Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Indaial – 2021 Língua Portuguesa Prof.ª Jussara Saramento Prof. Pablo Rodrigo Bes Oliveira 2a Edição MetodoLogia e Conteúdos BásiCos de Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Prof.ª Jussara Saramento Prof. Pablo Rodrigo Bes Oliveira Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: S243m Saramento, Jussara Metodologia e conteúdos básicos de Língua Portuguesa. / Jussara Saramento; Pablo Rodrigo Bes Oliveira. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 216 p.; il. ISBN 978-65-5663-679-5 ISBN Digital 978-65-5663-680-1 1. Língua Portuguesa. - Brasil. I. Oliveira, Pablo Rodrigo Bes. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 469 APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático Metodologia e Conteúdos Básicos de Língua Portuguesa! Neste livro, você encontrará a divisão de três unidades principais. Essas unidades foram separadas para facilitar e maximizar a sua compreensão acerca do assunto. Vamos conhecê-las?! A primeira unidade estará organizada em três tópicos. O primeiro tópico trará as informações introdutórias a respeito da função social da escrita ao longo da história e na contemporaneidade, abordando, dessa maneira, a influência dos avanços tecnológicos para o uso da escrita e a relação desse tipo de produção com o pensamento. No segundo tópico, o nosso desafio será compreender como a linguagem, sob a perspectiva da teoria da comunicação, formulada pelo estudioso russo Roman Jakobson, envolve, além dos elementos presentes no ato comunicativo, as finalidades decorrentes desse ato, as quais são denominadas de funções da linguagem. No terceiro tópico, trataremos do conceito de texto e das tipologias dele, voltadas a uma proposta de trabalho educativo com os diferentes gêneros textuais ou discursivos. A segunda unidade, igualmente, será dividida em três tópicos. No primeiro tópico, serão estudadas as áreas de linguagem, conforme se encontram dispostas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), política educacional curricular oficial, atualmente, no nosso país. Nesse percurso, daremos atenção especial para as competências da Língua Portuguesa. No segundo tópico, você se familiarizará com as práticas propostas pela BNCC para os eixos Leitura e Produção Textual do componente curricular da Língua Portuguesa. No último tópico, entrará em contato com as atividades a serem desenvolvidas nos eixos Oralidade e Análise Linguística/Semiótica, com os estudantes dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Por fim, na terceira unidade, teremos os três tópicos finais, assim, constituídos: no primeiro tópico, faremos uma imersão nos processos de alfabetização existentes e aplicados ao longo do tempo no Brasil, focalizando, com ênfase, no método proposto, atualmente, pela BNCC. No segundo tópico, você entenderá como ocorre a formação de novos leitores e os agentes que se encontram implicados nesse processo. Por fim, no terceiro e último tópico, serão abordadas as características e as formas de avaliação que devem ser aplicadas na aprendizagem da Língua Portuguesa. Em todas as unidades, você encontrará conceituações, ilustrações e exemplos práticos que podem ajudá-lo no processo de ensino e aprendizagem desse componente curricular na educação básica. Preparamos este material com muito carinho e dedicação, e esperamos que você tenha uma excelente leitura, além da compreensão desses conteúdos básicos da Língua Portuguesa e das possibilidades metodológicas dela. Boa leitura e bons estudos! Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, a UNIASSELVI disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO QR CODE Você lembra dos UNIs? Os UNIs eram blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Agora, você conhecerá a GIO, que ajudará você a entender melhor o que são essas informações adicionais e o porquê você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Junto à chegada da GIO, preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é uma dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confi ra, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 - FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA ............................................................................................1 TÓPICO 1 - A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCRITA AO LONGO DA HISTÓRIA E NA CONTEMPORANEIDADE ......................................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3 2 HISTÓRIA DA ESCRITA ........................................................................................4 2.1 ESCRITA ALFABÉTICA ........................................................................................................ 8 2.2 DA IMPRESSÃO TIPOGRÁFICA AO HIPERTEXTO ........................................................10 2.3 CONCEPÇÕES DE ESCRITA .............................................................................................12 3 LETRAMENTO .................................................................................................... 13 3.1 MULTILETRAMENTO .........................................................................................................20RESUMO DO TÓPICO 1 ..........................................................................................24 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................25 TÓPICO 2 - CONHECENDO OS ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO E AS DIVERSAS LINGUAGENS .........................................................................................................29 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................29 2 LÍNGUA E SUJEITO ............................................................................................29 3 ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO ......................................................................32 3.1 LINGUAGEM VERBAL E LINGUAGEM NÃO VERBAL .................................................. 33 3.2 FUNÇÃO EMOTIVA OU EXPRESSIVA ............................................................................ 35 3.3 FUNÇÃO APELATIVA OU CONATIVA ............................................................................. 37 3.4 FUNÇÃO POÉTICA .............................................................................................................38 3.5 FUNÇÃO REFERENCIAL OU DENOTATIVA ................................................................... 39 3.6 FUNÇÃO FÁTICA ................................................................................................................40 3.7 FUNÇÃO METALINGUÍSTICA ...........................................................................................40 RESUMO DO TÓPICO 2 ..........................................................................................42 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................43 TÓPICO 3 - CONCEITO DE TEXTO E AS TIPOLOGIAS .......................................... 47 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 47 2 TEXTO ................................................................................................................. 47 2.1 ASPECTOS DA TEXTUALIDADE ...................................................................................... 49 3 GÊNEROS TEXTUAIS OU DISCURSIVOS ...........................................................52 3.1 TIPOLOGIA TEXTUAL ..........................................................................................................57 LEITURA COMPLEMENTAR ..................................................................................58 RESUMO DO TÓPICO 3 ..........................................................................................63 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................64 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 67 UNIDADE 2 — PRESSUPOSTOS CURRICULARES PARA O ENSINO E A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA .......................................................69 TÓPICO 1 — A ÁREA DE CONHECIMENTO LINGUAGENS NA BNCC E AS COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DE LÍNGUA PORTUGUESA ................................71 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................71 2 COMPONENTES CURRICULARES DA ÁREA DE CONHECIMENTO LINGUAGENS DA BNCC ................................................................................................................ 72 2.1 AS COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DE LINGUAGENS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL ....................................................................................................................76 3 COMPONENTE CURRICULAR: LÍNGUA PORTUGUESA .................................... 77 3.1 AS COMPETÊNCIAS E OS EIXOS DE APRENDIZAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA .....81 3.2 OS EIXOS DA LÍNGUA PORTUGUESA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL ...................................................................................................................82 3.2.1 O eixo leitura ..............................................................................................................83 3.2.2 Eixo produção de textos ........................................................................................86 3.2.3 Eixo oralidade ...........................................................................................................89 3.2.4 Eixo análise linguística/semiótica ........................................................................91 RESUMO DO TÓPICO 1 ..........................................................................................93 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................94 TÓPICO 2 - AS PRÁTICAS DA LÍNGUA PORTUGUESA NOS EIXOS: LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS ........................................................................................ 