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[PT] BORDIGNON, Fabiano As cooperações policiais internacionais em fronteiras, do local ao global o comando tripartite na tríplice fronteira Argentina, Brasil e Paraguai (dissertação)

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ 
CAMPUS DE FOZ DO IGUAÇU 
CENTRO DE EDUCAÇAO E LETRAS 
PROGRAMA DE MESTRADO EM SOCIEDADE, CULTURA E FRONTEIRAS. 
LINHA DE PESQUISA: TERRITÓRIO, HISTÓRIA E MEMÓRIA. 
 
 
 
 
 
 
FABIANO BORDIGNON 
 
 
 
 
 
 
AS COOPERAÇÕES POLICIAIS INTERNACIONAIS EM FRONTEIRAS, DO 
LOCAL AO GLOBAL: O COMANDO TRIPARTITE NA TRÍPLICE 
FRONTEIRA ARGENTINA, BRASIL E PARAGUAI. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MARÇO 
2019 
 
 
FABIANO BORDIGNON 
 
 
 
 
 
AS COOPERAÇÕES POLICIAIS INTERNACIONAIS EM FRONTEIRAS, DO 
LOCAL AO GLOBAL: O COMANDO TRIPARTITE NA TRÍPLICE 
FRONTEIRA DE ARGENTINA, BRASIL E PARAGUAI. 
 
 
 
Dissertação submetida ao Programa de 
Pós-Graduação em Sociedade, Cultura e 
Fronteiras, do Centro de Educação e 
Letras da Universidade Estadual do Oeste 
do Paraná, como requisito parcial para 
obtenção do título de Mestre em 
Sociedade, Cultura e Fronteira. Linha de 
pesquisa: Território, História e Memória. 
 
Área de concentração: Sociedade, Cultura 
e Fronteira. 
 
Orientador: Prof. Dr. Mauro José Ferreira 
Cury. 
 
 
 
 
 
MARÇO 
2019 
 
 
 
FABIANO BORDIGNON 
AS COOPERAÇÕES POLICIAIS INTERNACIONAIS EM FRONTEIRAS, DO 
LOCAL AO GLOBAL: O COMANDO TRIPARTITE NA TRÍPLICE 
FRONTEIRA DE ARGENTINA, BRASIL E PARAGUAI. 
 
Esta Dissertação foi julgada adequada para a obtenção do Título de Mestre em 
Sociedade, Cultura e Fronteiras e aprovada em sua forma final pelo Programa 
de Sociedade, Cultura e Fronteiras, área de concentração em Sociedade, 
Cultura e Fronteiras, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – 
UNIOESTE. 
COMISSÃO EXAMINADORA 
 
Prof. Dr. Mauro José Ferreira Cury - UNIOESTE 
Orientador 
 
 
Profa. Dra Elaine Cristina Francisco Volpato – UNIOESTE 
 
 
 
Prof. Dr. José Carlos dos Santos – UNIOESTE 
 
 
_______________________________________________________________ 
Prof. Dr. Milton Augusto Pasquotto Mariani –UFMS - Membro Externo 
 
 
 
Prof. Dr. Marcos Aurélio Saquet - UNIOESTE 
 
 
 
 
 
 
 
 
Foz do Iguaçu, 11 de março de 2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A vida é a arte do encontro embora haja tanto desencontro pela vida” 
 
Vinícius de Moraes – Samba da Benção 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A Deus pelo dom da vida, proteção e saúde para chegar até aqui. 
Esta dissertação é resultado conjunto de muitas mãos, almas e 
caminhadas. 
À minha esposa Cintia, companheira de fronteiras há 25 anos, com 
quem fiz as nossas principais obras transdisciplinares: nossos filhos Tarsila, 
Santiago e Danilo. A vocês dedico minha vida. Viverei sempre em vocês. 
Aos meus saudosos Pais, primeiros e eternos professores: Danilo 
Bordignon e Paola Ghermandi Bordignon. Como discípulo e filho busco sempre 
em vocês minha inspiração, exemplo e alegria. 
Ao meu irmão Juliano Bordignon, pesquisador incansável da vida e 
grande parceiro sempre. 
Ao Professor Dr. Mauro José Ferreira Cury, pela confiança, motivação 
e excelente parceria na orientação desta humilde pesquisa, sempre disposto a 
ajudar e discutir os caminhos e rumos do trabalho. Ultrapassou as fronteiras de 
Brasília e veio aqui me ajudar na revisão final. Gratidão sempre. 
 À Universidade Estadual do Oeste do Paraná, ao Programa de Pós-
Graduação em Sociedade, Cultura e Fronteiras, do Centro de Educação e Letras 
da UNIOESTE, campus Foz do Iguaçu, Professores, colegas discentes e 
servidores. 
À Polícia Federal pela autorização e oportunidade de realizar a 
pesquisa. Meu agradecimento pessoal aos amigos Rosalvo Ferreira Franco e 
Maurício Valeixo, Superintendentes da Polícia Federal no Paraná durante a 
realização do meu Mestrado. Aos amigos Mozart Person Fuchs, que me 
substituiu na Chefia da Delegacia de Foz durante os períodos de afastamento 
necessários à conclusão da obra e Carlos Eduardo Vieira Bianchi e equipe, que 
me ajudaram na reunião, compilação e impressão das atas de mais de 20 anos 
de reuniões do Comando. Meus agradecimentos também aos Delegados 
Alessandro Maciel Lopes, na época Chefe da Delegacia da PF de Santana do 
Livramento/RS e aos Adidos da PF em Asunción e Buenos Aires, 
respectivamente: Cassius Valentim Baldelli e Luiz Carlos Nóbrega Nelson. 
Aos Policiais do Brasil e do mundo na esperança de que a pesquisa 
possa ajudar nas operações interagências, com a compreensão da natureza 
interdisciplinar das ações. Meu especial agradecimento aos servidores e amigos 
da Delegacia de Polícia Federal de Foz do Iguaçu e ao Gabinete de Gestão 
Integrada de Fronteiras do Paraná. 
Aos integrantes do Comando Tripartite, Argentina, Brasil e Paraguai, 
com quem pude compartilhar experiências e vivências fundamentais para a 
conclusão desta pesquisa. 
À Justiça Federal, especialmente à Subseção Judiciária de Foz do 
iguaçu e ao Dr. Matheus Gaspar por ter fornecido acesso aos processos 
utilizados como base para o estudo de caso. 
À Receita Federal do Brasil, especialmente à Alfândega em Foz do 
Iguaçu, na pessoa do então Delegado Chefe Rafael Rodrigues Dolzan e Neri 
Antonio Parcianello, pelo fornecimento de dados para a presente pesquisa. 
À Comissão Examinadora de Qualificação, composta pelos 
Professores Dr. Mauro José Ferreira Cury, Dra. Elaine Cristina Francisco 
 
Volpato, Dr. José Carlos dos Santos e Dra. Denise Rosana Silva Moraes pelos 
apontamentos e observações lançadas. 
Ao Amigo Luciano Barros e equipe do Instituto de Desenvolvimento 
Econômico e Social de Fronteiras – IDESF, pelo apoio inexorável às pesquisas 
sobre fronteiras no Brasil. 
A todos os Amigos que me ajudaram nesta pesquisa de Mestrado. 
Vocês ultrapassaram as fronteiras comigo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BORDIGNON, Fabiano. As cooperações policiais internacionais em 
fronteiras, do local ao global: o Comando Tripartite na Tríplice Fronteira de 
Argentina, Brasil e Paraguai.2019. (148 p.). Dissertação (Mestrado em 
Sociedade, Cultura e Fronteiras) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná – 
UNIOESTE, Foz do Iguaçu, 2019. 
 
RESUMO 
O objetivo desta pesquisa consiste na apresentação do Comando Tripartite, 
como modelo de cooperação policial na Tríplice Fronteira, de Puerto Iguazu– 
Argentina; Foz do Iguaçu-Brasil; e Ciudad del Este – Paraguai, instituído em 
1996. O tema relacionado às fronteiras nacionais permite analisar a 
complexidade das aproximações territoriais e as possíveis territorialidades que 
são estabelecidas pelos povos, a partir de uma amplitude local para o global. 
Utiliza-se o estudo de caso, mediante análise da cooperação policial local 
empregada, via Comando Tripartite, na resposta à série de crimes cometidos em 
abril de 2017 na empresa de transporte e guarda de valores PROSEGUR em 
Ciudad del Leste, Paraguai. Demonstra que o fenômeno interdisciplinar pode ser 
empregado como início de uma teoria geral para operações policiais integradas, 
considerado no âmbito interno de cada país, bem como internacionalmente, pois 
cada polícia, com sua formação, doutrina e atuação, pode ser vista como uma 
disciplina. Para superar as barreiras do isolacionismo disciplinar, como verificado 
nas ciências, é necessário um salto interdisciplinar de forma a garantir que o 
reconhecimento das diversas especializações necessárias ao trabalho policial 
não sirva de separação, mas sim represente a necessária união de esforços e 
de conhecimentos. A pesquisa é inédita pela proposta de estudar a formação, 
organização e dinâmica de uma organização local de cooperação policial, na 
mais dinâmica fronteira da América Latina. O método utilizado mescla fontes 
documentais, bibliográficas, estudo de caso e pesquisa participante de campo a 
fim de elaborar a pesquisa. Reconhece que a complexidade do fenômeno da 
criminalidade transnacional pode ser vencida pela coordenação e convergência 
de saberes, típicos de uma visão multidisciplinar e interdisciplinar, 
respectivamente. 
 
 
Palavras-chave: Tríplice Fronteira; Comando Tripartite;Cooperação; Polícia; 
Internacional; Interdisciplinaridade. 
 
 
 
BORDIGNON, Fabiano. As cooperações policiais internacionais em 
fronteiras, do local ao global: o Comando Tripartite na Tríplice Fronteira de 
Argentina, Brasil e Paraguai.2019. (148 p.). Dissertação (Mestrado em 
Sociedade, Cultura e Fronteiras) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná – 
UNIOESTE, Foz do Iguaçu, 2019. 
 
RESUMEN 
El objetivo de esta investigación consiste en la presentación del Comando 
Tripartita, como modelo de cooperación policial en la Triple Frontera, de Puerto 
Iguazú - Argentina; Foz do Iguaçu - Brasil; y Ciudad del Este - Paraguay, 
instituido en 1996. El tema relacionado a las fronteras nacionales permite 
analizar la complejidad de las aproximaciones territoriales y las posibles 
territorialidades que son establecidas por los pueblos, a partir de una amplitud 
local para lo global. Se utilizó el estudio de caso, mediante análisis de la 
cooperación policial local empleada, vía Comando Tripartita, en la respuesta a la 
serie de crímenes cometidos en abril de 2017 en la empresa de transporte y 
custodia de valores PROSEGUR en Ciudad del Este, Paraguay. En el caso de 
las mujeres, las mujeres y las mujeres, en el caso de las mujeres, en el caso de 
las mujeres. Para superar las barreras del aislacionismo disciplinario, como 
verificado en las ciencias, es necesario un salto interdisciplinario para garantizar 
que el reconocimiento de las diversas especializaciones necesarias al trabajo 
policial no sirva de separación, sino que represente la necesaria unión de 
esfuerzos y de conocimientos. La investigación es inédita por la propuesta de 
estudiar la formación, organización y dinámica de una organización local de 
cooperación policial, en la más dinámica frontera de América Latina. El método 
utilizado mezcla fuentes documentales, bibliográficas, estudio de caso e 
investigación participante de campo a fin de elaborar la investigación. Reconoce 
que la complejidad del fenómeno de la criminalidad transnacional puede ser 
vencida por la coordinación y convergencia de saberes, típicos de una visión 
multidisciplinaria e interdisciplinaria, respectivamente. 
 
 
Palabras clave: Tríplice Frontera; Comando Tripartita; cooperación; La Policía; 
Internacional; Interdisciplinariedad. 
 
 
 
 
 
 
 
 
BORDIGNON, Fabiano. As cooperações policiais internacionais em 
fronteiras, do local ao global: o Comando Tripartite na Tríplice Fronteira de 
Argentina, Brasil e Paraguai.2019. (148 p.). Dissertação (Mestrado em 
Sociedade, Cultura e Fronteiras) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná – 
UNIOESTE, Foz do Iguaçu, 2019. 
 
 
 
ABSTRACT 
The objective of this research consists of the presentation of the Tripartite 
Command, as a model of police cooperation in the Triple Border, of Puerto Iguazu 
- Argentina; Foz do Iguaçu - Brazil; and Ciudad del Este - Paraguay, instituted in 
1996. The theme related to national boundaries allows us to analyze the 
complexity of territorial approximations and the possible territorialities that are 
established by the peoples, from a local to a global extent. The case study is 
used, through an analysis of the local police cooperation employed, via Tripartite 
Command, in response to the series of crimes committed in April 2017 at the 
PROSEGUR transport and custody company in Ciudad del Este, Paraguay. It 
shows that the interdisciplinary phenomenon can be used as the beginning of a 
general theory for integrated police operations, considered internally within each 
country, as well as internationally, since each police, with its training, doctrine 
and action, can be seen as a discipline. To overcome the barriers of disciplinary 
isolationism, as witnessed in the sciences, an interdisciplinary leap is necessary 
in order to ensure that the recognition of the various specializations required for 
police work does not serve as a separation, but rather represents the necessary 
union of efforts and knowledge. The research is unpublished by the proposal to 
study the formation, organization and dynamics of a local organization of police 
cooperation, in the most dynamic frontier of Latin America. The method used 
mixes documentary, bibliographic, case study and field participant research in 
order to elaborate the research. It recognizes that the complexity of the 
phenomenon of transnational crime can be overcome by the coordination and 
convergence of knowledge, typical of a multidisciplinary and interdisciplinary 
view, respectively. 
 
 
Keywords: Triple Border; Tripartite Command; Cooperation; Police; 
International; Interdisciplinarity. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
 
 
 
Figura 1. Municípios do Paraná e a Faixa de Fronteira.....................................34 
Figura 2. Lançamento da Base da Polícia Federal no Rio Paraná, em Foz do 
Iguaçu................................................................................................................75 
Figura 3. Símbolo do Comando Tripartite.........................................................91 
Figura 4. Localização da empresa Prosegur em Ciudad del Este...................111 
Figura 5. Empresa PROSEGUR após o assalto.............................................112 
Figura 6. Locais da fuga dos assaltantes da empresa 
Prosegur..........................................................................................................113 
Figura 7. Casa utilizada pelos criminosos em CDE.........................................116 
Figura 8. Vestígios examinados pelos peritos criminais.................................117 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
 
 
 
Tabela 1. Resultados da Operação Muralha em 2016, 2017 e 
2018...................................................................................................................74 
Tabela 2. Apreensões no rio Paraná e lago de Itaipu e valores estimados em 
US$ - 2018.........................................................................................................76 
Tabela 3. Zonas Bipartites de Segurança entre cidades da Argentina e 
Paraguai.............................................................................................................97 
Tabela 4. Zonas Bipartites de Segurança entre cidades da Argentina e 
Bolívia................................................................................................................98 
Tabela 5. Inquéritos policiais decorrentes dos crimes do assalto a 
PROSEGUR....................................................................................................107 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS 
 
ABIN Agência Brasileira de Inteligência 
AMERIPOL Comunidade de Polícias das Américas 
ANTT Agência Nacional de Transportes Terrestres 
CAPE -PR Coordenadoria de Análise e Planejamento Estratégico do 
Paraná. 
CICC Centros Integrados de Comando e Controle 
CICCL Centros Integrados de Comando e Controle Locais 
CICCM Centros Integrados de Comando e Controle Móveis 
CICCNA Centro Integrado de Comando e Controle Nacional 
Alternativo 
CICCR Centros Integrados de Comando e Controle Regionais 
CODEFOZ Conselho de Desenvolvimento de Foz do Iguaçu 
COC Centros de Operações Conjuntas 
CT Comando Tripartite 
DER 
DNAISP 
Departamento de Estradas de Rodagem 
Doutrina Nacional de Atuação Integrada de Segurança 
Pública 
EAD Ensino à Distância 
ENAFRON Estratégia Nacional de Segurança Pública nas Fronteiras 
EUA Estados Unidos da América 
EUROPOL Serviço Europeu de Polícia 
FIFA Federação Internacional de Futebol 
GGIF Gabinetes de Gestão Integrada de Fronteiras 
GM Guarda Municipais 
GSI Gabinete de Segurança Institucional 
IDESF Instituto de Desenvolvimento Social e Econômico de 
Fronteiras 
JF Justiça Federal 
MCN Matriz Curricular NacionalMESP Ministério Extraordinário de Segurança Pública 
MERCOSUL Mercado Comum do Sul 
MPF Ministério Público Federal 
OAB Ordem dos Advogados do Brasil 
OICP/ 
INTERPOL 
Organização Internacional de Polícia Criminal 
PC Polícia Civil 
PEF Plano Estratégico de Fronteiras 
PF Polícia Federal 
PPIF Programa de Proteção Integrada de Fronteiras 
PNSPDS Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social 
POE Plataformas de Observação Elevada 
 
PRF Polícia Rodoviária Federal 
PRONASCI Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania 
RF Receita Federal do Brasil 
SEDEC Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil 
SENAD Secretaria Nacional de Política Sobre Drogas 
SENASP Secretaria Nacional de Segurança Pública 
SESGE Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes 
Eventos 
SESP/PR Secretaria de Segurança Pública do Estado do Paraná 
SICC Sistema Integrado de Comando e Controle da Segurança 
Pública para Grandes Eventos 
SIC4 Sistema Integrado de Coordenação, Comunicação, 
Comando e Controle 
SISBIN Sistema Brasileiro de Inteligência 
STF Supremo Tribunal Federal 
SUSP Sistema Único de Segurança Pública 
TCU Tribunal de Contas da União 
EU União Europeia 
UNIOESTE Universidade Estadual do Oeste do Paraná 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
SUMÁRIO ........................................................................................................ 13 
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 14 
1 A FORMAÇÃO DE POLÍCIAS VISTAS COMO DISCIPLINAS .................... 37 
1.1 INTERDISCIPLINARIDADE E A CONVERGÊNCIA NOS TRABALHOS DE SEGURANÇA PÚBLICA ............ 37 
1.2 A INTERDISCIPLINARIDADE E APLICAÇÃO NAS AÇÕES INTEGRADAS DE SEGURANÇA PÚBLICA. ..... 40 
1.3 A “POLÍCIA” E O “SISTEMA” DE SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL. ................................................. 56 
1.4 OS GRANDES EVENTOS E UM MODELO DE ATUAÇÃO INTEGRADA ................................................. 65 
1.5 AÇÕES E COOPERAÇÕES DE SEGURANÇA LOCAL NA TRÍPLICE FRONTEIRA. .................................... 71 
2 DO LOCAL PARA O GLOBAL: AS COOPERAÇÕES POLICIAIS EM 
REGIÕES DE FRONTEIRA E O COMANDO TRIPARTITE COMO ASPECTO 
DA COOPERAÇÃO PENAL INTERNACIONAL ............................................. 79 
2.1 A COOPERAÇÃO POLICIAL E JURÍDICA INTERNACIONAL ................................................................. 79 
2.2 O COMANDO TRIPARTITE. .............................................................................................................. 87 
2.3 O COMANDO TRIPARTITE –MODELO DE COOPERAÇÃO POLICIAL EM ZONAS BIPARTITES .............. 97 
2.4 O COMANDO TRIPARTITE - DIFICULDADES À COOPERAÇÃO POLICIAL ............................................ 99 
3 ESTUDO DE CASO – CRIMES TRANSNACIONAIS NA EMPRESA 
PROSEGUR EM CIUDAD DEL ESTE (22/04/2017) ...................................... 105 
3.1 CRIMES TRANSNACIONAIS ........................................................................................................... 108 
3.2 RELATO DO CASO PROSEGUR ....................................................................................................... 110 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 122 
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 127 
 
 
 
 
 
14 
 
INTRODUÇÃO 
 
O objetivo geral da pesquisa é o estudo das cooperações policiais nas 
regiões de fronteira do Brasil, especialmente na área das territorialidades 
transfronteiriças entre as cidades de Foz do Iguaçu – Brasil, Puerto Iguazú- 
Argentina, e a conurbação de Ciudad del Este, Hernandárias, Puerto Presidente 
Franco e Minga-Guazú no Paraguai que compreendem a Tríplice Fronteira. 
Seja no aspecto interno, entre as polícias brasileiras, e internacionais, 
com as polícias da Argentina e Paraguai, surge como modelo, o Comando 
Tripartite - CT, instrumento de cooperação policial local, instituído em 1996 pelos 
Ministros da área de segurança pública destes países e em pleno funcionamento 
desde então. 
Para cumprir a pesquisa, propõem-se objetivos específicos que serão 
estudados em cada um dos capítulos decorrentes, derivados diretamente do 
objetivo principal de estudo: 
a) No primeiro capítulo, será apresentada uma proposta inicial de teoria 
geral do trabalho policial integrado nas regiões de fronteira, pelas teorias da 
interdisciplinaridade, com pressuposto de que cada polícia é uma disciplina a 
parte, com sua doutrina, formação, normas e objetivos próprios. Posteriormente 
apresentar-se-á a estrutura atual das polícias no Brasil, vistas como disciplinas 
mais estanques do que interdisciplinares, as iniciativas de integração nas 
atuações de fronteira a partir de 2011, como os Gabinetes de Gestão Integrada 
de Fronteiras (GGIF), a forma de integração utilizada nos grandes eventos 
esportivos e outros exemplos locais na região de Foz do Iguaçu/PR. 
Será exposta a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social 
(PNSPDS) e o pretendido Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), 
previstos a partir da lei 13.675, de 11 de junho de 2018 e decreto nº 9.489, de 
30 de agosto de 2018, além dos decretos sobre planos de segurança para as 
fronteiras nacionais, quais sejam os de números 7.496, de 8 de junho de 2011, 
posteriormente revogado pelo 8.903, de 16 de novembro de 2016. 
Será utilizada a pesquisa bibliográfica, a fim de estabelecer um suporte 
teórico para a pesquisa, e a experiência pessoal do autor, enquanto Chefe da 
Delegacia da Polícia Federal de Foz do Iguaçu, de junho de 2015 a dezembro 
de 2018 e coordenador do CT pelo Brasil no mesmo período, circunstâncias que 
15 
 
levaram o autor a ter uma relação de proximidade e de contato direto com o tema 
da pesquisa, qual seja, a cooperação policial em regiões de fronteira, no aspecto 
local e global. 
b) No capítulo dois, a proposta é identificar e demonstrar a estrutura de 
criação, gestão, funcionamento e alguns resultados do CT, no período de 1996 
a 2018, como exemplo de organismo de cooperação policial local em regiões de 
fronteira e modelo que pode ser disseminado para outras áreas e demonstrar 
algumas dificuldades à cooperação policial nas fronteiras. 
A pesquisa destaca a possibilidade da troca ágil de informações policiais, 
mediante auxílios diretos sem a necessária participação de órgãos centrais na 
transmissão de documentos e informações. Não se pretende negligenciar e 
desmerecer o papel dos órgãos centrais nas cooperações policiais, e sim dar o 
máximo de agilidade e resultado às cooperações nas fronteiras, sem prejuízo de 
registro estatístico e consulta dos resultados pelos órgãos hierarquicamente 
superiores. 
Como caminho metodológico, utilizar-se-á o estruturalismo, que consiste 
na reflexão constante das relações humanas com o meio social, com a natureza 
e, especificamente, com as fronteiras. Uma reflexão que cria representações 
sobre essas relações. Por exemplo, ao se afirmar que é necessário ver as 
fronteiras entre os países mais como lugares e regiões de encontro do que como 
espaços de limites, de fim, de término, procura-se estruturar uma forma de 
pensar o fenômeno, uma ideia sobre o tema, com a fixação de uma visão de 
mundo, uma tomada de decisão, um ponto de partida (Richardson, 2012, p.38): 
Utilizar-se-á, preponderantemente, o estruturalismo, mas não apenas ele. 
Não se pode esquecer, como método, os aspectos históricos de evolução das 
cooperações policiais. A pesquisa perpassa uma ótica do local ao global, com 
emprego pontual do método dialético, ponderando-se, necessariamente, a 
evolução histórica dos conceitos, e o inexorável movimento das dinâmicas 
policiais nas fronteiras. 
c) Finalmente, no terceiro capítulo, será apresentado exemplo de atuaçãointegrada de polícias para fronteiras a partir de um estudo de caso específico 
enfrentado pelo CT: o caso PROSEGUR de abril de 2017, em que criminosos 
realizaram audaciosa ação delituosa na empresa de guarda e transporte de 
16 
 
valores em Ciudad del Leste, no Paraguai, subtraindo mais de 11 milhões de 
dólares. 
O estudo de caso visa descrever circunstâncias que corroboram a teoria 
apresentada. Parte da ação criminosa à resposta policial, cujo sucesso parcial, 
com prisões, confrontos e recuperação de valores subtraídos foram 
potencializadas pelo entrosamento das equipes policiais brasileiras, paraguaias 
e argentinas nos primeiros dias após os crimes. 
Num segundo momento, o estudo de caso demonstrará a aplicabilidade 
de uma das hipóteses suscitadas para a pesquisa: que as cooperações policiais 
nas fronteiras devem estabelecer-se localmente, sem necessidades de 
acionamento dos órgãos centrais dos países envolvidos, a não ser, 
posteriormente, pós-cooperação, com a finalidade de controle estatístico e 
revisão. 
O estudo de caso, conforme Yin (2015, p.17) “é uma investigação 
empírica que investiga um fenômeno contemporâneo (o ‘caso’) em profundidade 
e em seu contexto de mundo real”. Para viabilizar o estudo, serão analisados, a 
partir de autorização e ações judiciais, além dos inquéritos policiais instaurados 
pela Polícia Federal em Foz do Iguaçu para a investigação dos fatos, ações 
penais decorrentes e as trocas de provas e informações realizadas direta e 
localmente entre autoridades do Brasil e Paraguai a partir do marco de 
cooperação do CT. 
A questão norteadora da pesquisa é, portanto: como estabelecer 
princípios para o trabalho policial integrado nas regiões de fronteira, com base 
na experiência da Tríplice Fronteira, de forma a possibilitar maior rendimento e 
efetividade nas ações conjuntas? E como afastar barreiras ao trabalho policial 
integrado nessas mesmas territorialidades? 
Como hipóteses para responder aos questionamentos, afirma-se que a 
falta de integração policial e do sistema de justiça criminal favorece a expansão 
do crime organizado. Exemplo geral foram os ataques de 11 de setembro de 
2001 em que várias agências norte-americanas não conseguiram interagir de 
forma adequada, com favorecimento à ação de terroristas em solo norte 
americano. 
17 
 
Posteriormente ao evento terrorista, os Estados Unidos da América-EUA 
investiram em fusion centers1 capazes de permitir, ao menos em tese, a troca 
imediata de informações e a convivência constante e diversa de vários atores de 
segurança e inteligência que antes pouco se encontravam e nada ou muito 
pouco compartilhavam de informações e conhecimentos. 
A cooperação se dá a partir do encontro e da disposição em enfrentar 
desafios conjuntos. Incentivar estas relações humanas é permitir o 
reconhecimento das diferenças, singularidades, similaridades, favorecer a 
criação de redes de comunicação e de colaboração. O desafio é buscar redes 
horizontais que permitam colaborações constantes e integradas, ao invés de 
redes verticais - hierárquicas e vinculadas a órgãos centrais - que representam 
barreiras à passagem do conhecimento e da colaboração. 
Para Raffestin (1993, p.204): 
A rede é proteiforme, móvel e inacabada, e é dessa falta de 
acabamento que ela tira sua força no espaço e no tempo: se 
adapta às variações do espaço e às mudanças que advêm no 
tempo. A rede faz e desfaz as prisões do espaço, tornado 
território: tanto libera como aprisiona. É o porquê de ela ser o 
‘instrumento’ por excelência do poder. 
 
Rafestin prossegue com o pensamento de enquanto um “sistema de 
linhas que desenham tramas”. As redes podem ser abstratas ou concretas, 
invisíveis ou visíveis, podem assegurar a comunicação, mas também desenhar 
limites ou fronteiras. (op.cit, p.156) 
Como limitadores de ação têm-se redes como muros, barreiras e 
cercaduras, como nos casos de redes verticais, das fronteiras imateriais 
representadas pelas paquidérmicas burocracias e pelas distâncias dos centros 
de decisão política estatais, localizados nas capitais dos Estados Nacionais, que 
percebem as fronteiras como bordas finais do território, zonas de amortecimento, 
 
1Centros de fusão ou fusion centers, como sugere o nome, são locais em que profissionais de 
segurança, inteligência e até mesmo de defesa civil, coletam, analisam, consolidam e difundem 
informações relevantes para a segurança pública preponderantemente de forma pró-ativa, 
buscando evitar eventos criminosos. Nasceram, na formação atual, nos Estados Unidos da 
América após os atentados terroristas de setembro de 2001. Conforme o Sumário Executivo 
para fusion centers, publicado conjuntamente pelo Departamento de Justiça e de Segurança 
Interna do EUA, consistiria em um “[...] um mecanismo eficaz e eficiente para trocar informações 
e inteligência, maximizar recursos, simplificar operações e melhorar a capacidade de combater 
o crime e o terrorismo, mesclando dados de várias fontes. 
https://web.archive.org/web/20071219192546/http://it.ojp.gov/documents/fusion_center_executiv
e_summary.pdf (em 06/08/2018). 
18 
 
distantes e marginalizados naturalmente dos fóruns estratégicos e das decisões 
políticas. 
Para esta pesquisa, toma-se a noção de redes horizontais como contato, 
enlace, colaboração entre pessoas, notadamente profissionais de segurança 
pública. Os profissionais precisam estabelecer vínculos de colaboração e de 
compartilhamento de meios e informações para tecer redes imateriais capazes 
de permitir um maior controle das fronteiras. Controles que não impeçam o 
desenvolvimento e o fluxo de bens, pessoas e investimentos. 
As redes horizontais, formadas a partir das dificuldades nas fronteiras, 
servem de reação às redes verticais, representadas pela excessiva burocracia 
regulamentar, que engessa e dificulta o real controle integrado das áreas de 
fronteira, emanadas dos centros de decisão política e de acordos regionais como 
do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) que dificilmente são incorporados aos 
ordenamentos jurídicos, que será tratado na parte dedicada às dificuldades nas 
cooperações fronteiriças, no item 2.4. 
Competências, circunscrições e territórios, decomposições do vetusto 
conceito de soberania, não podem ser considerados impeditivos ao agir 
integrado. O crime organizado se fortalece nos espaços vazios do poder Estatal 
que nas fronteiras atua de forma desarticulada, desconfiada e burocratizada com 
vizinhos que há tempos não representam mais ameaças, como na época em que 
ainda se discutiam limites territoriais ou cicatrizes de guerras ainda recentes. 
A ameaça atual são as organizações criminosas transnacionais que se 
movimentam sorrateiramente nas grandes sombras dos Estados lentos e 
rapidamente ameaçam suas estruturas e democracias com a lavagem de ativos 
e corrupção decorrentes de crimes como tráficos de pessoas, drogas, armas, 
munições, contrabando e descaminho. 
Será possível constatar a necessidade da criação de incentivos, diretrizes 
e simplificações legislativas para favorecer as atuações integradas entre as 
polícias locais nas áreas de fronteira, seja no aspecto local como global, da 
mesma forma como feito nas universidades para aproximar a pesquisa 
disciplinar de um viés e perspectiva interdisciplinar. 
A motivação desta pesquisa decorre da inexistência de estudos anteriores 
sobre a formação e resultados do CT, o que a torna inédita. À exceção de artigo 
preliminar que publiquei no ano de 2016 e que serviu de inspiração para o 
19 
 
prosseguimento dos estudos (BORDIGNON, 2016), não havia bibliografia 
específica sobre o CT, em parte pela dificuldade de se obter material para 
pesquisa sobre o tema. 
Essa dificuldade foi superada, na pesquisa, pela possibilidade de acesso 
às Atas de formação e das reuniões posteriores do CT, que compilei e estudei 
por ser o coordenadordo CT pelo Brasil e Chefe da Delegacia da Polícia Federal 
em Foz do Iguaçu. A maioria das atas tem informações sigilosas e, portanto, não 
poderia ser disponibilizada facilmente para outro pesquisador, face aos riscos de 
exposição de dados sobre investigados, situação que deve merecer a proteção 
do Estado. 
Como coordenador, pude, ao mesmo tempo, refletir e atuar sobre o objeto 
de pesquisa, imediatamente o CT e mediatamente todas as ações que 
envolveram as cooperações policiais locais, no âmbito local e internacional. 
Nasci em uma cidade da Faixa de Fronteira, em Palmas, Estado do 
Paraná. Lá vivi até os quinze anos de idade, percebi os impactos do contrabando 
e descaminho no comércio regular da região. Posteriormente, como profissional 
de segurança pública, desde 2002, na função de Delegado de Polícia Federal, 
atuei em localidades de fronteira, na região Norte do Brasil, em Rondônia: Porto 
Velho, Guarajá-Mirim e Costa Marques. No Paraná em Paranaguá, Catanduvas, 
Cascavel e Foz do Iguaçu. 
Identifico constantemente, na atividade profissional, a necessidade de 
articulação e integração das forças de segurança pública e do próprio sistema 
de justiça criminal. 
Percebi que há pouca doutrina sobre a cooperação local e que as forças 
policiais e o sistema de justiça criminal no Brasil e nas suas fronteiras trabalham 
de forma estanque e compartimentada. 
Algumas exceções que verifiquei ao longo dos anos no caminho de uma 
atuação integrada, deveram-se mais à liderança de algumas autoridades e 
equipes do que a um esquema prévio, políticas ou doutrinas que efetivamente 
favorecessem e incentivassem a cooperação, a coordenação e convergência de 
forças em prol do aprimoramento da segurança pública e controle das fronteiras. 
No âmbito das atuações internacionais, constatei um acanhamento na 
formação de redes de cooperação locais, minimamente formalizadas, 
principalmente nas bordas fronteiriças, nas regiões propriamente de fronteiras, 
20 
 
com criação de cooperações locais interdisciplinares, mediante união de policiais 
dos países que nas fronteiras se encontram. 
Mesmo com o excelente exemplo de organizações policiais 
internacionais, de cooperações policiais regionais e mundiais, como a 
Comunidade de Polícias das Américas – (AMERIPOL), o Serviço Europeu de 
Polícia – (EUROPOL) e a Organização Internacional de Polícia Criminal – (OICP/ 
INTERPOL), ainda são incipientes e pouco organizadas as cooperações policiais 
locais, formadas a partir das equipes policias das cidades gêmeas e regiões 
fronteiriças no mundo. 
No caso da Tríplice Fronteira de Argentina, Brasil e Paraguai percebem-
se um movimento contrário. Já existe e atua desde 1996 uma organização formal 
de cooperação policial internacional, de âmbito local, denominado Comando 
Tripartite. 
No Brasil, a partir da publicação, em 2011, do decreto que instituiu a 
denominada Estratégia Nacional de Fronteiras (ENAFRON),2 a palavra 
integração passou a ser proferida como mantra e solução para resolver os 
problemas relacionados à segurança das fronteiras brasileiras e para solucionar 
a crise de segurança pública que assola o país. 
Mas como estabelecer procedimentos e princípios para um efetivo 
trabalho policial integrado nas regiões de fronteira, tomando como paradigma a 
experiência na Tríplice Fronteira? Como fazer as polícias cooperarem mais no 
mister de aprimorar a segurança de todos? Como afastar barreiras ao trabalho 
policial integrado nestas regiões de fronteira? Estas são as principais 
perturbações e questionamentos que se pretendem responder nesta pesquisa, 
com base na interdisciplinaridade como contraposição ao isolacionismo 
disciplinar que norteia, para além da academia, a atuação policial. 
A pesquisa surge da constatação pragmática sobre a necessidade de 
articular melhor as ações policiais nas fronteiras do Brasil. 
 
