção: função da escrita, gênero textual, objetivo e interlocutor visado;
◘ Desenvolver suas habilidades para fazer uso de recursos lingüísticos que 
permitam a construção de um texto coerente, coeso, informativo e com poder 
de argumentação.
São objetivos ousados, você não concorda? E para atingi-los, conheceremos, 
um pouco, as perspectivas de estudo sobre a escrita, suas funções, os mecanismos de 
textualidade e, por fim, abordaremos a produção de gêneros textuais. 
Tenho certeza de você se identificará com esta disciplina, pois sempre temos 
muito o que dizer, ou melhor, escrever. Você vai ter oportunidade de expressar sua 
maneira de ver o mundo na modalidade escrita. Vamos ver se no final do curso você 
mudou sua maneira de conceber a escrita. É também um grande desafio. Quero lembrar-
lhe um frase de Drummond :“ A minha vontade é forte, mas a minha disposição de 
obedecer-lhe é fraca”. Não deixe que sua disposição o desestimule. Sabemos que 
118
a escrita é uma pedra no meio do caminho de muitos estudantes, porém ainda com 
Drummond :
Se procurar bem você acaba encontrando.
Não a explicação (duvidosa) da vida,
Mas a poesia (inexplicável) da vida.
 Acreditamos que há beleza no ato de escrever. Este é o nosso convite: venha 
descobrir! A escrita também possui uma poesia inexplicável. 
1. 2. Concepções de escrita
Pensar em escrita envolve lidar com um termo bastante polissêmico. A escrita 
pode ser entendida como uma tecnologia, enquanto uma nova habilidade desenvolvida 
por algumas sociedades; como uma forma gráfica, e nela entrariam todas as semioses 
gráficas produzidas pelas sociedades (cf. OLSON, 2000); como uma modalidade de 
realização da língua (cf. MARCUSCHI, 2001). 
Diante da diversidade apontada acima, a escola “diante da escrita” se depara 
com este objeto que condensa todas estas propriedades. O ponto de vista cria o objeto, 
essa frase de Saussure nos mostra que, dependendo da concepção que norteia esse 
olhar, a escrita se apresenta de forma diferente. A pergunta é: a partir de que concepção 
será tratada a escrita no nosso curso? 
Para responder a essa pergunta, precisamos entender que há diferentes e/ou 
complementares formas de se abordar o fenômeno lingüístico. A concepção de escrita 
está atrelada à concepção de linguagem. Vejamos cada uma delas.
A primeira concepção, a dos gregos, vê a linguagem como expressão do 
pensamento. Para essa concepção, as pessoas não se expressam bem porque não pensam. 
A expressão se constrói no interior da mente, sendo sua exteriorização apenas uma 
tradução. Essa teoria de expressão repousa num dualismo entre o interno (consciência) 
e o externo (ato de expressão), com primazia explícita do conteúdo interior, já que 
todo ato de expressão origina-se do interior para o exterior. Essa corrente desenvolve-
se num terreno idealista e espiritualista, em que tudo que é essencial é interior, por 
isso coloca em destaque a função expressiva da linguagem em detrimento da função 
comunicativa. Centrada no locutor, faz do indivíduo falante o princípio e o fim da 
linguagem. A comunicação é um ato monológico, individual, que não é afetado pelo 
outro nem pelas circunstâncias que constituem a situação social em que a enunciação 
acontece. Para essa concepção, o modo como o texto está constituído não depende 
em nada para quem se fala, em que situação se fala (onde, como, quando, para que se 
fala).
Neves (2000) relata que, neste período, a atividade do gramático era julgar 
as obras do passado, procurando as virtudes e os vícios e apontar aos usuários com 
a finalidade de oferecer modelos. Essa concepção de gramática como descrição que 
permite conhecer o padrão a ser seguido no uso da língua foi transmitida à cultura 
ocidental. Aqui, o ensino da língua e da escrita deve iniciar pela apresentação da 
gramática, cujo domínio conduzirá à produção escrita. 
Este poema 
está no site: 
http://www.
pensador.info/p/
poesias_de_
carlos_dru-
mond_de_
andrade/1/
119
Concepção de escrita
Aprendizado da gramática
A segunda concepção, a de Saussure, no início do século XX, vê a linguagem 
como instrumento de comunicação, como meio para a comunicação. Nessa concepção, 
a linguagem é vista como um código, ou seja, um conjunto de signos quese combinam 
segundo regras e que é capaz de transmitir uma mensagem, informações de um emissor 
a um receptor. Esse código deve, portanto, ser dominado pelos falantes para que a 
comunicação possa ser efetivada. Como o uso do código, que é a língua, é um fato 
social, envolvendo conseqüentemente pelo menos duas pessoas, é necessário que o 
código seja utilizado de maneira semelhante, pré-estabelecida, convencionada para 
que a comunicação se efetive.
Concepção de escrita
O texto é visto como um conjunto de unidades lingüísticas através do qual se pode 
expressar um pensamento. Não há um rompimento com o modelo anterior. A escrita 
é sempre a mesma e o interlocutor não existe, pois quem comanda é o emissor. 
Predominam no ensino da escrita, três atitudes: fazer o aluno encontrar a idéia a 
ser desenvolvida, trabalhar a correção da língua, e enriquecer sua capacidade de 
expressão. Os modelos trabalhados são: descrição, narração e dissertação.
Nessa perspectiva, toda a situação que cerca a fala e a escrita é secundária, pois 
o que está no centro é a estrutura da língua, suas formas. A língua é imanente, isto é, 
basta a si mesma. Como implicações dessa visão tem-se uma escrita:
a) de um único sentido, pois o sentido está nas formas colocadas 
no papel; 
b) solitária, é o produtor que constrói o texto sozinho;
c) como exercício meramente mecânico, em que a repetição 
ajuda a fixar as formas;
d) que se apresenta sempre da mesma forma, utilizando a 
norma padrão;
e) que se interessa pelo produto final;
f) em que as impropriedades são erros, afastamentos do modelo 
ideal.
A terceira concepção proposta por Bakhtin (1995), um filósofo russo, vê a 
linguagem como forma ou processo de interação. Nessa concepção, o que o indivíduo 
faz ao usar a língua não é tão-somente traduzir e exteriorizar um pensamento, ou 
transmitir informações a outro, mas sim realizar ações, agir, atuar sobre o interlocutor 
(ouvinte/leitor). 
Naturalmente, pela linguagem, realizamos muitas ações: interagimos, 
influenciamos, construímos pensamentos, etc. Por meio dela damos forma e 
compreensão às experiências cotidianas, reavaliando, continuamente, os fatores 
externos, modificando-os, numa incessante troca com o outro. Por isso, mais que 
120
instrumento de transmissão, o papel fundamental da linguagem é o da constituição 
de sujeitos. Pela linguagem, o homem se constitui enquanto consciência no auto-
reconhecimento e pelo reconhecimento do outro, numa relação de alteridade. 
Concepção de escrita
Escrever constitui um modo de interação entre as pessoas. Quem escreve, 
escreve sabendo para que e para quem. Ao escrever, o sujeito enuncia seu 
pensamento, com algum propósito, para si ou para o outro. 
A língua como instrumento de interação social, com propósitos comunicativos, 
é co-determinada pela situação de comunicação. Em outras palavras, a língua não 
basta a si mesma, precisa do contexto de produção. Por isso, o olhar da Lingüística 
nessa perspectiva envolve dois tipos de sistemas de regras, ambos reforçados pela 
convenção social: 
i) as regras que governam a constituição das expressões 
lingüísticas (regras semânticas, sintáticas, morfológicas e 
fonológicas)
ii) as regras que governam os padrões de interação verbal 
em que essas expressões lingüísticas são usadas (regras 
pragmáticas)
 Como se vê, por este ângulo, a interação verbal vai modelar a língua de uma 
forma particular e profunda. Como implicações dessa visão, tem-se uma escrita:
a) de vários sentidos, pois o sentido está na interação entre 
autor, texto e leitor; 
b) compartilhada, produtor e leitor virtual constroem o texto;
c) como produção de sentido, efetivado pelo trabalho cognitivo 
baseado em hipóteses;
d) que se apresenta de forma variada, pois vai depender da 
situação de interlocução;
e) que se interessa pelo processo e não só pelo produto final;
f) em que as impropriedades são hipóteses, elementos que 
mostram o percurso escolhido para a construção de sentido.
Para o nosso curso, adotaremos uma concepção de escrita voltada para o uso e 
construída na interação.
121
1.3. Escrita e interação 
Essa idéia surge com Bakhtin (1929/1995), para 
quem a linguagem é duplamente dialógica. Primeiro, 
por direcionar-se sempre para alguém e, segundo, 
por estabelecer um diálogo com os outros textos. Os 
sujeitos constroem o conhecimento com base em suas 
representações, em seus conhecimentos anteriores. Para 
Bakhtin (1995: p. 113):
Na realidade toda palavra comporta duas faces. Ela é 
determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como 
pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente 
o produto da interação do locutor e do ouvinte.[...] A palavra é 
uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros. 
Destacam-se aqui duas molas mestras no pensamento do autor. A palavra, o texto 
é sempre dirigido a alguém, não se fala ao vácuo. E esse texto procede de alguém. 
Ganha relevo a intertextualidade, esse fator torna-se condição prévia na produção e 
recepção de qualquer tipo de texto, pois a relação entre discursos é constitutiva de cada 
discurso. Qualquer escrita nasce na fonte de outras vozes. 
Outro contributo do mestre russo foi a incorporação da situação interlocutiva.
A situação social mais imediata e o meio social mais amplo 
determinam completamente e, por assim dizer, a partir do seu 
próprio interior, a estrutura da enunciação. (Bakhtin,1995 p 
113)
 Isto quer dizer que a situação deve ser considerada na hora da produção ou da 
recepção de texto. Para se expressar algo na modalidade oral ou escrita, é necessário 
saber o que vai ser dito, onde e para quem. Esses elementos são constitutivos do ato de 
expressar-se. Nessa perspectiva, como vimos anteriormente, a escrita é uma atividade 
cooperativa, em que pelo menos dois sujeitos atuam para a construção de um sentido; 
contextualizada, situada em um espaço e em um tempo e, naturalmente, textual, 
que se concretiza em textos escritos. È necessário acrescentar também a atividade 
cognitiva, pois, na escrita, lidamos com várias tarefas mentais (ativação da memória, 
seleção de palavras, etc). Por tudo isso, pode-se entender que:
a escrita é um evento comunicativo no qual convergem ações lingüísticas, 
cognitivas e sociais. (Beaugrande 1997, p 10)
 