97 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 97 2 PRÁTICAS DA LINGUA PORTUGUESA NO EIXO LEITURA ................................98 2.1.1 Identificando a função social dos textos ............................................................. 99 2.1.2 Estratégias de leitura .............................................................................................. 101 2.1.3 Pontos que favorecem a leitura e a escrita ..................................................... 103 3 PRÁTICAS DA LÍNGUA PORTUGUESA NO EIXO PRODUÇÃO DE TEXTOS .....105 3.1 ESTRATÉGIAS DE PLANEJAMENTO DO TEXTO ........................................................ 106 3.1.1 Os passos do planejamento da escrita de um texto ...................................... 106 3.2 PRÁTICAS DE REVISÃO E DE EDIÇÃO TEXTUAL ...................................................... 110 3.2.1 Revisão e reescrita ................................................................................................. 110 3.3 UTILIZANDO AS TECNOLOGIAS DIGITAIS PARA A PRODUÇÃO TEXTUAL .......... 113 3.3.1 O uso das TICs como facilitadoras da aprendizagem ................................... 113 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................ 118 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................119 TÓPICO 3 - AS PRÁTICAS DA LÍNGUA PORTUGUESA NOS EIXOS: ORALIDADE E ANÁLISE LINGUÍSTICA/SEMIÓTICA .................................................................. 121 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 121 2 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PARA DESENVOLVER A ORALIDADE ................. 122 2.1 ORALIDADE PÚBLICA .....................................................................................................123 2.1.1 Relato de experiências ...........................................................................................123 2.1.2 Contagem de histórias ...........................................................................................125 2.2 ESCUTA ATENTA ............................................................................................................. 126 2.3 ASPECTOS NÃO LINGUÍSTICOS NO ATO DA FALA ..................................................127 3 ATIVIDADES VOLTADAS PARA A ANÁLISE LINGUÍSTICA/SEMIÓTICA ........128 3.1 CONSTRUÇÃO DO SISTEMA ALFABÉTICO E DA ORTOGRAFIA .............................129 3.1.1 Acentuação ............................................................................................................... 130 3.1.2 Segmentação de palavras ....................................................................................132 3.1.3 Pontuação .................................................................................................................132 3.1.4 Morfologia e morfossintaxe ................................................................................134 3.1.5 Formas de composição dos textos e adequação deles à norma escrita . 135 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................ 139 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................ 141 AUTOATIVIDADE .................................................................................................142 REFERÊNCIAS .....................................................................................................145 UNIDADE 3 — A DIDÁTICA EM AÇÃO NO ENSINO E NA APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA ....................................................................................... 147 TÓPICO 1 — CONHECENDO OS PROCESSOS DE ALFABETIZAÇÃO..................149 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................149 2 CICLO DE ALFABETIZAÇÃO, SEGUNDO A BNCC ...........................................150 2.1 AMBIENTE ALFABETIZADOR .........................................................................................152 3 MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO ......................................................................154 3.1 MÉTODO DE ALFABETIZAÇÃO PROPOSTO PELA BNCC......................................... 160 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................ 167 AUTOATIVIDADE .................................................................................................168 TÓPICO 2 - A FORMAÇÃO DE NOVOS LEITORES: OS PAPÉIS DOS AGENTES ENVOLVIDOS ........................................................................................................171 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................171 2 IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL ..................................................... 172 2.1 NOVOS FORMATOS TEXTUAIS .......................................................................................174 2.2 CARACTERÍSTICAS DE UMA OBRA DE LITERATURA INFANTIL INTERESSANTE E SIGNIFICATIVA ....................................................................................................................175 3 AGENTES ENVOLVIDOS NA PROMOÇÃO DA LEITURA ...................................177 3.1 FAMÍLIAS ............................................................................................................................178 3.2 ESCOLA ..............................................................................................................................179 3.3 PROFESSORES ................................................................................................................ 182 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................185 AUTOATIVIDADE .................................................................................................186 TÓPICO 3 - A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NA LÍNGUA PORTUGUESA ....189 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................189 2 CONCEITUANDO A AVALIAÇÃO ......................................................................190 2.1 AVALIAÇÃO ESCOLAR ..................................................................................................... 190 2.1.1 Avaliações diagnóstica, formativa, somativa ....................................................192 3 AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO POR COMPETÊNCIAS .......................................194 3.1 AVALIAÇÃO DA COMPREENSÃO LEITORA ................................................................. 196 3.1.2 Avaliando a compreensão leitora pelo SAEB e PISA .................................... 201 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................... 204 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................210 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 211 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 213 1 UNIDADE 1 - FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • reconhecer a função social da escrita ao longo da história da humanidade; • compreender a existência de outras formas de escrita, além da alfabética; • visualizar que os modos de produção infl uenciaram no desenvolvimento das tecnologias e no modo de vida das pessoas; • entender que a internet apresentou um modo diferente de trabalhar com a escrita e com a leitura; • perceber que a escrita é a expressão do pensamento e do trabalho com o sistema linguístico, envolvendo dimensões de ordem distintas; • conceituar letramento como a inserção do indivíduo nas produções da cultura escrita; • estudar a linguagem, a qual surgiu da necessidade de sobrevivência do homem; • identifi car os elementos da comunicação e as funções da linguagem; • analisar o texto, o qual é uma proposta de sentidos e que se articula em três níveis, apresentando critérios gerais de textualidade; • diferenciar os gêneros discursivos, produções humanas que circulam em esferas da atividade humana, das tipologias textuais, que são sequências que os textos têm e que o confi guram dessa forma. