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113 114 115 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO II Evangelina M.B. Faria Maria de Fátima Almeida Maria Regina Baracuhy Leite Apresentação Esta disciplina Leitura e Produção Textual II tem como prioridade o desenvolvimento das habilidades para a escrita. Em LPT I, a ênfase foi dada ao processo da leitura. Agora voltaremos nossa atenção para a produção da escrita, embora entendamos que leitura e escrita são processos complementares. A nossa disciplina está dividida em três unidades temáticas. São elas: 1. A produção da escrita, em que apresentaremos algumas concepções de escrita , bem como a relação entre escrita e interação; 2. Texto e textualidade, em que discutiremos vários fatores que são fundamentais na produção de um texto escrito; 3. O trabalho com os gêneros escritos. Neste terceiro momento, aplicaremos a teoria dos gêneros discursivos em três gêneros do cotidiano: a carta, o artigo de opinião e a propaganda. Quanto ao processo de avaliação, ele ocorrerá de forma contínua. Você será solicitado a fazer exercícios e questionários periódicos; a participar efetivamente dos debates através do fórum ou on line, o que terá fundamental importância, pois será o momento de esclarecer dúvidas, dar opiniões e sugestões. A partir das leituras e pesquisas sobre os temas abordados, você deverá também produzir textos ao longo do curso, a fim de exercitar suas habilidades escritas. Um outro momento do processo avaliativo ocorrerá de modo presencial, em que os conhecimentos serão avaliados por meio de avaliações escritas. Ao estudar esse material, questione, critique, sugira, opine, sua participação é fundamental para o sucesso do nosso trabalho. Vai ser muito bom aprendermos juntos e trocarmos experiências. Um grande abraço! 116 117 UNIDADE I A PRODUÇÃO ESCRITA Considerações preliminares sobre a escrita1.1. Gostaria de iniciar minha conversa com você sobre a escrita, a partir da fala. É muito fácil falar. Todos nós, homens e mulheres, gostamos de falar, porém as mulheres têm uma fama de falar mais. Não sei se é verdade, mas gosto de opinar sobre tudo: nos serviços da casa, na educação dos filhos, na roupa do marido, na vida política do país, na educação, nos conflitos religiosos, nas eleições dos Estados Unidos, enfim, em tudo que o meu olhar leitor encontra. Com a escrita, é diferente, parece que nossa relação só funciona na escola. Escrevemos como um martírio, só por obrigação. È assim também com você? Não deveria. Fomos habituados a criar essa relação com a escrita. Escrever para alguém corrigir. Essa visão restringe o papel da escrita. Nesse nosso curso, veremos que a fala e a escrita são duas modalidades do sistema da língua, que hoje são vistas dentro de um continuum que vai do nível mais informal aos mais formais. Tomamos a fala e a escrita como atividades de interação. Nessa perspectiva, são atividades cooperativas, em que pelo menos dois sujeitos agem conjuntamente para a interpretação de um sentido presente nelas; são contextualizadas, pois se situam em um espaço e em um tempo e, naturalmente, textuais, pois se materializam em textos orais ou escritos. Vimos que a escrita é interação, isto é, escreve-se para dizer algo a alguém num determinado momento. Se prestarmos atenção, nunca fazemos algo sem um motivo. Assim, na nossa vida, quando falamos ou escrevemos, dizemos algo a alguém num momento, que inclui tempo e espaço, com um propósito. Simples assim. Para que essa nova visão de escrita chegue até você e a seus futuros alunos, esse curso terá como objetivos gerais: ◘ Promover estratégias para que você descubra a escrita como forma de interação; ◘ Desenvolver suas habilidades de produzir textos de acordo com as condições de produção: função da escrita, gênero textual, objetivo e interlocutor visado; ◘ Desenvolver suas habilidades para fazer uso de recursos lingüísticos que permitam a construção de um texto coerente, coeso, informativo e com poder de argumentação. São objetivos ousados, você não concorda? E para atingi-los, conheceremos, um pouco, as perspectivas de estudo sobre a escrita, suas funções, os mecanismos de textualidade e, por fim, abordaremos a produção de gêneros textuais. Tenho certeza de você se identificará com esta disciplina, pois sempre temos muito o que dizer, ou melhor, escrever. Você vai ter oportunidade de expressar sua maneira de ver o mundo na modalidade escrita. Vamos ver se no final do curso você mudou sua maneira de conceber a escrita. É também um grande desafio. Quero lembrar- lhe um frase de Drummond :“ A minha vontade é forte, mas a minha disposição de obedecer-lhe é fraca”. Não deixe que sua disposição o desestimule. Sabemos que 118 a escrita é uma pedra no meio do caminho de muitos estudantes, porém ainda com Drummond : Se procurar bem você acaba encontrando. Não a explicação (duvidosa) da vida, Mas a poesia (inexplicável) da vida. Acreditamos que há beleza no ato de escrever. Este é o nosso convite: venha descobrir! A escrita também possui uma poesia inexplicável. 1. 2. Concepções de escrita Pensar em escrita envolve lidar com um termo bastante polissêmico. A escrita pode ser entendida como uma tecnologia, enquanto uma nova habilidade desenvolvida por algumas sociedades; como uma forma gráfica, e nela entrariam todas as semioses gráficas produzidas pelas sociedades (cf. OLSON, 2000); como uma modalidade de realização da língua (cf. MARCUSCHI, 2001). Diante da diversidade apontada acima, a escola “diante da escrita” se depara com este objeto que condensa todas estas propriedades. O ponto de vista cria o objeto, essa frase de Saussure nos mostra que, dependendo da concepção que norteia esse olhar, a escrita se apresenta de forma diferente. A pergunta é: a partir de que concepção será tratada a escrita no nosso curso? Para responder a essa pergunta, precisamos entender que há diferentes e/ou complementares formas de se abordar o fenômeno lingüístico. A concepção de escrita está atrelada à concepção de linguagem. Vejamos cada uma delas. A primeira concepção, a dos gregos, vê a linguagem como expressão do pensamento. Para essa concepção, as pessoas não se expressam bem porque não pensam. A expressão se constrói no interior da mente, sendo sua exteriorização apenas uma tradução. Essa teoria de expressão repousa num dualismo entre o interno (consciência) e o externo (ato de expressão), com primazia explícita do conteúdo interior, já que todo ato de expressão origina-se do interior para o exterior. Essa corrente desenvolve- se num terreno idealista e espiritualista, em que tudo que é essencial é interior, por isso coloca em destaque a função expressiva da linguagem em detrimento da função comunicativa. Centrada no locutor, faz do indivíduo falante o princípio e o fim da linguagem. A comunicação é um ato monológico, individual, que não é afetado pelo outro nem pelas circunstâncias que constituem a situação social em que a enunciação acontece. Para essa concepção, o modo como o texto está constituído não depende em nada para quem se fala, em que situação se fala (onde, como, quando, para que se fala). Neves (2000) relata que, neste período, a atividade do gramático era julgar as obras do passado, procurando as virtudes e os vícios e apontar aos usuários com a finalidade de oferecer modelos. Essa concepção de gramática como descrição que permite conhecer o padrão a ser seguido no uso da língua foi transmitida à cultura ocidental. Aqui, o ensino da língua e da escrita deve iniciar pela apresentação da gramática, cujo domínio conduzirá à produção escrita. Este poema está no site: http://www. pensador.info/p/ poesias_de_ carlos_dru- mond_de_ andrade/1/ 119 Concepção de escrita Aprendizado da gramática A segunda concepção, a de Saussure, no início do século XX, vê a linguagem como instrumento de comunicação, como meio para a comunicação. Nessa concepção, a linguagem é vista como um código, ou seja, um conjunto de signos quese combinam segundo regras e que é capaz de transmitir uma mensagem, informações de um emissor a um receptor. Esse código deve, portanto, ser dominado pelos falantes para que a comunicação possa ser efetivada. Como o uso do código, que é a língua, é um fato social, envolvendo conseqüentemente pelo menos duas pessoas, é necessário que o código seja utilizado de maneira semelhante, pré-estabelecida, convencionada para que a comunicação se efetive. Concepção de escrita O texto é visto como um conjunto de unidades lingüísticas através do qual se pode expressar um pensamento. Não há um rompimento com o modelo anterior. A escrita é sempre a mesma e o interlocutor não existe, pois quem comanda é o emissor. Predominam no ensino da escrita, três atitudes: fazer o aluno encontrar a idéia a ser desenvolvida, trabalhar a correção da língua, e enriquecer sua capacidade de expressão. Os modelos trabalhados são: descrição, narração e dissertação. Nessa perspectiva, toda a situação que cerca a fala e a escrita é secundária, pois o que está no centro é a estrutura da língua, suas formas. A língua é imanente, isto é, basta a si mesma. Como implicações dessa visão tem-se uma escrita: a) de um único sentido, pois o sentido está nas formas colocadas no papel; b) solitária, é o produtor que constrói o texto sozinho; c) como exercício meramente mecânico, em que a repetição ajuda a fixar as formas; d) que se apresenta sempre da mesma forma, utilizando a norma padrão; e) que se interessa pelo produto final; f) em que as impropriedades são erros, afastamentos do modelo ideal. A terceira concepção proposta por Bakhtin (1995), um filósofo russo, vê a linguagem como forma ou processo de interação. Nessa concepção, o que o indivíduo