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EMILY NARA – MEDICINA UPE ST Doença pulmonar obstrutiva crônica INTRODUÇÃO Doença comum, prevenível e tratável (mas não curável); Obstrução crônica e difusa das vias aéreas inferiores, de caráter irreversível, com destruição progressiva do parênquima pulmonar. o Bronquite obstrutiva crônica; e/ou o Enfisema pulmonar. Caracterizada por sintomas respiratórios e limitação ao fluxo aéreo persistentes; Devido a anormalidades em vias aéreas e/ou alveolares (mais distais); Causada por exposição significante a partículas ou gases nocivos (tabagismo, exposição ocupacional). FATORES DE RISCO Tabagismo – principal fator de risco; o Não é um determinante da doença. o 90% dos casos de DPOC revelam história tabágica positiva; o No caso de grandes tabagistas, < 50% desenvolvem DPOC. o As substancias do tabaco promovem uma série de alterações nas vias aéreas: 1. Estimulam a produção de muco e a hipertrofia das glândulas submucosas; 2. Reduzem ou bloqueiam o movimento ciliar das cels epiteliais; 3. Ativam macrófagos alveolares a secretar fatores quimiotáticos (principalmente IL-8), que estimulam o recrutamento alveolar de neutrófilos; 4. Ativam neutrófilos, que passam a produzir mais enzimas proteolíticas, como elastase; 5. Inibem a atividade da alfa-1- antitripsina, enzima inibidora fisiológica da elastase. Fatores genéticos o Principal: deficiência de alfa-1- antitripsina. o Doença genética autossômica recessiva que cursa frequentemente com enfisema pulmonar em pacientes jovens. Idade e gênero o Exposição cumulativa? (muitos indivíduos desenvolvem a doença > 40 anos) – doença de adultos mais velhos, manifestando-se aos 50-60 anos. o Mulher é mais suscetível aos efeitos do tabagismo (considerando a mesma carga tabágica em relação ao homem). Crescimento e desenvolvimento pulmonar o Gestação e nascimento; o Exposição na infância e adolescência. Crianças expostas ao tabagismo materno, inclusive durante a gestação, apresentam crescimento pulmonar reduzido, o que é fator de risco para DPOC no futuro. Exposição a partículas e gases o Cachimbo, charuto, tabagismo passivo; o Ocupacional: poeiras orgânicas e inorgânicas, agentes químicos; o Queima de madeira, estrume e carvão; fogão à lenha; poluição. Baixo nível socioeconômico o Mecanismo incerto; o Exposição ambiental? Má nutrição? Infecções de repetição durante a vida? Asma e hiperreatividade o A presença de hiperreatividade brônquica na DPOC é frequentemente encontrada, sendo determinada síndrome de “sobreposição asma-DPOC”; o Maior predisposição à DPOC: associadas a declínio da função pulmonar (limitação fixa ao fluxo aéreo); o Não se sabe ao certo como tratar esses pacientes, mas notou-se benefício naqueles que recebem o corticoide inalatório associado ao broncodilatador. o O componente “asmático” da obstrução pode ser revertido com EMILY NARA – MEDICINA UPE ST broncodilatadores e, principalmente, com o uso de CI. o Não se conhece a exata relação patogênica entre asma e DPOC – parecem ser doenças distintas, mas que podem coexistir. o Nessa síndrome, a inflamação é dependente de linfócitos T CD8 citotóxicos, macrófagos e neutrófilos, estimulando a fibrose das vias aéreas. o Alguns casos de asma podem evoluir com o fenômeno de remodelamento das vias aéreas, levando à obstrução crônica progressiva por mecanismo fibrogênico. Tais pacientes apresentam um quadro fisiopatológico muito semelhante ao da DPOC. Infecções na infância o Redução da função pulmonar; PATOLOGIA Ocorre em: o Vias aéreas; o Parênquima pulmonar; o Vasculatura pulmonar. Incluem: o Inflamação crônica (perpetuada, mesmo após cessar o tabagismo); o