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoati- vidades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCRITA AO LONGO DA HISTÓRIA E NA CONTEMPORANEIDADE TÓPICO 2 – CONHECENDO OS ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO E AS DIVERSAS LINGUAGENS TÓPICO 3 – O CONCEITO DE TEXTO E AS TIPOLOGIAS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCRITA AO LONGO DA HISTÓRIA E NA CONTEMPORANEIDADE 1 INTRODUÇÃO Para que possamos, acadêmico, compreender as questões que subsidiam o ensino de Língua Portuguesa, estudaremos, primeiramente, os aspectos históricos que envolvem a evolução da escrita em povos distintos. Esse conhecimento é muito importante para a sua formação, uma vez que permite que você compreenda que os avanços do campo da disciplina de Língua Portuguesa fazem parte, também, da evolução do ser humano. Desde a organização coletiva para a sobrevivência, seja para caçar ou para se manter protegido das intempéries, percebeu-se a necessidade de desenvolver uma forma de comunicação que permitisse e aprimorasse a interação entre aqueles que compunham os coletivos. Dessa forma, as práticas sociais foram se desenvolvendo, e se viu a necessidade da utilização de símbolos que registrassem o uso oral da linguagem. Nesse contexto, a escrita, além de marcar a história da humanidade, precisou ser transmitida aos indivíduos, fato que marcou distinções entre os grupos sociais. Durante muitos séculos, muitas pessoas não tiveram acesso a essa invenção humana, e somente alguns grupos restritos possuíram a técnica da escrita, por conseguinte, muitas vezes, da leitura também. Com o desenvolvimento dos modos de produção e a reorganização da sociedade, ao longo do tempo, e com a necessidade de ampliação da produção em larga escala, foi necessário democratizar o acesso à escola, assim, o acesso à escrita e à leitura. A modernização pela qual a sociedade passou, e tem passado, influenciou e tem influenciado os usos da escrita. Esse assunto, também, será abordado neste tópico, além de uma reflexão a respeito das concepções de escrita e da relação desse tipo de produção com o pensamento. Como você deve perceber, o ensino e a aprendizagem da Língua Portuguesa são complexos, assim como a história da humanidade.Por isso, é imprescindível que se tenha conhecimento das origens e dos avanços ocorridos, ao longo do tempo, desse campo de saber. Boa leitura! TÓPICO 1 - UNIDADE 1 4 2 HISTÓRIA DA ESCRITA Na atualidade, a sociedade na qual estamos inseridos pode ser considerada grafocêntrica, pois, nas mais variadas esferas das atividades humanas, estão presentes ações voltadas para a escrita, por sua vez, para a leitura também. Importa ressaltar que, durante muito tempo, o homem, nas sociedades pré-históricas, conseguiu viver sem a necessidade de utilizar a escrita, a qual não foi o primeiro dos mecanismos de fixação cultural utilizados pela humanidade, entretanto, pode-se afirmar que é um dos mais antigos (ZILBERMAN; SILVA, 2004). A escrita surgiu como uma estratégia de registro nas relações comerciais, preconizando uma certa organização da sociedade, não como uma forma de comunicação, exclusivamente. É uma tecnologia que permitiu, aos homens e às mulheres, “esquecerem sem esquecer” (BRITTO, 2012, p. 102), expandindo, portanto, a capacidade de memória, pois já não é mais preciso memorizar todas os recados, as datas, as informações, os fatos, os nomes; eles podem ser armazenados fora do nosso corpo, pela escrita. A invenção da escrita foi tão importante para a humanidade que ela (a escrita) marcou os limites entre um antes e um depois na história. Observe: FIGURA 1 – LINHA DO TEMPO PERIODIZAÇÃO DA HISTÓRIA FONTE: <https://bit.ly/3zyl6ew>. Acesso em: 24 abr. 2021. A escrita é uma invenção humana muito recente, se comparada ao surgimento do primeiro hominídeo, ao uso da caça e da pesca, ao domínio das técnicas de uso do fogo. As primeiras pinturas rupestres encontradas datam de, aproximadamente, 40 mil anos a.C., e comprovam a necessidade do homem, por meio de símbolos, de registrar a época, oportunizando aos cientistas de hoje a compreensão de como vivia naquele período e os hábitos que possuía. 5 FIGURA 2 – GRAVURAS RUPESTRES SÍTIO ARQUEOLÓGICO XIQUE-XIQUE I - CARNAÚBA DOS DANTAS - SERIDÓ - RN FONTE: <https://bit.ly/3mP71WE>. Acesso em: 24 abr. 2021. Contudo, foi necessário desenvolver uma estratégia mais sistematizada de registro. Isso somente ocorreu com os sumérios, habitantes da região da Mesopotâmia, quando desenvolveram a escrita cuneiforme, a qual “significa em forma de cunha” (HIGOUNET, 2003, p. 29), pois os símbolos dessa forma de escrita não eram o alfabético, como conhecemos, mas uma combinação de sinais (cerca de dois mil), que mais pareciam com a imagem de pregos triangulares. Inicialmente, esses símbolos eram marcados em colunas, nas placas de argila, mas, com o passar do tempo, começaram a ser escritos na horizontal (em linhas), utilizado um movimento da esquerda para a direita. FIGURA 3 – PLACA DE ARGILA COM ESCRITA CUNEIFORME FONTE: <https://www.estudopratico.com.br/escrita-cuneiforme/>. Acesso em: 24 abr. 2021. Com essa forma de escrita, os sumérios puderam realizar os registros administrativos e contábeis (cobrança de impostos, contagem de cereais e de animais) em placas de argila que, depois, passavam pelo processo de secagem, no forno. Essa forma de escrita se espalhou pela Ásia e foi utilizada por outros povos. 6 FIGURA 4 – HOMEM E REI NA ESCRITA CUNEIFORME FONTE: Higounet (2003, p. 32) FIGURA 5 – HIERÓGLIFOS No Egito, surgiram os hieróglifos (do grego hieros, sagrado, e glyphein, gravar) (HIGOUNET, 2003), considerados sinais sagrados (cerca de 2.500) para os egípcios, pois eram uma espécie de fala dos deuses. Eram, geralmente, gravados em pedra ou em madeiras, para os sarcófagos. Ainda, dispostos na posição vertical ou horizontal, da direita para a esquerda, ou vice-versa. Os hieróglifos podiam representar palavras ou sons, o que atribuía, a essa forma de escrita, um caráter bem complexo. O domínio era de propriedade de apenas algumas pessoas da sociedade egípcia, como dos sacerdotes e dos escribas. Além da escrita com hieróglifos, os egípcios, também, desenvolveram outros dois sistemas: o hierático e o demótico. A escrita hierática (do grego hieráticos, sagrado) era uma forma mais livre e mais rápida, usada pelos sacerdotes, e traçada em folhas de papiro (HIGOUNET, 2003). A escrita demótica (do grego demos, povo) era mais simplificada, para garantir rapidez, entretanto, era mais difícil de ser lida (HIGOUNET, 2003). Essa forma de escrita egípcia era muito comum na literatura. FONTE: <https://bit.ly/2SHrTSq>. Acesso em: 24 abr. 2021. 7 Óstraco O óstraco era um fragmento de cerâmica, na maioria das vezes, quebrado, no qual eram registrados, com objetos pontiagudos, avisos, rascunhos e mensagens curtas. O termo “ostracismo”, que se refere a uma punição existente na Grécia Antiga, foi cunhado porque os habitantes de Atenas usavam um óstraco para votar no exílio do réu. Papiro O percursor do papel foi desenvolvido por volta de 2500 a.C., pelos egípcios, a partir da planta papiro, que tinha o miolo cortado em finas lâminas. Depois de secas, elas eram mergulhadas na água, na qual permaneciam por seis dias. A folha obtida era a martelada, alisada e colada ao lado de outras, para formar uma longa fita, a qual era, depois, enrolada. Pergaminho O pergaminho surgiu na Ásia, na cidade de Pérgamo, por volta do século 2 a.C. Era produzido com pele de animal, geralmente, carneiro, bezerro e cabra. As peles passavam por um banho de cal e eram colocadas para secar em uma moldura de madeira. O pergaminho era um material nobre, usado para documentos muito importantes. FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/2V4GlFO>. Acesso em: 24 abr. 2021. NOTA Segundo Higounet (2003), os povos mesoamericanos, também, apresentaram um sistema de escrita. Os maias empregavam um mesmo glifo para representar mais de um som ou uma palavra, os quais, combinados, formavam um vocábulo ou uma frase – cada conjunto possuía até cinco glifos. Os símbolos representavam animais, pessoas e seres sobrenaturais. O suporte, geralmente, era de blocos de pedras, cerâmicas e madeira, no qual registravam o dia a dia da sociedade, sobretudo, as celebrações e os conhecimentos de ordem religiosa. Com a invasão e a dominação espanholas, muitas produções maias foram destruídas, entretanto, algumas foram salvas e podem ser encontradas em museus. 8 FIGURA 6 – PLACA COM ESCRITA MAIA FONTE: <https://bit.ly/3DAj4Nq>. Acesso em: 24 abr. 2021. A produção escrita asteca ficou conhecida por aquilo que restou dos manuscritos em fibras de maguey, tecido ou pergaminho (HIGOUNET, 2003). Os símbolos não representavam, na sua grande maioria, palavras específicas, dando um caráter preliminar de sistema de escrita. Os glifos não apresentavam um ordenamento em linhas ou em colunas, mas arranjados de forma a representar cenas. 2.1 ESCRITA ALFABÉTICA A palavra alfabeto, do latim alphabetum, é a junção dos nomes das duas primeiras letras do alfabeto grego, alpha (α) e beta (β), as quais, por sua vez, são empréstimos das línguas semíticas (HIGOUNET, 2003). Pode-se dizer que o alfabeto é o conjunto de signos convencionados que, na forma escrita, representa os fonemas de uma língua. O alfabeto latino é o mais utilizado no mundo, entretanto, não é o único. Há o alfabeto círilico, que é o sistema de escrita oficial de países, como Rússia e Ucrânia; os alfabetos consonantais (Abjads), utilizados pelos árabes; os ideogramas, que representam palavras, adotados na China, no Japão e nas Coreias; o alfabeto Morse, composto por ponto, espaço e traços, criado por Samuel Morse, em 1835; o Alfabeto Fonético Internacional, utilizado na representação fonética das palavras, muito encontrado nos dicionários; e o alfabeto grego (HIGOUNET, 2003). Pode-se dizer que o alfabeto grego foi o que melhor conseguiu reproduzir a fala por meio de símbolos, ou seja, desenvolveu uma notação que, unindo consoantes e vogais, permitiu que se reproduzisse, pela linguagem verbal escrita, a fala da forma mais fidedigna possível, intermediando aquilo já produzido pelos alfabetoslatino e semítico. Entretanto, o alfabeto fonético grego não foi o único e tomou emprestados os símbolos que representavam os sons do alfabeto fenício (FISCHER, 2009). 