faz ao usar a língua não é tão-somente traduzir e exteriorizar um pensamento, ou transmitir informações a outro, mas sim realizar ações, agir, atuar sobre o interlocutor (ouvinte/leitor). Naturalmente, pela linguagem, realizamos muitas ações: interagimos, influenciamos, construímos pensamentos, etc. Por meio dela damos forma e compreensão às experiências cotidianas, reavaliando, continuamente, os fatores externos, modificando-os, numa incessante troca com o outro. Por isso, mais que 120 instrumento de transmissão, o papel fundamental da linguagem é o da constituição de sujeitos. Pela linguagem, o homem se constitui enquanto consciência no auto- reconhecimento e pelo reconhecimento do outro, numa relação de alteridade. Concepção de escrita Escrever constitui um modo de interação entre as pessoas. Quem escreve, escreve sabendo para que e para quem. Ao escrever, o sujeito enuncia seu pensamento, com algum propósito, para si ou para o outro. A língua como instrumento de interação social, com propósitos comunicativos, é co-determinada pela situação de comunicação. Em outras palavras, a língua não basta a si mesma, precisa do contexto de produção. Por isso, o olhar da Lingüística nessa perspectiva envolve dois tipos de sistemas de regras, ambos reforçados pela convenção social: i) as regras que governam a constituição das expressões lingüísticas (regras semânticas, sintáticas, morfológicas e fonológicas) ii) as regras que governam os padrões de interação verbal em que essas expressões lingüísticas são usadas (regras pragmáticas) Como se vê, por este ângulo, a interação verbal vai modelar a língua de uma forma particular e profunda. Como implicações dessa visão, tem-se uma escrita: a) de vários sentidos, pois o sentido está na interação entre autor, texto e leitor; b) compartilhada, produtor e leitor virtual constroem o texto; c) como produção de sentido, efetivado pelo trabalho cognitivo baseado em hipóteses; d) que se apresenta de forma variada, pois vai depender da situação de interlocução; e) que se interessa pelo processo e não só pelo produto final; f) em que as impropriedades são hipóteses, elementos que mostram o percurso escolhido para a construção de sentido. Para o nosso curso, adotaremos uma concepção de escrita voltada para o uso e construída na interação. 121 1.3. Escrita e interação Essa idéia surge com Bakhtin (1929/1995), para quem a linguagem é duplamente dialógica. Primeiro, por direcionar-se sempre para alguém e, segundo, por estabelecer um diálogo com os outros textos. Os sujeitos constroem o conhecimento com base em suas representações, em seus conhecimentos anteriores. Para Bakhtin (1995: p. 113): Na realidade toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte.[...] A palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros. Destacam-se aqui duas molas mestras no pensamento do autor. A palavra, o texto é sempre dirigido a alguém, não se fala ao vácuo. E esse texto procede de alguém. Ganha relevo a intertextualidade, esse fator torna-se condição prévia na produção e recepção de qualquer tipo de texto, pois a relação entre discursos é constitutiva de cada discurso. Qualquer escrita nasce na fonte de outras vozes. Outro contributo do mestre russo foi a incorporação da situação interlocutiva. A situação social mais imediata e o meio social mais amplo determinam completamente e, por assim dizer, a partir do seu próprio interior, a estrutura da enunciação. (Bakhtin,1995 p 113) Isto quer dizer que a situação deve ser considerada na hora da produção ou da recepção de texto. Para se expressar algo na modalidade oral ou escrita, é necessário saber o que vai ser dito, onde e para quem. Esses elementos são constitutivos do ato de expressar-se. Nessa perspectiva, como vimos anteriormente, a escrita é uma atividade cooperativa, em que pelo menos dois sujeitos atuam para a construção de um sentido; contextualizada, situada em um espaço e em um tempo e, naturalmente, textual, que se concretiza em textos escritos. È necessário acrescentar também a atividade cognitiva, pois, na escrita, lidamos com várias tarefas mentais (ativação da memória, seleção de palavras, etc). Por tudo isso, pode-se entender que: a escrita é um evento comunicativo no qual convergem ações lingüísticas, cognitivas e sociais. (Beaugrande 1997, p 10) 122 123 UNIDADE II TEXTO E TEXTUALIDADE Vamos, nesse segundo momento, introduzir a noção de textualidade. Na disciplina LPT I, vocês discutiram a noção de texto: O texto é um todo significativo, é uma unidade de sentido que não depende apenas de seu autor, mas da relação entre leitor-texto – autor. Precisamos agora conhecer alguns princípios de textualidade, isto é, operações produzidas para a construção de um texto. Vejamos este exemplo: Este texto foi produzido com um propósito comunicativo, dentro de uma situação comunicativa, expressando relações com outros textos. Suas informações estão construídas através do lingüístico, articulado de modo coeso e coerentemente, o que nos faz aceitá-lo como texto. Em outras palavras, este texto como todo texto deve apresentar estes sete princípios: Coesão, Coerência, Intencionalidade, Informatividade, Aceitabilidade, Situacionalidade e Intertextualidade Segundo Beaugrande e Dressler (1981), os autores que primeiro falaram sobre esses mecanismos, afirmam que eles devem ser entendidos como sinalizadores da conexão entre elementos textuais. Para os autores (1981), a coesão está voltada para aos modos como os componentes da superfície textual se conectam mutuamente. Essa concepção amplia a noção de coesão textual, que antes se firmava apenas em uma lista finita de mecanismos que concorrem para o estabelecimento da coesão. A coerência, segundo Beaugrande e Dressler (1981), diz respeito ao modo como os componentes do universo textual, ou seja, os conceitos e relações subjecentes ao texto de superfície são mutuamente acessíveis e relevantes entre si, entrando numa configuração veiculadorade sentidos. A intencionalidade, critério centrado basicamente no produtor do texto, serve para indicar a ação discursiva pretendida pelo autor, ainda que nem sempre se realize em sua totalidade, pois vai depender da visão de mundo do leitor. De acordo com Marcuschi (2008), o critério de intertextualidade caracteriza- Um texto não verbal também segue esses princípios Para aprofun- dar, veja o livro de ANTUNES 124 se por fazer relações entre dois ou mais textos, encontrados em experiências anteriores pelo indivíduo que a aplica, com ou sem a mediação de um interlocutor. Partindo da idéia de “absorção e transformação” de textos, o autor considera que todos os textos, de certa forma, dialogam com outros textos, desta forma, não existiria um texto isolado, sem um “aspecto intertextual”. Vemos que ele concerne aos fatores que fazem a produção e a recepção de um texto depender do conhecimento de outros textos. Há dois tipos de relações intertextuais: a paródia e a paráfrase. Esta ocorre quando a relação intertextual tem como objetivo ratificar, confirmar as idéias do texto– base. Como exemplos de paráfrase, temos os fichamentos, os resumos, as sínteses, as traduções. Quanto à paródia, ela ocorre quando a relação intertextual tem como objetivo provocar a inversão do(s) sentido(s) do texto-base. Geralmente a paródia visa à denúncia social. Segundo Citelli (2003: 54), a paródia pode ser concebida como estratégia “de corrosão dos valores consagrados socialmente, de alteração dos conceitos cristalizados, sempre sob o domínio do gesto gozador, engraçado, cômico, irônico”. Como exemplos, temos as sátiras, as charges. A intertextualidade ainda pode ser de forma e/ou de conteúdo. A intertextualidade de forma ocorre quando é retomada mesma estrutura do texto-base: estilo, gênero textual, linguagem. A intertextualidade de conteúdo , como o próprio nome já diz, ocorre quando o conteúdo do texto-base é retomado, seja para confirmá-lo ou para invertê-lo. Podemos entender a intertextualidade como um critério intertextual muito complexo, na medida em que “abarca” muitos termos na própria Análise do Discurso, como o dialogismo, interdiscurso, metacognição, entre outros. Já a situacionalidade “refere-se ao fato de relacionarmos o evento textual à situação (social, cultural, ambiente etc.) em que ele ocorre” (Marcuschi, 2008: 127; cf. Beaugrande, 1997: 15). Essa situação pode estar ligada ao contexto mais imediato da interação ou ao contexto socio-político-cultural em que a interação está inserida. Segundo Costa Val (2002), a informatividade tem a ver com o grau de novidade e previsibilidade: quanto mais previsível, menos informativo será o texto para determinado usuário, porque acrescentará pouco às informações que o recebedor já tinha. O inverso também acontece: quanto mais cheio de novidades, mais informativo é o texto para o recebedor. Segundo Beaugrande e Dressler (1981), o ideal seria a utilização de um grau mediano de informatividade, sendo ela um fator considerado em função dos usuários e da situação em que o texto ocorre. Segundo Marcuschi (2008), esse aspecto refere-se à possibilidade de distinção entre a idéia a ser transmitida por um texto e a idéia que pode ser retirada dele. Progressão e articulação textuais são pontos essenciais para a articulação entre as partes do texto, sendo indispensáveis para a manutenção da coerência e infomatividade, pois um texto é coerente porque desenvolve algum tópico e refere conteúdos. Finalmente, a aceitabilidade é o aceite do texto enquanto produtor de sentido(s) para o leitor. Para Marcuschi (2006), está centrada na atitude do leitor, que recebe o texto como uma configuração aceitável, tendo-o como coerente e coeso, ou seja, interpretável e significativo. Para aprofundar melhor esses mecanismos, trazemos para você um texto de Elizabete, uma menina de sete anos de uma escola do município de João Pessoa. Leitura Obrigatória: Argumen tação e diálogo textu- al. In: CITELLI, Adilson. O texto argumentativo. 