Alterações estruturais (repetição de lesão e reparo); PATOGÊNESE Aumento do estresse oxidativo: Biomarcadores aumentados (ex. peróxido de hidrogênio); Maior aumento nas exacerbações; Gerados pelo tabagismo e outras partículas inaladas; Liberados de células inflamatórias (ex. neutrófilos e macrófagos); Redução de antioxidantes endógenos (favorecendo a atuação desses biomarcadores do estresse oxidativo). Desbalanço protease-antiprotease: Aumento de proteases derivadas de células inflamatórias e epiteliais; Protease – degrada proteínas da via aérea, como elastase. Antiprotease – proteção da lesão; Deficiência da alfa-1-antitripsina (aumento da degradação da elastase); A elastase aumenta a destruição da elastina (componente importante do tecido conjuntivo): característica do enfisema (perda da elasticidade), havendo um alargamento das VVAA; Células inflamatórias: Aumento de macrófagos nas VA periféricas, parênquima e vasos pulmonares; Aumento na atividade de neutrófilos e aumento de linfócitos; Em alguns pacientes, pode haver aumento de eosinófilos e Th2 (pp em sobreposição com asma). Mediadores inflamatórios: Atraem células inflamatórias da circulação (fatores quimiotáticos); Amplificam o processo inflamatório (citocinas pró-inflamatórias); Induzem alterações estruturais (fatores de crescimento). Fibrose intersticial e peribronquiolar: Excessiva produção de fatores de crescimento; Encontrada em tabagistas ou naqueles com inflamação precedente que têm DPOC; Repetida injúria da parede da via aérea leva a excessiva produção de tecido muscular e fibrótico; Contribui para o desenvolvimento de limitação das pequenas vias aéreas (espessamento da parede bronquiolar, reduzindo seu calibre, havendo uma limitação principalmente na expiração). FISIOPATOLOGIA 1. Inflamação e estreitamento das pequenas VA – diminuição do VEF1 (volume expiratório forçado durante o 1° segundo); 2. Perda de pequenas VA – contribui para limitação ao fluxo aéreo (FA); EMILY NARA – MEDICINA UPE ST 3. Destruição parenquimatosa devido ao enfisema – contribui para limitação ao FA e diminuição das trocas gasosas. 4. Limitação ao fluxo aéreo e aprisionamento de ar Extensão da inflamação, fibrose e exsudação em pequenas VA – redução de VEF1 e VEF1/CVF (capacidade vital forçada); Limitação progressiva de pequenas VA – aprisionamento aéreo durante expiração (hiperinsuflação); Broncodilatadores atuam em VA periféricas – redução do aprisionamento, dos volumes pulmonares e melhora dos sintomas e capacidade de exercício. 5. Anormalidades das trocas gasosas: Redução da ventilação – redução do drive ventilatório ou aumento da ventilação do espaço morto; Retenção de CO2 – aumento do esforço respiratório por limitação grave ao FA e hiperinsuflação, junto com comprometimento da musculatura ventilatória. Redução da ventilação e do leito vascular pulmonar – piora da relação V/Q (favorecendo à hipoxemia e hipercapnia); 6. Hipersecreção de muco: Característica da bronquite crônica; Devido ao aumento do n° de células caliciformes e aumento das glândulas submucosas (mais comumente nas VA calibrosas); Vários mediadores e proteases estimulam hipersecreção de muco. 7. Hipertensão pulmonar: Devido à vasoconstricção hipóxica das pequenas artérias pulmonares; Pode ocorrer hiperplasia da íntima e hiperplasia/hipertrofia do musculo liso; Consequência: hipertrofia ou falência do VD. 8. Características sistêmicas: Mediadores inflamatórios – perda de m. esquelético e caquexia; Inflamação inicia ou piora DAC, IC, osteoporose, anemia, DM e SD metabólica. DIAGNÓSTICO 1. Sintomas: dispneia, tosse crônica, escarro; 2. Fatores de risco: o Do hospedeiro; o Tabagismo; o Ocupacional; o