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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ CAMPUS DE FOZ DO IGUAÇU CENTRO DE EDUCAÇAO E LETRAS PROGRAMA DE MESTRADO EM SOCIEDADE, CULTURA E FRONTEIRAS. LINHA DE PESQUISA: TERRITÓRIO, HISTÓRIA E MEMÓRIA. FABIANO BORDIGNON AS COOPERAÇÕES POLICIAIS INTERNACIONAIS EM FRONTEIRAS, DO LOCAL AO GLOBAL: O COMANDO TRIPARTITE NA TRÍPLICE FRONTEIRA ARGENTINA, BRASIL E PARAGUAI. MARÇO 2019 FABIANO BORDIGNON AS COOPERAÇÕES POLICIAIS INTERNACIONAIS EM FRONTEIRAS, DO LOCAL AO GLOBAL: O COMANDO TRIPARTITE NA TRÍPLICE FRONTEIRA DE ARGENTINA, BRASIL E PARAGUAI. Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Sociedade, Cultura e Fronteiras, do Centro de Educação e Letras da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Sociedade, Cultura e Fronteira. Linha de pesquisa: Território, História e Memória. Área de concentração: Sociedade, Cultura e Fronteira. Orientador: Prof. Dr. Mauro José Ferreira Cury. MARÇO 2019 FABIANO BORDIGNON AS COOPERAÇÕES POLICIAIS INTERNACIONAIS EM FRONTEIRAS, DO LOCAL AO GLOBAL: O COMANDO TRIPARTITE NA TRÍPLICE FRONTEIRA DE ARGENTINA, BRASIL E PARAGUAI. Esta Dissertação foi julgada adequada para a obtenção do Título de Mestre em Sociedade, Cultura e Fronteiras e aprovada em sua forma final pelo Programa de Sociedade, Cultura e Fronteiras, área de concentração em Sociedade, Cultura e Fronteiras, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE. COMISSÃO EXAMINADORA Prof. Dr. Mauro José Ferreira Cury - UNIOESTE Orientador Profa. Dra Elaine Cristina Francisco Volpato – UNIOESTE Prof. Dr. José Carlos dos Santos – UNIOESTE _______________________________________________________________ Prof. Dr. Milton Augusto Pasquotto Mariani –UFMS - Membro Externo Prof. Dr. Marcos Aurélio Saquet - UNIOESTE Foz do Iguaçu, 11 de março de 2019 “A vida é a arte do encontro embora haja tanto desencontro pela vida” Vinícius de Moraes – Samba da Benção AGRADECIMENTOS A Deus pelo dom da vida, proteção e saúde para chegar até aqui. Esta dissertação é resultado conjunto de muitas mãos, almas e caminhadas. À minha esposa Cintia, companheira de fronteiras há 25 anos, com quem fiz as nossas principais obras transdisciplinares: nossos filhos Tarsila, Santiago e Danilo. A vocês dedico minha vida. Viverei sempre em vocês. Aos meus saudosos Pais, primeiros e eternos professores: Danilo Bordignon e Paola Ghermandi Bordignon. Como discípulo e filho busco sempre em vocês minha inspiração, exemplo e alegria. Ao meu irmão Juliano Bordignon, pesquisador incansável da vida e grande parceiro sempre. Ao Professor Dr. Mauro José Ferreira Cury, pela confiança, motivação e excelente parceria na orientação desta humilde pesquisa, sempre disposto a ajudar e discutir os caminhos e rumos do trabalho. Ultrapassou as fronteiras de Brasília e veio aqui me ajudar na revisão final. Gratidão sempre. À Universidade Estadual do Oeste do Paraná, ao Programa de Pós- Graduação em Sociedade, Cultura e Fronteiras, do Centro de Educação e Letras da UNIOESTE, campus Foz do Iguaçu, Professores, colegas discentes e servidores. À Polícia Federal pela autorização e oportunidade de realizar a pesquisa. Meu agradecimento pessoal aos amigos Rosalvo Ferreira Franco e Maurício Valeixo, Superintendentes da Polícia Federal no Paraná durante a realização do meu Mestrado. Aos amigos Mozart Person Fuchs, que me substituiu na Chefia da Delegacia de Foz durante os períodos de afastamento necessários à conclusão da obra e Carlos Eduardo Vieira Bianchi e equipe, que me ajudaram na reunião, compilação e impressão das atas de mais de 20 anos de reuniões do Comando. Meus agradecimentos também aos Delegados Alessandro Maciel Lopes, na época Chefe da Delegacia da PF de Santana do Livramento/RS e aos Adidos da PF em Asunción e Buenos Aires, respectivamente: Cassius Valentim Baldelli e Luiz Carlos Nóbrega Nelson. Aos Policiais do Brasil e do mundo na esperança de que a pesquisa possa ajudar nas operações interagências, com a compreensão da natureza interdisciplinar das ações. Meu especial agradecimento aos servidores e amigos da Delegacia de Polícia Federal de Foz do Iguaçu e ao Gabinete de Gestão Integrada de Fronteiras do Paraná. Aos integrantes do Comando Tripartite, Argentina, Brasil e Paraguai, com quem pude compartilhar experiências e vivências fundamentais para a conclusão desta pesquisa. À Justiça Federal, especialmente à Subseção Judiciária de Foz do iguaçu e ao Dr. Matheus Gaspar por ter fornecido acesso aos processos utilizados como base para o estudo de caso. À Receita Federal do Brasil, especialmente à Alfândega em Foz do Iguaçu, na pessoa do então Delegado Chefe Rafael Rodrigues Dolzan e Neri Antonio Parcianello, pelo fornecimento de dados para a presente pesquisa. À Comissão Examinadora de Qualificação, composta pelos Professores Dr. Mauro José Ferreira Cury, Dra. Elaine Cristina Francisco Volpato, Dr. José Carlos dos Santos e Dra. Denise Rosana Silva Moraes pelos apontamentos e observações lançadas. Ao Amigo Luciano Barros e equipe do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras – IDESF, pelo apoio inexorável às pesquisas sobre fronteiras no Brasil. A todos os Amigos que me ajudaram nesta pesquisa de Mestrado. Vocês ultrapassaram as fronteiras comigo. BORDIGNON, Fabiano. As cooperações policiais internacionais em fronteiras, do local ao global: o Comando Tripartite na Tríplice Fronteira de Argentina, Brasil e Paraguai.2019. (148 p.). Dissertação (Mestrado em Sociedade, Cultura e Fronteiras) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Foz do Iguaçu, 2019. RESUMO O objetivo desta pesquisa consiste na apresentação do Comando Tripartite, como modelo de cooperação policial na Tríplice Fronteira, de Puerto Iguazu– Argentina; Foz do Iguaçu-Brasil; e Ciudad del Este – Paraguai, instituído em 1996. O tema relacionado às fronteiras nacionais permite analisar a complexidade das aproximações territoriais e as possíveis territorialidades que são estabelecidas pelos povos, a partir de uma amplitude local para o global. Utiliza-se o estudo de caso, mediante análise da cooperação policial local empregada, via Comando Tripartite, na resposta à série de crimes cometidos em abril de 2017 na empresa de transporte e guarda de valores PROSEGUR em Ciudad del Leste, Paraguai. Demonstra que o fenômeno interdisciplinar pode ser empregado como início de uma teoria geral para operações policiais integradas, considerado no âmbito interno de cada país, bem como internacionalmente, pois cada polícia, com sua formação, doutrina e atuação, pode ser vista como uma disciplina. Para superar as barreiras do isolacionismo disciplinar, como verificado nas ciências, é necessário um salto interdisciplinar de forma a garantir que o reconhecimento das diversas especializações necessárias ao trabalho policial não sirva de separação, mas sim represente a necessária união de esforços e de conhecimentos. A pesquisa é inédita pela proposta de estudar a formação, organização e dinâmica de uma organização local de cooperação policial, na mais dinâmica fronteira da América Latina. O método utilizado mescla fontes documentais, bibliográficas, estudo de caso e pesquisa participante de campo a fim de elaborar a pesquisa. Reconhece que a complexidade do fenômeno da criminalidade transnacional pode ser vencida pela coordenação e convergência de saberes, típicos de uma visão multidisciplinar e interdisciplinar, respectivamente. Palavras-chave: Tríplice Fronteira; Comando Tripartite;Cooperação; Polícia; Internacional; Interdisciplinaridade. BORDIGNON, Fabiano. As cooperações policiais internacionais em fronteiras, do local ao global: o Comando Tripartite na Tríplice Fronteira de Argentina, Brasil e Paraguai.2019. (148 p.). Dissertação (Mestrado em Sociedade, Cultura e Fronteiras) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Foz do Iguaçu, 2019. RESUMEN El objetivo de esta investigación consiste en la presentación del Comando Tripartita, como modelo de cooperación policial en la Triple Frontera, de Puerto Iguazú - Argentina; Foz do Iguaçu - Brasil; y Ciudad del Este - Paraguay, instituido en 1996. El tema relacionado a las fronteras nacionales permite analizar la complejidad de las aproximaciones territoriales y las posibles territorialidades que son establecidas por los pueblos, a partir de una amplitud local para lo global. Se utilizó el estudio de caso, mediante análisis de la cooperación policial local empleada, vía Comando Tripartita, en la respuesta a la serie de crímenes cometidos en abril de 2017 en la empresa de transporte y custodia de valores PROSEGUR en Ciudad del Este, Paraguay. En el caso de las mujeres, las mujeres y las mujeres, en el caso de las mujeres, en el caso de las mujeres. Para superar las barreras del aislacionismo disciplinario, como verificado en las ciencias, es necesario un salto interdisciplinario para garantizar que el reconocimiento de las diversas especializaciones necesarias al trabajo policial no sirva de separación, sino que represente la necesaria unión de esfuerzos y de conocimientos. La investigación es inédita por la propuesta de estudiar la formación, organización y dinámica de una organización local de cooperación policial, en la más dinámica frontera de América Latina. El método utilizado mezcla fuentes documentales, bibliográficas, estudio de caso e investigación participante de campo a fin de elaborar la investigación. Reconoce que la complejidad del fenómeno de la criminalidad transnacional puede ser vencida por la coordinación y convergencia de saberes, típicos de una visión