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Hiago Manoel Araujo Medicina-P2 CASO 05 - 2º Semestre CASO Ao visitar a comunidade, a ACS Janice observou que várias crianças da área, tanto as que estão na creche, como as que não estão, apresentam sintomas semelhantes aos de Milena de 3 anos. A genitora informou que ela apareceu há uma semana com quadro de febre baixa 37,5º C a 38,2º C seguido de obstrução nasal, coriza e odinofagia. Houve melhora dos sintomas respiratórios, mas há 2 dias a criança começou a ter inapetência, cansaço, dor no peito, falta de ar, palpitações e tonturas. A genitora também notou que ela está com edema nos pés e se queixa de enjoo e dor abdominal. O Dr. Joaquim anotou na ficha do exame: menor hipoativa, com regular estado geral, bom estado nutricional, hidratada, corada, anictérica, taquipneica. FC: 180, FR: 48, TA: 120/80 mmHg. Temp.: 36,6º C. Peso: 17,8 kg. Estatura: 103 cm. Enchimento capilar de 3 segundos. Pele turgor e elasticidade mantida. TCSC infiltrado por edema em MMII. Pescoço: observado estase de jugular e adenomegalia cervical bilateral com aumento de gânglios na cadeia cervical posterior e amigdalianos, móveis, elásticos e indolores. Tórax: simétrico sem abaulamentos ou retrações. ACV: precórdio ativo com ictus visível e palpável a 2 cm da LMC (Linha Média Clavicular). Bulhas rítmicas normofonéticas com presença de terceira bulha. Presença de sopro sistólico grau III/VI em rebordo external esquerdo (REE) no foco mitral. Ap respiratório: MV bem distribuído, rude com presença de creptos em base de ambos os hemitórax (HTS). Abd: Plano pouco distendido com fígado à 3 cm do rebordo costal direito (RCD) e 4 cm do processo xifoide, doloroso à palpação, borda fina e superfície lisa. Observou-se refluxo hepato-jugular. Baço não palpável. RHA (+). Extremidades bem perfundidas, apresentando um pouco de edema em tornozelos e pés. SN: Lúcida orientada colaborativa, sem déficit motor aparente, sem sinais de irritação meníngea (IM), pupilas isocóricas e fotorreagentes. Após o exame clínico, Dr. Joaquim encaminhou Milena para internamento e naquela unidade ela evoluiu com vômitos repetidos e sua mãe contou para a ACS que chegaram a encontrar Ascaris lumbricoides nas fezes da garota, o que motivou uma reunião da equipe para planejarem ações na comunidade. OBJETIVOS: 1- Quais são as principais doenças que acometem vias aéreas superiores? Dentre as principais infecções de trato respiratório superior tem-se as infecções por rinovírus, metapneumovírus, Influenzavírus A, B e C, Adenovírus, Coronavírus, podendo causar gripes, resfriados, inflamação dos seis paranasais (sinusite), rinite e outras síndromes gripais. São, geralmente, causadas por infecções virais , haja vista a presença constante de bactérias patológicas nestas regiões que se encontram em estado não patológico. A penetração dessas bactérias para vias aéreas inferiores, bem como dos vírus podem evoluir para quadros mais sérios de síndromes gripais, causado por infecções pulmonares, pleurais ou brônquicas. 2- Como ocorre a transmissão da possível infecção respiratória de Milena? Devido à evolução clínica de Milena, acredita-se que ela possui uma infecção viral de trato superior que penetrou para região inferior e conseguiu chegar à corrente sanguínea e, posteriormente, ao coração. Quadros como esse são sugestivos de infecção por Enterovírus humano, o principal causador da miocardite viral em crianças. Sua transmissão é dada a partir de fômites, aerossóis emitidos pelo sistema respiratório (partículas da tosse, espirro...) e, em alguns casos, fecal-oral, devido à infecção intestinal. 3- Quais os principais agentes etiológicos causadores da miocardite? A infecção em humanos pode ocorrer por diversos vírus (Influenza, CMV, Vírus da rubéola, hepatite, varicela, HIV e Rinovírus), mas o principal deles, por ser mais comum, são os vírus da família Picornaviridae, a espécie Enterovirus human é o mais recorrente, sendo os sorotipos Coxsakievirus e Echovirus, os que possuem tropismo pelo coração. 