9 FIGURA 7 – EMPRÉSTIMOS DO ALFABETO FENÍCIO AO ALFABETO GREGO FONTE: Fischer (2009, p. 46) O termo semita foi cunhado, em 1781, pelo historiador alemão August Ludwig von Schlöezer, o qual buscou, na Bíblia, no livro de Gênesis, em uma referência à linhagem de descendentes de Sem, filho de Noé (GUÉRIOS, 1987), uma designação para o conjunto de línguas semitas que abrangem a herança linguística de vários povos, como árabes e hebreus. NOTA 10 2.2 DA IMPRESSÃO TIPOGRÁFICA AO HIPERTEXTO O aperfeiçoamento revolucionário do alemão Johann Gutenberg, no século XV, na máquina de impressão tipográfica, com os tipos móveis de metal, permitiu a expansão do material escrito, superando, ao longo da história, a prática dos monges copistas dos séculos X ao XIV, embora essa prática de cópia à mão tenha perdurado até o século XIX. Para Chartier (1994), a prensa móvel foi uma primeira revolução que já apontava para novas possibilidades de trabalho com o texto escrito. A revolução do nosso presente é, com toda certeza, mais do que a de Gutenberg. Ela não modifica apenas a técnica de reprodução do texto, mas, também, as próprias estruturas e formas do suporte que o comunica aos leitores. O livro impresso tem sido, até hoje, o herdeiro do manuscrito: quanto à organização em cadernos, à hierarquia dos formatos, do libro da banco ao libellus; quanto, também, aos subsídios à leitura: concordâncias, índices, sumários etc. Com o monitor, que vem substituir o códice, a mudança é mais radical, posto que são os modos de organização, de estruturação, de consulta do suporte do escrito que se acham modificados. Uma revolução desse porte necessita, portanto, de outros termos de comparação (CHARTIER, 1994, s.p.). Tais termos comparativos encontraram, a partir da Revolução Industrial, a qual teve início no final do século XVIII, e se consolidou nas primeiras décadas do século XIX, grandes avanços, principalmente, impulsionados pelo desenvolvimento da industrialização e da área tecnológica, desencadeando novas necessidades para a sociedade. No final do século XIX e no início do século XX, métodos de organização da produção industrial se desenvolveram, tendo, no taylorismo, no fordismo, e, anos depois, no toyotismo, as fortes mudanças no setor fabril. FIGURA 8 – MODELOS PRODUTIVOS FONTE: <https://bit.ly/2V3bhGv>. Acesso em: 24 abr. 2021 11 A evolução do processo produtivo trouxe novos cenários para a sociedade, em geral, como o acesso à educação para os filhos dos trabalhadores, a preparação de mão de obra para a indústria, novos postos de trabalho, o uso mais intenso de aparelhos eletrodomésticos, como da televisão, o surgimento do primeiro computador, a corrida armamentista, a conquista do espaço pelo homem etc. Tais eventos foram impactantes para o modo de vida das pessoas, as quais viram as transformações ocorrerem de forma rápida, em especial, a partir da década de 1990, quando a internet começou a se popularizar, encurtando distância e apresentando possibilidades, antes, nunca pensadas. Com um grande fluxo de informações, a internet apresentou um modo diferente de trabalhar com a escrita e com a leitura. O leitor, a partir de agora, traça o próprio percurso no contato com o texto reproduzido no monitor. O hipertexto se fundamenta em uma composição não linear, ou seja, por meio de cliques em imagens, sons e links diversos, o usuário navega em um ambiente no qual pode interagir com a linguagem e pela linguagem de modo simultâneo, sendo que ele próprio organiza o itinerário interativo. A facilidade e a praticidade para estabelecer conexões sociais horizontalizadas, não hierárquicas, com pessoas de lugares diferentes, foram ampliadas pelas plataformas de redes sociais. FIGURA 9 – TIRINHA GRUMP FONTE: <https://bit.ly/3zswtEJ>. Acesso em: 24 abr. 2021. Com o advento da internet, pelo imediatismo, as pessoas vêm adaptando a escrita à essa necessidade, portanto, as abreviações têm sido utilizadas de modo corriqueiro, associadas aos recursos paralinguísticos, como emoticons ou emojis, além das possibilidades de gravar áudios e vídeos em tempo real. 12 2.3 CONCEPÇÕES DE ESCRITA Tive a ideia infeliz de abrir um desses folhetos, percorri as páginas amarelas, de papel ordinário. Meu pai tentou me avivar a curiosidade, valorizando, com energia, as linhas mal impressas, falhadas, antipáticas. Afirmou que as pessoas familiarizadas com elas dispunham de armas terríveis. Isso me pareceu absurdo: os traços insignificantes não tinham feição perigosa de armas (RAMOS, 1981, p. 90). Graciliano Ramos, na obra Infância, publicada em 1945, narra a própria infância, no nordeste alagoano, na passagem do século XIX para o XX, em um misto de imaginação e de memórias. Tornaram-se eternizadas, pela escrita, as lembranças da vida dele, oportunizando, a outras pessoas, que conheçam mais a respeito da história do escritor. Podemos perceber que o uso social da escrita, nesse caso, oportunizou, ao autor, resgatar fatos e vivências passados e trazê- los para um momento presente, direcionando-os a um futuro que permitirá que qualquer pessoa tenha acesso ao conhecimento daquelas experiências. Soares (2003, p. 65) esclarece que escrever é um conjunto de habilidades e de comportamentos que se estendem desde, simplesmente, escrever o próprio nome até escrever uma tese de doutorado... Uma pessoa pode ser capaz de escrever um bilhete, uma carta, mas não ser capaz de escrever uma argumentação, defendendo um ponto de vista, escrever um ensaio acerca de determinado assunto... Assim: escrever é, também, um conjunto de habilidades, comportamentos, conhecimentos que compõem um longo e complexo continuum [...]. Nesse contexto, pode-se afirmar que escrever não é um ato natural, não nasce com cada criança, é um processo e precisa ser ensinado, o que aponta para o papel fundamental que tem, a escola, no ensino e na aprendizagem da escrita. Para Vigotski (1988), pensamento e palavra não estão separados, dessa forma, a escrita é o signo que faz a mediação da criança com o mundo no qual ela está, começando pelo adulto, com o qual ela tem contato. De acordo com Garcez (2002, p. 11), “a escrita é uma construção social, coletiva, na história humana e na história de cada indivíduo”. Como um ato de reflexão a respeito da coletividade humana, acaba por pensar no próprio interior, retornando, depois, ao grande coletivo – esse movimento é, sempre, constante. [...] A escrita é mais que um instrumento. Mesmo emudecendo a palavra, ela não apenas a guarda, ela realiza o pensamento que, até então, permanece em estado de possibilidade. Os mais simples traços desenhados pelo homem, na pedra ou no papel, não são, apenas, um meio, eles, também, encerram e ressuscitam, a todo momento, o pensamento humano. Para além do modo de imobilização da linguagem, a escrita é uma nova linguagem, muda, certamente, mas, segundo a expressão de L. Febvre, “centuplicada”, que disciplina o pensamento, e, ao transcrevê-lo, organiza-o (HIGOUNET, 2003, p. 9-10). 13 Para Koch e Elias (2010), a escrita é o ato criativo, que expressa o pensamento e o trabalho com o sistema linguístico, envolvendo dimensões de ordem distintas, como a linguística, a cognição, a pragmática e uma abordagem sócio-histórica, cultural, interagindo leitor, texto e autor na produção de sentidos. Escrever, portanto, não se limita a um processo mecânico quando as habilidades para empregar, corretamente, os caracteres e os sinais gráficos estão sob avaliação, nem pode ser uma prática artificial de reprodução e de repetição de frases isoladas e sem contexto, uma vez que possui valor interacional entre o leitor e o texto, o que se torna algo com planejamento, pois há “envolvimento entre sujeitos, para que aconteça a comunhão das ideias, das informações e das intençõespretendidas” (ANTUNES, 2003, p. 45). A escrita não é uma operação realizada no modo automático, é uma ação pensada. Como já vimos anteriormente, para Britto (2012), a tecnologia da escrita permitiu que a sociedade se organizasse por meio do registro (escrever, anotar as informações) e a expansão da memória, ou seja, as diversas formas de organizar o pensamento, uma vez que as informações podem ser armazenadas fora do corpo físico e mantidas por um longo período de tempo. 3 LETRAMENTO A leitura e a escrita estão, fortemente, associadas às atividades humanas, já que, “na sociedade urbano-industrial, saber ler é uma necessidade objetiva” (BRITTO, 2003, p. 133), mas, de acordo com Mey (2000), aquele que não sabe ler está mais exposto nas práticas sociais, nos espaços letrados, do que aquele que não saber escrever. Britto (2003) esclarece que o analfabeto é menos produtivo e mais dependente, visto que, inserido em um meio letrado, no qual a palavra escrita está presente, como ir ao banco, pegar um ônibus, orientar-se pelas placas de sinalização, comprar remédios em uma farmácia, precisa de outra pessoa para auxiliá-lo. O alfabetizado, ainda assim, continua excluído do mundo da escrita, uma vez que “supõe territórios privilegiados, caracterizados por formas de discursos e referências específicas [...]” (BRITTO, 2003, p. 134). Para que se compreenda melhor o que se expôs no parágrafo anterior, Soares (2003, p. 64) reflete acerca do que é ler: é um conjunto de habilidades e comportamentos que se estendem desde simplesmente decodificar sílabas ou palavras até ler Grandes Sertão: Veredas de Guimarães Rosa... uma pessoa pode ser capaz de ler um bilhete, ou uma história em quadrinhos, e não ser capaz de ler um romance, um editorial de jornal... Assim: ler é um conjunto de habilidades, comportamentos, conhecimentos que compõem um longo e complexo continuum [...]