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CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE FARMÁCIA CURSO DE FARMÁCIA ADRIELLE LIMA COSTA CAROLINE SANTOS PEREIRA FERNANDA DE FRANÇA GENUÍNO RAMOS CAMPOS PAULA THAYSE RAMOS DA CRUZ RAFAEL COSTA RODRIGUES DE OLIVEIRA IMPACTOS DAS “FAKE NEWS” NO CAMPO DA SAÚDE NO CENÁRIO DA PANDEMIA DA COVID-19 CAMPINA GRANDE 2020 CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE FARMÁCIA CURSO DE FARMÁCIA ADRIELLE LIMA COSTA CAROLINE SANTOS PEREIRA FERNANDA DE FRANÇA GENUÍNO RAMOS CAMPOS PAULA THAYSE RAMOS DA CRUZ RAFAEL COSTA RODRIGUES DE OLIVEIRA Paper entregue ao componente curricular Metodologia Científica, do curso de Farmácia, da Universidade Estadual da Paraíba, como pré- requisito para obtenção da nota referente a II Unidade. Docente: Profª Dra. Monalisa Ribeiro Gama CAMPINA GRANDE 2020 2 [Digite aqui] SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 5 2. A NOVA PANDEMIA DA COVID-19: AMBIENTE PROPÍCIO À DESINFORMAÇÃO ..................................................................................................... 6 2.1 Caracterização da desinformação ...................................................................... 7 2.2 Desinfodemia: como se propaga e obtém aceitação popular? .......................... 9 2.3 Impactos sociais e de saúde pública da desinformação durante a pandemia . 10 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 15 3 [Digite aqui] RESUMO A pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2) tem sido pauta de amplas discussões e debates desde seu surgimento, uma vez que com ela trouxe também a necessidade por informações que antes eram desconhecidas. No entanto, essa popularização repentina ocasionou também uma crescente circulação de boatos e notícias falsas, as chamadas “Fake News”, que tornaram a disseminação de conhecimento e informações verdadeiras um grande desafio. Com o intuito de assegurar uma contribuição científica sobre o tema, o presente trabalho tem como objetivo apresentar uma análise e reflexão acerca dos impactos das Fake News sobre o novo coronavírus no campo da saúde, bem como nos âmbitos comportamentais e sociais em tempos de pandemia. Foram feitas análises bibliográficas de caráter exploratório e descritivo a partir de diversos estudos envolvendo a temática, que evidenciaram o porquê dessas notícias falsas obtém aceitação popular e como elas podem trazer diversas consequências graves. Como resultado, viu-se a necessidade de apresentar formas de combate à desinformação que estimulem o senso crítico da população e aumente o acesso a informações confiáveis acessíveis para a toda a sociedade. Palavras-chave: COVID-19. Fake News. Desinformação. Infodemia ABSTRACT The pandemic of the new coronavirus (Sars-CoV-2) has been the subject of extensive discussions and debates since its emergence, considering it also brought the need for information that was previously unknown. However, this sudden popularization also caused an increasing circulation of rumors and false news, the so-called “Fake News”, which made the dissemination of true knowledge and information a great challenge. In order to ensure a scientific contribution to the topic, this paper aims to present an analysis and reflection on the impacts of the Fake News about the new coronavirus in the health field, as well as in the behavioral and social spheres in times of pandemic. Exploratory and descriptive bibliographic analyzes were made from several studies involving the theme, which showed why these fake news get popular acceptance and how they can bring tragic consequences. As a result, there was a need to present ways 4 [Digite aqui] to combat disinformation that stimulate the critical sense of the population and increase access to reliable information to the whole society. Key words: COVID-19. Fake News. Disinformation. Infodemia 5 [Digite aqui] 1. INTRODUÇÃO A Covid-19 é uma doença infecciosa causada pelo agente etiológico coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2). A infecção detectada em dezembro de 2019 em Wuhan, na China, apresentou um espectro clínico variando de pacientes assintomáticos a pacientes com quadros sintomáticos e graves. Seu contágio rápido desencadeou, um mês depois, uma pandemia de caráter emergencial internacional, sendo necessárias ações de promoção da