4- Descreva sinais, sintomas, fisiopatologia e diagnóstico da miocardite (ressaltar evolução clínica da infecção respiratória para infecção cardíaca) -Infecção depende do local de instalação e reprodução (região gástrica- diarreia- eliminação nas fezes; faringe- faringite e síndrome gripal- eliminação aérea...) -Nas vias respiratórias ou digestivas pode migrar para corrente sanguínea → Viremia primária -Regulada por ação imune -Maioria das infecções assintomáticas ou oligo sintomáticos (casos leves – síndrome gripal) -Pode evoluir para Viremia Secundária Tecidual -Miocardite, Meningite, Encefalite, Pericardite -Pode infectar outros tecidos (Meningite asséptica, síndrome mão-pé-boca, faringite, conjuntivite...) -Principalmente em crianças -No coração (Evolução para quadro mais grave) *FASE 1: Enterovírus se liga ao receptor CAR/DAF e começa a replicação → Ativação de resposta imunológica inata -Lesão tecidual direta – causada pelo vírus -Poucos sintomas (1 a 7 dias) *FASE 2: Células dendríticas (APCs) levam antígeno até linfócitos → Ativação de resposta imune adaptativa -Lesão tecidual indireta – células imunológicas (Linf. T CD8, citocinas, células NK...) -Aparecimento dos sintomas mais graves (1ª a 4ª semana) *FASE 3: Resolução e limpeza total da infecção pela repostas imune – Clearance viral *FASE 4: Evolução mais grave (nem todos evoluem) → Ataque da resposta imune mesmo após finalização da infecção → Cardiomiopatia -Lesão celular libera proteínas celulares internas desconhecidas -APCs apresentam essas proteínas ao sistema imune -Ataque à própria células normal – resposta autoimune -Não existe infecção crônica por ação do vírus (apenas por ação da resposta imune) DIAGNÓSTICO: Geralmente, clínico. Usa-se RT-PCR para pesquisa (cultura é demorado e possui alto custo – apenas pesquisa) → Espécie do vírus não altera conduta (não há antiviral – trata apenas sintomas) SINAIS e SINTOMAS: -Dor torácica -Dispneia- taquipneia (por IC) -Febre (resposta imune) -Astenia (perfusão sanguínea limitada) -Palpitação, taquicardia e arritmias (por IC) -Náuseas, vômito e artralgia (sinal de infecção) 5- Descreve a anatomia do coração, incluindo suas camadas O coração é uma bomba sanguínea localizada na região central do tórax, ou seja, no mediastino médio inferior (entre as cavidades pleurais direita e esquerda, diafragma e abertura superior do tórax). É circundado por camadas de tecido fibrosseroso (pericárdio fibroso, seroso parietal e seroso visceral, na ordem). É anatomicamente deslocado para o lado esquerdo do corpo com seu ápice apontando para baixo, lado esquerdo e para frente e sua base, diametralmente oposta (aponta para cima, para trás e para direita). Possui formato piramidal (ou de cone) e possui suas paredes divididas em 3 camadas (epicárdio = pericárdio seroso, miocárdio – contração, endocárdio – passam as fibras excitocondutoras – subendocárdico) É dividido em 4 câmaras internas (2 átrios e 2 ventrículos- AD, VD, AE, VE). Essas câmaras são separadas por septos que correspondem há regiões de depressão na parte externa, chamadas de sulcos: septo interatrial – sulco interatrial; septo interventricular – sulcos interventriculares anterior e posterior; septo atrioventricular – sulco coronariano (apenas posterior). Os septos atrioventriculares são valvas de regulação do fluxo. São 4 ao todo, mitral (ou bicúspide) no septo AV esquerdo, tricúspide no septo AV direito, pulmonar na região de entrada do tronco pulmonar e a aórtica na entrada da artéria aorta. Juntas, as 4 valvas compõem o esqueleto fibroso do coração, onde os músculos se inserem. Tal esqueleto ocupa região central do coração entre átrios e ventrículos e entre ventrículos e artérias. Também ligadasàs valvas, encontram os cordões tendíneos que estabelecem conexão com o músculo das paredes dos ventrículos por meio dos músculos papilares e evitam o prolapso valvar durante abertura e fechamento das valvas AV. O coração é vascularizado por um complexo, chamada de sistema coronariano que incluem as artérias descendente diretas da aorta ascendente (VCE e VCD) que emitirão ramos por toda a superfície cardíaca, bem como o sistema venoso drenado para o seio coronariano. 