3º ed, São Paulo: Scipione, 2003. p.p 45-56 125 De nanha Escovar os Dentes Bochecha a Pasta Tonar cafè Escova os dentes Bochecha a Pasta De Tarde Almoça Toma aguá Escova os Dente Bochecha a Pasta Iso todo Sem pão Sem sal, ovo, chocolate, chiclete Esse texto é diferente dos demais coletados pelo LAFE*. Como avaliá-lo? Não há marcas explícitas dos mecanismos tradicionais da coesão. O que mantém a coesão? Lembramos que a coesão também se dá por escolhas lexicais do mesmo campo semântico. O texto está dividido em dois momentos: manhã e tarde. Nos dois blocos, essa escolha se dá de forma adequada, são ações que acontecem dentro desse período temporal. A conclusão retoma e respeita as implicações lógicas existentes entre as duas partes explicitando a falta da comida da qual ela gosta. O texto ganha ainda mais sentido, quando descobrimos que se trata de uma criança em fase de regime, que relata sua angústia de passar o dia sem se alimentar do que mais gosta. È um texto que tem continuidade e continuidade é uma marca de coesão. A continuidade aqui é o fator de coerência. Cadeias de representações de natureza lógico-semântica e condições pragmáticas garantem a conectividade e a formação das estruturas textuais. Hoje de acordo com Costa Val (2000) e Antunes (2005), sabe-se que é impróprio separar o imanente do situacional, o semântico do pragmático, porque a produção do sentido do texto, que passa pela construção de sua macroestrutura semântica, está estreitamente vinculada às condições em que esse processo ocorre e depende das ações realizadas e interpretadas pelos locutores. A coesão é uma decorrência da própria continuidade exigida pelo texto, a qual, por sua vez, é exigência da unidade que dá coerência ao texto (Antunes, 2005). Assim, cada vez que um interlocutor interpreta um artefato como texto é porque conseguiu aplicar a ele os princípios de textualização, construindo sua coesão, sua coerência. Chamando atenção para os aspectos da textualidade, os PCNs se direcionam não mais para o produto em si, mas para o processo da construção textual, na preocupação de dar relevo à textualidade e à situação intelocutiva como um todo. Pelo quadro exposto, é possível deduzir que o aluno para ser capaz de redigir dessa maneira, o professor deverá explicitar: as condições de produção (finalidade, especificidade do gênero, interlocutor eleito, etc); os procedimentos para elaboração do texto (tema, levantamento de idéias, planejamento, revisão), quais mecanismos de coerência e de coesão textuais, conforme o gênero e os propósitos do texto (manutenção da continuidade do tema, seleção apropriada do léxico em função do tema, relevância das informações em relação ao tema e ao ponto de vista adotado, os argumentos elaborados, adequação dos recursos lingüísticos na construção da textualidade) e a utilização de marcas de segmentação do texto. Este texto está transcrito como a criança escreveu (*) Laboratório de Aquisição de Fala e de Escrita (UFPB). Faze- mos pesquisas sobre a cons- trução da textu- alidade na fala e na escrita de crianças. 126 Os mecanismos de textualidade induzem uma proposta de trabalho que integra os eixos de ensino: leitura, produção e análise lingüística. Precisamos falar sobre esses mecanismos, pois eles estão presentes nos diversos gêneros textuais. Você já leu sobre os gêneros em LPT I, nosso próximo passo vai ser conhecer melhor alguns gêneros nesta disciplina. Bom estudo! Percebeu que saber sobre o escrever é interessante? Agora é a sua vez! 127 UNIDADE III O TRABALHO COM OS GÊNEROS ESCRITOS Os escritos de Bakhtin (1992) revolucionaram o ensino de língua em muitos países da Europa e das Américas. Pela sua influência, muitos pesquisadores viram a necessidade de o ensino da escrita na escola passar dos tipos aos gêneros. Desde a década de 80, o texto passa a ser a base do ensino-aprendizagemda língua portuguesa no Ensino Fundamental no Brasil. Essa constatação trouxe o texto para o centro da sala de aula, mas, em relação à produção escrita, essa realidade não mudou muito o processo de ensino, pois o texto continuou sendo dado em suas tipologias: descrição, narração e dissertação. Algumas críticas surgiram em decorrência desse fato. Como lembra ROJO (2004), se muitas dissertações escolares começam pela afirmação de uma tese que será sustentada por argumentos de diversos tipos hierarquizados, não é difícil encontrar um artigo jornalístico de opinião que recorra a outras estratégicas, como iniciar por relatos exemplares ou ironizar, para chegar à formação da opinião. Portanto, certos textos (crônicas, artigos de opinião, sem falar em outros que se materializam em linguagens diferentes como HQs, charges, anúncios e tirinhas e nos textos orais) não apresentavam as propriedades generalizadas ensinadas na classificação tipológica. Outra crítica diz respeito às práticas ligadas ao uso, à produção e circulação dos textos que ficam fora do estudo da sala de aula. Nas redações escolares, não se menciona o contexto de produção, gerando uma leitura de extração de informação e abstendo-se de uma formação mais crítica influenciada pelo contexto e finalidade dos textos. Nessa última, passam a ter importância tanto as situações de produção e de circulação dos textos como a significação, pois aquelas informações ampliam o horizonte de sentidos no texto. Lembramos ainda que, no ensino das tipologias, permanecia a antiga dicotomia entre fala e escrita. Aquela como o local do erro, do marginal e esta, como o do correto, da norma. Ora, com os gêneros, essa dicotomia cai por terra, pois encontramos gêneros escritos bem próximos do oral (e-mail) e fala bem próxima da escrita (exposição formal). Uma realidade mais concreta de língua e uma dimensão bem mais coerente de sua constituição. Além do mais, para falar ou para escrever, utilizamo-nos sempre dos gêneros do discurso. Como diz Bakhtin (1992), a língua materna não a aprendemos nos dicionários e nas gramáticas, nós a adquirimos mediante enunciados concretos que ouvimos e reproduzimos durante a comunicação verbal viva, que se efetua com 128 os indivíduos que nos rodeiam. Aprender a falar ou a escrever é aprender a estruturar gêneros. Por esses e outros motivos, há quase um consenso sobre o ensino de gêneros. Essa visão já está presente nos Parâmetros Curriculares de Língua Portuguesa. Na página 21, encontramos: “O discurso, quando produzido, manifesta-se lingüisticamente por meio de textos. O produto da atividade discursiva oral ou escrita que forma um todo significativo, qualquer que seja sua extensão, é o texto, uma seqüência verbal constituída por um conjunto de relações que se estabelecem a partir da coesão e da coerência. Em outras palavras, um texto só é um texto quando pode ser compreendido como unidade significativa global, caso contrário, não passa de um amontoado aleatório de enunciados. [...] Os textos, como resultantes da atividade discursiva, estão em constante e contínua relação uns com os outros, ainda que, em sua linearidade, isso não se explicite. [...] Todo texto se organiza dentro de determinado gênero em função das intenções comunicativas, como parte das condições de produção dos discursos. As quais geram novos usos sociais que os determinam. Os gêneros são, portanto, determinados historicamente, constituindo formas relativamente estáveis de enunciados, disponíveis na cultura”. ( o grifo é nosso) Nesse trecho, vê-se claramente uma concepção bakhtiniana da linguagem. Nessa concepção, a língua é viva, produzida na história e, ao mesmo tempo, produtora da história dos homens. Ela é constituída nas diversas enunciações que têm lugar nas diferentes situações sociais, pelos gêneros do discurso. Tal concepção de língua é diversa e, muitas vezes, oposta àquelas que circulam nas salas de aula de língua portuguesa, em que o texto é, em geral, utilizado para o ensino de gramática. Essa perspectiva direciona o papel do ensino que deixa de se voltar para a ampliação da capacidade de produzir e interpretar textos para o aprofundamento do conhecimento da norma culta através do enfoque gramatical. Conhecimento que não garante uma eficácia na produção e recepção de textos. Lembrando ainda o objetivo do ensino de língua nos Parâmetros: “Desenvolver no aluno um conjunto de habilidades e comportamentos de leitura e de escrita que lhe permitam fazer maior e mais eficiente uso possível das capacidades técnicas de ler e escrever”, nosso propósito não é apenas ensinar a ler e a escrever, mas é, também, e sobretudo, levar os indivíduos — crianças e adultos — a fazer uso da leitura e da escrita e a envolver-se em práticas sociais de leitura e de escrita. Essas práticas direcionam para um letramento. E quando o assunto é letramento, é fundamental abordar o conceito de gêneros textuais. “A língua se dá e se manifesta em textos orais e escritos ordenados e estabilizados em gêneros textuais para uso em situações concretas” (Marcuschi, 2001). Nesta proposta, não há lugar para o ensino tradicional da gramática da palavra, nem da gramática da frase, havendo, sim, uma insistência no exame e na prática de textos falados e escritos em situação social de comunicação e interação, de textos autênticos, o que implica o estudo dos gêneros e das condições de produção destes textos. 