2Decreto 7.496 de 8 de junho de 2011. Resumidamente, a estratégia pode ser 
consultada via http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-
permanentes/credn/audiencias-publicas/2011/acompanhar-e-esclarecer-as-acoes-e-
dificuldades-encontradas-para-prover-a-devida-protecao-as-fronteiras-brasileiras-
1/apresentacao-enafron. 
 
21 
 
Com o resgate histórico da atuação do CT em seu processo de 
cooperação e integração, com transversalidade no fenômeno da 
interdisciplinaridade e resposta para uma teoria de ações integradas passível de 
aplicação nas ações policiais em fronteiras. 
Essas inquietações iniciaram-se em 2015 quando fui designado para 
assumir a Chefia da Delegacia da Polícia Federal em Foz do Iguaçu, a maior 
unidade da Polícia Federal no interior do Brasil com a fronteira terrestre mais 
dinâmica de todas elas. A vivência me fez conhecer e integrar o Comando 
Tripartite, vez que desde os primórdios deste instrumento de cooperação 
internacional local, a Polícia Federal em Foz do Iguaçu exerce a representação 
e coordenação brasileira do grupo, alternadamente com Argentina e Paraguai. 
Surpreendi-me com a formatação do Comando, agilidade na troca de 
informações com Argentina e Paraguai e regularidade nas suas reuniões que, 
na época, aconteciam na razão de duas por mês e, atualmente, foram ampliados 
para três encontros mensais. Recordei-me de uma experiência anterior, quando 
nos idos de 2003, logo que tomei posse no cargo de Delegado de Polícia 
Federal, com lotação em Porto Velho/RO, atuei alguns meses na Delegacia de 
Polícia Federal de Guajará Mirim/RO, fronteira com a Bolívia, sem que sequer 
tenha travado qualquer conhecimento ou compartilhado informações com 
policiais daquele país. 
Percebi também, durante a Chefia exercida em Foz do Iguaçu, que me 
reunia mais com as Polícias de Argentina e Paraguai do que com os órgãos de 
segurança do Brasil e passei a incentivar encontros internos via Câmara Técnica 
de Segurança do Gabinete de Gestão Integrada de Fronteiras – GGIF, para as 
polícias Brasileiras na Tríplice Fronteira. 
Internamente, no âmbito das polícias brasileiras, sempre testemunhei 
dificuldades de efetivos e meios e, recentemente, a partir de 2011, com a 
Estratégia Nacional de Fronteiras e a publicação do decreto 7.496 de 8 de junho 
de 2011, passei a ouvir insistentemente o discurso da integração entre as 
polícias como forma de vencer o crime organizado no Brasil. 
Ocorre que o discurso da integração, por mais que seja importante e 
decisivo para fazer frente aos desafios de segurança pública no Brasil, e quiçá 
no mundo, ainda é um discurso político-estratégico com pouca realização 
prática, por falta de uma metodologia adequada a ser transmitida e também por 
22 
 
carência de uma formação policial integrada/interdisciplinar, vez que as 
academias policiais têm grades curriculares diversas com doutrinas estanques 
para formação de profissionais específicos (Policiais Federais, Rodoviários 
Federais e Militares, por exemplo). 
A repartição das atribuições policiais feita na Constituição de 1988, 
formação isolada dos policiais em academias disciplinares e a ausência de uma 
doutrina para o policiamento integrado e pouco diálogo nas cúpulas de 
segurança no âmbito Federal, Estadual e Municipal, aliado a indefinições sobre 
uma política criminal passível de aglutinar esforços de todos os atores do sistema 
de justiça criminal forma o caldo profícuo para que a criminalidade organizada 
seja favorecida e amplie gradativamente os seus domínios territoriais e, 
inclusive, ultrapasse as fronteiras nacionais. 
Não se pretende a defesa de que todos os órgãos policiais façam tudo, do 
policiamento ostensivo/preventivo às atividades de investigação, vez que a 
especialização de saberes é um caminho sem volta tanto na ciência como nas 
atividades complexas que abrangem atividades de segurança pública. Pretende-
se apenas demonstrar a necessidade e caminhos possíveis para atuaçõesconjuntas, compartilhamento de meios, saberes e doutrinas para a melhora do 
serviço de segurança. 
O sistema de seleção, formação e atuação das polícias não favorece a 
atuação cooperativa, a busca de convergências, o compartilhamento de meios e 
conhecimentos, mas, ao contrário, favorece a competição, atritos, divergências 
e duplicação de esforços e retrabalho. 
A concepção de redes é tal como os sistemas de teias, capaz de criar 
tramas, como fazem as aranhas, por exemplo. As redes policiais que agem nas 
fronteiras tecem tramas frouxas, fracas e pouco abrangentes, incapazes de 
prender, principalmente nas bordas territoriais, nos limites entre os países. O 
crime organizado sabe disso e explora esse vácuo de poder e ação. 
Nesses espaços, nessas sombras, criam-se alguns refúgios para a 
criminalidade que vai além da obra tosca e que, na dificuldade do 
empreendimento delituoso e na busca de maiores lucros, tecem tessituras mais 
amplas às policiais. 
Portanto, além das fronteiras físicas, políticas e culturais entre os países, 
há diversas fronteiras disciplinares e imateriais entre as forças de segurança 
23 
 
pública que atuam no Brasil, como Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária 
Federal (PRF), Polícia Civil (PC), Polícia Militar (PM) e Guardas Municipais (GM), 
e destas com as congêneres eventuais nos países vizinhos. O principal vértice 
desta pesquisa será o modo de ultrapassar essas fronteiras imateriais que 
dificultam o agir integrado e convergente das forças de segurança pública em 
regiões de fronteira, bem como as fronteiras materiais (geográficas, territoriais), 
como paradigma a Tríplice Fronteira e o CT. 
A partir do ingresso no Mestrado interdisciplinar em Sociedade, Cultura e 
Fronteiras na Universidade do Oeste do Paraná – (UNIOESTE), em 2016 como 
aluno especial e com a proposta de pesquisa interdisciplinar e autores que 
trabalham com o tema. Percebi que a mesma dificuldade existente na academia 
podia ser projetada para a área de segurança pública, qual seja a formação ou 
formatação disciplinar das polícias como empecilho para, mais adiante, permitir 
uma atuação integrada, ou interdisciplinar, entre os órgãos de segurança. 
Além das dificuldades de integração entre as forças de segurança pública, 
há também a ausência de diálogo entre outros importantes agentes do sistema 
de justiça criminal, como Ministério Público, Justiça, Advocacia e Agentes 
prisionais. 
A pouca articulação do que deveria ser um sistema de justiça criminal 
favorece tremendamente a verdadeira epidemia de insegurança no Brasil, que 
começa pela falta de uma política de segurança e desenvolvimento para as 
imensas fronteiras nacionais, passa pelo desencontro entre as polícias e o 
sistema de justiça e, finalmente, por negligências na execução das penas e 
gestão do sistema prisional. Isto favorece os desanimadores índices de 
segurança pública no Brasil, com 30,3 homicídios por 100.000 habitantes e 
62.517 homicídios em 20163. 
Internacionalmente, as cooperações policiais em regiões de fronteira 
entre países são desafios constantes para os Estados Nacionais. 
Tradicionalmente, as atuações das polícias ocorrem dentro de cada território 
 
3Dados constam do Atlas da Violência 2018, publicado pelo IPEA e Fórum Brasileiro 
de Segurança Pública (FBSP). Disponível em: 
http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_institucional/180604_atlas
_da_violencia_2018.pdf 
24 
 
nacional onde o Estado exerce seu poder soberano de ditar as normas e aplicar 
a lei. 
A criminalidade transnacional não atua dentro dos limites territoriais e 
transcende, com maiores facilidades, os limites formais. O crime não observa 
fronteiras ou barreiras e, ao contrário, percebe uma proteção para fugir à 
persecução penal de autoridades de um dado país que, normalmente, sofrem 
severos embaraços para obter e realizar investigações conjuntas com os países 
vizinhos. 
A pesquisa demonstrará esta realidade pouco colaborativa, disciplinar e 
isolacionista das forças de segurança pública, bem como de todo o sistema de 
justiça criminal no Brasil, e delineará paralelos com o que ocorre nos sistemas 
de pesquisa disciplinar nas universidades. 
Nas Academias, profissionais com uma determinada formação têm 
severas dificuldades de atuar em pesquisas e desenvolvimentos complexos pela 
falta de uma formação e olhar interdisciplinar desde as cadeiras de formação, 
com reflexos nas dificuldades de um olhar para além das lentes estanques da 
formação ou “formatação” disciplinar de um conhecimento extremamente 
cartesiano. 
A pesquisa busca na interdisciplinaridade, nos conceitos de redes e na 
cooperação o amálgama teórico e prático para a construção constante de uma 
exegese e práxis para o trabalho policial, tanto local como internacional, vez que 
a fundamentação finalística é a mesma, qual seja: a necessidade de cooperação 
para superar os desafios da criminalidade transnacional. 
Nesta pesquisa será apresentado o funcionamento do modelo de 
cooperação policial local existente na Tríplice Fronteira, de forma a possibilitar 
seu conhecimento amplo para eventuais replicações e adaptações do modelo de 
cooperação para outras localidades de fronteira. 
Sugerir formas de integração e de como remover e afastar barreiras e 
facilitar o trabalho de cooperação policial, com exemplo de convergência 
existente na área fronteiriça entre a Argentina, Brasil e Paraguai, seja no aspecto 
interno (país) como no externo (países). 
A pesquisa será relevante para apontar caminhos, práticas e referenciais 
teóricos passíveis de fortalecer a integração e a segurança pública nas áreas de 
fronteira, com reflexos concretos na segurança dos grandes centros urbanos, 
25 
 
desenvolver um estudo que, resgata a história do CT, reflete sobre possibilidades 
concretas de integração, coordenação e convergências no trabalho policial para 
além das fronteiras. 
O homem, de uma forma geral, gosta de ultrapassar fronteiras, desafiar 
limites, superar desafios, ir além. E quando chega para além do horizonte 
conhecido, alegra-se com a conquista, regozija-se com ela, brinda o novo 
patamar, conta histórias e estórias sobre a meta alcançada e, passado o 
momento inicial e decorrências, lança inquietamente seu olhar na busca de 
novos e mais distantes limites para ultrapassar. 
Como filho de um universo em expansão o homem, evolui, faz perguntas 
e busca respostas. 
Essa relação de limites e superações é bem consignada pelo professor e 
geógrafo Raffestin (1993, p.165): 
Diariamente, em todas as fases de nossa existência, somos 
confrontados com a noção de limite: traçamos limites ou 
esbarramos em limites. Entrar em relação com os seres e as 
coisas é traçar limites ou se chocar com limites. Toda relação 
depende da delimitação de um campo, no interior do qual ela se 
origina, se realiza e se esgota. 
 
O limite é uma criação humana; o traço provisório e fugidio, e serve tanto 
para mostrar até aonde se foi, de forma a demarcar o porvir, como também para 
dar distância e margem a uma ameaça, receio, medo ou desconhecimento do 
que vem além, ou de quem está logo ali, nos limites daquele vale, no depois 
daquele horizonte, no ultrapassar daquela cerca. E é a dúvida sobre o que vem 
para além da visão humana que leva o homem a ir sempre adiante, como 
irrequieto protagonista de suas dúvidas, aflições, temores e desenvolvimentos. 
Mais adiante Raffestin destaca que os limites foram feitos para serem 
suplementados: 
O limite, a fronteira a fortiori, seria assim a expressão de uma 
interface biossocial, que não escapa à historicidade e que pode, 
por consequência, ser modificada ou até mesmo ultrapassada. 
(RAFFESTIN, 1993, p. 164-165). 
 
Os limites, para o homem, sempre foram desafios para superar, um novo 
ponto de partida, novas barreiras a ultrapassar. E nesta pesquisa incessantede 
buscar novos horizontes, o ser humano adota um misto de competição e 
26 
 
colaboração. Compete-se com o meio e com outros seres vivos, para melhor 
realização de anseios e ambições diversas e se colabora, em sociedade, para 
alcançar alguns objetivos comuns. 
Como exemplos dessa busca para superação de novos limites pode-se 
citar os “descobrimentos” do novo continente americano a partir do século XV, 
quando povos da Europa ultrapassaram limites do atlântico e chegaram à 
América. A chegada à lua no século XX também pode representar este flerte 
constante do homem com seus limites no mister de vê-los estabelecidos, 
reconhecidos e superados. 
A globalização também representa a relatividade dos limites, com reflexos 
tanto comerciais como culturais e criminais, pois a reboque de um maior 
liberalismo nas relações comerciais entre os países também segue o incremento 
do comércio ilícito entre territórios, para além das suas fronteiras formais. 
Essas características de competição e colaboração podem ser vistas no 
aspecto individual e social. O indivíduo compete com outros indivíduos por 
melhores meios, recursos e destaque, ao passo que as sociedades também 
disputam com outras sociedades por insumos, espaço, tecnologias e recursos 
para melhor prover os seus. 
Dificuldades momentâneas ou constantes são um dos amalgamas que 
levam à cooperação. Historicamente os seres humanos reúnem-se ou não 
dependendo do grau de dificuldades impostas pelo meio, por predadores 
naturais, guerras ou calamidades. 
Essas reuniões e cooperações formaram tanto sociedades sem Estado 
(Clastres, 1978), sociedades feudais e os Estados Nacionais. Nestes últimos, a 
noção de territorialidade e soberania fortaleceu a noção de fronteiras, fixaram 
nacionalidades e, ao mesmo tempo, dificultaram a colaboração entre os povos 
separados. 
A criminalidade transnacional confronta os Estados e coloca em cheque 
a soberania destes próprios entes, pois atua nas dificuldades de integração das 
forças de segurança, nas bordas de seus territórios, uma das fragilidades mais 
exploradas. 
Ocorre que criminalidade organizada não se enfeixa em vetustos 
conceitos de soberania. Consegue movimentar-se de forma mais flexível e 
célere sobre territórios e cruzar fronteiras sem praticamente reconhecer 
27 
 
diferenças entre um ou outro país. Em contrapartida, os Estados Nacionais 
criaram diversas amarras ao trânsito ágil de seus agentes policiais, dificultaram 
a atuação integrada entre as instituições de segurança, nas áreas de fronteira 
entre países, circunstâncias que facilitam a atuação da criminalidade organizada 
nas bordas territoriais, nos cantos menos iluminados pela colaboração entre os 
países. 
A criminalidade organizada transnacional trabalha com uma métrica de 
comércio exterior, de globalização do ilícito e multiplicação de lucros, de 
encobrimento nos meandros de Estados Nacionais pouco articulados em suas 
investigações. 
É importante pontuar uma comum diferenciação entre limite entre países, 
ou a linha de fronteira propriamente dita, quando efetivamente está cruzada a 
linha de soberania entre Estados Nacionais e a faixa ou região de fronteira 
normalmente mais alargada do que a simples linha de limite. 
A Faixa de Fronteira do Brasil já teve dimensões de 66 km, passou para 
100 km e, com a última alteração, de 1979 remanesce em 150 km.A dinâmica 
está resumida nos estudos do Governo Federal para o desenvolvimento das 
fronteiras nacionais: 
Sob o governo de Dom Pedro II a largura estabelecida foi de dez 
léguas ou 66 quilômetros. Desde então, a extensão da Faixa de 
Fronteira foi sendo alterada, primeiramente para 100 e nos anos 
trinta para 150 quilômetros, permanecendo até hoje. A 
Constituição de 1988 avalizou essa disposição que manteve o 
ideal focado na defesa territorial. A Lei nº 6.634, de 1979, ainda 
persiste como a referência jurídica sobre a Faixa de Fronteira, 
que corresponde a aproximadamente 27% do território Nacional 
com 15.719 km de extensão. Abriga cerca de 10 milhões de 
habitantes de 11 estados Brasileiros, e lindeia a 10 países da 
América do Sul. (BRASIL, Ministério da Integração Nacional, 
2017, p. 9). 
A legislação sobre a Faixa de Fronteira do Brasil, considerada como área 
indispensável à Segurança Nacional, de 150 km de largura, paralela à linha 
divisória terrestre do território nacional4 dedica preocupação com a segurança 
 
4A definição legal encontra-se no art. 1º da lei 6634/79. Como a pesquisa versa sobre a 
Tríplice Fronteira, cumpre assinalar que o Paraguai considera como faixa de fronteira a 
região de 50 km a partir das linhas de fronteira terrestre e fluvial, conforme artigo 1º da 
lei 2.532/2005. A Argentina, por sua vez, a partir da lei 15.385/1944 criou Zonas de 
Segurança, dividida em Zonas de Segurança de Fronteiras e Zonas de Segurança do 
Interior. A extensão destas zonas depende de ato do Poder Executivo, no máximo 150 
28 
 
nacional e impõe várias restrições ao desenvolvimento da área, conforme se vê, 
no Art. 2º. - Salvo com o assentimento prévio do Conselho de Segurança 
Nacional, será vedada, na Faixa de Fronteira, a prática dos atos referentes a: 
I - alienação e concessão de terras públicas, abertura de vias de 
transporte e instalação de meios de comunicação destinados à 
exploração de serviços de radiodifusão de sons ou radiodifusão 
de sons e imagens; 
II - Construção de pontes, estradas internacionais e campos de 
pouso; 
III - estabelecimento ou exploração de indústrias que interessem 
à Segurança Nacional, assim relacionadas em decreto do Poder 
Executivo. 
IV - instalação de empresas que se dedicarem às seguintes 
atividades: 
a) pesquisa lavra exploração e aproveitamento de recursos 
minerais, salvo aqueles de imediata aplicação na construção 
civil, assim classificados no Código de Mineração; 
b) colonização e loteamento rurais; 
V - transações com imóvel rural, que impliquem a obtenção, por 
estrangeiro, do domínio, da posse ou de qualquer direito real 
sobre o imóvel; 
VI - participação, a qualquer título, de estrangeiro, pessoa 
natural ou jurídica, em pessoa jurídica que seja titular de direito 
real sobre imóvel rural; 
As restrições não contribuem para a melhora das condições de segurança 
da Faixa de Fronteira e representam, de forma clara, uma concepção antiga 
desta como uma área de amortecimento da linha de fronteira propriamente dita, 
de limite com países vizinhos. Representa também a concepção de que os 
países vizinhos pudessem ser um desafio à soberania Estatal, vendo os 
estrangeiros como “estranhos”. A concepção sugere a fronteira como limite, 
como fim e não como lugar de encontro de povos, de convivência e 
reconhecimento da diversidade. 
A visão obsoleta que destaca o estranhamento e a suspeição do outro, do 
vizinho, do forasteiro, coloca a Faixa de Fronteira como área de segurança 
especial, com restrições diferenciadas ao restante do território nacional, 
representa uma noção antiga, derivada de momentos históricos em que as 
questões territoriais no Brasil ainda não estavam definidas, e pouco contribuiu 
para que a extensa área de fronteira nacional mereça o desenvolvimento 
condizente com a sua pujança. 
 
km, na fronteira terrestre, 50 km na fronteira marítima e 30 km nas zonas de segurança 
no interior. 
29 
 
Vargas (2017), na obra Formação das Fronteiras Latino-Americanas, 
classifica essa noção de fronteira, como limite de território, ligada ao conceito 
etimológico que representaria a praça fortificada defronte ao inimigo. Nessa 
concepção, o significado de fronteira seria carregado de desconfiança, medo, 
temor do outro, daquele que vem além, sendo a região um local de 
amortecimento, que não deve ser desenvolvido para não vulnerar o Estado 
Nação quando de uma possível guerra. 
Vargas, apresenta umaconcepção de fronteira como lugar, como espaço 
para além da ideia de simples limite territorial, como: 
Um lugar, um espaço vivenciado em comum pelas pessoas de uma 
comunidade fronteiriça em suas atividades cotidianas de trabalho, lazer, estudo, 
convívio familiar, negócios. (VARGAS, 2017, p.44). 
Para esta pesquisa, a proposta é ver as fronteiras como espaços 
singulares de encontro entre povos, com a evolução da ideia de fronteira para 
além da visão de uma área territorial de limite, típica das teorias jurídico-políticas, 
e vê-la como transbordante, como uma territorialidade transfronteiriça de 
integração, contato e desenvolvimento. 
Fronteiras são espaços de contato e trocas, e esses encontros e 
aproximações podem levar a tensões, atritos e conflitos. Permitem 
complementações, alianças e colaborações que promovem ganhos recíprocos 
àqueles que, a partir dos contatos e diferenças, reconhecem possibilidades de 
convergência e coordenação, pela interdisciplinaridade, em que conhecimentos 
distintos dialogam. 
As fronteiras entre os países sempre foram transbordantes e, atualmente, 
ainda mais em face das atividades comercial, de turismo e migração existente 
entre os povos, mormente após o fenômeno da globalização. Esse novo 
dinamismo desafia as antigas ideias de soberania, de território e de fronteiras 
cerradas. O crime organizado transnacional não percebe os limites entre os 
países como problema e sim como oportunidade de suprir mercados ilícitos e de 
furtar-se à atuação estatal, pouco integrada. 
No desenvolvimento da pesquisa, mais do que controlar de forma 
absoluta o espaço fronteiriço, é mister, para aprimoramento da segurança de 
todos que nela habitam e no geral de todos os territórios nacionais impactados, 
que haja a possibilidade das forças de segurança transpor a fronteira de forma 
30 
 
regrada e dinâmica, sem maiores burocracias, de forma a dificultar a eclosão de 
comércio irregular e de riscos crescentes à segurança pública dos países. 
Nos delitos de descaminho, a principal motivação é o lucro decorrente de 
diferenças de tributação de produtos de um país para outro, de um lado e do 
outro das fronteiras nacionais. 
As diferenças de tributação de produtos nos territórios de Argentina, Brasil 
e Paraguai, principalmente na questão atual do tabaco, criou um campo vasto 
para sedimentação de uma criminalidade organizada que se ancora, 
principalmente, na falta de uma visão mais tributária do que criminal para a 
solução do problema do contrabando e descaminho5. É necessário que haja uma 
unificação real de mercados, o que se pretende como desiderato para o 
MERCOSUL, para parte da América do Sul, já alcançado pela União Europeia - 
UE. 
Na obra de Vargas, vem a ideia de estranhamento e entranhamento, para 
distinguir, respectivamente as concepções de fronteira como limite ou como 
lugar: 
Se por um lado o sentido de limite do território explicita uma 
função desagregadora da fronteira, caracterizada pelo 
distanciamento e pelo ‘estranhamento’ em relação ao outro, por 
outro lado a ‘nova’ acepção estabelece a fronteira como um 
lugar, como um espaço de convívio de uma comunidade 
imaginada, evidenciando certa função gregária da fronteira em 
um tipo distinto de relação com a alteridade, marcada pela 
aproximação e pelo ‘entranhamento’ do outro. (VARGAS, 2017, 
p. 44). 
 
Essa conceituação de entranhamento é semelhante a uma concepção de 
convergência ou até mesmo de fusão, correspondente, na visão da professora 
Olga Pombo (2008), respectivamente, às ideias de interdisciplinaridade e 
 
5Sobre a questão tributária que incentiva a problemática “endêmica” do contrabando de 
cigarros paraguaios para o Brasil, tem-se o estudo “A Lógica Econômica do 
Contrabando” do Instituto de Desenvolvimento Social e Econômico de Fronteiras -
IDESF, disponível no site <www.idesf.org.br> No estudo demonstra-se a necessidade 
urgente de reforma do complexo modelo tributário brasileiro, cujo sistema arrecadatório 
representa, conforme a pesquisa, um “tributo ao contrabando”. Demonstra-se também 
que a criação de uma linha popular de cigarros brasileiros, com diminuição de impostos, 
poderia fazer frente à invasão do contrabando de cigarros, mantendo-se ou até mesmo 
ampliando-se a arrecadação de tributos, vez que, atualmente, cerca de metade do 
mercado de cigarros no Brasil é clandestino e abastecido de cigarros paraguaios, que 
não sofrem tributação e têm preços mais competitivos e qualidade inferior. 
31 
 
transdisciplinaridade que serão empregadas adiante como fundamentação 
teórica à integração do trabalho policial nas fronteiras, o principal objetivo desta 
dissertação. 
A atuação policial nas áreas de fronteira deve partir do pressuposto de 
que merece ser feita de forma convergente, como uma territorialidade comum 
em que os esforços de segurança devem ser compartilhados com os países que 
se encontram, e não como um limite cerrado ao trabalho policial. Mesmo por que 
o crime, os atos e delitos são praticados de forma de cooperação transfronteiriça. 
O estranhamento e a falta de encontro e cooperação entre as polícias são 
situações que só favorecem a disseminação de organizações criminosas que 
buscam guarida nas fronteiras estanques de Estados Nacionais rígidos, com 
polícias pouco articuladas e integradas entre si. 
Tal fenômeno traz sérios riscos para a soberania dos Estados Nacionais, 
pois em algumas parcelas de seus territórios a aplicação das normas, 
fornecimento de serviços, segurança e a solução de conflitos são capitaneados 
por tais organizações que, paulatinamente, vão soçobrando as instituições, 
infiltrando-se nestas pelo processo eleitoral e até mesmo na via de concursos 
públicos. 
O território, fronteiriço ou não, é o lugar essencial em que o homem 
materializa sua obra. Semelhante à tela para o pintor, lugar onde cristaliza a sua 
arte, o território é o lugar de manifestação e desenvolvimento de povos, 
comunidades e nações. 
Milton Santos refere ao território como: 
O lugar que desembocam todas as ações, todas as paixões, 
todos os poderes, todas as forças, todas as fraquezas, isto é, 
onde a história do homem plenamente se realiza a partir das 
manifestações da sua existência. (2007, p. 13). 
 
A diferença entre espaço e território é a conotação jurídico-política que se 
dá à territorialidade em contraposição ao sentido geral, mais abrangente da 
noção de espaço. Claude Raffestin (1993, p. 2) distingue-os apontando o espaço 
como prévio e o território como uma delimitação humana do espaço dado, 
anterior. Para o autor “O espaço é a ‘prisão original’, o território é a prisão que 
os homens constroem para si”. 
32 
 
Especificamente para o caso da movimentada fronteira entre Argentina, 
Brasil e Paraguai, denominada como tríplice fronteira, no encontro entre seis 
cidades: de Foz do Iguaçu – Estado do Paraná – Brasil; Puerto Iguazú – 
Província de Misiones –Argentina, e Ciudad del Este, Presidente Franco, 
Minga-Guazu e Hernandárias –Departamento de Alto Paraná – Paraguai. 
Estaárea de fronteira é extremamente dinâmica e populosa, cuja territorialidade 
foi construída ao longo de muitos anos em processos de sístole e diástole, de 
aproximações e afastamentos, de entranhamentos e estranhamentos, de 
sínteses e antíteses, enfim, de aproximações e distanciamentos que culminaram 
em uma dependência mútua entre os povos da fronteira para os quais a 
coexistência é fundamental ao desenvolvimento e melhora geral das condições 
territoriais. 
A fronteira, pois, é uma territorialidade interdisciplinar por excelência, 
lugar em que a diversidade se encontra, entrelaça-se, dialoga, discute, repele-
se e funde-se. 
De todas as tríplices fronteiras da América Latina, a maior em área 
urbanizada e conurbada e dinamicamente articulada, começou nos fins dos anos 
de 1950,com a fundação de Puerto PresidenteStroessner, que mais tarde 
denomina Ciudad del Este. (Rabossi, 2011, p. 40)6 
Conforme Cury, a “Tríplice Fronteira representa uma Territorialidade 
Transfronteiriça, uma convergência geográfica, histórica, cultural, política e 
comercial”. (CURY, 2010, p. 18). Pode-se agregar aos aspectos anteriores a 
segurança pública e cooperação policial, fundamentais para as demais. 
Para que a Tríplice Fronteira possa obter ainda maiores ganhos de 
emancipação, é mister maior união e convergência na área de segurança 
pública. Essa convergência pode ser representada no símbolo do encontro das 
águas do Rio Paraná e Iguaçu, estabelecido quase que em um raro ângulo reto 
da natureza e que une e delimitam os três países: Argentina, Brasil e Paraguai. 
Também, pelo compartilhamento de fronteiras, tanto para a geração de 
energia, caso da usina hidrelétrica de Itaipu, formada da união de Brasil e 
 
6Trata-se de artigo “Como pensamos a Tríplice Fronteira” (p. 39-61) de FERNANDO 
RABOSSI. Capítulo 2 do livro “A Tríplice Fronteira: Espaços Nacionais e Dinâmicas 
Locais. Editora UFPR, 2011. Organizadores: Lorenzo Macagno, Silvia Montenegro e 
Verónica Giménez Béliveau. 
33 
 
Paraguai, como pela integração de Argentina e Brasil, na exploração turística 
das Cataratas do Rio Iguaçu e dos Parques Nacionais do Iguaçu. 
 
Busca-se, pois, comprovar que as ‘Territorialidades 
Transfronteiriças do Iguassu – TTI’, além de sua utilidade para 
as ações públicas e privadas de desenvolvimento do Turismo, 
adéqua-se para definir uma unidade socioespacial e 
geoeconômica, influindo na dinâmica social e política dos 
três países envolvidos. Resta, então, o uso linguístico de cada 
Nação, empregando-se, desde já, o TTI para as reflexões 
atinentes à integração territorial em análise. (CURY, 2010, p. 18) 
 
O lugar da pesquisa, a Tríplice Fronteira, é único, dinâmico e foco de 
preocupações constantes no tocante à segurança pública, com reflexos locais, 
regionais e até mesmo mundiais. Também representa um importante entreposto 
comercial para a América do Sul e o mundo: 
Na atualidade, as três cidades juntas somam mais de 500 mil 
habitantes. Se somadas as conurbações urbanas do lado 
paraguaio, entre Ciudad del Este, Presidente Franco, 
Hernandárias e Minga-Guaçu, que formam uma Região 
Metropolitana, a soma ultrapassa os 800 mil habitantes. 
(KLEINSCHMITT et all, 2013, p.04). 
 
No Estado do Paraná, a Tríplice Fronteira significa um importante pólo 
turístico e comercial. Caso seja considerada toda a região de fronteira do Paraná, 
que é a mais populosa do Brasil, ter-se-ia mais de dois milhões de habitantes7em 
139 municípios, ocupando, aproximadamente, 35% do território do Estado 
(Segurança Pública nas Fronteiras: Relatório Final do Paraná8). 
Conclui-se que o Paraná tem cerca de 20% de toda a sua população 
residindo na região de fronteira. 
Os dados da Estratégia Nacional de Segurança Pública nas Fronteiras - 
ENAFRON informam que, nos 27% do território nacional que constituema 
 
7http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-
permanentes/credn/audiencias-publicas/2011/acompanhar-e-esclarecer-as-acoes-e-
dificuldades-encontradas-para-prover-a-devida-protecao-as-fronteiras-brasileiras-
1/apresentacao-enafron 
 
8Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Instituto de Filosofia e Ciências 
Sociais (IFCS); Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana 
(NECVU). 
 
