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DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA quinta-feira, 1 de julho de 2021 23:08 • É uma infecção polimicrobiana do trato genital feminino superior - a partir da cavidade endometrial (endometrite, salpingite ou abscesso tubo-ovariano) • A cada 100.000 mulheres com DIP, 8.550 gestações ectópicas, 16.800 casos de infertilidade (aderências) e 18.600 casos de dor pélvica crônica • Mulheres com DIP tem risco 92% maior de desenvolver neoplasia maligna de ovário - risco ainda maior quando antecedente de 5 ou mais episódios de DIP • Prevalência da DIP é subestimada, pois maioria dos casos é subclínica. Estima-se cerca de 750.000 casos novos por anos nos EUA, com gasto aproximado de 2000 dólares por paciente • Maioria dos casos ocorre em mulheres entre 15 e 29 anos FISIOPATOLOGIA • Algumas mulheres são infectadas na endocérvice por Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis. - Essas cervicites ainda não são classificadas como DIP, mas essa infecção predispõem a paciente a ter ascensão de germes para trato genital feminino superior - não necessariamente essas bactérias • Endometrite: inflamação e infecção do endométrio • Endometrite se não tratada pode virar uma salpingite e abscesso tubo ovariano • Neisseria gonorrhoeae é um diplococo Gram-negativo intracelular facultativo, sendo a 1ª causa identificada de DIP. 10% das portadoras podem ser assintomáticas, maioria é sintomática durante cervicite com corrimento purulento → Das pacientes infectadas por Neisseria gonorrhoeae, 10-15% podem desenvolver DIP se não tratadas • Chlamydia trachomatis é uma bactéria intracelular que acomete o trato genital feminino e masculino com afinidade por células do epitélio colunar, a endocérvice. É a infecção bacteriana sexualmente transmissível mais comum. 80-90% das infecções são assintomáticas → Das pacientes infectadas por Chlamydia trachomatis, 10-15% podem desenvolver DIP se não tratadas • Mycoplasma genitalium é uma infecção bacteriana emergente que pode causar cervicite e DIP. Prevalência ainda é incerta, mas estima-se que 10% dos casos de DIP possam ser devidos à essa infecção • DIP aguda (30 dias ou menos): Neisseria gonorrhoeae, Chlamydia trachomatis, Mycoplasma genitalium, vaginose bacteriana, germes respiratórios e entéricos • DIP crônica (>30 dias): Mycobacterium tuberculosis ou Actinomyces spp. • Fatores de risco: cervicite por clamídia ou gonorreia, idade (jovens) e múltiplos parceiros sexuais • DIU não aumenta o risco de DIP em mulheres sem cervicite. DIU aumenta a chance de DIP quando é inserido na presença de uma cervicite QUADRO CLÍNICO • Dor em baixo ventre é o principal sintoma - dor tem intensidade variável, podendo ser leve. Geralmente, dor é bilateral e raramente por mais de 2 semanas → Início logo após a menstruação sugere DIP, pois fase folicular é caracterizada pelo aumento do estradiol - endométrio proliferativo predispõe a ascensão dos micro- organismos • DIP subclínica → Dor abdominal → Choque séptico por abscesso roto • Mesmo tratada, DIP altera o epitélio tubário e pode levar a aderências pélvicas - cerca de 20% das mulheres desenvolvem infertilidade e 9% podem apresentar gestação ectópica → Quadro aderencial leva a dor pélvica crônica após DIP DIAGNÓSTICO • Diagnóstico deve ser baseado nos sinais, sintomas e na exclusão de outras causas de dor - diagnóstico é clínico • Diagnóstico diferencial - excluir: → Doenças gastrointestinais: apendicite aguda, síndrome do intestino irritável → Doenças geniturinárias: cistite, pielonefrite e litíase urinária → Doenças ginecológicas: cisto ovariano roto (2ª fase do ciclo), cisto ovariano torcido e gravidez ectópica • Exames complementares: hemograma, PCR, VHS, B-HCG, urina 1, urocultura, pesquisa de Chlamydia e Gonorrhoeae, microscopia salina da secreção vaginal (secreção vaginal inflamatória quando