saúde para contenção da transmissão do vírus. Nesse sentido, possibilitar o acesso e a difusão de informações, relacionadas à doença e a sua transmissão, se configura como uma das medidas mais importantes para a promoção da saúde e, consequentemente, para a contenção do vírus. Entretanto, a popularização das chamadas "fake news", traduzidas como notícias falsas, tornam a disseminação de conhecimento e informações verdadeiras um desafio. Com a crescente democratização do conhecimento, mediante o advento da internet, o acesso e a disseminação das informações ocorrem de forma rápida e em grandes proporções, não sendo possível avaliar a qualidade e a veracidade das informações, o que, em um contexto pandêmico, pode ser letal. Mediante a influência desse fenômeno, a Organização Mundial de Saúde (OMS), desde janeiro de 2020, utilizou-se do termo "infodemia" para indicar a propagação de informações em massa, muitas delas falsas, sobre a pandemia do coronavírus. Posteriormente, a A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, 2020) classificou a avalanche de desinformações sobre o covid-19 como "desinfodemia", em virtude da grande repercussão negativa à sociedade. Assim, torna-se de extrema importância o estudo dos impactos das fake news no campo de saúde no cenário da pandemia do Covid-19. Dessa forma, o presente trabalho objetiva-se identificar e analisar os impactos da disseminação desenfreada de desinformações, ao responder às seguintes questões: De que modo as fake news obtém aceitação popular? Há uma caracterização de informações falsas? Até onde alcançam as consequências da desinfodemia na sociedade? Portanto, pretende-se, nesse estudo, caracterizar, analisar e discorrer os resultados obtidos através de revisões bibliográficas, associando-as entre si e destacando padrões relevantes, a fim de descrever 6 [Digite aqui] sistematicamente o problema, seus fatores causais e consequências; e a avaliação final dos resultados, formulando uma explicação hipotética e um quadro de possíveis intervenções à problemática apresentada. Em suma, busca-se com esse estudo de caráter bibliográfico refletir a importância da responsabilidade social e civil na contenção da “pandemia” de desinformação que, em um contexto de vulnerabilidade social, pode ser tão letal quanto à pandemia do coronavírus. Assim, o estudo dar-se-á a partir da análise bibliográfica, de caráter exploratório e descritivo, utilizando-se como aporte teórico os estudos de: AHMED et al.; APUKE e OMAR; ERKU et al.; GALHARDI et al.; ISLAM et al.; NETO et al.; POSETTI e BONTCHEVA; ROVETTA e BHAGAVATHULA; SOLTANINEJAD; SOUSA JÚNIOR et al.; TASNIM et al.; e VAN BAVEL. Toda a bibliografia encontrada teve sua publicação e divulgação no ano de 2020, com exceção da obra de Van Bavel, publicada no ano de 2018. A busca aconteceu mediante pesquisa na plataforma de busca Google Acadêmico, usando as palavras-chaves “COVID-19”, “infodemia”, “desinformação”, “Fake News”, “impacto”, “saúde”, “pública”, bem como a contraparte destes termos na língua inglesa. Seis artigos redigidos em idioma estrangeiro foram traduzidos propriamente, de forma livre, atravésde conhecimento próprio da linguagem e uso crítico da ferramenta Google Tradutor. 2. A NOVA PANDEMIA DA COVID-19: AMBIENTE PROPÍCIO À DESINFORMAÇÃO É indubitável o aumento considerável de acesso às redes sociais e a internet no período da pandemia: além do isolamento social que força as pessoas a ficarem em casa, a necessidade de se conectar à Internet para trabalhar ou realizar outra tarefa necessária aumentou ainda mais o tráfego online. Já se sabe que a Internet tornou-se um ambiente onde ser afetado por notícias de caráter duvidoso é muito fácil. Conforme aponta Delmazo e Valente, 7 [Digite aqui] Notícias falsas, histórias fabricadas, boatos, manchetes que são isco de cliques (as chamadas clickbaits) não são novidade. A diferença do atual contexto é o potencial de circulação das chamadas fake news no ambiente online, sobretudo em virtude do uso das redes sociais digitais. (2018, p.156) No atual cenário, com o aumento de pessoas acessando a Internet juntamente com o surgimento da COVID-19, a propagação de tais notícias tornou-se considerável. Dessa forma, torna-se necessário entender os formatos da desinformação e como ela se propaga, obtendo aceitação popular. 