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[Capítulo de Livro] A isenção de custas processuais concedida pelo art. 90, §3º, do Código de Processo Civil de 2015: análise de constitucionalidade (Charles da Costa Bruxel)

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Denise Lucena Cavalcante 
Coordenadora
Ia Edição
MUCURIPE 
t \ \l
DIREITO 
TRIBUTÁRIO 
CONTEMPORÂNEO
Estudos em memória do 
Prof. Francisco de. Araújo 
Macedo Filho
Copyright © vários autores
Direito Tributário Contemporâneo: estudos em memória do Prof.
Francisco de Araújo Macêdo
Ia edição
Denise Lucena Cavalcante (coord.)
Alaíde Linhares Carlos
André Viana Garrido
Isaac Rodrigues Cunha
Paloma Costa Andrade
Sabrina Souza Menezes (org.)
Foto da capa: Ana Carolina Lessa Dantas
Editora Mucuripe
Conselho
André Parmo Folloni 
Arno Dal Ri Junior 
Daniela M. Leutchuk de Cademartori
Danielle Annoni
Denise Lucena Cavalcante 
Germana de Oliveira Moraes 
Gisele Cittadino
Hugo de Brito Machado Segundo 
João Luís Nogueira Matias
Editorial
João Ricardo Catarino 
Juarez Freitas
Marcelo Cattoni 
Marciano Seabra de Godoi
Marcos Wachowicz
Maria Vital da Rocha 
Martonio MonfAlverne Barreto Lima 
Paulo Caliendo
Roberto Alfonso Viciano Pastor
Capa, Editoração e Revisão
Álisson José Maia Melo
_______ Dados internacionais de Catalogação na Publicação
D597 Direito tributário contemporâneo : estudos em memória do
Prof. Francisco de Araújo Macedo Filho / Coordenadora: Denise
Lucena Cavalcante — 1. ed. — Fortaleza : Mucuripe, 2018.
Vários autores.
389 p. : 21 cm.
ISBN-13: 978-85-549-2600-7
1. Direito tributário - Brasil. 2. Tributos - Brasil. 3. Adminis­
tração tributária - Brasil. I. Cavalcante, Denise Lucena.
CDD
341.39
SUMARIO
PREFÁCIO............................................................................................................. 11
Denise Lucena Cavalcante
APRESENTAÇÃO................................................................................................13
Schubert de Farias Machado
NOTA DE HOMENAGEM AO PROFESSOR MACEDO..............................17
Sabrina Souza Menezes
Parte I
Teoria Geral do Direito Tributário Contemporâneo
CAPÍTULO 1
A TRIBUTAÇÃO ESTRATÉGICA. INTRODUÇÃO À TEORIA DOS JOGOS
NO DIREITO TRIBUTÁRIO............................................................................... 21
Cristiano Carvalho
CAPÍTULO 2
RELAÇÃO JURÍDICO-TRIBUTÁRIA E A CAPACIDADE CONTRIBUTIVA 
COMO LIMITE DE CONFORMAÇÃO LEGISLATIVA NA DEFINIÇÃO DO
ELEMENTO PESSOAL DO CONSEQUENTE DA NORMA TRIBUTÁRIA..... 39
Álisson José Maia Melo
CAPÍTULO 3
RETROATIVIDADE BENIGNA DA LEI TRIBUTÁRIA: SENTIDO E
ALCANCE DA EXPRESSÃO “ATO NÃO DEFINITIVAMENTE JULGADO” 
- ART. 106, INCISO II, DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL..............55
Carlos César Sousa Cintra
José Eduardo Barroso Colácio
Thiago Pierre Linhares Mattos
CAPÍTULO 4
O CONCEITO DE DÚVIDA NA APLICAÇÃO DAS PENALIDADES 
TRIBUTÁRIAS.......................................................................................................69
Renan Cavalcante Araújo
CAPÍTULO 5
O DUPLO GRAU DE FUNDAMENTALIDADE (FORMAL E MATERIALS 
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DO CONTRIBUINTE: BREVES
NOTAS....................................................................................................................79