34 
 
totalidade da fronteira brasileira, residiriam cerca de 5% de toda população, ou 
seja, 10 milhões de habitantes. 
Comparativamente, os 2.357.850 km² da área de fronteiras oeste do Brasil 
chegam próximos a todo o território da Argentina, que possui área de 
2.780 400 km². Na Argentina, entretanto, a população é de aproximadamente 43 
milhões de habitantes. 
A figura 1 ilustra o Estado do Paraná com destaque para a porção dos 
139 municípios da Faixa de Fronteira: 
 
Figura 1. Municípios do Paraná e a Faixa de Fronteira 
 
Fonte: CAPE-PR - 2019 
 
Por ser uma das nove tríplices fronteiras do Brasil,9 a fronteira de 
Argentina, Brasil e Paraguai é referência imediata e mundial quando se 
 
9O Brasil tem nove tríplices fronteiras com: 1) Argentina e Paraguai (município de Foz 
do Iguaçu/PR); 2) Argentina e Uruguai (municípios de Uruguaiana e Barra do 
Quaraí/RS); 3) Bolívia e Paraguai (município de Corumbá/MS); 4) Bolívia e Peru 
(município de Assis Brasil/AC), 5) Colômbia e Peru (Atalaia do Norte/AM); 6) Colômbia 
e Venezuela (São Gabriel da Cachoeira/AM); 7) Venezuela e Guiana (Uiramutã/RR); 8) 
35 
 
menciona a região. A terminologia, segundo Rabossi (2004, p.24), foi empregada 
a partir de 1992 tendo em vista apontamentos sobre ação de grupos terroristas 
na região quando do atentado à Embaixada Israelense em Buenos Aires naquele 
ano. Na sua tese de doutoramento sobre Ciudad del Este, RABOSSI10 diz que, 
anteriormente, a região era cunhada como zona, área ou região das três 
fronteiras. A referência é tão robusta hoje que, de substantivo geral, a menção à 
Tríplice Fronteira sugere diretamente a confluência entre Argentina, Brasil e 
Paraguai, tornando-se nome próprio do local, motivo pelo qual se adota o termo 
Tríplice Fronteira em maiúscula para referir à localidade nesta obra. 
 
O substantivo próprio Tríplice Fronteira começa a ser usado para 
referir-se à confluência desses limites internacionais (...) forma 
de retratar a área caracterizada pela falta de controle do 
movimento pelos limites internacionais que teria favorecido o 
desenvolvimento de todas as atividades ilícitas mencionadas. 
(RABOSSI, 2004, p.24). 
 
Na obra em que analisa a Tríplice Fronteira no contexto do terrorismo, 
Arthur Bernandes do Amaral diz que, antes, na década de 90 do século passado 
“havia somente as três fronteiras de Brasil, Argentina e Paraguai – aquele algo 
plural” (AMARAL, 2010, p. 32). Gradativamente, as partes fundiram-se e o que 
antes era “as” três fronteiras, tornou-se “a”Tríplice Fronteira, uma 
transdiciplinaridade, uma fusão, aglutinação. 
O próprio conceito de Tríplice Fronteira – enquanto um novo 
corpo que transcende as partes que a compõem, sem negá-las 
– nasce intimamente relacionado a questões de segurança, mais 
especificamente ao terrorismo e outras dinâmicas de caráter 
inter e transnacional. (AMARAL, 2010, p. 33). 
 
Ver-se-á adiante que o CT surge a partir da preocupação com o terrorismo 
no cone Sul, notadamente a partir dos atentados de 1992 e 1994 em Buenos 
Aires. 
 
Guiana e Suriname (Oriximiná/PA); 9) Suriname e Guiana Francesa (Laranjal do 
Jari/AP). 
 
10Disponível em: 
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/262950/mod_resource/content/1/Rabossi.Nas%
20ruas%20de%20Ciudad%20del%20Este.pdf 
 
36 
 
Entretanto, não será escopo desta pesquisa a análise ou estudo do CT 
como unidade voltada para a prevenção à crimes de terrorismo, mas sim como 
relevante unidade de cooperação policial local que visa a troca de informações 
e auxílios mútuos para a prevenção e repressão de ilícitos transnacionais, dentre 
eles a lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, armas, munições, pessoas e o 
terrorismo. 
Esta dissertação está estruturada em três capítulos. 
O capítulo 1 versa sobre as polícias vistas como disciplinas e trata da 
interdisciplinaridade. Aborda a convergência nos trabalhos de integração de 
segurança pública, traz os conceitos, aplicabilidade relacionadas a política e ao 
sistema de segurança no Brasil. Ilustra sua relação com os eventos de um 
modelo e outros exemplos de cooperação integrada nas fronteiras. 
O capítulo 2 refere a uma abordagem que parte do local ao global sobre 
as cooperações policiais internacionais em áreas de fronteirase o Comando 
Tripartite como aspecto de cooperação penal internacional. 
O capítulo 3 descreve o estudo de caso dos crimes na empresa 
PROSEGUR em Ciudad del Este, faz uma referencia aos crimes transnacionais, 
as questões relevantes sobre o caso e a atuação das polícias de forma integrada 
e de cooperação na Tríplice Fronteira. 
A seguir as considerações finais e referências. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
1 A FORMAÇÃO DE POLÍCIAS VISTAS COMO DISCIPLINAS 
 
Neste capítulo será apresentada a possibilidade de se utilizar do 
fenômeno da interdisciplinaridade como forma de possibilitar a integração dos 
trabalhos policiais. Serão discutidos os conceitos de 
multidisciplinaridade/pluridisciplinaridade, interdisciplinaridade e 
transdisciplinaridade, como pressuposto que cada polícia é uma disciplina a 
parte, com sua doutrina, formação, normas e objetivos próprios. 
Posteriormente, para mensurar o tamanho do desafio, apresentar-se-á a 
estrutura atual das polícias no Brasil, com organização e viés eminentemente 
disciplinar, as iniciativas de integração nas atuações de fronteira a partir de 2011, 
como os Gabinetes de Gestão Integrada de Fronteiras (GGIF), a forma de 
integração utilizada nos grandes eventos esportivos como a Copa do Mundo de 
Futebol – Federação Internacional de Futebol – FIFA, 2014 e dos Jogos 
Olímpicos de 2016 no Brasil, e as ações e cooperações de segurança local na 
Tríplice Fronteira de Foz do Iguaçu/PR. 
Será exposta a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social 
(PNSPDS) e o pretendido Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), 
previstos a partir da lei 13.675, de 11 de junho de 2018 e decreto nº 9.489, de 
30 de agosto de 2018, além dos decretos sobre planos de segurança para as 
fronteiras nacionais, quais sejam os de números 7.496, de 8 de junho de 2011, 
posteriormente revogado pelo 8.903, de 16 de novembro de 2016. 
 
1.1 INTERDISCIPLINARIDADE E A CONVERGÊNCIA NOS TRABALHOS DE 
SEGURANÇA PÚBLICA 
 
O movimento de interdisciplinaridade, em que pese a dificuldade de 
conceituação inequívoca do termo, é um exercício constante de volta à totalidade 
do homem, um retorno a casa na sua completude, uma retomada do humanismo. 
Com o iluminismo e a evolução dos estudos e métodos científicos, em maior 
escala a partir do século XVII na Europa, o conhecimento foi gradativamente 
cindido em disciplinas muitas vezes rigidamente delimitadas, a fim de permitir o 
mergulho fechado em aspectos cada vez mais singulares do conhecimento 
humano. Tal especialização gradativa permitiu formidáveis avanços nas 
38 
 
ciências, mas também fez o homem de ciência enfeixado nas suas 
especialidades. 
Desde René Descartes, no século XVII, com a obra O Discurso do 
Método, quando expõe os quatro preceitos básicos de seu método científico, diz, 
sobre a necessidade de “dividir cada uma das dificuldades que examinasse em 
tantas parcelas possíveis e que fossem necessárias para melhor resolvê-las (...)” 
(DESCARTES, 2005, p. 55). 
Era preciso dividir para estudar, classificar, categorizar, separar e com 
isso estabeleceram-se fronteiras e limites entre os saberes humanos, com 
formação de caminhos murados para viabilizar pesquisas cada vez mais 
pontuais e específicas. O foco era o singular, o individual. Buscava-se conhecer 
muito de pouco e, a partir do pouco, delimitar ainda mais particularidades para 
reiniciar o mergulho, como que para abrir um fôlego novo e, novamente 
mergulhar mais e mais profundamente. 
O homem focava cada vez mais o específico, flertava com o singular, e 
esquecia-se de olhar as paisagens e os conhecimentos que pairavam ao 
derredor da ciência estrita praticada, tal qual o piloto concentrado em uma corrida 
de alta velocidade, em que a rapidez não permite qualquer respiro de 
diletantismo ao condutor, que, mesmo percorrendo grandes distancias 
aprisionado na velocidade, nada sabe sobre os lugares e cercanias que 
percorreu. 
Fritjof Capra, quando traça paralelos entre o conhecimento racional 
(científico) e o intuitivo (místico) destaca que o conhecimento racional “deriva da 
experiência que possuímos no trato com objetos e fatos do nosso ambiente 
cotidiano. Ele pertence ao reino do intelecto, cuja função é discriminar, dividir, 
comparar, medir e categorizar” (CAPRA, 2011, p.40). 
Na ciência disciplinar, ao lado dos formidáveis avanços que proporcionou, 
muitas soluções perderam-se nos escaninhos estanques e nas fronteiras 
silenciosas das disciplinas sem diálogos ou encontros com outras doutrinas, 
conceitos, métodos e costumes. A ciência disciplinar encerrou-se em círculos 
restritos de conhecimentos extremamente especializados. 
O movimento da interdisciplinaridade vem propor um aumento de 
interação entre os escaninhos do conhecimento e os pesquisadores das mais 
diversas áreas, numa perspectiva de integração, convergência e 
39 
 
compartilhamento de saberes entre as inúmeras especialidades da ciência 
moderna. 
Pensar de forma interdisciplinar é ver a ciência como esporte coletivo, em 
que todo o jogador, na sua habilidade especial, contribuiu para o avanço e a 
vitória da agremiação. Assim é a perspectiva interdisciplinar para a segurança 
pública e cooperações em fronteira que se propõe. 
Um marco para o avanço do pensamento interdisciplinar, conforme 
Alvarenga et all (2011, p. 31) foi o primeiro Seminário Internacional sobre Pluri e 
Interdisciplinaridade sediado na Universidade de Nice na França em setembro 
de 1970, oportunidade em que é proposto, ao lado das terminologias pluri e 
interdisciplinaridade, o termo transdisciplinaridade. Conforme os autores citados: 
 
Esses três termos passam de um modo articulado, a partir de 
então e até o presente momento, a representar um novo 
horizonte de possibilidades para o tratamento diferenciado de 
problemas complexos e de busca de superação de limites do 
conhecimento centrado, de maneira exclusiva, no paradigma 
unidisciplinar.(ALVARENGA, et all, 2011, p.32). 
 
A prática interdisciplinar, cuja conceituação ainda é difícil, conforme se 
verá adiante, pode ter aplicações para muito além da ciência e dos métodos 
científicos. Deve ser uma prática humana incentivada que flerta com a tolerância, 
a cooperação e o reconhecimento da diversidade do indivíduo, de organizações, 
visões de mundo e investigações. 
Tal qual a ciência que enfrenta cada vez problemas mais complexos, as 
sociedades no geral e a segurança pública no específico atuam em cenários 
multifacetados a demandar esforços integrados de diversas áreas de 
conhecimento e especialidades. 
O mesmo fenômeno de disciplinarização que ocorreu nas ciências 
aconteceu na segurança pública, especialmente no Brasil, como se vê na criação 
de várias polícias, com atribuições específicas e especializações internas e 
ainda divisões no âmbito federal e estadual, com manifestações inclusive 
municipais nas Guardas Municipais. 
Há sérios problemas de integração e de perspectiva interdisciplinar 
também no sistema de justiça criminal que congrega os órgãos policiais, judiciais 
40 
 
e de execução penal, bem como no Ministério Público e nas instituições de 
defesa, da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB e Defensorias Públicas. 
A falta de integração, que, na base, deriva de falhas na formação e aptidão 
para o trabalho interdisciplinar, pode explicar, em parte, a grave crise de 
segurança pública vivenciada hoje no Brasil, com índices de mortalidade 
comparáveis aos piores conflitos e guerras internacionais e com a ascensão 
direta de organizações criminosas que rivalizam com o Estado Nacional na 
disputa pela organização da sociedade, com dominação de territórios e 
determinação de normas e regras de comportamento pelas facções criminosas. 
O objetivo principal deste capítulo é traçar um marco conceitual mínimo 
sobre o movimento da interdisciplinaridade e trabalhar, para além da 
interdisciplinaridade nas ciências, coma sua utilização nas ações de segurança 
pública no Brasil, para demonstrar a necessidade de cooperação interagências 
no trabalho policial e de justiça, inclusive nas cooperações policiais 
internacionais em áreas de fronteira. Ao final, pretende-se responder sobre a 
possibilidade de uma teoria geral da cooperação policial fundada na 
interdisciplinaridade e seus termos básicos. 
 
1.2 A INTERDISCIPLINARIDADE E APLICAÇÃO NAS AÇÕES INTEGRADAS 
DE SEGURANÇA PÚBLICA. 
 
 
Para POMBO (2008), o termo interdisciplinaridade estaria gasto e seria 
extremamente equívoco e de utilização vulgarizada. Entretanto, a autora propõe 
uma definição para interdisciplinaridade, bem como para multidisciplinaridade ou 
pluridisciplinaridade e transdisciplinaridade. Será a partir da proposta da autora 
portuguesa que serão trabalhados os conceitos mencionados nesta pesquisa. 
Imperativo ressaltar que há várias outras definições e divisões passíveis de 
utilização para a importante terminologia. 
Pela clareza e construção teórica, selecionou-se o modelo proposto pela 
pesquisadora. Todos os termos: multidisciplinaridade/pluridisciplinaridade, 
interdisciplinaridade e transdisciplinaridade podem ser encarados como 
espécies ou formas de integração. 
41 
 
O esforço aqui é dar um sentido menos equívoco aos termos comumente 
utilizados em diversos estudos. Parte-se, desde o início para uma fixação 
semântica e oportuna do conceito multidisciplinaridade (ou, 
pluridisciplinaridade), interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. Ambos os 
termos vêm como reação ao pensamento disciplinar e isolacionista. 
A proposta de Pombo sobre a conceituação seria tomar os termos de 
forma contínua, mas não hierarquizada, a partir de uma noção de coordenação 
ou paralelismo da multidisciplinaridade, perpassada pela ideia de convergência 
ou perspectivismo da interdisciplinaridade e finalizada na fusão, unificação ou 
holismo da transdisciplinaridade, sem que isso determine algum grau de 
superioridade de um dos termos sobre o outro. Os termos representam formas 
ou estágios para ações integradas. 
Pensar em interdisciplinaridade seria trabalhar com uma ideia de 
convergência sem fusão, ao passo que na pluridisciplinaridade, ou 
multidisciplinaridade, a premissa seria um esforço de paralelismo e coordenação 
mínima. Por fim, na transdisciplinaridade haveria a fusão e unificação. 
Um trabalho minimamente integrado seria aquele que congrega ao menos 
esforços de coordenação em paralelismo, entre conhecimentos diversos e 
complementares, como expertises passíveis de se apoiarem reciprocamente. 
Algo como um caminhar lateralizado, como amigos que andam juntos e se 
apoiam e dividem talentos e meios durante a jornada. 
Na atuação policial, um trabalho multidisciplinar seria aquele que 
congrega diversas polícias ou equipes em uma coordenação mínima, como por 
exemplo: um horário específico para início das atividades, divisão de ações em 
um dado território, mantendo-se a formação inicial das equipes previamente 
consideradas em suas próprias forças. 
Na interdisciplinaridade, o movimento, para além do caminhar junto, em 
paralelo, seria a atuação convergente, com foco comum e compartilhamento de 
recursos e meios para o alcance de uma meta conjunta, tal qual as mãos dadas 
para superação de uma barreira ou para acertar o passo durante um salto 
desafiador. No caso policial, um exemplo seria a formação de uma equipe 
diversa, com Policiais Federais, Rodoviários Federais, Civis e Militares para, 
juntos, em força tarefa, compartilhar as melhores expertises, enfrentar uma 
organização criminosa que promove ações violentas em uma dada região, com 
42 
 
compartilhamento de equipes, meios e práticas a fim de dar a solução qualificada 
para o desafio apresentado. O estudo de caso proposto para pesquisa no 
capítulo três também é exemplar do sentido interdisciplinar que se pretende 
como paradigma para uma atuação integrada das polícias, de ordem local para 
o global. 
A fusão já seria uma ideia de transdisciplinaridade, de partes que se unem 
profundamente e se somam descaracterizando-se individualmente para a 
criação de um novo produto, ser, sentido ou atuação. Neste caso, como exemplo 
humano, poder-se-ia falar em homem e mulher que, juntos e voluntariamente, 
dão origem a um novo ser, somando-se geneticamente e descaracterizando-se 
individualmente para que uma nova geração surja. 
No trabalho policial, a fusão ou transdisciplinaridade poderia ser 
representada por discussões que envolvem propostas de junção de polícias, 
como os debates e projetos que advogam a fusão das Polícias Estaduais 
(Polícias Militares e Polícias Civis) como solução para maior integração. 
A transdisciplinaridade, como as demais faces da integração 
(multidisciplinaridade e interdisciplinaridade), deve ter aproximações negociadas 
e consensuais, nunca uma imposição fria, sem vontade das partes, sob pena de, 
ao serem forçadas e abruptas, gerarem o efeito inverso de repulsa e divisão. Por 
isso as fusões de órgãos policiais geram tamanhas discussões e polêmicas. 
Pombo destaca que: 
 
Não há na proposta que apresentei qualquer intuito de apontar 
um caminho progressivo que avançasse do pior para o melhor. 
Pelo contrário, entre uma lógica de multiplicidades para que 
apontam os prefixos multi e pluri e a aspiração à 
homogeneização para que, inelutavelmente, aponta o prefixo 
trans enquanto passagem a um estádio qualitativamente 
superior, o prefixo inter, aquele que faz valer os valores da 
convergência, da complementaridade, do cruzamento, parece-
me ser ainda o melhor. (POMBO, 2008, p. 15). 
 
 
Forte no conceito de interdisciplinaridade proposto pela autora, portanto, 
estaria a ideia de cooperação, complementaridade e convergência em 
contraposição à ideia de competição, de rivalidade entre aqueles que devem, na 
43 
 
verdade, ser parceiros na construção do conhecimento e da ciência, e também, 
no caso da presente pesquisa, para aspectos da segurança pública. 
A cooperação policial, vista internamente entre as polícias do Brasil, bem 
como internacionalmente em relação aos países vizinhos, é, uma manifestação 
da interdisciplinaridade. 
Pombo destaca as disputas e cisões no âmbito das ciências, que 
merecem paralelos nas atuações policiais: 
 
A ciência surge hoje como um conjunto de instituições cindidas, 
fragmentadas, absolutamente enclausuradas cada qual na sua 
especialidade [...] A ciência é hoje uma enorme instituição, com 
diferentes comunidades competitivas entre si, de costas 
voltadas umas para as outras, grupos rivais que lutam para 
arranjar espaço para o seu trabalho, que competem por 
subsídios, que estabelecem entre si um regime de concorrência 
completamente avesso àquilo que era o ideal científico da 
comunicação universal. (POMBO, 2008, p.17) 
 
A crítica da autora para a competitividade das instituições de ensino e 
pesquisa pode ser aplicada aos órgãos de segurança pública e sistema de justiça 
criminal, que reúne polícia, Justiça, Ministério Público e execução penal no 
Brasil. 
A Constituição Federal de 1988 determinou os princípios de um sistema 
de segurança pública colaborativo com atribuições definidas entre vários órgãos 
policiais para atuação conjunta. Em seu artigo 144 destaca no caput ser um 
dever do Estado, mas também uma responsabilidade de todos, para muito além 
das atividades policiais, preventivas e repressivas que possam ser gestionadas. 
O caput do artigo, acertadamente, revela, nesta ampla responsabilidade 
sobre a segurança de todos, um enorme desafio e uma clara necessidade de 
cooperação e convergência de esforços, atividades claras de uma atuação 
interdisciplinar. 
Convém citar expressamente o caput do artigo 144 da Carta da República 
Federativa do Brasil: 
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e 
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da 
ordem pública e da incolumidadedas pessoas e do patrimônio, 
através dos seguintes órgãos: 
I - polícia federal; 
44 
 
II - polícia rodoviária federal; 
III - polícia ferroviária federal; 
IV - polícias civis; 
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. 
(grifos nossos) 
 
Na Argentina não há detalhamento Constitucional sobre a organização da 
segurança pública, pois a Constituição do país é concisa. A organização das 
polícias é matéria de leis ordinárias. A lei nº 24.059, sancionada em 18 de 
dezembro de 1991, organiza as diversas polícias Argentinas. O país possui 
quatro polícias de âmbito nacional, vinculadas ao Ministério da Segurança: 
Policía Federal Argentina - PFA; Policía de Seguridad Aeroportuaria - PSA; 
Prefectura Naval Argentina - PNA e Gendarmería Nacional - GNA. As províncias, 
similares aos Estados brasileiros, podem instituir suas polícias regionais. Os 
municípios podem igualmente ter suas próprias polícias11. 
No Paraguai, a Constituição Federal de 1992, no artigo 175 faz referência 
à Polícia Nacional. A lei nº 222/93, sancionada em 29 de junho de 1993, dispõe 
sobre a organização da Polícia Nacional, vinculada ao Ministério da Segurança 
do Paraguai, única de nível nacional, com atribuições de controle de fronteiras, 
polícia de segurança (ostensiva) e de investigação (judiciária ou repressiva). A 
“Patrulla Caminera” faz o patrulhamento das rodovias e está vinculada ao 
Ministério das Obras Públicas e Comunicações, sem atribuição de polícia de 
investigação. 
A Constituição brasileira, no seu artigo 144, diz ser uma responsabilidade 
de todos, a segurança pública, logo após atribuí-la como dever ao Estado, no 
seu mais amplo aspecto de Estado Nacional Brasileiro. Sugere, de forma nítida, 
a necessidade de integrar diversos atores e esforços, em oposição à concepção 
de separação, segregação e competição. Essa integração no sentido lato é 
 
11 A Polícia de Segurança Aeroportuária – PSA; Gendarmeria Nacional – GM e 
Prefeitura Naval - PN, derivam remotamente das forças armadas Argentinas, 
respectivamente: Aeronáutica, Exército e Marinha. A PSA faz a segurança dos 
aeroportos e áreas próximas, mas sem atribuição de controle migratório, à cargo da 
Direção Nacional de Migração - DNM. A Gendarmeria tem atribuições de policiamento 
de fronteiras e a Prefeitura Naval cuida do policiamento das vias navegáveis. A Polícia 
Federal da Argentina atualmente tem funções mais de polícia judiciária. Entretanto, as 
diversas polícias daquele país atuam em ciclo completo, todas com atribuição para 
promover investigações e atuar como polícias de segurança, ostensivas. Em Buenos 
Aires, atua a Polícia da Cidade, antiga polícia metropolitana, que cuida do policiamento 
da cidade de Buenos Aires, sem prejuízo das quatro polícias federais. 
45 
 
composta de práticas e esforços multidisciplinares, interdisciplinares e até 
mesmo transdisciplinares em negativa ao isolacionismo disciplinar. 
A integração na segurança pública consiste, pelo menos, em uma 
atividade multidisciplinar de coordenação para a boa gestão e governança deste 
imenso desafio da segurança. O desafio repise-se, envolve não só as polícias e 
o sistema de justiça criminal, mas também o sistema educacional, as famílias, o 
trabalho, enfim, toda a sociedade organizada. 
Pode-se dizer, à luz do texto constitucional e da conceituação 
interdisciplinar, que o esforço mínimo é de coordenação (multidisciplinaridade), 
mas também de interdisciplinaridade (convergência e foco) em atuações que 
devem envolver toda a sociedade, começando pelas polícias, com atuações 
conjuntas e formação compartilhada (interdisciplinares), passa pelo sistema de 
justiça criminal, de forma a iniciar um efetivo tratamento para além do disciplinar 
e das atribuições e competências estanques de uma simples leitura fechada e 
jurídica do texto constitucional. 
Os aspectos de multi ou pluridisciplinaridade consistem numa atuação 
orquestrada e coordenada das atividades, como quando Policiais Federais e 
Estaduais atuaram em uníssono, junto com inúmeras outras forças de 
segurança, defesa e fiscalização, nos grandes eventos esportivos de 2014 e 
2016 no Brasil, cada qual fazendo suas expertises Constitucionais 
simultaneamente. Já a integração no aspecto da interdisciplinaridade seria a 
convergência em um maior compartilhamento de meios (helicópteros, 
embarcações, sistemas de comunicação), através de equipes mistas que atuam 
conjuntamente e até internacionalmente. 
O Estado Nacional dever ser o indutor maior da segurança pública, 
maestro de uma grande e complexa orquestra dessa necessária atividade 
interdisciplinar, de convergência, ou, ao menos, multidisciplinar, de coordenação 
(paralelismo). Deve atuar como o técnico de uma equipe esportiva, que sabe 
coordenar os esforços, escalar os jogadores para atuação nas posições 
indicadas, estudar o adversário, indicar as vulnerabilidades a serem exploradas, 
fornecer os meios, determinar as metas e cobrar os resultados. 
A segurança, aliás, é atividade fundamental dos Estados desde seus 
primórdios, quando os homens se reuniram e instituíram uma organização 
transcendente ao individual para gerir a vida comum. 
46 
 
O Estado passou, gradativamente, a monopolizar o uso da força e a 
gestão dos conflitos. Quer no Absolutismo (Hobbes, 1999), com a concepção de 
um Estado forte, do Leviatã, do soberano absoluto erigido para superar a 
natureza do homem, naturalmente mau e egoísta do século XVII, ao Iluminismo 
do contrato social (Rosseau, 1971) do século XVIII, em que o homem, agora 
naturalmente bom, se junta a outros homens partindo para a sociedade civil, 
cabe ao Estado, a partir do monopólio da força legítima de que dispõe, exercer 
a liderança nas atividades de segurança pública. 
É possível pensar em várias formações e modelos para o Estado, ou 
mesmo em sociedades que prescindam dele (Clastres, 1978), mas a função de 
segurança sempre será fundante para toda e qualquer sociedade. 
O Supremo Tribunal Federal - STF corrobora a função de liderança do 
processo de segurança pública como ínsita do Estado como um todo, passível 
de atuação do Judiciário: 
O direito a segurança é prerrogativa constitucional indisponível, 
garantido mediante a implementação de políticas públicas, 
impondo ao Estado a obrigação de criar condições objetivas que 
possibilitem o efetivo acesso a tal serviço. É possível ao Poder 
Judiciário determinar a implementação pelo Estado, quando 
inadimplente, de políticas públicas constitucionalmente 
previstas, sem que haja ingerência em questão que envolve o 
poder discricionário do Poder Executivo. (A Constituição e o 
Supremo)12 
 
Ocorre que esta necessária liderança do Estado, na coordenação das 
atividades para o alcance de uma segurança pública em estágios mínimos de 
eficiência, se vê nitidamente vulgarizada no Brasil. 
Apenas recentemente, estabeleceu-se uma proposta de política nacional 
de segurança pública, através da lei nº 13.675, de 11 de junho de 201813, trinta 
anos após a promulgação da Constituição Federal. Essa falta de atuação do 
Estado Nação contribuiu para a formação de organizações criminosas que se 
instalaram em territórios e, nesses locais, passaram a usurpar diversas funções 
do Estado, como lazer, abastecimento de bens, segurança pública e justiça, 
 
12A obra consta do site do STF http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/. Referência da citação na 
obra é: [RE 559.646 AgR, rel. min. Ellen Gracie, j. 7-6-2011, 2ª T, DJE de 24-6-2011 = ARE 
654.823 AgR, rel. min. Dias Toffoli, j. 12-11-2013, 1ª T, DJE de 5-12-2013] 
13A lei em referência foi regulamentada através do decreto nº 9.489, de 30 de agosto de 2018 
47 
 
ditando as normas e aplicando-as naqueles territórios que ficam à mercê de 
criminosos. 
Vencer esse desafio de segurança pública e, até mesmo, de soberania,com a recuperação de territórios e da própria função estatal de aplicar a justiça 
e garantir a segurança de todos, demanda, necessariamente, uma atividade 
integrada, nos aspectos multidisciplinar e interdisciplinar constantes, que é 
extremamente complexa, tal quais as intrincadas pesquisas e desafios da ciência 
hoje. O movimento interdisciplinar das ciências pode, assim, fornecer caminhos 
para aplicação na segurança pública, favorece a criação de uma teoria geral do 
trabalho policial integrado. 
O desafio de criar melhores resultados no campo da segurança pública 
no Brasil é, portanto, interdisciplinar, de integração. Em importante obra sobre a 
interdisciplinaridade na ciência, tecnologia e inovação, os autores Raynaut e 
Zanoni (2011), destacam o enfrentamento da pandemia da AIDS como exemplo 
de atuação interdisciplinar, com labor convergente de profissionais de áreas 
diversas como médicos, biólogos, epidemiologistas, mas também geógrafos, 
antropólogos e sociólogos, o que permitiu avaliar que a propagação da doença 
estava ligada também a questões sociais e culturais (RAYNAUT e ZANONI, 
2011, p. 152). 
Similarmente ao esforço integrado de cientistas das mais diversas áreas 
do conhecimento que se unem para resolver um grande problema científico, quer 
seja uma doença ou um conhecimento sobre o homem, como o projeto para 
solver decisivamente os péssimos índices de segurança pública no Brasil, é de 
todo mister a maior integração entre as forças de segurança interna e também 
com os países vizinhos. A questão é como fazer isso, como romper as fronteiras 
disciplinares entre as forças de segurança e o próprio sistema de justiça criminal. 
A Constituição Federal elenca os seguintes órgãos públicos diretamente 
ligados à responsabilidade de preservação da ordem pública e da incolumidade 
das pessoas e seus patrimônios: Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, 
Ferroviária Federal, Polícias Civis, Militares e Corpos de Bombeiros Militares dos 
Estados da Federação. Admite também a criação de Guardas Municipais por 
parte dos municípios para a proteção de bens, serviços e instalações. 
Todos esses órgãos policiais têm atribuições determinadas na 
Constituição Federal e em leis e regulamentos, e o fato de possuírem atribuições 
48 
 
determinadas, enfeixadas em áreas de conhecimento e especialidades, salutar 
para o desenvolvimento das doutrinas e expertises de cada área de 
conhecimento e prática policial, fez, entretanto, ao longo dos anos, os programas 
de formação, treinamento e operação ficarem cada vez mais fechados dentro 
das próprias corporações, sem que fosse incentivado, desde a formação, a 
atuação conjunta com as demais forças de segurança. 
Tal circunstância de isolamento na seleção, formação e atuação das 
polícias reflete em dificuldades de atuação conjunta das forças de segurança e 
tem levado a conflitos operacionais e, até mesmo, na invasão e confusão de 
atribuições legais que favorecem conflitos, retrabalhos, nulidades processuais e 
disputas interagências, que contribuem para a escalada do crime organizado, 
principalmente nos grandes centros urbanos nacionais. 
Mister se faz, como ponto relevante e inicial à uma teoria e prática do 
trabalho policial integrado, providenciar-se um grande esforço de integração nas 
academias de formação dos policiais e, no dia-a-dia, incentivar o trabalho 
interdisciplinar, pois cada organização policial nacional/local pode ser tratada 
como uma “disciplina”, vez que cada polícia pode ser entendida como um 
“espaço de conhecimento que reúne uma comunidade de mestres e discípulos 
unidos pelo projeto de compartilhar e aprofundar um mesmo corpus de 
experiências e saberes” (RAYNAUT e ZANONI, 2011, p.146). 
O trecho, destacado para refletir sobre o conteúdo disciplinar das ciências 
na academia, pode ser empregado para reconhecer habilidades, doutrinas e 
condições especiais de atuação das polícias dentro das suas expertises, como, 
por exemplo, nas atividades de policiamento ostensivo, a fim de evitar o 
cometimento de crimes e garantir a ordem social e das ações de investigação e 
repressão ao crime já cometido. 
Cada polícia é uma disciplina, com missões específicas, pois, para 
cumprir suas atribuições Constitucionais e legais (basicamente prevenção e 
repressão à crimes), constrói, gradativamente, suas doutrinas de preparação e 
aplicação, a partir de um empirismo, de uma vivência de seus profissionais, ano 
após ano, em determinados territórios e através de intercâmbios de 
conhecimentos com outras unidades policiais, inclusive de outros países. 
Ocorre que as academias policiais brasileiras, onde tais ensinamentos 
são transmitidos, são criações de cada força policial (disciplinarmente) ainda 
49 
 
muito fechadas em si mesmas, com pouca predisposição à formação 
interdisciplinar. 
Exemplo disso são os dados fornecidos pela Academia Nacional de 
Polícia, vinculada à Polícia Federal. Durante o período de 2012 a 2017 
formaram-se em cursos regulares, como requisito para nomeação para um dos 
cargos de Policial Federal 1.976 alunos. No mesmo período, foram finalizados 
seis cursos de especialização, com 114 participantes aprovados e, nestes 
cursos, apenas 10 participantes de outras forças 14 
Fundamental, pois, para o início de uma teoria geral do trabalho policial 
integrado é a promoção de encontros. Encontros que permitam superar as 
barreiras de doutrina, formação e atuação estanque, segregadas e rivalizadas 
entre as forças de segurança, a fim de que, gradativamente opere-se um início 
de coordenação (multidisciplinaridade) e convergência (interdisciplinaridade). 
Para tentar vencer este severo obstáculo, o Governo Federal criou matriz 
curricular mínima para a formação policial. Conforme Rodrigo Carneiro Gomes 
(2018), a Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça lançou, em 
2014, Matriz Curricular Nacional - MCN de forma a orientar a formação padrão e 
inicial dos profissionais de segurança pública no Brasil. 
Para Gomes: 
A matriz, concebida como ferramenta de gestão educacional e 
pedagógica, traz diretrizes que “estimulam o raciocínio 
estratégico-político e didático-educacional necessários à 
reflexão e ao desenvolvimento das ações formativas na área de 
segurança pública” (MCN[4], p. 11) e tem entre seus princípios 
os éticos (compatibilidade entre direitos humanos e eficiência 
policial, compreensão e valorização das diferenças), os 
educacionais (flexibilidade, diversificação e transformação; 
abrangência e capilaridade; qualidade e atualização 
permanente; articulação, continuidade e regularidade) e os 
didático-pedagógicos (valorização do conhecimento anterior; 
universalidade; interdisciplinaridade, transversalidade e 
reconstrução democrática de saberes). 
 