2.1 Caracterização da desinformação Como supracitado, em paralelo a pandemia do COVID-19, uma enxurrada de informações sobre a doença fora propagada, o que foi chamado pela OMS de "infodemia", sendo muitas dessas informações falsas. A UNESCO (2020) chamou esse conjunto de informações falsas de "desinfodemia" propondo que o acesso à informação de qualidade empodera os indivíduos, atuando na construção das "sociedades do conhecimento", enquanto que a desinformação retira esse poder, atuando em prol da banalização da verdade e da desvalorização dos estudos científicos. Acerca disso, a UNESCO, através de uma pesquisa documental, elaborada pelos autores Posetti e Bontcheva (2020), realizou a formulação de um resumo de políticas nomeado "Desinfodemia: Decifrar a desinformação sobre a COVID-19" em que analisa a ameaça da desinformação, desvendando nove temas essenciais e quatro formatos principais da desinfodemia. Os principais meios de veiculação de informações falsas são em forma de textos, imagens, vídeos e áudios, principalmente nas redes sociais, tais informações podem vir acompanhadas de informações verídicas, o que facilita a aceitação popular. Entre as principais finalidades da desinfodemia inclui-se: fins políticos, econômicos, racistas, xenofóbicos, sexistas e outros; frequentemente incentivando a polarização e o discurso de ódio. 8 [Digite aqui] Segundo os autores, os quatro principais formatos das desinformações são: a construção de narrativas emotivas ou memes; a fabricação de sites e falsas personalidades autorizadas, a fraude de imagens e vídeos fabricados ou descontextualizados e; a infiltração de desinformação e campanhas orquestradas, geralmente incluindo antagonismo de contas autônomas (bots). Tais desinformações criam uma confusão e desconfiança generalizada socialmente e frequentemente são difíceis de conter se espalhados em aplicativos de mensagens fechadas como o Whatsapp, sendo de extrema importância a conscientização da população acerca dessa ameaça. Ademais, foram identificados, também pelos autores, nove temas essenciais da desinfodemia. Sendo comum a veiculação de informações falsas acerca da origem e disseminação do coronavírus, como a ideia falsa de que o coronavírus foi espalhado por meio de torres de 5G ou, associado o uso do termo xenofóbico, "vírus chinês". Além dessas, há inúmeras inverdades acerca da ciência médica, incluindo os sintomas, diagnóstico e tratamento do covid-19, como a ideia de que o consumo de determinadas substâncias, como etanol e metanol podem auxiliar no combate à doença, gerando inúmeros impactos letais. No Irã, por exemplo, cerca de 300 pessoas já morreram e mais de mil estão doentes por ingestão de metanol, segundo site da Uol: “O medo da covid-19, combinado com desconfiança e desinformação, levou centenas de pessoas a consumir o metanol.” (2020)1. Também não são raras as fake news envolvendo estatísticas falsas acerca da incidência da doença e as taxas de mortalidade, mediante distorção de dados (UNESCO, 2020). Outras temáticas comuns referem-se aos impactos na sociedade e no meio ambiente, bem como acerca de impactos econômicos do isolamento social, além de informações falsas destinadas a fins políticos como fazer alegações infundadas sobre a provável duração da pandemia ou igualar a COVID-19 a gripe. Há também temas associados a desinformação política como a disseminação de descredibilidade de certos veículos de informação. Por fim, foi verificado também a presença de desinformações direcionadas a ganhos financeiros fraudulentos, além de histórias 1 Link da matéria: < https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2020/03/27/ira-veneno- coronavirus.htm>. Acessado em 16 de Novembro de 2020. https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2020/03/27/ira-veneno-coronavirus.htm https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2020/03/27/ira-veneno-coronavirus.htm 9 [Digite aqui] falsas sobre figuras influentes como atores supostamente diagnosticados com COVID-19. 