. 14 Sob um ponto de vista mais amplo, alguém pode ser alfabetizado, mas não letrado, ou seja, embora domine o sistema alfabético, não consegue produzir, ler e interpretar textos nos diferenciados contextos nos quais surgem, em momentos diferenciados no convívio com outras pessoas, não se inserindo, portanto, em uma cultura letrada, ou seja, há quem saiba decifrar as línguas oral e escrita, mas não consegue entender o significado dentro do contexto comunicativo, não analisa, não interpreta, não é apto a fazer inferências. Nesse ponto, é importante que você, acadêmico, conheça as definições de escala, apresentadas pelo Instituto Nacional de Alfabetização, o Inaf, o qual adota uma metodologia que organiza, em uma escala de proficiência (dividida em cinco grupos: analfabeto, rudimentar, elementar, intermediário e proficiente), os níveis de alfabetismo da população brasileira, segundo o domínio das habilidades de leitura, escrita e matemática, apresentadas pelos participantes das pesquisas realizadas. Esses participantes são brasileiros que residem em zonas urbanas e rurais de todas as regiões do país, e que tenham entre 15 e 64 anos. As entrevistas são realizadas em domicílio, e, a cada edição, são entrevistadas 2.002 pessoas. 15 QUADRO 1 – ESCALA INAF Analfabetos Funcionais Analfabeto: Corresponde à condição dos que não conseguem realizar tarefas simples que envolvem a leitura de palavras e de frases, ainda que uma parcela destes consiga ler números familiares (números de telefone, preços etc.). Rudimentar: Corresponde às capacidades de localizar uma informação explícita em textos curtos e familiares (como um anúncio ou um bilhete), ler e escrever números usuais e realizar operações simples, como manusear dinheiro para o pagamento de pequenas quantias ou fazer medidas de comprimento, usando a fita métrica. Funcionalmente Alfabetizados A partir de 2015, buscando aprimorar a interpretação dos resultados, os respondentes passaram a ser classificados em três níveis: Elementar: As pessoas classificadas neste nível podem ser consideradas, funcionalmente, alfabetizadas, pois já leem e compreendem textos de média extensão; localizam informações, mesmo que seja necessário realizar pequenas inferências; resolvem problemas, envolvendo operações na ordem dos milhares, uma sequência simples de operações; e compreendem gráficos ou tabelas simples, em contextos usuais. Mostram, no entanto, limitações quando as operações requeridas envolvem um grande número de elementos, de etapas ou de relações. Intermediário: Localizam informações em diversos tipos de texto; resolvem problemas, envolvendo percentagem ou proporções, ou que requerem critérios de seleção de informações, elaboração e controle de etapas sucessivas para a solução. As pessoas classificadas neste nível interpretam e elaboram sínteses de textos diversos e reconhecem figuras de linguagem, no entanto, têm dificuldades para perceber e opinar a respeito do posicionamento do autor de um texto. Proficientes: Classificadas, neste nível, estão as pessoas cujas habilidades não mais impõem restrições para compreender e interpretar textos em situações usuais: leem textos de alta complexidade, analisando e relacionando as partes; comparam e avaliam informações; e distinguem fato de opinião. Quanto à matemática, interpretam tabelas e gráficos com mais de duas variáveis, compreendendo elementos, como escala, tendências e projeções. FONTE: <https://bit.ly/2WxIIBT>. Acesso em: 24 abr. 2021. 16 Acesse o site do INAF para conhecer mais as habilidades e os níveis de alfabetismo, os resultados, a metodologia aplicada ou para ler os relatórios de todas as edições: https://alfabetismofuncional.org.br/. NOTA O conceito de letramento é uma tradução da palavra, em inglês, literacy, a qual, originalmente, significa a condição daquele que aprende a ler e a escrever, entretanto, na atualidade, em muitos tradutores online, o termo é traduzido como alfabetização. Foi utilizado, no Brasil, pela primeira vez, por Mary Kato, em 1986, período no qual muitas publicações a respeito de habilidades de leitura e de escrita foram realizadas, uma vez que o país estava passando por uma transformação político-social, o que exigiu a revisão de algumas práticas no âmbito escolar. Importa destacar que letramento e alfabetização não são sinônimos. Para Soares (2003, p. 49): ter-se apropriado da escrita é diferente de ter aprendido a ler e a escrever: aprender a ler e a escrever significa adquirir uma tecnologia, a de codificar em língua escrita, a de decodificar a língua escrita; apropriar-se da escrita é tornar a escrita “própria”, ou seja, é assumi- la como a sua propriedade. Considerando a citação de Soares (2003) e observando a figura a seguir, verificaremos que alfabetização e letramento possuem aspectos muito diferentes. No exemplo a seguir, o aluno se apropriará de um gênero discursivo frequente no âmbito escolar, inclusive, se observarmos, a composição e a unidade temática serão organizadas de tal modo que a produção do menino será considerada um bilhete, embora com particularidades, o que, neste momento, não cabe analisar. 17 Qual é a diferença entre alfabetização e letramento? Magda Soares, no livro de 2002, Letramento: Um Tema em Três Gêneros, da editora Autêntica, apresenta uma explicação bem objetiva da diferença entre esses dois termos: Alfabetização: ação de ensinar/aprender a ler e a escrever. Letramento: estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as práticas socais que usam a escrita (SOARES, 2002, p. 60). Para complementar o seu conhecimento acerca dessa diferenciação, observe o exposto a seguir: NOTA FIGURA 10 – MENINO ESCREVEU BILHETE EM NOME DA PROFESSORA PARA FALTAR À ESCOLA, BOCAÍNA (SP) FONTE <https://glo.bo/3yrytff>. Acesso em: 24 abr. 2020. Devido às exigências e às demandas da sociedade 4.0, uma nova realidade social vem se configurando, requerendo, portanto, novas habilidades a serem empregadas nas ações de ler e de escrever. Por isso, apenas decodificar oucodificar palavras é insuficiente. Torna-se, portanto, imprescindível que as práticas de leitura e de escrita se projetem em direção à atuação no mundo, ou seja, é essencial empregar as habilidades de ler e de escrever, conforme o contexto no qual as práticas sociais estejam sendo desenvolvidas, nas mais distintas esferas da atividade humana e em interações pautadas na linguagem como produto cultural, histórico e social. 18 DIFERENÇA ENTRE OS CONCEITOS DE ALFABETIZAÇÃO E DE LETRAMENTO FONTE: <https://bit.ly/3kEFX9R>. Acesso em: 24 abr. 2021. No mundo no qual nos inserimos, hoje, saber ler e escrever é mais do que codificar ou decodificar signos linguísticos, é ler o mundo, é usar a leitura e a escrita na função social, ou seja, produzir os textos adequados para cada situação comunicativa da qual se faz parte, na qual interage. Desse modo, o vocábulo letramento, “[...] que, hoje, é de circulação corrente, refere-se não à mera capacidade de representar os sons na escrita, mas, sim, às formas de inserção na sociedade na qual o indivíduo está presente, pelo fato de utilizar, de maneira competente, a escrita” (ILARI, 1985, p. 17). Letrar, portanto, é dominar a língua, especialmente, a escrita, adequando o uso dela aos diferentes contextos e situações comunicativas. Isso significa saber não apenas as estruturas relativas à própria língua, mas as questões que envolvem o uso, os aspectos históricos, culturais, sociais que a constituem como tal. Assim, o letramento é visto como uma forma de inserção do indivíduo na cultura escrita, ocorrendo a partir do momento em que este se vê envolvido com as produções. Por isso, a escola é um espaço tão importante para o processo, uma vez que, seguindo a perspectiva vigente de alfabetização do ensino da língua, o aluno está exposto aos mais variados gêneros textuais, trabalhando com eles, refletindo a respeito e sendo conduzido a produzi-los eficientemente. Magda Soares, no livro de 2003, Letramento: Um Tema em Três Gêneros, da editora Autêntica, apresenta, com base no poema da estudante norte-americana Kate M. Chong, uma explicação para o conceito de letramento. Atente-se: 19 QUADRO 2 – CONCEITO DE LETRAMENTO POR MAGDA SOARES, COM BASE NO POEMA DA ESTUDANTE NORTE-AMERICANA KATE M. CHONG Poema Explicação da autora Magda Soares Letramento não é um gancho em que se pendura cada som enunciado, não é treinamento repetitivo de uma habilidade, nem um martelo quebrando blocos de gramática. Letramento não é alfabetização: esta é que é um processo de “pendurar” sons em letras (“ganchos”); costuma ser um processo de treino, para que se esta- beleçam as relações entre fonemas e grafemas, um processo de desmonte de estrutura linguística (“um martelo que- brando blocos de gramática”). Letramento é diversão é leitura à luz de vela ou lá fora, à luz do sol. Letramento é prazer, é lazer, é ler em di- ferentes lugares e sob diferentes condi- ções, não só na escola, em exercícios de aprendizagens. São notícias sobre o presidente, o tempo, os artistas da TV e mesmo Mônica e Cebolinha nos jornais de domingo. Letramento é se informar através da lei- tura, é buscar notícias, é lazer nos jornais, é interagir com a imprensa diária, fazer uso dela, selecionando o que desperta interesse, divertindo-se com as tiras de quadrinhos. É uma receita de biscoito, uma lista de compras, recados colados na geladeira, um bilhete de amor, telegramas de parabéns e cartas de velhos amigos. Letramento é usar a leitura para seguir instruções (a receita de biscoito), para apoio à memória (a lista daquilo que devo comprar), para comunicação com quem está distante ou ausente (o recado, o bilhete, o telegrama). É viajar para os países desconhecidos, sem deixar sua cama, é rir e chorar com personagens, heróis e grandes ami- gos. Letramento é ler histórias que nos levam a lugares desconhecidos, sem que, para isso, seja necessário sair da cama, na qual estamos com o livro nas mãos, é se emocionar com as histórias lidas, e fazer, dos personagens, amigos. É um atlas do mundo, sinais de trânsito, caças ao tesouro, manuais, instruções, guias, e orientações em bulas de remédios, para que você não fique perdido. Letramento é usar a escrita para se orientar no mundo (o atlas), nas ruas (os sinais de trânsito), para receber instruções (para encontrar um tesouro, para montar um aparelho, para tomar um remédio), enfim, é usar a escrita para não ficar perdido. 