multidisciplinaria e interdisciplinaria, respectivamente. Palabras clave: Tríplice Frontera; Comando Tripartita; cooperación; La Policía; Internacional; Interdisciplinariedad. BORDIGNON, Fabiano. As cooperações policiais internacionais em fronteiras, do local ao global: o Comando Tripartite na Tríplice Fronteira de Argentina, Brasil e Paraguai.2019. (148 p.). Dissertação (Mestrado em Sociedade, Cultura e Fronteiras) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Foz do Iguaçu, 2019. ABSTRACT The objective of this research consists of the presentation of the Tripartite Command, as a model of police cooperation in the Triple Border, of Puerto Iguazu - Argentina; Foz do Iguaçu - Brazil; and Ciudad del Este - Paraguay, instituted in 1996. The theme related to national boundaries allows us to analyze the complexity of territorial approximations and the possible territorialities that are established by the peoples, from a local to a global extent. The case study is used, through an analysis of the local police cooperation employed, via Tripartite Command, in response to the series of crimes committed in April 2017 at the PROSEGUR transport and custody company in Ciudad del Este, Paraguay. It shows that the interdisciplinary phenomenon can be used as the beginning of a general theory for integrated police operations, considered internally within each country, as well as internationally, since each police, with its training, doctrine and action, can be seen as a discipline. To overcome the barriers of disciplinary isolationism, as witnessed in the sciences, an interdisciplinary leap is necessary in order to ensure that the recognition of the various specializations required for police work does not serve as a separation, but rather represents the necessary union of efforts and knowledge. The research is unpublished by the proposal to study the formation, organization and dynamics of a local organization of police cooperation, in the most dynamic frontier of Latin America. The method used mixes documentary, bibliographic, case study and field participant research in order to elaborate the research. It recognizes that the complexity of the phenomenon of transnational crime can be overcome by the coordination and convergence of knowledge, typical of a multidisciplinary and interdisciplinary view, respectively. Keywords: Triple Border; Tripartite Command; Cooperation; Police; International; Interdisciplinarity. LISTA DE FIGURAS Figura 1. Municípios do Paraná e a Faixa de Fronteira.....................................34 Figura 2. Lançamento da Base da Polícia Federal no Rio Paraná, em Foz do Iguaçu................................................................................................................75 Figura 3. Símbolo do Comando Tripartite.........................................................91 Figura 4. Localização da empresa Prosegur em Ciudad del Este...................111 Figura 5. Empresa PROSEGUR após o assalto.............................................112 Figura 6. Locais da fuga dos assaltantes da empresa Prosegur..........................................................................................................113 Figura 7. Casa utilizada pelos criminosos em CDE.........................................116 Figura 8. Vestígios examinados pelos peritos criminais.................................117 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Resultados da Operação Muralha em 2016, 2017 e 2018...................................................................................................................74 Tabela 2. Apreensões no rio Paraná e lago de Itaipu e valores estimados em US$ - 2018.........................................................................................................76 Tabela 3. Zonas Bipartites de Segurança entre cidades da Argentina e Paraguai.............................................................................................................97 Tabela 4. Zonas Bipartites de Segurança entre cidades da Argentina e Bolívia................................................................................................................98 Tabela 5. Inquéritos policiais decorrentes dos crimes do assalto a PROSEGUR....................................................................................................107 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ABIN Agência Brasileira de Inteligência AMERIPOL Comunidade de Polícias das Américas ANTT Agência Nacional de Transportes Terrestres CAPE -PR Coordenadoria de Análise e Planejamento Estratégico do Paraná. CICC Centros Integrados de Comando e Controle CICCL Centros Integrados de Comando e Controle Locais CICCM Centros Integrados de Comando e Controle Móveis CICCNA Centro Integrado de Comando e Controle Nacional Alternativo CICCR Centros Integrados de Comando e Controle Regionais CODEFOZ Conselho de Desenvolvimento de Foz do Iguaçu COC Centros de Operações Conjuntas CT Comando Tripartite DER DNAISP Departamento de Estradas de Rodagem Doutrina Nacional de Atuação Integrada de Segurança Pública EAD Ensino à Distância ENAFRON Estratégia Nacional de Segurança Pública nas Fronteiras EUA Estados Unidos da América EUROPOL Serviço Europeu de Polícia FIFA Federação Internacional de Futebol GGIF Gabinetes de Gestão Integrada de Fronteiras GM Guarda Municipais GSI Gabinete de Segurança Institucional IDESF Instituto de Desenvolvimento Social e Econômico de Fronteiras JF Justiça Federal MCN Matriz Curricular NacionalMESP Ministério Extraordinário de Segurança Pública MERCOSUL Mercado Comum do Sul MPF Ministério Público Federal OAB Ordem dos Advogados do Brasil OICP/ INTERPOL Organização Internacional de Polícia Criminal PC Polícia Civil PEF Plano Estratégico de Fronteiras PF Polícia Federal PPIF Programa de Proteção Integrada de Fronteiras PNSPDS Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social POE Plataformas de Observação Elevada PRF Polícia Rodoviária Federal PRONASCI Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania RF Receita Federal do Brasil SEDEC Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil SENAD Secretaria Nacional de Política Sobre Drogas SENASP Secretaria Nacional de Segurança Pública SESGE Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos SESP/PR Secretaria de Segurança Pública do Estado do Paraná SICC Sistema Integrado de Comando e Controle da Segurança Pública para Grandes Eventos SIC4 Sistema Integrado de Coordenação, Comunicação, Comando e Controle SISBIN Sistema Brasileiro de Inteligência STF Supremo Tribunal Federal SUSP Sistema Único de Segurança Pública TCU Tribunal de Contas da União EU União Europeia UNIOESTE Universidade Estadual do Oeste do Paraná SUMÁRIO SUMÁRIO ........................................................................................................ 13 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 14 1 A FORMAÇÃO DE POLÍCIAS VISTAS COMO DISCIPLINAS .................... 37 1.1 INTERDISCIPLINARIDADE E A CONVERGÊNCIA NOS TRABALHOS DE SEGURANÇA PÚBLICA ............ 37 1.2 A INTERDISCIPLINARIDADE E APLICAÇÃO NAS AÇÕES INTEGRADAS DE SEGURANÇA PÚBLICA. ..... 40 1.3 A “POLÍCIA” E O “SISTEMA” DE SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL. ................................................. 56 1.4 OS GRANDES EVENTOS E UM MODELO DE ATUAÇÃO INTEGRADA ................................................. 65 1.5 AÇÕES E COOPERAÇÕES DE SEGURANÇA LOCAL NA TRÍPLICE FRONTEIRA. .................................... 71 2 DO LOCAL PARA O GLOBAL: AS COOPERAÇÕES POLICIAIS EM REGIÕES DE FRONTEIRA E O COMANDO TRIPARTITE COMO ASPECTO DA COOPERAÇÃO PENAL INTERNACIONAL ............................................. 79 2.1 A COOPERAÇÃO POLICIAL E JURÍDICA INTERNACIONAL ................................................................. 79 2.2 O COMANDO TRIPARTITE. .............................................................................................................. 87 2.3 O COMANDO TRIPARTITE –MODELO DE COOPERAÇÃO POLICIAL EM ZONAS BIPARTITES .............. 97 2.4 O COMANDO TRIPARTITE - DIFICULDADES À COOPERAÇÃO POLICIAL ............................................ 99 3 ESTUDO DE CASO – CRIMES TRANSNACIONAIS NA EMPRESA PROSEGUR EM CIUDAD DEL ESTE (22/04/2017) ...................................... 105 3.1 CRIMES TRANSNACIONAIS ........................................................................................................... 108 3.2 RELATO DO CASO PROSEGUR ....................................................................................................... 110 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 122 REFERÊNCIAS .............................................................................................. 