2.2 Desinfodemia: como se propaga e obtém aceitação popular? Com o cenário de pandemia, além do crescimento do tráfego online, as pessoas passaram a procurar na internet informações relacionadas ao vírus. Com estas buscas, o usuário se tornou ainda mais propício a ser afetado por notícias falsas ou enganosas. Nessa perspectiva, os estudos realizados por Rovetta e Bhagavathula em pesquisa intitulada “COVID-19-Related Web Search Behaviors and Infodemic Attitudes in Italy: Infodemiological Study”, duranteaneiro até Março de 2020, mostraram que no ápice da pandemia na Itália, buscas por máscaras faciais, boletins de saúde, vacinas e sintomas do novo coronavírus tiveram um grande aumento. Nesse sentido, a busca por informação na Internet na mesma medida que pode ser útil, pode também ser prejudicial, tornando o usuário extremamente passível de ser afetado por notícias falsas, que podem colocar em risco tanto a integridade física dele próprio, quanto das pessoas que o cercam. Acerca dessa temática, o estudo feito por Apuke e Omar (2020) no artigo "Modelling the antecedent factors that affect online fake news sharing on COVID-19: the moderating role of fake news knowledge" demonstraram preditores significativos que explicam como as desinformações se propagam e são aceitas socialmente, sendo eles: O impacto do laço social; a ideia do rebanho; a busca de informações e; a interação parassocial. Como conclusão da pesquisa, destaca-se o laço social como um dos maiores fatores de confiabilidade de uma informação, uma vez que ao receber notícias compartilhadas por familiares, frequentemente os usuários confiavam, sem verificar tais informações. Além desse fator que justifica o poder de aceitabilidade das fake news, sustenta-se a ideia do "rebanho", em que uma mensagem é tida como confiável quando obtém muitos compartilhamentos. Outrossim, a dependência das redes sociais para obtenção de informações sobre o COVID-19 se mostra também um dos fatores preditores para o compartilhamento de desinformações, uma vez que a vulnerabilidade da busca incessante de informações acerca do vírus, na tentativa de 10 [Digite aqui] combater a doença, frequentemente culmina no compartilhamento de notícias falsas em plataformas como o Whatsapp e Facebook. Por fim, Apuke e Omar (2020) indicaram também que a interação parassocial tem grandes impactos na aceitação de desinformações, uma vez que relações parassociais são aquelas em que os indivíduos estabelecem entre pessoas famosas, celebridades ou influenciadores, vendo-as como um guia ou modelo de comportamento para seguir.Nesse sentido, os discursos de figuras públicas na sociedade são extremamente importantes, podendo atuar no fortalecimento ou não da noção de responsabilidade social e civil e influenciar definitivamente no período de pré-patogênese em uma pandemia. Em conformidade, Van Bavel (2020) em seu estudo "The Partisan Brain: An Identity-Based Model of Political Belief" concluiu que há uma tendência de busca pelos indivíduos de informações que reafirmam sua visão de mundo, culminando na formação de bolhas ideológicas. Nessa lógica, pode-se refletir que a desinformação obtém aceitação na sociedade uma vez que está intimamente ligada com o fenômeno de pós-verdade, onde, os apelos à emoção e às crenças pessoais fornecem mais influência na formação da opinião pública que o uso da razão e dedução. 2.3 Impactos sociais e de saúde pública da desinformação durante a pandemia Tendo em vista as informações descritas acima, é possível começar uma reflexão sobre como a divulgação de conteúdo criado com intenção maliciosa pode afetar o desempenho de determinada população em várias áreas, especialmente na questão da saúde pública. Diversos pesquisadores já descreveram casos onde houveram consequências graves da propagação de inverdades, assim como outros grupos começaram análises mais investigativas e críticas. Através da nossa pesquisa bibliográfica, encontramos autores que dissertam sobre esses impactos em seus trabalhos. O período da pandemia forçou as pessoas a ficarem em casa, aumentando consequentemente o acesso às redes sociais. A velocidade que as notícias falsas viajam é extremamente rápida, e discussões iniciadas por um único usuário podem 11 [Digite aqui] provocar uma epidemia de desinformação, sendo sustentada por fontes não confiáveis - tais como vídeos e sites de teoria da conspiração. A exemplo do poder e dos impactos da desinformação, Ahmed e colaboradores (2020) em seu trabalho “COVID-19 and the 5G Conspiracy Theory: Social Network Analysis of Twitter Data” estudaram eventos relacionados a um acontecimento no Reino Unido. Um único usuário conseguiu impulsionar a divulgação de teorias da