Paloma Costa Andrade
CAPÍTULO 6
UMA ESPÉCIE DE BILL OF R/GP/TS TRIBUTÁRIA BRASILEIRA? AINDA
A NECESSIDADE DE UM CÓDIGO DE DEFESA DO CONTRIBUINTE DE
ÂMBITO FEDERAL.............................................................................................. 91
Isaac Rodrigues Cunha
8 Denise Lucena Cavalcante (coord.)
CAPÍTULO 7
O DEVIDO PROCESSO LEGAL TRIBUTÁRIO NA JURISPRUDÊNCIA DO <
TRIBUNAL DE JUSTIÇA EUROPEU. ANÁLISE COMPARADA COM O < 
ENFRENTAMENTO DE QUESTÕES ANÁLOGAS PELOS TRIBUNAIS 
BRASILEIROS.................................................................................................115
Hugo de Brito Machado Segundo
Raquel Cavalcanti Ramos Machado (
CAPÍTULO 8 i
CONCEITO CONSTITUCIONAL DE RECEITA........................................... 131]
Schubert de Farias Machado
CAPÍTULO 9
OS 50 ANOS DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL E AS INOVAÇOES t 
FISCAIS EM ÉPOCAS DE CRISE: APONTAMENTOS SOBRE A LEI DE I 
REPATRIAÇÃO............................................................................................... 139
Sabrina Souza Menezes ;
CAPÍTULO 10
INCENTIVO FISCAL: A INTERVENÇÃO ESTATAL VIA FOMENTO EM 
MATÉRIA TRIBUTÁRIA E O REEQUILÍBRIO ECONÕMICO-SOCIAL DO
ORÇAMENTO PÚBLICO................................................................................ 151
Betina Treiger Grupenmacher 
Matheus Schwertner Ziccarelli Rodrigues ]
Parte II
Normas gerais de Direito Tributário
CAPÍTULO 11
ENSAIO SOBRE A OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA...........................................177
Andre Viana Garrido
CAPÍTULO 12 1
A RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA DO CÔNJUGE NO DIREITO F 
BRASILEIRO: UMA APLICAÇÃO DA TEORIA DO DIÁLOGO DAS 
FONTES.............................................................................................................187
Bruno de Sousa Saraiva C
CAPÍTULO 13
TRANSAÇÃO TRIBUTÁRIA NO DIREITO TRIBUTÁRIO BRASILEIRO: 
UMA ANÁLISE TEÓRICA DESSE INSTITUTO...........................................201
José Ivan Ayres Viana Filho
CAPÍTULO 14
OS EFEITOS DO PARCELAMENTO PARA A ARRECADAÇÃO
ESTATAL............................................................................................................215
Victor Rocha da Costa
Direito Tributário Contemporâneo 9
CAPÍTULO 15
CONTROLE POLÍTICO DOS CRIMES FISCAIS........................................ 227
Lino Edmar de Menezes
Parte III
Perspectiva atual das espécies tributárias
CAPÍTULO 16
A RAZÃO DO DESINTERESSE PELA COBRANÇA DA CONTRIBUIÇÃO
DE MELHORIA................................................................................................ 239
Hugo de Brito Machado
CAPÍTULO 17
CPMF NO BRASIL: UMA SAÍDA PARA MELHORIA DAS RECEITAS
PÚBLICAS OU ONERAÇÃO FISCAL?......................................................... 251
Fernanda Cláudia Araújo da Silva
CAPÍTULO 18
A ATUAÇÃO DE MÚSICOS ESTRANGEIROS NO BRASIL: ANÁLISE DA 
NATUREZA JURÍDICA DO TRIBUTO INSTITUÍDO PELA LEI N° 3.857/ 
60....................................................................................................................... 267