127 14 INTRODUÇÃO O objetivo geral da pesquisa é o estudo das cooperações policiais nas regiões de fronteira do Brasil, especialmente na área das territorialidades transfronteiriças entre as cidades de Foz do Iguaçu – Brasil, Puerto Iguazú- Argentina, e a conurbação de Ciudad del Este, Hernandárias, Puerto Presidente Franco e Minga-Guazú no Paraguai que compreendem a Tríplice Fronteira. Seja no aspecto interno, entre as polícias brasileiras, e internacionais, com as polícias da Argentina e Paraguai, surge como modelo, o Comando Tripartite - CT, instrumento de cooperação policial local, instituído em 1996 pelos Ministros da área de segurança pública destes países e em pleno funcionamento desde então. Para cumprir a pesquisa, propõem-se objetivos específicos que serão estudados em cada um dos capítulos decorrentes, derivados diretamente do objetivo principal de estudo: a) No primeiro capítulo, será apresentada uma proposta inicial de teoria geral do trabalho policial integrado nas regiões de fronteira, pelas teorias da interdisciplinaridade, com pressuposto de que cada polícia é uma disciplina a parte, com sua doutrina, formação, normas e objetivos próprios. Posteriormente apresentar-se-á a estrutura atual das polícias no Brasil, vistas como disciplinas mais estanques do que interdisciplinares, as iniciativas de integração nas atuações de fronteira a partir de 2011, como os Gabinetes de Gestão Integrada de Fronteiras (GGIF), a forma de integração utilizada nos grandes eventos esportivos e outros exemplos locais na região de Foz do Iguaçu/PR. Será exposta a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS) e o pretendido Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), previstos a partir da lei 13.675, de 11 de junho de 2018 e decreto nº 9.489, de 30 de agosto de 2018, além dos decretos sobre planos de segurança para as fronteiras nacionais, quais sejam os de números 7.496, de 8 de junho de 2011, posteriormente revogado pelo 8.903, de 16 de novembro de 2016. Será utilizada a pesquisa bibliográfica, a fim de estabelecer um suporte teórico para a pesquisa, e a experiência pessoal do autor, enquanto Chefe da Delegacia da Polícia Federal de Foz do Iguaçu, de junho de 2015 a dezembro de 2018 e coordenador do CT pelo Brasil no mesmo período, circunstâncias que 15 levaram o autor a ter uma relação de proximidade e de contato direto com o tema da pesquisa, qual seja, a cooperação policial em regiões de fronteira, no aspecto local e global. b) No capítulo dois, a proposta é identificar e demonstrar a estrutura de criação, gestão, funcionamento e alguns resultados do CT, no período de 1996 a 2018, como exemplo de organismo de cooperação policial local em regiões de fronteira e modelo que pode ser disseminado para outras áreas e demonstrar algumas dificuldades à cooperação policial nas fronteiras. A pesquisa destaca a possibilidade da troca ágil de informações policiais, mediante auxílios diretos sem a necessária participação de órgãos centrais na transmissão de documentos e informações. Não se pretende negligenciar e desmerecer o papel dos órgãos centrais nas cooperações policiais, e sim dar o máximo de agilidade e resultado às cooperações nas fronteiras, sem prejuízo de registro estatístico e consulta dos resultados pelos órgãos hierarquicamente superiores. Como caminho metodológico, utilizar-se-á o estruturalismo, que consiste na reflexão constante das relações humanas com o meio social, com a natureza e, especificamente, com as fronteiras. Uma reflexão que cria representações sobre essas relações. Por exemplo, ao se afirmar que é necessário ver as fronteiras entre os países mais como lugares e regiões de encontro do que como espaços de limites, de fim, de término, procura-se estruturar uma forma de pensar o fenômeno, uma ideia sobre o tema, com a fixação de uma visão de mundo, uma tomada de decisão, um ponto de partida (Richardson, 2012, p.38): Utilizar-se-á, preponderantemente, o estruturalismo, mas não apenas ele. Não se pode esquecer, como método, os aspectos históricos de evolução das cooperações policiais. A pesquisa perpassa uma ótica do local ao global, com emprego pontual do método dialético, ponderando-se, necessariamente, a evolução histórica dos conceitos, e o inexorável movimento das dinâmicas policiais nas fronteiras. c) Finalmente, no terceiro capítulo, será apresentado exemplo de atuaçãointegrada de polícias para fronteiras a partir de um estudo de caso específico enfrentado pelo CT: o caso PROSEGUR de abril de 2017, em que criminosos realizaram audaciosa ação delituosa na empresa de guarda e transporte de 16 valores em Ciudad del Leste, no Paraguai, subtraindo mais de 11 milhões de dólares. O estudo de caso visa descrever circunstâncias que corroboram a teoria apresentada. Parte da ação criminosa à resposta policial, cujo sucesso parcial, com prisões, confrontos e recuperação de valores subtraídos foram potencializadas pelo entrosamento das equipes policiais brasileiras, paraguaias e argentinas nos primeiros dias após os crimes. Num segundo momento, o estudo de caso demonstrará a aplicabilidade de uma das hipóteses suscitadas para a pesquisa: que as cooperações policiais nas fronteiras devem estabelecer-se localmente, sem necessidades de acionamento dos órgãos centrais dos países envolvidos, a não ser, posteriormente, pós-cooperação, com a finalidade de controle estatístico e revisão. O estudo de caso, conforme Yin (2015, p.17) “é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo (o ‘caso’) em profundidade e em seu contexto de mundo real”. Para viabilizar o estudo, serão analisados, a partir de autorização e ações judiciais, além dos inquéritos policiais instaurados pela Polícia Federal em Foz do Iguaçu para a investigação dos fatos, ações penais decorrentes e as trocas de provas e informações realizadas direta e localmente entre autoridades do Brasil e Paraguai a partir do marco de cooperação do CT. A questão norteadora da pesquisa é, portanto: como estabelecer princípios para o trabalho policial integrado nas regiões de fronteira, com base na experiência da Tríplice Fronteira, de forma a possibilitar maior rendimento e efetividade nas ações conjuntas? E como afastar barreiras ao trabalho policial integrado nessas mesmas territorialidades? Como hipóteses para responder aos questionamentos, afirma-se que a falta de integração policial e do sistema de justiça criminal favorece a expansão do crime organizado. Exemplo geral foram os ataques de 11 de setembro de 2001 em que várias agências norte-americanas não conseguiram interagir de forma adequada, com favorecimento à ação de terroristas em solo norte americano. 17 Posteriormente ao evento terrorista, os Estados Unidos da América-EUA investiram em fusion centers1 capazes de permitir, ao menos em tese, a troca imediata de informações e a convivência constante e diversa de vários atores de segurança e inteligência que antes pouco se encontravam e nada ou muito pouco compartilhavam de informações e conhecimentos. A cooperação se dá a partir do encontro e da disposição em enfrentar desafios conjuntos. Incentivar estas relações humanas é permitir o reconhecimento das diferenças, singularidades, similaridades, favorecer a criação de redes de comunicação e de colaboração. O desafio é buscar redes horizontais que permitam colaborações constantes e integradas, ao invés de redes verticais - hierárquicas e vinculadas a órgãos centrais - que representam barreiras à passagem do conhecimento e da colaboração. Para Raffestin (1993, p.204): A rede é proteiforme, móvel e inacabada, e é dessa falta de acabamento que ela tira sua força no espaço e no tempo: se adapta às variações do espaço e às mudanças que advêm no tempo. A rede faz e desfaz as prisões do espaço, tornado território: tanto libera como aprisiona. É o porquê de ela ser o ‘instrumento’ por excelência do poder. Rafestin prossegue com o pensamento de enquanto um “sistema de linhas que desenham tramas”. As redes podem ser abstratas ou concretas, invisíveis ou visíveis, podem assegurar a comunicação, mas também desenhar limites ou fronteiras. (op.cit, p.156) Como limitadores de ação têm-se redes como muros, barreiras e cercaduras, como nos casos de redes verticais, das fronteiras imateriais representadas pelas paquidérmicas burocracias e pelas distâncias dos centros de decisão política estatais, localizados nas capitais dos Estados Nacionais, que percebem as fronteiras como bordas finais do território, zonas de amortecimento, 1Centros de fusão ou fusion centers, como sugere o nome, são locais em que profissionais de segurança, inteligência e até mesmo de defesa civil, coletam, analisam, consolidam e difundem informações relevantes para a segurança pública preponderantemente de forma pró-ativa, buscando evitar eventos criminosos. Nasceram, na formação atual, nos Estados Unidos da América após os atentados terroristas de setembro de 2001. Conforme o Sumário Executivo para fusion centers, publicado conjuntamente pelo Departamento de Justiça e de Segurança Interna do EUA, consistiria em um “[...] um mecanismo eficaz e eficiente para trocar informações e inteligência, maximizar recursos, simplificar operações e melhorar a capacidade de combater o crime e o terrorismo, mesclando dados de várias fontes. https://web.archive.org/web/20071219192546/http://it.ojp.gov/documents/fusion_center_executiv e_summary.pdf (em 06/08/2018). 