conspiração, afirmando que o novo coronavírus era espalhado por meio de torres de 5G, o que por consequência, resultou na depredação e o incendiamento de torres em diversas partes do Reino Unido. Através da análise de dados do Twitter por social network graph clusters, coletados entre 27 de março a 4 de abril de 2020, no qual, esta desinformação circulava na rede social mais intensamente, Ahmed et al. (2020) constatam a incapacidade do Twitter de lidar com fontes de desinformação deste tipo. Além disso, comprovam que a atração de grande volume de usuários, mesmo com a intenção de refutar ou até zombar do assunto, contribui para maior dispersão do conteúdo falso. Os autores sugerem o uso de intervenções para reportar inverdades dentro da própria plataforma, bem como a atuação de jornais e profissionais de saúde na mitigação e prevenção da divulgação de inverdades como esta. No estudo, já previamente citado, investigando a influência da desinformação no comportamento popular por Rovetta e Bhagavathula (2020), mais uma preocupação é destacada através de resultados adicionais encontrados. Os pesquisadores detectaram “infodemic monikers” circulando por cidades e regiões da Itália: marcadores de informações errôneas que incitam má interpretação, indicam a propagação de inverdades, racismo e outros atributos com o potencial de confundir o público em geral. O estudo buscou estes marcadores com maior prioridade em jornais bastante lidos e sites do governo. Rovetta e Bhagavathula (2020) observaram um aumento considerável na busca por termos xenofóbicos, tais como “vírus da China”, “vírus Chinês” e “vírus de Wuhan”, encontrados principalmente no interior do país nas regiões de Campania e Friuli Venezia Giulie. O maior índice de informações falsas se deu nas regiões de Umbria e Baliscata, e em outras regiões do país, as informações não apresentavam 12 [Digite aqui] clareza. Assim, os autores destacam a capacidade destes termos de influenciar diretamente o comportamento de dada população, ao instigar agitação, medo, e prejudicar a manutenção de medidas de prevenção legítimas contra a COVID-19, bem como alertam para a formação de um estigma anti-Asiático através da propagação desmedida destes “monikers”. Talvez a evidência mais chocante do risco que as inverdades sobre o novo vírus apresenta seja descrita pela publicação de Soltaninejad (2020): o relato de um surto de envenenamento por metanol no Irã, alcançando diversas províncias. Após a morte de dois pacientes por COVID-19 no país, em 18 de fevereiro de 2020, as medidas de prevenção foram popularizadas sem orientação adequada. Dentre elas, divulgou-se a utilização de etanol 70% em fórmulas antissépticas. Isto aumentou a procura por produtos com essa formulação, causando uma escassez no mercado. Uma semana após o relatório dos primeiros casos, diversos pacientes com intoxicação por metanol, afirmando que beberam álcool após ler sobre notícia em mídia social de que a ingestão do composto poderia evitar a contaminação, deram entrada em hospitais de Teerã. O autor explica a causa da intoxicação: “Como em outros países islâmicos, por crenças religiosas, a produção, distribuição, venda e consumo de bebidas alcoólicas são considerados ilegais no Irã. Contudo, as bebidas alcoólicas estão disponíveis através de contrabando e produção doméstica ilegal (sob condições não-padronizadas) no mercado clandestino.” (SOLTANINEJAD, 2020, p. 148, tradução nossa). Soltaninejad (2020) esclarece que o metanol é utilizado nas composições clandestinas, por ser mais barato e fácil de sintetizar. Em poucos dias, através de desinformação combinada com a violação de orientações legais, o país enfrentou um surto em massa de envenenamento por metanol. Este incidente causou diversas mortes e a ocupação de leitos em hospitais, quando seus recursos poderiam estar sendo destinados a pacientes da COVID-19. Em proposta semelhante, Tasnim et al. (2020) discutem casos adicionais de rumores que impactaram a sociedade diretamente, em seu artigo de revisão e perspectiva. Nos Estados Unidos, rumores de um lockdown gerou pânico para a população que, no desespero, passam a comprar alimentos e produtos para manter dentro de casa, gerando assim um desequilíbrio no sistema de oferta e procura, e 13 [Digite aqui] causando insegurança para as pessoas de baixa renda, que não puderam fazer