129 O que são os gêneros? Os gêneros, tradicionalmente, eram utilizados pela Retórica e pela Literatura. Mas foi em Bakhtin (1979) que a noção de gênero encontrou um significado considerável. Pode-se resumir da seguinte maneira sua visão sobre gêneros: -cada esfera de troca social elabora tipos relativamente estáveis de enunciados: os gêneros; -três elementos os caracterizam: conteúdo temático — estilo — construção composicional; -a escolha de um gênero se determina pela esfera, as necessidades da temática, o conjunto dos participantes e a vontade enunciativa ou intenção do locutor. Schneuwly (2004, p.26) destaca três idéias centrais na visão de Bakhtin: 1. Há a escolha de um gênero, em função de uma situação definida por um certo número de parâmetros: finalidade, destinatários, conteúdo, para dizê-lo na nossa terminologia. Dito de outra maneira: há a elaboração de uma base de orientação para uma ação discursiva. 2. Essa base chega à escolha de um gênero num conjunto de possíveis, no interior de uma esfera de troca dada, num lugar social que define um conjunto possível de gêneros. 3. Mesmo sendo “mutáveis, flexíveis”, os gêneros têm uma certa estabilidade. Eles têm uma certa estrutura definida por sua função; eles são caracterizados por aquilo a que chamamos, um plano comunicacional. Finalmente, eles são caracterizados por um estilo, que deve ser considerado não como um efeito da individualidade do locutor, mas como elemento de um gênero. Isso quer dizer que há um sujeito, o locutor-enunciador, que age discursivamente (falar/escrever), numa situação definida por uma série de parâmetros, com a ajuda de um instrumento que aqui é um gênero, um instrumento semiótico complexo, isto é, uma forma de linguagem prescritiva, que permite, a um só tempo, a produção e a compreensão de textos. “Se não existissem os gêneros do discurso e se não os dominássemos; se tivéssemos de criá-los pela primeira vez no processo da fala; se tivéssemos de construir cada um de nossos enunciados, a comunicação verbal seria quase impossível” (BAKHTIN 1953/1979, p. 302). A escolha do gênero se faz em função da situação. Há, pois, segundo Schneuwly, uma relação entre meio-fim, que é a estrutura de base da atividade mediada. Portanto, o gênero é visto como um instrumento que permite a produção e a compreensão dos textos. Para facilitar a compreensão, apresentamos o quadro abaixo que mostra a distinção entre tipo e gênero textual, segundo Marcuschi ( 2003, p 26) 130 Tipo Gênero 1. Constructos teóricos definidospor propriedades lingüísticas intrínsecas; 2. Constituem seqüências lingüísticas ou seqüências de enunciados e não são textos empíricos; 3. Sua nomeação abrange um conjunto limitado de categorias teóricas determinadas por aspectos lexicais, sintáticos, relações lógicas, tempo verbal; 4. Designações teóricas dos tipos: narração argumentação, descrição, injunção e exposição. 1. Realizações lingüísticas concretas definidas por propriedades sócio-comunicativas; 2. Constituem textos empiricamente realizados cumprindo funções em situações comunicativas; 3. Sua nomeação abrange um conjunto aberto e praticamente ilimitado de designações concretas determinadas pelo canal, estilo, conteúdo, composição e função; 4. Exemplos de gêneros: telefonemas, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, aula expositiva, reunião de condomínio, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, lista de compras, cardápio, instruções de uso, outdoor, inquérito policial, resenha, edital de concurso, piada, conversação espontânea, conferência, carta eletrônica, bate-papo virtual, aulas virtuais etc. È possível ensinar a escrever? Para alguns autores, entre eles, Scheneuwly e Dolz, Rojo, a resposta está em criar contextos de produção precisos, para que os alunos se apropriem dos conhecimentos necessários para o desenvolvimento de suas capacidades de escrita. Esses contextos são seqüências didáticas, isto é, um conjunto de atividades escolares organizadas de maneira sistemática em torno de um gênero textual oral ou escrito. A estrutura de base apresentada é a seguinte: Apresentação da situação Produção inicial Módulo 1 Módulo 2 Módulo n Produção final A seqüência é concluída com a produção final, que se dá ao longo do processo da escrita. Os problemas devem ser trabalhados em diferentes níveis: o da situação de comunicação, da elaboração do conteúdo, planejamento do texto e realização do texto.Um aspecto importante para assegurar a aprendizagem é iniciar o processo de produção a partir da observação de gêneros autênticos. Essas informações são essenciais para a aprendizagem da escrita, por isso leia o capitulo “Seqüências didáticas para o oral e a escrita: apresentação de um procedimento” em Gêneros orais e escritos na escola de Schneuwly e Dolz. Agora que você já aprendeu mais um pouco sobre a teoria dos gêneros, vamos estudar alguns gêneros escritos como a carta, o artigo de opinião e a propaganda turística. 131 REFLEXÃO: Você sabe que não escrevemos da mesma forma uma carta comercial e uma carta para um tio ou uma avó. Mas quais seriam as diferenças, de forma e de conteúdo, entre elas? Ambas poderiam chegar até você por e-mail, que é uma forma moderna de escrever cartas. Vamos aprender, a seguir, um pouco sobre este gênero tão importante do nosso cotidiano: a carta. 3.1. A carta Um dos gêneros textuais mais importantes para a história das línguas é a carta. Hoje tem sido o gênero preferido por muitos para estudos diacrônicos da língua pela sua suposta proximidade com o oral. O interessante é estudar a evolução desse gênero textual, a sua função em diferentes épocas e seu papel no desenvolvimento de outros gêneros. Já na Antiguidade as cartas eram utilizadas pelos letrados e estadistas para se manterem informados. As cartas ocupavam então o lugar dos jornais e prestavam os mesmos serviços. Passavam de mão em mão quando continham novidade de interesse. Liam-se, comentavam- se, transcreviam-se as (sic) em que os grandes personagens expunham seus pontos de vista. Era por meio delas que, atacado, defendia-se o político diante das pessoas cuja estima desejava conservar; emudecido o Fórum, como no período de César, era por meio delas que se procurava formar num público restrito uma espécie de opinião geral (20). Certas cartas afixavam-se nas praças ou corriam em cópias distribuídas pelos destinatários, tornando-se públicas. (Rizzini, 1977:9). Na atualidade, o gênero carta se diversificou e cumpre na sociedade várias funções de acordo com a esfera social em que ele se insere: carta pessoal, carta comercial, carta ao leitor, carta do leitor, carta circular, entre outras. Mas todos esses subgêneros têm em comum sua função comunicativa, que é dirigir-se a um interlocutor, geralmente explicitado no texto, a fim de agir sobre ele de diferentes formas. Comecemos pela carta do leitor. Por meio da carta do leitor, pertencente ao domínio midiático ou jornalístico, o enunciador pode realizar diversos atos de fala: solicitar, criticar, elogiar, agradecer, opinar, perguntar, etc. Cabe destacar que, dependendo do suporte, o propósito comunicativo do locutor pode mudar: por exemplo, na Revista Veja, observa-se que os locutores desejam posicionar-se frente a reportagens, notícias, artigos ou mesmo em relação à carta ao leitor ou a carta de outros leitores, ao passo que, em revistas dirigidas a adolescentes, o fim ilocutório é, freqüentemente, o pedido de um conselho ou de uma orientação, relacionados a sexo, saúde, relacionamento, funcionando essa seção como uma espécie de correio sentimental. 132 No que se refere à intersubjetividade (protagonistas do discurso), é interessante observar que, diferentemente de outras cartas, a carta do leitor tem dois interlocutores (um direto e um indireto): a carta pode ter como sujeito-alvo a própria revista (interlocutor direto) e, numa segunda instância, ao ser publicada, os leitores da revista; ou o interlocutor direto é o destinatário ao qual a carta se dirige diretamente, mas, como é divulgada pela revista, os segundos interlocutores passam a ser os leitores desta. Portanto, o fim a que visam os textos pertencentes a esse gênero também varia dependendo dos interlocutores a serem atingidos. Outro tipo é a carta comercial que nos é enviada pelos poderes políticos ou por empresas privadas (comunicações de multas de trânsito, mudanças de endereço e telefone, propostas para renovar assinaturas de revistas, etc.). Este tipo de carta caracteriza-se por seguir modelos prontos, em que o remetente só altera alguns dados. Apresentam uma linguagem padronizada (repare que elas são extremamente parecidas, começando geralmente por “Vimos por meio desta...”) e normalmente são redigidas na linguagem formal culta. Nesse tipo de correspondência, mesmo que venha assinada por uma pessoa física, o emissor é uma pessoa jurídica (órgão público ou empresa privada), no caso, devidamente representada por um funcionário. As caracteríticas da carta comercial são as seguintes: Boaa) apresentação: exige-se, portanto, ordem, organização e limpeza. Clarezab) : a obscuridade do texto impede a comunicação imediata e dá azo a interpretações que podem levar a desentendimentos e, mesmo, a prejuízos financeiros. A linguagem há de ser: Simples• , evitando-se preocupação com enfeites literários. Atual• , isto é, inteligível à época presente. Precisa• , a saber, própria, específica, objetiva. Correta• , com exata observância das normas gramaticais. Concisa• , informando com economia de palavras. Impessoal• , com o máximo de objetividade, pois a carta comercial não é lugar adequado para manifestações subjetivas e sentimentais. Observe o modelo da carta:o MODELO: CARTA COMERCIAL ESTRUTURA DA CARTA COMERCIAL DATA VOCATIVO CORPO DO TEXTO FECHO ASSINATURA / FUNÇÃO 133 Exemplo de Carta Comercial Para a produção do gênero carta comercial siga as etapas que se seguem: Local e data: 1. João Pessoa, 19 de julho de 1994. (5 espaços) Vocativo:2. Prezados Senhores: (3 espaços) Corpo do texto: 3. Com referência à sua reclamação, na carta do dia 15 do mês em curso, levamos ao conhecimento de V. Sas. os necessários esclarecimentos. (2 espaços) O atraso na entrega da mercadoria solicitada ocorreu não por falha de nossos funcionários, mas por incúria da empresa entregadora. Estamos tomando as devidas providências a fim de que as mercadoriassejam entregues rapidamente. (2 espaços) Fecho da carta:4. Pedimos desculpas pelo ocorrido e continuamos à disposição de V. Sa. (3 espaços) Assinatura e função:5. João Batista da Silva Gerente de Vendas ATIVIDADE: - Observe a linguagem empregada neste gênero específico. A linguagem empregada na carta em estudo é formal ou informal? Apresente suas hipóteses para a utilização dessa linguagem. - Qual a função da carta comercial? 