122
123
UNIDADE II
TEXTO E TEXTUALIDADE
Vamos, nesse segundo momento, introduzir a noção de textualidade. Na 
disciplina LPT I, vocês discutiram a noção de texto: O texto é um todo significativo, é 
uma unidade de sentido que não depende apenas de seu autor, mas da relação entre 
leitor-texto – autor. Precisamos agora conhecer alguns princípios de textualidade, isto 
é, operações produzidas para a construção de um texto. Vejamos este exemplo:
Este texto foi produzido com um propósito comunicativo, dentro de uma 
situação comunicativa, expressando relações com outros textos. Suas informações 
estão construídas através do lingüístico, articulado de modo coeso e coerentemente, o 
que nos faz aceitá-lo como texto. Em outras palavras, este texto como todo texto deve 
apresentar estes sete princípios: 
 
Coesão, Coerência, Intencionalidade, Informatividade, Aceitabilidade, 
Situacionalidade e Intertextualidade
Segundo Beaugrande e Dressler (1981), os autores que primeiro falaram sobre 
esses mecanismos, afirmam que eles devem ser entendidos como sinalizadores da 
conexão entre elementos textuais. 
Para os autores (1981), a coesão está voltada para aos modos como os 
componentes da superfície textual se conectam mutuamente. Essa concepção amplia a 
noção de coesão textual, que antes se firmava apenas em uma lista finita de mecanismos 
que concorrem para o estabelecimento da coesão. 
A coerência, segundo Beaugrande e Dressler (1981), diz respeito ao modo 
como os componentes do universo textual, ou seja, os conceitos e relações subjecentes 
ao texto de superfície são mutuamente acessíveis e relevantes entre si, entrando numa 
configuração veiculadorade sentidos. 
A intencionalidade, critério centrado basicamente no produtor do texto, serve 
para indicar a ação discursiva pretendida pelo autor, ainda que nem sempre se realize 
em sua totalidade, pois vai depender da visão de mundo do leitor. 
 De acordo com Marcuschi (2008), o critério de intertextualidade caracteriza-
Um texto não 
verbal também 
segue esses 
princípios
Para aprofun-
dar, veja o livro 
de ANTUNES
124
se por fazer relações entre dois ou mais textos, encontrados em experiências anteriores 
pelo indivíduo que a aplica, com ou sem a mediação de um interlocutor. Partindo 
da idéia de “absorção e transformação” de textos, o autor considera que todos os 
textos, de certa forma, dialogam com outros textos, desta forma, não existiria um texto 
isolado, sem um “aspecto intertextual”. Vemos que ele concerne aos fatores que fazem 
a produção e a recepção de um texto depender do conhecimento de outros textos.
Há dois tipos de relações intertextuais: a paródia e a paráfrase. Esta ocorre 
quando a relação intertextual tem como objetivo ratificar, confirmar as idéias do texto–
base. Como exemplos de paráfrase, temos os fichamentos, os resumos, as sínteses, as 
traduções. 
Quanto à paródia, ela ocorre quando a relação intertextual tem como objetivo 
provocar a inversão do(s) sentido(s) do texto-base. Geralmente a paródia visa à denúncia 
social. Segundo Citelli (2003: 54), a paródia pode ser concebida como estratégia “de 
corrosão dos valores consagrados socialmente, de alteração dos conceitos cristalizados, 
sempre sob o domínio do gesto gozador, engraçado, cômico, irônico”. Como exemplos, 
temos as sátiras, as charges. 
A intertextualidade ainda pode ser de forma e/ou de conteúdo.
A intertextualidade de forma ocorre quando é retomada mesma estrutura do 
texto-base: estilo, gênero textual, linguagem.
A intertextualidade de conteúdo , como o próprio nome já diz, ocorre quando 
o conteúdo do texto-base é retomado, seja para confirmá-lo ou para invertê-lo. 
 Podemos entender a intertextualidade como um critério intertextual muito 
complexo, na medida em que “abarca” muitos termos na própria Análise do Discurso, 
como o dialogismo, interdiscurso, metacognição, entre outros. 
Já a situacionalidade “refere-se ao fato de relacionarmos o evento textual à 
situação (social, cultural, ambiente etc.) em que ele ocorre” (Marcuschi, 2008: 127; 
cf. Beaugrande, 1997: 15). Essa situação pode estar ligada ao contexto mais imediato 
da interação ou ao contexto socio-político-cultural em que a interação está inserida.
Segundo Costa Val (2002), a informatividade tem a ver com o grau de 
novidade e previsibilidade: quanto mais previsível, menos informativo será o texto 
para determinado usuário, porque acrescentará pouco às informações que o recebedor 
já tinha. O inverso também acontece: quanto mais cheio de novidades, mais informativo 
é o texto para o recebedor. Segundo Beaugrande e Dressler (1981), o ideal seria a 
utilização de um grau mediano de informatividade, sendo ela um fator considerado em 
função dos usuários e da situação em que o texto ocorre. Segundo Marcuschi (2008), 
esse aspecto refere-se à possibilidade de distinção entre a idéia a ser transmitida por 
um texto e a idéia que pode ser retirada dele. Progressão e articulação textuais são 
pontos essenciais para a articulação entre as partes do texto, sendo indispensáveis 
para a manutenção da coerência e infomatividade, pois um texto é coerente porque 
desenvolve algum tópico e refere conteúdos. 
Finalmente, a aceitabilidade é o aceite do texto enquanto produtor de sentido(s) 
para o leitor. Para Marcuschi (2006), está centrada na atitude do leitor, que recebe 
o texto como uma configuração aceitável, tendo-o como coerente e coeso, ou seja, 
interpretável e significativo.
Para aprofundar melhor esses mecanismos, trazemos para você um texto de 
Elizabete, uma menina de sete anos de uma escola do município de João Pessoa.
Leitura 
Obrigatória: 
Argumen tação 
e diálogo textu-
al. In: CITELLI, 
Adilson. O texto 
argumentativo. 
3º ed, São Paulo: 
Scipione, 2003. 
p.p 45-56
125
De nanha	
Escovar os Dentes	
Bochecha a Pasta	
Tonar cafè	
Escova os dentes	
Bochecha a Pasta	
De Tarde 	
Almoça 	
Toma aguá	
Escova os Dente	
Bochecha a Pasta	
Iso todo Sem pão Sem sal, ovo, chocolate, chiclete	
Esse texto é diferente dos demais coletados pelo LAFE*. Como avaliá-lo? Não 
há marcas explícitas dos mecanismos tradicionais da coesão. O que mantém a coesão? 
Lembramos que a coesão também se dá por escolhas lexicais do mesmo campo 
semântico. O texto está dividido em dois momentos: manhã e tarde. Nos dois blocos, 
essa escolha se dá de forma adequada, são ações que acontecem dentro desse período 
temporal. A conclusão retoma e respeita as implicações lógicas existentes entre as 
duas partes explicitando a falta da comida da qual ela gosta. O texto ganha ainda mais 
sentido, quando descobrimos que se trata de uma criança em fase de regime, que relata 
sua angústia de passar o dia sem se alimentar do que mais gosta. È um texto que tem 
continuidade e continuidade é uma marca de coesão. A continuidade aqui é o fator 
de coerência. Cadeias de representações de natureza lógico-semântica e condições 
pragmáticas garantem a conectividade e a formação das estruturas textuais. 
Hoje de acordo com Costa Val (2000) e Antunes (2005), sabe-se que é impróprio 
separar o imanente do situacional, o semântico do pragmático, porque a produção 
do sentido do texto, que passa pela construção de sua macroestrutura semântica, está 
estreitamente vinculada às condições em que esse processo ocorre e depende das ações 
realizadas e interpretadas pelos locutores. A coesão é uma decorrência da própria 
continuidade exigida pelo texto, a qual, por sua vez, é exigência da unidade que dá 
coerência ao texto (Antunes, 2005). Assim, cada vez que um interlocutor interpreta 
um artefato como texto é porque conseguiu aplicar a ele os princípios de textualização, 
construindo sua coesão, sua coerência.
Chamando atenção para os aspectos da textualidade, os PCNs se direcionam não 
mais para o produto em si, mas para o processo da construção textual, na preocupação 
de dar relevo à textualidade e à situação intelocutiva como um todo. Pelo quadro 
exposto, é possível deduzir que o aluno para ser capaz de redigir dessa maneira, o 
professor deverá explicitar: as condições de produção (finalidade, especificidade do 
gênero, interlocutor eleito, etc); os procedimentos para elaboração do texto (tema, 
levantamento de idéias, planejamento, revisão), quais mecanismos de coerência e 
de coesão textuais, conforme o gênero e os propósitos do texto (manutenção da 
continuidade do tema, seleção apropriada do léxico em função do tema, relevância das 
informações em relação ao tema e ao ponto de vista adotado, os argumentos elaborados, 
adequação dos recursos lingüísticos na construção da textualidade) e a utilização de 
marcas de segmentação do texto.
Este texto está 
transcrito 
como a criança 
escreveu
(*) Laboratório 
de Aquisição de 
Fala e de Escrita 
(UFPB). Faze-
mos pesquisas 
sobre a cons-
trução da textu-
alidade na fala 
e na escrita de 
crianças.
126
Os mecanismos de textualidade induzem uma proposta de trabalho que integra os 
eixos de ensino: leitura, produção e análise lingüística.
Precisamos falar sobre esses mecanismos, pois eles estão presentes nos diversos 
gêneros textuais. Você já leu sobre os gêneros em LPT I, nosso próximo passo vai ser 
conhecer melhor alguns gêneros nesta disciplina.
Bom estudo! Percebeu que saber sobre o escrever é interessante? Agora é a sua 
vez!
 