20 Letramento é, sobretudo, um mapa do coração do homem, mapa de quem você é, e de tudo que você pode ser”. Letramento é descobrir a si mesmo pela leitura e pela escrita, é se entreter, lendo ou escrevendo (“delinear o mapa de quem você é), e é descobrir alternativas e possibilidades, descobrir o que você pode ser. FONTE: Soares (2003, p. 42-43) 3.1 MULTILETRAMENTO Em 1996, um grupo de pesquisadores de letramento, reunidos em Nova Londres, no estado de Connecticut, Estados Unidos, publicou o manifesto A Pedagogy of Multiliteracies - Designing Social Futures (Uma Pedagogia dos Multiletramentos — Desenhando Futuros Sociais). Esse grupo, também, ficou conhecido com Grupo de Nova Londres, GNL. No documento redigido, o grupo afirmava [...] a necessidade de a escola tomar, a seu cargo (daí a proposta de uma pedagogia), os novos letramentos emergentes, na sociedade contemporânea, em grande parte, mas não somente, devidos às novas TICs. Ainda, de levar em conta e incluir, nos currículos, a grande variedade de culturas, já presentes nas salas de aula, de um mundo globalizado, e caracterizada pela intolerância na convivência com a diversidade cultural, com a alteridade (ROJO; MOURA, 2012, p. 12). Os estudos do GNL apontavam para uma pedagogia convergente, para uma gama de ferramentas linguísticas, comunicativas, culturais e tecnológicas, que ampliam as percepções dos estudantes e dos professores em relação à constante mudança que o mundo globalizado vem oportunizando aos indivíduos. Por isso, a necessidade de a escola não se ausentar desse novo contexto, proporcionado, portanto, uma contribuição às comunidades às quais pertence e para o futuro dos estudantes. Outro aspecto a se considerar é os estudantes que já estavam durante os estudos do GNL, e, ainda, convivem com ferramentas que são caracterizadas por serem multimodais e multissemióticas. A inserção das chamadas Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação, as TDIC, nas práticas escolares, enfatizou, ainda mais, a diversidade cultural de produção e de circulação de textos, por isso, o grupo cunhou a expressão multiletramentos. [...] O conceito de multiletramentos, pois é bom enfatizar, aponta para dois tipos específicos e importantes de multiplicidade presentes nas nossas sociedades, principalmente, urbanas, na contemporaneidade: a multiplicidade cultural da população e a multiplicidade semiótica de constituição dos textos, por meio dos quais ela se informa e se comunica (ROJO; MOURA, 2012, p. 13). 21 Nesse contexto, e reforçando o que lemos até o momento, o prefixo “multi” se refere a dois aspectos perceptíveis na atualidade: à multiculturalidade das sociedades atuais, ou seja, as chamadas globalizadas, e à multimodalidade dos textos que são produzidos e que circulam nessas sociedades. De modo geral, os multiletramentos, de acordo com Rojo e Moura (2012), são colaborativos, superam as relações de poder estabelecidas, e são híbridos, pois mesclam linguagens, modos, mídias e culturas. O GNL propôs, em 1996, princípios de encaminhamento para uma pedagogia do multiletramento, o que propunha formar um usuário funcional, com competência técnica, para atuar com as ferramentas presentes, nas práticas letradas, com os gêneros de designs factíveis, em relação a outros gêneros e designs. Para isso, segundo Rojo e Moura (2012), é necessário que seja planejada uma prática de imersão considerada parte da cultura do grupo de alunos, com uma análise sistemática e conscientedos gêneros e dos designs, interpretados de acordo com os contextos sociais e culturais de circulação e de produção. FIGURA 11 – MAPA DOS MULTILETRAMENTOS FONTE: Rojo e Moura (2012, p. 29) A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) reforça a necessidade de trazer a tecnologia para o trabalho educativo e considera o multiletramento como ferramenta para uma participação mais efetiva nas práticas contemporâneas de linguagem. Ademais, esclarece que a ação do estudante, no desenvolvimento de atividades que envolvem o multiletramento, permite, além de se sentir no mundo como protagonista do próprio aprendizado, ser capaz de desencadear ações de mudança sociais. Permite, também, que se possa ter em mente mais do que um “usuário da língua/ das linguagens”, na direção do que alguns autores vão denominar de designer: alguém que toma algo que já existe (inclusive, textos escritos), mescla, remixa, transforma, redistribui, produzindo novos sentidos, processo que alguns autores associam à criatividade. Parte do sentido da criatividade em circulação, nos dias atuais (“economias criativas”, “cidades criativas” etc.), tem algum tipo de relação com esses fenômenos de reciclagem, mistura, apropriação e redistribuição. 22 Atualmente, os suportes que se utilizam para leituras vão muito além do livro impresso, pois o modo através do qual a leitura se modificou, nos tempos da internet, modificou, também, onde os textos são veiculados. Da mesma forma, os gêneros textuais se multiplicaram, e a forma de produção sofreu alteração. Há algum tempo, no Ensino Fundamental, quando a professora solicitava que redigíssemos um texto a respeito de como foram as nossas férias, abríamos o caderno, fazíamos um rascunho, e, depois, passávamos, a limpo, o texto, e entregávamos para o docente. Hoje, esse cenário pode ser muito diferente. Exemplos disso são as ferramentas colaborativas de edição de texto, a partir das quais alunos e professora podem trabalhar, de modo simultâneo, na produção e na reescrita do texto. Além disso, há uma infinidade de gêneros digitais que permite essa prática, que vai muito além do lápis, da borracha e do caderno, como tweets, memes, gifs, fanfics, stories em redes sociais diversas, blogs, mensagens instantâneas etc. Vale lembrar que trabalhar com multiletramentos não exige o uso das tecnologias, embora, normalmente, isso ocorra, mas se caracteriza como um trabalho que parte das culturas de referência do alunado (popular, local, de massa) e de gêneros, mídias e linguagens por ele conhecidos, para buscar um enfoque crítico, pluralista, ético e democrático, que envolva agência de textos/discursos que ampliem o repertório cultural na direção de outros letramentos, valorizados [...] ou desvalorizados [...] (ROJO; MOURA, 2012, p. 8). No filme Central do Brasil, Dora, a personagem vivida pela atriz Fernanda Montenegro, cobra para escrever cartas, demonstrando a importância da escrita e, ao mesmo tempo, a exclusão sofrida por aqueles que não têm o domínio dessa técnica. FONTE: <https://bit.ly/2WKsUeO>. Acesso em: 24 abr. 2021. DICAS O QUE É A PEDRA DE ROSETA? É um pedaço de granito encontrado em 1799, nos arredores da cidade de Roseta, no Egito, e que foi a chave para o entendimento dos hieróglifos. Ela foi achada por soldados franceses durante a invasão de Napoleão Bonaparte, que queria interromper as rotas da Inglaterra para as Índias. Em NOTA 23 1801, no entanto, os ingleses derrotaram as tropas de Napoleão, e a França foi obrigada a lhes entregar a pedra, a qual, hoje, pertence ao acervo do Museu Britânico, em Londres. A pedra data de 196 a.C., quando o Egito era controlado pelos gregos (o chamado período ptolomaico). Ela contém o mesmo texto em três grafias, hieróglifos, grego antigo e demótico. Isso permitiu a decodificação dos antigos símbolos egípcios, usados por mais de três mil anos. PEDRA DE ROSETA FONTE: <https://bit.ly/3mScdc6>. Acesso em: 24 abr. 2021. O inglês Thomas Young constatou a repetição do nome do faraó da época, Ptolomeu 5º, mas quem decifrou tudo foi o francês Jean-François Champollion, em 1822. Sem nunca ter visto a pedra, ele analisou cópias e identificou que os hieróglifos eram uma escrita fonética e que os símbolos poderiam representar mais de um som. Como a parte escrita, em grego, era maior do que a de hieróglifos, Champollion concluiu que cada símbolo egípcio poderia representar um, dois ou três sons diferentes (ou, ainda, ser um sinal representativo). A tradução revelou um texto burocrático, com concessões políticas do faraó aos sacerdotes. Comece a entender (um pouquinho) os hieróglifos: • A ordem de leitura é definida para onde os símbolos apontam. Se os hieróglifos estão olhando para a direita, a leitura daquela linha é da direita para a esquerda. • Quem definia o espaçamento e a disposição dos hieróglifos eram os sacerdotes, a fim de deixar o texto o mais bonito possível. Eles criaram mais de três mil símbolos. • A escrita hieróglifa possui consoantes e semivogais. Além dos símbolos que representam sons, existem os determinativos, que indicam a categoria à qual a palavra pertence. FONTE: <https://bit.ly/3mScdc6>. Acesso em: 24 abr. 2021. 