Breno Silveira Moura Alfeu
CAPÍTULO 19
TRIBUTAÇÃO CAUSA MORTIS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA DOS
MODELOS ADOTADOS EM ALGUNS ESTADOS DA OCDE E NO
BRASIL...............................................................................................................285
João Ricardo Catarino
Denise Lucena Cavalcante
Sara Filipa Diogo
CAPÍTULO 20
TAXAS COBRADAS PELO ESTADO DO CEARÁ NO ÂMBITO DO 
PROCESSO ADMINISTRATIVO E SUAS INCOMPATIBILIDADES COM A 
CONSTITUIÇÃO E COM O SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL..........311
Victor Valença Maia
CAPÍTULO 21
A ISENÇÃO DE CUSTAS PROCESSUAIS CONCEDIDA PELO ARTIGO 
90, § 3o, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015: ANÁLISE DE
CONSTITUCIONALIDADE............................................................................ 325
Charles da Costa Bruxel
CAPÍTULO 22
INFLUXOS DO PARADIGMA DA PROPRIEDADE FUNCIONALIZADA 
URBANA NA EXTRAFISCALIDADE TRIBUTÁRIA DO IPTU (IMPOSTO
SOBRE A PROPRIEDADE PREDIAL E TERRITORIAL URBANA).........339
William Paiva Marques Júnior
10 Denise Lucena Cavalcante (coord.) 
CAPÍTULO 23
TRIBUTAÇÃO DA COMPUTAÇÃO EM NUVEM: OS DESAFIOS DO 
LEGISLADOR EM DELIMITAR AS HIPÓTESES DE INCIDÊNCIA DOS
SERVIÇOS EM NUVEM .................................................................................. 35^
Alaíde Linhares Carlos
Sérgio Luiz Pereira
CAPÍTULO 24 t
BREVE ANÁLISE DA TRIBUTAÇÃO DA CLOUD COMPUTING NO i 
BRASIL: DO SURGIMENTO ÀS CONTROVÉRSIAS TRIBUTÁRIAS.....375:
Alaíde Linhares Carlos
Roberta Furtado de Arraes Alencar e Castro
CAPÍTULO 21
A ISENÇÃO DE CUSTAS PROCESSUAIS CONCEDIDA 
PELO ARTIGO 90, § 3", DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL DE 2015: ANÁLISE DE
CONSTITUCIONALIDADE
Charles da Costa Brnxel*
Introdução
Parte-se do seguinte problema: a isenção de custas processuais 
concedidas pelo artigo 90, § 3o, do Código de Processo Civil de 2015 
é constitucional?
A disposição normativa prevista no Código de Processo Civil visa 
estimular, por meio de uma vantagem econômica (isenção de custas), 
aconciliação entre os litigantes. Emais uma das normas, entre tan­
tas outras, contida na novel legislação adjetiva civil, que compõe a, 
pode-se denominar, “política de incentivo às soluções autocompositi- 
vas”.
Diante do questionamento levantado, formula-se a seguinte hi­
pótese: o artigo é apenas parcialmente compatível com a Constituição 
Federal.
Nessa trilha, pode-se especificar que o objetivo geral será analisar 
a possibilidade de, no corpo da legislação processual civil — que, 
como se sabe, é editada pela União —, serem estipuladas regras de 
isenção de taxas (custas processuais) aplicáveis a todos os entes da 
federação. Partindo do objetivo geral, os objetivos específicos da pes­
quisa serão os seguintes: a) Compreender e explicar o sentido e o 
alcance do artigo 90, § 3o, do Código de Processo Civil de 2015; b) 
Analisar teoricamente os possíveis resultados do controle de consti­
tucionalidade; c) Verificar se existe possibilidade de conformação do 
dispositivo com a Constituição Federal.