 
127
UNIDADE III
O TRABALHO COM OS GÊNEROS ESCRITOS
Os escritos de Bakhtin (1992) revolucionaram o ensino de língua em muitos 
países da Europa e das Américas. Pela sua influência, muitos pesquisadores viram a 
necessidade de o ensino da escrita na escola passar dos tipos aos gêneros. 
Desde a década de 80, o texto passa a ser a base do ensino-aprendizagemda língua portuguesa no Ensino Fundamental no Brasil. Essa constatação trouxe o 
texto para o centro da sala de aula, mas, em relação à produção escrita, essa realidade 
não mudou muito o processo de ensino, pois o texto continuou sendo dado em suas 
tipologias: descrição, narração e dissertação. Algumas críticas surgiram em decorrência 
desse fato.
Como lembra ROJO (2004), se muitas dissertações escolares começam 
pela afirmação de uma tese que será sustentada por argumentos de diversos tipos 
hierarquizados, não é difícil encontrar um artigo jornalístico de opinião que recorra 
a outras estratégicas, como iniciar por relatos exemplares ou ironizar, para chegar à 
formação da opinião. Portanto, certos textos (crônicas, artigos de opinião, sem falar em 
outros que se materializam em linguagens diferentes como HQs, charges, anúncios e 
tirinhas e nos textos orais) não apresentavam as propriedades generalizadas ensinadas 
na classificação tipológica.
Outra crítica diz respeito às práticas ligadas ao uso, à produção e circulação 
dos textos que ficam fora do estudo da sala de aula. Nas redações escolares, não se 
menciona o contexto de produção, gerando uma leitura de extração de informação 
e abstendo-se de uma formação mais crítica influenciada pelo contexto e finalidade 
dos textos. Nessa última, passam a ter importância tanto as situações de produção e 
de circulação dos textos como a significação, pois aquelas informações ampliam o 
horizonte de sentidos no texto.
Lembramos ainda que, no ensino das tipologias, permanecia a antiga dicotomia 
entre fala e escrita. Aquela como o local do erro, do marginal e esta, como o do correto, 
da norma. Ora, com os gêneros, essa dicotomia cai por terra, pois encontramos gêneros 
escritos bem próximos do oral (e-mail) e fala bem próxima da escrita (exposição 
formal). Uma realidade mais concreta de língua e uma dimensão bem mais coerente de 
sua constituição. Além do mais, para falar ou para escrever, utilizamo-nos sempre dos 
gêneros do discurso. Como diz Bakhtin (1992), a língua materna não a aprendemos 
nos dicionários e nas gramáticas, nós a adquirimos mediante enunciados concretos 
que ouvimos e reproduzimos durante a comunicação verbal viva, que se efetua com 
128
os indivíduos que nos rodeiam. Aprender a falar ou a escrever é aprender a estruturar 
gêneros.
Por esses e outros motivos, há quase um consenso sobre o ensino de gêneros. 
Essa visão já está presente nos Parâmetros Curriculares de Língua Portuguesa. Na 
página 21, encontramos:
“O discurso, quando produzido, manifesta-se lingüisticamente por 
meio de textos. O produto da atividade discursiva oral ou escrita 
que forma um todo significativo, qualquer que seja sua extensão, é o 
texto, uma seqüência verbal constituída por um conjunto de relações 
que se estabelecem a partir da coesão e da coerência. Em outras 
palavras, um texto só é um texto quando pode ser compreendido 
como unidade significativa global, caso contrário, não passa de um 
amontoado aleatório de enunciados. [...] Os textos, como resultantes 
da atividade discursiva, estão em constante e contínua relação uns 
com os outros, ainda que, em sua linearidade, isso não se explicite. 
[...] Todo texto se organiza dentro de determinado gênero em função 
das intenções comunicativas, como parte das condições de produção 
dos discursos. As quais geram novos usos sociais que os determinam. 
Os gêneros são, portanto, determinados historicamente, constituindo 
formas relativamente estáveis de enunciados, disponíveis na cultura”. 
( o grifo é nosso)
Nesse trecho, vê-se claramente uma concepção bakhtiniana da linguagem. 
Nessa concepção, a língua é viva, produzida na história e, ao mesmo tempo, produtora 
da história dos homens. Ela é constituída nas diversas enunciações que têm lugar nas 
diferentes situações sociais, pelos gêneros do discurso.
Tal concepção de língua é diversa e, muitas vezes, oposta àquelas que circulam 
nas salas de aula de língua portuguesa, em que o texto é, em geral, utilizado para o 
ensino de gramática. Essa perspectiva direciona o papel do ensino que deixa de se voltar 
para a ampliação da capacidade de produzir e interpretar textos para o aprofundamento 
do conhecimento da norma culta através do enfoque gramatical. Conhecimento que 
não garante uma eficácia na produção e recepção de textos.
Lembrando ainda o objetivo do ensino de língua nos Parâmetros: “Desenvolver 
no aluno um conjunto de habilidades e comportamentos de leitura e de escrita que lhe 
permitam fazer maior e mais eficiente uso possível das capacidades técnicas de ler e 
escrever”, nosso propósito não é apenas ensinar a ler e a escrever, mas é, também, e 
sobretudo, levar os indivíduos — crianças e adultos — a fazer uso da leitura e da escrita 
e a envolver-se em práticas sociais de leitura e de escrita. Essas práticas direcionam 
para um letramento. E quando o assunto é letramento, é fundamental abordar o conceito 
de gêneros textuais.
“A língua se dá e se manifesta em textos orais e escritos ordenados e estabilizados em 
gêneros textuais para uso em situações concretas” (Marcuschi, 2001).
Nesta proposta, não há lugar para o ensino tradicional da gramática da palavra, 
nem da gramática da frase, havendo, sim, uma insistência no exame e na prática de 
textos falados e escritos em situação social de comunicação e interação, de textos 
autênticos, o que implica o estudo dos gêneros e das condições de produção destes 
textos. 
129
O que são os gêneros?
Os gêneros, tradicionalmente, eram utilizados pela Retórica e pela Literatura. 
Mas foi em Bakhtin (1979) que a noção de gênero encontrou um significado considerável. 
Pode-se resumir da seguinte maneira sua visão sobre gêneros:
-cada esfera de troca social elabora tipos relativamente estáveis de enunciados: 
os gêneros;
-três elementos os caracterizam: conteúdo temático — estilo — construção 
composicional;
-a escolha de um gênero se determina pela esfera, as necessidades da temática, 
o conjunto dos participantes e a vontade enunciativa ou intenção do locutor.
Schneuwly (2004, p.26) destaca três idéias centrais na visão de Bakhtin:
1. Há a escolha de um gênero, em função de uma situação definida por um 
certo número de parâmetros: finalidade, destinatários, conteúdo, para dizê-lo na nossa 
terminologia. Dito de outra maneira: há a elaboração de uma base de orientação para 
uma ação discursiva.
2. Essa base chega à escolha de um gênero num conjunto de possíveis, no 
interior de uma esfera de troca dada, num lugar social que define um conjunto possível 
de gêneros.
3. Mesmo sendo “mutáveis, flexíveis”, os gêneros têm uma certa estabilidade. 
Eles têm uma certa estrutura definida por sua função; eles são caracterizados por aquilo 
a que chamamos, um plano comunicacional. Finalmente, eles são caracterizados por 
um estilo, que deve ser considerado não como um efeito da individualidade do locutor, 
mas como elemento de um gênero. 
Isso quer dizer que há um sujeito, o locutor-enunciador, que age discursivamente 
(falar/escrever), numa situação definida por uma série de parâmetros, com a ajuda de 
um instrumento que aqui é um gênero, um instrumento semiótico complexo, isto é, 
uma forma de linguagem prescritiva, que permite, a um só tempo, a produção e a 
compreensão de textos. 
“Se não existissem os gêneros do discurso e se não os dominássemos; se tivéssemos 
de criá-los pela primeira vez no processo da fala; se tivéssemos de construir cada um de nossos 
enunciados, a comunicação verbal seria quase impossível” (BAKHTIN 1953/1979, p. 302). 
A escolha do gênero se faz em função da situação. Há, pois, segundo Schneuwly, 
uma relação entre meio-fim, que é a estrutura de base da atividade mediada. Portanto, 
o gênero é visto como um instrumento que permite a produção e a compreensão dos 
textos.
Para facilitar a compreensão, apresentamos o quadro abaixo que mostra a 
distinção entre tipo e gênero textual, segundo Marcuschi ( 2003, p 26)
130
Tipo Gênero
1. Constructos teóricos definidospor propriedades 
lingüísticas intrínsecas;
2. Constituem seqüências lingüísticas ou 
seqüências de enunciados e não são textos 
empíricos;
3. Sua nomeação abrange um conjunto limitado 
de categorias teóricas determinadas por aspectos 
lexicais, sintáticos, relações lógicas, tempo 
verbal;
4. Designações teóricas dos tipos: narração 
argumentação, descrição, injunção e exposição.
1. Realizações lingüísticas concretas definidas 
por propriedades sócio-comunicativas;
2. Constituem textos empiricamente 
realizados cumprindo funções em situações 
comunicativas;
3. Sua nomeação abrange um conjunto aberto e 
praticamente ilimitado de designações concretas 
determinadas pelo canal, estilo, conteúdo, 
composição e função;
4. Exemplos de gêneros: telefonemas, sermão, 
carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, 
aula expositiva, reunião de condomínio, 
horóscopo, receita culinária, bula de remédio, 
lista de compras, cardápio, instruções de uso, 
outdoor, inquérito policial, resenha, edital 
de concurso, piada, conversação espontânea, 
conferência, carta eletrônica, bate-papo virtual, 
aulas virtuais etc.
È possível ensinar a escrever?
Para alguns autores, entre eles, Scheneuwly e Dolz, Rojo, a resposta está em criar 
contextos de produção precisos, para que os alunos se apropriem dos conhecimentos 
necessários para o desenvolvimento de suas capacidades de escrita. Esses contextos 
são seqüências didáticas, isto é, um conjunto de atividades escolares organizadas de 
maneira sistemática em torno de um gênero textual oral ou escrito. 
A estrutura de base apresentada é a seguinte:
Apresentação 
da situação
Produção 
inicial 
Módulo 1 Módulo 2 Módulo n
 