Poluição interna/externa; 3. Espirometria – requerida para estabelecer o diagnóstico; o Mandatória na avaliação de um paciente com DPOC (ou suspeita); o Medidas avaliadas: VEF1 e relação VEF1/CVF;o Critério diagnostico: VEF1/CVF < 0,70 pós-broncodilatador (BD) – considerado distúrbio obstrutivo ou limitação ao fluxo aéreo fixa. Ou seja, menos de 70% da CVF foi expulsa no 1° segundo. INDICADORES-CHAVE PARA DIAGNOSTICO DE DPOC Considerar DPOC e realizar espirometria se qualquer um destes indicadores estiver presente em indivíduos > 40 anos. Tais indicadores não são diagnósticos, mas a presença de múltiplos indicadores chave aumenta a probabilidade diagnostica. Espirometria é requerida para estabelecer o diagnóstico de DPOC. Dispneia aos esforços, que é: o Evolução insidiosa; o Progressiva (piora com o tempo); o Piora com exercício; o Persistente. o Marcada por pioras agudas desencadeadas por fatores descompensantes (ex. infecção respiratória). o Eventualmente pode haver ortopneia e dispneia paroxística noturna. Tosse crônica: o Intermitente e não produtiva; o Pode ser produtiva; o Recorrentes sibilos. o Muitas vezes precedendo o quadro dispneico. Produção crônica de escarro; EMILY NARA – MEDICINA UPE ST História de fatores de risco: o Fatores do hospedeiro (genéticos, anormalidades congênitas ou do desenvolvimento); o Tabagismo; o Fumaça de comida caseira ou combustíveis para aquecimento; o Ocupacionais, poeiras, fumos, vapores, gases e outros produtos químicos; História familiar de DPOC e/ou fatores da infância: o Baixo peso ao nascer; o Infecções respiratórias na infância, etc. EXAME FÍSICO: Variam de acordo com a forma predominante da doença (enfisematoso ou bronquítico); Elasticidade e expansibilidade pulmonar reduzidas enquanto a percussão mostra timpanismo. Bronquite obstrutiva crônica – ausculta pulmonar de ruídos adventícios, tais como sibilos, roncos, estertores crepitantes e subcrepitantes, associados à diminuição do murmúrio vesicular; Enfisema – ausculta revela apenas a diminuição do murmúrio vesicular, sem nenhum ruído adventício. Respiração do paciente com DPOC – fase expiratória desproporcionalmente prolongada em relação à fase inspiratória. Em pacientes dispneicos, há um maior esforço na expiração, havendo contração da musculatura abdominal. Tórax em tonel – revela a hiperinsuflação pulmonar, com aumento do diâmetro AP. O exame físico pode revelar dois tipos de pacientes: 1) Pink puffers (sopradores rosáceos) – estereótipo enfisematoso; Na inspeção, notam-se apenas a pletora e o tórax em tonel; Geralmente são magros; Dispneia do tipo expiratória (sopradores); Não tem sinal de cor pulmonale e hipoxemia significativa; Redução acentuada do MV, sem ruídos adventícios. 2) Blue bloaters (inchados azuis) – estereotipo do bronquítico grave; Possuem um distúrbio mais grave da troca gasosa – hipoxemia significativa, manifestando cianose; A cianose leva a cor pulmonale e quadro de insuficiência ventricular direita e congestão sistêmica – corpo inchado; Geralmente obesos e apresentam a síndrome de apneia do sono; Ausculta pulmonar rica em ruídos adventícios. AVALIAÇÃO PÓS-DIAGNOSTICO Objetivos: 1. Determinar a gravidade da limitação ao FA (de acordo com os valores da espirometria); 2. Avaliar o impacto da DPOC no estado de saúde (quais os sintomas que o indivíduo tem e que comprometem a saúde); 3. Avaliar o risco de eventos futuros (exacerbações, admissões hospitalares ou morte); AVALIAÇÃO DA GRAVIDADE DA LIMITAÇÃO AO FA Categorias Gravidade VEF1 GOLD 1 Leve ≥ 80% do previsto GOLD 2 Moderado 50% ≤ VEF1 < 80% do previsto GOLD 3 Grave 30% ≤ VEF1 < 50% do previsto GOLD 4 Muito grave VEF1 < 30% do