134 Há também a carta pessoal, que utilizamos para estabelecer contato com amigos, parentes, namorado (a). Tais cartas, por serem mais informais que a correspondência oficial e comercial, não seguem modelos prontos, caracterizando-se pela linguagem coloquial. Nesse caso, o remetente é a própria pessoa que assina a correspondência. Embora você possa encontrar por aí livros que trazem “modelos” de cartas pessoais (principalmente “modelos de carta de amor”). Os “modelos” se caracterizam por uma linguagem artificial, surrada, repleta de expressões desgastadas, além de serem completamente ultrapassados. Não há regras fixas, nem modelos para se escrever uma carta pessoal; fora a data, o nome (ou apelido) da pessoa a quem se destina e o nome (ou apelido) de quem a escreve, a forma de redação de uma carta pessoal é extremamente particular. No processo de comunicação, e sendo a correspondência uma forma de comunicação entre pessoas, não se pode falar em linguagem correta, mas em linguagem adequada. Não falamos com uma criança do mesmo modo que falamos com um adulto. A linguagem que utilizamos quando discutimos um filme com os amigos é bastante diferente daquela a que recorremos quando vamos requerer vaga para um estágio ao diretor de uma empresa. Em síntese: a linguagem correta é a adequada ao assunto tratado (mais formal ou mais informal), à situação em que está sendo produzida, à relação entre emissor e destinatário. A linguagem que você utiliza com um amigo íntimo é bastante diferente da que utiliza com um parente distante ou mesmo com um estranho. Na correspondência deve ocorrer exatamente a mesma coisa: a linguagem e o tratamento utilizados vão variar em função da intimidade dos correspondentes, bem como do assunto tratado. Uma carta a um parente distante comunicando um fato grave ocorrido com alguém da família apresentará uma linguagem mais formal. Já uma carta ao melhor amigo comunicando a aprovação no vestibular terá uma linguagem mais simples e descontraída, sem formalismos de qualquer espécie. O que se determina é a coerência discursiva, que você considere o seu destinatário e a função comunicativa. MODELO: CARTA PESSOAL João Pessoa, 14 de agosto de 2005. Mano Gil, Como vai, cara? Beleza? E cadê o cara que falou que logo no começo das férias ligava? Já que o “treta” aí não deu sinal de vida, resolvi escrever pra contar as novidades. Aqui em Jampa ta tudo calminho como sempre. Sabe como é, cidade pequena é assim mesmo! A praça do bairro continua. Única opção. Pra dar umas voltas e de vez em quando pra paquerar. É, mane, pensa que é moleza? Por falar em paquera, a Ba está cada vez mais “totosa” como você diz, mas assim que _______________________________________________ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________ Uma carta a um parente comunicando um fato Uma carta a um parente comunicando um fato grave com algugrave com alguéém da famm da famíília apresentarlia apresentaráá uma uma linguagem formal.linguagem formal. nna correspondência, a linguagem e o a correspondência, a linguagem e o tratamento utilizados vão variar em tratamento utilizados vão variar em funfunçção da intimidade dos ão da intimidade dos correspondentes, bem como do assunto correspondentes, bem como do assunto tratado.tratado. Uma carta ao melhor amigo comunicando a Uma carta ao melhor amigo comunicando a aprovaaprovaçção no vestibular terão no vestibular teráá uma linguagem uma linguagem mais simples e descontramais simples e descontraíídada. . _____________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ _____________________________________________ ...assinatura das pessoas ou entidades ...assinatura das pessoas ou entidades responsresponsááveis por elas; local e data veis por elas; local e data (facultativos). (facultativos). __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ _ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ LinguagemLinguagem: padrão formal, verbos usados : padrão formal, verbos usados predominantemente no presente do predominantemente no presente do indicativo. indicativo. Os autores podem se expressar na 1Os autores podem se expressar na 1ªª ou 3ou 3ªª pessoa do plural.pessoa do plural. 135 ela largou do irmão do Luciano, que ficava com a prima da Tati, que beijou meu irmão nas férias de julho, ela partiu pra piscina municipal pra pescar um peixão... e pescou. Lembra do Adriano? Pois é, ele é seu atual namorado. Desiste dela, amigo! Ela até canta Fagner pra ele! “Quem me dera ser um peixe pra no seu aquário mergulhar”!!!E mais! No meio da piscina, mete a cabeça na água e diz que faz borbulhas de amor por ele. Ele adora! Sai dessa, amigo! Bom Gil, vou ficando por aqui, amigo. Se um dia der certo, passo aí para visita-lo. Vê se aparece também. Não vejo a hora de as aulas começarem pra eu ver você e toda a turma. Abraços, Filipe P.S.: Tem visto a Dani? Se por acaso a vir, diz pra ela que to doido, pirado de saudades! Morro de rir com ela e dela. O que é a gargalhada dela, me diz? Ela é gente fina mesmo! ( Filipe Stucchi de Souza – 16 anos) AGORA É COM VOCÊ! Produza uma carta pessoal a um amigo bem próximo, lembrando de considerar toda sua estruturação e funcionalidade. Passemos agora à carta de apresentação. Ela deve ser simples e breve. É uma forma de fazer a sua promoção pessoal. Dirige-se a um empregador, oferecendo espontaneamente os seus serviços e deve estar acompanhada do Curriculum Vitae. Todos os dados aqui apresentados são fictícios e este modelo dá apenas indicações de elaboração. Redija o seu de uma forma pessoal e original para motivar o empregador MODELO: CARTA DE APRESENTAÇÃO Isabel Cristina Matos Av. 5 de Outubro, nº XX 1050 Lisboa Telefone: 21 XXX XX XX Exmoº Senhor Director dos Recursos Humanos da Sociedade de Informática de Portugal Rua das Avenidas, nº XX, 1200 Lisboa. Acabo de receber o meu diploma de Informática, na Universidade Lusófona. Tenho conhecimento de que a vossa empresa lidera o mercado neste ramo de atividade, o que me dá garantias de ser o melhor local para poder desenvolver as competências que adquiri na minha formação. Gostaria de, numa entrevista pessoal, poder prestar outras informações que penso serem de mútuo interesse. Subscrevo-me, com a mais elevada consideração. 136 Isabel Cristina Matos Anexo: Currículo ATENÇÃO:Há muitos modelos e estruturas de cartas, dentro desse gênero existem características inerentes a cada função sócio-histórica. Devemos considerar as especificidades de cada situação. SUGESTÕES: Observar as peculiaridades de carta comercial, pessoal, do leitor e de recomendação. ATIVIDADE: - A carta é um gênero que costuma apresentar uma estrutura padrão que determinam sua função social. Quais as características estruturais que marcam a carta de apresentação? -Qual a finalidade de uma carta de apresentação? - Coloque em prática seus conhecimentos e construa uma carta de apresentação, direcionada a uma determinada empresa de nome nacional. Procure deixar bem claro seu objetivo no texto. MODELO E-MAIL E-mail é um sistema de transmissão rápida via Internet em que os usuários se comunicam em questão de segundos. O correio eletrônico, ou seja, a página da Internet é o suporte e o gênero é o e-mail. O e-mail surgiu em 1971 e seu criador foi Ray Tomlinson que enviou sua primeira mensagem. Ele criou o SNDMSG para transmissão do e-mail e o READMAIL para a leitura ou recepção do mesmo. Aqui no Brasil a Internet chegou em 1988 numa ação conjunta entre o Ministério da Ciência e Tecnologia, CNPQ e outros. E hoje muitos estudantes do ensino superior, médio e até fundamental que têm acesso a Internet. Esse é um dos instrumentos que possibilitam a aprendizagem do nosso curso. É conhecido o quanto a comunicação via Internet revolucionou o circulo de relações humanas e interligou todos numa grande rede de entretenimentos, cultura, lazer, noticias e educação. DICA DE SITE PARA A SUA PESQUISA! http://www.vocesabia.net/ curiosidades/ como-surgiu-o-e-mail/ 137 Para concluir, gostaríamos de apresentar a primeira carta escrita no Brasil O primeiro registro do gênero carta no Brasil é o documento histórico da carta de Pero Vaz de Caminha enviada ao rei de Portugal, informando sobre as novas descobertas, ano de 1500. Esse gênero, nesse caso, tem caráter informativo, devido a sua funcionalidade naquele contexto, suas características sócio-históricas. Ver texto da carta, na integra, no site • www.literaturabrasileira.ufsc.br, observando as características inerentes a esse gênero discursivo, no momento histórico específico. Podemos, a partir dessas observações, perceber algumas evoluções neste gênero no decorrer do tempo. AGORA É COM VOCÊ! Com suas palavras, disserte sobre a evolução do gênero carta, como suas variantes podem apresentar-se no tempo. Não esqueça de ressaltar qual a influência de fatores sócio-históricos nessa evolução ou variação de gênero. 