Produção final
A seqüência é concluída com a produção final, que se dá ao longo do processo 
da escrita. Os problemas devem ser trabalhados em diferentes níveis: o da situação 
de comunicação, da elaboração do conteúdo, planejamento do texto e realização do 
texto.Um aspecto importante para assegurar a aprendizagem é iniciar o processo de 
produção a partir da observação de gêneros autênticos. 
Essas informações são essenciais para a aprendizagem da escrita, por isso 
leia o capitulo “Seqüências didáticas para o oral e a escrita: apresentação de um 
procedimento” em Gêneros orais e escritos na escola de Schneuwly e Dolz. 
Agora que você já aprendeu mais um pouco sobre a teoria dos gêneros, vamos 
estudar alguns gêneros escritos como a carta, o artigo de opinião e a propaganda 
turística. 
131
REFLEXÃO: 
Você sabe que não escrevemos da mesma forma uma carta comercial e uma 
carta para um tio ou uma avó. Mas quais seriam as diferenças, de forma e de 
conteúdo, entre elas? Ambas poderiam chegar até você por e-mail, que é uma 
forma moderna de escrever cartas. Vamos aprender, a seguir, um pouco sobre 
este gênero tão importante do nosso cotidiano: a carta. 
3.1. A carta
 
Um dos gêneros textuais mais importantes para a história das línguas é a 
carta. Hoje tem sido o gênero preferido por muitos para estudos diacrônicos da língua 
pela sua suposta proximidade com o oral. O interessante é estudar a evolução desse 
gênero textual, a sua função em diferentes épocas e seu papel no desenvolvimento de 
outros gêneros. Já na Antiguidade as cartas eram utilizadas pelos letrados e estadistas 
para se manterem informados.
As cartas ocupavam então o lugar dos jornais e prestavam 
os mesmos serviços. Passavam de mão em mão quando 
continham novidade de interesse. Liam-se, comentavam-
se, transcreviam-se as (sic) em que os grandes personagens 
expunham seus pontos de vista. Era por meio delas que, 
atacado, defendia-se o político diante das pessoas cuja 
estima desejava conservar; emudecido o Fórum, como 
no período de César, era por meio delas que se procurava 
formar num público restrito uma espécie de opinião geral 
(20). Certas cartas afixavam-se nas praças ou corriam 
em cópias distribuídas pelos destinatários, tornando-se 
públicas. (Rizzini, 1977:9).
Na atualidade, o gênero carta se diversificou e cumpre na sociedade várias 
funções de acordo com a esfera social em que ele se insere: carta pessoal, carta comercial, 
carta ao leitor, carta do leitor, carta circular, entre outras. Mas todos esses subgêneros 
têm em comum sua função comunicativa, que é dirigir-se a um interlocutor, geralmente 
explicitado no texto, a fim de agir sobre ele de diferentes formas. Comecemos pela 
carta do leitor.
Por meio da carta do leitor, pertencente ao domínio midiático ou jornalístico, 
o enunciador pode realizar diversos atos de fala: solicitar, criticar, elogiar, agradecer, 
opinar, perguntar, etc. Cabe destacar que, dependendo do suporte, o propósito 
comunicativo do locutor pode mudar: por exemplo, na Revista Veja, observa-se que os 
locutores desejam posicionar-se frente a reportagens, notícias, artigos ou mesmo em 
relação à carta ao leitor ou a carta de outros leitores, ao passo que, em revistas dirigidas 
a adolescentes, o fim ilocutório é, freqüentemente, o pedido de um conselho ou de uma 
orientação, relacionados a sexo, saúde, relacionamento, funcionando essa seção como 
uma espécie de correio sentimental.
132
No que se refere à intersubjetividade (protagonistas do discurso), é interessante 
observar que, diferentemente de outras cartas, a carta do leitor tem dois interlocutores 
(um direto e um indireto): a carta pode ter como sujeito-alvo a própria revista 
(interlocutor direto) e, numa segunda instância, ao ser publicada, os leitores da revista; 
ou o interlocutor direto é o destinatário ao qual a carta se dirige diretamente, mas, 
como é divulgada pela revista, os segundos interlocutores passam a ser os leitores 
desta. Portanto, o fim a que visam os textos pertencentes a esse gênero também varia 
dependendo dos interlocutores a serem atingidos.
Outro tipo é a carta comercial que nos é enviada pelos poderes políticos ou 
por empresas privadas (comunicações de multas de trânsito, mudanças de endereço 
e telefone, propostas para renovar assinaturas de revistas, etc.). Este tipo de carta 
caracteriza-se por seguir modelos prontos, em que o remetente só altera alguns dados. 
Apresentam uma linguagem padronizada (repare que elas são extremamente parecidas, 
começando geralmente por “Vimos por meio desta...”) e normalmente são redigidas 
na linguagem formal culta. Nesse tipo de correspondência, mesmo que venha assinada 
por uma pessoa física, o emissor é uma pessoa jurídica (órgão público ou empresa 
privada), no caso, devidamente representada por um funcionário. 
As caracteríticas da carta comercial são as seguintes:
Boaa) apresentação: exige-se, portanto, ordem, organização e limpeza.
Clarezab) : a obscuridade do texto impede a comunicação imediata e dá azo a 
interpretações que podem levar a desentendimentos e, mesmo, a prejuízos 
financeiros.
A linguagem há de ser:
Simples•	 , evitando-se preocupação com enfeites literários.
Atual•	 , isto é, inteligível à época presente.
Precisa•	 , a saber, própria, específica, objetiva.
Correta•	 , com exata observância das normas gramaticais.
Concisa•	 , informando com economia de palavras.
Impessoal•	 , com o máximo de objetividade, pois a carta comercial não é lugar 
adequado para manifestações subjetivas e sentimentais.
Observe o modelo da carta:o 
MODELO: CARTA COMERCIAL
 ESTRUTURA DA CARTA COMERCIAL
DATA
VOCATIVO
CORPO DO TEXTO
FECHO
ASSINATURA / FUNÇÃO
133
Exemplo de Carta Comercial
Para a produção do gênero carta comercial siga as etapas 
que se seguem:
Local e data: 1. 
João Pessoa, 19 de julho de 1994.
(5 espaços)
Vocativo:2. 
 Prezados Senhores:
(3 espaços)
Corpo do texto: 3. 
Com referência à sua reclamação, na carta do dia 15 do mês em curso, 
levamos ao conhecimento de V. Sas. os necessários esclarecimentos.
(2 espaços)
O atraso na entrega da mercadoria solicitada ocorreu não por falha de 
nossos funcionários, mas por incúria da empresa entregadora.
Estamos tomando as devidas providências a fim de que as mercadoriassejam entregues rapidamente.
(2 espaços)
Fecho da carta:4. 
Pedimos desculpas pelo ocorrido e continuamos à disposição de V. Sa.
(3 espaços)
Assinatura e função:5. 
João Batista da Silva
Gerente de Vendas
ATIVIDADE:
- Observe a linguagem empregada neste gênero específico. A linguagem 
empregada na carta em estudo é formal ou informal? Apresente suas hipóteses 
para a utilização dessa linguagem.
- Qual a função da carta comercial? 
134
Há também a carta pessoal, que utilizamos para estabelecer contato com amigos, 
parentes, namorado (a). Tais cartas, por serem mais informais que a correspondência 
oficial e comercial, não seguem modelos prontos, caracterizando-se pela linguagem 
coloquial. Nesse caso, o remetente é a própria pessoa que assina a correspondência. 
Embora você possa encontrar por aí livros que trazem “modelos” de cartas 
pessoais (principalmente “modelos de carta de amor”). Os “modelos” se caracterizam 
por uma linguagem artificial, surrada, repleta de expressões desgastadas, além de 
serem completamente ultrapassados. 
Não há regras fixas, nem modelos para se escrever uma carta pessoal; fora 
a data, o nome (ou apelido) da pessoa a quem se destina e o nome (ou apelido) de 
quem a escreve, a forma de redação de uma carta pessoal é extremamente particular. 
No processo de comunicação, e sendo a correspondência uma forma de comunicação 
entre pessoas, não se pode falar em linguagem correta, mas em linguagem adequada. 
Não falamos com uma criança do mesmo modo que falamos com um adulto. 
A linguagem que utilizamos quando discutimos um filme com os amigos é 
bastante diferente daquela a que recorremos quando vamos requerer vaga para um 
estágio ao diretor de uma empresa. Em síntese: a linguagem correta é a adequada ao 
assunto tratado (mais formal ou mais informal), à situação em que está sendo produzida, 
à relação entre emissor e destinatário. A linguagem que você utiliza com um amigo 
íntimo é bastante diferente da que utiliza com um parente distante ou mesmo com um 
estranho. Na correspondência deve ocorrer exatamente a mesma coisa: a linguagem e 
o tratamento utilizados vão variar em função da intimidade dos correspondentes, bem 
como do assunto tratado. Uma carta a um parente distante comunicando um fato grave 
ocorrido com alguém da família apresentará uma linguagem mais formal. Já uma carta 
ao melhor amigo comunicando a aprovação no vestibular terá uma linguagem mais 
simples e descontraída, sem formalismos de qualquer espécie. O que se determina é a 
coerência discursiva, que você considere o seu destinatário e a função comunicativa.
MODELO: CARTA PESSOAL
João Pessoa, 14 de agosto de 2005.
 Mano Gil,
Como vai, cara? Beleza? E cadê o cara que falou que logo no começo das férias 
ligava? Já que o “treta” aí não deu sinal de vida, resolvi escrever pra contar as 
novidades.
Aqui em Jampa ta tudo calminho como sempre. Sabe como é, cidade pequena é assim 
mesmo! A praça do bairro continua. Única opção. Pra dar umas voltas e de vez em 
quando pra paquerar. É, mane, pensa que é moleza?
Por falar em paquera, a Ba está cada vez mais “totosa” como você diz, mas assim que 
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Uma carta a um parente comunicando um fato Uma carta a um parente comunicando um fato 
grave com algugrave com alguéém da famm da famíília apresentarlia apresentaráá uma uma 
linguagem formal.linguagem formal.
nna correspondência, a linguagem e o a correspondência, a linguagem e o 
tratamento utilizados vão variar em tratamento utilizados vão variar em 
funfunçção da intimidade dos ão da intimidade dos 
correspondentes, bem como do assunto correspondentes, bem como do assunto 
tratado.tratado.
Uma carta ao melhor amigo comunicando a Uma carta ao melhor amigo comunicando a 
aprovaaprovaçção no vestibular terão no vestibular teráá uma linguagem uma linguagem 
mais simples e descontramais simples e descontraíídada. . 
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...assinatura das pessoas ou entidades ...assinatura das pessoas ou entidades 
responsresponsááveis por elas; local e data veis por elas; local e data 
(facultativos). (facultativos). 
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LinguagemLinguagem: padrão formal, verbos usados : padrão formal, verbos usados 
predominantemente no presente do predominantemente no presente do 
indicativo. indicativo. 
Os autores podem se expressar na 1Os autores podem se expressar na 1ªª
ou 3ou 3ªª pessoa do plural.pessoa do plural.
135
ela largou do irmão do Luciano, que ficava com a prima da Tati, que beijou meu irmão 
nas férias de julho, ela partiu pra piscina municipal pra pescar um peixão... e pescou. 
Lembra do Adriano? Pois é, ele é seu atual namorado. Desiste dela, amigo! Ela até 
canta Fagner pra ele! “Quem me dera ser um peixe pra no seu aquário mergulhar”!!!E 
mais! No meio da piscina, mete a cabeça na água e diz que faz borbulhas de amor por 
ele. Ele adora! Sai dessa, amigo!
Bom Gil, vou ficando por aqui, amigo. Se um dia der certo, passo aí para visita-lo. Vê 
se aparece também.
Não vejo a hora de as aulas começarem pra eu ver você e toda a turma.
Abraços,
Filipe
P.S.: Tem visto a Dani? Se por acaso a vir, diz pra ela que to doido, pirado de saudades! 
Morro de rir com ela e dela. O que é a gargalhada dela, me diz? Ela é gente fina 
mesmo!
( Filipe Stucchi de Souza – 16 anos)
AGORA É COM VOCÊ!
Produza uma carta pessoal a um amigo bem próximo, lembrando de considerar 
toda sua estruturação e funcionalidade.
Passemos agora à carta de apresentação. Ela deve ser simples e breve. É uma 
forma de fazer a sua promoção pessoal. Dirige-se a um empregador, oferecendo 
espontaneamente os seus serviços e deve estar acompanhada do Curriculum Vitae.
Todos os dados aqui apresentados são fictícios e este modelo dá apenas 
indicações de elaboração. Redija o seu de uma forma pessoal e original para motivar 
o empregador
MODELO: CARTA DE APRESENTAÇÃO
Isabel Cristina Matos 
Av. 5 de Outubro, nº XX 1050 Lisboa 
Telefone: 21 XXX XX XX
Exmoº Senhor 
Director dos Recursos Humanos 
da Sociedade de Informática de Portugal 
Rua das Avenidas, nº XX, 1200 Lisboa.
Acabo de receber o meu diploma de Informática, na Universidade Lusófona. Tenho 
conhecimento de que a vossa empresa lidera o mercado neste ramo de atividade, o 
que me dá garantias de ser o melhor local para poder desenvolver as competências 
que adquiri na minha formação.
Gostaria de, numa entrevista pessoal, poder prestar outras informações que penso 
serem de mútuo interesse. 
Subscrevo-me, com a mais elevada consideração.
136
Isabel Cristina Matos
Anexo: Currículo
 