Mesmo com os avanços verificados na edição da matriz mínima para 
currículos em academias policiais no Brasil, constata-se ainda pouca atenção na 
preparação do policial para participação efetiva nas ações de segurança 
 
14 Dados obtidos junto à Academia Nacional de Polícia através do processo SEI nº 
08389.011558/2018-52 
50 
 
integradas (interdisciplinares) a partir da confluência de esforços de várias forças 
de segurança, fiscalização e, até mesmo, defesa. 
Deve-se festejar o fato da matriz mínima destacar expressamente a 
questão da interdisciplinaridade, vez que, atualmente, a formação estanque do 
profissional de segurança dificulta, posteriormente, um agir conjunto com as 
demais forças. 
A recente lei que instituiu a Política Nacional de Segurança Pública e 
Defesa Social - PNSPDS e criou, finalmente, o Sistema Único de Segurança 
Pública - SUSP no Brasil, lei 13.675 de 11 de junho de 2018 reforçou a 
necessidade de integração e coordenação dos órgãos policiais do sistema. 
Destaca-se, dentre outras diretrizes, o intercâmbio de conhecimentos técnicos e 
científicos.O artigo 10, § 5º da lei ressalta a matriz curricular nacional e aponta 
características da multidisciplinaridade: 
 
§ 5º O intercâmbio de conhecimentos técnicos e científicos para 
qualificação dos profissionais de segurança pública e defesa 
social dar-se-á, entre outras formas, pela reciprocidade na 
abertura de vagas nos cursos de especialização, 
aperfeiçoamento e estudos estratégicos, respeitadas as 
peculiaridades e o regime jurídico de cada instituição, e 
observada, sempre que possível, a matriz curricular nacional. 
 
No artigo 39 da lei, quando trata da capacitação e da valorização do 
profissional em segurança pública e defesa social conceitua a MCN, de cunho 
eminentemente interdisciplinar ao determinar o respeito às peculiaridades e 
regime jurídico de cada instituição policial. É o artigo referido: 
 
Art. 39. A matriz curricular nacional constitui-se em referencial 
teórico, metodológico e avaliativo para as ações de educação 
aos profissionais de segurança pública e defesa social e deverá 
ser observada nas atividades formativas de ingresso, 
aperfeiçoamento, atualização, capacitação e especialização na 
área de segurança pública e defesa social, nas modalidades 
presencial e a distância, respeitados o regime jurídico e as 
peculiaridades de cada instituição. 
 
 
Alguns países continentais como o Brasil criaram verdadeiras 
Universidades para enfrentar a questão da necessária formação interdisciplinar 
51 
 
de seus policiais. Um dos exemplos nesse sentido é a China, com suas 
Universidades de Polícia15. 
A mesma dificuldade de formação integrada enfrentada pelas academias 
policiais se viu, e ainda se percebe, nas Universidades. Uma das soluções 
adotadas nas Universidades, por exemplo, é a criação de incentivos econômicos 
à criação de grupos interdisciplinares para investigações científicas complexas 
(Raynaut e Zanoni, p.152)16. 
Fundamental, portanto, para vencer a disciplinarização da segurança 
pública é a promoção de formação integrada com todas as forças de segurança 
em passos gradativos, com orçamentos e projetos que incentivem cursos 
integrados e atuações conjuntas. Promover o encontro constante é essencial 
para a mudança gradativa do paradigma do isolacionismo das atividades 
policiais. 
Outro ponto relevante é a percepção de que a interdisciplinaridade “não 
pode se impor de cima para baixo e que ela só se constrói com a adesão íntima 
dos próprios cientistas” (idem, p. 152). Criar ações interdisciplinares no âmbito 
policial não é uma prática simples, consistente em simplesmente reunir policiais 
de forças diversas e colocá-los na mesma equipe, quartel, sala ou unidade e 
determinar a atuação conjunta. Para o êxito gradativo das ações 
interdisciplinares com as forças policiais, são recomendáveis as seguintes 
providências, extraídas de exemplos da pesquisa Universitária (Raynaut e 
Zanoni, 2011). 
Reconhecimento mútuo e formação conjunta e continuada: para que o 
desiderato de atuações conjuntas aconteça é preciso que as equipes e 
profissionais diversos iniciem um conhecimento recíproco sobre as 
responsabilidades e atribuições e adquiram, constantemente, noção e 
consciência sobre a complexidade do problema da segurança pública. Essa 
diretriz consta expressamente da legislação sobre o SUSP, no artigo 10, § 5º da 
 
15O autor teve a oportunidade de conhecer e estagiar, a convite do Governo Chinês e 
em cooperação com a Polícia Federal do Brasil, na Universidade da Polícia de 
Investigação Criminal da China - CIPUC, localizada na Província de Liaoning, cidade 
de Shenyang, no período de 19 a 28 de setembro de 2017. A instituição é uma das 
Universidades Policiais mantidas pelo Ministério da Segurança Pública da República 
Popular da China. 
 
16Capítulo 5 do livro de Interdisciplinaridade em ciência, tecnologia e inovação. 
52 
 
lei 16.675/2018, ao determinar o intercâmbio científico e formação compartilhada 
entre os profissionais de segurança pública. É imperativo que as equipes e 
policiais, desde o início do processo formativo até a constante atualização, 
encontre-se com outras forças de segurança de forma a criar redes de 
cooperação bem como consciência sobre as dificuldades e vicissitudes de cada 
atuação policial. 
Além disso, é fundamental que as dinâmicas das ações interdisciplinares 
sejam transmitidas em cursos específicos sobre a temática e que, nesses cursos, 
os profissionais das mais diversas forças de segurança e, até mesmo, do próprio 
sistema de justiça criminal estejam presentes, e que a experiência seja 
fundamental para o progresso da carreira de tais profissionais. 
Nada impede que a atual tecnologia de Ensino à Distância – EAD, seja 
empregada para cursos preliminares sobre interdisciplinaridade nas ações 
policiais, de forma a fornecer o mínimo teórico para que, num segundo momento, 
necessariamente presencial, o profissional atue em conjunto e estabeleça 
contato com os demais sujeitos. 
Esse contato pessoal e direto favorece para além do compartilhamento de 
ideias e vivências em sala de aula, o convívio em outros momentos recreativos 
e operacionais, à favorecer o estabelecimento de redes horizontais. 
Importante, durante a fase presencial, a adoção de uma sistemática que 
favoreça a mistura entre os participantes, mesclando-se em sala de aula, 
refeitório e alojamentos policiais de forças diversas e demais integrantes do 
sistema de justiça, eventualmente participantes daquela formação. 
Todo o esforço, tanto na formação inicial daquele aspirante ao cargo 
policial como após em cursos de aperfeiçoamento profissional, deve ser no 
sentido de formar “espíritos esclarecidos” que, no dizer dos professores Raynaut 
e Zanoni (2011, p. 156): 
 
Pode-se, em primeiro lugar, ter como objetivo contribuir para a 
formação de espíritos esclarecidos que saibam adotar uma visão 
global da realidade contemporânea. Espíritos que tenham recuo 
em relação aos saberes compartimentados produzidos pelas 
disciplinas e que estejam, por isso, em condições para enfrentar 
conceitualmente os novos desafios intelectuais que nossas 
sociedades encontram. 
 
53 
 
Financiamentos e meios: para incentivar ações integradas entre forças de 
segurança, é preciso agregar financiamentos conjuntos para favorecer a criação 
de espaços compartilhados e a aquisição de equipamentos interoperacionais. 
Exemplos disso seria a construção de Academias Policiais e estandes de tiro 
regionais para utilização congregada das forças de segurança, compra de 
armamento padrão para as polícias, com unificação de calibres, bem como a 
aquisição de viaturas, uniformes e sistemas de informação e comunicação 
similares, a fim de favorecer ações conjuntas. 
Da mesma forma que a ciência e tecnologia conseguem reunir 
profissionais diversos através da criação de editais científicos cuja seleção de 
projetos passa pela verificação da formação interdisciplinar dos profissionais, 
podem ser estabelecidos financiamentos especiais para projetos que tenham a 
integração policial como principal norte. 
Por exemplo, um dos grandes desafios em ações e operações policiais 
integradas corresponde a problemas de comunicação. Cada força policial detém 
equipamentos de comunicação próprios, basicamente rádios que não se 
comunicam entre sí e entre equipes de polícias diversas como Polícia Federal, 
Polícia Militar e Polícia Rodoviária Federal. 
Comunicação rápida, ágil e compartilhada é fundamental para o êxito de 
qualquer ação, quanto mais para a segurança pública, como o WhatsApp17. 
Esse esforço de integração deve ser capitaneado pelas Secretarias 
Estaduais de Segurança Pública e, nacionalmente, pelo Ministério da Justiça e 
Segurança Pública, notadamente pela Secretaria Nacional de Segurança 
Pública. 
Comunicação uniforme dos resultados e avaliação constante: todas as 
ações integradas devem merecer acompanhamento e avaliaçãoconstantes a 
fim de permitir melhorias nos resultados e busca de aperfeiçoamentos, bem 
como para facilitar a solução de eventuais atritos existentes no momento da 
ação, evitar que o acúmulo de problemas não equacionados torne, com o tempo, 
um obstáculo a novas ações. 
 
17Aplicativo para smartphones faz ligações gratuitas, envia mensagens instantâneas 
escritas e de voz, imagens, vídeos e documentos em PDF, além de chamadas de voz 
via internet. 
54 
 
Mais uma vez, a criação de formas de promoção de encontro e diálogos 
entre as equipes deve ser favorecida sempre e rotineiramente. Nesses encontros 
e reuniões periódicas, tanto formais como em reuniões de trabalho e operações 
propriamente ditas, mas também nas informais, em confraternizações, 
aprimoram-se as redes, avaliam-se os resultados e aparam-se eventuais arestas 
decorrentes, naturalmente, do trabalho policial. 
A comunicação dos resultados obtidos deve ocorrer conjuntamente e 
mediante protocolos e modelos de notas que exaltem o trabalho integrado e 
resultados conjuntos obtidos. Devem-se evitar menções de apoios recíprocos 
que podem sugerir subordinação de um organismo sobre o outro. Nas notas de 
divulgação para a imprensa, devem-se adotar palavras como “conjuntamente”, 
“de forma integrada” e “em atuação compartilhada”. 
A população quer saber menos quem ou qual foi a força de segurança, 
defesa ou fiscalização que, diretamente, esteve envolvida com a intervenção 
policial propriamente dita. O que a população quer é uma sensação de 
segurança duradoura e eficaz. 
A prática interdisciplinar entre as forças de segurança, ainda é um 
horizonte distantes, bem como da construção de um sistema de segurança 
público a que se possa atribuir tal substantivo. Impera o pensamento disciplinar 
na segurança pública. 
Alie-se a essa problemática disciplinar, a mesma dificuldade de atuação 
conjunta percebida a partir do Ministério Público, Judiciário, Departamentos 
Prisionais e Defensorias Públicas, o que, ao lado da grande especialização e 
conhecimento das equipes de cada um desses órgãos, resulta também em 
pouco encontro, diálogo e cooperação entre todas as Instituições que fazem do 
complexo sistema de Justiça Criminal uma ‘grande torre de Babel’. 
Para investigar crimes complexos, mister se faz que a formação policial, 
para além da técnica, permita a compreensão e formação de habilidades para 
cooperação e trabalho em equipe, com profissionais de formação diversa quanto 
os novos campos de habilidades demandadas para a pesquisa de uma 
criminalidade cada vez mais desafiadora. 
Como nova qualidade a ser desenvolvida a “formação de indivíduos 
engajados nos processos de decisão e na ação”. Raynault e Zanoni apontam: 
55 
 
A sociedade contemporânea precisa de responsáveis, 
profissionais, atores da sociedade civil, que possuam um alto 
nível de consciência da complexidade e do caráter híbrido dos 
problemas na resolução dos quais estão empenhados. Não é 
necessário que eles mesmos sejam inovadores conceituais, 
produtores de conhecimento científico. Entretanto, têm que estar 
aptos a trabalhar com outros profissionais e atores sociais cuja 
experiência e savoir-faire são necessários para tratar problemas 
que têm múltiplas facetas e dimensões. (RAYNAUT e ZANONI, 
2011, p. 159) 
 
No âmbito internacional, as dificuldades são maiores. No caso do Brasil, 
em que pese uma grande integração e cooperação policial internacional, por 
instituições como a INTERPOL e AMERIPOL, organizações de âmbito mundial 
e continental, exemplos de cooperação policial local, minimamente formalizado, 
regionalizado são extremamente raros, com pouco ou nenhum conhecimento e 
integração entre as polícias locais nas cidades gêmeas do Brasil com seus dez 
vizinhos na fronteira terrestre. 
Falta uma atuação integrada, convergente, interdisciplinar entre as 
instituições do Estado na área de segurança, dificultada ainda mais pela falta de 
formação dos profissionais em modelos de atuação interdisciplinar. A carência 
de encontro, nas suas mais variadas formas, como currículos, formação, 
terminologia definida, estrutura e trabalhos conjuntos, está na base e no cerne 
das dificuldades de integração, convergência e interdisciplinaridade das forças 
de segurança. 
A situação foi explicitada como forma de resolver a crise de segurança 
que assola o Estado do Rio de Janeiro. Conforme matéria veiculada no jornal 
Gazeta do Povo, os Ministros da Justiça, Defesa, Segurança Institucional e 
Procuradoria da República pretendem a formação de uma força-tarefa para 
intensificar os esforços de segurança. Entretanto, como bem destaca a matéria, 
não há uma formula ou doutrina para integração dos esforços. Veja-se: 
 
Essa proposta foi debatida na terça-feira (26) entre a 
procuradora-geral da República, Raquel Dodge, com os 
ministros da Defesa, Raul Jungmann; da Justiça, Torquato 
Jardim; e do Gabinete de Segurança Institucional, Sérgio 
Etchegoyen. A sugestão, porém, precisa de tempo para ser 
avaliada e implementada. “Não estão definidos os moldes de 
atuação dos diferentes órgãos. Mas a reunião de hoje foi 
profícua em aproximar as instituições e alinhar as posições e de 
56 
 
como a criminalidade tem ocorrido no Rio de Janeiro”, declarou 
Dodge na ocasião (GAZETA DO POVO, 2017). 
 
A profunda crise de segurança pública pela qual passa hoje e já há algum 
tempo o Brasil, na sua miríade de causas, é um problema de entrosamento e de 
atuação conjunta, interdisciplinar entre as inúmeras forças de segurança, defesa 
e fiscalização que devem dedicar-se ao tema, e das estruturas sociais e 
educacionais que precisam seguir com o Estado para minimizar o poder de 
atração das organizações criminosas. 
 
1.3 A “POLÍCIA” E O “SISTEMA” DE SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL. 
 
Passados 30 anos da promulgação da Constituição Federal de 1988, não 
havia, até recentemente, uma política sobre segurança pública no Brasil capaz 
de instituir e regrar um sistema de segurança pública, cujas ações isoladas de 
seus necessários, mas não únicos integrantes, as polícias, explica, em certa 
parte, o enorme desafio de segurança a ser vencido atualmente. 
Apenas com a lei nº 13.675/2018 de 11 de junho de 2018, é que foi criada 
no Brasil a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social – PNSPDS 
e instituído o Sistema Único de Segurança Pública - SUSP. Finalmente, após 
três décadas de descaso e desarticulação entre as forças de segurança, o 
Governo Federal assume a liderança do assunto, junto com os Estados e 
Municípios numa aplicação interdisciplinar da complexa e multifatorial 
problemática da segurança pública. 
O artigo inaugural da lei diz que a Política e o Sistema têm como finalidade 
preservar a ordem pública, as pessoas e patrimônio, mediante necessária ação 
conjunta, coordenada, sistêmica e integrada dos órgãos de segurança pública e 
defesa social da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, com articulação 
necessária junto à sociedade. Logo após, no artigo 2º, dá-se a interpretação legal 
da responsabilidade do “Estado” cunhada no caput do artigo 144 da Constituição. 
A lei veio esclarecer a extensão do termo, fixa que “Estado” seria 
propriamente o Estado Nacional brasileiro, compreendendo a União, Estados da 
Federação e Distrito Federal, bem como os Municípios, cada um deles dentro 
das suas competências e atribuições legais. 
57 
 
Estabeleceu princípios (art. 4º) para a Política de Segurança, dentre eles 
a “otimização dos recursos materiais, humanos e financeiros das instituições” 
(inciso XIII). Esta governança, basicamente, representa a convergência 
defendida pela interdisciplinaridade, por exemplo, na construção de escolas e 
academias de polícia que possam formar, concomitantemente e num mesmo 
ambiente, Policiais Civis, Militares, sem necessidade de segregações que 
futuramente criarão barreirasao trabalho conjunto. 
No artigo dedicado às diretrizes (art. 5º) e corroborando ser a prática da 
segurança pública, necessariamente, um trabalho e estudo interdisciplinar, 
elencou-se a necessária “atuação integrada entre a União, os Estados, o Distrito 
Federal e os Municípios em ações de segurança pública” (inciso IV). E, para 
além das articulações entre os órgãos de segurança pública simplesmente, 
destacou a necessidade de “colaboração do Poder Judiciário, do Ministério 
Público e da Defensoria Pública na elaboração de estratégias e metas para 
alcançar os objetivos dessa Política”. 
A interdisciplinaridade consta também do inciso XIX do artigo das 
diretrizes (art.5º), ao dispor sobre a necessidade de: 
 
incentivo ao desenvolvimento de programas e projetos com 
foco na promoção da cultura de paz, na segurança comunitária 
e na integração das políticas de segurança com as políticas 
sociais existentes em outros órgãos e entidades não 
pertencentes ao sistema de segurança pública 
 
 
Tal qual um problema científico que necessita da convergência de 
inúmeros pesquisadores das mais variadas e diversas formações, a segurança 
pública, um dos maiores problemas do Brasil, não será debelado apenas com o 
trabalho de um ou de alguns órgãos de segurança, ainda mais enquanto 
desarticulados entre si. Mister a coordenação de todos para o resultado 
esperado. Salutar que essas observações constem de forma cogente no texto 
legal. 
Essa coordenação e cooperação dos órgãos de segurança e instituições 
que operam junto ao sistema de justiça criminal é praticamente inexistente. 
Sequer encontros regulares existem para, ao menos, propiciar um conhecimento 
58 
 
pessoal entre os atores, conhecimento das suas estruturas, dificuldades e 
possibilidades de composição de esforços para a melhora do quadro geral. 
Ao invés da cooperação, vigora a competição por meios e a desconfiança 
no olhar. Para o amontoado de instituições que atuam de alguma forma na 
missão de garantir a segurança pública tornar-se um sistema minimamente 
articulado, será necessário muito empenho e vontade de todos, tanto na cúpula 
das instituições, como nas unidades projetadas pelo vasto território nacional. É 
possível tomar exemplo na questão da pesquisa interdisciplinar nas instituições 
de ensino e pesquisa. 
Por isso que o caso do CT é exemplar, pois o principal motor para o 
desempenho da organização internacional local são os encontros mensais das 
autoridades policiais que desempenham ações no Comando. Tais encontros, 
que ocorrem desde 1996, contribuem, gradativamente, para uma sinergia e 
cooperação cujos resultados são vistos pelas estatísticas de cooperação e 
entrega de presos, por exemplo, bem como mediante ações compartilhadas na 
região de atribuição, conforme será especialmente verificado nos capítulos 
posteriores. 
Para que a Política de Segurança seja implementada realmente, é 
necessário que o Sistema de Segurança funcione, articulando-se 
constantemente por redes horizontais. A mesma lei, a partir do art. 9º, institui o 
Sistema Único de Segurança Pública, erigindo o Ministério da Justiça e 
Segurança Pública como órgão central, além dos órgãos já listados no artigo 144 
da Constituição Federal. Incluiu os agentes penitenciários e guardas municipais, 
bem como demais integrantes, tanto estratégicos como operacionais. Conforme 
o referido artigo, são integrantes do SUSP: 
§ 1º São integrantes estratégicos do SUSP: 
I - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, por 
intermédio dos respectivos Poderes Executivos; 
II - os Conselhos de Segurança Pública e Defesa Social dos três 
entes federados. 
§ 2º São integrantes operacionais do SUSP: 
I - polícia federal; 
II - polícia rodoviária federal; 
III – (VETADO); 
IV - polícias civis; 
V - polícias militares; 
VI - corpos de bombeiros militares; 
VII - guardas municipais; 
VIII - órgãos do sistema penitenciário; 
59 
 
IX - (VETADO); 
X - institutos oficiais de criminalística, medicina legal e 
identificação; 
XI - Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP); 
XII - secretarias estaduais de segurança pública ou congêneres; 
XIII - Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (SEDEC); 
XIV - Secretaria Nacional de Política Sobre Drogas (SENAD); 
XV - agentes de trânsito; 
XVI - guarda portuária. § 3º(VETADO). 
 
O texto legal ressalta que a atuação conjunta deve ser feita nos limites 
das respectivas competências de cada um dos órgãos e entidades. Ou seja, 
atuação conjunta, interdisciplinar não significa alguém fazer o trabalho de 
outrem, nem todos fazerem tudo, mas sim o compartilhamento de meios efetivos 
e práticas para cercar a complexa missão de garantir a segurança pública da 
população com sinergia e resultados ótimos. 
 
A lei, no artigo 10, exemplifica as ações através de: 
I - operações com planejamento e execução integrados; 
II - estratégias comuns para atuação na prevenção e no controle qualificado 
de infrações penais; 
III - aceitação mútua de registro de ocorrência policial; 
IV - compartilhamento de informações, inclusive com o Sistema Brasileiro 
de Inteligência (SISBIN); 
V - intercâmbio de conhecimentos técnicos e científicos; 
VI - integração das informações e dos dados de segurança pública por meio 
do SINESP. 
 
Os termos destacados são manifestações da interdisciplinaridade: 
integração, estratégias comuns, aceitação mútua, compartilhamento e 
intercâmbio e demonstram, mais uma vez, a aplicabilidade do termo e da prática 
interdisciplinar para as atividades de segurança pública. 
A lei favorece a atuação colegiada e a aferição dos resultados, com a 
criação, em cada nível de poder (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), 
dos denominados Conselhos de Segurança Pública e Defesa Social, contendo 
representantes de cada órgão ou entidade integrante do SUSP e, mais ainda, de 
representantes do Sistema de Justiça Criminal, como Poder Judiciário, Ministério 
Público, OAB, Defensoria Pública, representantes de entidades e organizações 
sociais, cujas atividades estejam relacionadas à segurança pública, além de 
representantes das entidades de profissionais de segurança pública. 
60 
 
A lei determinou a expedição do Plano Nacional de Segurança Pública e 
Defesa Social (art. 22), com duração de 10(dez) anos, e que servirá de base 
para os Planos Estaduais e Municipais em até dois anos da edição do nacional. 
A finalidade do Plano Nacional, dentre outras, é “priorizar ações preventivas e 
fiscalizatórias de segurança interna nas divisas, fronteiras, portos e aeroportos.” 
(inciso IV do artigo 22). 
Em dezembro de 2018, o Governo Federal publicou o atual Plano 
Nacional de Segurança Pública, para a década de 2018 a 2028. O plano foi 
instituído formalmente a partir do decreto nº 9.630, de 26 de dezembro de 2018. 
Com 15 objetivos e diversas estratégias e ações decorrentes, destaca-se o 
objetivo 8: fortalecer o aparato de segurança e aumentar o controle de divisas, 
fronteiras, portos e aeroportos, previsto no inciso VIII, artigo 2º do decreto. 
Para concretizar o objetivo relacionado a um maior controle das fronteiras 
o plano sugere como ações, dentre outras, o “intercâmbio de informações e 
cooperação para fiscalização junto aos países vizinhos” e “projetos estruturantes 
para o fortalecimento da presença estatal na região de fronteira” (2018, p. 56). 
Sugere “convênio das Forças Armadas, polícias militares e polícias civis com a 
Polícia Federal para atuação na área de polícia de fronteiras, portos e 
aeroportos” (2018, p. 57). 
Os destaques dados à questão de fronteiras no Plano Nacional de 
Segurança Pública visam especificar a estratégia e ações para o imenso desafio 
de policiamento e proteção das fronteiras nacionais, principalmente as terrestres. 
A partir do ano 2000, o Brasil passou a instituir o que foi denominado de 
Planos de Segurança Pública, ou Planos Nacionais de Segurança Pública. 
Conforme publicaçãodo então Ministério da Segurança Pública (2018, p. 31) 
“com maior ou menor rigor técnico, ao longo das últimas décadas, o governo 
federal tentou implementar 5 planos de segurança pública” 
Em fevereiro de 2017, foi lançado o penúltimo documento, elaborado e 
apresentado basicamente a partir de uma solenidade no Ministério da Justiça, 
em função da crise emergencial de segurança pública existente em Natal, 
Aracaju e Porto Alegre, bem como rebeliões em presídios do Norte do país18. 
 
18http://www.justica.gov.br/news/plano-nacional-de-seguranca-preve-integracao-entre-
poder-publico-e-sociedade. Acesso em: 13 ago. 2018. 
61 
 
Infelizmente, o que se vê no Brasil é uma preocupação mais reativa do 
que proativa na questão da segurança e do aumento da criminalidade, com 
planos e metas estabelecidos em momentos de grande comoção, como resposta 
pontual e até mesmo eleitoral para dramas específicos. O amadorismo no trato 
da questão e o improviso ficam explícitos na reportagem em que houve avaliação 
sobre o primeiro ano do Plano Nacional de Segurança de 2017. 
 
À reportagem, o ministro da Justiça, Torquato Jardim, 
reconheceu que o plano foi lançado no “calor” da “convulsão” 
provocada por chacinas em presídios de Amazonas e Roraima. 
No momento, o governo trabalha na definição de uma política 
nacional de segurança pública, com foco no longo prazo. 
“Estamos tentando, agora, concluir uma política nacional, que 
vem antes do plano. O plano foi concebido no calor daquela 
convulsão toda, aquelas tragédias todas, mas agora vamos ter 
uma política em mais largo prazo”, disse Torquato. 
Conforme o secretário-adjunto da Senasp, almirante Alexandre 
Mota, o plano nacional passa por uma revisão, a fim de ser 
adequado a futura política nacional, que deve ser lançada ainda 
em 2018. (grifos nossos). 
https://g1.globo.com/politica/noticia/um-ano-apos-lancar-plano-
nacional-de-seguranca-confira-o-que-o-governo-cumpriu-e-o-que-
nao-cumpriu.ghtml. Acesso em 13/08/2018). 
 
Não há menção na lei que trata do SUSP sobre os GGIF, previstos a partir 
do decreto nº 7.496/2011 e mantidos pelo decreto posterior, de número 
8.903/2016, bem como os Gabinetes de Gestão Integrada Municipais, instituído 
a partir do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania - 
PRONASCI, leis 11.530/2007 e 11.707/2008. Esses fóruns, porém, sofrem com 
a falta de modelos de atuação, liderança na coordenação, estruturas e meios 
para ação e podem ser esvaziados pelos novos conselhos criados pela 
PNSPDS. 
A nova Política de segurança pública versou apenas de forma reflexa 
sobre a segurança das fronteiras nacionais. Possivelmente, em razão da 
existência de um plano de fronteiras, exposto no decreto nº 8.903/2016 como 
evolução do decreto anterior de 201119. Como já dito, referências à fronteira 
surgem apenas no Plano Nacional de Segurança Pública de 2018. 
 
19Decreto 7496, de 8 de junho de 2011, instituiu o Plano Estratégico de Fronteiras e 
criou os Gabinetes de Gestão Integrada de Fronteiras – GGIF´s. Foi revogado em 2016, 
pelo decreto nº 8.903. 
62 
 
Os decretos exarados pelo Poder Executivo, que não são os melhores 
meios legais para veicular planos para as fronteiras, pois podem ser mudados 
sem maiores discussões por ato do Chefe do Poder Executivo, ao sabor de 
clamores e guinadas políticas, ressaltam, como principal diretriz, a integração 
entre forças de segurança, defesa e fiscalização, perpassando o conceito tanto 
de multidisciplinaridade (coordenação e paralelismo), como de 
interdisciplinaridade (convergência e perspectivismo). 
O decreto 8.906/2016 cria o Programa de Proteção Integrada de 
Fronteiras (PPIF) que tem como diretrizes, conforme artigo 2º: 
 
I - a atuação integrada e coordenada dos órgãos de segurança 
pública, dos órgãos de inteligência, da Secretaria da Receita 
Federal do Brasil do Ministério da Fazenda e do Estado-Maior 
Conjunto das Forças Armadas, nos termos da legislação 
vigente; e 
II - a cooperação e integração com os países vizinhos. 
 
Referente à proteção e segurança das fronteiras nacionais, a legislação 
determina um esforço ainda maior, qual seja de integrar de forma 
multidisciplinar/interdisciplinar não apenas os órgãos propriamente de segurança 
pública (polícias), mas também as instituições de Defesa (Exército, Marinha e 
Aeronáutica) de fiscalização (como a Receita Federal) e de inteligência a partir 
do SISBIN, coordenado pela Agência Brasileira de Inteligência - ABIN. 
Internacionalmente, o desafio do inciso II do decreto é o de criar sinergias 
e colaborações com os órgãos de segurança dos países vizinhos. É salutar a 
adoção de órgãos ou sistemas de cooperação local para as polícias nas regiões 
fronteiriças, como é o caso do CT. 
Um marco interessante para vencer o desafio de cooperação interna 
(nacional), que contribuiu para a convergência das forças de segurança, defesa, 
fiscalização e inteligência, num esforço interdisciplinar, foi a criação dos 
denominados Gabinetes de Gestão Integrada de Fronteira - GGIF, instituídos a 
partir de 2011 através do decreto 7496/2011 e mantidos pelo atual. 
Os GGIF´s foram à principal referência para a integração, leia-se atuação 
interdisciplinar, entre os inúmeros órgãos dedicados à segurança das fronteiras. 
Destaca-se o artigo 6º da norma: 
Art. 6º Os Gabinetes de Gestão Integrada de Fronteira terão 
como objetivo a integração e a articulação das ações da União 
63 
 
previstas no art. 1º com as ações dos estados e municípios, 
cabendo a eles: 
I - propor e coordenar a integração das ações; 
II - tornar ágil e eficaz a comunicação entre os seus órgãos; 
III - apoiar as secretarias e polícias estaduais, a polícia federal e 
os órgãos de fiscalização municipais; 
IV - analisar dados estatísticos e realizar estudos sobre as 
infrações criminais e administrativas; 
V - propor ações integradas de fiscalização e segurança urbana 
no âmbito dos municípios situados na faixa de fronteira; 
VI - incentivar a criação de Gabinetes de Gestão Integrada 
Municipal; e 
VII - definir as áreas prioritárias de sua atuação. 
§ 1º Não haverá hierarquia entre os órgãos que compõem os 
GGIFs e suas decisões serão tomadas por consenso. 
 
Em 2011, foram previstas ações compartilhadas, integradas, multi e 
interdisciplinares, para além simplesmente dos órgãos de segurança pública, 
mas também entre as Forças Armadas e órgãos de fiscalização como a Receita 
Federal, pelos GGIF e Centros de Operações Conjuntas - COC, previstos para 
ter sede nas instalações do Ministério da Defesa. 
Entretanto, em 2016, o novo decreto 8.903/2016 manteve os GGIF´s já 
instituídos, mas revogou a norma anterior e, com isso, os COC´s. 
O decreto manteve a diretriz de integração, ampliou tal escopo e criou 
uma estrutura de aferição de desempenho e supervisão dos GGIF´s, formulação 
de políticas e ações de articulação de nível político-estratégico, qual seja o 
Comitê Executivo do Programa de Proteção Integrada de Fronteiras (arts. 5º e 
6º do decreto 8.903/2016) sediado em Brasília/DF. O Comitê, conforme 
exposição realizada por alguns de seus membros na Delegacia da Polícia 
Federal em Foz do Iguaçu, em 27 e 28 de julho de 201820, realizou, entre 2017 
a junho de 2018, 11 reuniões ordinárias e 27 reuniões temáticas, aprovando seu 
planejamento estratégico conforme portaria nº 38, de 20 de abril de 201821 
Mesmo com a diretriz integradora representada pelos decretos 
mencionados que tratam sobre fronteiras, não há grandes exemplos de 
 
20Nos dias 26 e 27 de julho de 2018, membros do GSI e SENASP estiveram em 
reuniões perante órgãos de segurança pública em Foz do Iguaçu para conhecerem a 
atuação local. No dia 26, período da tarde, houve reunião extraordinária do GGIF na 
Delegacia da PF em Foz do Iguaçu, comapresentação por parte da comitiva do PPIF 
e seu planejamento estratégico. 
 
