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A internacionalização da previdência social e os direitos do migrantes Leandro texto contatnes do jornla do 30 congresso brasileiro de prevdiencias da LTR junho de 2011

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A internacionalização da previdência social e os 
trabalhadores migrantes 
Leandro Madureira Silva 
Advogado associado da área previdenciária do escritório 
Alino & Roberto e Advogados (www.aer.adv.br). 
Pós-graduando em Direito Previdenciário (Instituto 
Brasiliense de Direito Público/Universidade Anhanguera/ 
UniDERP/LFG). Especialista em Direito Público. 
Ex-servidor do Ministério da Previdência Social. 
 “Assim como ao Estado desenhar mecanismos de regulação para que os fluxos financeiros, 
de mercadorias e de conhecimento contribuam para o desenvolvimento nacional, também 
cabe a ele criar instrumentos que permitam que as migrações de trabalhadores ocorram sem 
que esses trabalhadores percam sua proteção social cabe e seus direitos previdenciários. Em 
ambos os casos, o estabelecimento de regras claras e a garantia de direitos parece ser 
condição necessária para o bem estar das pessoas e o progresso dos países.”(1) 
A máxima constitucional expressa no art. 193 objetiva garantir o bem-estar e a justiça social, 
pelo primado do trabalho. A previdência social é uma das facetas(2) dessa busca, uma 
expressão das ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade com o fim de atingir 
essa prerrogativa. A proteção social propiciada pelos benefícios previdenciários por eventos 
relacionados à idade, morte, doença e invalidez, quando os trabalhadores não mais possuírem 
condições de manter, por seu próprio trabalho, o seu sustento e o de seus dependentes perfaz 
um legítimo seguro social. Contudo, quando se pensa nos trabalhadores envolvidos em 
movimentos migratórios (1) MARINHO, Luiz; Ex-Ministro da Previdência Social; Apresentação 
do livro Migrações Internacionais e a Previdência Social, publicado em 2006, Ministério da 
Previdência Social. 
(2) Previdência social é espécie do gênero Seguridade Social. constata-se que, dificilmente, 
esse trabalhador atingirá os requisitos mínimos para obter em seu país de origem, ao fim de 
sua vida laboral, uma retirada do mercado de trabalho com a respectiva contraprestação 
previdenciária. Afinal, trata-se de um trabalhador que exerceu suas atividades, supondo-se 
condições formais e regulares, submetido a diferentes regimes previdenciários, em um ou 
mais países. 
Inobstante, não se pode olvidar que o atual cenário mundial é marcado por uma intensa 
relação entre os países nos contextos econômico, tecnológico, de investimentos e de 
informação. Na América Latina, o MERCOSUL surgiu como uma zona de livre-comércio, onde 
as relações entre os países pertencentes seriam favorecidas e propiciariam o desenvolvimento 
da região. A despeito do estágio de integração(3) alcançado mesmo após tantos anos de 
implementação, tem-se uma importante demonstração regional dessa tendência mundial. Já 
no continente europeu, a União Europeia conseguiu o feito (3) O nível de integração pode ser 
mensurado, tendo como referência três parâmetros: uma organização é tanto mais integrada 
quanto mais consegue controlar os instrumentos coercitivos e impor a observância das normas 
e dos procedimentos dela emanados; é tanto mais integrada quanto mais controla as decisões 
relativas à distribuição dos recursos; e, por último, é tanto mais integrada quanto mais 
constitui o centro de referência e de identificação dominante para os membros da própria 
organização (BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política/ Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e 
Gianfranco Pasquino. Ed. Universidade de Brasília, 13. ed., 2009). 
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de ser a primeira, e ainda única, união supranacional e econômica de diversos países 
membros. A globalização e os intensos processos de integração regionais entre os países e 
blocos econômicos são realidades que propiciam a migração de trabalhadores, que partem de 
seus países de origem em busca de melhores condições de vida e novas oportunidades de 
trabalho nos países de destino. A busca pela ascensão laboral, econômica, financeira e social é 
a principal causa ensejadora das migrações internacionais, ainda que outras existam(4). Viver e 
trabalhar no exterior para os brasileiros é, culturalmente, um fato absolutamente aceitável, 
principalmente quando concebida sob a ideia de um plano de médio prazo de retorno ao 
Brasil. A migração é, portanto, uma decorrência da própria globalização. Se temos de um lado 
um cenário mundial cada vez mais globalizado e tendente a um movimento de integração, 
temos também, de outro, uma população mundial igualmente incursa nessa movimentação. 
Assim, pensar a extensão da proteção social para os trabalhadores migrantes, buscar a 
garantia constitucional da ordem social também 
para aqueles que decidiram, sob qualquer 
motivação, viver e trabalhar no exterior, é uma 
ação que deve ser promovida pelo Estado. E 
essa pretensão não apenas pode como tem sido 
realizada por intermédio de acordos internacionais( 
5). 
Os acordos internacionais de Previdência Social 
são os instrumentos jurídicos celebrados entre 
os países para garantir que os cidadãos agentes de 
movimentos migratórios contabilizem, conjuntamente, 
os períodos contributivos (ou períodos de 
seguro) vertidos em um e outro país. 
Ou seja, os períodos em que esses trabalhadores 
estiveram sob o amparo de segurados previdenciários 
em ambos ou mais países poderão 
ser computados e somados com o intuito de lhe 
garantir um benefício previdenciário. 