ATENÇÃO:Há muitos modelos e estruturas de cartas, dentro desse gênero 
existem características inerentes a cada função sócio-histórica. Devemos 
considerar as especificidades de cada situação.
SUGESTÕES: Observar as peculiaridades de carta comercial, pessoal, do 
leitor e de recomendação. 
ATIVIDADE:
- A carta é um gênero que costuma apresentar uma estrutura padrão que 
determinam sua função social. Quais as características estruturais que marcam 
a carta de apresentação?
-Qual a finalidade de uma carta de apresentação?
- Coloque em prática seus conhecimentos e construa uma carta de apresentação, 
direcionada a uma determinada empresa de nome nacional. Procure deixar bem 
claro seu objetivo no texto.
 
MODELO E-MAIL
E-mail é um sistema de transmissão rápida via Internet em que os usuários se 
comunicam em questão de segundos. O correio eletrônico, ou seja, a página da Internet 
é o suporte e o gênero é o e-mail. 
O e-mail surgiu em 1971 e seu criador foi Ray Tomlinson que enviou sua 
primeira mensagem. Ele criou o SNDMSG para transmissão do e-mail e o READMAIL 
para a leitura ou recepção do mesmo.
Aqui no Brasil a Internet chegou em 1988 numa ação conjunta entre o Ministério 
da Ciência e Tecnologia, CNPQ e outros. E hoje muitos estudantes do ensino superior, 
médio e até fundamental que têm acesso a Internet. Esse é um dos instrumentos que 
possibilitam a aprendizagem do nosso curso.
É conhecido o quanto a comunicação via Internet revolucionou o circulo de 
relações humanas e interligou todos numa grande rede de entretenimentos, cultura, 
lazer, noticias e educação.
DICA DE SITE PARA A SUA PESQUISA!
http://www.vocesabia.net/ curiosidades/ como-surgiu-o-e-mail/
137
Para concluir, gostaríamos de apresentar a primeira carta escrita no Brasil
O primeiro registro do gênero carta no Brasil é o documento histórico da 
carta de Pero Vaz de Caminha enviada ao rei de Portugal, informando sobre as novas 
descobertas, ano de 1500. Esse gênero, nesse caso, tem caráter informativo, devido a 
sua funcionalidade naquele contexto, suas características sócio-históricas.
Ver texto da carta, na integra, no site •	 www.literaturabrasileira.ufsc.br, 
observando as características inerentes a esse gênero discursivo, no momento 
histórico específico. Podemos, a partir dessas observações, perceber algumas 
evoluções neste gênero no decorrer do tempo.
AGORA É COM VOCÊ!
Com suas palavras, disserte sobre a evolução do gênero carta, como suas 
variantes podem apresentar-se no tempo. Não esqueça de ressaltar qual a 
influência de fatores sócio-históricos nessa evolução ou variação de gênero.
3.2. O artigo de opinião
 O gênero “artigo de opinião” evidencia questões educacionais amplas 
e se apresenta como objeto imprescindível de análise. Ele é um gênero de discurso 
marcado pelo objetivo de convencer o outro de sua idéia, visando influenciar, bem como, 
transformar concepções e comportamentos. Tal gênero é reconhecido, principalmente, 
por apresentar um discurso argumentativo, mostrando-se a favor de uma determinada 
posição e colocando-se diante de posições diferenciadas. Um dos objetivos deste 
138
gênero é informar e formar. 
 É fundamental, na produção de um artigo de opinião, a presença de 
um ponto de vista a ser discutido, concernente a um tema específico que vislumbre a 
circulação de idéias em determinados contextos sociais. 
 