18 distantes e marginalizados naturalmente dos fóruns estratégicos e das decisões políticas. Para esta pesquisa, toma-se a noção de redes horizontais como contato, enlace, colaboração entre pessoas, notadamente profissionais de segurança pública. Os profissionais precisam estabelecer vínculos de colaboração e de compartilhamento de meios e informações para tecer redes imateriais capazes de permitir um maior controle das fronteiras. Controles que não impeçam o desenvolvimento e o fluxo de bens, pessoas e investimentos. As redes horizontais, formadas a partir das dificuldades nas fronteiras, servem de reação às redes verticais, representadas pela excessiva burocracia regulamentar, que engessa e dificulta o real controle integrado das áreas de fronteira, emanadas dos centros de decisão política e de acordos regionais como do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) que dificilmente são incorporados aos ordenamentos jurídicos, que será tratado na parte dedicada às dificuldades nas cooperações fronteiriças, no item 2.4. Competências, circunscrições e territórios, decomposições do vetusto conceito de soberania, não podem ser considerados impeditivos ao agir integrado. O crime organizado se fortalece nos espaços vazios do poder Estatal que nas fronteiras atua de forma desarticulada, desconfiada e burocratizada com vizinhos que há tempos não representam mais ameaças, como na época em que ainda se discutiam limites territoriais ou cicatrizes de guerras ainda recentes. A ameaça atual são as organizações criminosas transnacionais que se movimentam sorrateiramente nas grandes sombras dos Estados lentos e rapidamente ameaçam suas estruturas e democracias com a lavagem de ativos e corrupção decorrentes de crimes como tráficos de pessoas, drogas, armas, munições, contrabando e descaminho. Será possível constatar a necessidade da criação de incentivos, diretrizes e simplificações legislativas para favorecer as atuações integradas entre as polícias locais nas áreas de fronteira, seja no aspecto local como global, da mesma forma como feito nas universidades para aproximar a pesquisa disciplinar de um viés e perspectiva interdisciplinar. A motivação desta pesquisa decorre da inexistência de estudos anteriores sobre a formação e resultados do CT, o que a torna inédita. À exceção de artigo preliminar que publiquei no ano de 2016 e que serviu de inspiração para o 19 prosseguimento dos estudos (BORDIGNON, 2016), não havia bibliografia específica sobre o CT, em parte pela dificuldade de se obter material para pesquisa sobre o tema. Essa dificuldade foi superada, na pesquisa, pela possibilidade de acesso às Atas de formação e das reuniões posteriores do CT, que compilei e estudei por ser o coordenadordo CT pelo Brasil e Chefe da Delegacia da Polícia Federal em Foz do Iguaçu. A maioria das atas tem informações sigilosas e, portanto, não poderia ser disponibilizada facilmente para outro pesquisador, face aos riscos de exposição de dados sobre investigados, situação que deve merecer a proteção do Estado. Como coordenador, pude, ao mesmo tempo, refletir e atuar sobre o objeto de pesquisa, imediatamente o CT e mediatamente todas as ações que envolveram as cooperações policiais locais, no âmbito local e internacional. Nasci em uma cidade da Faixa de Fronteira, em Palmas, Estado do Paraná. Lá vivi até os quinze anos de idade, percebi os impactos do contrabando e descaminho no comércio regular da região. Posteriormente, como profissional de segurança pública, desde 2002, na função de Delegado de Polícia Federal, atuei em localidades de fronteira, na região Norte do Brasil, em Rondônia: Porto Velho, Guarajá-Mirim e Costa Marques. No Paraná em Paranaguá, Catanduvas, Cascavel e Foz do Iguaçu. Identifico constantemente, na atividade profissional, a necessidade de articulação e integração das forças de segurança pública e do próprio sistema de justiça criminal. Percebi que há pouca doutrina sobre a cooperação local e que as forças policiais e o sistema de justiça criminal no Brasil e nas suas fronteiras trabalham de forma estanque e compartimentada. Algumas exceções que verifiquei ao longo dos anos no caminho de uma atuação integrada, deveram-se mais à liderança de algumas autoridades e equipes do que a um esquema prévio, políticas ou doutrinas que efetivamente favorecessem e incentivassem a cooperação, a coordenação e convergência de forças em prol do aprimoramento da segurança pública e controle das fronteiras. No âmbito das atuações internacionais, constatei um acanhamento na formação de redes de cooperação locais, minimamente formalizadas, principalmente nas bordas fronteiriças, nas regiões propriamente de fronteiras, 20 com criação de cooperações locais interdisciplinares, mediante união de policiais dos países que nas fronteiras se encontram. Mesmo com o excelente exemplo de organizações policiais internacionais, de cooperações policiais regionais e mundiais, como a Comunidade de Polícias das Américas – (AMERIPOL), o Serviço Europeu de Polícia – (EUROPOL) e a Organização Internacional de Polícia Criminal – (OICP/ INTERPOL), ainda são incipientes e pouco organizadas as cooperações policiais locais, formadas a partir das equipes policias das cidades gêmeas e regiões fronteiriças no mundo. No caso da Tríplice Fronteira de Argentina, Brasil e Paraguai percebem- se um movimento contrário. Já existe e atua desde 1996 uma organização formal de cooperação policial internacional, de âmbito local, denominado Comando Tripartite. No Brasil, a partir da publicação, em 2011, do decreto que instituiu a denominada Estratégia Nacional de Fronteiras (ENAFRON),2 a palavra integração passou a ser proferida como mantra e solução para resolver os problemas relacionados à segurança das fronteiras brasileiras e para solucionar a crise de segurança pública que assola o país. Mas como estabelecer procedimentos e princípios para um efetivo trabalho policial integrado nas regiões de fronteira, tomando como paradigma a experiência na Tríplice Fronteira? Como fazer as polícias cooperarem mais no mister de aprimorar a segurança de todos? Como afastar barreiras ao trabalho policial integrado nestas regiões de fronteira? Estas são as principais perturbações e questionamentos que se pretendem responder nesta pesquisa, com base na interdisciplinaridade como contraposição ao isolacionismo disciplinar que norteia, para além da academia, a atuação policial. A pesquisa surge da constatação pragmática sobre a necessidade de articular melhor as ações policiais nas fronteiras do Brasil. 2Decreto 7.496 de 8 de junho de 2011. Resumidamente, a estratégia pode ser consultada via http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes- permanentes/credn/audiencias-publicas/2011/acompanhar-e-esclarecer-as-acoes-e- dificuldades-encontradas-para-prover-a-devida-protecao-as-fronteiras-brasileiras- 1/apresentacao-enafron. 21 Com o resgate histórico da atuação do CT em seu processo de cooperação e integração, com transversalidade no fenômeno da interdisciplinaridade e resposta para uma teoria de ações integradas passível de aplicação nas ações policiais em fronteiras. Essas inquietações iniciaram-se em 2015 quando fui designado para assumir a Chefia da Delegacia da Polícia Federal em Foz do Iguaçu, a maior unidade da Polícia Federal no interior do Brasil com a fronteira terrestre mais dinâmica de todas elas. A vivência me fez conhecer e integrar o Comando Tripartite, vez que desde os primórdios deste instrumento de cooperação internacional local, a Polícia Federal em Foz do Iguaçu exerce a representação e coordenação brasileira do grupo, alternadamente com Argentina e Paraguai. Surpreendi-me com a formatação do Comando, agilidade na troca de informações com Argentina e Paraguai e regularidade nas suas reuniões que, na época, aconteciam na razão de duas por mês e, atualmente, foram ampliados para três encontros mensais. Recordei-me de uma experiência anterior, quando nos idos de 2003, logo que tomei posse no cargo de Delegado de Polícia Federal, com lotação em Porto Velho/RO, atuei alguns meses na Delegacia de Polícia Federal de Guajará Mirim/RO, fronteira com a Bolívia, sem que sequer tenha travado qualquer conhecimento ou compartilhado informações com policiais daquele país. Percebi também, durante a Chefia exercida em Foz do Iguaçu, que me reunia mais com as Polícias de Argentina e Paraguai do que com os órgãos de segurança do Brasil e passei a incentivar encontros internos via Câmara Técnica de Segurança do Gabinete de Gestão Integrada de Fronteiras – GGIF, para as polícias Brasileiras na Tríplice Fronteira. Internamente, no âmbito das polícias brasileiras, sempre testemunhei dificuldades de efetivos e meios e, recentemente, a partir de 2011, com a Estratégia Nacional de Fronteiras e a publicação do decreto 7.496 de 8 de junho de 2011, passei a ouvir insistentemente o discurso da integração entre as polícias como forma de vencer o crime organizado no Brasil. Ocorre que o discurso da integração, por mais que seja importante e decisivo para fazer frente aos desafios de segurança pública no Brasil, e quiçá no mundo, ainda é um discurso político-estratégico com pouca realização prática, por falta de uma metodologia adequada a ser transmitida e também por 22 carência de uma formação policial integrada/interdisciplinar, vez que as academias policiais têm grades curriculares diversas com doutrinas estanques para formação de profissionais específicos (Policiais Federais, Rodoviários Federais e Militares, por exemplo). A repartição das atribuições policiais feita na Constituição de 1988, formação isolada dos policiais em academias disciplinares e a ausência de uma doutrina para o policiamento integrado e pouco diálogo nas cúpulas de segurança no âmbito Federal, Estadual e Municipal, aliado a indefinições sobre uma política criminal passível de aglutinar esforços de todos os atores do sistema de justiça criminal forma o caldo profícuo para que a criminalidade organizada seja favorecida e amplie gradativamente os seus domínios territoriais e, inclusive, ultrapasse as fronteiras nacionais. Não se pretende a defesa de que todos os órgãos policiais façam tudo, do policiamento ostensivo/preventivo às atividades de investigação, vez que a especialização de saberes é um caminho sem volta tanto na ciência como nas atividades complexas que abrangem atividades de segurança pública. Pretende- se apenas demonstrar a necessidade e caminhos possíveis para atuaçõesconjuntas, compartilhamento de meios, saberes e doutrinas para a melhora do serviço de