24 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • A sociedade, na qual estamos inseridos, pode ser considerada grafocêntrica. • A escrita surgiu como uma estratégia de registro nas relações comerciais. • A invenção da escrita foi tão importante para a humanidade que marcou os limites entre um antes e um depois na história. • Os sumérios, habitantes da região da Mesopotâmia, desenvolveram a mais antiga forma de escrita: a cuneiforme. • No Egito, surgiram os hieróglifos, considerados sinais sagrados para os egípcios, pois eram uma espécie de fala dos deuses. • Os povos mesoamericanos (maias e astecas), também, apresentaram um sistema de escrita. • O alfabeto latino é o mais utilizado no mundo, entretanto, não é o único. • Os métodos de organização da produção industrial influenciaram o modo de vida das pessoas, incluindo as estratégias de leitura e de escrita. • O hipertexto é multimodal e tem uma composição não linear. • Escrever é um processo que precisa ser ensinado. • O letramento é uma forma de inserção do indivíduo na cultura escrita, ocorrendo a partir do momento em que este se vê envolvido com as produções. RESUMO DO TÓPICO 1 25 AUTOATIVIDADE 1 A respeito da história da escrita, essa invenção humana surgiu como uma estratégia de registro nas relações comerciais, e foi tão importante para a humanidade que marcou um antes e um depois na história, mas, ainda assim, é um marco bem recente, se comparado ao surgimento do primeiro hominídeo, ao uso da caça e da pesca e ao domínio das técnicas de uso do fogo. Considerando essas afirmações e o que você estudou, leia, com atenção, as propositivas a seguir, e classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) A invenção da escrita não foi um grande marco para a história da humanidade. ( ) A escrita cuneiforme se espalhou pela Ásia e foi utilizada por outros povos. ( ) O sistema de escrita dos egípcios ficou conhecido como cuneiforme. ( ) O sistema de escrita cuneiforme, a escrita hieroglífica, a escrita maia e a escrita asteca são não alfabéticos. ( ) A invenção da escrita é muito recente, se comparada ao uso da caça e da pesca e ao domínio das técnicas de uso do fogo pelo homem. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F – V – F – V – V. b) ( ) V – V – V – V – V. c) ( ) V – F – F – F – F. d) ( ) F – V – V – F – V 2 Como você leu no Tópico 1, a invenção da escrita marcou a história da humanidade. Na atualidade, ela, ainda, vem sofrendo transformações decorrentes do próprio desenvolvimento do ser humano e das relações dele. Na atualidade, como as pessoas utilizam a escrita nas ações rotineiras e como a internet vem influenciando o modo de escrever? FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/276901077079561969/>.Acesso em: 24 abr. 2021. 26 FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/276901077079561969/>. Acesso em: 24 abr. 2021. FONTE: <https://bit.ly/3Byva81>. Acesso em: 24 abr. 2021. 3 Observe as figuras a seguir e releia este trecho de Garcez (2002, p. 11): “a escrita é uma construção social, coletiva na história humana e na história de cada indivíduo”. Considerando isso, responda: como a escrita permite que cada um de nós possa, ao mesmo tempo, construir a história da humanidade e a nossa própria história? 27 4 De acordo com o que estudamos no Tópico 3, a respeito do letramento, saber ler e escrever é mais do que codificar ou decodificar signos linguísticos. Faz-se necessário empregar a leitura e a escrita para produzir os textos adequados para cada situação comunicativa da qual eles fazem parte. Desse modo, podemos afirmar que: a) ( ) A leitura e a escrita estão associadas, somente, às atividades humanas restritas àqueles indivíduos que leem textos de alta complexidade, os quais analisam e relacionam as partes. b) ( ) Alfabetização e letramento são sinônimos, pois ambos se referem ao processo de aprendizado da leitura e da escrita. c) ( ) O uso competente da leitura e da escrita nas distintas práticas sociais, atendendo às demandas decorrentes dos mais diversos contextos, é o processo denominado de letramento. d) ( ) As práticas de leitura e de escrita não precisam estar direcionadas ao contexto no qual as práticas sociais estejam sendo desenvolvidas, uma vez que, nas atividades humanas, a linguagem é dispensável. 5 Observe os quadrinhos da personagem Mafalda do cartunista argentino Quino. Considerando o que você estudou neste Tópico 1, escreva um parágrafo dissertativo a respeito da relação entre letramento e funções sociais da leitura e da escrita. FONTE: <https://bit.ly/3Byva81>. Acesso em: 24 abr. 2021. 28 FONTE: <https://bit.ly/3DAMpY4>. Acesso em: 24 abr. 2021. 29 CONHECENDO OS ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO E AS DIVERSAS LINGUAGENS UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 1 INTRODUÇÃO Nas esferas das atividades humanas das quais participamos, estão presentes os mais variados gêneros textuais, sejam listas, artigos de divulgação científica, relatórios, romances de aventura, requerimentos, notícias, reportagens, propagandas etc. Nos usos cotidianos desses gêneros, não refletimos a respeito dos meios de produção deles, a qual propósito se direcionam e a quem se destinam. Entretanto, sabemos que carregam uma mensagem por meio de algum suporte, seja uma revista, um site, uma rede social. Neste tópico, a nossa atenção se voltará para esses aspectos da linguagem. Para que possamos, acadêmico, avançar nas questões que subsidiam o ensino de Língua Portuguesa, estudaremos, neste Tópico 2, como a linguagem vem acompanhando a história da humanidade. Por fim, abordaremos a Teoria da Comunicação, o modelo de comunicação formulado pelo estudioso russo Roman Jakobson. Esse modelo envolve, além dos elementos presentes no ato comunicativo, as finalidades decorrentes desse ato, as quais são denominadas de funções da linguagem. 2 LÍNGUA E SUJEITO Da necessidade de sobrevivência do homem surgiu a linguagem, um reflexo das organizações social, política e econômica de um grupo em uma determinada época. No período mais remoto da história da humanidade, o Paleolítico Inferior, ou a Idade da Pedra Lascada, o Pithecanthropus erectus pertencia a uma organização social que era grupal e nômade, e isso auxiliava nas caçadas, pois as estratégias traçadas para conseguir capturar as presas e para se proteger dos predadores exigiam o uso da linguagem. Na organização do trabalho coletivo, naquilo que era transmitido com o auxílio do próprio corpo, os componentes desses grupos marcavam determinados significados, ou seja, esse ou aquele movimento expressava algo que, pelo uso rotineiro, seria reconhecido, e, então, uma resposta seria dada a esse signo. Tal fato gera a expansão do povoamento no planeta. Na trincheira pela sobrevivência, o homem paleolítico sofreu transformações nas características físicas, por exemplo, os dedos das mãos se afastaram, e o polegar, com um movimento contrário aos demais dedos, tendo vantagem evolutiva, de força, servia como uma alavanca, que auxiliou no manuseio de instrumentos e na modificação 30 do ambiente. Desenvolveu-se, também, a linguagem, assim, o conhecimento e as experiências se tornaram coletivos e puderam ser transmitidos. As manifestações artísticas, produtos do trabalho e da vida em sociedade, marcaram esse período e a história da humanidade, com os adornos para o corpo, as estatuetas femininas estilizadas, os utensílios de ossos e as pinturas nas paredes das cavernas. O homem havia desenvolvido a linguagem e usufruía do fogo para a proteção de animais ferozes e o preparo de alguns alimentos. Portanto, os primeiros elementos da linguagem sonora humana, e os da arte, eram elementos de um processo de trabalho, estavam ligados a necessidades econômicas e representavam o resultado da organização produtiva da sociedade (VOLOCHÍNOV, 2013, p. 137). O processo de trabalho reclamou, dos clãs primitivos, já na Pré-História, as organizações econômica e social, as quais, na esfera da atividade humana coletiva, originaram um produto que deu mais chances de sobrevivência e que perpassou a própria história: a linguagem. Esta, segundo Volochínov (2013), desde a gênese, representou uma brusca separação do mundo natural e do começo da criação do mundo da história social. A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas, nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicológico da produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações. A interação verbal constitui, assim, a realidade fundamental da língua (BAKHTIN, 1981, p. 123). Para Volochínov (2013), a constância semiótica é a condição para integrar o domínio do pensamento humano, o que gera, portanto, valor social, ou seja, essa constância é o que permite que determinado objeto, por exemplo, receba o nome de livro, e seja convencionado como tal. A cada nova geração de indivíduos, essa informação é repassada, e a palavra livro continua se referindo a um objeto. Do mesmo modo, sabemos que uma língua não está estanque, ela se modifica, pois os indivíduos que a empregam realizam as adaptações e as alterações necessárias, conforme o momento histórico em que vivem. Uma palavra (signo) pode expressar significados diferentes, considerando os aspectos sociais e históricos no momento da enunciação. Assim, a linguagem, por meio da ação semiótica, incide sobre a consciência, e, portanto, influencia o comportamento humano, assim, enfatiza-se que o ensino, na linguagem, não pode abrir mão da ênfase na interação social, e de como essa linguagem se articula nas ações sociais, uma vez que o ser humano vai atuando e sofrendo a influência disso, pois a linguagem tem, como referência, sempre, o outro. Exemplos disso são as variações pelas quais a língua passa. Algo conhecido pelos falantes da Língua Portuguesa é o caso de vossa mercê, que se transformou em vosmecê, depois, você, chegando ao cê, ou vc, como tem sido empregado nas mensagens de redes sociais. 