A apreciação em torno da constitucionalidade do texto normativo 
referido é tema da mais alta relevância, pois impactará tanto na ro­
tina forense dos jurisdicionados quanto repercutirá na política de ar­
recadação e cobrança de custas processuais pelos entes federativos 
que administram os ramos do Poder Judiciário.
Imperialista em Direito e Processo do Trabalho pela Universidade Gama Filho. Hacharel em Direito pela Universi- 
dade Federal do Ceará. Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Ceará. Cursando Especiali­
zo em Direito Processual Civil na Damásio Educacional. Técnico Judiciário do Tribunal Regional do Trabalho 
ü ^Região, atualmente exercendo as atribuições de Assistente de Gabinete de Desembargador.
326 ______ Denise Lucena Cavalcante (coord.)____________
Este trabalho tem natureza qualitativa, descritiva e explicativa. A 
pesquisa seguirá os métodos dedutivo, indutivo e sistêmico. A pes­
quisa será, ainda: a) bibliográfica: buscando compreender o problema 
e encontrar soluções a partir da análise da literatura já publicada em 
livros, artigos de revistas especializadas e publicações avulsas; b) do­
cumental: Constituição Federal do Brasil de 1988, Código de Pro­
cesso Civil de 2015, Código Tributário Nacional e outras leis; c) juris- 
prudencial: julgados do Supremo Tribunal Federal.
1. Compreensão do art. 90, § 3o, do CPC/2015
O art. 90, § 3o, do Código de Processo Civil de 2015, assim pre- 
ceitua:
Art. 90. Proferida sentença com fundamento em desistência, em re­
núncia ou em reconhecimento do pedido, as despesas e os honorários 
serão pagos pela parte que desistiu, renunciou ou reconheceu. [...] 
§ 3o Se a transação ocorrer antes da sentença, as partes ficam dispen­
sadas do pagamento das custas processuais remanescentes, se hou­
ver. (BRASIL, 2015)
No caso, as custas processuais, segundo a consolidada jurispru­
dência do Supremo Tribunal Federal, possuem natureza jurídica tn- 
butária de taxa:
EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. CUSTAS E EMOLUMEN­
TOS: NATUREZA JURÍDICA: TAXA. DESTINACÃO DE PARTE DO 
PRODUTO DE SUA ARRECADAÇÃO A ENTIDADE DE CLASSE: CAIXA 
DE ASSISTÊNCIA DOS ADVOGADOS: INCONSTITUCIONALIDADE. 
Lei 5.672, de 1992, do Estado da Paraíba. I. - As custas, a taxa judici­
ária e os emolumentos constituem espécie tributária, são taxas, se­
gundo a jurisprudência iterativa do Supremo Tribunal Federal. Prece­
dentes do STF. [...] Ação direta de inconstitucionalidade julgada pro­
cedente. (ADI 1145, Rei. Min. Carlos Velloso, Tribunal Pleno, Julgado 
em 03 out. 2002, DJ 08-11-2002 p. 20) (grifei) (BRASIL, 2002)
EMENTA: I. Ação direta de inconstitucionalidade: [...) II. Custas e emo­
lumentos: serventias judiciais e extrajudiciais: natureza jurídica. È da 
jurisprudência do Tribunal que as custas e os emolumentos judiciais ou 
extrajudiciais tem caráter tributário de taxa. (...) (ADI 3694, Relator(a): 
Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, julgado em 20 set. 
2006, DJ 06-11-2006 p. 30, 2007, p. 221) (grifei) (BRASIL, 2006)
A Constituição Federal (BRASIL, 1988), em seu art. 145, II, esti­
pula que as “taxas” poderão ser instituídas pela União, pelos Estados, 
pelo Distrito Federal e pelo Municípios “em razão do exercício do po­
der de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços pú­
blicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a 
sua disposição”. O Código Tributário Nacional (BRASIL, 1966), que 
nitidamente inspirou a própria redação da Lei Maior de 1988, apenas 
expõe o mesmo conceito:
_____________ Direito Tributário Contemporâneo____________ 327
Art. 77. As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito 
Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribui­
ções, têm como fato gerador o exercício regular do poder de policia, ou 
a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público especifico e divisível, 
prestado ao contribuinte ou posto á sua disposição, (grifei)
Machado (2010, p. 450-451) explica e detalha, a fim de possibili­
tar a correta compreensão da espécie tributária em epígrafe:
Não é fácil definir o que seja um serviço público especifico e divisível. 