segurança. O sistema de seleção, formação e atuação das polícias não favorece a atuação cooperativa, a busca de convergências, o compartilhamento de meios e conhecimentos, mas, ao contrário, favorece a competição, atritos, divergências e duplicação de esforços e retrabalho. A concepção de redes é tal como os sistemas de teias, capaz de criar tramas, como fazem as aranhas, por exemplo. As redes policiais que agem nas fronteiras tecem tramas frouxas, fracas e pouco abrangentes, incapazes de prender, principalmente nas bordas territoriais, nos limites entre os países. O crime organizado sabe disso e explora esse vácuo de poder e ação. Nesses espaços, nessas sombras, criam-se alguns refúgios para a criminalidade que vai além da obra tosca e que, na dificuldade do empreendimento delituoso e na busca de maiores lucros, tecem tessituras mais amplas às policiais. Portanto, além das fronteiras físicas, políticas e culturais entre os países, há diversas fronteiras disciplinares e imateriais entre as forças de segurança 23 pública que atuam no Brasil, como Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Civil (PC), Polícia Militar (PM) e Guardas Municipais (GM), e destas com as congêneres eventuais nos países vizinhos. O principal vértice desta pesquisa será o modo de ultrapassar essas fronteiras imateriais que dificultam o agir integrado e convergente das forças de segurança pública em regiões de fronteira, bem como as fronteiras materiais (geográficas, territoriais), como paradigma a Tríplice Fronteira e o CT. A partir do ingresso no Mestrado interdisciplinar em Sociedade, Cultura e Fronteiras na Universidade do Oeste do Paraná – (UNIOESTE), em 2016 como aluno especial e com a proposta de pesquisa interdisciplinar e autores que trabalham com o tema. Percebi que a mesma dificuldade existente na academia podia ser projetada para a área de segurança pública, qual seja a formação ou formatação disciplinar das polícias como empecilho para, mais adiante, permitir uma atuação integrada, ou interdisciplinar, entre os órgãos de segurança. Além das dificuldades de integração entre as forças de segurança pública, há também a ausência de diálogo entre outros importantes agentes do sistema de justiça criminal, como Ministério Público, Justiça, Advocacia e Agentes prisionais. A pouca articulação do que deveria ser um sistema de justiça criminal favorece tremendamente a verdadeira epidemia de insegurança no Brasil, que começa pela falta de uma política de segurança e desenvolvimento para as imensas fronteiras nacionais, passa pelo desencontro entre as polícias e o sistema de justiça e, finalmente, por negligências na execução das penas e gestão do sistema prisional. Isto favorece os desanimadores índices de segurança pública no Brasil, com 30,3 homicídios por 100.000 habitantes e 62.517 homicídios em 20163. Internacionalmente, as cooperações policiais em regiões de fronteira entre países são desafios constantes para os Estados Nacionais. Tradicionalmente, as atuações das polícias ocorrem dentro de cada território 3Dados constam do Atlas da Violência 2018, publicado pelo IPEA e Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_institucional/180604_atlas _da_violencia_2018.pdf 24 nacional onde o Estado exerce seu poder soberano de ditar as normas e aplicar a lei. A criminalidade transnacional não atua dentro dos limites territoriais e transcende, com maiores facilidades, os limites formais. O crime não observa fronteiras ou barreiras e, ao contrário, percebe uma proteção para fugir à persecução penal de autoridades de um dado país que, normalmente, sofrem severos embaraços para obter e realizar investigações conjuntas com os países vizinhos. A pesquisa demonstrará esta realidade pouco colaborativa, disciplinar e isolacionista das forças de segurança pública, bem como de todo o sistema de justiça criminal no Brasil, e delineará paralelos com o que ocorre nos sistemas de pesquisa disciplinar nas universidades. Nas Academias, profissionais com uma determinada formação têm severas dificuldades de atuar em pesquisas e desenvolvimentos complexos pela falta de uma formação e olhar interdisciplinar desde as cadeiras de formação, com reflexos nas dificuldades de um olhar para além das lentes estanques da formação ou “formatação” disciplinar de um conhecimento extremamente cartesiano. A pesquisa busca na interdisciplinaridade, nos conceitos de redes e na cooperação o amálgama teórico e prático para a construção constante de uma exegese e práxis para o trabalho policial, tanto local como internacional, vez que a fundamentação finalística é a mesma, qual seja: a necessidade de cooperação para superar os desafios da criminalidade transnacional. Nesta pesquisa será apresentado o funcionamento do modelo de cooperação policial local existente na Tríplice Fronteira, de forma a possibilitar seu conhecimento amplo para eventuais replicações e adaptações do modelo de cooperação para outras localidades de fronteira. Sugerir formas de integração e de como remover e afastar barreiras e facilitar o trabalho de cooperação policial, com exemplo de convergência existente na área fronteiriça entre a Argentina, Brasil e Paraguai, seja no aspecto interno (país) como no externo (países). A pesquisa será relevante para apontar caminhos, práticas e referenciais teóricos passíveis de fortalecer a integração e a segurança pública nas áreas de fronteira, com reflexos concretos na segurança dos grandes centros urbanos, 25 desenvolver um estudo que, resgata a história do CT, reflete sobre possibilidades concretas de integração, coordenação e convergências no trabalho policial para além das fronteiras. O homem, de uma forma geral, gosta de ultrapassar fronteiras, desafiar limites, superar desafios, ir além. E quando chega para além do horizonte conhecido, alegra-se com a conquista, regozija-se com ela, brinda o novo patamar, conta histórias e estórias sobre a meta alcançada e, passado o momento inicial e decorrências, lança inquietamente seu olhar na busca de novos e mais distantes limites para ultrapassar. Como filho de um universo em expansão o homem, evolui, faz perguntas e busca respostas. Essa relação de limites e superações é bem consignada pelo professor e geógrafo Raffestin (1993, p.165): Diariamente, em todas as fases de nossa existência, somos confrontados com a noção de limite: traçamos limites ou esbarramos em limites. Entrar em relação com os seres e as coisas é traçar limites ou se chocar com limites. Toda relação depende da delimitação de um campo, no interior do qual ela se origina, se realiza e se esgota. O limite é uma criação humana; o traço provisório e fugidio, e serve tanto para mostrar até aonde se foi, de forma a demarcar o porvir, como também para dar distância e margem a uma ameaça, receio, medo ou desconhecimento do que vem além, ou de quem está logo ali, nos limites daquele vale, no depois daquele horizonte, no ultrapassar daquela cerca. E é a dúvida sobre o que vem para além da visão humana que leva o homem a ir sempre adiante, como irrequieto protagonista de suas dúvidas, aflições, temores e desenvolvimentos. Mais adiante Raffestin destaca que os limites foram feitos para serem suplementados: O limite, a fronteira a fortiori, seria assim a expressão de uma interface biossocial, que não escapa à historicidade e que pode, por consequência, ser modificada ou até mesmo ultrapassada. (RAFFESTIN, 1993, p. 164-165). Os limites, para o homem, sempre foram desafios para superar, um novo ponto de partida, novas barreiras a ultrapassar. E nesta pesquisa incessantede buscar novos horizontes, o ser humano adota um misto de competição e 26 colaboração. Compete-se com o meio e com outros seres vivos, para melhor realização de anseios e ambições diversas e se colabora, em sociedade, para alcançar alguns objetivos comuns. Como exemplos dessa busca para superação de novos limites pode-se citar os “descobrimentos” do novo continente americano a partir do século XV, quando povos da Europa ultrapassaram limites do atlântico e chegaram à América. A chegada à lua no século XX também pode representar este flerte constante do homem com seus limites no mister de vê-los estabelecidos, reconhecidos e superados. A globalização também representa a relatividade dos limites, com reflexos tanto comerciais como culturais e criminais, pois a reboque de um maior liberalismo nas relações comerciais entre os países também segue o incremento do comércio ilícito entre territórios, para além das suas fronteiras formais. Essas características de competição e colaboração podem ser vistas no aspecto individual e social. O indivíduo compete com outros indivíduos por melhores meios, recursos e destaque, ao passo que as sociedades também disputam com outras sociedades por insumos, espaço, tecnologias e recursos para melhor prover os seus. Dificuldades momentâneas ou constantes são um dos amalgamas que levam à cooperação. Historicamente os seres humanos reúnem-se ou não dependendo do grau de dificuldades impostas pelo meio, por predadores naturais, guerras ou calamidades. Essas reuniões e cooperações formaram tanto sociedades sem Estado (Clastres, 1978), sociedades feudais e os Estados Nacionais. Nestes últimos, a noção de territorialidade e soberania fortaleceu a noção de fronteiras, fixaram nacionalidades e, ao mesmo tempo, dificultaram a colaboração entre os povos separados. A criminalidade transnacional confronta os Estados e coloca em cheque a soberania destes próprios entes, pois atua nas dificuldades de integração das forças de segurança, nas bordas de seus