previsto Obs.: o grau de obstrução é diretamente quantificado por VEF1, sendo este um excelente parâmetro prognóstico. Ou seja, quanto menor o VEF1, maior a chance de exacerbação e maior a mortalidade nos próximos anos. Obs. 2: o VEF1 não prediz com acurácia a intensidade dos sintomas atuais, pois muitos pacientes com obstrução grave podem ser oligo ou mesmo assintomáticos, ao passo que outros apresentam relativamente pouca obstrução e muitos sintomas. EMILY NARA – MEDICINA UPE ST AVALIAÇÃO DOS SINTOMAS Avalia apenas o sintoma dispneia; Boa correlação com outras medidas do estado de saúde; Prediz risco de mortalidade futura. ESCORE (MRC): mais usado – avalia apenas a dispneia: o Grau 0 – tenho falta de ar ao realizar exercício intenso; o Grau 1 – tenho falta de ar quando apresso o meu passo, ou subo escadas ou ladeira; o Grau 2 – preciso parar algumas vezes quando ando no meu passo, ou ando mais devagar que as outras pessoas de minha idade; o Grau 3 – preciso parar muitas vezes devido à falta de ar quando ando perto de 100 metros, ou poucos minutos de caminhada no plano; o Grau 4 – sinto tanta falta de ar que não saio de casa, ou preciso de ajuda para me vestir ou tomar banho sozinho. CAT – COPD ASSESSMENT TEST (mais subjetiva, mas é mais completa) – fornece uma avaliação sintomática mais abrangente, refletindo o impacto da dispneia e outras manifestações da doença na vida do paciente: o Tosse; o Produção de secreção; o Sensação de aperto no peito; o Dispneia; o Limitação das atividades em casa; o Confiança pra sair de casa, apesar da doença pulmonar; o Dorme profundamente; o Tem muita energia. AVALIAÇÃO DO RISCO DE EXACERBAÇÃO Melhor preditor de exacerbação frequente (≥2 exacerbações por ano) – história de exacerbação prévia (maior inflamação); Piora da limitação ao fluxo aéreo – aumenta a prevalência de exacerbações, hospitalizações e risco de morte; Eosinofilia sérica – pode predizer risco aumentado de exacerbações, embora mais estudos sejam necessários. AVALIAÇÃO DE DOENÇAS CRONICAS CONCOMITANTES A DPOC é uma doença crônica grave e progressiva, e a coexistência de outras doenças crônicas graves e progressivas sempre vai afetar o prognostico; A presença de comorbidades pode modificar a conduta terapêutica, tornando-a mais complexa ou limitada. Comorbidades: o Doenças cardiovasculares; o Disfunção do musculo esquelético (pode haver perda do m. esquelético); o SD metabólica; o Osteoporose; o Depressão, ansiedade; o Câncer de pulmão. Efeitos sistêmicos da doença: o Perda de peso; o Anormalidade nutricional; o Disfunção do músculo esquelético (consequente da inflamação sistêmica). GOLD 2020: 2 ETAPAS PARA DIAGNOSTICO E TRATAMENTO DA DPOC Etapa 1: espirometria – diagnosticar e determinar a gravidade da obstrução do FA (escala GOLD grau 1 a 4); Etapa 2: determinar a classificação GOLD grupo A-D e subsequente tratamento farmacológico mais apropriado, através da avaliação dos sintomas e histórico de exacerbações (incluindo hospitalização); Classificação dos sintomas de exacerbações (em relação ao último ano): ≥ 2 ou ≥ 1 com hospitalização C D 0 ou 1 sem hospitalização A B mMRC 0 -1 CAT < 10 mMRC ≥ 2 CAT ≥ 10 EMILY NARA – MEDICINA UPE ST Ou seja: o Grupo A – baixo risco e pouco sintomático (indivíduo pouco sintomático e pouco exacerbador); o Grupo B – baixo risco e muito sintomático (indivíduo com sintomas mais importantes e pouco exacerbador); o Grupo C – alto risco e pouco sintomático (indivíduo com poucos sintomas e maior predisposição à exacerbação); o Grupo D – alto risco e muito sintomático (indivíduo sintomático e muito exacerbador); AVALIAÇÃO ESPIROMETRIA: Diagnóstico; Avaliação da gravidade