3.2. O artigo de opinião O gênero “artigo de opinião” evidencia questões educacionais amplas e se apresenta como objeto imprescindível de análise. Ele é um gênero de discurso marcado pelo objetivo de convencer o outro de sua idéia, visando influenciar, bem como, transformar concepções e comportamentos. Tal gênero é reconhecido, principalmente, por apresentar um discurso argumentativo, mostrando-se a favor de uma determinada posição e colocando-se diante de posições diferenciadas. Um dos objetivos deste 138 gênero é informar e formar. É fundamental, na produção de um artigo de opinião, a presença de um ponto de vista a ser discutido, concernente a um tema específico que vislumbre a circulação de idéias em determinados contextos sociais. 3.2.1. Características do gênero artigo de opinião: Nesse gênero, evidenciamos características do ponto de vista lingüístico, da progressão temática e de suas características discursivas. Do ponto de vista lingüístico, podemos ressaltar que: A organização do discurso é, normalmente, em terceira pessoa; A apresentação dos argumentos e contra-argumentos; A presença de citações é, também, uma possibilidade. Do ponto de vista da progressão temática, observamos as possibilidades de organização distinta, de acordo com a análise de textos distintos, seja do mesmo autor ou de autores diferentes. Diante disso, podemos observar que: A organização e a ordem do tema, dos argumentos, contra-argumentos e da conclusão; A apresentação dos argumentos de maior ou menor ênfase; A organização do gênero “artigo de opinião”. Do ponto de vista discursivo, podemos apontar: a localização da presença da opinião pessoal do escritor; identificação da questão em debate; reconhecimento da posição defendida pelo autor; identificação da opinião à qual o autor se opõe; as formas de sustentação de opinião apresentadas. 3.2..2. As condições de produção: definição do possível leitor do texto a ser escrito;1. explicação do objetivo do texto; 2. 139 definição do lugar de produção e circulação do texto; 3. Passemos agora a um exemplo de Artigo de opinião: Com que corpo eu vou? Que corpo você está usando ultimamente? Que corpo está representando você no mercado das trocas imaginárias, que imagem você tem oferecido ao olhar alheio para garantir seu lugar no palco das visibilidades em que se transformou o espaço público no Brasil? [...] Fique atento, pois o corpo que você usa e ostenta vai dizer quem você é. Pode determinar oportunidades de trabalho. Pode significar a chance de uma rápida ascensão social. Acima de tudo, o corpo que você veste, preparado cuidadosamente à custa de muita ginástica e dieta, aperfeiçoado por meio de modernas intervenções cirúrgicas e bioquímicas, o corpo que resume praticamente tudo o que restou do ser é a primeira condição para que você seja feliz. Não porque ele seja, o corpo, a sede pulsante da vida biológica. Não porque possua uma vasta superfície sensível ao prazer do toque – a pele, esse invólucro tenso que protege o trabalho silencioso dos órgãos. Não pela alegria com que experimentamos os apetites, os impulsos, as excitações, a intensa e contínua troca que o corpo efetua com o mundo. O corpo-imagem que você apresenta ao espelho da sociedade vai determinar sua felicidade não por despertar o desejo ou o amor de alguém, mas por constituir o objeto privilegiado do seu amor-próprio: a tão propalada auto-estima, a que se reduziram todas as questões subjetivas na cultura do narcisismo. Nesses termos, o corpo é ao mesmo tempo o principal objeto de investimento do amor narcísico e a imagem oferecida aos outros – promovida, nas últimas décadas, ao mais fiel indicador da verdade do sujeito, da qual depende a aceitação e a inclusão social. O corpo é um escravo que devemos submeter à rigorosa disciplina da indústria da forma (enganosamente chamada de indústria da saúde) e um senhor ao qual sacrificamos nosso tempo, nossos prazeres, nossos investimentos e o que sobra de nossas suadas economias. (Folha de São Paulo, 30 jun 2002. Mais! P. 18. Maria Rita Kehl) 3.3. A propaganda 3.3.1. Propaganda e Mídia A propaganda é um dos gêneros discursivos que mais influencia nosso 140 comportamento social. Estudá-la é sempre instigante, pois a sociedade capitalista nos bombardeia constantemente com anúncios vários, seja por meio impresso: jornais, revistas, seja por meio eletrônico, para quem tem acesso à internet, e ainda por meio do rádio e da televisão. Desse modo, a propaganda invade nosso dia-a-dia e nos torna ávidos consumidores dos produtos ofertados, não tanto pelo valor material que eles possuem, mas principalmente, pelo status que eles representam socialmente. Por isso, a maioria das pessoas não se contenta em obter uma mercadoria qualquer. Se a mídia dita que para serem chiques, é preciso adquirir a calça jeans da marca X ou Y, muito mais caras do que as que se encontram nas lojas populares, ainda que seja o mesmo material utilizado, as pessoas sentem a necessidade de comprá-la por uma questão de visibilidade social, ou seja, não é preciso apenas ter, o indispensável é mostrar que podem ter o bem de consumo Os limites entre propaganda e publicidade são tênues, sendo esses termos usados, muitas vezes, como sinônimos, por isso é necessário estabelecer delimitar asfronteiras que os separam. De acordo com S’antanna (1998): Embora usados como sinônimos, os vocábulos publicidade e propaganda não significam rigorosamente a mesma coisa. Publicidade deriva de público (do latim publicus) e designa a qualidade do que é público. Significa o ato de vulgarizar, de tornar público um fato, uma idéia. Nessa concepção, que também se encontra no Dicionário Novo Aurélio — Século XXI, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, o termo publicidade, no português, é utilizado para venda de produtos e serviços. Já o termo propaganda, segundo o dicionário inglês Webster´s, foi traduzido pelo papa Clemente VII, em 1597, quando fundou a Congregação da Propaganda, com o intuito de propagação da fé cristã. Etimologicamente, a palavra “propaganda” deriva do feminino do caso ablativo singular do gerundivo latino, cujo masculino é propagandus, que exprime a idéia de dever, necessidade, significa “aquilo que deve ser propagado”. Em português, o termo propaganda é mais genérico do que publicidade e diz respeito a todo o processo de difusão da mensagem por parte de um anunciante, mediante compra de espaço na mídia. Entretanto, muitas vezes, propaganda é utilizada como sinônimo de anúncio, a mensagem em si, e também no sentido de publicidade, no sentido de tornar público, um bem de consumo. Sendo o homem eminentemente social, a produção e o intercâmbio de informações e de conteúdo simbólico são atividades presentes em todas as sociedades. Para Thompson (1998:19): Desde as mais antigas formas de comunicação gestual e de uso da linguagem até os mais recentes desenvolvimentos na tecnologia computacional, a produção, o armazenamento e a circulação de informação e conteúdo simbólico têm sido aspectos centrais da vida social. (...) De uma forma profunda e irreversível, o desenvolvimento da mídia transformou a natureza da produção e do intercâmbio simbólicos no mundo moderno. A globalização, fenômeno-símbolo da modernidade, foi uma dos responsáveis 141 por essa transformação. Ela desterritorializou fronteiras, interligando os lugares mais remotos a redes globais de conexão e com isso, tornou o mundo “uma aldeia global”. Também permitiu que a troca de informações e produtos fosse acessível, simultaneamente, em vários espaços reais e virtuais do globo terrestre, provocando uma disjunção entre espaço e tempo (por exemplo, vários eventos sendo mostrados ao mesmo tempo, apesar de acontecerem em lugares distintos) e possibilitando o surgimento de fenômenos como a hibridização cultural ou o multiculturalismo, isto é, a convivência ou fusão de culturas diversas em um mesmo momento social.Essas mudanças no campo social acarretam novas práticas, instituem novas formas de comportamento social. Uma das formas mais poderosas de difusão dessas mudanças, em nossa sociedade de consumo, é a rede midiática. O desenvolvimento da mídia, desde as formas mais antigas de impressão aos mais recentes desenvolvimentos no campo da tecnologia digital, tem se baseado na exploração comercial das inovações técnicas. Essa exploração é um processo que ocorre no interior das estruturas institucionais que continuam a determinar os caminhos operacionais da mídia até hoje. Para Thompson (1998:33), uma das características da comunicação de massa (em que se inclui a propaganda), é a “mercantilização das formas simbólicas”. Para ele, as formas simbólicas se submetem a dois tipos de valorização: a valorização simbólica e a econômica. A primeira refere-se ao valor afetivo que os objetos possuem em virtude da estima, da indiferença ou do desprezo dos indivíduos. Enquanto a valorização econômica diz respeito ao processo de “mercantilização” das formas simbólicas em virtude do qual elas se tornam mercadoria, ou seja, transformam-se em objetos que podem ser comprados ou vendidos no mercado por um determinado preço. Todos os objetos produzidos pelas instituições da mídia passam pelo processo de valorização econômica. A venda dos espaços para propaganda nos meios impressos e eletrônicos tem sido de fundamental importância para a valorização econômica, determinando, inclusive, uma série hierárquica de preços de acordo com o horário e o tempo de exibição (no caso das transmissões de rádio e de televisão) ou ainda conforme o lugar de exposição (em jornais e revistas) do produto anunciado. Outra característica