territórios, uma das fragilidades mais exploradas. Ocorre que criminalidade organizada não se enfeixa em vetustos conceitos de soberania. Consegue movimentar-se de forma mais flexível e célere sobre territórios e cruzar fronteiras sem praticamente reconhecer 27 diferenças entre um ou outro país. Em contrapartida, os Estados Nacionais criaram diversas amarras ao trânsito ágil de seus agentes policiais, dificultaram a atuação integrada entre as instituições de segurança, nas áreas de fronteira entre países, circunstâncias que facilitam a atuação da criminalidade organizada nas bordas territoriais, nos cantos menos iluminados pela colaboração entre os países. A criminalidade organizada transnacional trabalha com uma métrica de comércio exterior, de globalização do ilícito e multiplicação de lucros, de encobrimento nos meandros de Estados Nacionais pouco articulados em suas investigações. É importante pontuar uma comum diferenciação entre limite entre países, ou a linha de fronteira propriamente dita, quando efetivamente está cruzada a linha de soberania entre Estados Nacionais e a faixa ou região de fronteira normalmente mais alargada do que a simples linha de limite. A Faixa de Fronteira do Brasil já teve dimensões de 66 km, passou para 100 km e, com a última alteração, de 1979 remanesce em 150 km.A dinâmica está resumida nos estudos do Governo Federal para o desenvolvimento das fronteiras nacionais: Sob o governo de Dom Pedro II a largura estabelecida foi de dez léguas ou 66 quilômetros. Desde então, a extensão da Faixa de Fronteira foi sendo alterada, primeiramente para 100 e nos anos trinta para 150 quilômetros, permanecendo até hoje. A Constituição de 1988 avalizou essa disposição que manteve o ideal focado na defesa territorial. A Lei nº 6.634, de 1979, ainda persiste como a referência jurídica sobre a Faixa de Fronteira, que corresponde a aproximadamente 27% do território Nacional com 15.719 km de extensão. Abriga cerca de 10 milhões de habitantes de 11 estados Brasileiros, e lindeia a 10 países da América do Sul. (BRASIL, Ministério da Integração Nacional, 2017, p. 9). A legislação sobre a Faixa de Fronteira do Brasil, considerada como área indispensável à Segurança Nacional, de 150 km de largura, paralela à linha divisória terrestre do território nacional4 dedica preocupação com a segurança 4A definição legal encontra-se no art. 1º da lei 6634/79. Como a pesquisa versa sobre a Tríplice Fronteira, cumpre assinalar que o Paraguai considera como faixa de fronteira a região de 50 km a partir das linhas de fronteira terrestre e fluvial, conforme artigo 1º da lei 2.532/2005. A Argentina, por sua vez, a partir da lei 15.385/1944 criou Zonas de Segurança, dividida em Zonas de Segurança de Fronteiras e Zonas de Segurança do Interior. A extensão destas zonas depende de ato do Poder Executivo, no máximo 150 28 nacional e impõe várias restrições ao desenvolvimento da área, conforme se vê, no Art. 2º. - Salvo com o assentimento prévio do Conselho de Segurança Nacional, será vedada, na Faixa de Fronteira, a prática dos atos referentes a: I - alienação e concessão de terras públicas, abertura de vias de transporte e instalação de meios de comunicação destinados à exploração de serviços de radiodifusão de sons ou radiodifusão de sons e imagens; II - Construção de pontes, estradas internacionais e campos de pouso; III - estabelecimento ou exploração de indústrias que interessem à Segurança Nacional, assim relacionadas em decreto do Poder Executivo. IV - instalação de empresas que se dedicarem às seguintes atividades: a) pesquisa lavra exploração e aproveitamento de recursos minerais, salvo aqueles de imediata aplicação na construção civil, assim classificados no Código de Mineração; b) colonização e loteamento rurais; V - transações com imóvel rural, que impliquem a obtenção, por estrangeiro, do domínio, da posse ou de qualquer direito real sobre o imóvel; VI - participação, a qualquer título, de estrangeiro, pessoa natural ou jurídica, em pessoa jurídica que seja titular de direito real sobre imóvel rural; As restrições não contribuem para a melhora das condições de segurança da Faixa de Fronteira e representam, de forma clara, uma concepção antiga desta como uma área de amortecimento da linha de fronteira propriamente dita, de limite com países vizinhos. Representa também a concepção de que os países vizinhos pudessem ser um desafio à soberania Estatal, vendo os estrangeiros como “estranhos”. A concepção sugere a fronteira como limite, como fim e não como lugar de encontro de povos, de convivência e reconhecimento da diversidade. A visão obsoleta que destaca o estranhamento e a suspeição do outro, do vizinho, do forasteiro, coloca a Faixa de Fronteira como área de segurança especial, com restrições diferenciadas ao restante do território nacional, representa uma noção antiga, derivada de momentos históricos em que as questões territoriais no Brasil ainda não estavam definidas, e pouco contribuiu para que a extensa área de fronteira nacional mereça o desenvolvimento condizente com a sua pujança. km, na fronteira terrestre, 50 km na fronteira marítima e 30 km nas zonas de segurança no interior. 29 Vargas (2017), na obra Formação das Fronteiras Latino-Americanas, classifica essa noção de fronteira, como limite de território, ligada ao conceito etimológico que representaria a praça fortificada defronte ao inimigo. Nessa concepção, o significado de fronteira seria carregado de desconfiança, medo, temor do outro, daquele que vem além, sendo a região um local de amortecimento, que não deve ser desenvolvido para não vulnerar o Estado Nação quando de uma possível guerra. Vargas, apresenta umaconcepção de fronteira como lugar, como espaço para além da ideia de simples limite territorial, como: Um lugar, um espaço vivenciado em comum pelas pessoas de uma comunidade fronteiriça em suas atividades cotidianas de trabalho, lazer, estudo, convívio familiar, negócios. (VARGAS, 2017, p.44). Para esta pesquisa, a proposta é ver as fronteiras como espaços singulares de encontro entre povos, com a evolução da ideia de fronteira para além da visão de uma área territorial de limite, típica das teorias jurídico-políticas, e vê-la como transbordante, como uma territorialidade transfronteiriça de integração, contato e desenvolvimento. Fronteiras são espaços de contato e trocas, e esses encontros e aproximações podem levar a tensões, atritos e conflitos. Permitem complementações, alianças e colaborações que promovem ganhos recíprocos àqueles que, a partir dos contatos e diferenças, reconhecem possibilidades de convergência e coordenação, pela interdisciplinaridade, em que conhecimentos distintos dialogam. As fronteiras entre os países sempre foram transbordantes e, atualmente, ainda mais em face das atividades comercial, de turismo e migração existente entre os povos, mormente após o fenômeno da globalização. Esse novo dinamismo desafia as antigas ideias de soberania, de território e de fronteiras cerradas. O crime organizado transnacional não percebe os limites entre os países como problema e sim como oportunidade de suprir mercados ilícitos e de furtar-se à atuação estatal, pouco integrada. No desenvolvimento da pesquisa, mais do que controlar de forma absoluta o espaço fronteiriço, é mister, para aprimoramento da segurança de todos que nela habitam e no geral de todos os territórios nacionais impactados, que haja a possibilidade das forças de segurança transpor a fronteira de forma 30 regrada e dinâmica, sem maiores burocracias, de forma a dificultar a eclosão de comércio irregular e de riscos crescentes à segurança pública dos países. Nos delitos de descaminho, a principal motivação é o lucro decorrente de diferenças de tributação de produtos de um país para outro, de um lado e do outro das fronteiras nacionais. As diferenças de tributação de produtos nos territórios de Argentina, Brasil e Paraguai, principalmente na questão atual do tabaco, criou um campo vasto para sedimentação de uma criminalidade organizada que se ancora, principalmente, na falta de uma visão mais tributária do que criminal para a solução do problema do contrabando e descaminho5. É necessário que haja uma unificação real de mercados, o que se pretende como desiderato para o MERCOSUL, para parte da América do Sul, já alcançado pela União Europeia - UE. Na obra de Vargas, vem a ideia de estranhamento e entranhamento, para distinguir, respectivamente as concepções de fronteira como limite ou como lugar: Se por um lado o sentido de limite do território explicita uma função desagregadora da fronteira, caracterizada pelo distanciamento e pelo ‘estranhamento’ em relação ao outro, por outro lado a ‘nova’ acepção estabelece a fronteira como um lugar, como um espaço de convívio de uma comunidade imaginada, evidenciando certa função gregária da fronteira em um tipo distinto de relação com a alteridade, marcada pela aproximação e pelo ‘entranhamento’ do outro. (VARGAS, 2017, p. 44). Essa conceituação de entranhamento é semelhante a uma concepção de convergência ou até mesmo de fusão, correspondente, na visão da professora Olga Pombo (2008), respectivamente, às ideias de interdisciplinaridade e 5Sobre a questão tributária que incentiva a problemática “endêmica” do contrabando de cigarros paraguaios para o Brasil, tem-se o estudo “A Lógica Econômica do Contrabando” do Instituto de Desenvolvimento Social e Econômico de Fronteiras - IDESF, disponível no site <www.idesf.org.br> No estudo demonstra-se a necessidade urgente de reforma do complexo modelo tributário brasileiro, cujo sistema arrecadatório representa, conforme a pesquisa, um “tributo ao contrabando”. Demonstra-se também que a criação de uma linha popular de cigarros brasileiros, com diminuição de impostos, poderia fazer frente à invasão do contrabando de cigarros, mantendo-se ou até mesmo ampliando-se a arrecadação de tributos, vez que, atualmente, cerca de metade do mercado de cigarros no Brasil é clandestino e abastecido de cigarros paraguaios, que não sofrem tributação e têm preços mais competitivos e qualidade inferior. 