21DOU de 27/04/2018, nº 81, Seção 1, p.9. 
64 
 
interdisciplinaridade nas atuações de segurança nas fronteiras do Brasil. Tal 
circunstância foi destacada em recente seminário sobre governança de 
fronteiras realizado pelo Gabinete de Segurança Institucional - GSI e pelo 
Tribunal de Contas da União - TCU: 
 
Às 19:14 de 29/09/17, aconteceu o Seminário debate 
governança de fronteiras. Ministro Augusto Nardes defendeu a 
integração das 13 instituições que controlam as regiões de 
fronteiras. 
Representantes de diversas entidades e órgãos de controle e 
fiscalização do País participaram, no dia 26 de setembro, do 
Seminário Governança de Fronteiras. O evento, uma parceria 
entre o Tribunal de Contas da União (TCU) e o Gabinete de 
Segurança Nacional da Presidência da República, debateu 
medidas que vêm sendo adotadas sobre o tema, a partir de 
deliberações feitas pelo TCU. O encontro foi conduzido pelo 
ministro Augusto Nardes. 
Consideradas fundamentais para a defesa do território nacional, 
as regiões de fronteiras se estendem por quase 17 mil 
quilômetros, contemplando divisas com 10 países. A 
proximidade com outras nacionalidades torna o Brasil vulnerável 
a ações ilícitas. O contrabando de mercadorias, principalmente 
de cigarro, e o tráfico de drogas são os principais crimes 
registrados. 
O ministro Augusto Nardes apresentou aos participantes 
estudos realizados pelo TCU, nos anos de 2015 e 2016, sobre a 
situação da governança das fronteiras. A mais recente auditoria 
feita pelo Tribunal, que deu origem ao acórdão Acórdão 
2252/2015 - Plenário, revelou que não há uma política nacional 
integradora de todos os entes responsáveis pela fiscalização e 
monitoramento dessas áreas. 
Segundo apurou o TCU, o Plano Estratégico de Fronteiras 
(PEF), instituído em 2011, deixou de evidenciar as funções a 
serem exercidas por cada órgão. Além disso, foi constatado que 
a participação social é limitada e o baixo grau de investimentos 
e a carência de recursos humanos, materiais e financeiros 
realçam as vulnerabilidades dos espaços territoriais. 
Nardes defendeu que a total integralização das entidades, 
dentro de uma governança fortalecida, torna os controles 
fronteiriços ainda mais eficientes. “Ao todo, 13 instituições 
controlam as regiões de fronteiras. Se cada um trabalhar para 
um lado, e não de forma integrada, não há condições de o 
sistema funcionar”, afirmou Nardes. (TRIBUNAL DE CONTAS 
DA UNIÃO, 2017). 
 
Percebe-se que, não será imediatamente e mediante simples e 
transitórias ações de governos que o Brasil conseguirá formar, a partir das 
normas mencionadas, um efetivo sistema de segurança público. É imperioso 
uma política de Estado que permaneça e evolua gradativamente. O tempo, maior 
65 
 
ou menor, dependerá da liderança exercida pelas cúpulas dos Poderes 
Executivos, Legislativo e Judiciário e da persistência e compreensão dos 
profissionais de segurança sobre a necessidade de formação de vínculos e redes 
interdisciplinares a fim de elevar ao máximo a coordenação, convergência e 
cooperação irrestrita nas ações imediatas e mediatas para, construir-se um 
sistema de segurança que permaneça em pé e que possa representar uma 
fortaleza eficaz contra os ataques da criminalidade organizada. 
 
1.4 OS GRANDES EVENTOS E UM MODELO DE ATUAÇÃO INTEGRADA 
 
O trabalho interdisciplinar, com convergência de esforços é fundamental 
para a superação de grandes desafios de segurança pública e não apenas na 
ciência. Exemplo disso foram os Centros Integrados de Comando e Controle - 
(CICC) criados durante os grandes eventos como Copa do Mundo e Olimpíadas 
no Brasil, nos anos de 2014 e 2016. Basicamente, em face da complexidade das 
ações e a visibilidade internacional dos eventos, estabeleceram-se salas nas 
cidades-sede onde cada força de segurança, defesa, fiscalização e serviços 
essenciais mantinham um representante com poder de decisão e articulação 
com as equipes que atuavam na ponta do evento. 
Para Adriana Vasconcelos, a questão da integração para órgãos de 
segurança pública surge a partir do Decreto nº 7.538/2011 que instituiu, no 
âmbito do Ministério da Justiça, a Secretaria Extraordinária de Segurança para 
Grandes Eventos (SESGE) (Vasconcelos, 2018, p.17). Para esta pesquisa, o 
ideário da integração em assuntos de segurança pública é mais remoto e deriva 
da Constituição Federal de 1988, quando o artigo 144 caput diz ser “a segurança 
pública um dever do Estado e direito e responsabilidade de todos”. 
Entretanto, o decreto referido é um marco na prática de integração, de 
agir interdisciplinar, com vista aos eventos concretos que se seguiram: Copa do 
Mundo e Olimpíadas, principalmente22. 
 
22O Decreto nº 7.682/2012 no seu artigo 5º, § 1º considerou como grandes eventos os 
seguintes: I - a Jornada Mundial da Juventude de 2013; II - a Copa das Confederações FIFA de 
2013; III - Copa do Mundo FIFA de 2014; IV - os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016; e V 
- outros eventos designados pelo Presidente da República. 
 
66 
 
O Sistema Integrado de Comando e Controle da Segurança Pública para 
Grandes Eventos (SICC) foi instituído pela Portaria nº 112, de 8 de maio de 2013, 
publicada no DOU nº 90, de 13 de maio de 2013. O SICC foi idealizado para 
garantir que os Grandes Eventos sediados pelo Brasil nos anos de 2014 (Copa 
do Mundo de Futebol) e 2016 (Jogos Olímpicos) ocorressem de maneira segura. 
O sistema permitiu que todo o aparato estatal voltado para a Segurança Pública 
e Defesa Civil atuasse de forma integrada e vetorizada para garantir a realização 
dos eventos. 
Antes dos eventos propriamente ditos e em tom preparatório, foram 
estabelecidos planos e protocolos integrados, documentos oriundos de diversas 
reuniões preparatórias aos grandes eventos em que cada órgão e seus 
representantes, a partir das suas atribuições legais, informavam quais as suas 
responsabilidades, meios e efetivos que colocaria à disposição do evento, 
criando uma sinergia, uma convergência ou interdisciplinaridade fundamental ao 
êxito das operações. 
A atuação convergente de todos permitiu que os diversos eventos 
esportivos concomitantes transcorressem em harmonia, pois as equipes 
estavam cooperando com convergência de interesses, num esforço nitidamente 
de encontro de potencialidades para o fim de resolver os desafios que se 
apresentavam. O problema de uma instituição chamava rapidamente o esforço 
cooperativo de todos para a solução, sem que a competição e as constantes 
dificuldades de comunicação entre as agências fossem um empecilho para o 
resultado exitoso dos grandes eventos. 
A doutrina de integração dos Centros Integrados é um paradigma e 
modelo para ser seguido e tem inspiração no fenômeno da interdisciplinaridade. 
Em pesquisa recente sobre o legado de segurança dos grandes eventos, a 
pesquisadora Adriana Cristina Duarte de Almeida Vasconcelos destacou a 
relevância: 
 
Em 2013, foi publicada a Portaria nº 112/2013, que instituiu o 
Sistema Integrado de Comando e Controle de Segurança 
Pública para Grandes Eventos - SICC (BRASIL-N, 2013).Esse 
pode ser considerado o marco regulatório fundamental na 
busca do que seria posteriormente denominado o "maior 
legado" para a segurança pública. A SESGE, criada sob a 
estrutura do Ministério da Justiça, ficou responsável pela 
implementação do SICC, ficando então incumbida de viabilizar 
67 
 
o que foi considerado pelo Governo Federal como "maior 
legado" dos grandes eventos à segurança pública brasileira: a 
coordenação das instituições de segurança pública[...]” 
(Vasconcelos, 2018, p.16). 
 
Conforme dados obtidos junto ao site do Ministério da Justiça, a estrutura 
formada para os Grandes Eventos de 2014 e 2016, através do SICC, foi a 
seguinte: 
O SICC está estruturado da seguinte forma:umCentro Integrado 
de Comando e Controle Nacional – CICCN: localizado em 
Brasília e responsável pelo gerenciamento estratégico das 
ações de segurança pública e defesa civil, supervisionando e 
apoiando as ações das cidades-sede, mantendo atualizadas e 
disponíveis as informações para o alto escalão do Governo 
Federal;um Centro Integrado de Comando e Controle Nacional 
Alternativo – CICCNA: localizado no Rio de Janeiro e funciona 
como backup;um Centro de Cooperação Policial Internacional, 
localizado em Brasília;doze Centros Integrados de Comando e 
Controle Regionais – CICCR: localizados nas 12 cidades que 
sediarão os jogos da Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos e 
Paralímpicos; vinte e sete Centros Integrados de Comando e 
Controle Móveis – CICCM: que se localizarão nas proximidades 
dos locais do evento;doze Centros Integrados de Comando e 
Controle Locais – CICCL: que serão colocados nas arenas;vinte 
e duas Plataformas de Observação Elevada – POE: 
posicionadas próximas aos locais do evento.[...]” (MINISTÉRIO 
DA JUSTIÇA, 2018). 
 
Para atingir esse desiderato de integração, que sugere necessariamente 
ações multidisciplinares e interdisciplinares, o então Ministério Extraordinário da 
Segurança Publica - MESP23 passou a trabalhar com a metodologia que foi 
empregada com sucesso para os grandes eventos (Copa do Mundo e 
 
23O Ministério Extraordinário de Segurança Pública (MESP), criado em 26 de fevereiro 
de 2018, mediante edição pelo Governo da medida provisória nº 821 que alterou a lei 
13.502/201723, determinou a transferência dos órgãos policiais e prisionais, antes 
vinculados ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, como Polícia Federal, Polícia 
Rodoviária Federal, Departamento Penitenciário Nacional, Secretaria Nacional de 
Segurança Pública e, a partir dela, a Força Nacional de Segurança Pública e os 
Conselhos Nacionais de Segurança Pública e de Políticas Criminais e Penitenciárias. A 
principal missão do MESP era, na forma do artigo 68-A da alterada lei 13.502/2017 
“coordenar e promover a integração da segurança pública em todo o território nacional 
em cooperação com os demais entes federativos”. Em Julho de 2018, mediante lei nº 
13.690, de 10 de junho de 2018, o Ministério Extraordinário tornou-se Ministério da 
Segurança Pública. Com o novo Governo Federal que tomou posse em janeiro de 2019, 
as estruturas anteriores vinculadas ao MSP foram novamente fundidas ao Ministério da 
Justiça e Segurança Pública, conforme previsto na medida provisória nº 870, de 1º de 
janeiro de 2019, especificamente no artigo 19, IX. 
 
68 
 
Olimpíadas) buscou reativar a sistemática dos CICC com foco inicial para os 
Estados e regiões da fronteira oeste do Brasil. 
Na pesquisa sobre o legado dos grandes eventos para a segurança 
pública no Brasil, Adriana Vasconcelos (2018) ressalta o Sistema Integrado de 
Comando e Controle: 
O Sistema Integrado de Comando e Controle brasileiro (SICC) 
surgiu nos mesmos moldes do modelo de segurança norte-
americano. Enquanto este teve como marco para a integração 
da segurança interna o ataque de 11 de setembro de 2001, 
aquele teve como marco os grandes eventos esportivos 
sediados no Brasil. Ambos surgiram de um processo isomórfico. 
Enquanto os norte-americanos inspiraram-se no modelo militar 
de defesa nacional, o Brasil inspirou-se nos modelos de 
segurança pública utilizados nos países centrais para combate 
ao terrorismo. (Vasconcelos, 2018, p.43). 
 
A medida deste esforço para reativar a metodologia dos CICC foi o 1º 
Fórum Nacional de Segurança Pública para Fronteiras, promovido pela 
Secretaria Nacional de Segurança Pública durante a semana de 23 a 28 de abril 
de 2018 em Brasília. O evento reuniu profissionais de segurança pública, das 
Polícias Estaduais e Federais, inclusive Bombeiros e representantes de 
entidades de fiscalização, como a Receita Federal, dos 11 Estados da 
Federação com fronteiras terrestres e fluviais com os dez países vizinhos, num 
esforço para uma atividade interdisciplinar de sinergia entre as diversas 
organizações, desde o patamar estratégico, até o nível operacional, no sentido 
do estabelecimento de protocolos para incentivar ações integradas, inspiradas 
na metodologia desenvolvida para os grandes eventos. 
Ao participar deste evento representando a Polícia Federal, durante 
aquela semana, também realizei o VIII Curso de Gestores de Fronteiras em que 
foram produzidos os documentos relacionados ao planejamento de operações 
integradas para regiões de fronteiras. 
A doutrina de funcionamento dos Centros Integrados tem como eixo 
fundamental, o compartilhamento de recursos e a liderança situacional, 
dependendo da situação atendida, órgãos se alternam na liderança das ações 
de campo e os demais auxiliam na rápida resolução e na otimização dos 
recursos. Para Adriana Vasconcelos (op. cit., p. 58): 
Sobre o processo decisório nos CICC, como é um ambiente 
composto por diversas instituições, predomina a liderança 
69 
 
situacional. Isso significa que o líder da operação será o chefe 
da instituição competente para atuar no momento. Por exemplo, 
se ocorrer uma catástrofe natural, a liderança situacional 
pertence ao Corpo de Bombeiros, que possui competência 
originária para lidar com o assunto. Naturalmente outras 
instituições de segurança estarão presentes para apoiar o Corpo 
de Bombeiros, que está no comando da situação. É possível 
que, num mesmo evento, a liderança se inverta, de modo que a 
instituição apoiadora se torne líder da instituição até então 
apoiada. No caso dos grandes eventos, essa cadeia decisória 
foi estendida, diluindo a liderança situacional nos níveis 
estratégico (CICCN), tático (CICCR) e operacional (os demais 
Centros). 
 
A existência de uma sala, ou centro, onde se concentram os profissionais 
de cada um dos órgãos envolvidos com a situação é fundamental para garantir 
o imediato conhecimento do problema, eleição da liderança situacional e 
compartilhamento de meios para a solução. 
Além de organizar o processo decisório, a troca de informações, 
propiciada pela maior interação entre as instituições num 
mesmo ambiente, auxilia o aprendizado das instituições 
presentes na medida em que viabiliza as trocas de 
conhecimento e de experiências. A partir do intercâmbio de boas 
práticas, novas metodologias são aperfeiçoadas ou 
desenvolvidas em conjunto. O resultado disso é que as 
instituições passam a trabalhar de forma mais coordenada, 
alinhando seus protocolos de operações. (Vasconcelos, 2018, p. 
58). 
 
Durante o 1º Fórum Nacional de Segurança Pública para Fronteiras, 
promovido pela Secretaria Nacional de Segurança Pública, semana de 23 a 28 
de abril de 2018 em Brasília, a metodologia de Comando e Controle foi 
aprimorada, e passou-se a denominar Sistema Integrado de Coordenação, 
Comunicação, Comando e Controle, sigla SIC424. 
Conforme Victor Neves Feitosa, então Diretor de Operações da Secretaria 
Nacional de Segurança Pública (informação verbal)25: 
 
 
24O SIC4 foi regulado através da portaria nº 222, de 28 de dezembro de 2018 que 
aprovou a Doutrina Nacional de Atuação Integrada de Segurança Pública - DNAISP. 
 
25Notícia e definição apresentada durante visita do Diretor de Operações às 
instalações da Polícia Federal em Foz em 27 e 28 de julho de 2018. 
 
70 
 
O Sistema Integrado de Coordenação, Comunicação, Comando 
e Controle de Segurança Pública e Defesa Social (SIC4) é a 
forma de implementar a integração operacional prevista no 
Sistema Único de Segurança Pública - SUSP, por meio de ações 
de governança em nível estratégico, tático e operacional, a partir 
de ambientes comuns (Centros integrados ou similares), para 
desenvolvimento do processo de atuação integrada 
(planejamento, execução, monitoramento e avaliação 
integrados). 
 
A denominada “DoutrinaNacional de Atuação Integrada de Segurança 
Pública” – DNAISP, foi publicada em janeiro de 2019, mediante aprovação 
contida na portaria SENASP nº 222 de 28 de dezembro de 2018. A doutrina, 
ainda pouco difundida face a sua recém aprovação, fornece um guia importante 
para favorecer atuações integradas em ações de segurança pública, com nítidas 
inspirações na interdisciplinaridade. 
Propõe como modelo de coordenação a liderança situacional, consistindo 
conforme DNAISP (2018, p.12) na: 
Atribuição de competência decorrente do caráter específico de 
uma atividade, visando a coordenação integrada das ações, 
respeitadas as atribuições dos órgãos e instituições envolvidos 
 
 A metodologia, de cunho eminentemente interdisciplinar, foi testada 
durante a primeira edição da Operação Esforço Integrado26, realizada entre os 
dias 25 e 30 de junho de 2018, em moldes similares à metodologia de integração 
dos Grandes Eventos. 
O modelo SIC4, estabelecido no DNAISP, deverá ser o paradigma 
adotado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, via Secretaria Nacional 
de Segurança Pública e da nova Secretaria de Operações Integradas27, para 
 
26A Operação Esforço Integrado, foi promovida pela SENASP, em todos os 11 Estados 
de Fronteira terrestre do Brasil, no período de 25 a 30 de junho do corrente ano. Durante 
as ações, baseadas no modelo SIC4, foram reativados os Centros Nacional e Regionais 
de Comando e Controle e demais estruturas, os mesmos empregados durante os 
grandes eventos. Envolveu não apenas órgãos de segurança, mas também de Defesa, 
Fiscalização e Inteligência, nos moldes que apregoa o decreto nº 8.906/2016 que 
instituiu o Programa de Proteção Integrada de Fronteiras (PPIF). 
 
27 A Secretaria de Operações Integradas - SOI foi uma divisão de parte da antiga 
SENASP estabelecida pelo novo Ministério da Justiça e Segurança Pública a partir de 
2019. Na SOI foram agregadas, com alterações, as antigas estruturas das Diretorias 
de Operações e de Inteligência da SENASP, de forma a permitir um maior foco de 
71 
 
incentivar ações cooperativas entre as instituições de segurança pública no 
Brasil. Reflete na síntese, a partir do favorecimento às reuniões e formação de 
protocolos integrados para as operações policiais, um esforço interdisciplinar de 
integração dos órgãos de segurança, e para além das instituições de Defesa, 
Fiscalização e Inteligência, no intento de executar o Programa de Proteção 
Integrada de Fronteira (PPIF), instituído a partir do decreto nº 8.906/2016. 
 
1.5 AÇÕES E COOPERAÇÕES DE SEGURANÇA LOCAL NA TRÍPLICE 
FRONTEIRA. 
 
Não se pode dizer que antes dos grandes eventos esportivos sediados no 
Brasil, nos anos de 2014 e 2016, não havia iniciativas de integração entre forças 
de segurança e fiscalização no território nacional. 
O marco teórico utilizado nesta pesquisa é a Constituição Federal de 1988 
que, no caput do artigo 144, já orientava ser a segurança pública um trabalho 
interdisciplinar de toda a sociedade, capitaneada pelo Estado Brasileiro. O que 
se inaugurou na crista dos grandes eventos esportivos foi um esboço de 
sistemática nacional para tais operações. 
Exemplo anterior de atuação interdisciplinar entre diversos órgãos de 
fiscalização, defesa e segurança foi à chamada operação Comboio Nacional, 
desencadeada a partir do ano de 2003 na Tríplice Fronteira. 
Naquela época, a intensa atividade de contrabando e descaminho 
realizada na região comprometia o desenvolvimento do turismo em Foz do 
Iguaçu e trazia prejuízos, tanto para a imagem externa do Brasil como para a 
arrecadação de impostos e comércio em geral, em face da movimentação de 
ônibus dedicados ao transporte de mercadorias descaminhadas ou 
contrabandeadas do Paraguai e que ingressavam ilegalmente no Brasil via Foz 
do Iguaçu para distribuição em todo o país. 
Para evitar e impossibilitar o trabalho das equipes policiais e de 
fiscalização, os ônibus partiam de Foz do Iguaçu no final das tardes de sábado, 
principalmente, em numerosos comboios que, tantas vezes, passavam de 100 
 
integração operacional para a nova Secretaria e de política e estratégia e unificação 
de procedimentos para a SENASP. 
72 
 
veículos, o que tornava praticamente impossível a apreensão de todos e até de 
alguns. Para vencer o desafio representado pelos comboios ilegais, não era 
possível que uma força pública sozinha resolvesse o problema. A questão é 
descrita por Paro (2016, p.30): 
Os fiscais começaram a reter frotas de até 100 ônibus e 
encaminhá-las ao pátio da Receita Federal para depois fazer a 
varredura anticontrabando. Marcava-se o início das mega 
operações na fronteira e de conflitos constantes entre 
sacoleiros, de um lado, e fiscais e policiais, de outro lado. Entre 
2002 e 2012, foram tirados de circulação 3.200 ônibus que 
transportavam produtos contrabandeados ou sem o pagamento 
devido de impostos. 
 
Inicialmente de forma multidisciplinar, coordenada, iniciaram-se tratativas 
no sentido da união de esforços, de convergência de atuações interdisciplinares 
entre a Receita Federal do Brasil (RF), a Polícia Federal (PF), a Polícia 
Rodoviária Federal (PRF), a Agência Nacional de Transportes Terrestres 
(ANTT), o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) e a Secretaria de 
Segurança Pública do Estado do Paraná (SESP/PR), bem como o Ministério 
Público Federal (MPF) e Justiça Federal (JF). Resumo da operação consta da 
notícia abaixo, publicada no site da RF: 
Nos estudos que antecederam à operação, realizados no final 
de 2003, constatou-se que mais de 90% das mercadorias 
irregulares deixavam a cidade de Foz do Iguaçu através de 
ônibus que se travestiam de transporte de fretamento turístico. 
A partir desse estudo, ações foram desenvolvidas para que se 
pudesse atingir a logística do contrabando, descaminho e 
pirataria. No decorrer de 2004, foram apreendidos ou retidos, 
somente em Foz do Iguaçu, 386 ônibus que transportaram o 
valor estimado de aproximadamente US$ 1 bilhão, nos doze 
meses que antecederam a sua apreensão. 
A forma de atuar era sempre a mesma: os veículos chegavam a 
Foz pela manhã, carregavam as mercadorias e retornavam para 
suas origens, num frenético vai-e-vem. Além do transporte de 
mercadorias, esses ônibus, verdadeiros contêineres, formavam 
filas, denominadas comboios que, além da afronta à sociedade, 
ocasionavam acidentes, muitos deles fatais. 
O segundo passo foi dado no início de 2005, com a formação de 
dossiês das empresas que tinham atividades voltadas para dar 
suporte a esses ilícitos. Dos dossiês montados, em um primeiro 
momento, 108 foram enviados ao Ministério Público Federal, 
que ofereceu denúncia de todos à Justiça Federal. 
A Justiça Federal de Foz do Iguaçu, com base na denúncia, 
emitiu 364 Mandados de Busca e Apreensão (MBA) de ônibus, 
relativamente a 81 empresas. Foram realizadas por esses 
veículos, em 2004, 9.832 viagens a Foz do Iguaçu autorizadas 
73 
 
pela ANTT, transportando em 12 meses, mais de US$ 1 bilhão 
em mercadorias. A busca e apreensão foi realizada no Distrito 
Federal e mais seis estados, Paraná, Santa Catarina, Rio 
Grande do Sul, Minas Gerais, Goiás e São Paulo no dia 17 de 
junho de 2005. 
Em 2005 foram apreendidos, no total, 641 ônibus e mais de US$ 
62 milhões em mercadorias contrabandeadas ou 
descaminhadas, o que representou um aumento de 86% em 
relação a 2004. [...] 
Do início da Operação Comboio Nacional até hoje já foram 
apreendidos mais de 3.300 ônibus. [...] 
De 2004 até hoje já foram mais de 35 mil veículos apreendidos. 
(RECEITA FEDERAL, 2016). 
 
Em 2016, na região da fronteira de Foz do Iguaçu, cercanias da praça de 
pedágio da BR-277, município de São Miguel do Iguaçu/PR, a RF promoveu, 
com engajamento de diversas forças de Defesa, Segurança Pública e 
Inteligência, bem nos moldes do que apregoa o Programa de ProteçãoIntegrada 
de Fronteiras, a denominada “Operação Muralha”. As ações duram em média 
60dias, com uma edição no ano de 2016, duas em 2017 e duas em 2018, e 
objetivou reprimir crimes transfronteiriços como contrabando, descaminho, 
tráfico de drogas, armas e munições. A tabela 1 representa os resultados destas 
operações por períodos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
74 
 
Tabela 1. Resultados da Operação Muralha em 2016, 2017 e 201828. 
Período da Operação 
02/05 a 18/07 
de 2016 
03/05 a 30/06 e 
03/10 a 28/11 de 
2017 
30/04 a 25/06 
 de 2018 e 30/10 a 
10/12 de 2018 
Dias de Operação 78 117 99 
Valor total em R$ 8.800.000,00 R$ 25.738.825,59 R$ 31.100.000,00 
Automóveis 130 172 252 
Ônibus 29 47 66 
Caminhões 6 12 3 
Total de veículos 165 231 321 
Maconha (kg) 3.771,81 928,78 1.529,00 
Cocaína (kg) 7,59 138 0 
Crack (kg) 4,51 0 0 
Haxixe (kg) 1,17 17 68,3 
Cigarros maços 0 0 538.700 
Medicam. e Anabolizantes 
(un) 508.000 474450 173.694 
Armas 33 39 1 
Carregadores 23 51 1 
Munições 1416 2649 199 
Prisões 85 70 37 
 
Fonte: Receita Federal de Foz do Iguaçu/PR – 2018 
 
 
A Operação Muralha tem um viés eminentemente interdisciplinar, vez que 
as diversas forças envolvidas compartilham meios e estruturas e dividem 
responsabilidades, como instalações provisórias montadas pela Receita Federal 
e helicópteros, viaturas e equipes policiais e das Forças Armadas, com objetivo 
de reprimir o ingresso de contrabando e descaminho, de armas e drogas que 
adentram o território nacional a partir do Paraguai. Os resultados também são 
compartilhados por todos, pois sem a integração, nenhum dos órgãos 
isoladamente teria condições de realizar a missão de proteção da fronteira e 
repressão dos crimes destacados. 
Outro exemplo local é a recente base da PF no Rio Paraná em Foz do 
Iguaçu, lançada em 2016. Para aprimorar os controles sobre a Ponte da 
Amizade, rio Paraná e Lago de Itaipu, esta Instituição, com apoio de parceiros 
da iniciativa privada e órgãos públicos, como Prefeitura Municipal de Foz do 
Iguaçu, CT, Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras 
 
28Dados fornecidos pela Receita Federal em Foz do Iguaçu, mediante pedido do 
pesquisador e lei de acesso à informação. 
75 
 
(IDESF), Conselho de Desenvolvimento de Foz do Iguaçu (CODEFOZ), Fundo 
Iguaçu, Itaipu Binacional, Macuco Ecoaventura, Helisul e outros, lançou, no dia 
03 de março de 201629, uma Unidade para operações integradas de fronteira, 
localizada, estrategicamente, poucos metros à jusante da Ponte Internacional da 
Amizade em um barracão abandonado que, nos anos de 1980, servia para 
construção e manutenção de balsas. O local foi cedido via termo gratuito de 
cessão de uso pelo proprietário privado. 
No local, como ilustra a figura 2, cujo uso pode ser compartilhado com 
outras forças de segurança, defesa e fiscalização, já atuaram junto com a PF, de 
forma interdisciplinar (convergência e compartilhamento de meios), a Força 
Nacional, Marinha do Brasil, Exército Brasileiro, Batalhão de Fronteira da Polícia 
Militar do Estado do Paraná, Polícia Civil (Grupo TIGRE) e o próprio CT. 
 
Figura 2. Lançamento da Base da Polícia Federal no Rio Paraná, em Foz 
do Iguaçu: 
 
Fonte: BORDIGNON, F. 2016. 
 
A unidade, denominada “Base PF do Beira Foz”, representa uma síntese 
de operações interdisciplinares, ou integradas, de segurança pública, ao permitir 
um local estratégico, com logística e meios disponíveis para compartilhamento 
 
29https://foz.portaldacidade.com/noticias/policial/pf-lanca-base-contra-trafico-e-
contrabando-no-rio-parana. Acesso em: 14 ago. 2018. 
76 
 
estrutural com as demais forças de segurança, defesa e fiscalização, em 
atuações convergentes em prol da segurança pública e proteção de fronteiras30. 
As estatísticas apresentadas na tabela 2 sintetizam os resultados da ação 
integrada e proativa. Os dados são relativos ao ano de 2018, pois, para os anos 
anteriores, não havia separação numérica entre os resultados das duas bases 
de patrulhamento marítimo da PF no Rio Paraná e Lago de Itaipu. 
 
Tabela 2. Apreensões no rio Paraná e lago de Itaipu e valores estimados em 
US$ - 2018. 
Mês Base 
PF rio PR 
Acumulado 
Base 
PF rio PR 
Base PF 
lago Itaipu 
Acumulado 
base PF lago 
Itaipu 
Total mensal Total 
acumulado 
Jan 356.326,10 356.326,10 37.591,85 37.591,85 393.917,95 393.917,95 
Fev 87.813,70 444.139,80 684.549,04 722.140,89 772.362,74 1.166.280,69 
Mar 158.500,82 602.640,62 790.620,69 1.512.761,38 949.121,51 2.115.402,20 
Abr 79.009,33 681.649,95 1.295.073,74 2.807.835,12 1.374.083,07 3.489.485,27 
Mai 30.215,52 711.865,47 606.326,78 3.519.700,59 636.542,30 4.126.027,57 
Jun 100.460,06 812.328,73 86.700,18 3.606.400,77 187.160,24 4.313.187,81 
Jul 293.972,68 1.106.301,41 81.972,68 3.688.373,45 375.462,72 4.688.650,53 
Ago 176.594,43 1.282.895,84 974.106,92 4.662.480,37 1.150.701,35 5.839.351,88 
Set 195.572,26 1.478.468,10 524.013,54 5.186.493,91 719.585,98 6.558.937,86 
Out 109.687,31 1.588.155,41 195.648,40 5.382.142,31 305.335,71 6.864.273,57 
Nov 52.826,11 1.640.981,52 409.349,50 5.791.491,81 462.175,61 7.326.449,18 
Dez 53.058,94 1.694.040,46 11.929,15 5.803.420,96 64.988,09 7.391.437,27 
Fonte: Polícia Federal de Foz do Iguaçu - 2018 
 
A tabela 2 demonstra que a atuação integrada, interdisciplinar, antes de 
uma teoria ainda em formação, deve ser uma prática a ser exercitada, revista e 
reavaliada constantemente por todos os profissionais que atuam na área de 
segurança pública. 
Depende, para além de estruturas predispostas, de vontade de um agir 
integrado, seja no nível político e estratégico como no operacional. Para 
estimular o agir interdisciplinar, é de todo mister que a formação dos profissionais 
seja cada vez mais compartilhada e que as atuações sejam constantemente 
 
30 O relato é pessoal, testemunhado e atuado pelo próprio autor da presente pesquisa, 
pois a referida unidade foi lançada e inaugurada no período, ainda vigente, em que o 
autor atua como Chefe da Delegacia da Polícia Federal em Foz do Iguaçu. Assim, 
elementos teóricos da pesquisa em questão foram e ainda são empregados na base. 
77 
 
divididas entre as várias forças de segurança pública, com divulgação conjunta 
dos resultados obtidos. 
Reavaliar constantemente e com incentivos financeiros que promovam a 
aquisição de equipamentos passíveis de utilização compartilhada entre as forças 
de segurança. Criação de equipes interdisciplinares para fazer frente às 
complexas questões de segurança pública, que passam pela prevenção e 
repressão de crimes, sistema de justiça e, finalmente, pela execução plena das 
penas criminais. 
É percebível que o fenômeno da interdisciplinaridade e suas aplicações 
possam ser empregados para além das ciências e das disciplinas acadêmicas. 
É possível o emprego do agir interdisciplinar, convergente e cooperativo para as 
atividades de segurança pública, e quiçá para outras áreas dos serviços públicos 
como a saúde. 
Mas, o trilhar interdisciplinar representa um caminho longo de 
amadurecimento e de práticas, que envolvem os sujeitos, na vontade de um agir 
conjunto para enfrentar a complexidade dos problemas vividos na fronteira e, no 
campo da segurança pública, passam para muito além de o simples agir policial, 
ainda mais quando a atuação é compartimentada, competitiva e pouco 
colaborativa e integrada. 
Constata-se a possibilidade e necessidade de uma teoria geral sobre a 
prática interdisciplinar. A partir do lançamento de grandes princípios que já estão 
frequentes no trabalho cooperativo e em alguns exemplos bem sucedidos de 
trabalhos policiais, que passam, necessariamente, pelo reconhecimento da 
diversidade e da importância do diálogo. 
 Como diziao filósofo italiano Michele Federico SCIACCA (1967) “O 
filósofo vê abismos onde o vulgo vê planícies; e nos abismos lança ‘herói’ da 
vida, a asa poderosa do seu pensamento”. 
Para suplantar a prática disciplinar e romper-se o isolacionismo, tanto na 
ciência como na segurança pública, é necessário o encontro constante, a fim de 
estimular o diálogo e interpretar a complexa realidade para bem além das 
“planícies” e das fronteiras confortáveis do conhecimento estanque. 
É necessário ousar e trabalhar em cooperação e convergência para 
conhecer e enfrentar os desafios que estão nos abismos poucos iluminados da 
criminalidade e, para tanto, os instrumentos da prática interdisciplinar são as 
78 
 
ferramentas mais adequadas para a construção de pontes que permitam 
suplantar tais abismos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
79 
 
2 DO LOCAL PARA O GLOBAL: AS COOPERAÇÕES POLICIAIS EM 
REGIÕES DE FRONTEIRA E O COMANDO TRIPARTITE COMO ASPECTO 
DA COOPERAÇÃO PENAL INTERNACIONAL 
 
Neste capítulo, serão apresentados os aspectos da cooperação penal 
internacional, com ênfase nas cooperações policiais locais em regiões de 
fronteira. Será apresentado o histórico de criação do Comando Tripartite - CT, 
bem como outros modelos locais inspirados no CT, além das principais 
dificuldades nas cooperações policiais em localidades fronteiriças. 
O CT representa a união de forças policiais de três países, com formações 
e práticas diversas, mas que atua para além de suas disciplinaridades 
estanques, une esforços para trocar informações relevantes, aprimora a 
segurança da Tríplice Fronteira, em uma atuação eminentemente interdisciplinar 
que deve seguir de exemplo para outras cooperações em áreas de fronteira. 
 