há muitos leucócitos) e USG transvaginal → USG transvaginal tem sensibilidade de 30% e especificidade de 76% - não identifica a endometrite, somente quando já existe um abscesso tubo-ovariano → Laparoscopia: sensibilidade de 81% e especificidade de 100% → Biópsia de endométrio: sensibilidade de 74% e especificidade de 84% - não é feito para DIP • Chlamydia trachomatis: PCR (padrão ouro), captura híbrida (menor custo) ou cultura em meio de McCoy (pouco utilizado) • Neisseria gonorrhoeae: PCR (padrão-ouro), cultura em meio de Thayer-Martin (antibiograma) ou bacterioscopia (baixa sensibilidade em mulheres) • Sobre a Chlamydia e Neissseria, na indisponibilidade de meio método propedêutico específico, o diagnóstico é empírico • Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para atenção integral às pessoas com IST (2019) - Diagnóstico de DIP → Critérios maiores: dor no hipogástrio, dor à palpação dos anexos e dor à mobilização de colo uterino - necessário TODOS os critérios → Critérios menores: temperatura axilar > 37,5ºC ou temperatura retal > 38,3°C, conteúdo vaginal ou secreção endocervical anormal, massa pélvica, mais de 5 leucócitos por campo de imersão em material de endocérvice, leucocitose em sangue periférico, PCR ou VHS elevado, comprovação laboratorial de infecção cervical por gonococo, clamídia ou micoplasma - +1 menor → Critérios elaborados: evidência histopatológica de endometrite, presença de abscesso tubo-ovariano ou fundo de saco de Douglas em estudo de imagem, laparoscopia com evidência de DIP - 1 elaborado isolado • Tratamento de DIP deve ser o mais precoce possível - atrasar o início de antibióticos por 3 dias ou mais após o início dos sintomas aumenta o risco 3-4x de infertilidade e gravidez ectópica → Se há hipótese clínica de DIP deve tratar como se fosse - risco benefício compensa • Critério simplificado de diagnóstico de DIP: dor pélvica: → Critério mínimo (pelo menos 1): dor à mobilização cervical ou uterina OU dor à mobilização anexial → Aumentam à especificidade: febre, corrimento mucopurulento, aumento de leucócitos na microscopia salina, aumento de PCR/VHS, clamídia ou gonorreia positivos • Diante de uma paciente com estado geral comprometido, febre, peritonite (DB+), massa pélvica, sintomas atípicos e sintomas que não melhoram em 72 horas de tratamento - pedir um USG transvaginal, pois ele dá diagnóstico de abscesso tubo-ovariano • Abscesso tubo ovariano é uma complicação grave e potencialmente ameaçadora da vida. Rotura pode levar a choque séptico. Incidência possivelmente está aumentando por mudança nos protocolos de tratamento • Classificação estágios de DIP → Grau 1: leve - hipótese de DIP com ausência de irritação peritoneal → Grau 2: moderada sem abcesso - presença de irritação peritoneal → Grau 3: moderada com abcesso - abcesso tubo ovariano → Grau 4: grave - abcesso tubo ovariano roto ou choque séptico TRATAMENTO • Objetivo é tratar e evitar as sequelas • Quadro clínico de cervicite não tem dor pélvica espontânea, tem conteúdo mucopurulento saindo pelo colo uterino, colo friável e pode ter dor à mobilização do colo • Tanto na cervicite quanto na DIP, trato todos os micro-organismos que podem estar envolvidos - clamídia, gonorreia e germes vaginais • Tratamento da cervicite: ceftriaxona 250 mg IM dose única para gonorreia (resistência às quinolonas) + azitromicina 1g VO dose única para clamídia + metronidazol 500mg VO 12/12 horas por 7 dias (na suspeita de vaginose) → Azitromicina pode ser substituída por doxiciclina 100mg VO 12/12 hrs por 7 dias • Critérios de internação para tratamento de DIP: incapacidade de seguir ou tolerar tratamento ambulatorial com medicação oral, falha do tratamento com medicação oral, gravidez, quadro clínico comprometido (náuseas e vômitos, febre alta), emergências cirúrgicas como apendicite não tiverem sido excluídas do diagnóstico diferencial, abcesso