(4) Certamente, movimentos migratórios também 
decorrem de questões políticas, de perseguições, de 
situações de guerra, de processos de catástrofes e de 
desastres ambientais, entre outros diversos motivos. 
(5) Nas palavras de 
e 
destinado a produzir efeitos jurídicos”. 
Ao se retirar do mercado de trabalho(6), um 
brasileiro segurado da previdência de outro país 
poderá se aposentar contabilizando o período de Francisco Rezek, em seu Curso 
Elementar de Direito Público, “tratado é todo acordo formal 
concluído entre sujeitos de direito internacional público, 
contribuição feito no exterior, para outro regime 
previdenciário, com o período contributivo vertido 
no Brasil. 
Da mesma forma, um estrangeiro que venha 
viver e trabalhar no Brasil também poderá 
utilizar o seu tempo previdenciário em seu país 
para, em conjunto com o tempo contributivo 
vertido no Brasil, obter um benefício da previdência 
social. 
Vale ressaltar que esses acordos também 
viabilizam o trânsito temporário de trabalhadores 
entre os países. Aquele segurado que, por 
ventura, precise trabalhar temporariamente em 
outro país poderá se deslocar, por um período 
médio de 5 anos (a depender do que estabelece 
cada acordo), sem precisar se vincular à previdência 
estrangeira de destino. 
Assim, elimina-se a bitributação previdenciária 
pela celebração de acordos internacionais 
de previdência social, o que fomenta o intercâmbio 
de trabalhadores temporários e permite 
uma melhor qualificação e experiência para o 
trabalhador brasileiro, que é mandado para outro 
país, e para os brasileiros que recebem um 
colega estrangeiro. 
A totalização dos períodos de contribuição 
previdenciária pelos acordos internacionais de 
previdência dá a base legal para que se busque 
os benefícios previdenciários para os trabalhadores, 
além de seus dependentes e beneficiários, 
que não implementem as condições necessárias 
somente com o período de seguro existente em 
um único país. 
Ademais, os acordos internacionais de 
previdência social são insculpidos sob os princípios 
da reciprocidade e igualdade de tratamento 
previdenciário entre os cidadãos nacionais e 
estrangeiros. Consequentemente, o Brasil garantirá 
um benefício previdenciário para um cidadão 
estrangeiro da mesma forma que o garante 
para um brasileiro, ainda que esse benefício não 
(6) A saída do mercado de trabalho deve ser compreendida 
como decorrente da idade avançada, de uma eventual 
invalidez ou da própria morte desse trabalhador, o que 
levará, nasduas primeiras hipóteses a um benefício de 
aposentadoria e, em caso de morte, ensejará um benefício 
de pensão para s dependentes desse segurado. 
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exista no país de origem desse trabalhador, bem 
como o mesmo ocorrerá para um brasileiro que 
trabalhe no exterior.(7) 
Ainda que de forma incipiente, percebe-se 
que a internacionalização da previdência social e 
a proteção dos trabalhadores envolvidos em movimentos 
migratórios são aspectos de um processo 
natural do mundo contemporâneo, onde 
as circunstâncias econômicas e políticas, manifestadas 
principalmente pelo interesse em novos 
(7) Acordo Multilateral de Seguridade Social do 
MERCOSUL, Decreto Legislativo n. 451/2001, art. 2º: 
“Os direitos à Seguridade Social serão reconhecidos aos 
trabalhadores que prestem ou tenham prestado serviços 
em quaisquer dos Estados Partes, sendo-lhes reconhecidos, 
assim como a seus familiares e assemelhados, os mesmos 
direitos e estando sujeitos às mesmas obrigações que 
os nacionais de tais Estados Partes com respeito aos 
especificamente mencionados no presente Acordo.”; 
Convenção 118 da Organização Internacional do Trabalho, 
aprovada em 24 de agosto de 1968 pelo Brasil: Art. 7º § 
1º.Os membros para os quais a presente Convenção estiver 
em vigor deverão, sob reserva das condições a serem fixadas 
de comum acordo entre os membros interessados de acordo 
com as disposições do art. 8º, esforçar-se-ão em participar 
a um sistema de aquisição, reconhecidos de conformidade 
com sua legislação aos nacionais dos membros para os quais 
a referida Convenção estiver em vigor, em relação a todos 
os ramos da previdência social para os quais os membros 
interessados houverem aceito as obrigações da Convenção. 
mercados, propiciaram e foram indispensáveis 
para o emaranhado e complexo movimento de 
relações inter-países. 
Desse contexto, decorre que a prospecção 
das garantias sociais é fruto do processo de integração 
regional econômica, mas também é 
necessária para o recrudescimento do mesmo, 
sendo certo que a conjugação de sistemas previdenciários 
de países distintos se presta como 
indispensável solução. 
Bibliografia 
Migrações Internacionais e a Previdência Social, 
Ministério da Previdência Social, Vol. 25, 
Brasília, 2007. 
BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política/Norberto 
Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco 
Pasquino. Ed. Universidade de Brasília, 
13. ed., Brasília, 2009. 
REZEK, Francisco. Direito Internacional Público 
— curso elementar. Ed. Saraiva, 8. ed., 
São Paulo, 2000. 
SOUTO MAIOR, Luiz A. P.; O Brasil em um 
mundo de transição. Brasília: Editora Universidade 
de Brasília/IBRI, Brasília, 2003.

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