3.2.1. Características do gênero artigo de opinião: 
Nesse gênero, evidenciamos características do ponto de vista lingüístico, da 
progressão temática e de suas características discursivas. Do ponto de vista lingüístico, 
podemos ressaltar que:
A organização do discurso é, normalmente, em terceira pessoa; 	
A apresentação dos argumentos e contra-argumentos; 	
A presença de citações é, também, uma possibilidade.	
Do ponto de vista da progressão temática, observamos as possibilidades de 
organização distinta, de acordo com a análise de textos distintos, seja do mesmo autor 
ou de autores diferentes. Diante disso, podemos observar que:
A organização e a ordem do tema, dos argumentos, contra-argumentos 	
e da conclusão; 
A apresentação dos argumentos de maior ou menor ênfase; 	
 A organização do gênero “artigo de opinião”.	
Do ponto de vista discursivo, podemos apontar: 
a localização da presença da opinião pessoal do escritor; 	
identificação da questão em debate; 	
reconhecimento da posição defendida pelo autor;	
identificação da opinião à qual o autor se opõe; 	
as formas de sustentação de opinião apresentadas. 	
3.2..2. As condições de produção:
 
definição do possível leitor do texto a ser escrito;1. 
explicação do objetivo do texto; 2. 
139
definição do lugar de produção e circulação do texto; 3. 
Passemos agora a um exemplo de Artigo de opinião: 
Com que corpo eu vou?
Que corpo você está usando ultimamente? Que corpo está representando você 
no mercado das trocas imaginárias, que imagem você tem oferecido ao olhar alheio 
para garantir seu lugar no palco das visibilidades em que se transformou o espaço 
público no Brasil? [...] Fique atento, pois o corpo que você usa e ostenta vai dizer 
quem você é. Pode determinar oportunidades de trabalho. Pode significar a chance 
de uma rápida ascensão social. Acima de tudo, o corpo que você veste, preparado 
cuidadosamente à custa de muita ginástica e dieta, aperfeiçoado por meio de modernas 
intervenções cirúrgicas e bioquímicas, o corpo que resume praticamente tudo o que 
restou do ser é a primeira condição para que você seja feliz. 
Não porque ele seja, o corpo, a sede pulsante da vida biológica. Não porque 
possua uma vasta superfície sensível ao prazer do toque – a pele, esse invólucro tenso 
que protege o trabalho silencioso dos órgãos. Não pela alegria com que experimentamos 
os apetites, os impulsos, as excitações, a intensa e contínua troca que o corpo efetua 
com o mundo. O corpo-imagem que você apresenta ao espelho da sociedade vai 
determinar sua felicidade não por despertar o desejo ou o amor de alguém, mas por 
constituir o objeto privilegiado do seu amor-próprio: a tão propalada auto-estima, a 
que se reduziram todas as questões subjetivas na cultura do narcisismo. 
Nesses termos, o corpo é ao mesmo tempo o principal objeto de investimento 
do amor narcísico e a imagem oferecida aos outros – promovida, nas últimas décadas, 
ao mais fiel indicador da verdade do sujeito, da qual depende a aceitação e a inclusão 
social. O corpo é um escravo que devemos submeter à rigorosa disciplina da indústria 
da forma (enganosamente chamada de indústria da saúde) e um senhor ao qual 
sacrificamos nosso tempo, nossos prazeres, nossos investimentos e o que sobra de 
nossas suadas economias. 
(Folha de São Paulo, 30 jun 2002. Mais! P. 18. Maria Rita Kehl)
3.3. A propaganda
 
3.3.1. Propaganda e Mídia
 
 A propaganda é um dos gêneros discursivos que mais influencia nosso 
140
comportamento social. Estudá-la é sempre instigante, pois a sociedade capitalista nos 
bombardeia constantemente com anúncios vários, seja por meio impresso: jornais, 
revistas, seja por meio eletrônico, para quem tem acesso à internet, e ainda por meio 
do rádio e da televisão. Desse modo, a propaganda invade nosso dia-a-dia e nos torna 
ávidos consumidores dos produtos ofertados, não tanto pelo valor material que eles 
possuem, mas principalmente, pelo status que eles representam socialmente. Por isso, 
a maioria das pessoas não se contenta em obter uma mercadoria qualquer. 
Se a mídia dita que para serem chiques, é preciso adquirir a calça jeans da 
marca X ou Y, muito mais caras do que as que se encontram nas lojas populares, ainda 
que seja o mesmo material utilizado, as pessoas sentem a necessidade de comprá-la por 
uma questão de visibilidade social, ou seja, não é preciso apenas ter, o indispensável 
é mostrar que podem ter o bem de consumo
Os limites entre propaganda e publicidade são tênues, sendo esses termos 
usados, muitas vezes, como sinônimos, por isso é necessário estabelecer delimitar asfronteiras que os separam. De acordo com S’antanna (1998): 
Embora usados como sinônimos, os vocábulos publicidade 
e propaganda não significam rigorosamente a mesma coisa. 
Publicidade deriva de público (do latim publicus) e designa a 
qualidade do que é público. Significa o ato de vulgarizar, de 
tornar público um fato, uma idéia.
Nessa concepção, que também se encontra no Dicionário Novo Aurélio 
— Século XXI, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, o termo publicidade, no 
português, é utilizado para venda de produtos e serviços. Já o termo propaganda, 
segundo o dicionário inglês Webster´s, foi traduzido pelo papa Clemente VII, em 
1597, quando fundou a Congregação da Propaganda, com o intuito de propagação 
da fé cristã. Etimologicamente, a palavra “propaganda” deriva do feminino do caso 
ablativo singular do gerundivo latino, cujo masculino é propagandus, que exprime a 
idéia de dever, necessidade, significa “aquilo que deve ser propagado”. Em português, 
o termo propaganda é mais genérico do que publicidade e diz respeito a todo o processo 
de difusão da mensagem por parte de um anunciante, mediante compra de espaço na 
mídia. Entretanto, muitas vezes, propaganda é utilizada como sinônimo de anúncio, a 
mensagem em si, e também no sentido de publicidade, no sentido de tornar público, 
um bem de consumo. 
Sendo o homem eminentemente social, a produção e o intercâmbio de 
informações e de conteúdo simbólico são atividades presentes em todas as sociedades. 
Para Thompson (1998:19): 
Desde as mais antigas formas de comunicação gestual e de 
uso da linguagem até os mais recentes desenvolvimentos na 
tecnologia computacional, a produção, o armazenamento e 
a circulação de informação e conteúdo simbólico têm sido 
aspectos centrais da vida social. (...) De uma forma profunda 
e irreversível, o desenvolvimento da mídia transformou a 
natureza da produção e do intercâmbio simbólicos no mundo 
moderno. 
A globalização, fenômeno-símbolo da modernidade, foi uma dos responsáveis 
141
por essa transformação. Ela desterritorializou fronteiras, interligando os lugares 
mais remotos a redes globais de conexão e com isso, tornou o mundo “uma aldeia 
global”. Também permitiu que a troca de informações e produtos fosse acessível, 
simultaneamente, em vários espaços reais e virtuais do globo terrestre, provocando 
uma disjunção entre espaço e tempo (por exemplo, vários eventos sendo mostrados 
ao mesmo tempo, apesar de acontecerem em lugares distintos) e possibilitando o 
surgimento de fenômenos como a hibridização cultural ou o multiculturalismo, isto 
é, a convivência ou fusão de culturas diversas em um mesmo momento social.Essas 
mudanças no campo social acarretam novas práticas, instituem novas formas de 
comportamento social. Uma das formas mais poderosas de difusão dessas mudanças, 
em nossa sociedade de consumo, é a rede midiática.
O desenvolvimento da mídia, desde as formas mais antigas de impressão aos 
mais recentes desenvolvimentos no campo da tecnologia digital, tem se baseado na 
exploração comercial das inovações técnicas. Essa exploração é um processo que 
ocorre no interior das estruturas institucionais que continuam a determinar os caminhos 
operacionais da mídia até hoje. 
Para Thompson (1998:33), uma das características da comunicação de massa 
(em que se inclui a propaganda), é a “mercantilização das formas simbólicas”. Para ele, 
as formas simbólicas se submetem a dois tipos de valorização: a valorização simbólica 
e a econômica. A primeira refere-se ao valor afetivo que os objetos possuem em virtude 
da estima, da indiferença ou do desprezo dos indivíduos. Enquanto a valorização 
econômica diz respeito ao processo de “mercantilização” das formas simbólicas em 
virtude do qual elas se tornam mercadoria, ou seja, transformam-se em objetos que 
podem ser comprados ou vendidos no mercado por um determinado preço. Todos os 
objetos produzidos pelas instituições da mídia passam pelo processo de valorização 
econômica. 
 A venda dos espaços para propaganda nos meios impressos e eletrônicos 
tem sido de fundamental importância para a valorização econômica, determinando, 
inclusive, uma série hierárquica de preços de acordo com o horário e o tempo de 
exibição (no caso das transmissões de rádio e de televisão) ou ainda conforme o lugar 
de exposição (em jornais e revistas) do produto anunciado. 
Outra característica dos veículos da mídia refere-se ao modo de circulação das 
formas simbólicas. Os produtos midiáticos têm caráter público, uma vez que estão 
disponíveis para uma pluralidade de destinatários, embora cada gênero midiático 
tenha seu público-alvo específico. Desse modo, qualquer indivíduo que possua os 
meios técnicos, as habilidades instrumentais e os recursos financeiros, pode adquiri-
los.Todavia, a recepção dos produtos oferecidos pela mídia envolve uma relação de 
poder-saber. Não são todos os indivíduos que têm acesso a esses produtos, mas apenas 
aqueles que, dentro de um determinado contexto histórico, têm as condições (físicas, 
materiais, sociais) de obtê-los. 
O conteúdo dos textos expostos na mídia é de domínio público, o que acarreta 
uma série de problemas como, por exemplo, a apropriação indevida de textos que 
circulam pela internet ou ainda, a falta de definição das regras sociais, que controlem 
a circulação das informações no universo virtual. 
Com o avanço tecnológico, a mídia alterou a nossa compreensão do mundo. 
Se essa antes decorria de nossa experiência/vivência pessoal e de nosso lugar/posição 
social dentro do mundo, a mídia criou o que Thompson denominou de “mundanidade 
mediada”, quer dizer, o processo de leitura do mundo é mediado pelos veículos 
midiáticos. São eles que fornecem um conjunto de representações simbólicas que 
142
permitem reconstituir o passado, construir o presente e entrever o futuro. 
Na visão de Thompson, muitos indivíduos nas sociedades ocidentais conhecem 
os principais acontecimentos históricos do passado através de livros, revistas, filmes; 
dificilmente por relatos de testemunhas ou de interação face a face, a história do 
presente também é mediada pela mídia, que a todo instante nos mostra, pelas suas 
lentes, os principais acontecimentos do planeta. Até mesmo o futuro é prenunciado nos 
filmes e nas reportagens da televisão. 
Se, por um lado, ampliam-se nossos horizontes cognitivos e espaciais, por 
outro lado, o processo de interpretação da realidade pela mídia influencia nossa prática 
cotidiana, modelando nossas condutas sociais. O lugar, por excelência, da produção 
do acontecimento não é mais o do discurso da história, mas o da mídia, como assinala 
Nora (1995: 181):
É à mídia de massa que se deve o reaparecimento do monopólio 
da história. De agora em diante esse monopólio lhes pertence. 
Nas nossas sociedades contemporâneas é por intermédio deles 
e somente por eles que o acontecimento marca a sua presença 
e não nos pode evitar. (...) Imprensa, rádio, imagens não agem 
apenas como meios pelos quais os acontecimentos seriam 
relativamente independentes, mas como a própria condição 
de sua existência. A publicidade dá forma a sua própria 
produção.
 