da obstrução; Avaliação de seguimento (pelo menos 1x ao ano); DEFICIÊNCIA DE ALFA-1-ANTITRIPSINA: Dosar em todos os pacientes. o Enfisema em jovens (< 45 anos); o Enfisema predominante em bases pulmonares; o Enfisema em não tabagistas ou com pequena carga tabágica; o Forte história familiar de enfisema ou hepatopatia; o Doença hepática associadainexplicada. Não faz pelo SUS. EXAMES DE IMAGEM: Excluem diagnósticos alternativos (princ. aqueles tabagistas); Confirma presença de comorbidades. Radiografia de tórax – alterado apenas em casos mais avançados (sensibilidade de 50%); Sinais clássicos de DPOC na radiografia: o Retificação das hemicúpulas diafragmáticas; o Hiperinsuflação pulmonar (aumento do n° de costelas visíveis na incidência PA); o Hipertransparência; o Aumento dos espaços intercostais; o Redução do diâmetro cardíaco (coração em gota); o Aumento do espaço aéreo retroesternal no perfil; o Espessamento brônquico. TC de tórax – teste definitivo para o estabelecimento da presença ou não de enfisema nos pacientes DPOC, determinando ainda sua extensão e localização. o Na prática, influencia pouco nas decisões terapêuticas; o Indicação – avaliação de pacientes candidatos à terapia cirúrgica de DPOC; o Outras indicações de TC na DPOC – suspeita de pneumonia, bronquiectasias e/ou câncer de pulmão. OXIMETRIA E GASOMETRIA ARTERIAL: Se SpO2 < 92%, gasometria é indicada. Gasometria cronicamente alterada na DPOC, geralmente nos casos mais avançados da doença. TRATAMENTO Objetivos: alívio dos sintomas e diminuição dos riscos futuros (risco de exacerbações, progressão da doença e morte); A abordagem terapêutica inicial se baseia na classificação integrada descrita no guideline GOLD, propiciando uma prescrição individualizada de acordo com a necessidade de cada paciente. Somente 3 condutas provaram aumentar a sobrevida do portador de DPOC: 1) Cessação do tabagismo: influencia a história natural da DPOC; 2) Oxigenoterapia domiciliar em pacientes com hipoxemia crônica e grave em repouso; 3) Cirurgia pneumorredutora em pacientes slecionados. TRATAMENTO DE MANUTENÇÃO Abstenção do tabagismo: o Desacelera a evolução da doença; o A velocidade de declínio do VEF1 retorna para valores normais compatíveis com a normalidade cerca de 1 ano após a interrupção do hábito de fumar; EMILY NARA – MEDICINA UPE ST o Se a abstenção for precoce, o paciente pode ser poupado de lesões pulmonares irreversíveis, ou estas são minimizadas; o Se a abstenção for tardia, não há retorno da função pulmonar, mas é benéfico devido à função pulmonar permanecer estável por mais tempo; o Em qualquer um dos cenários, a abstenção duradoura do tabagismo promove aumento de sobrevida. Vacinação para Influenza anual: o Reduz a doença grave (IVAI requerendo hospitalização) e morte; Vacina Pneumocócica: o A vacina 23 valente (PPSV23) mostrou reduzir a incidência de PAC em pacientes com DPOC < 65 anos, com VEF1 < 40% e naqueles com comorbidades; o Na população geral de adultos > 65 anos, a 13 valente (PCV13) mostrou significante eficácia em reduzir bacteremia e doença pneumocócica invasiva grave. TERAPIA FARMACOLOGICA Objetivos: o Reduzir sintomas; o Reduzir frequência e gravidade das exacerbações; o Melhorar estado de saúde e capacidade de exercício. Nenhuma medicação para DPOC modifica o declínio da função pulmonar de longo tempo; BRONCODILATADORES: Aumentam VEF1 e/ou outros parâmetros espirométricos (mas nunca normaliza a função pulmonar do paciente); Alteram o tônus do musculo liso, alargando as vias aéreas (principalmente as mais obstruídas e distais); Melhoram a performance no exercício; Toxicidade é dose-relacionada. B2-AGONISTAS Estimulam