2.1 A COOPERAÇÃO POLICIAL E JURÍDICA INTERNACIONAL 
 
As cooperações penais internacionais são fundamentais para a eficácia 
do controle, de investigação e punição de uma criminalidade transnacional que 
se intensificou com o fenômeno recente da globalização comercial. 
A rapidez das comunicações, notadamente da internet e a intensificação 
de redes e conexões globais, deu agilidade para organizações criminosas 
ultrapassarem seus limites regionais. 
De outro lado, a rigidez das fronteiras no aspecto das trocas de 
informações policiais e judiciais, entre os órgãos de persecução penal, 
favoreceram a expansão desta criminalidade que se fortalece às margens das 
fronteiras nacionais. 
As fronteiras entre os países são transbordantes, com territorialidades que 
naturalmente ultrapassam limites geográficos, comerciais, culturais e de 
criminalidade. Assim, a cooperação penal internacional mais irrestrita possível 
permite que a persecução penal dos Estados se aperfeiçoe e possa colher o 
criminoso e golpear a organização criminal em qualquer local do mundo. Para 
deter uma criminalidade cada vez mais articulada e transnacional, é de todo 
mister que as polícias ultrapassem as fronteiras de seus respectivos Estados. A 
80 
 
cooperação penal internacional, no sentido lato, é a maneira de superar tais 
limites. 
Conforme destacou Sergio Moro em artigo que traça considerações gerais 
sobre a cooperação jurídica internacional (2010, p. 16), não há opções sensatas 
além de abrir-se com coragem e desprendimento à cooperação internacional: 
 
Fechar-se à cooperação é transformar seu país em refúgio para 
criminosos, com a sua força corruptora e disruptiva, e arriscar-
se a encontrar portas fechadas para os requerimentos 
formulados alhures, já que a política predominante nesse âmbito 
é a da reciprocidade. Cooperar ou falhar. (MORO, 2010, p.16). 
 
 
Sergio Moro destaca que o primeiro princípio que deve reger a 
cooperação jurídica internacional é o de que ela deve ser a mais ampla possível 
e que eventuais limites devem ser vistos mais como exceção e jamais como uma 
regra, pois num mundo cada vez mais globalizado “todos são vizinhos” (MORO, 
2010, p.16). 
Essa vizinhança é próxima e sem barreiras, com o comportamento de um 
país na influência direta de mercados, cultura e desenvolvimento do outro. 
Proximidades e dinâmicas comerciais, na aldeia global que se tornou o mundo, 
não podem ser detidas por barreiras físicas, como muros, rios, montanhas ou, 
até mesmo, oceanos, tampouco por leis, decretos ou normas. Somente a 
cooperação penal internacional pode representar risco e limitação ao 
avassalador poderio das organizações criminosas transnacionais. 
O termo cooperação penal internacional toma-se nesta pesquisa como 
gênero da qual decorrem a cooperação policial internacional (não jurisdicional) 
e a cooperação jurídica internacional. 
Para fazer frente à criminalidade internacional cada vez mais ágil e 
articulada, é necessário que as cooperações policiais sejam rápidas e o menos 
burocráticas possíveis. Ao prefaciar obra referencial sobre as cooperações 
jurídicas internacionais em matéria penal, Sandra Vale, então Conselheira da 
ONU e anteriormente Secretária Nacional de Justiça do Brasil disse: 
 
Em geral, as cooperações policiais, aduaneiras e das unidades 
de investigação financeiras são diretas e só passam pela 
autoridade central quando vão ser usadas como provas no 
81 
 
processo penal. Nada impede que policiais, promotores e juízes 
mantenham contato direto. (BALTAZAR et all, 2010, p.10) 
 
O enfrentamento à criminalidade transnacional é fundamental para 
garantia substantiva da dignidade da pessoa humana e da cidadania, pois as 
organizações criminosas internacionais atuam principalmente no tráfico de 
pessoas, drogas, armas e munições, ilícitos que vulneram frontalmente a 
dignidade humana, principalmente dos mais pobres e expostos, diminui a 
condição humana à mercadoria que se vende, explora e vicia e confronta os 
Estados Nacionais com seu poderio econômico, mediante as atividades de 
lavagem de dinheiro e corrupção. 
O crime organizado desafia a própria soberania dos Estados, através do 
domínio de territórios, aprisiona a cidadania e fazem bairros e cidades inteiras 
reféns da tirania do crime. 
A Constituição brasileira coloca, já no seu artigo inaugural, a dignidade da 
pessoa humana, a cidadania e a soberania como fundamentos da República 
Federativa do Brasil, como Estado Democrático de Direito. Esses fundamentos 
são próprios do serviço fundamental de segurança pública que, para ter melhor 
rendimento deve, necessariamente, ser cooperativo nos aspectos internos e 
internacionais e liberados de amarras burocráticas que acabem por impedir o 
melhor aproveitamento das diligências de investigação. 
A Constituição determina, no artigo 4º, que o Brasil deve obedecer, nas 
suas relações internacionais, por diversos princípios, dentre eles a prevalência 
dos direitos humanos e a cooperação entre os povos para o progresso da 
humanidade. 
Buscar o predomínio dos direitos humanos é, dentre outros, garantir 
serviços mínimos para o desenvolvimento pleno do homem, como segurança, 
saúde e educação. 
Para aprimorar a segurança pública, face uma criminalidade transnacional 
cada vez mais organizada e predatória, é fundamental que a cooperação penal 
internacional, quer policial ou judicial, ágil e irrestrita, concretize ideais de uma 
justiça cosmopolita e de uma cooperação penal comprometida efetivamente com 
a dignidade do ser humano, sem fronteiras, portanto. 
82 
 
Nesse sentido de garantia e de direito Constitucional fundante, deve-se 
considerar a cooperação penal internacional como a mais ampla e irrestrita 
possível. 
Na obra citada, Sergio Moro destaca e reafirma a necessidade de dar o 
mais amplo sentido às cooperações penais internacionais: 
 
No campo jurídico, isso significa que a interpretação das normas 
vigentes que digam respeito à cooperação deve favorecer 
opções interpretativas que ampliem as possibilidades de 
cooperação e não o contrário. (Op. Cit., p. 17). 
 
Ao referir sobrecooperações policiais internacionais, lembra-se 
imediatamente da Organização Internacional de Polícia Criminal – OICP/ 
INTERPOL –, criada em 1923, com sede em Lyon na França, e que, atualmente, 
congrega mais de 190 (cento e noventa países). 
Entretanto, nada obsta que países, pelas suas polícias, cooperem 
diretamente na apuração e repressão de crimes. O Brasil, por exemplo, através 
da Polícia Federal, possui adidos policiais e/ou oficiais de ligação em 21 países 
do mundo, perfazem atualmente 32 postos policiais que incluem todos os países 
vizinhos na América Latina, além do Equador, Estados Unidos, México, Canadá, 
Portugal, Espanha, Reino Unido, Itália, França, África do Sul e Singapura. 
Conforme instrução normativa nº 86 de 1º de dezembro de 2014, os 
servidores da Polícia Federal que atuam no exterior ocupam funções de Adidos 
Policiais Federais, Adidos Adjuntos ou Oficiais de Ligação. Basicamente, a 
função das unidades no exterior é promover intercâmbio de informações 
relevantes para a segurança pública entre os países de atuação. Os adidos 
assessoram o Chefe da missão diplomática no país em assuntos técnicos de 
polícia e segurança pública, auxiliados pelos adidos adjuntos. 
O oficial de ligação tem como função precípua a troca e compartilhamento 
de informações de natureza policial e de segurança pública, de forma 
subordinada ao Adido. 
Não há impeditivo, entretanto, para que sejam estabelecidas cooperações 
policiais internacionais de âmbito local em áreas de fronteira, como é o caso do 
CT. 
O CT é um modelo de cooperação policial internacional, mas, outras 
formas, modelos e paradigmas podem ser estabelecidos, pois o fundamental é 
83 
 
a promoção do encontro entre as equipes policiais diversas nas regiões de 
fronteira e que a partir daí estabeleçam-se rotinas para a atuação interdisciplinar 
e trocas de informações. 
A cooperação penal internacional é gênero tanto da cooperação policial 
internacional, como da cooperação jurídica internacional. Ambas diferem pelo 
critério jurisdicional que qualifica a cooperação jurídica internacional. 
Entre os exemplos de cooperação policial internacional é possível citar a 
troca ágil de informações úteis a investigações por policiais de, ao menos, dois 
países em assuntos como: dados cadastrais de veículos, pessoas e produtos, 
confirmações de identidades via confronto de impressões digitais, 
conhecimentos acerca de pessoas desaparecidas, obras de arte e temas tais 
como tráfico de drogas, armas, munições e terrorismo e troca de experiências 
sobre o modo de agir das organizações criminosas. Conforme a Polícia Federal: 
A cooperação jurídica refere-se a uma interação entre Estados 
soberanos, com o objetivo de dar eficácia extraterritorial a 
medidas processuais provenientes de outro Estado e é sempre 
fundamentada em tratado ou em pedido de reciprocidade. Já a 
cooperação policial é interação entre organismos policiais, que 
agem em nome de seus Estados, com o objetivo de solicitar 
diligências no território de outros países, colher e trocar 
informações, localizar e deter foragidos, e também é 
fundamentada na reciprocidade. (COOPERAÇÃO POLICIAL 
INTERNACIONAL, p.37, 2015). 
 
Cooperação penal internacional pode ser judicial, quando necessário o 
escrutínio de um juiz, representante do Poder Judiciário, ou simplesmente 
administrativa, não-jurisdicional ou também denominada policial, quando 
prescinde da atuação judicial. 
 
 
Não se tenha, porém, a ilusão de que todos os pedidos de 
cooperação se inserem no âmbito de um processo judicial. 
Como já afirmado, autoridades de países diversos cooperam de 
diversas maneiras e com fundamentos diversos, às vezes 
apenas com base no princípio da reciprocidade. Não havendo 
um processo judicial instaurado e não havendo necessidade de 
submissão da questão à autoridade jurisdicional, não há 
igualmente que se discutir competência judicial, mas sim 
competência ou atribuição da autoridade administrativa para 
formular o pedido de cooperação. (MORO, 2010, p.27). 
 
84 
 
Em artigo sobre as cooperações penais internacionais, Aras e Luciano 
(2010, pp. 126-127)31 destacam a evolução histórica das formas de tramitação 
das cooperações internacionais, da maior para a menor burocracia a: 
a)Cooperação pela via diplomática, consistente nas antigas e morosas formas 
de cartas rogatórias envolvendo tanto o Ministério da Justiça como o Ministério 
das Relações exteriores do Brasil e normalmente Ministérios similares nos 
países vizinhos; b) Cooperação penal por autoridades centrais, com menor 
quantidade de intermediários e normalmente centralizadas em órgãos do Poder 
Executivo determinados em cada país; c) Cooperação penal direta, sem 
necessidade de via diplomática nem necessária intervenção de autoridade 
central. É aquela estabelecida diretamente entre aqueles que necessitam e 
podem fornecer as diligências, forma mais ágil de cooperação. 
A Cooperação direta, como o nome sugere, é mais célere, sem 
intermediários com destaque para o grande rendimento quando aplicadas às 
zonas fronteiriças dos territórios nacionais. Aras e Lima: 
 
Às modalidades antes mencionadas, soma-se a cooperação 
transnacional direta (sem intermediários), já admitida em alguns 
países, especialmente para a tramitação de pedidos de 
assistência jurídica mútua (MLA) e para a formação de equipes 
de investigação conjuntas ou forças-tarefas transnacionais, 
denominadas joint investigative teams. A cooperação direta 
pode ser ampla, isto é, sem limitações geográficas, ou restrita, 
circunscrita às zonas de fronteira (transfronteiriça) (ARAS e 
LIMA, 2010, p. 134/135) 
 
 
As cooperações policiais em fronteiras devem ser estabelecidas ponta a 
ponta. Com efeito, há pouco sentido no encaminhamento de pedido de 
cooperação de Foz do Iguaçu para Brasília e de lá para Asunción a fim de 
efetuar-se uma diligência em Ciudad del Leste. Possivelmente, o princípio da 
oportunidade, considerado como o momento fundamental para a efetivação da 
diligência policial, que normalmente não pode ser retardado, será perdido e a 
demora na atuação policial somente favorecerá à criminalidade organizada. 
 
31LIMA DE, Luciano Flores; ARAS, Vladimir. Cooperação Internacional Direta pela 
Polícia ou Ministério Público.: BALTAZAR JÚNIOR, José Paulo. LIMA DE, Luciano 
Flores (orgs). Cooperação Jurídica Internacional em Matéria Penal. Porto Alegre, RS : 
Verbo Jurídico, 2010. p 123-160 
 
85 
 
O fundamento jurídico indicado pelos autores citados para as 
cooperações diretas transfronteiriças, como é o caso do Comando Tripartite, 
pode ser o artigo 19 da Convenção de Palermo, internalizada no Brasil pelo 
decreto nº 5015/2004: 
 
Artigo 19 
 
Investigações conjuntas 
 
Os Estados Partes considerarão a possibilidade de celebrar 
acordos ou protocolos bilaterais ou multilaterais em virtude dos 
quais, com respeito a matérias que sejam objeto de 
investigação, processos ou ações judiciais em um ou mais 
Estados, as autoridades competentes possam estabelecer 
órgãos mistos de investigação. Na ausência de tais acordos ou 
protocolos, poderá ser decidida casuisticamente a realização de 
investigações conjuntas. Os Estados Partes envolvidos agirão 
de modo a que a soberania do Estado Parte em cujo território 
decorra a investigação seja plenamente respeitada. 
 
 
Percebe-se a possibilidade de mesmo sem acordos ou protocolos prévios 
a possibilidade, já prevista pela convenção de Palermo a realização de 
investigações conjuntas, via Forças-Tarefas, “task forces” ou “joint investigative 
teams” 
O decreto nº 1899 de 9 de maio de 1996, que promulgou a Convenção 
Interamericana sobre Cartas Rogatórias, faculta, no artigo 7º, às autoridades 
judiciárias das zonas de fronteira dar cumprimento de forma direta às cartas 
rogatórias relativas a matérias civis e comerciais (art. 3º). 
Se para o procedimento decooperação mais moroso das cartas 
rogatórias é possível a tramitação direta entre as autoridades judiciais de 
fronteira, deve-se permitir a cooperação direta policial entre autoridades de 
segurança pública nas regiões fronteiriças, como é o caso histórico do Comando 
Tripartite. 
Corrobora o entendimento sobre a cooperação penal mais irrestrita 
possível, a proposta de aperfeiçoamento da cooperação internacional e policial 
em regiões de fronteira, subscrita em Brasília, em 23 de agosto de 2017, pelos 
86 
 
Chefes dos Ministérios Públicos da Argentina, Brasil, Chile, Paraguai, Peru e 
Uruguai32. 
O projeto de recomendação nº 01/2017 (cuja integra consta do Anexo I), 
que propõe a adoção de um marco normativo para a cooperação fronteiriça, 
consolida medidas novas e outras já previstas em diversos acordos 
internacionais celebrados no MERCOSUL, como é o caso da possibilidade de 
autoridades policiais de um país de fronteira adentrarem no país vizinho em caso 
de perseguição policial (art.6º da proposta e previsto no acordo firmado em 2006 
MERCOSUL/CMC/DEC.Nº16/06). 
Destaca a possibilidade de cooperação direta entre autoridades nas áreas 
de fronteira, sem necessidade de encaminhamento prévio para longínquos 
órgãos centrais nas capitais dos respectivos Estados Nacionais, conforme artigo 
1º: 
Os pedidos de cooperação internacional ou de informação entre 
Autoridades de Fronteira poderão tramitar diretamente, sendo 
dispensada a intermediação das Autoridades Centrais ou 
Diplomáticas dos Estados envolvidos. 
 
A proposta prevê que os órgãos centrais sejam informados sobre as 
cooperações, para fins de controle e não para intermediar os atos, que se 
aperfeiçoam sem maiores burocracias diretamente entre as autoridades 
correspondentes nos países vizinhos e nas regiões de fronteira. Não há óbice 
também para eventual utilização da cooperação via órgãos centrais. 
O CT é paradigma nas cooperações diretas sem intermediários, conforme 
se verá a seguir, com a discussão sobre o funcionamento do instituto que 
permite, desde 1996, a troca ágil de informações policiais entre as polícias na 
Tríplice Fronteira. As atas resumem as trocas e permitem aos órgãos centrais 
aferir o desempenho do organismo. 
 
 
 
 
32 Sobre o encontro, sugere-se a matéria publicada no jornal valor econômico: 
https://www.valor.com.br/brasil/5095034/mercosul-propoe-facilitar-cooperacao-policial-
nas-fronteiras. Acesso em: 30 ago. 2018 
 
87 
 
2.2 O COMANDO TRIPARTITE. 
 
A preocupação deste capítulo é explicitar a história de formação do CT, 
seu funcionamento e dinâmicas, e como a sua organização pode servir de 
exemplo para outras iniciativas de cooperação policial local em regiões de 
fronteira. 
O Comando Tripartite (CT) é conceituado como mecanismo formal de 
cooperação policial internacional local, existente na região da Tríplice Fronteira 
e em atuação desde 1996 e congrega instituições policiais e de inteligência de 
Argentina, Brasil e Paraguai. 
É formal, pois decorre de acordo operativo firmado na cidade de Puerto 
Iguazú, Argentina, em 18 de maio de 1996, entre os Ministros do Interior da 
República da Argentina (Carlos Y. Cobach), Paraguai (Juan Manuel Morales) e 
do Ministro da Justiça do Brasil (Nelson Azevedo Jobim). A data é considerada 
como de fundação do CT. 
Na ausência de maiores informações bibliográficas sobre o CT, as 
principais fontes para a pesquisa do presente capítulo são as atas iniciais do 
Comando, dos anos de 1996 a 1997, correspondentes aos dois anos iniciais de 
funcionamento e que foram obtidas diretamente com a entidade estudada. Serão 
utilizadas atas de 2015 até 2018. 
Em uma próxima pesquisa, face à grande quantidade de informações, 
pretende-se uma análise mais profunda das atas de todo o período de 
funcionamento do CT que, em agosto de 2018, alcançou a reunião ordinária de 
número27433.Os documentos históricos representam importante exemplo das 
interações formais de segurança pública existentes nos últimos 22 anos na 
Tríplice Fronteira. 
As atas e documentos do CT são redigidas conforme a língua materna de 
cada país: espanhol para Argentina e Paraguai e português para Brasil. O fato 
demonstra uma busca de informalidade, na ausência de burocracias de tradução 
 
33 O número representa a quantidade de reuniões ordinárias do Comando Tripartite, 
envolvendo apenas a grande reunião mensal, com a presença das Chefias das Polícias 
dos três países e demais órgãos convidados. Atualmente, afora a grande reunião, há 
mais dois encontros mensais: Câmaras Técnicas de Inteligência e também da dedicada 
à Antiterrorismo e tráfico de armas. Além disso, há reuniões extraordinárias 
eventualmente convocadas. Assim, estima-se que o número de reuniões seja ao 
menos o dobro das reuniões ordinárias. 
88 
 
e também evidencia um esforço de entendimento recíproco e de 
interdisciplinaridade a partir da aceitação de diferenças linguísticas comuns em 
busca de uma convergência que aprimore a segurança na região. 
No Anexo II, segue a reprodução do acordo histórico que funda o 
Comando Tripartite e que, originalmente, denomina a região como “das três 
fronteiras”: 
Meses antes da fundação formalizada em Puerto Iguazú, conforme Arthur 
Bernardes do Amaral (apud FIRMAN, 1996, p. 144), a criação foi decidida em 
reunião de cúpula ocorrida em fevereiro daquele ano em Buenos Aires: 
A partir de 1996, ganham força as negociações de acordos de 
cooperação, assim como os processos de implementação de 
iniciativas trilaterais entre Brasil, Argentina e Paraguai para 
reforçar os mecanismos conjuntos de segurança na Tríplice 
Fronteira. O processo é liderado pelo governo argentino, com 
evidente protagonismo desempenhado pelo ministro do Interior 
de Menem, Carlos Corach. Foi Corach quem, em fevereiro de 
1996, recebeu Marcelo Jardim, Chefe da divisão de América 
Meridional do Ministério das Relações Exteriores brasileiro, e 
Cristóbal Sánchez, vice-ministro do Interior do Paraguai, em 
Buenos Aires, para firmar o acordo que assentaria as bases para 
a criação do Comando Tripartite da Tríplice Fronteira poucos 
meses depois (AMARAL, apud FIRMAN, 1966, p. 144). 
 
Pode-se questionar se o acordo operativo do CT teria necessidade de 
internalização no ordenamento jurídico brasileiro, na forma do artigo 84, VII da 
Constituição Federal que atribui ao Poder Executivo manter relações com os 
Estados estrangeiros e atos internacionais “lato sensu” sujeitos à referendo do 
Congresso Nacional. Esse processo de aprovação é moroso e repercute na 
plena internalização da norma geral no ordenamento jurídico nacional, com 
eficácia para produção de efeitos. 
Entretanto, nem todos os ajustes internacionais necessitam de aprovação 
do Congresso Nacional, quando são decorrentes de outros já devidamente 
internalizados. Assim, para o caso do “acordo operacional” que institui o CT 
pode-se dizer que na verdade sua natureza jurídica internacional seria de 
“memorando de entendimento” que conforme consta no site do Itamaraty 
(www.brasil.gov.br) seriam: 
Atos redigidos de forma simplificada. Têm a finalidade de 
registrar princípios gerais que orientam as relações entre as 
partes em planos políticos, econômico, cultural ou em outros 
 
89 
 
A força normativa do CT advém diretamente do Tratado do Mercosul, de 
1991, internalizado no Brasil a partir do decreto nº 350, de 21 de novembro de 
1991 e da Constituição Federal pelo princípio da ampla cooperação entre os 
povos para o progresso da humanidade (art. 4º, IX). 
O protagonismo da Argentina na criação do CT confirma-se pelo esforço 
na articulação inicial, vez que até o mês de setembro de 1996 e, nos quatro 
primeiros meses que a presidência dos trabalhos coube àquele país realizaram-
se nove reuniões34. Posteriormente, a partir da décima reunião,em outubro de 
1996, no Brasil, as reuniões passaram a ser mensais. Coube ao Brasil os meses 
de outubro a janeiro e, ao Paraguai, os meses de fevereiro a maio, com retorno 
à Argentina nos meses de junho a setembro, o que permanece até a atualidade. 
Outra demonstração do protagonismo da Argentina na formação do CT é 
a presença do então Presidente da República da Argentina, Carlos Saul Menem 
e do Ministro do Interior daquele país, Carlos Corach, na reunião de transmissão 
da presidência do Comando, da Argentina para o Brasil, em 13 de setembro de 
199735. A reunião teve, como principal autoridade brasileira, a então Vice-
Ministra da Justiça, Carmen Mesquita e o Ministro do Interior do Paraguai, Miguel 
Angel Ramirez. 
Uma das possíveis razões para o crescente interesse na segurança e 
maior controle na Tríplice Fronteira e para a criação do CT foram os dois ataques 
terroristas direcionados à símbolos e instituições israelenses em Buenos Aires 
alguns anos antes à criação do Comando, respectivamente em 1992 e 1994. 
Tais circunstâncias explicam e justificam o protagonismo inicial da Argentina, 
face à comoção e gravidade dos atos terroristas sofridos naquele país. 
 
34 A primeira reunião do CT designada assim em ata foi a realizada no 12/06/1996 em 
Puerto Iguazú, Argentina. Naquele mesmo mês, em 25/06/1996, realizou-se a segunda. 
Dias após, no início do mês de julho (04/07/1996) ocorreu a terceira. A quarta reunião 
ocorreu ainda em julho daquele ano (22/07/1996). A quinta em 08/08/1996. Em 
22/08/1996 houve a sexta reunião. A sétima reunião ocorreu no dia 05/09/1996 e a 
oitava em 20/09/1996 com a nona em 30/09/1996. 
 
35 A reunião não foi numerada na ata, mas é considerada a reunião de número 23 do 
Comando Tripartite, pois ocorreu no dia 13/09/1997, dias depois da reunião de número 
22 (27/08/1997) e logo em seguida da reunião nº 24 (realizada no Brasil em 
08/10/1997). 
90 
 
Na tarde de 17 de março de 1992, uma camionete carregada de 
explosivos, em frente à Embaixada Israelense na capital da Argentina foi 
detonada. O atentado causou 29 mortes com 200 feridos. 
Na manhã de segunda-feira, dia 18 de julho de 1994, um furgão carregado 
de explosivos chocou-se contra o edifício sede da Associação Mutual Israelita 
da Argentina – AMIA matou 85 pessoas e feriu 300, o que representou o maior 
atentado terrorista ocorrido naquele país. Nenhum dos atentados foi esclarecido, 
mas a “Justiça argentina acusa o governo do Irã de ter organizado o ataque da 
AMIA em conjunto com o Hezbollah.”36 
Os fatos fizeram as autoridades Argentinas reforçarem as preocupações 
com o controle das fronteiras, com repercussão na Tríplice Fronteira, devido a 
grande concentração populacional, dinâmica comercial intensa e pouca 
fiscalização proporcional, aliada à presença significativa da comunidade árabe 
tanto em Foz do Iguaçu como em Ciudad del Este e israelense em Buenos Aires. 
Desde os ataques, percebeu-se a necessidade de criar um fórum capaz 
de, gradativamente, integrar as ações de segurança entre os três países, numa 
prática interdisciplinar de convergência ou, ao menos, multidisciplinar, de 
coordenação entre as ações de segurança e troca de informações dos três 
países. 
O adjetivo “operativo” que segue logo após a palavra acordo, demonstra 
ser o CT um fórum eminentemente operacional, de execução de ações 
integradas de segurança pública e troca de informações nas Três Fronteiras 
(“tres fronteras”, conforme denominação inicial do CT). 
O objetivo principal para criação do CT era instalar uma coordenação 
mínima entre as polícias dos três países, passível de conduzir medidas de 
intercâmbio de informações, cooperação policial e de segurança pública na área 
que compreende as cidades de Puerto Iguazu, Foz do Iguaçu e Ciudad del Este, 
consideradas como cidades sedes deste organismo, vez que, já no Termo do 
Acordo, estipulou-se que a coordenação operativa seria de forma rotativa em 
cada uma das cidades e países mencionados, começando pela Argentina e 
 
36https://internacional.estadao.com.br/blogs/radar-global/entenda-impunidade-em-dois-
atentados-na-argentina/. Acesso em: 04/08/2018. 
91 
 
seguindo, pela ordem alfabética para Brasil e Paraguai, com revezamento a cada 
quatro meses. 
Buscou-se, assim, criar um fórum duradouro, interdisciplinar, com 
encontros regulares a fim de que as partes iniciassem a formação de redes de 
cooperação locais, a favorecer, gradativamente, ações de coordenação e 
convergência em prol da segurança pública dos três países, com reflexos além 
do regional. 
A criação é um exemplo de como a interdisciplinaridade pode ser 
trabalhada no nível político-estratégico (centros políticos) e irradiar para o nível 
executivo (bases e regiões de fronteira) num caminho do geral para o específico 
ou local. O compromisso de encontros regulares e auditáveis mediante formação 
de atas comunicadas posteriormente aos órgãos centrais favoreceu a 
convergência e, gradativamente, diminui barreiras à troca de informações. 
O símbolo do CT, que ilustra a figura 3, representa os marcos de fronteira 
dos três países e as cores de cada nação e demonstra o ideal de convergência 
e coordenação, com união de esforços para aprimorar constantemente a 
segurança local. 
 
Figura 3. Símbolo do Comando Tripartite 
 
 Fonte: Comando Tripartite, 2018 
 
A importância do nível estratégico consta da diretiva de que os 
responsáveis pelo CT (nível de execução) receberiam instruções diretas dos 
Ministérios sobre a forma de condução política e que as operações se iniciariam 
92 
 
em 1º de junho de 1996. Essas instruções são nítidas a partir da presença de 
representantes estratégicos nas reuniões iniciais do Comando. 
O segundo documento do Comando foi uma ata redigida em 31 de maio 
de 1996, firmada por Luis Santos Casale, pela República Argentina, 
Subsecretário de gestão de programas do Ministério do Interior; Airton Vicente, 
na época Chefe da Delegacia de Polícia Federal em Foz do Iguaçu, que 
representou o Brasil, e por Ricardo Villamayor, da Polícia Nacional, pela 
República do Paraguai. 
No Anexo III, consta a “ACTA DE LA REUNION CONSTITUTIVA DEL 
COMANDO TRIPARTITO PARA LA ZONA DENOMINADA DE LAS TRÊS 
FRONTERAS”. Decide-se por iniciar a condução operacional, pela ordem 
alfabética dos países. Coube à Argentina, a partir do mês de junho daquele ano 
a condução dos trabalhos, com alternância a cada quatro meses. 
As reuniões executivas do CT, com início das trocas de informações, 
iniciaram-se efetivamente em 12 junho de 1996, data da primeira ata do 
Comando, em Puerto Iguazu, na sede da Gendarmeria Nacional. Pela Argentina 
fizeram-se presentes representantes da Gendarmeria, Prefectura Naval, Policia 
Federal e Secretaria de Inteligência. Por parte do Brasil, a comitiva foi 
representada pela Polícia Federal de Foz do Iguaçu, Exército Brasileiro, 
mediante 34º Regimento de Infantaria Motorizada e pelo cônsul do Brasil em 
Cidade de Leste. O governo do Paraguai foi representado pela Polícia Nacional. 
Na reunião, foi entregue para análise e considerações das comitivas dos 
três países, pela delegação Argentina, o termo de “Organização e 
Funcionamento do Comando Tripartite da Tríplice Fronteira”. 
As primeiras reuniões eram quinzenais, na primeira e terceira terças-feiras 
do mês. Posteriormente, as reuniões passaram a ser mensais e, atualmente, 
ocorrem na última quinta-feira de cada mês, pela manhã. 
Na quarta reunião, realizada em 22 de julho de 1996, em Puerto Iguazu, 
Argentina, foi aprovado, de forma unânime pelos representantes dos três países, 
o Estatuto denominado “Organização e Funcionamento do Comando Tripartite 
da Tríplice Fronteira”, com normas sobre a organização e funcionamento do 
organismo na região. 
Face à relevância histórica do documento,a integra consta do Anexo IV. 
O documento fundamental fixou como objetivos do Comando no artigo 3º: 
93 
 
a) o intercâmbio de informações úteis, oportunas e confiáveis 
para as organizações de segurança, que contribuam para a 
planificação de ações para a região; 
b) o desenvolvimento de um Sistema Integrado de Informações 
de Segurança; 
c) fomentar intercâmbios interinstitucionais de caráter 
profissional e, finalmente; 
d) desenvolver mecanismos orientados a prevenir e solucionar, 
em função das suas capacidades, fatos e fenômenos que 
possam sobrevir como consequência de todo tipo de delitos e 
infrações, respeitados o marco legal de cada país. (REPÚBLICA 
ARGENTINA, 1996e). 
 
O artigo 4º designa que o CT seja composto pelos organismos de 
segurança dos Estados partes, com jurisdição e competência na segurança 
interior e na região. Também facultou a participação de outras organizações, já 
revelando aí a complexidade e necessidade de articulação intensa e abrangente 
para garantir os melhores resultados na segurança da região trinacional. 
Os membros natos, previstos no artigo 4º do Estatuto do CT, foram, pela 
Argentina, a Gerdarmeria Nacional, Prefeitura Naval e Polícia Federal. Pelo 
Brasil, a Polícia Federal e, por parte do Paraguai, a Polícia Nacional. Em 2015, 
pela Argentina, foi agregado como membro permanente a Polícia de Segurança 
Aeroportuária e, pelo Brasil, foram agregados a Polícia Rodoviária Federal37e 
Agência Brasileira de Inteligência38. 
Administrativamente, o CT é integrado pelas Chefias ou “Jefaturas” e 
pelas Secretarias. As Chefias são as representações superiores do CT, 
exercidas por órgão integrante da força de segurança com jurisdição na região, 
mediante designação de cada país (art.12), podendo ser alternado entre as 
forças de segurança de cada nação. As Chefias de cada país devem representar 
o CT, coordenar as atividades e exercer a supervisão do cumprimento dos fins 
e objetivos propostos, bem como propor a formação de grupos especializados 
de trabalho (artigo 13). 
As reuniões devem ocorrer, necessariamente, com a presença de 
representantes dos três países (artigo 9º), cada país tem direito a um voto nas 
 
37 Ata de acordo firmado em 26/11/2015, durante a reunião ordinária de número 241, 
realizada na PF em Foz do Iguaçu. 
 
38 A Polícia de Segurança Aeroportuária da Argentina – PSA e a Agência Brasileira de 
Inteligência foram admitidas durante reunião ordinária de nº 239, realizada na 
Argentina, no dia 29/09/2015. 
94 
 
eventuais deliberações (art. 10), mas as resoluções devem ser adotadas por 
consenso e, caso as decisões superem o âmbito de atribuições e a competência 
territorial de seus membros, deve o assunto ser remetido, pelas vias 
hierárquicas, para os respectivos Ministérios (art.8º). 
As secretarias, uma para cada país, devem tramitar e coordenar as 
resoluções do CT, preparar a ordem do dia e atas do CT, com as trocas oficiais 
das informações de cooperação policial internacional (art. 15). São as 
Secretarias que, conforme as orientações das Chefias fazem o agendamento 
prévio das reuniões gerais e especiais do Comando e executam as atividades 
de trocas de informações entre os países, para posterior formalização durante 
as reuniões mensais ordinárias. 
Entre as reuniões mensais ordinárias, há intensas trocas de informações 
policiais realizadas a partir de aplicativos de mensagens, e-mails e ofícios, 
sempre da forma mais ágil e desburocratizada possível. 
Nas reuniões gerais, caso necessário, são formalizadas as trocas dos 
ofícios e documentos oficiais que contém as informações para a instrução dos 
auxílios diretos que podem servir de base para investigações preliminares e, até 
mesmo, para ações penais em curso, conforme se verá no estudo de caso. 
Para demonstrar a relevância da organização de cooperação policial 
internacional, tomando-se como base a última reunião realizada na Argentina em 
2018, a de número 274 em 25 de julho daquele ano, com mais de 100 
documentos trocados e relacionados no temário da reunião, referentes à 
cooperação penal e trocas de informações de segurança entre os três. 
O Estatuto permite (art.16) a formação de Grupos Especializados de 
Trabalho (GET) que sejam necessários para a realização dos objetivos ou do 
plano de trabalho do CT. Os GET´s podem funcionar em um dos países que 
compõem o Comando e têm como principais temas os previstos no artigo 17: 
 
a)Controle de documentação 
b)Operações simultâneas 
c)Integração de Banco de dados 
d)Lavagem de dinheiro 
e)Narcotráfico 
f)Tráfico de armas e munições 
g)Terrorismo. 
 