A mídia é uma instituição disciplinar, que impõe práticas cotidianas. Inúmeros 
exemplos podem ser apontados: torna premente a necessidade de o indivíduo manter-
se informado pela leitura de revistas e jornais, de vestir-se conforme as tendências da 
moda ditada pelos veículos midiáticos ou ainda de viajar para lugares indicados pelas 
revistas especializadas em turismo, como por exemplo, para as praias “paradisíacas” do 
Nordeste. Por serem naturalizadas pela mídia como atividades de rotina, essas práticas 
são automatizadas pelos indivíduos, que geralmente não percebem o jogo de poder 
que as determina. Saliente-se, porém, que os indivíduos não são títeres à mercê das 
instituições midiáticas. Para Foucault (1999: 91-92), a resistência é inerente ao poder. 
Se a mídia, assim como a propaganda, traz como benefícios, atender às 
necessidadesde consumo e melhorar a qualidade de vida do indivíduo por meio 
das informações globalizadas, por outro lado, é preciso refletir sobre os perigos da 
alienação e acirramento de preconceitos a que a mídia induz.
A propaganda não somente retrata um momento social, sobretudo, ela o 
interpreta. Desse modo, não há uma relação transparente entre o homem, o mundo 
e a linguagem, mas essa tríade inseparável é construída no discurso da propaganda. 
Tal construção é materializada em textos, nos quais se observa como a linguagem da 
propaganda é elaborada, sinuosa, repleta de estratégias de sedução. Para interpretá-
la, é preciso sempre extrapolar o nível da superfície textual e buscar os sentidos no 
diálogo com o outro: outros textos, outros discursos, enfim, com a dimensão sócio-
histórica que os constitui.
Para aplicarmos a teoria dos gêneros, resolvemos nos deter no enfoque da 
propaganda turística nordestina, vez que permite uma reflexão sobre o espaço onde 
vivemos. 
143
A propaganda turística é um gênero do discurso? 1.1.2. 
 
 A importância de discutir se a propaganda turística é um gênero do discurso, na 
acepção que o filósofo russo Mikhail Bakhtin emprega o termo, é mostrar que há um 
jogo de regras que controlam o funcionamento e a circulação dos discursos sociais. Por 
isso, não se pode dizer o que se quer quando se quer, pois os discursos são socialmente 
organizados, inserem-se numa ordem enunciativa e são regulados, moldados pelos 
gêneros que os constituem. Como salienta Bakhtin (1997: 302):
Os gêneros do discurso organizam nossa fala da mesma maneira 
que a organizam as formas gramaticais (sintáticas). (...) Se não 
existissem os gêneros do discurso e se não os dominássemos, 
se tivéssemos de criá-los pela primeira vez no processo da fala, 
se tivéssemos de construir cada um de nossos enunciados, a 
comunicação verbal seria quase impossível.
 Para você responder à questão com que iniciamos esse tópico, vamos analisar 
algumas propagandas turísticas, a partir dos três elementos que compõem um gênero 
do discurso: o conteúdo temático, o estilo e o modo de construção composicional
 Quanto ao conteúdo temático, o conjunto de enunciados que compõem os 
textos de propaganda refere-se aos estados do Nordeste que eles anunciam. Por estarem 
inseridos em uma conjuntura capitalista, os dizeres da propaganda turística visam a 
transformar o espaço nordestino em um bem de consumo, uma mercadoria que ofereça 
prestígio, status social e, conseqüentemente, poder a quem a adquire. 
 Objetivando vender esse espaço como destino ideal para viagens com 
finalidades turísticas e de lazer, a propaganda redimensiona o Nordeste, num processo 
metonímico, em que se toma a parte (Litoral) pelo todo (região). 
 Para descreverem os atrativos turísticos da costa litorânea nordestina — foco 
temático da propaganda —, os enunciados, em sua maioria, se ancoram no mito do 
paraíso tropical, que é constantemente ressignificado na materialidade textual da 
propaganda. Essa perspectiva ufanista, em que o litoral aparece somente como sinônimo 
de oásis, fartura, e “reino da diversão”, mascara a realidade social do Nordeste, onde 
riqueza e pobreza convivem dialeticamente. Todavia, a produção de um dado discurso 
ocorre em condições de possibilidade específicas, logo, ele se insere em uma ordem: a 
ordem do enunciável, que delimita o “que pode e o que deve ser dito”. 
 Não seria compatível, na ordem enunciativa da propaganda turística, a exposição 
das mazelas sociais, uma vez que a finalidade maior desse discurso é fazer o público-
alvo comprar o produto anunciado. 
 Há, portanto, regras e restrições sociais que regem os gêneros — formas 
materiais dos discursos sociais. Como sintetiza Brait (2001: 32): “O gênero discursivo 
diz respeito às coerções estabelecidas entre as diferentes atividades humanas e os usos 
da língua nessas atividades, ou seja, as práticas discursivas implicam necessariamente 
coerções”. 
 Sendo o texto da propaganda turística, submetido à voz institucional, que se 
marca em diversas posições enunciativas, as coerções desse dizer delimitam a atividade 
turística na região, instituindo para o Nordeste, rotas turísticas orientadas quase em 
sua totalidade para as capitais litorâneas, e apagando, silenciando outros caminhos 
possíveis, como as regiões do Brejo, Cariri e Sertão, como analisa Cruz (2000: 210): 
144
 