receptores B2-adrenergicos nas vias aéreas do paciente; o Aumenta o AMPc, com relaxamento do m. liso. o Redução do influxo de cálcio intracelular, diminuindo a contração do musculo liso, produzindo o relaxamento do m. liso, e alargamento da VA. B2-agonistas de curta ação (SABA); o Efeito dura 4-6h; o Uso regular e quando necessário melhora VEF1 e sintomas; o Salbutamol, fenoterol e terbutalina; B2-agonistas de longa ação (LABA); o Duração de ação de 12h ou mais; o Formoterol e Salmeterol: melhoram significativamente o VEF1, volumes pulmonares, dispneia, estado de saúde, taxa de exacerbações e n° de hospitalizações. Porém, não tem efeito na taxa de mortalidade e no declínio da função pulmonar. Efeitos adversos: o Taquicardia sinusal (ou outras arritmias em pacientes suscetíveis) – mais comum. o Tremores de extremidades (principalmente em idosos); o Hipocalemia pode ocorrer (principalmente em usuários de diuréticos tiazídicos). ANTIMUSCARÍNICOS Bloqueia receptor muscarínico M3; o Bloqueia o efeito broncoconstrictor da acetilcolina no m. liso da VA; Antimuscarínicos de curta ação (SAMA): o Atrovent Antimuscarínicos de longa ação (LAMA) o Prolongada ligação ao receptor M3; o Tiatrópio: melhora sintomas e estado de saúde, além da efetividade da reabilitação pulmonar, reduzindo exacerbações e hospitalização; o LAMA tem um maior efeito em reduzir exacerbação e hospitalizações do que LABA, por isso são drogas de escolha no paciente de maior risco. Efeitos adversos: o Boca seca – principal; EMILY NARA – MEDICINA UPE ST o Gosto amargo, metálico (ipratrópio). CORTICÓIDES INALATÓRIOS Um corticoide inalatório combinado com um LABA é mais efetivo que os componentes individuais em melhorar função pulmonar e estado de saúde, além de reduzir exacerbações, em pacientes com exacerbações de moderada a muito grave. Terapia inalatória tripla com LAMA/LABA/CI melhora a função pulmonar, sintomas e estado de saúde, além de reduzir exacerbações, em comparação com pacientes recebendo LABA/CI ou LAMA em monoterapia; Efeitos adversos: o Candidíase oral, rouquidão, hematomas, surgimento de tosse; o Tratamento regular com CI aumenta o risco de pneumonia, especialmente em pacientes com doença grave e idosos (pesar risco-benefício); Atenção!! Fatores para considerar quando iniciar um CI: Forte suporte: o História de hospitalizações por exacerbação; o ≥ 2 moderadas exacerbações no último ano; o História de asma. Considerar uso: o 1 moderada exacerbação no último ano; o Eosinófilos 100-300 cél/uL; Contraindicado o uso: o Pneumonia de repetição; o Eosinófilos < 100 cél/uL; o História de infecção por micobactéria. ANTIBIÓTICOS Azitromicina e eritromicina - reduzem a taxa de exacerbações em 1 ano de terapia; Azitromicina – aumenta incidência de resistência bacteriana e compromete teste auditivo; MUCOLÍTICOS/ANTIOXIDANTES Regular uso de NAC e carbocisteína – reduz risco de exacerbações em selecionados pacientes; REPOSIÇÃO DE ALFA-1-ANTITRIPSINA Indicada em paciente que tem enfisema e deficiência da alfa-1-antitripsina; Terapia IV pode lentificar a progressão do enfisema; ANTITUSSÍGENOS Não há conclusiva evidência de benefício; VASODILATADORES Não melhoram resultados e podem piorar a oxigenação. REABILITAÇÃO PULMONAR Melhora dispneia, estado de saúde e tolerância ao exercício em DPOC estável; Reduz hospitalização entre pacientes que tiveram recente exacerbação (≤ 4 semanas da hospitalização prévia); Componentes: o Treinamento de exercício estruturado e supervisionado; o Cessação do tabagismo; o Aconselhamento nutricional; o Educação para o automanejo. OBJETIVOS DO TRATAMENTO DA DPOC ESTÁVEL Redução dos sintomas: o Alívio dos sintomas; o