95 
 
Em 2016, durante a reunião de número 251, como resultado de 
discussões anteriores, foi proposta pela Delegação brasileira a criação de um 
grupo, ou unidade especial permanente para dar maior dinamismo para o 
Comando. A previsão inicial era que a unidade fosse integrada por quatro 
representantes de cada um dos países, em força tarefa para diligências 
permanentes na Tríplice Fronteira, com sede rotativa a cada seis meses. 
A ata com a proposta foi encaminhada pelas vias hierárquicas para os 
respectivos Ministérios e não houve avanços, com autorizações superiores, no 
sentido da criação do grupo permanente até final de 2018. 
A medida se amolda ao já previsto pelo MERCOSUL no acordo CMC/DC 
nº 22/1039 sobre equipes permanentes de investigação, e demonstra que a 
prática interdisciplinar ou a busca de convergências e redes que permitam a 
cooperação policial internacional depende da união de esforços dos envolvidos 
diretamente na execução de políticas de segurança local e de decisões 
burocráticas e centralizadas, normalmente lentas, que dificultam mais do que 
facilitam as atividades compartilhadas de investigação em fronteiras. 
O CT realiza, desde 1996, operações compartilhadas. As atividades 
consistem em barreiras ostensivas montadas em pontos estratégicos das áreas, 
como as aduanas das Pontes da Amizade (Brasil – Paraguai) e Fraternidade 
(Brasil – Argentina) em cada um dos países com assistência recíproca de 
policiais de cada país, a fim de permitir a conferência de documentos de viagem, 
dados sobre veículos abordados e repressão integrada a crimes 
transfronteiriços. 
A primeira operação integrada do Comando ocorreu em 21 de agosto de 
1996, conforme se vê na ata da 5ª reunião ordinária do CT, realizada em 08 de 
agosto daquele ano. A principal preocupação naquela oportunidade era o 
controle de documentos de viagem. Naquela ata, consta a proposta Argentina 
para o denominado “operativo simultâneo” assinalando os locais em Puerto 
Iguazú como “Ruta Nacional 12 y Puente Internacional” e “Terminal de Omnibus 
de Puerto Iguazú”.Brasil e Paraguai designariam seus locais nos países 
respectivos. Cada país indicaria um policial uniformizado, sem armamento, para 
 
39MERCOSUL/CMC/DEC Nº 22/10 – Acordo quadro de cooperação entre os estados 
partes do MERCOSUL e estados associados para a criação de equipes conjuntas de 
investigação. 
96 
 
a função de observador e auxiliar na troca ágil de informações e fiscalização de 
documentos de seus nacionais. 
 Atualmente, realizam-se de dois a quatro operativos conjuntos 
anualmente, via Comando Tripartite. 
Antes dos Jogos Olímpicos de 2016, no mês de abril, por dez dias, a 
INTERPOL e o Comando Tripartite, inspirados na prática já existente na região, 
realizaram operativo conjunto na Tríplice Fronteira, denominada Operação 
Fortaleza. Os resultados foram potencializados pela integração de esforços, 
compartilhamento de bancos de dados entre a INTERPOL e o Comando 
Tripartite40. 
A operação, com barreiras concomitantes e integradas por policiais de 
vários países, resultou na prisão de 32 pessoas, incluindo um foragido 
internacional de nacionalidade Italiana, procurado na Argentina e preso emFoz 
do Iguaçu e apreensão de 750 kg de drogas diversas, principalmente maconha41. 
Durante os Jogos Olímpicos realizados no Rio de Janeiro em 2016, o 
Comando Tripartite montou, na Delegacia de Polícia Federal em Foz do Iguaçu, 
uma operação para garantir a troca rápida de informações entre os três países, 
basicamente voltada para checagem de documentos de viagem, dados de 
veículos e migrações42. 
A estrutura funcionou no período de 04 a 21 de agosto de 2016 e foi 
gestionada a partir das reuniões nº 248 e 249 do CT, realizadas respectivamente 
em 27 de junho e 28 de julho de 2016 em Puerto Iguazú. Na reunião 
extraordinária do CT, realizada na sede da Polícia Federal em Foz do Iguaçu, no 
dia 04 de agosto de 2016, foi lançado o operativo destacando-se a dinâmica dos 
trabalhos: 
Inaugura oficialmente a Operação Fronteira Olímpica, a qual 
funcionará até o dia 21/08/2016 e fará o papel de centro de 
inteligência e apoio a demandas relacionadas com a segurança 
pública da tríplice fronteira com foco nos jogos olímpicos que 
ocorrerão no Brasil. A operação policial terá a presença de 
policiais do Paraguai e da Argentina e de policiais federais por 
 
40http://g1.globo.com/pr/parana/videos/v/interpol-faz-operacao-integrada-nas-
fronteiras-de-foz-do-iguacu/4943063/ 
 
41http://www.pf.gov.br/agencia/noticias/2016/04/policia-federal-realiza-operacao-na-
regiao-da-triplice-fronteira. Acesso em: 08 set. 2018. 
 
42A operação foi denominada “Fronteira Olímpica” 
97 
 
24 horas. Por meio do centro integrado haverá a troca de 
informações de forma imediata entre os três países 
 
Em abril de 2017, com os crimes relacionados à empresa PROSEGUR, a 
mesma estrutura foi utilizada na denominada “Operação Resposta Integrada” 
para coordenar os esforços de investigação entre os três países. A dinâmica 
daquela operação será exposta na forma de estudo de caso em seguida. 
 
2.3 O COMANDO TRIPARTITE –MODELO DE COOPERAÇÃO POLICIAL EM 
ZONAS BIPARTITES 
 
O êxito das ações do CT e sua forma de ação interdisciplinar no 
envolvimento de Policiais da Tríplice Fronteira, tornou um paradigma a ser 
disseminado em outras localidades. 
Exemplo é o acordo celebrado entre os Ministérios da Segurança da 
Argentina e do Ministério do Interior do Paraguai, com estabelecimento de Zonas 
de Segurança Bipartites (ZSP) nas cidades de fronteira, conforme tabela 3. O 
acordo, celebrado em 14 de novembro de 2014, em Buenos Aires, acarretou a 
criação das ZSP’s. 
Tabela 3. Zonas Bipartites de Segurança entre cidades da Argentina e 
Paraguai 
Argentina Paraguai 
Posadas Encarnación 
Clorinda Nanawa 
Clorinda Jose Falcon 
Pilcomayo Ita Enramada 
Eldorado Mayor Otaño 
Formosa Alberdi 
Ituzaingó Ayolas 
Bermejo Puerto Pilar 
Fonte: Acordo Argentina e Paraguai - 2014 
 
Argentina e Bolívia também assinaram um acordo semelhante em 15 de 
julho de 2015, criando Zonas Bipartites de segurança nas seguintes cidades de 
fronteira daqueles países, como ilustra a tabela 4. 
 
98 
 
Tabela 4. Zonas Bipartites de Segurança entre cidades da Argentina e 
Bolívia 
Argentina Bolívia 
Salvador Maza Yacuiba 
La Quiaca Villazón 
Aguas Blancas Bermejo 
Las Chalanas Bermejo 
El Condado, Los Toldos La Mamora 
Fonte: Acordo Argentina e Bolívia - 2015 
 
A simples leitura dos acordos celebrados permite verificar similaridades 
com o modelo de 1996 do CT, vez que há previsão de Secretarias e Unidades 
de Coordenação, inclusive com presidência rotativa dos trabalhos entre os 
países a cada seis meses, com previsão de reuniões regulares, na razão mínima 
de uma a cada seis meses, ou em intervalos menores, caso necessário. 
Brasil-Argentina e Brasil-Paraguai não celebraram acordos bipartites 
semelhantes. Entretanto, o modelo do CT foi disseminado para as cidades de 
Guaíra, Naviraí e Salto del Guaíra (Brasil-Paraguai) em reuniões extraordinárias 
realizadas pelo Comando nos dias 13 de dezembro de 2011 e 10 de julho de 
2013. 
No dia 12 de janeiro de 2017, realizou-se reunião extraordinária do 
Comando, na cidade de Ponta Porã, Estado do Mato Grosso do Sul, cidade 
gêmea de Pedro Juan Caballero, no Paraguai com a finalidade de demonstrar o 
modelo de atuação do CT na Tríplice Fronteira. Na oportunidade, foi 
compartilhada com as autoridades locais dos dois países daquela fronteira as 
dinâmicas empregas e formas de atuação. 
O modelo estabelecido desde 1996 pelo CT no encontro territorial entre 
Argentina, Brasil e Paraguai prosperou em outras áreas de fronteira, com as 
adaptações necessárias às dinâmicas locais, como é o caso das cidades 
gêmeas da Argentina e Paraguai e Argentina e Bolívia, que estabeleceram as 
ZSBs e também nas fronteiras do Brasil com os seus vizinhos, como enfatizado 
anteriormente. 
Essas atuações permitiram a criação de verdadeiras redes horizontais de 
segurança pública, nas quais policiais de países vizinhos entre si, podem ter 
99 
 
acesso à base de dados e informações úteis para investigações em todos os 
países do mundo, mediante colaborações diretas passíveis de serem auditadas 
e comunicadas aos órgãos centrais mediante atas com os resultados das 
cooperações articuladas. 
 
2.4 O COMANDO TRIPARTITE - DIFICULDADES À COOPERAÇÃO POLICIAL 
 
As principais dificuldades à cooperação policial local na Tríplice Fronteira 
são estabelecidas há muitos quilômetros de distâncias destas Faixas de 
Fronteira, normalmente nos centros de poder e burocracias das Capitais dos 
Estados Nacionais. Para o caso do CT, esses centros são: Buenos Aires, Brasília 
e Asunción. Salvo para o caso da capital do Paraguai, que fica a 
aproximadamente 300 quilômetros da Tríplice Fronteira, as capitais da Argentina 
e do Brasil estão a mais de 1.000 quilômetros. A distância geográfica gera 
percursos difíceis para a agilização das cooperações locais, conforme se verá a 
seguir 
A primeira dificuldade de colaboração em investigações é a extrema 
burocracia que representa a obtenção de autorização para missão policial no 
exterior a partir das fronteiras. No Brasil, para que um servidor possa atuar em 
outro país, é necessária autorização prévia do Presidente da República, 
Presidente dos Órgãos do Poder Legislativo e Presidente do Supremo Tribunal 
Federal, a depender da sua vinculação profissional com o Poder Executivo, 
Legislativo ou Judiciário. É o que prevê o artigo 95 da lei 8.112/90: 
 
Art. 95. O servidor não poderá ausentar-se do País para estudo 
ou missão oficial, sem autorização do Presidente da República, 
Presidente dos Órgãos do Poder Legislativo e Presidente do 
Supremo Tribunal Federal. 
 
O decreto nº 1.387 de 07 de fevereiro de 1995, delegou para os Ministros 
de Estado e outros cargos de cúpula do governo federal a possibilidade de 
autorização da missão internacional 
Entretanto, o artigo 3º do decreto determina que a autorização seja 
publicada no Diário Oficial da União - DOU, até a data do início da viagem ou de 
sua prorrogação, com indicação do nome do servidor, cargo, órgão ou entidade. 
100 
 
O procedimento engessa e até mesmo inviabiliza as cooperações policiais 
nas áreas de fronteira, pois tantas vezes, para o êxito de ações de investigação, 
é imperativo o deslocamento de policiais de um país para outro para auxiliar na 
identificação de fugitivos, apoiar em vigilâncias, além da participação e apoio em 
perícias criminais de procedimento similares. 
Melhor seria que policiais determinados tivessem autorizações prévias 
para atuarem em outros países de fronteira, em apoio e juntamente com policiais 
do país vizinho, sem burocráticas e impraticáveis autorizações presidenciais ou 
ministeriais. 
Para as cidades gêmeas ou localidades nas faixas de fronteira dos países, 
os deslocamentos, via de regra, são curtos e não representam custos ou 
pernoite, como são os casos das reuniões do CT que ocorrem em Puerto Iguazú 
– Argentina, Foz doIguaçu – Brasil e Ciudad del Este – Paraguai, com 
deslocamentos de aproximadamente dez quilômetros em reuniões que duram 
cerca de duas a três horas. 
No caso da Polícia Federal, o ideal era que, previamente, e de forma 
anual, tais autorizações fossem expedidas pelo próprio Superintendente 
Regional, com conhecimento da Direção-Geral, do Ministério da Justiça e 
Segurança Pública e, por sua vez, da própria Presidência da República, sem que 
tais deslocamentos representassem, qualquer contrapartida remuneratória 
adicional, pois se tratam de cidades contíguas e ocorrem normalmente sem 
qualquer necessidade de pernoite. 
Por imperativo legal, não tem sido está a regra. Assim, para um 
deslocamento de um servidor policial de Foz do Iguaçu para a China, com mais 
de 10.000 quilômetros de distância, o procedimento burocrático adotado é o 
mesmo para um deslocamento de alguns quilômetros para a vizinha Ciudad del 
Este. 
Inviável prever quando um deslocamento internacional em regiões de 
fronteira será necessário, vez que crimes transnacionais acontecem 
constantemente e a necessidade de colher uma autorização prévia e de cúpula 
demora dias e, quando obtida, o princípio da oportunidade e a diligência podem 
já não ter mais necessidade. Sugere-se assim, a alteração do artigo 95 da lei 
8.112/90 ou subdelegações de competência para autorizar viagens em áreas de 
fronteira de forma mais ágil. 
101 
 
Outra dificuldade para cooperação policial local em regiões de fronteira foi 
a alteração na lei de estrangeiros do Brasil. Anteriormente, pelo artigo 57, § 2º 
da lei 6.815/80, era possível a deportação sumária (imediata) do estrangeiro com 
estada ou entrada irregular em território nacional, por conveniência aos 
interesses nacionais. A fundamentação era comumente utilizada para realizar a 
entrega de cidadãos estrangeiros que estavam irregulares no Brasil, 
principalmente em Foz do Iguaçu e região e que, eventualmente, tinham 
mandados de prisão nos seus países de origem. 
A lei número 13.445/2017, que instituiu a nova lei de migrações no Brasil, 
em 24 de maio daquele ano, determinou, no artigo 50, novos procedimentos para 
a deportação, com prazo de notificação para o deportando regularizar seu 
ingresso em até 60 dias passíveis de prorrogação por igual período. Previu, 
ainda, a notificação compulsória da Defensoria Pública da União para prestar 
assistência ao deportando em todo o procedimento administrativo de deportação 
(artigo 51). Ou seja, a nova legislação de estrangeiros no Brasil dificultou, ou 
simplesmente fulminou, a possibilidade de deportações sumárias, imediatas em 
áreas de fronteira. 
O Paraguai via CT, utiliza de forma intensiva a deportação sumária para 
entregar brasileiros irregulares naquele país e, muitas vezes, foragidos da justiça 
brasileira. 
Conforme dados divulgados na imprensa, no período de 2016 a 2018, 104 
brasileiros com mandado de prisão em aberto ou em situação migratória irregular 
foram entregues à Polícia Federal pela Polícia Nacional do Paraguai, através do 
Comando Tripartite. O Brasil chegou a fazer a entrega de 65 paraguaios.43 
Outra dificuldade impactante nas cooperações policiais em regiões de 
fronteira é a ausência de implementação e vigência do importante acordo do 
MERCOSUL sobre o Mandado Mercosul de Captura e Procedimentos de 
Entrega entre Estados partes do Mercosul e Estados Associados, ou 
simplesmente Mandado Mercosul de Captura (MMC), consubstanciado no 
documento MERCOSUL/CMC/DEC N° 48/10. 
 
43https://www.h2foz.com.br/noticia/policiais-brasileiros-e-paraguaios-fecham-o-cerco-a-
fugitivos-na-fronteira. Acesso em: 08 set. 2018. 
102 
 
Durante reunião do Conselho do Mercado Comum do Sul realizada em 16 
de dezembro de 2010, em Foz do Iguaçu, os governos da Argentina, Bolívia, 
Brasil, Equador, Paraguai, Peru e Uruguai assinaram o Acordo para permitir 
agilidade no cumprimento de mandados recíprocos de prisão e entrega de 
presos. Em síntese o acordo prevê: 
Artigo 1º — Obrigação de executar 
1. O Mandado MERCOSUL de Captura é uma decisão judicial 
emitida por uma das Partes (Parte emissora) deste Acordo, 
com vistas à prisão e entrega por outra Parte (Parte 
executora), de uma pessoa procurada para ser processada 
pelo suposto cometimento de crime, para que responda a um 
processo em curso ou para execução de uma pena privativa 
de liberdade. 
 
O acordo de 2010 ainda não está em vigor, vez que os países signatários 
ainda não incorporaram a medida em seus ordenamentos jurídicos internos. O 
Brasil, por meio do Decreto legislativo nº 138 de 09 de agosto de 2018, deu passo 
importante neste caminho, mas ainda falta o decreto presidencial de 
promulgação do acordo, e a incorporação por, pelos menos, quatro países, 
conforme previsto no artigo 22 do acordo.44 
Outro acordo do MERCOSUL pendente de incorporação é o 
MERCOSUL/CMC/DEC.Nº16/06, que cria o Sistema de Intercâmbio de 
Informações de Segurança do MERCOSUL (SISME) para permitir mais 
segurança na troca de informações entre as instituições policiais. Também 
permite o ingresso de forças policiais no território de outro país vizinho em casos 
de perseguição iniciada no Estado de origem, conforme artigo 12 do anexo: 
Os funcionários das Forças de Segurança e/ou Policiais das 
Partes que, em seu próprio território, persigam uma ou mais 
pessoas que, para iludir a ação da autoridade, transpassarem o 
limite fronteiriço, poderão entrar no território da outra Parte 
somente para informar e solicitar à autoridade policial mais 
próxima, ou a quem exerça tal função, o auxílio imediato no 
 
44A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 84, incisos VII e VIII, prevê que compete ao 
poder Executivo, mediante Presidência da República, “manter relações com Estados 
estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos”, bem como “celebrar tratados, 
convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional”. Assim, via de 
regra, para que os tratados, convenções ou atos internacionais tenham vigência, capacidade de 
produzir efeitos no território nacional, mister se faz que o Presidente, após celebrá-los, faça o 
devido encaminhamento ao Congresso Nacional que deverá aprovar ou não decreto legislativo. 
Somente a partir daí, da expedição e publicação do decreto legislativo a cargo do Congresso 
Nacional e promulgação via decreto do Presidente da República é que a norma ganha 
capacidade de produção jurídica de efeitos no território nacional. 
 
103 
 
caso. Com relação ao ocorrido, imediatamente cada Parte 
deverá redigir uma ata e informar o fato às suas autoridades 
judiciais competentes, de acordo com sua legislação interna. 
(MERCOSUL, 2016). 
 
A questão foi recordada em artigo redigido em 2016 (BORDIGNON, 2016. 
p. 81): 
O texto, na dinâmica de uma perseguição policial iniciada no 
país de origem da equipe policial, permite o ingresso armado dos 
policiais no país subsequente, vez que perseguições policiais 
ocorrem naturalmente na modalidade armada, para solicitar 
imediato auxílio no sucesso da detenção do foragido, lavrando-
se ata do fato ocorrido, por cada Parte e encaminhamentos 
decorrentes. Foi o que aconteceu em 01/04/2016 durante 
perseguição policial iniciada em Foz do Iguaçu, no Brasil, contra 
um homem que fugia para o Paraguai através da Ponte 
Internacional da Amizade em uma camionete roubada há pouco 
em território brasileiro. O fugitivo foi detido em território 
paraguaio, em Cidade de Leste, mediante atuação final da 
Polícia Nacional daquele país. (ABC Color, 2016). 
Neste caso, o entrosamento decorrente das reuniões mensais 
do Comando Tripartite permitiu desfecho rápido e harmonioso 
do acontecimento, com a prisão do criminoso, mediante atuação 
integrada entre as polícias do Brasil e Paraguai. 
Em outro caso, ocorrido fora do âmbito do ComandoTripartite, o 
desfecho foi a prisão dos policiais que atuavam na perseguição 
a criminosos na região da fronteira Brasil – Paraguai, entre os 
municípios de Ponta Porã (Mato Grosso do Sul) e Pedro Juan 
Caballero, no dia 15 de março de 2016, como foi o fato noticiado 
pelo “Correio do Estado”(2016). Na ocasião, policiais militares 
brasileiros foram detidos por policiais paraguaios ao 
ingressarem armados naquele país. 
 
Vencer esses obstáculos burocráticos é a maior fronteira imaterial a ser 
superada pelas forças policiais que atuam nas regiões de limites entre os países 
da região trinacional e, no geral, de todos os países membros e associados ao 
MERCOSUL e confirma ser a atuação interdisciplinar um agir que merece 
enfrentamento e coragem por parte dos gestores estratégicos e políticos que 
atuam nas capitais dos Estados Nacionais, normalmente distantes dessas áreas, 
como a Tríplice Fronteira. 
Garantir a segurança e o controle das fronteiras geográficas entre os 
países vizinhos é superar os limites e as fronteiras imateriais que separam os 
centros geográficos de poder, as capitais das cidades de fronteira. 
As muralhas da burocracia nacional representam a mais difícil barreira do 
Brasil, que é Brasília com o restante do país. Os exemplos relacionados 
104 
 
assinalam essas dificuldades que impedem maior rendimento, utilidade e 
oportunidade nas cooperações policiais em regiões de fronteira. 
Conforme destacado por CARNEIRO (2016, p.242) na União Europeia há 
diversos acordos entre países membros autorizando que policiais de um 
determinado país adentrem em outro a fim de perseguir e prender fugitivos. Por 
exemplo, “ as polícias de Bélgica e Alemanha possuem competência estendida 
ao território do Estado vizinho em caso de perseguição policial a criminosos” 
(ibidem, p. 242) 
No próximo capítulo será possível verificar como as cooperações policiais 
locais podem agilizar a troca de informações e superar barreiras burocráticas 
que inviabilizam a troca de informações e de atuações nas regiões de encontro 
entre países. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
105 
 
3 ESTUDO DE CASO – CRIMES TRANSNACIONAIS NA 
EMPRESA PROSEGUR EM CIUDAD DEL ESTE (22/04/2017) 
 
Este capítulo tem como objetivo confirmar a importância da atuação 
interdisciplinar entre as forças de segurança pública nas áreas de fronteira, tanto 
no aspecto interno quanto no âmbito internacional, numa perspectiva local, 
principal foco de pesquisa da dissertação. 
O estudo demonstrará que o entrosamento prévio entre as forças de 
segurança internas (Brasil) e o Comando Tripartite (Argentina, Brasil e Paraguai) 
foi essencial para o excelente resultado alcançado no episódio. 
Busca-se, a partir do estudo de caso relativo aos crimes cometido na 
empresa PROSEGUR, em Ciudad del Este, no dia 24 de abril de 2017. 
Demonstrar e responder à questão de estudo (YIN, 2015, p.31): como a 
interação entre as polícias na região de Foz do Iguaçu (aspecto nacional) e o 
Comando Tripartite (aspecto internacional) foi fundamental para os resultados 
obtidos a partir da investigação dos delitos na empresa PROSEGUR em Ciudad 
del Este? 
Como proposição de estudo, entendido na atenção para algo que deve 
ser examinado no escopo da pesquisa (YIN, 2015, p.32), tem-se que: a) O CT 
foi fundamental, pois permitiu previamente ao evento estudado, a criação de 
redes horizontais de comunicação e cooperação que foram decisivas no pronto 
acionamento e comunicação às autoridades de Segurança Pública do Brasil, em 
Foz do Iguaçu, imediatamente à ocorrência dos fatos na cidade Paraguaia de 
Ciudad Del Este, no início da madrugada de 24 de abril de 2017 (segunda-feira), 
por parte das autoridades da Polícia Nacional daquele país; 
b) O CT foi fundamental, pois com a comunicação ágil, permitiu-se que as 
forças de segurança do Brasil montassem uma estrutura de segurança para 
permitir o avistamento e oposição à parte da organização criminosa que, 
sabidamente, fugiu para Brasil e foi confrontada, primeiramente, no município de 
Itaipulândia, às margens do lago de Itaipu, por volta das 12 horas do dia 24 de 
abril de 2017. 
Como proposição o caso destaca-se: c)A interação, mesmo que informal, 
entre as forças de segurança pública da região de Foz do Iguaçu, como PF, PRF, 
PM, PC e Guarda Municipal, foi decisiva para que a informação sobre o primeiro 
106 
 
confronto e o rumo dos criminosos fosse comunicado de forma ágil via aplicativos 
de mensagens por smartphones (whatsapp) às autoridades de segurança, o que 
permitiu que novo confronto ocorresse com êxito na região do município de São 
Miguel do Iguaçu/PR, o que resultou na prisão, apreensão de armas de fogo e 
morte de criminosos a partir de intenso confronto entre as forças de segurança 
e delinquentes. 
Tal esforço integrado, denominação, aliás, que batizou a operação 
policial, resultou também na prisão de envolvidos inclusive na cidade de 
Cascavel/PR na noite do dia 24/04/2017 e na recuperação de parte significativa 
de armas e valores subtraídos na madrugada do seguinte, 25/04/2017. 
A proposição 4 desenvolvida neste estudo de caso demonstrará que o CT 
foi essencial para permitir auxílio direito às autoridades da Polícia Nacional do 
Paraguai na perícia realizada pela Polícia Federal do Brasil na residência em 
Ciudad del Este que foi utilizada pelos criminosos para o planejamento 
meticuloso do crime. Aqui, importante destacar a fronteira como transbordante e 
não como limite estanque à plena e ágil cooperação policial local que é 
fundamental para superação da criminalidade transnacional organizada. 
A riqueza de circunstâncias que envolveram e envolvem o “caso 
PROSEGUR”, certamente, motivarão outros estudos de aspectos relevantes. 
Nesta pesquisa, os aspectos de cooperação policial local, tanto no âmbito 
nacional como internacional são fundamentais. 
A circunstância define e delimita a unidade do caso (YIN, p. 35) proposto 
para estudo, sem esgotar todas as perspectivas em que pode ser estudado, 
como, por exemplo, as coletas de vestígios de DNA e a relevância probatória 
para as ações penais em ambos os países, a questão da extraterritorialidade da 
lei penal e outras nuances relevantes do caso concreto. 
O principal aspecto teórico do estudo de caso (YIN, p. 40) será a 
demonstração, já desenvolvida teoricamente nos capítulos anteriores, de que a 
interação entre forças de segurança diversas, no âmbito nacional quanto 
internacional, nas localidades de fronteira foi fundamental para fazer frente aos 
desafios dos crimes transnacionais. 
Essas polícias, vistas como disciplinas, precisam de estímulos à 
multidisciplinaridade (coordenação) e interdisciplinaridade (convergência), 
107 
 
constantes e regulares para atuação de forma integrada. O CT foi essencial para 
geração da sinergia prévia necessária no deslinde do caso investigado. 
Será demonstrado que a integração deve ser estimulada localmente pelas 
lideranças e Chefias, principalmente, a partir de encontros regulares, passando 
pelo estabelecimento de parcerias operacionais e de troca de informações 
(multidisciplinaridade e interdisciplinaridade). 
No aspecto macro, globalizado é mister dar pujança e remover obstáculos 
jurídicos à plena e desburocratizada integração policial local em regiões de 
fronteira, para permitir e estimular auxílios diretos entre as polícias em regiões 
de fronteira, como há anos o CT realiza na Tríplice Fronteira 
As evidências para o estudo de caso proposto foram colhidas na ação 
penal nº 5004772-19.2017.4.04.7002, em trâmite junto à 4ª Vara Federal da 
Subseção de Foz do Iguaçu/PR, cujo acesso foi deferido mediante pedido 
apresentado pelo pesquisador, sob supervisão do orientador e com o 
compromisso de não revelar nomes e dados de investigados. 
Utilizou-se transversalmente a observação participante, pois o autor da 
pesquisa participou, desde o início, dadinâmica deste caso, como Chefe da 
Delegacia da Polícia Federal em Foz do Iguaçu e Coordenador Brasileiro do 
Comando Tripartite e, à época dos fatos, mestrando já dedicado ao objeto de 
estudo, qual seja, a cooperação policial local. 
Os dados foram coletados pelo acesso deferido nos seguintes processos 
judiciais que tramitavam na 4ª Vara Federal de Foz do Iguaçu de acordo com a 
tabela 5: 
 
Tabela 5. Inquéritos policiais decorrentes dos crimes do assalto a 
PROSEGUR 
Tipo 
procedimento 
Numeração Polícia 
Federal 
Numeração Justiça Federal 
Ação Penal 
 
5004772-19.2017.4.04.7002 
Inquérito Policial 0237/2017 5003300-80.2017.4.04.7002 
Inquérito Policial 0243/2017 5003375-22.2017.4.04.7002 
108 
 
Inquérito Policial 0240/2017 5003333-70.2017.4.04.7002 
Inquérito Policial 0239/2017 5003331-03.2017.4.04.7002 
Inquérito Policial 0241/2017 5003330-18.2017.4.04.7002 
Inquérito Policial 0277/2017 5003327-63.2017.4.04.7002 
Inquérito Policial 0235/2017 5003298-13.2017.4.04.7002 
Fonte. Processos judiciais em trâmite na 4ª Vara Federal de Foz do Iguaçu - 2018 
 
Processos judiciais decorrentes dos acima serviram igualmente para a 
pesquisa. Como se vê da denúncia nos autos da ação penal, a acusação teve 
como base os trabalhos policiais reunidos nos sete inquéritos policiais 
destacados, instaurados para apurar os crimes cometidos. 
 
3.1 CRIMES TRANSNACIONAIS 
 
Com base o conceito de crime e de território, o crime transnacional é 
aquele no qual alguma de suas fases de execução toca ou tem outro país como 
destino. 
O decreto nº 5.015, de 12 de março de 2004, que promulgou a Convenção 
das Nações Unidas contra o crime transnacional – Convenção de Palermo, 
estabeleceu, no artigo 3º item 2, as circunstâncias que tornam um crime 
transnacional: 
 
Para efeitos do parágrafo 1 do presente Artigo, a infração será 
de caráter transnacional se: 
 
a) For cometida em mais de um Estado; 
b) For cometida num só Estado, mas uma parte substancial da 
sua preparação, planejamento, direção e controle tenha lugar 
em outro Estado; 
c) For cometida num só Estado, mas envolva a participação de 
um grupo criminoso organizado que pratique atividades 
criminosas em mais de um Estado; ou 
d) For cometida num só Estado, mas produza efeitos 
substanciais noutro Estado. 
 
109 
 
Para a convenção de Palermo as características de transnacionalidade 
são bem abrangentes e decorrem do cometimento de um crime em mais de um 
Estado, mas também quando cometido em um país específico, com 
planejamento, preparação e controle em Estado diverso, com participação ou 
não de grupo criminoso atuante em diversas localidades ou quando cometido em 
um Estado, mas com efeitos em outros, como no exemplo de ações com armas 
nucleares. 
O Código de Processo Penal Brasileiro trata dos reflexos de competência 
para os crimes transnacionais, com resposta sobre qual o Juiz competente para 
julgar tais delitos. Adotou a teoria da ubiquidade (ou mista/eclética) conforme 
artigos 70, § 1º e 2º. A teoria afirma que a fixação do Juiz para julgar o caso será 
tanto pelo local da ação quanto o do resultado, desde que um deles aconteça no 
território nacional. 
Nestes casos, a norma determina que o julgamento se dará no local 
dentro do território nacional em que tenha ocorrido o último ato de execução ou 
então o resultado do crime iniciado no exterior. A doutrina chama tais crimes 
também como crimes à distância ou de espaço máximo. 
O caso PROSEGUR foi crime à distância, transnacional, portanto, com 
crimes conexos cometidos na fuga no território nacional, com intensa 
perseguição pelas Polícias de ambos países em cooperação policial. 
Destaque-se resumo da decisão judicial que discutiu sobre a 
competência: 
Em suma, tem-se que os fatos praticados no Brasil, enquanto 
desdobramentos do latrocínio inicialmente perpetrado no 
Paraguai, justificariam a fixação da competência na Justiça 
Federal de Foz do Iguaçu/PR, com jurisdição sobre os locais 
onde se deram os aludidos confrontos e a prática das outras 
infrações (art. 70 do CPP). Nesse sentido, aliás, destaque-se 
que, além do excipiente, outros réus na Ação Penal nº 5004772-
19.2017.4.04.7002 são acusados de crimes praticados 
integralmente em território brasileiro (roubo do veículo F250, uso 
de documento falso e sequestro ou cárcere privado), tudo na 
linha de continuidade da fuga iniciada no Paraguai[...]”. (decisão 
judicial no evento 8 dos autos de exceção de incompetência 
5007769-72.2017.4.04.7002). 
 