O litoral nordestino, uma estreita faixa de, aproximadamente, 
3.300 quilômetros de extensão, é o território eleito nesta região 
pelo e para o turismo, ou seja, para se especializar como 
território turístico receptivo. Este Nordeste turístico, repleto 
de diferenças e contradições, esconde, por outro lado, um 
Nordeste que o turismo e o turista não vêem, um território onde 
pobreza e concentração de renda são elementos importantes do 
processo de construção do lugar. 
 Em se tratando de estilo, podemos dizer que os enunciados, dos textos de 
propaganda turística, caracterizam-se pelo jogo com as formas do sistema lingüístico, 
pela constante utilização de recursos expressivos, como figuras de linguagem, que 
configuram uma polissemia enunciativa. 
 Um dos slogans da propaganda turística oficial do estado do Maranhão dizia o 
seguinte: 
“ Maranhão. O segredo do Brasil”.
 Neste enunciado, o vocábulo “segredo” é extremamente opaco, podendo 
significar de diversas maneiras, de acordo com a situação enunciativa em que ele se 
insere. Ele tem como referência próxima o topônimo Maranhão, o que possibilita 
relacioná-lo a todo o estado. 
 Mas qual é o segredo do Maranhão? Esse enigma o leitor somente descobre 
ao ler o restante da propaganda, pois o “segredo” pode ser a Festa de São João, tal 
qual ela ocorre na capital maranhense, com “Bois de Matraca, Zabumba e Orquestra, 
numa sinfonia ‘única de alegria e paixão”, ou o “segredo” pode estar no Parque dos 
Lençóis Maranhenses, “onde impossível é não voltar”, ou ainda para entender por que o 
Maranhão é “uma terra inesquecível”, o “segredo” é ler as poesias do “romancista José 
Sarney”. Enfim, a eficácia do vocábulo segredo, na cadeia enunciativa, decorre de sua 
opacidade, a qual possibilita a multiplicidade dos sentidos no slogan e atesta a natureza 
fugidia dos sentidos, que ora se escondem (na própria acepção do vocábulo segredo 
como “aquilo que não pode ser revelado”), ora se deixam entrever na materialidade 
sintático-lexical da propaganda. Por isso, para Bakhtin, a palavra é sempre plural e 
inacabada. 
145
 Além disso, a atividade turística no Maranhão não é tão intensa quanto a de outros 
estados nordestinos como o Ceará e a Bahia. Por isso, para muitos turistas do Brasil e 
do exterior, ainda há, no Maranhão, inúmeros “segredos” que eles desconhecem. Com 
o propósito de atrair riquezas por intermédio do turismo, o governo do estado procura 
instigar a curiosidade do turista para descobrir o que o texto de propaganda anuncia, 
ou seja, os roteiros turísticos do estado e assim, conseguir o seu intento: implementar 
a vinda de turistas e conseqüentemente lucrar com o turismo local.
 Seguindo a mesma estrutura formal do slogan maranhense, temos: 
“Aracaju. A novidade do Nordeste.”
 Novamente, observamos a polissemia do vocábulo “novidade”, que à semelhança 
do slogan maranhense, objetiva atrair a atenção do público, fazê-lo interessar-se em 
adquirir o produto à venda. Esse jogo, de/com os sentidos na estrutura enunciativa, 
caracteriza o estilo do texto publicitário, em geral, e da propaganda turística, em 
particular, pois é um procedimento recorrente em todos os textos que compõem o 
corpus dessa pesquisa. Ferreira esclarece que 
isso acontece porque a língua é um sistema sintático 
intrinsecamente passível de jogo. E dentro desse espaço 
de jogo, as marcas significantes da língua são capazes de 
deslocamentos, transgressões, de rearranjos. É isso que faz 
com que um determinado segmento possa ser ele mesmo ou 
outro, através da metáfora, da homofonia, da homonímia, dos 
lapsos da língua, dos deslizamentossêmicos, enfim, dos jogos 
de palavra e da dupla interpretação de efeitos discursivos. 
(2000:108)
 O uso de empréstimos lexicais, provenientes em sua maioria, da língua inglesa, 
como o anglicismo point, é verificado em vários enunciados que compõem os texto 
de propaganda turística. A propaganda oficial do estado da Bahia (publicada na revista 
Caminhos de Salvador) afirma que “Salvador é o novo point do Brasil”; mas a revista 
internacional Condé Nast Traveler indica o Ceará como “um dos points mais quentes 
do milênio” e na Paraíba, “o point mais festejado na orla, no entanto, é Tambaú, com 
seus hotéis de luxo, restaurantes internacionais e regionais, bares, boates, mercados de 
artesanato, barraquinhas de comidas típicas e vendedores de frutas tropicais”. 
Essa técnica de construção dos enunciados, utilizando-se de terminologia estrangeira, 
revela a ideologia capitalista que regula o discurso da propaganda oficial. Vender 
uma mercadoria é a grande finalidade do discurso publicitário e o turismo é uma das 
atividades econômicas mais rentáveis do mundo
 O discurso da propaganda turística sobre o Nordeste — instância da materialidade 
ideológica — visa a atrair turistas do exterior, como também os “de casa”, sendo essa 
uma das justificativas para o uso de empréstimos lexicais em sua estrutura enunciativa. 
Para os turistas internacionais, o uso de anglicismos surte um efeito de identificação pela 
empatia lingüística e conseqüentemente atrai o seu interesse para o produto enunciado, 
já em relação ao turista brasileiro, os vocábulos estrangeiros — Beach Park, show-
room, point — funcionam como símbolos de status e riqueza, que despertam nele, o 
desejo de obter a mercadoria anunciada. 
A palavra polis-
semia é composta 
por dois radicais: 
Poli = muito
semia = signifi-
cado
Portanto, uma pa-
lavra pode apre-
sentar diferen-
tes significados 
dependendo dos 
usos lingüísticos 
que dela se faz.
146
 Além disso, o fato de a voz estrangeira agregar um valor material à estrutura 
simbólica, evidencia a superioridade econômica do país importador do vocábulo 
(geralmente os Estados Unidos) sobre o Brasil e o domínio sócio-cultural americano, 
que se difunde, sobremaneira, pelos veículos da mídia nacional, como é o caso da 
propaganda turística oficial, influenciando condutas lingüísticas e determinando 
valores sociais. Essa relação constitutiva entre linguagem e ideologia já inquietava 
Bakhtin. Em sua obra Marxismo e Filosofia da Linguagem (publicada na Rússia em 
1929), o pensador russo afirma que:
A palavra é o signo ideológico por excelência; ela registra 
as menores variações das relações sociais, mas isso não vale 
somente para os sistemas ideológicos constituídos, já que a 
‘ideologia do cotidiano’, que se exprime na vida corrente, 
é o cadinho onde se formam e se renovam as ideologias 
constituídas. (1992: 16)
 A linguagem coloquial — caracterizada pelo uso de termos e expressões do 
cotidiano, bem como por pequenos desvios da variante culta da língua — é outro traço 
estilístico da propaganda turística oficial. Por exemplo, a utilização do verbo “ter” no 
sentido de “haver”, a forma sincopada da preposição para: “pra”, a questão da regência 
do verbo ir: “ir em” ao invés da variante culta “ir para” são casos de uso extremamente 
produtivos na fala do cotidiano e na escrita informal. O enunciado abaixo ilustra bem 
esse tipo de linguagem:
 “Tem coisas que só indo no Ceará pra entender como é bom.”
 Também a utilização de gírias, como o verbo curtir, é um recurso de persuasão 
utilizado para causar um efeito de empatia com o público-alvo, criando um tom de 
conversa informal, íntima, para fazer o consumidor sentir-se “em casa”, diminuindo a 
distância entre enunciador e enunciatário; dissimulando, assim, o eventual receio de se 
estar em terra estranha, desconhecida, na “casa do outro”. A propaganda do estado da 
Bahia assim convida seu leitor(a): 
Venha para Salvador e descubra todos os encantos da primeira capital do Brasil. 
Salvador está de cara nova, muito mais bonita. Aqui, você curte de tudo: folclore, 
festas populares, música, dança, comidas típicas, os banhos noturnos com águas 
mornas e cristalinas, shows e novíssimas atrações. 
 Já o sujeito enunciador da propaganda do Ceará avisa:
 
Quem curte a agitada vida noturna de Fortaleza e descobre o rico artesanato, a 
culinária deliciosa e todo o conforto da bem estruturada rede hoteleira cearense, 
fica ligado para sempre ao Ceará. Uma terra de gente hospitaleira e bem-
humorada com um jeitinho de falar que cativa na hora.
 
 A ênfase no registro da linguagem cotidiana, informal, da propaganda está 
diretamente relacionada com a imagem do povo nordestino que se quer construir nesse 
147
gênero: pessoas de hábitos simples, alegres, hospitaleiras, como enfatiza a propaganda 
do Rio Grande do Norte: “os nativos desse belo e riquíssimo litoral são simples, 
amigos, hospitaleiros”. Segundo Ferreira (2000: 114):
A linguagem publicitária em seu propósito de atrair a atenção do 
público (cliente em potencial) explora, não raro com bastante 
eficácia, recursos expressivos contidos na própria estrutura 
significante do sistema lingüístico. Dessa forma, realiza, em 
algumas formulações, um trabalho do sentido com o sentido, 
incorporando o caráter oscilante e paradoxal que perpassa a 
língua no registro do cotidiano. 
 
 Observa-se, ainda, na linguagem da propaganda, o uso de recursos expressivos 
como a utilização de figuras de linguagem. No folder distribuído pela Prefeitura 
Municipal de Lucena, praia localizada no litoral norte da Paraíba, lê-se na capa:
“Lucena, um lugar chamado Liberdade”.
 O animismo, prosopopéia ou personificação é um tipo de metáfora que 
“humaniza” esse espaço geográfico, acenando para o leitor-alvo com a ilusória utopia 
de ele gozar ali, a liberdade, de forma plena. Ao jogar com a natureza simbólica da 
palavra “liberdade”, a propaganda ativa a fantasia e o desejo do turista de conhecer/
descobrir um lugar ideal para o lazer. Dessa maneira, a propaganda municipal 
redimensiona o espaço real, transformando–o em sonho possível. Na compreensão de 
Castoriadis (1982: 152):
A sociedade constitui seu simbolismo, mas não dentro de uma 
liberdade total. O simbolismo se crava no natural e se crava 
no histórico (ao que já estava lá); participa, enfim, do racional. 
(...) Nem livremente escolhido, nem imposto à sociedade 
considerada, nem simples instrumento neutro e medium 
transparente, nem opacidade impenetrável e adversidade 
irredutível, nem senhor da sociedade, nem escravo flexível da 
funcionalidade, nem meio de participação direta e completa em 
uma ordem racional, o simbolismo determina aspectos da vida 
da sociedade (e não somente os que era suposto determinar) 
estando ao mesmo tempo, cheio de interstícios e de graus de 
liberdade. 
 Ainda em relação ao estilo da propaganda oficial, podemos apontar o uso de 
regionalismos (o uso do verbo “arribar”, por exemplo, na propaganda do Ceará), que 
conferem um efeito de identidade a esse gênero. 
 Por ter um caráter essencialmente persuasivo, o foco do processo enunciativo, 
no discurso publicitário, é o outro. Por isso, o destinatário aparece inscrito no fio 
do discurso, tanto de forma direta, pelo dêitico você (que, na linguagem coloquial, 
funciona como um pronome do caso reto), quanto indiretamente, pelo verbo na terceira 
pessoa do singular, ou ainda, expresso pelo pronome relativo quem. Observem-se os 
exemplos, a seguir:
Animismo, Pro-
sopopéia ou 
Personificação é 
um tipo de me-
táfora que fun-
ciona como uma 
projeção de sen-
sações, havendo 
um deslocamen-
to de sentido 
que consiste em 
transferir algo 
inerente ao uni-
verso humano 
para o mundo 
dos seres inani-
mados ou irra-
cionais, a fim de 
fazer as coisas 
“falarem e sen-
tirem” 
148
“O sol, o mar e a nossa tranqüilidade estão esperando por você”. (propaganda de 
Sergipe)
“Siga as trilhas da natureza”. “Respeite a sinalização do Parque” (propaganda

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