31 transdisciplinaridade que serão empregadas adiante como fundamentação teórica à integração do trabalho policial nas fronteiras, o principal objetivo desta dissertação. A atuação policial nas áreas de fronteira deve partir do pressuposto de que merece ser feita de forma convergente, como uma territorialidade comum em que os esforços de segurança devem ser compartilhados com os países que se encontram, e não como um limite cerrado ao trabalho policial. Mesmo por que o crime, os atos e delitos são praticados de forma de cooperação transfronteiriça. O estranhamento e a falta de encontro e cooperação entre as polícias são situações que só favorecem a disseminação de organizações criminosas que buscam guarida nas fronteiras estanques de Estados Nacionais rígidos, com polícias pouco articuladas e integradas entre si. Tal fenômeno traz sérios riscos para a soberania dos Estados Nacionais, pois em algumas parcelas de seus territórios a aplicação das normas, fornecimento de serviços, segurança e a solução de conflitos são capitaneados por tais organizações que, paulatinamente, vão soçobrando as instituições, infiltrando-se nestas pelo processo eleitoral e até mesmo na via de concursos públicos. O território, fronteiriço ou não, é o lugar essencial em que o homem materializa sua obra. Semelhante à tela para o pintor, lugar onde cristaliza a sua arte, o território é o lugar de manifestação e desenvolvimento de povos, comunidades e nações. Milton Santos refere ao território como: O lugar que desembocam todas as ações, todas as paixões, todos os poderes, todas as forças, todas as fraquezas, isto é, onde a história do homem plenamente se realiza a partir das manifestações da sua existência. (2007, p. 13). A diferença entre espaço e território é a conotação jurídico-política que se dá à territorialidade em contraposição ao sentido geral, mais abrangente da noção de espaço. Claude Raffestin (1993, p. 2) distingue-os apontando o espaço como prévio e o território como uma delimitação humana do espaço dado, anterior. Para o autor “O espaço é a ‘prisão original’, o território é a prisão que os homens constroem para si”. 32 Especificamente para o caso da movimentada fronteira entre Argentina, Brasil e Paraguai, denominada como tríplice fronteira, no encontro entre seis cidades: de Foz do Iguaçu – Estado do Paraná – Brasil; Puerto Iguazú – Província de Misiones –Argentina, e Ciudad del Este, Presidente Franco, Minga-Guazu e Hernandárias –Departamento de Alto Paraná – Paraguai. Estaárea de fronteira é extremamente dinâmica e populosa, cuja territorialidade foi construída ao longo de muitos anos em processos de sístole e diástole, de aproximações e afastamentos, de entranhamentos e estranhamentos, de sínteses e antíteses, enfim, de aproximações e distanciamentos que culminaram em uma dependência mútua entre os povos da fronteira para os quais a coexistência é fundamental ao desenvolvimento e melhora geral das condições territoriais. A fronteira, pois, é uma territorialidade interdisciplinar por excelência, lugar em que a diversidade se encontra, entrelaça-se, dialoga, discute, repele- se e funde-se. De todas as tríplices fronteiras da América Latina, a maior em área urbanizada e conurbada e dinamicamente articulada, começou nos fins dos anos de 1950,com a fundação de Puerto PresidenteStroessner, que mais tarde denomina Ciudad del Este. (Rabossi, 2011, p. 40)6 Conforme Cury, a “Tríplice Fronteira representa uma Territorialidade Transfronteiriça, uma convergência geográfica, histórica, cultural, política e comercial”. (CURY, 2010, p. 18). Pode-se agregar aos aspectos anteriores a segurança pública e cooperação policial, fundamentais para as demais. Para que a Tríplice Fronteira possa obter ainda maiores ganhos de emancipação, é mister maior união e convergência na área de segurança pública. Essa convergência pode ser representada no símbolo do encontro das águas do Rio Paraná e Iguaçu, estabelecido quase que em um raro ângulo reto da natureza e que une e delimitam os três países: Argentina, Brasil e Paraguai. Também, pelo compartilhamento de fronteiras, tanto para a geração de energia, caso da usina hidrelétrica de Itaipu, formada da união de Brasil e 6Trata-se de artigo “Como pensamos a Tríplice Fronteira” (p. 39-61) de FERNANDO RABOSSI. Capítulo 2 do livro “A Tríplice Fronteira: Espaços Nacionais e Dinâmicas Locais. Editora UFPR, 2011. Organizadores: Lorenzo Macagno, Silvia Montenegro e Verónica Giménez Béliveau. 33 Paraguai, como pela integração de Argentina e Brasil, na exploração turística das Cataratas do Rio Iguaçu e dos Parques Nacionais do Iguaçu. Busca-se, pois, comprovar que as ‘Territorialidades Transfronteiriças do Iguassu – TTI’, além de sua utilidade para as ações públicas e privadas de desenvolvimento do Turismo, adéqua-se para definir uma unidade socioespacial e geoeconômica, influindo na dinâmica social e política dos três países envolvidos. Resta, então, o uso linguístico de cada Nação, empregando-se, desde já, o TTI para as reflexões atinentes à integração territorial em análise. (CURY, 2010, p. 18) O lugar da pesquisa, a Tríplice Fronteira, é único, dinâmico e foco de preocupações constantes no tocante à segurança pública, com reflexos locais, regionais e até mesmo mundiais. Também representa um importante entreposto comercial para a América do Sul e o mundo: Na atualidade, as três cidades juntas somam mais de 500 mil habitantes. Se somadas as conurbações urbanas do lado paraguaio, entre Ciudad del Este, Presidente Franco, Hernandárias e Minga-Guaçu, que formam uma Região Metropolitana, a soma ultrapassa os 800 mil habitantes. (KLEINSCHMITT et all, 2013, p.04). No Estado do Paraná, a Tríplice Fronteira significa um importante pólo turístico e comercial. Caso seja considerada toda a região de fronteira do Paraná, que é a mais populosa do Brasil, ter-se-ia mais de dois milhões de habitantes7em 139 municípios, ocupando, aproximadamente, 35% do território do Estado (Segurança Pública nas Fronteiras: Relatório Final do Paraná8). Conclui-se que o Paraná tem cerca de 20% de toda a sua população residindo na região de fronteira. Os dados da Estratégia Nacional de Segurança Pública nas Fronteiras - ENAFRON informam que, nos 27% do território nacional que constituema 7http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes- permanentes/credn/audiencias-publicas/2011/acompanhar-e-esclarecer-as-acoes-e- dificuldades-encontradas-para-prover-a-devida-protecao-as-fronteiras-brasileiras- 1/apresentacao-enafron 8Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS); Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana (NECVU). 34 totalidade da fronteira brasileira, residiriam cerca de 5% de toda população, ou seja, 10 milhões de habitantes. Comparativamente, os 2.357.850 km² da área de fronteiras oeste do Brasil chegam próximos a todo o território da Argentina, que possui área de 2.780 400 km². Na Argentina, entretanto, a população é de aproximadamente 43 milhões de habitantes. A figura 1 ilustra o Estado do Paraná com destaque para a porção dos 139 municípios da Faixa de Fronteira: Figura 1. Municípios do Paraná e a Faixa de Fronteira Fonte: CAPE-PR - 2019 Por ser uma das nove tríplices fronteiras do Brasil,9 a fronteira de Argentina, Brasil e Paraguai é referência imediata e mundial quando se 9O Brasil tem nove tríplices fronteiras com: 1) Argentina e Paraguai (município de Foz do Iguaçu/PR); 2) Argentina e Uruguai (municípios de Uruguaiana e Barra do Quaraí/RS); 3) Bolívia e Paraguai (município de Corumbá/MS); 4) Bolívia e Peru (município de Assis Brasil/AC), 5) Colômbia e Peru (Atalaia do Norte/AM); 6) Colômbia e Venezuela (São Gabriel da Cachoeira/AM); 7) Venezuela e Guiana (Uiramutã/RR); 8) 35 menciona a região. A terminologia, segundo Rabossi (2004, p.24), foi empregada a partir de 1992 tendo em vista apontamentos sobre ação de grupos terroristas na região quando do atentado à Embaixada Israelense em Buenos Aires naquele ano. Na sua tese de doutoramento sobre Ciudad del Este, RABOSSI10 diz que, anteriormente, a região era cunhada como zona, área ou região das três fronteiras. A referência é tão robusta hoje que, de substantivo geral, a menção à Tríplice Fronteira sugere diretamente a confluência entre Argentina, Brasil e Paraguai, tornando-se nome próprio do local, motivo pelo qual se adota o termo Tríplice Fronteira em maiúscula para referir à localidade nesta obra. O substantivo próprio Tríplice Fronteira começa a ser usado para referir-se à confluência desses limites internacionais (...) forma de retratar a área caracterizada pela falta de controle do movimento pelos limites internacionais que teria favorecido o desenvolvimento de todas as atividades ilícitas mencionadas. (RABOSSI, 2004, p.24). Na obra em que analisa a Tríplice Fronteira no contexto do terrorismo, Arthur Bernandes do Amaral diz que, antes, na década de 90 do século passado “havia somente as três fronteiras de Brasil, Argentina e Paraguai – aquele algo plural” (AMARAL, 2010, p. 32). Gradativamente, as partes fundiram-se e o que antes era “as” três fronteiras, tornou-se “a”Tríplice Fronteira, uma transdiciplinaridade, uma fusão, aglutinação. O próprio conceito de Tríplice Fronteira – enquanto um novo corpo que transcende as partes que a compõem, sem negá-las – nasce intimamente relacionado a questões de segurança, mais especificamente ao terrorismo e outras dinâmicas de caráter inter e transnacional. (AMARAL, 2010, p. 33). Ver-se-á adiante que o CT surge a partir da preocupação com o terrorismo no cone Sul, notadamente a partir dos atentados de 1992 e 1994 em Buenos Aires. Guiana e Suriname (Oriximiná/PA); 9) Suriname e Guiana Francesa (Laranjal do Jari/AP). 10Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/262950/mod_resource/content/1/Rabossi.Nas% 20ruas%20de%20Ciudad%20del%20Este.pdf 36 Entretanto, não será escopo desta pesquisa a análise ou estudo do CT como unidade voltada para a prevenção à crimes de terrorismo, mas sim como relevante unidade de cooperação policial local que visa a troca de informações e auxílios mútuos para a prevenção e repressão de ilícitos transnacionais, dentre eles a lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, armas, munições, pessoas e o terrorismo. Esta dissertação está estruturada em três capítulos. O capítulo 1 versa sobre as polícias vistas como disciplinas e trata da interdisciplinaridade. Aborda a convergência nos trabalhos de integração de segurança pública, traz os conceitos, aplicabilidade relacionadas a política e ao sistema de segurança no Brasil. Ilustra sua relação com os eventos de um modelo e outros exemplos de cooperação integrada nas fronteiras. O capítulo 2 refere a uma abordagem que parte do local ao global sobre as cooperações policiais internacionais em áreas de fronteirase o Comando Tripartite como aspecto de cooperação penal internacional. O capítulo 3 descreve o estudo de caso dos crimes na empresa PROSEGUR em Ciudad del Este, faz uma referencia aos crimes transnacionais, as questões relevantes sobre o caso e a atuação das polícias de forma integrada e de cooperação na Tríplice Fronteira. A seguir as considerações finais e referências. 37 1 A FORMAÇÃO DE POLÍCIAS VISTAS COMO DISCIPLINAS Neste capítulo será apresentada a possibilidade de se utilizar do fenômeno da interdisciplinaridade como forma de possibilitar a integração dos trabalhos policiais. Serão discutidos os conceitos de multidisciplinaridade/pluridisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, como pressuposto que cada polícia é uma disciplina a parte, com sua doutrina, formação, normas e objetivos próprios. Posteriormente, para mensurar o tamanho do desafio, apresentar-se-á a estrutura atual das polícias no Brasil, com organização e viés eminentemente disciplinar, as iniciativas de integração nas atuações de fronteira a partir de 2011, como os Gabinetes de Gestão Integrada de Fronteiras (GGIF), a forma de integração utilizada nos grandes eventos esportivos como a Copa do Mundo de Futebol – Federação Internacional de Futebol – FIFA, 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016 no Brasil, e as ações e cooperações de segurança local na Tríplice Fronteira de Foz do Iguaçu/PR. Será exposta a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS) e o pretendido Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), previstos a partir da lei 13.675, de 11 de junho de 2018 e decreto nº 9.489, de 30 de agosto de 2018, além dos decretos sobre planos de segurança para as fronteiras nacionais, quais sejam os de números 7.496, de 8 de junho de 2011, posteriormente revogado pelo 8.903, de 16 de novembro de 2016. 1.1 INTERDISCIPLINARIDADE E A CONVERGÊNCIA NOS TRABALHOS DE SEGURANÇA PÚBLICA O movimento de interdisciplinaridade, em que pese a dificuldade de conceituação inequívoca do termo, é um exercício constante de volta à totalidade do homem, um retorno a casa na sua completude, uma retomada do humanismo. Com o iluminismo e a evolução dos estudos e métodos científicos, em maior escala a partir do século XVII na Europa, o conhecimento foi gradativamente cindido em disciplinas muitas vezes rigidamente delimitadas, a fim de permitir o mergulho fechado em aspectos cada vez mais singulares do conhecimento humano. Tal especialização gradativa permitiu formidáveis avanços nas 38 ciências, mas também fez o homem de ciência enfeixado nas suas especialidades. Desde René Descartes, no século XVII, com a obra O Discurso do Método, quando expõe os quatro preceitos básicos de seu método científico, diz, sobre a necessidade de “dividir cada uma das dificuldades que examinasse em tantas parcelas possíveis e que fossem necessárias para melhor resolvê-las (...)” (DESCARTES, 2005, p. 55). Era preciso dividir para estudar, classificar, categorizar, separar e com isso estabeleceram-se fronteiras e limites entre os saberes humanos, com formação de caminhos murados para viabilizar pesquisas cada vez mais pontuais e específicas. O foco era o singular, o individual. Buscava-se conhecer muito de pouco e, a partir do pouco, delimitar ainda mais particularidades para reiniciar o mergulho, como que para abrir um fôlego novo e, novamente mergulhar mais e mais profundamente. O homem focava cada vez mais o específico, flertava com o singular, e esquecia-se de olhar as paisagens e os conhecimentos que pairavam ao derredor da ciência estrita praticada, tal qual o piloto concentrado em uma corrida de alta velocidade, em que a rapidez não permite qualquer respiro de diletantismo ao condutor, que, mesmo percorrendo grandes distancias aprisionado na velocidade, nada sabe sobre os lugares e cercanias que percorreu. Fritjof Capra, quando traça paralelos entre o conhecimento racional (científico) e o intuitivo (místico) destaca que o conhecimento racional “deriva da experiência que possuímos no trato com objetos e fatos do nosso ambiente cotidiano. Ele pertence ao reino do intelecto, cuja função é discriminar, dividir, comparar, medir e categorizar” (CAPRA, 2011, p.40). Na ciência disciplinar, ao lado dos formidáveis avanços que proporcionou, muitas soluções perderam-se nos escaninhos estanques e nas fronteiras silenciosas das disciplinas sem diálogos ou encontros com outras doutrinas, conceitos, métodos e costumes. A ciência disciplinar encerrou-se em círculos restritos de conhecimentos extremamente especializados. O movimento da interdisciplinaridade vem propor um aumento de interação entre os escaninhos do conhecimento e os pesquisadores das mais diversas áreas, numa perspectiva de integração, convergência e 39 compartilhamento de saberes entre as inúmeras especialidades da ciência moderna. Pensar de forma interdisciplinar é ver a ciência como esporte coletivo, em que todo o jogador, na sua habilidade especial, contribuiu para o avanço e a vitória da agremiação. Assim é a perspectiva interdisciplinar para a segurança pública e cooperações em fronteira que se propõe. Um marco para o avanço do pensamento interdisciplinar, conforme Alvarenga et all (2011, p. 31) foi o primeiro Seminário Internacional sobre Pluri e Interdisciplinaridade sediado na Universidade de Nice na França em setembro de 1970, oportunidade em que é proposto, ao lado das terminologias pluri e interdisciplinaridade, o termo transdisciplinaridade. Conforme os autores citados: Esses três termos passam de um modo articulado, a partir de então e até o presente momento, a representar um novo horizonte de possibilidades para o tratamento diferenciado de problemas complexos e de busca de superação de limites do conhecimento centrado, de maneira exclusiva, no paradigma unidisciplinar.(ALVARENGA, et all, 2011, p.32). A prática interdisciplinar, cuja conceituação ainda é difícil, conforme se verá adiante, pode ter aplicações para muito além da ciência e dos métodos científicos. Deve ser uma prática humana incentivada que flerta com a tolerância, a cooperação e o reconhecimento da diversidade do indivíduo, de organizações, visões de mundo e investigações. Tal qual a ciência que enfrenta cada vez problemas mais complexos, as sociedades no geral e a segurança pública no específico atuam em cenários multifacetados a demandar esforços integrados de diversas áreas de conhecimento e especialidades. O mesmo fenômeno de disciplinarização que ocorreu nas ciências aconteceu na segurança pública, especialmente no Brasil, como se vê na criação de várias polícias, com atribuições específicas e especializações internas e ainda divisões no âmbito federal e estadual, com manifestações inclusive municipais nas Guardas Municipais. Há sérios problemas de integração e de perspectiva interdisciplinar também no sistema de justiça criminal que congrega os órgãos policiais, judiciais 40 e de execução penal, bem como no Ministério Público e nas instituições de defesa, da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB e Defensorias Públicas. A falta de integração, que, na base, deriva de falhas na formação e aptidão para o trabalho interdisciplinar, pode explicar, em parte, a grave crise de segurança pública vivenciada hoje no Brasil, com índices de mortalidade comparáveis aos piores conflitos e guerras internacionais e com a ascensão direta de organizações criminosas que rivalizam com o Estado Nacional na disputa pela organização da sociedade, com dominação de territórios e determinação de normas e regras de comportamento pelas facções criminosas. O objetivo principal deste capítulo é traçar um marco conceitual mínimo sobre o movimento da interdisciplinaridade e trabalhar, para além da interdisciplinaridade nas ciências, com
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