31 Outro aspecto a se considerar é o de que a palavra (signo linguístico) é necessária para a comunicação e para o desenvolvimento do pensamento, ou seja, é a mediação simbólica, uma vez que as representações mentais são uma interiorização daquilo que é percebido no mundo exterior (VIGOTSKI, 2008). Dessa forma, pode-se afirmar que, na interação verbal, a palavra se torna um signo ideológico, ou seja, adquire significados diferentes, conforme o contexto no qual é empregada. [...] As palavras são tecidas a partir de uma multidão de fios ideológicos, e servem de trama a todas as relações de caráter sociais em todos os domínios. É, portanto, claro que a palavra será, sempre, o indicador mais sensível detodas as transformações sociais, mesmo daquelas que apenas despontam, que ainda não tomaram forma, que ainda não abriram caminho para sistemas ideológicos estruturados e bem formados. A palavra constitui o meio no qual se produzem lentas acumulações quantitativas de mudanças que ainda não tiveram tempo de adquirir uma qualidade ideológica nova e acabada (BAKHTIN, 1981, p. 41). Podemos dizer, portanto, que a interação não é neutra, ou seja, o “eu” que fala carrega, consigo, a própria história, os valores, as concepções das coisas. O “outro”, também, apresenta isso tudo, e, assim, dá-se o grande encontro no espaço discursivo, no qual o sujeito constrói a identidade nessa relação com o semelhante, pois estão presentes, nesse evento, a identidade e a alteridade (o outro). Um se constrói com e a partir do outro. Essa interação é central, e a linguagem está presente. FIGURA 12 – INTERAÇÃO SOCIAL FONTE: O autor (2021) Observe o estudo do pensador russo Lev Semionovitch Vigotski, a respeito do pensamento e do processo infantis de aquisição da linguagem: https:// bit.ly/3jwMbZP. DICAS 32 3 ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO O linguista russo Roman Jakobson (2010) propôs os elementos envolvidos na comunicação e os relacionou a uma função específica da linguagem. Dessa forma, determinou as funções, considerando as finalidades específicas envolvidas em cada ato comunicativo. O estudioso, nas pesquisas dele, verificou que, em um mesmo momento de comunicação, vários pontos se fazem presentes, entretanto, ocorre a prevalência de um, dada a possibilidade do uso do código e o cruzamento de vários níveis de linguagem. Tal modelo, em sintonia com o movimento estruturalista, adota uma concepção de linguagem que compreende a língua como um código que transmite, ao destinatário/ receptor, uma mensagem, limitando, assim, a ação dos interlocutores. Vale ressaltar que Jakobson pretendia estabelecer um modelo aplicável e que atendesse aos voltados para a ciência textual. Dessa forma, a todo momento, quando utilizamos a linguagem, buscamos estruturas que nos permitem compor e compreender mensagens. Assim, podem perpassar, a ação, seis elementos que compõem o ato comunicativo: emissor, receptor, mensagem, contexto, canal e código. FIGURA 13 – ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO FONTE: <https://bit.ly/3gNEb59>. Acesso em: 24 abr. 2021. Os elementos apresentados podem ser especificados da seguinte forma: 33 QUADRO 3 – ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO • Emissor: chamado também de locutor ou de falante, o emissor é aquele que emite a mensagem para um ou para mais receptores, por exemplo, uma pessoa, um gru- po de indivíduos, uma empresa, dentre outros. • Receptor: denominado de interlocutor ou de ouvinte, o receptor é quem recebe a mensagem emitida pelo emissor. • Mensagem: é o objeto utilizado na comunicação, de forma que representa o con- teúdo, o conjunto de informações transmitidas pelo locutor. • Código: representa o conjunto de signos que são utilizados na mensagem. • Canal de comunicação: corresponde ao local (meio) onde a mensagem é transmi- tida, por exemplo, jornal, livro, revista, televisão, telefone etc. • Contexto: também, chamado de referente, trata-se da situação comunicativa na qual estão inseridos o emissor e o receptor. FONTE: <https://bit.ly/3kIHjjE>. Acesso em: 24 abr. 2021. Como já discutido anteriormente, em uma mesma mensagem, várias funções podem ocorrer, logo, “a emissão, que organiza os sinais físicos em forma de mensagem, coloca ênfase em uma das funções — e as demais dialogam em subsídio” (CHALHUB, 1991, p. 8). Nesse contexto, quando nos comunicamos, prevemos uma intencionalidade, ou seja, pretendemos, intencionamos, desejamos algo quando damos um “bom-dia”, quando dizemos “alô” ao telefone ou quando encaminhamos uma mensagem motivacional nos grupos do WhatsApp. Portanto, nos mais variados atos comunicativos, a linguagem exerce diferentes funções. A depender da intenção, no evento de fala, o foco recai sobre um dos elementos da comunicação, dessa forma, surgem seis funções de linguagem: função emotiva, ou expressiva; função apelativa, ou conativa; função poética; função referencial, ou denotativa; função fática; e função metalinguística. Estudaremos cada uma dessas funções nos itens a seguir, mas, antes, precisamos refletir a respeito das linguagens verbal e não verbal. 3.1 LINGUAGEM VERBAL E LINGUAGEM NÃO VERBAL Nas ações rotineiras, utilizamos a linguagem em diversas situações comunicativas, mas, será que, quando nos comunicamos, sempre usamos as palavras para informar ou para compreender algo? Quando encaminhamos um arquivo de áudio para alguém, utilizamos a oralidade; quando enviamos uma mensagem a um colega, dizendo “oi, tudo bem?”, usufruímos da linguagem verbal; e quando recebemos, como resposta a essa pergunta, o emoji , pressupomos que essa pessoa está bem, sendo, o desenho, um representante para expressar algo. As situações apresentadas são muito comuns e nos permitem refletir a respeito dos tipos de linguagem presentes nosso 34 dia a dia. Nesse contexto, podemos dizer que a linguagem verbal e a linguagem não verbal aparecem com frequência. Ainda, há situações nas quais ambas compõem uma mensagem, constituindo o que é chamado de linguagem mista. O termo “verbal” tem origem da forma latina verbum, palavra. Assim, a linguagem verbal é aquela que se organiza com o uso da palavra, seja oral ou escrita. FIGURA 14 – ESTROFE FONTE: <https://bit.ly/38sSl75>. Acesso em: 24 abr. 2021. Observe que, na estrofe anterior, o repentista construiu o texto com a linguagem verbal, ou seja, usou as palavras para trazer uma reflexão a respeito da importância da leitura e dos objetos que se referem a ela para a humanização da sociedade, de modo geral. Agora, observe a tirinha a seguir: FIGURA 15 – TIRINHA FONTE: <https://bit.ly/3mOMmBV>. Acesso em: 24 abr. 2021. Ao se atentar à sequência dos quadrinhos, é possível compreender a mensagem transmitida. O quadrinista, pelo trabalho com linhas e traços, pôde dar sentido ao texto, mesmo que não tenha usado uma palavra sequer. Nesse caso, foi empregada a linguagem não verbal. Esse tipo de linguagem emprega os signos visuais, como os gestos, as imagens nas placas, as cores na sinalização de trânsito, o desenho. Veja o exposto a seguir: 35 FIGURA 16 – PÁGINA DO SITE DA UNIASSELVI FONTE: Adaptada de <https://portal.uniasselvi.com.br/>. Acesso em: 24 abr. 2021. Ao acessar o site desta instituição, UNIASSELVI, a página principal apresenta um hipertexto, a partir do qual há a presença de palavras (linguagem verbal) e de imagens (linguagem não verbal), como o link de acesso para Libras, as cores que identificam a Faculdade, a logomarca, o símbolo de acesso restrito (cadeado) no link do ambiente virtual etc. Portanto, quando ocorre a associação dos dois tipos de linguagem, verbal e não verbal, em um mesmo evento comunicativo, a linguagem mista se apresenta. Compreendidos os tipos de linguagem que empregamos nos mais variados atos comunicativos, voltamos para os estudos das funções de linguagem, apresentadas nos itens a seguir. Bons estudos! 3.2 FUNÇÃO EMOTIVA OU EXPRESSIVA A função de linguagem emotiva ou expressiva se caracteriza por ter o foco voltado para o próprio falante ou emissor, expressando e evidenciando a própria posição, as emoções, os sentimentos. Geralmente, é empregado o uso do pronome em primeira pessoa. São aqueles textos nos quais se percebe que esse “eu” que fala no texto apresenta desejos, reflexões sobre si mesmo. Leia o poema a seguir e se atente aos trechos destacados. 36 QUADRO 4 – POEMA Retrato Cecília Meireles Eu não tinha este rosto de hoje, Assim calmo, assim triste, assim magro, Nem estes olhos tão vazios, Nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, Tão paradas e frias e mortas; Eu não tinha este coração Que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, Tão simples, tão certa, tão fácil: - Em que espelho ficou perdida A minha face?
Compartilhar