6- Como ocorre o ciclo cardíaco? Descreva os processos FASES DO CICLO CARDÍACO 1. Fase embrionária (primeiro enchimento atrial do coração) – apenas uma vez na vida do indivíduo (ocorre no embrião) 2. Coração em repouso: Diástole atrial e ventricular -Ventrículos relaxando (após contrair no ciclo anterior) – valva aórtica fechada -Chegando sangue nos átrios pelas veias → Passa direto para ventrículos por ação da gravidade -Valvas AV abertas 3. Enchimento ventricular: Sístole atrial -Geração do sinal elétrico no Nó SA – despolarização atrial -Término do enchimento ventricular (já iniciado pela ação da gravidade) -Valvas AV continuam abertas -Aumento da pressão interna atrial por contração da parede do átrio → empurra o sangue para ventrículo 4. Contração ventricular precoce -Chegada da onda de despolarização no Nó AV e distribuição aos ventrículos (atraso) -Enquanto ocorre distribuição pelos ventrículos, átrios passam a repolarizar e iniciar diástole (enchimento atrial – valvas AV fechadas) -A sístole ventricular inicia no ápice do coração após a chegada do sinal elétrico nas fibras de Purkinje -Sangue é empurrado para cima por contração (início de despolarização ventricular) → Choque com valvas AV as faz fecharem (1ª bulha cardíaca – S1, “tum” do “tum-tá”) -Valvas semilunares fechadas (recente contração atrial – evitar refluxo para veias) -TODAS AS VALVAS FECHADAS → Continuação da contração ventricular → Aumento brusco da pressão intraventricular – CONTRAÇÃO VENTRICULAR ISOVOLUMÉTRICA (ventrículo contrai, mas não altera volume por valvas estarem fechadas – aumento de pressão) 5. Ejeção ventricular -Intensa pressão intraventricular → Abertura das valvas semilunares (aórtica e pulmonar) -Sangue empurrado pelas artérias com alta pressão (desloca sangue em baixa pressão que já preenchia artérias – condução do fluxo sanguíneo) –EJEÇÃO OBS: Sangue ejetado que bate no arco da aorta com alta pressão denota PA sistólica -Valvas AV ainda fechadas (enchimento atrial- em diástole) 6. Diástole ventricular -Após ejeção, ventrículo repolariza e começa a relaxar -Gera baixa pressão ventricular (refluxo arterial → Sangue empurra cúspides aórticas e pulmonares → Fechamento das valvas semilunares (Segunda bulha cardíaca- S2, “tá” do “tum-tá”) -Valvas semilunares e AV continuam fechadas (pressão v. > pressão a. – sístole ventricular recente) -Ventrículo continua a relaxar sem alteração de volume sanguíneo (não entra e nem sai) – RELAXAMENTO VENTRICULAR ISOVOLUMÉTRICO -Pressão ventricular cai muito, devido ao contínuo relaxamento (fica menor que pressão atrial), valvas AV abrem e reinicia o ciclo. 7- Porque a miocardite leva à hepatomegalia, estase jugular e edema de MMII? A hepatomegalia é derivada principalmente da infecção hepática produzida também pelo Enterovírus, a lesão celular gerada nesta região, desencadeia uma intensa resposta pró- inflamatória Th1 (baseada em Linf. T CD8, Células NK e fatores de necrose tumoral). Dessa forma, a intensa cicatrização fibrótica hepática, juntamente com a constante atividade celular imunológica (fígado como órgão rico em células imune – células de Kupffer) pode gerar quadro de hepatomegalia. Ademais, quadros como edema de MMII e estase jugular são característicos de Insuficiência Cardíaca Venosa. A infecção miocárdica danifica o sistema de batimentos da bomba cardíaca, dificultando sua contração e, consequente, retorno venoso. Dessa forma, há o acúmulo de líquidos em região distal, principalmente de MMII, devido à força de resistência maior a ser superada para retorno venoso, neste caso, a gravidade. Há, também, a estase jugular como sinal de aumento da PVC, a existência de maior quantidade de sangue venosos circulante em decorrência de uma IC do lado direito leva a um aumento do volume de vasos venosos, principalmente os de grande calibre, como as veias jugulares. 