dos veículos da mídia refere-se ao modo de circulação das formas simbólicas. Os produtos midiáticos têm caráter público, uma vez que estão disponíveis para uma pluralidade de destinatários, embora cada gênero midiático tenha seu público-alvo específico. Desse modo, qualquer indivíduo que possua os meios técnicos, as habilidades instrumentais e os recursos financeiros, pode adquiri- los.Todavia, a recepção dos produtos oferecidos pela mídia envolve uma relação de poder-saber. Não são todos os indivíduos que têm acesso a esses produtos, mas apenas aqueles que, dentro de um determinado contexto histórico, têm as condições (físicas, materiais, sociais) de obtê-los. O conteúdo dos textos expostos na mídia é de domínio público, o que acarreta uma série de problemas como, por exemplo, a apropriação indevida de textos que circulam pela internet ou ainda, a falta de definição das regras sociais, que controlem a circulação das informações no universo virtual. Com o avanço tecnológico, a mídia alterou a nossa compreensão do mundo. Se essa antes decorria de nossa experiência/vivência pessoal e de nosso lugar/posição social dentro do mundo, a mídia criou o que Thompson denominou de “mundanidade mediada”, quer dizer, o processo de leitura do mundo é mediado pelos veículos midiáticos. São eles que fornecem um conjunto de representações simbólicas que 142 permitem reconstituir o passado, construir o presente e entrever o futuro. Na visão de Thompson, muitos indivíduos nas sociedades ocidentais conhecem os principais acontecimentos históricos do passado através de livros, revistas, filmes; dificilmente por relatos de testemunhas ou de interação face a face, a história do presente também é mediada pela mídia, que a todo instante nos mostra, pelas suas lentes, os principais acontecimentos do planeta. Até mesmo o futuro é prenunciado nos filmes e nas reportagens da televisão. Se, por um lado, ampliam-se nossos horizontes cognitivos e espaciais, por outro lado, o processo de interpretação da realidade pela mídia influencia nossa prática cotidiana, modelando nossas condutas sociais. O lugar, por excelência, da produção do acontecimento não é mais o do discurso da história, mas o da mídia, como assinala Nora (1995: 181): É à mídia de massa que se deve o reaparecimento do monopólio da história. De agora em diante esse monopólio lhes pertence. Nas nossas sociedades contemporâneas é por intermédio deles e somente por eles que o acontecimento marca a sua presença e não nos pode evitar. (...) Imprensa, rádio, imagens não agem apenas como meios pelos quais os acontecimentos seriam relativamente independentes, mas como a própria condição de sua existência. A publicidade dá forma a sua própria produção. A mídia é uma instituição disciplinar, que impõe práticas cotidianas. Inúmeros exemplos podem ser apontados: torna premente a necessidade de o indivíduo manter- se informado pela leitura de revistas e jornais, de vestir-se conforme as tendências da moda ditada pelos veículos midiáticos ou ainda de viajar para lugares indicados pelas revistas especializadas em turismo, como por exemplo, para as praias “paradisíacas” do Nordeste. Por serem naturalizadas pela mídia como atividades de rotina, essas práticas são automatizadas pelos indivíduos, que geralmente não percebem o jogo de poder que as determina. Saliente-se, porém, que os indivíduos não são títeres à mercê das instituições midiáticas. Para Foucault (1999: 91-92), a resistência é inerente ao poder. Se a mídia, assim como a propaganda, traz como benefícios, atender às necessidadesde consumo e melhorar a qualidade de vida do indivíduo por meio das informações globalizadas, por outro lado, é preciso refletir sobre os perigos da alienação e acirramento de preconceitos a que a mídia induz. A propaganda não somente retrata um momento social, sobretudo, ela o interpreta. Desse modo, não há uma relação transparente entre o homem, o mundo e a linguagem, mas essa tríade inseparável é construída no discurso da propaganda. Tal construção é materializada em textos, nos quais se observa como a linguagem da propaganda é elaborada, sinuosa, repleta de estratégias de sedução. Para interpretá- la, é preciso sempre extrapolar o nível da superfície textual e buscar os sentidos no diálogo com o outro: outros textos, outros discursos, enfim, com a dimensão sócio- histórica que os constitui. Para aplicarmos a teoria dos gêneros, resolvemos nos deter no enfoque da propaganda turística nordestina, vez que permite uma reflexão sobre o espaço onde vivemos. 143 A propaganda turística é um gênero do discurso? 1.1.2. A importância de discutir se a propaganda turística é um gênero do discurso, na acepção que o filósofo russo Mikhail Bakhtin emprega o termo, é mostrar que há um jogo de regras que controlam o funcionamento e a circulação dos discursos sociais. Por isso, não se pode dizer o que se quer quando se quer, pois os discursos são socialmente organizados, inserem-se numa ordem enunciativa e são regulados, moldados pelos gêneros que os constituem. Como salienta Bakhtin (1997: 302): Os gêneros do discurso organizam nossa fala da mesma maneira que a organizam as formas gramaticais (sintáticas). (...) Se não existissem os gêneros do discurso e se não os dominássemos, se tivéssemos de criá-los pela primeira vez no processo da fala, se tivéssemos de construir cada um de nossos enunciados, a comunicação verbal seria quase impossível. Para você responder à questão com que iniciamos esse tópico, vamos analisar algumas propagandas turísticas, a partir dos três elementos que compõem um gênero do discurso: o conteúdo temático, o estilo e o modo de construção composicional Quanto ao conteúdo temático, o conjunto de enunciados que compõem os textos de propaganda refere-se aos estados do Nordeste que eles anunciam. Por estarem inseridos em uma conjuntura capitalista, os dizeres da propaganda turística visam a transformar o espaço nordestino em um bem de consumo, uma mercadoria que ofereça prestígio, status social e, conseqüentemente, poder a quem a adquire. Objetivando vender esse espaço como destino ideal para viagens com finalidades turísticas e de lazer, a propaganda redimensiona o Nordeste, num processo metonímico, em que se toma a parte (Litoral) pelo todo (região). Para descreverem os atrativos turísticos da costa litorânea nordestina — foco temático da propaganda —, os enunciados, em sua maioria, se ancoram no mito do paraíso tropical, que é constantemente ressignificado na materialidade textual da propaganda. Essa perspectiva ufanista, em que o litoral aparece somente como sinônimo de oásis, fartura, e “reino da diversão”, mascara a realidade social do Nordeste, onde riqueza e pobreza convivem dialeticamente. Todavia, a produção de um dado discurso ocorre em condições de possibilidade específicas, logo, ele se insere em uma ordem: a ordem do enunciável, que delimita o “que pode e o que deve ser dito”. Não seria compatível, na ordem enunciativa da propaganda turística, a exposição das mazelas sociais, uma vez que a finalidade maior desse discurso é fazer o público- alvo comprar o produto anunciado. Há, portanto, regras e restrições sociais que regem os gêneros — formas materiais dos discursos sociais. Como sintetiza Brait (2001: 32): “O gênero discursivo diz respeito às coerções estabelecidas entre as diferentes atividades humanas e os usos da língua nessas atividades, ou seja, as práticas discursivas implicam necessariamente coerções”. Sendo o texto da propaganda turística, submetido à voz institucional, que se marca em diversas posições enunciativas, as coerções desse dizer delimitam a atividade turística na região, instituindo para o Nordeste, rotas turísticas orientadas quase em sua totalidade para as capitais litorâneas, e apagando, silenciando outros caminhos possíveis, como as regiões do Brejo, Cariri e Sertão, como analisa Cruz (2000: 210): 144 O litoral nordestino, uma estreita faixa de, aproximadamente, 3.300 quilômetros de extensão, é o território eleito nesta região pelo e para o turismo, ou seja, para se especializar como território turístico receptivo. Este Nordeste turístico, repleto de diferenças e contradições, esconde, por outro lado, um Nordeste que o turismo e o turista não vêem, um território onde pobreza e concentração de renda são elementos importantes do processo de construção do lugar. Em se tratando de estilo, podemos dizer que os enunciados, dos textos de propaganda turística, caracterizam-se pelo jogo com as formas do sistema lingüístico, pela constante utilização de recursos expressivos, como figuras de linguagem, que configuram uma polissemia enunciativa. Um dos slogans da propaganda turística oficial do estado do Maranhão dizia o seguinte: “ Maranhão. O segredo do Brasil”. Neste enunciado, o vocábulo “segredo” é extremamente opaco, podendo significar de diversas maneiras, de acordo com a situação enunciativa em que ele se insere. Ele tem como referência próxima o topônimo Maranhão, o que possibilita relacioná-lo a todo o estado. Mas qual é o segredo do Maranhão? Esse enigma o leitor somente descobre ao ler o restante da propaganda, pois o “segredo” pode ser a Festa de São João, tal qual ela ocorre na capital maranhense, com “Bois de Matraca, Zabumba e Orquestra, numa sinfonia ‘única de alegria e paixão”, ou o “segredo” pode estar no Parque dos Lençóis Maranhenses, “onde impossível é não voltar”, ou ainda para entender por que o Maranhão é “uma terra inesquecível”, o “segredo” é ler as poesias do “romancista José Sarney”. Enfim, a eficácia do vocábulo segredo, na cadeia enunciativa, decorre de sua opacidade, a qual possibilita a multiplicidade dos sentidos no slogan e atesta a natureza fugidia dos sentidos, que ora se escondem (na própria acepção do vocábulo segredo como “aquilo que não pode ser revelado”), ora se deixam entrever na materialidade sintático-lexical da propaganda. Por isso, para Bakhtin, a palavra é sempre plural e inacabada. 