Melhora da tolerância ao exercício; o Melhora da qualidade de vida; Redução do risco: o Prevenção da progressão da doença; o Prevenção e tratamento das exacerbações; o Redução da mortalidade. EMILY NARA – MEDICINA UPE ST TRATAMENTO FARMACOLÓGICO INICIAL ≥ 2 ou ≥ 1 com hospitalização C (LAMA) D (LAMA ou LAMA + LABA* ou LABA + CI**) 0 ou 1 sem hospitalização A (Broncodilatador de curta ou longa ação) B (LABA ou LAMA) mMRC 0 -1 CAT < 10 mMRC≥ 2 CAT ≥ 10 * considerar se muito sintomático (CAT ≥ 20); ** considerar se eosinófilos ≥ 300 e/ou asma concomitante; 1. Pacientes do grupo A devem ser tratados com broncodilatador de curta ou longa ação: o Broncodilatador – verificar eficácia do tratamento (continuar, parar ou tentar outra classe); o A terapia broncodilatadora deve ser mantida caso tenha sido observada melhora dos sintomas. o Ação curta – para sintomas eventuais; o Ação longa – sintomas mais frequentes. 2. Pacientes do grupo B devem ser tratados com broncodilatador de longa ação: o LABA ou LAMA; o Se sintomas persistentes – LABA + LAMA; o A escolha do broncodilatador (LABA ou LAMA) nos pacientes com menos sintomas depende da percepção do paciente em relação ao alívio dos sintomas; o Pacientes com sintomas persistentes podem fazer uso da combinação LABA/LAMA; o Pacientes com muita falta de ar podem iniciar já com a combinação LABA/LAMA. 3. CI não é mais o tratamento de escolha para pacientes do grupo C: o LAMA; o LABA + LAMA; o Alternativa de tratamento: LABA + CI (vê os parâmetros); 4. LAMA é o tratamento preferencial nos pacientes do grupo D: o LAMA (terapia inicial recomendada) – se não tem sintomas tão intensos; o LABA + CI - se eosinófilos ≥ 300 ou história de asma; o LAMA + LABA – se sintomas intensos (CAT ≥ 20). MANEJO NÃO FARMACOLÓGICO DA DPOC Grupo Essencial Recomendado Depende do guideline local A Cessação do tabagismo Atividade física Vacina influenza e pneumocócica B - D Cessação do tabagismo; Reabilitação pulmonar; Atividade física Vacina influenza e pneumocócica OXIGENOTERAPIA DOMICILIAR 1. > 15 h/dia – compravadamente aumenta a sobrevida na DPOC; 2. INDICAÇÕES - Hipoxemia arterial: o PaO2 ≤ 55 mmHg ou SO2 ≤ 88% em repouso; o PaO2 > 55, mas < 60mmHg com IC direita ou eritrocitose; 3. Prescrever O2 suplementar e titular para manter SO2 ≥ 90% (apenas se o paciente já estiver em terapia com broncodilatador e reabilitação pulmonar, ou seja, em terapia otimizada, e ainda não melhorou os parâmetros); 4. Reavaliar em 60 a 90 dias para avaliar se O2 ainda é indicado e se O2 é efetivo; 5. Pacientes com hipoxemia apenas durante o exercício, ou que possuam níveis não tão pronunciados de hipoxemia crônica, NÃO HÁ indicação de oxigenoterapia domiciliar contínua. EMILY NARA – MEDICINA UPE ST SUPORTE VENTILATÓRIO CPAP noturno – indicado para portadores de DPOC que apresentam apneia obstrutiva do sono; CIRURGIA PNEUMORREDUTORA Cirurgia de redução do volume pulmonar – parte do pulmão é ressecada com o objetivo de reduzir a hiperinsuflação, melhorando a mecânica ventilatória, bem como o próprio distúrbio V/Q; Indicada apenas para pacientes enfisematosos que apresentam hiperinsuflação pulmonar sintomática e refrataria ao tratamento medicamentoso. Contraindicação: o Pacientes com enfisema difuso e VEF1 < 20% do predito; o Pacientes com capacidade de difusão do monóxido de carbono < 20%. Pode ser realizado via broncoscópica. Obs.: BOLHECTOMIA – ressecção especificas das bolhas de enfisema (principalmente quando são sintomáticas, causado infecção e/ou hemorragias recorrentes). Obs. 2: casos selecionados podem ser considerados para transplante de pulmão, embora o transplante NÃO aumente a sobrevida na DPOC!!