o mesmo. Tal cenário se repetiu em diversos países ao redor do mundo, com impactos semelhantes em suas economias. Os autores apresentam, também, mais um exemplo de perigos à saúde atribuíveis a disseminação de fake news na Nigéria, onde ocorreu um surto de casos de overdose de cloroquina. Esta droga, candidata à testes clínicos de tratamento, não teve resultados conclusivos de sua eficiência em um tratamento real, como também descrito por Erku et al. (2020). Investigando a consequência da desinformação na área dos medicamentos, estes autores também relatam que rumores assim, muitas vezes impulsionados pela mídia quando não há devida verificação dos fatos, promovem iniciativas de acúmulo e estocagem das substâncias pela população. Sem orientação devida de um profissional da saúde, há o uso de dosagens inadequadas, potencialmente tóxicas, o que explica as overdoses relatadas por Tasnim et al. (2020). Apesar da iniciativa científica e biomédica de buscar remanejar fármacos já existentes, com bons perfis de segurança e atividade antiviral comprovada, visto que o desenvolvimento de um processo de vacinação é longo, complexo, e muitas vezes incerto, Erku et al. (2020) alertam que rumores deste tipo impulsionam a busca por um tipo de “cura mágica”, e esta iniciativa se torna fonte considerável de pânico e confusãopara o público em geral. Entre outros exemplos de “curas” falsas para a COVID-19 relatadas por Erku et al. (2020), também indicados pelos estudos de Islam et al. (2020), estão: uso de cocaína, da droga recreativa brasileira popularmente chamada de “loló”, fármacos anti-inflamatórios não-esteroides (AINEs), remédios caseiros baseados em alho, ingestão de água sanitária, soluções de clorito de sódio e ácido cítrico, e suplementação de vitaminas como C e D. Nenhuma destas medidas têm embasamento científico, e apresentam perigos graves de toxicidade, demonstrando o potencial diretamente danoso à saúde que a influência de rumores como estes apresentam. 14 [Digite aqui] 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como foi possível notar no decorrer do artigo, o compartilhamento de “Fake News” pode causar sérios problemas em diversas áreas, com seus efeitos sentidos diretamente na saúde pública. Dessa maneira, é de grande importância que o leitor tenha a certeza da informação recebida e que confirme sua veracidade antes de repassá-la. No entanto, para isso, é necessário que haja um estímulo ao desenvolvimento do senso crítico do indivíduo em relação à essas notícias. Com campanhas de conscientização ou debates públicos, promovendo um ambiente que desperte a consciência social sobre os impactos deletérios das fake news pode se tornar possível. Juntamente com isso, é necessário que haja um aumento no nível de informações confiáveis acessíveis para a toda a população, como feito pelo secretário- geral da ONU, que lançou uma Iniciativa de Comunicações da ONU “para inundar a internet com fatos e ciência” e, ao mesmo tempo, combater a crescente chaga das informações equivocadas (POSETTI E BONTCHEVA, 2020). Além disso, é crucial que haja esforços da mídia geral, bem como de criadores de conteúdo independentes em plataformas virtuais e redes sociais, para que toda informação seja confirmada através de especialistas. A iniciativa de checagem dos fatos, ou “fact-checking”, se torna arma principal na mitigação da proliferação de desinformação. Os profissionais de saúde atuantes no combate à pandemia do novo coronavírus, além de atuar no combate biológico, epidemiológico e terapêutico contra a COVID-19, devem se atentar à “infodemia” simultaneamente, reforçando a explicação de medidas preventivas legítimas e neutralizando desinformações relacionadas à prevenção e tratamento. 15 [Digite aqui] REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AHMED, Wasim; VIDAL-ALABALL, Josep; DOWNING, Joseph; et al. COVID-19 and the 5G Conspiracy Theory: Social Network Analysis of Twitter Data. Journal of Medical Internet Research, v. 22, n. 5, p. 9, 2020. APUKE, Oberiri Destiny; OMAR, Bahiyah. Modelling the antecedent factors that affect online fake news sharing on COVID-19: the moderating role of fake news knowledge. Health Education Research, v. 35, n. 5, p. 490–503, 2020. ERKU, Daniel A.; BELACHEW, Sewunet A.; ABRHA, Solomon; et al. 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