145 Além disso, a atividade turística no Maranhão não é tão intensa quanto a de outros estados nordestinos como o Ceará e a Bahia. Por isso, para muitos turistas do Brasil e do exterior, ainda há, no Maranhão, inúmeros “segredos” que eles desconhecem. Com o propósito de atrair riquezas por intermédio do turismo, o governo do estado procura instigar a curiosidade do turista para descobrir o que o texto de propaganda anuncia, ou seja, os roteiros turísticos do estado e assim, conseguir o seu intento: implementar a vinda de turistas e conseqüentemente lucrar com o turismo local. Seguindo a mesma estrutura formal do slogan maranhense, temos: “Aracaju. A novidade do Nordeste.” Novamente, observamos a polissemia do vocábulo “novidade”, que à semelhança do slogan maranhense, objetiva atrair a atenção do público, fazê-lo interessar-se em adquirir o produto à venda. Esse jogo, de/com os sentidos na estrutura enunciativa, caracteriza o estilo do texto publicitário, em geral, e da propaganda turística, em particular, pois é um procedimento recorrente em todos os textos que compõem o corpus dessa pesquisa. Ferreira esclarece que isso acontece porque a língua é um sistema sintático intrinsecamente passível de jogo. E dentro desse espaço de jogo, as marcas significantes da língua são capazes de deslocamentos, transgressões, de rearranjos. É isso que faz com que um determinado segmento possa ser ele mesmo ou outro, através da metáfora, da homofonia, da homonímia, dos lapsos da língua, dos deslizamentossêmicos, enfim, dos jogos de palavra e da dupla interpretação de efeitos discursivos. (2000:108) O uso de empréstimos lexicais, provenientes em sua maioria, da língua inglesa, como o anglicismo point, é verificado em vários enunciados que compõem os texto de propaganda turística. A propaganda oficial do estado da Bahia (publicada na revista Caminhos de Salvador) afirma que “Salvador é o novo point do Brasil”; mas a revista internacional Condé Nast Traveler indica o Ceará como “um dos points mais quentes do milênio” e na Paraíba, “o point mais festejado na orla, no entanto, é Tambaú, com seus hotéis de luxo, restaurantes internacionais e regionais, bares, boates, mercados de artesanato, barraquinhas de comidas típicas e vendedores de frutas tropicais”. Essa técnica de construção dos enunciados, utilizando-se de terminologia estrangeira, revela a ideologia capitalista que regula o discurso da propaganda oficial. Vender uma mercadoria é a grande finalidade do discurso publicitário e o turismo é uma das atividades econômicas mais rentáveis do mundo O discurso da propaganda turística sobre o Nordeste — instância da materialidade ideológica — visa a atrair turistas do exterior, como também os “de casa”, sendo essa uma das justificativas para o uso de empréstimos lexicais em sua estrutura enunciativa. Para os turistas internacionais, o uso de anglicismos surte um efeito de identificação pela empatia lingüística e conseqüentemente atrai o seu interesse para o produto enunciado, já em relação ao turista brasileiro, os vocábulos estrangeiros — Beach Park, show- room, point — funcionam como símbolos de status e riqueza, que despertam nele, o desejo de obter a mercadoria anunciada. A palavra polis- semia é composta por dois radicais: Poli = muito semia = signifi- cado Portanto, uma pa- lavra pode apre- sentar diferen- tes significados dependendo dos usos lingüísticos que dela se faz. 146 Além disso, o fato de a voz estrangeira agregar um valor material à estrutura simbólica, evidencia a superioridade econômica do país importador do vocábulo (geralmente os Estados Unidos) sobre o Brasil e o domínio sócio-cultural americano, que se difunde, sobremaneira, pelos veículos da mídia nacional, como é o caso da propaganda turística oficial, influenciando condutas lingüísticas e determinando valores sociais. Essa relação constitutiva entre linguagem e ideologia já inquietava Bakhtin. Em sua obra Marxismo e Filosofia da Linguagem (publicada na Rússia em 1929), o pensador russo afirma que: A palavra é o signo ideológico por excelência; ela registra as menores variações das relações sociais, mas isso não vale somente para os sistemas ideológicos constituídos, já que a ‘ideologia do cotidiano’, que se exprime na vida corrente, é o cadinho onde se formam e se renovam as ideologias constituídas. (1992: 16) A linguagem coloquial — caracterizada pelo uso de termos e expressões do cotidiano, bem como por pequenos desvios da variante culta da língua — é outro traço estilístico da propaganda turística oficial. Por exemplo, a utilização do verbo “ter” no sentido de “haver”, a forma sincopada da preposição para: “pra”, a questão da regência do verbo ir: “ir em” ao invés da variante culta “ir para” são casos de uso extremamente produtivos na fala do cotidiano e na escrita informal. O enunciado abaixo ilustra bem esse tipo de linguagem: “Tem coisas que só indo no Ceará pra entender como é bom.” Também a utilização de gírias, como o verbo curtir, é um recurso de persuasão utilizado para causar um efeito de empatia com o público-alvo, criando um tom de conversa informal, íntima, para fazer o consumidor sentir-se “em casa”, diminuindo a distância entre enunciador e enunciatário; dissimulando, assim, o eventual receio de se estar em terra estranha, desconhecida, na “casa do outro”. A propaganda do estado da Bahia assim convida seu leitor(a): Venha para Salvador e descubra todos os encantos da primeira capital do Brasil. Salvador está de cara nova, muito mais bonita. Aqui, você curte de tudo: folclore, festas populares, música, dança, comidas típicas, os banhos noturnos com águas mornas e cristalinas, shows e novíssimas atrações. Já o sujeito enunciador da propaganda do Ceará avisa: Quem curte a agitada vida noturna de Fortaleza e descobre o rico artesanato, a culinária deliciosa e todo o conforto da bem estruturada rede hoteleira cearense, fica ligado para sempre ao Ceará. Uma terra de gente hospitaleira e bem- humorada com um jeitinho de falar que cativa na hora. A ênfase no registro da linguagem cotidiana, informal, da propaganda está diretamente relacionada com a imagem do povo nordestino que se quer construir nesse 147 gênero: pessoas de hábitos simples, alegres, hospitaleiras, como enfatiza a propaganda do Rio Grande do Norte: “os nativos desse belo e riquíssimo litoral são simples, amigos, hospitaleiros”. Segundo Ferreira (2000: 114): A linguagem publicitária em seu propósito de atrair a atenção do público (cliente em potencial) explora, não raro com bastante eficácia, recursos expressivos contidos na própria estrutura significante do sistema lingüístico. Dessa forma, realiza, em algumas formulações, um trabalho do sentido com o sentido, incorporando o caráter oscilante e paradoxal que perpassa a língua no registro do cotidiano. Observa-se, ainda, na linguagem da propaganda, o uso de recursos expressivos como a utilização de figuras de linguagem. No folder distribuído pela Prefeitura Municipal de Lucena, praia localizada no litoral norte da Paraíba, lê-se na capa: “Lucena, um lugar chamado Liberdade”. O animismo, prosopopéia ou personificação é um tipo de metáfora que “humaniza” esse espaço geográfico, acenando para o leitor-alvo com a ilusória utopia de ele gozar ali, a liberdade, de forma plena. Ao jogar com a natureza simbólica da palavra “liberdade”, a propaganda ativa a fantasia e o desejo do turista de conhecer/ descobrir um lugar ideal para o lazer. Dessa maneira, a propaganda municipal redimensiona o espaço real, transformando–o em sonho possível. Na compreensão de Castoriadis (1982: 152): A sociedade constitui seu simbolismo, mas não dentro de uma liberdade total. O simbolismo se crava no natural e se crava no histórico (ao que já estava lá); participa, enfim, do racional. (...) Nem livremente escolhido, nem imposto à sociedade considerada, nem simples instrumento neutro e medium transparente, nem opacidade impenetrável e adversidade irredutível, nem senhor da sociedade, nem escravo flexível da funcionalidade, nem meio de participação direta e completa em uma ordem racional, o simbolismo determina aspectos da vida da sociedade (e não somente os que era suposto determinar) estando ao mesmo tempo, cheio de interstícios e de graus de liberdade. Ainda em relação ao estilo da propaganda oficial, podemos apontar o uso de regionalismos (o uso do verbo “arribar”, por exemplo, na propaganda do Ceará), que conferem um efeito de identidade a esse gênero. Por ter um caráter essencialmente persuasivo, o foco do processo enunciativo, no discurso publicitário, é o outro. Por isso, o destinatário aparece inscrito no fio do discurso, tanto de forma direta, pelo dêitico você (que, na linguagem coloquial, funciona como um pronome do caso reto), quanto indiretamente, pelo verbo na terceira pessoa do singular, ou ainda, expresso pelo pronome relativo quem. Observem-se os exemplos, a seguir: Animismo, Pro- sopopéia ou Personificação é um tipo de me- táfora que fun- ciona como uma projeção de sen- sações, havendo um deslocamen- to de sentido que consiste em transferir algo inerente ao uni- verso humano para o mundo dos seres inani- mados ou irra- cionais, a fim de fazer as coisas “falarem e sen- tirem” 148 “O sol, o mar e a nossa tranqüilidade estão esperando por você”. (propaganda de Sergipe) “Siga as trilhas da natureza”. “Respeite a sinalização do Parque” (propaganda
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