tubo-ovariano • Tratamento ambulatorial de DIP: ceftriaxona 500 mg IM dose única para gonorreia + doxiciclina 100mg VO 12/12 hrs por 14 dias para clamídia + metronidazol500mg VO 12/12 horas por 14 dias (na suspeita de vaginose) → Ceftriaxona pode ser substituída por cefotaxima 500 mg IM dose única → Doxiciclina para tratamento de clamídia é o antibiótico mais estudado, mas pode ser substituída pela azitromicina 500mg VO + 250 mg VO 1x/dia por 7 dias OU 1g VO (2 doses) com intervalo de 1 semana • Tratamento parenteral de DIP → Clindamicina 900 mg EV 8/8 horas + gentamicina 3-5 mg/kg EV ou IM 1x/d → Ceftriaxona 1g EV 1x/d + Doxiciclina 100mg VO 12/12 horas por 14 dias + Metronidazol 400 mg EV 12/12 horas → Ampicilina+sulbactam 3g EV 6/6 horas + Doxiciclina 100mg VO 12/12 horas • Se paciente foi internada pelo quadro clínico e teve melhora do quadro (afebril por 48 horas), é possível dar alta com continuação através de tratamento ambulatorial • Tratamento da DIP em estágio 3 deve ser diferente, pois antibióticos devem ser capazes de penetrar na cavidade do abscesso e permanecer estáveis em meio ácido com pouca concentração de oxigênio. Deve tomar cuidado com uso de aminoglicosídeos, como a gentamicina), que tem ação significativamente reduzida em meios ácidos, hipóxicos e com debris que se ligam à droga → Ceftriaxona 1-2g EV/IM 1x/dia + Clindamicina 900mg EV 8/8 horas → Ceftriaxona 1-2g EV/IM 1x/dia + Metronidazol 500mg EV 8/8 horas • 70% das mulheres com abscesso tubo-ovariano respondem ao tratamento clínico com antibióticos. A necessidade de cirurgia está relacionada ao tamanho do abscesso: 60% dos abscessos maiores que 10cm, 35% dos entre 7-9 cm e 15% daqueles com 4-6 cm → Nos casos de abcesso íntegro, quanto maior abcesso (> 7 cm) maior a chance de paciente precisar de cirurgia • Mulheres na pós-menopausa com abcesso tubo-ovariano tem maior risco de neoplasia maligna. Assim, considerar abordagem cirúrgica inicial e congelamento do abscesso no intraoperatório • Cirurgia do abcesso pode ser laparotomia, laparoscopia ou drenagem guiada por imagem • Síndrome de Fitz-Hugh-Curtis é uma sequela de DIP, são aderências entre a cápsula hepática e a parede abdominal • DIP estágio 4 é quando abcesso está roto e paciente com quadro de sepse (hipotensão, taquicardia, febre) - necessita de intervenção cirúrgica de urgência para drenagem + salpingectomia → Podem ser feitas cirurgias mais extensas com histerectomia e salpingectomia bilateral • Deve ser feito seguimento. Se tratamento ambulatorial, paciente deve ser reavaliada em 72 horas. • Seguimento: melhora dos sintomas com 72 horas, tratar parceiros sexuais (60 dias do diagnóstico), sorologias para HIV e sífilis, pesquisa de clamídia e gonorreia 3-6 meses após o tratamento • Usuárias de DIU tem risco aumentado de DIP apenas nas primeiras 3 semanas após a inserção. Não precisa ser retirado em pacientes com DIP aguda, porém seguimento rigoroso é sugerido • Pacientes HIV+ tem menos probabilidade de clamídia ou gonorreia, mas maior probabilidade de micoplasma ou estreptococos → Para DIP grau 1 e 2 tratamento VO ou parenteral são igualmente efetivos em mulheres com e sem HIV • DIP é incomum na gravidez. Geralmente nas primeiras 12, antes que o tampão mucoso funcione como barreira. As gestantes com suspeita de DIP devem ser internadas para antibioticoterapia parenteral. Há um aumento no risco de parto pré-termo e morbidade materna RASTREAMENTO E PREVENÇÃO • Pesquisa de clamídia e gonorreia diminui a incidência de DIP em população de alto risco. Nos EUA, pesquisa de clamídia é feita em todas as mulheres sexualmente ativas depois dos 25 anos e naquelas com menos de 25 anos com fatores de risco → Diminui incidência de dor pélvica crônica, de gestação ectópica e de infertilidade • Aconselhar uso de camisinha diminui o risco de DIP
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