8- Sobre a ascaridíase descreva: fisiopatologia (incluindo o ciclo do parasito), diagnóstico, sinais e sintomas e meio de transmissão A transmissão de ascaridíase ocorre por meio de água e alimentos contaminados com ovos contendo larvas L3 do parasita. Seu ciclo é iniciado com a evacuação em locais indevidos de indivíduos contaminados. A liberação de ovos embrionados nas fezes marca o início do ciclo parasitário. O solo dá condições favoráveis para desenvolvimento do ovo que passará a contar larvas que evoluirão de embrião, para estágio L1, L2 e L3. A infecção ocorre a partir da ingestão de L3 em alimentos contaminados. No estômago humano, os ovos eclodirão por ação do HCl e liberarão larvas, ainda em L3, para o intestino. Ocorrerá a penetração da mucosa intestinal pela larva L3 ganhando a corrente sanguínea em direção ao fígado. A resposta imune gerada no fígado, devido a lesões teciduais mecânicas provocadas pelo patógeno já em tamanho considerável, causará HEPATOMEGALIA (há liberação de enzimas hepáticas no sangue- fator importante para diagnóstico). A saída do parasito do fígado, leva-o ao coração, onde pode causar lesões (caso haja hiperparasitemia, endocardite) ou não. A partir do coração, a larva, ainda em L3, entrará no Ciclo de Loss, chegando ao pulmão, onde há grande quantidade de O2 e sangue nutrido para que ela possa se desenvolver em L4 e, posteriormente, em L5. Enquanto há seu desenvolvimento, a resposta imunológica do tipo T CD4 Th2, levará a um quadro de Síndrome de Loeffler (Pneumonia Eosinofílica – Eosinolofilia nos exames laboratoriais é importante para diagnóstico). No entanto, devido ao tamanho atingido pela larva, sua locomoção causará intensa lesão tecidual, com rompimento capilar e alveolar. Dessa forma, sinais mais graves poderão ser desenvolvidos, devido ao sangramento, como hemoptise e possível evolução para resposta T CD4 Th1 (com fatores de necrose celular e presença de Linf. T CD8). A tosse causada pela pneumonia, fará o verme subir à árvore traqueobrônquica e ser redeglutida em região faríngea-esofágica. Sua chegada, novamente ao intestino, caracterizará início de uma possível cronicidade. A instalação e parasitemia desenvolvida nessa região, devido a considerável espoliação nutricional (carboidratos e proteínas), causará o principal demonstrativo clínico da doença, a DESNUTRIÇÃO. O consumo de Vitaminas como C e A também contribuirá para desnutrição, bem como para aparecimento de pano branco na região cutânea. O verme conseguirá evoluir para sua fase adulta e iniciará sua reprodução. Nesta fase iniciará problemas digestivos, como diarreia (devido à lesão intestinal e produção de muco como resposta imunológica) e, dependendo da carga parasitária, inicia-se processo de constipação e formação de fecalomas por obstrução intestinal. A reprodução e liberal de ovos do parasito nas fases, reiniciará o ciclo. Para diagnóstico, usa-se, além do quadro clínico, exame de pesquisa de ovos nas fazes, como também dosagem de enzimas hepáticas e pancreáticas no sangue (por conta da localização ectópica parasitária que pode causar pancreatite). 9- Quais medidas profiláticas podem ser tomadas para evitar infecção por Ascaris lumbricoides? Saneamento básico, lavagem e higienização de água e alimentos, tratamento de pessoas infectadas
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