Diferentemente ocorre para casos de crimes praticados totalmente fora do 
território nacional, mas nos quais o agente venha posteriormente para o território 
brasileiro ou que, por alguma razão (conforme art. 7º do CP), mereça julgamento 
110 
 
no Brasil. A definição do Juiz que decidirá o caso será conforme art. 88 do CPP, 
qual seja, a Capital do Estado em que o autor tenha por último residido, ou, caso 
nunca tenha residido em território nacional, Brasília, capital da República. 
Alguns dos investigados buscaram alterar a competência para julgamento 
do caso, alegando ter sido os crimes do caso Prosegur cometidos 
completamente em território Paraguaio, tentando assim serem julgados na 
capital dos Estados em que residiam anteriormente (São Paulo, por exemplo). 
Não tiveram êxito, pois a hipótese adotada foi de crimes à distância, crimes 
transnacionais em que a dinâmica criminal envolveu Brasil e Paraguai e não 
apenas o país estrangeiro. 
 
3.2 RELATO DO CASO PROSEGUR 
 
Os crimes na empresa de valores PROSEGUR, em Ciudad del Este, 
Paraguai, começaram na madrugada do dia 24 de abril de 2017, por volta das 
0h30min da segunda-feira. 
No final de semana dos fatos era feriado no Brasil, pois sexta-feira, dia 21 
de abril comemora-se feriado de Tiradentes (dia da Inconfidência Mineira). A 
circunstância acarretou maior movimento de turistas no microcentro de Ciudad 
del Este, com maior arrecadação de dinheiro e, de depósitos na empresa de 
valores vítima dos crimes. 
O local já tinha sido alvo de criminosos anteriormente, quando 
delinquentes cavaram sem sucesso um túnel até a empresa e pretendiam furtá-
la por ocasião da final da Copa do Mundo de 201445. 
Na figura 4, assinala-se em vermelho a localização da empresa em 
Ciudad del Este e sua proximidade com a fronteira brasileira. 
 
 
45https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/07/1487036-tunel-de-350-metros-e-
descoberto-no-paraguai-pf-suspeita-de- faccao.shtml. Acesso em: 1 ago. 2018. 
111 
 
Figura 4. Localização da empresa Prosegur em Ciudad del Este. 
 
Fonte: Google. Acesso em: 15/09/2018 
 
Os primeiros relatos que chegaram via CT, presidência do Paraguai, na 
madrugada de segunda-feira, dia 24/04/2017, diziam que aproximadamente 30 
homens fortemente armados com fuzis e explosivos, veículos blindados e 
coletes balísticos, explodiram a sede da empresa em Ciudad del Este, no 
Paraguai e levaram grande quantia de dinheiro. 
Na fuga, alvejaram e causaram a morte de um agente da Polícia Nacional 
Paraguaia, crime de latrocínio, bem como roubaram e incendiaram veículos, com 
diversos disparos de armas de grosso calibre e granadas, dispensaram diversos 
“miguelitos” ou pregos soldados na forma de “x” com a finalidade de furar os 
pneus das viaturas policiais que viessem a perseguir os fugitivos. 
Com as informações transmitidas pela Polícia Nacional do Paraguai, via 
CT, e tendo em vista que a atuação dos criminosos lembrava outros crimes 
violentos cometidos no Brasil contra empresas de transportes de valores, 
estabeleceu-se, um reforço de segurança na Ponte da Amizade, mediante 
incremento dos efetivos da PF e PRF, bem como na região do Rio Paraná e Lago 
da usina de Itaipu. A figura 5 ilustra a imagem do local do crime da empresa 
Prosegur em Ciudad del Este. 
 
 
 
 
 
112 
 
Figura 5. Empresa PROSEGUR após o assaltoFonte: acervo do NUTEC/DPF/FIG/PR - 2017 
 
Na madrugada não foi identificada passagem ou qualquer fuga por esses 
locais. Apenas por volta das 12:00 horas do dia 24 de abril de 2017 é que uma 
equipe de Policiais Federais do Núcleo Especial de Polícia Marítima – 
PF/NEPOM, da Delegacia da Polícia Federal em Foz do Iguaçu, avistou e 
confrontou o primeiro grupo de criminosos no Distrito de São José do Itavó, 
município de Itaipulândia. A circunstância demonstrou que os criminosos 
utilizaram a cidade de Hernandárias, no Paraguai para fuga pelo lago da de 
Itaipu. 
A figura 6 ilustra a área de fuga dos assaltantes da empresa Prosegur nas 
margens do lago de Itaipu. 
 
 
 
 
 
 
 
113 
 
Figura 6. Locais da fuga dos assaltantes da empresa Prosegur 
 
Fonte: Google. Acesso em: 15/09/2018 
 
No início da operação, foi possível demonstrar a importância das reuniões 
anteriores do CT para o êxito inicial das comunicações, pois elas se 
estabeleceram de forma ágil e fluida. Naquele mês de abril, as reuniões do CT 
eram sediadas no Paraguai. 
Na sequência do primeiro confronto, seguiram-se novos embates, com a 
chegada de reforços da Polícia Federal e emprego de embarcações e 
helicóptero, com localização de outros grupos de criminosos que chegavam por 
barcos provenientes do Paraguai. 
O acionamento das equipes da Polícia Federal seguiu-se, via atuação 
integrada, com emprego de todas as demais forças de segurança da região 
(PRF, PM, PC e Guarda Municipal), com informações sobre o possível destino 
dos criminosos na região de São Miguel do Iguaçu, localidade onde novos 
confrontos se seguiram com a morte de três criminosos. Fundamental a atuação 
coordenada e convergente (interdisciplinar) entre as forças internas de 
segurança. 
114 
 
Durante a fuga, criminosos roubaram veículos, fizeram famílias reféns, 
usaram documentos falsos e alguns só foram capturados a cerca de 130 
quilômetros da linha de fronteira, na cidade de Cascavel/PR, com prisões em 
flagrante realizadas também em Guaíra/PR. 
Na tarde do dia 24 de abril de 2017, logo após o primeiro avistamento dos 
criminosos e com a necessidade de aprimorar a coordenação das buscas aos 
criminosos e evitar troca de tiros entre as diversas equipes policiais que atuavam 
nas margens do lago de Itaipu, BR 277 até Cascavel/PR, providenciou-se o 
acionamento de uma sala de crises. 
Na sala de reuniões da Delegacia da Polícia Federal de Foz do Iguaçu, 
foi instalada um Centro de Comando e Controle, na forma utilizada durante os 
grandes eventos de 2014 e 2016, com presença dos Comandantes, ou 
subordinados diretos com poder de decisão de todas as forças de segurança da 
região, bem como de autoridades do país vizinho, inclusive com a presença do 
então Ministro da Segurança Interna do Paraguai, Sr. Lorenzo Lezcano Sanchez 
e autoridades da Polícia Nacional do Paraguai e da Fiscalia (Ministério Público) 
daquele país, além de Policiais da Argentina, pois havia hipótese de fuga para 
aquele país. 
A coordenação pessoal entre os comandantes foi essencial para dividir, 
de forma coerente, os esforços policiais entre as cidades da região e principais 
rodovias, e surtiu efeito com diversas prisões efetuadas durante o dia e noite de 
segunda-feira, 24 de abril de 2017. 
Na prática estabeleceu-se uma atuação interdisciplinar, admitiram-se 
doutrinas e atuações policiais diversas, inclusive internacionais, agregaram-se 
disciplinas policiais de forma convergente para fazer frente ao enorme desafio 
de buscar os criminosos, equipamentos empregados (armas de fogo 
principalmente) e os produtos dos crimes perpetrados. 
Diversos processos judiciais que tramitam na Justiça Federal em Foz do 
Iguaçu, resumiram a ação da seguinte forma: 
 
A referida Ação Penal versa sobre os fatos relacionados ao 
noticiado assalto à transportadora de valores "Prosegur", 
ocorrido na madrugada do dia 24/04/2017, em Ciudad del 
Este/Paraguai, quando criminosos fortemente armados 
invadiram a sede daquela transportadora e roubaram elevada 
quantia em dinheiro (mais de US$ 11 milhões de dólares). 
115 
 
Na ação em comento, além de armas de grosso calibre (fuzis de 
longo alcance, pistolas etc.), foram utilizados explosivos para ter 
acesso ao dinheiro e barricadas com carros incendiados para 
conter a polícia. Quando da fuga do local em direção a 
Hernandarias/Paraguai, os assaltantes espalharam nas ruas 
dispositivos conhecidos como "miguelitos" - utilizados para furar 
pneus de veículos/viaturas -, incendiaram vários automóveis, 
trocaram tiros com a polícia e acabaram por ferir de morte um 
policial paraguaio. 
Ato contínuo, parte dos envolvidos no assalto se deslocou, via 
Lago de Itaipu, utilizando embarcações, até as cidades de São 
Miguel do Iguaçu/PR e Itaipulândia/PR (que margeiam o Lago 
de Itaipu). Durante as buscas realizadas na região, houve 
diversos confrontos e trocas de tiros entre policiais (Policiais 
Federais, Policiais Rodoviários Federais, Policiais Militares e 
Policiais Civis) e bandidos, tomada de cidadãos da região como 
reféns e, também, roubo de veículos. Alguns dos supostos 
envolvidos foram presos, tendo havido, ainda, a apreensão de 
diversas armas de grosso calibre, grande soma em dinheiro, 
celulares, explosivos, munições etc. 
As buscas continuaram por vários dias, tendo em vista que 
havia informações de que parte dos envolvidos, quando de suas 
fugas, havia se embrenhado em matagais e plantações 
agrícolas da região, ali permanecendo por alguns dias, 
justamente para se furtarem da ação policial. (evento nº 8 dos 
autos de exceção de incompetência nº 5007769-
72.2017.4.04.7002/PR) 
 
A articulação prévia com as autoridades Paraguaias, construída a partir 
do CT, possibilitou o compartilhamento da informação sobre a localização, por 
parte da Polícia Nacional, de uma casa em Ciudad del Este que foi utilizada pelos 
criminosos como base naquele país na noite de segunda-feira, dia 24/04/2017. 
A partir daí e via CT, houve pedido de cooperação policial no sentido que 
a Polícia Federal do Brasil periciasse, ainda na madrugada, a residência na 
procura de impressões digitais e vestígios biológicos aptos a ligar criminosos 
brasileiros, principalmente aqueles presos no Brasil. 
A figura 7 ilustra a casa em que foi utilizada pelos criminosos em Ciudad 
del Este. 
 
 
 
 
116 
 
Figura 7. Casa utilizada pelos criminosos em CDE 
 
Fonte: acervo do NUTEC/DPF/FIG/PR - 2017 
 
O exame foi fundamental para vincular de forma precisa os diversos 
presos detidos no Brasil, bem como para possibilitar, futuramente, a atribuição 
de responsabilidade para outros envolvidos. 
Os presos no Brasil, naturalmente negavam envolvimento com os fatos 
no Paraguai e alguns não portavam sequer materiais que possibilitassem a 
vinculação direta deles com os crimes naquele país, como armas, munições ou 
valores subtraídos. 
A dificuldade foi obter autorização do Ministro da Justiça do Brasil para 
que equipe de Peritos e Papiloscopistas da Polícia Federal em Foz do Iguaçu 
pudesse atravessar as fronteiras nacionais e realizar perícia na residência em 
Ciudad del Este. 
A burocrática autorização, como já destacado anteriormente, decorre das 
dificuldades erigidas no artigo 95 da lei 8.112/90 que diz que o servidor público 
federal não poderá ausentar-se do País para estudo ou missão oficial, sem 
autorização do Presidente da República, Presidente dos Órgãos do Poder 
Legislativo e Presidente do Supremo Tribunal Federal. A autorização foi 
delegada atualmente para os Ministros de Estados e cargos equivalentes, 
conforme decreto nº 1.387/1995. 
Face gravidade dos fatos, foi obtida verbalmente por contato feito pela 
Chefia da Delegacia junto à Superintendência da Polícia Federal no Paraná e 
Diretoria de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal em Brasília que, 
117 
 
por sua vez, efetuou os contatos superiores dando aval ao deslocamento da 
equipe que,durante o final da noite de segunda-feira e toda a madrugada de 
terça-feira, dia 25 de abril de 2017, efetuou exames minuciosos na residência 
empregada como base da organização criminosa, com a coleta de mais de 
200(duzentos) vestígios de DNA e impressões digitais dos autores dos crimes. 
Esse foi um terceiro momento muito relevante para a apuração integrada 
dos crimes praticados. A ação foi importante, pois: a) permitiu que equipe policial 
brasileira atuasse imediatamente às investigações e juntamente com policiais 
paraguaios para elucidação dos fatos e garantiu o princípio da oportunidade; b) 
possibilitou que, futuramente, os dados obtidos pudessem ser compartilhados 
em medida de auxílio direto ponta a ponta e; c) garantiu a vinculação completa 
dos suspeitos presos no Brasil com o local de crime com diversos “matchs” 
positivos de DNA. 
Os dados consolidados pelo Núcleo Técnico-Científico da Delegacia de 
Polícia Federal de Foz do Iguaçu (figura 8), com os exames periciais realizados 
nos vestígios abandonados no Paraguai e no Brasil, pela equipe de Peritos 
Criminais da unidade, possibilitaram estabelecer o seguinte mapa dos vestígios 
examinados, que serviram de forma substancial para fortalecer tecnicamente a 
responsabilidade dos presos na operação e a dinâmica da atuação da 
organização criminosa. 
Figura 8. Vestígios examinados pelos peritos criminais 
 
Fonte: NUTEC/DPF/FIG/PR – 2017 
118 
 
 
O exame na casa e nos demais vestígios abandonados no Paraguai e 
Brasil permitiu que sete criminosos envolvidos nas ações no Paraguai fossem 
identificados e vinculados à ação delituosa. 
Outros quatro vestígios localizados e que não tiveram os autores 
identificados, foram relacionados ao homicídio de um Agente Federal de 
Execução Penal de Catanduvas/PR no ano de 2016, roubo a banco nos Estados 
da Bahia e Piauí, além da fuga de um presídio no Estado de São Paulo. 
Sem a cooperação imediata e local, estabelecida via CT, dificilmente a 
prova pericial colhida seria viabilizada, fundamental para o esclarecimento da 
participação dos autores nos crimes apurados. 
O caso criminal é o maior da Polícia Federal que envolveu coleta de 
vestígios de DNA. Os dados oficiais obtidos junto ao NUTEC/DPF/FIG/PR 
demonstram a vultuosidade do caso. No total, em agosto de 2018, foram 457 
vestígios já coletados, com 34 perfis de DNA identificados nos vestígios. O 
número serve de estimativa para o número de autores envolvidos diretamente 
na execução dos crimes, com 109 laudos produzidos pelas unidades da Polícia 
Federal46e 33 específicos para DNA. 
Em 06 de junho de 2017, com base nas investigações realizadas pela 
Polícia Federal juntamente com dados obtidos via Comando Tripartite e demais 
polícias brasileiras, o Ministério Público Federal conseguiu denunciar 8 (oito) 
brasileiros envolvidos diretamente nos crimes cometidos a partir da empresa 
Prosegur no Paraguai por crimes como latrocínio, roubo, uso de documentos 
falsos e sequestro ou cárcere privado. 
Os relatos da denúncia destacam a atuação integrada das autoridades 
policiais brasileiras e resumem a dinâmica dos fatos: 
 
A resposta das Autoridades Policiais brasileira foi rápida, dando-
se de forma integrada e unitiva (PF, PRF, PC e PM).Em 
municípios próximos, como São Miguel do Iguaçu, Itaipulândia e 
Santa Helena, alguns dos criminosos foram sendo encontrados 
pelos policiais. Alguns deles, quando estavam próximos de 
serem abordados pelos agentes, responderam-lhes com fogo, 
efetuando disparos de arma de cano longo e dando início a 
 
46 As unidades periciais que atuam no caso são: NUTEC/DPF/FIG/PR, Instituto 
Nacional de Criminalística – INC; Unidade Técnico Científica da Delegacia da Polícia 
Federal em Guaíra – UTEC/DPF/GRA/PR e Setor Técnico Científico da 
Superintendência Regional da Polícia Federal no Paraná (SETEC/SR/PF/PR). 
119 
 
perseguições e troca de tiros digna de cenas de filme de ação. 
Tais agressões contra os policiais brasileiros ocorreram em linha 
de continuidade ao latrocínio praticado na PROSEGUR, fazendo 
parte orgânica dele, e, aliás, tais tentativas de matá-los com 
armas de cano longo, durante a fuga, reprovam ainda mais o 
crime contra o patrimônio já consumado. 
Por exemplo, em Itaipulândia, no Porto dos Rocha, por volta das 
11h30 do dia 24.04.2017, havia uma dupla de policiais 
averiguando as redondezas. Um policial avistou, soltas em um 
local, uma bolsa contendo 3 carregadores de fuzil AK-47, além 
de algumas roupas. Pouco depois, vários indivíduos, suspeitos, 
chegaram armados em veículos e perceberam a presença do 
agente, efetuando contra ele disparos de arma de fogo de cano 
longo. Houve uma breve troca de tiros. O policial – em situação 
de desnível de força – se escondeu no matagal, sendo que, na 
ocasião, ele estava distante do outro agente federal, que estava 
nas imediações do porto. No desenrolar dessas ações, no 
mesmo local, vários indivíduos foram sendo resgatados em 
veículos, como, por exemplo, uma F250. Os dois policiais 
citados já haviam, na ocasião, solicitado reforço operacional, 
que, ao chegar de barco, também foi recebido à bala por 
criminosos que estavam em uma embarcação. Ali, em 
Itaipulândia, pelo que se pôde perceber, estava havendo um 
fluxo grande de entrada dos envolvidos no latrocínio paraguaio. 
Eles foram pegos, em parte, com a “mão na massa.” Para 
auxiliar os policiais, também chegou ao local um helicóptero. 
Durante a continuação das buscas, os policiais encontram 
equipamentos balísticos, carregadores municiados, coletes, 
roupas e outros objetos. Em sequência, nas proximidades dali, 
na Fazenda YYYYYY, um dos envolvidos, XXXX, foi capturado 
pela Polícia Federal em situação comprometedora. Ele disse aos 
policiais onde estavam localizadas as armas, uma parte do 
dinheiro e outras ferramentas usadas no crime. Foram 
encontradas, com a sua ajuda, uma bolsa com vários maços de 
dinheiro e um fuzil. Depois de uma busca complementar, em 
25.04.2017, foram encontrados mais alguns maços de dinheiro 
nas adjacências. No total, a recuperação dos valores pode ser 
assim dividida: R$ 219.450,00; G$ 733.640.000; e US$ 
1.275.030,00. Em outra perseguição, no caso do 
acompanhamento de uma F250, um Corolla e uma Space Fox 
em São Miguel do Iguaçu, por volta de 13h30, do dia 24.04.2017, 
outros Policiais Federais, em legitima defesa, revidavam 
ataques de arma de fogo que sofriam dos ocupantes daqueles 
veículos, faziam manobras para não terem os pneus das viaturas 
furados, e, após os suspeitos desembarcarem dos veículos, 
conseguiram atingir três deles, que morreram no local: WWWW, 
ZZZZZZ e MMMM. Outros dois, porém, foram feridos, presos e 
estão sendo denunciados: DDDD e LLLLL. 
No curso das buscas, em situações comprometedoras, de 
elevada suspeita, outros indivíduos foram sendo encontrados 
andando sozinhos a esmo ou como passageiros de ônibus de 
linha, em todo caso, não dizendo, com sinceridade, de onde 
vieram, o que faziam, para onde iam, além de estarem com 
aparência suja e pequenas escoriações recentes, indicando que 
estavam vindo de um contexto de fuga após participação no 
120 
 
assalto à PROSEGUR. Passemos a uma breve síntese de tais 
abordagens. Em Cascavel/PR, por volta das 9h30, em 
24.04.2017, em frente ao posto da PRF em Cascavel/PR, 
AAAAA foi abordado na condição de passageiro de um ônibus 
de linha, e, com base no depoimento de vítimas deum sequestro 
– ocorrido horas antes –, ele foi apontado como um dos 
participantes dele; crime esse, de sequestro, que teria ocorrido 
na madrugada do mesmo dia, em Santa Helena, no calor da fuga 
em linha de continuidade ao assalto (por volta das 4h). Cabe 
destacar que ele estava com documento falso e, por causa da 
sua aparência física, da justificativa inverossímil apresentada e 
do reconhecimento pelas vítimas do sequestro, não houve 
dúvidas de que ele tinha estado entre os criminosos. Segundoconsta, em rota de fuga, os criminosos sequestraram os 
trabalhadores de um alojamento em Santa Helena, colocando-
os em um veículo da empresa e fazendo um percurso aleatório, 
aparentemente desconexo, com o fim de despistar qualquer 
eventual perseguição policial. Pouco a pouco, no curso desse 
sequestro dos trabalhadores, eles, pequeno grupo de 
assaltantes da PROSEGUR, foram se pulverizando, libertando 
os reféns sequestrados; mas, pouco depois, AAAAA não teve 
sorte, sendo pego no referido ônibus de linha enquanto rumava 
para Curitiba. Além desse sequestro, houve um outro que é 
desconexo dele, mas que também foi praticado por um dos 
autores do latrocínio do Paraguai em rota de fuga. O caso foi em 
Itaipulândia. Uma família foi sequestrada.(evento 1 da ação 
penal 5004772-19.2017.4.04.7002). 
 
A denúncia foi recebida mediante decisão judicial de 17 de julho de 2017. 
A sentença prolatada em 10 de outubro de 2018. Ou seja, menos de dois anos 
após o crime a primeira sentença foi proferida, com a condenação de todos os 
8(oito) presos e penas fixadas entre 34(trinta e quatro) e 24(vinte e quatro) anos 
de reclusão. 
Segue trecho da relevante decisão judicial que, aliás, não foi atacada 
durante a ação criminal e autorizou compartilhar diretamente os dados da 
investigação brasileira com o Paraguai, via CT: 
 
Contudo, dada a peculiaridade dos fatos criminosos em questão, 
conforme narrou a Autoridade Policial no evento 19, as 
autoridades paraguaias têm colaborado intensamente com as 
investigações, "repassando informações e solicitando apoio 
técnico (como a coleta de material genético, elaboração de 
laudos periciais, etc.). Esta integração tem apresentado ótimos 
resultados para a investigação". Da mesma forma, obviamente, 
há interesse do país vizinho nas informações colhidas pela 
Polícia brasileira, a fim de que as autoridades paraguaias 
possam dar andamento às respectivas investigações internas. 
Por esses motivos, solicitou-se autorização para 
compartilhamento de dados e informações com o Paraguai, 
121 
 
por meio do Comando Tripartite, colegiado formado por 
autoridades dos países da tríplice fronteira, tendo a Polícia 
Federal (Brasil) e a Polícia Nacional (Paraguai) como 
integrantes. Trata-se, pois, de importante iniciativa de 
colaboração e cooperação entre os países vizinhos, ambos 
interessados no avanço das investigações e no deslinde de 
todas as graves ocorrências que advieram do assalto 
praticado em território paraguaio por indivíduos de 
nacionalidade brasileira. Diante dessas considerações, 
autorizo o compartilhamento de informações e elementos 
probatórios colhidos pelas autoridades brasileiras, no 
âmbito das investigações relacionadas ao assalto à 
transportadora de valores PROSEGUR (no Paraguai), com 
as autoridades do Paraguai, por intermédio do Comando 
Tripartite da Tríplice Fronteira.[...]” (Evento 29, de 24/05/2017: 
Processo 5003602-12.2017.4.04.7002). 
 
Confirmada a relevância do CT no compartilhamento das provas para as 
complexas apurações criminais realizadas localmente entre Brasil e Paraguai, a 
decisão judicial reconheceu, no caso empírico, a possibilidade de cooperações 
diretas entre as autoridades policiais dos países envolvidos diretamente na 
apuração. Autorizou que as provas fossem compartilhadas via Comando 
Tripartite, sem maiores burocracias ou obstáculos representados pelas trocas 
diplomáticas ou via órgãos centrais. 
Não fosse a integração, via prática interdisciplinar, de convergência de 
ações gestionadas e aperfeiçoadas mediante encontros regulares do CT, o 
resultado positivo obtido dificilmente seria alcançado. 
A prática de convergências, com o exemplo da ágil articulação desde os 
primeiros momentos da série de crimes realizados e que culminou no exame 
pericial por policiais brasileiros, em território paraguaio, reflete a confirmação de 
uma das teses apresentadas na pesquisa: para combater os crimes 
transnacionais as polícias devem ultrapassar fronteiras e agir cooperativamente. 
 
 
 
 
 
 
 
122 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
A pesquisa respondeu que a interdisciplinaridade fornece pressupostos 
passíveis de estabelecer princípios para o trabalho integrado nas regiões de 
fronteira. Apresentou um viés interdisciplinar, buscou integrar conceitos da 
geografia, como território, territorialidades e fronteiras, com aspectos jurídicos 
relativos às cooperações policiais internacionais, sempre numa perspectiva de 
liberdade e de superação de barreiras e limites. 
Para além da visão de fronteiras como simples encerramentos territoriais, 
percebeu-as como porosas e lugares de contato, encontro e convergências, 
onde comunidades nacionais diversas realizam trocas culturais e comerciais 
com vistas ao desenvolvimento. 
Percebeu-se a necessidade de articulações locais e centralizadas para 
vencer o desafio da criminalidade transnacional que opera e se protege a partir 
das bordas desarticuladas dos Estados Nacionais, cujas legislações dificultam 
as colaborações ágeis entre autoridades nas fronteiras. 
Como todos os encontros, o resultado pode ser benéfico para as partes 
que estabelecem contato ou contrário, a depender do nível de envolvimento e os 
propósitos estabelecidos sinceramente de forma cooperada. Colaborações 
policiais devem ser estabelecidas a partir de olhares constantes e 
compartilhamento de meios, através de uma perspectiva interdisciplinar de 
convergência e de coordenação de ações (multidisciplinaridade), com respeito 
às diferenças de atuação e doutrinas existentes entre as forças de segurança e 
fazer com que tais diferenças, enfeixadas através da interdisciplinaridade e do 
diálogo, possibilitem redes com tramas diversas, capazes de atuar e deter uma 
criminalidade cada vez mais ousada e sem fronteiras. 
Deu-se um tratamento empírico ao estudo, mediante a história e modelo 
de atuação de um exemplo prático de cooperação policial local, de fronteira, 
denominado Comando Tripartite. 
O CT representa este encontro palpável e perceptível da teoria com a 
prática, de articulação real em prol da segurança da região da Tríplice Fronteira, 
síntese das antigas três fronteiras de Argentina, Brasil e Paraguai, hoje 
denominadas no singular como a Tríplice Fronteira, região única cuja intensa 
atividade de convergência é passível de criar fusões como representam a 
123 
 
exploração compartilhada da usina hidrelétrica de Itaipu (dividida entre Brasil e 
Paraguai), bem como as belezas naturais das Cataratas do Rio Iguaçu, 
partilhadas entre Brasil e Argentina. 
A segurança pública da Tríplice Fronteira necessita de convergência e 
coordenação a partir de um viés interdisciplinar que considera cada polícia, 
nacional ou internacional, como uma disciplina, com necessária união de 
esforços a fim de conciliar os saberes, compartilhar informações e realizar uma 
vetorização favorável à melhora dos níveis de segurança local, de modo a 
favorecer o desenvolvimento geral. 
O exemplo local pode e deve ecoar para além das fronteiras regionais e 
servir de inspiração para encontros maiores, das diversas instituições que 
integram o precoce sistema, que se pretende único de segurança pública 
nacional, e, para além da Tríplice Fronteira, irradiar seu modelo a outros 
encontros transfronteiriços. 
Comprovou-se que ultrapassar a disciplinarização do conhecimento e da 
atuação policial – principalmente em regiões de fronteira – é fundamental para 
fazer frente a uma criminalidade transnacional que não reconhece, tampouco 
respeita, as fronteiras dos Estados Nacionais. 
Para vencer a criminalidade transnacional, é de todo mister que as 
polícias sejam cada vez mais internacionais e as fronteiras representem espaços 
de encontro e não barreiras ao agir integrado policial. 
É necessária a articulação de políticas e estratégias centrais que facilitem 
o trabalho local em fronteiras, ultrapassando-se fronteiras imateriais, legislações 
e acordosinternacionais virtuais, notadamente no MERCOSUL, que não 
avançam para a efetividade e eficácia. 
O estudo de caso evidenciou e corroborou a necessidade de ampla 
articulação e integração entre as forças policiais nas regiões limítrofes e que tal 
integração é gradativa, paulatina e inicia-se a partir de encontros regulares, 
compartilhamento de dados, atitudes e meios que, gradualmente, favoreceram 
o estabelecimento de redes horizontais, com malhas precisas e fortes para deter 
a criminalidade. 
A pesquisa demonstrou, embasada em uma decisão judicial proferida no 
caso concreto, que as cooperações diretas entre polícias devem ser favorecidas 
e escolhidas em detrimento das antigas cooperações pelas vias diplomáticas e 
124 
 
através de órgãos centrais nas capitais e deixar os órgãos centrais apenas 
cientes das estatísticas e daquilo que previamente já foi difundido. 
Faz necessário incentivar a formação compartilhada dos saberes e 
doutrinas policiais, com um currículo básico comum que estimule diálogos 
interdisciplinares e saberes partilhados, com investimento em cursos e 
academias interdisciplinares, locais onde profissionais das diversas forças de 
segurança possam ser formados e aperfeiçoados conjuntamente. 
A cultura interdisciplinar, iniciada a partir do protagonismo das ciências e 
das Universidades, surge como premissa que pode ser adotada como início de 
uma teoria geral do trabalho policial integrado, como norte para melhor integrar 
as Polícias na busca de um efetivo agir compartilhado, tanto internamente, no 
Brasil, como internacionalmente, a partir do estabelecimento de ágeis redes de 
cooperação policial internacional nas fronteiras, como é o caso de sucesso do 
CT, num movimento que vai das bordas territoriais para os centros políticos-
administrativos. 
É necessário desenvolver, desde a formação profissional do operador e 
gestor de segurança pública no Brasil e nos demais países, habilidades 
interdisciplinares com aperfeiçoamento das capacidades de trabalho em 
conjunto com organizações diversas, investindo-se na capacitação continuada, 
no compartilhamento de meios e da união em ações de segurança. 
A interdisciplinaridade, entretanto, não pode ser confundida com a opção 
generalista de todos, fazendo tudo, e sim de aglutinar os especialistas em áreas 
diversas, como policiamento de segurança (preventivo) e policiamento de 
investigação (repressivo) para, a partir do diálogo, estabelecimento de 
protocolos e compartilhamento de informações, criar condições propícias ao 
enfrentamento de uma criminalidade transnacional. 
Demonstrou-se que a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa 
Social (PNSPDS) e o Sistema Único de Segurança Pública no Brasil(SUSP)são 
ainda um esboço recente, consubstanciado a partir da lei 13.675/2018, mas com 
fundamento na Constituição Federal de 1988, que tem como norte um grande 
desafio interdisciplinar da convergência e coordenação não só do trabalho 
policial, mas, antes disso, dos sistemas de educação e trabalho e da articulação 
do sistema de justiça e execução penal. 
125 
 
Agir para além dos “quadrados” disciplinares estipulados pela repartição 
de competências e atribuições deve ser o primeiro desafio a ser enfrentado, com 
coragem, ânimo e resiliência, por aqueles dispostos a um olhar para além do 
monóculo da formatação disciplinar. 
Para realizar o salto, é necessário dar as mãos e andar de forma 
convergente, admitindo-se as diferentes funções e atribuições não como 
características que separam, mas, sim, como faces que se complementam. 
A metodologia de Comando e Controle proposta pela Secretaria Nacional 
de Segurança Pública (SENASP), baseada no modelo gestionado a partir dos 
Grandes Eventos sediados no Brasil nos anos de 2014 e 2016, atualmente 
denominada de Sistema Integrado de Coordenação, Comunicação, Comando e 
Controle de Segurança Pública e Defesa Social (SIC4) é modelo para a 
materialização de uma Política de Segurança Pública no Brasil, com realização 
do ideal de integração proposto no recente Sistema Único de Segurança Pública 
(SUSP). 
A estrutura dos Centros Integrados, com reuniões regulares e atuações 
conjuntas, tanto no aspecto interno como internacional (com ênfase nas 
fronteiras) é modelo ideal para o enfrentamento da criminalidade organizada 
transnacional, de forma a romper barreiras e isolacionismos e favorecer o 
entendimento e sinergia em prol do aprimoramento da segurança. 
A pesquisa não se esgota; o prosseguimento dos estudos sobre as 
cooperações policiais nas regiões de fronteira pode avançar, no âmbito do CT, 
com a análise quantitativa e qualitativa das mais de duzentas e setenta atas das 
reuniões mensais realizadas desde 1996, análise dos discursos e mensuração 
dos principais temas tratados durante os anos de atuação. 
Quanto às cooperações policiais internas, o desafio de construir um 
efetivo Sistema Único de Segurança Pública para o Brasil, recém estabelecido, 
a partir de uma jovem Política Nacional de Segurança certamente renderá muitas 
possibilidades de pesquisa. 
A aplicação da interdisciplinaridade para o trabalho policial certamente 
permitirá grandes evoluções nos estudos da Segurança Pública, pois assim 
como nas Universidades a ciência necessita da convergência de profissionais 
diversos para fazer frente a perguntas e objetos de pesquisa complexos, na área 
da segurança e do sistema de Justiça Criminal. 
126 
 
A união de conhecimentos e expertises, na forma da interdisciplinaridade, 
permitirá o êxito de investigações em face da criminalidade organizada nacional 
e transnacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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136 
 
ANEXO I 
 
 
 
137 
 
 
 
 
 
 
138 
 
 
 
 
 
 
139 
 
 
 
 
 
 
140 
 
 
 
 
 
 
141 
 
 
 
 
 
 
142 
 
ANEXO II 
 
 
 
 
143 
 
ANEXO III 
 
 
 
 
144 
 
ANEXO IV 
 
 
 
145 
 
 
 
 
 
 
146 
 
 
 
 
 
 
147 
 
 
 
 
 
 
148

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