Diz o Código que os serviços são específicos quando possam ser des­
tacados em unidades autônomas de intervenção, de utilidade ou de 
necessidade públicas, e divisíveis quando suscetíveis de utilização, se­
paradamente, por parte de cada um de seus usuários (art. 79, ines. II 
e III). Não obstante estejam tais definições contidas em dispositivos 
separados, cuida-se de duas definições inseparáveis, no sentido de 
que um serviço não pode ser divisível se não for especifico. Não tem 
sentido prático, portanto, separar tais definições, como a indicar que 
a taxa pode ter como fato gerador a prestação de um serviço público 
especifico ou de um serviço público divisível. Aliás, isto decorre do pró­
prio dispositivo constitucional, que se refere a serviço específico e di­
visível.
Seja como for, certo v que as definições legais em referência pratica­
mente cm nada contribuem para a solução dos problemas práticos 
relativos às taxas. Constituem porem, indicações úteis, a serem tra­
balhadas pela doutrina e pela jurisprudência.
Quando se trate de atividade provocada pelo contribuinte, individual­
mente, como acontece. por exemplo, no caso do fornecimento de certi­
dões ou da prestação de atividade junsdicional, parece induvidoso o 
caráter específico e divisível do serviço. Por outro lado, serviço como o 
de iluminação pública, por exemplo, não nos parece ser especifico nem 
divisível, posto que e usufruivel por todos de forma indistinta, (grifei)
Assim, o já transcrito excerto normativo do CPC/2015 estipula a 
“dispensa” — que, segundo Houaiss e Villar (2009), significa a “deso- 
brigaçào”, a “isenção” ou a “liberação” — do pagamento das custas 
processuais “remanescentes”, que, conforme Houaiss e Villar (2009), 
significa aquilo que “resta” ou “sobeja”. Ou seja, caso as partes tran­
sijam e cheguem a solução amistosa antes de proferida a sentença 
de julgamento do feito, tal conduta será premiada com a desobrigação 
de pagar as custas processuais devidas e ainda não pagas pelas par­
tes. Se o que é devido e ainda não foi pago restará abarcado pela 
norma exoneradora, por certo eventuais custas que venham a ser de­
vidas por diligências ou atos judiciais necessários e posteriores ao 
acordo também deverão ser dispensadas. Afinal, não se pode esque­
cer, o escopo do art. 90, § 3o, CPC, é manifestamente estimular a 
conciliação entre as litigantes.
Cumpre esclarecer, ainda, que as custas que já foram adiantadas 
Para a realização das diligências/atos judiciais necessários até o mo­
mento da transação não serão devolvidas para as partes. A dispensa 
tocide sobre o pagamento das custas processuais remanescentes 
328 ________ Denise Lucena Cavalcante (coord.)___________
que, conforme revelado pela expressão utilizada pela lei (“se houver”), 
podem sequer existir.
Neves (2016, p. 145) interpreta o texto legal nesse mesmo rumo, 
indicando que se a transaçãovier a ocorrer antes da sentença, as 
partes ficarão dispensadas do pagamento das custas processuais re­
manescentes, se houver. O autor entende que, pela utilização do 
termo “remanescentes”, o não pagamento atingirá atos já praticados 
e que ainda não tiverem as custas adiantadas. Constata, assim, que 
o sacrificado pelo incentivo à transação será o Estado, que deixará de 
receber o pagamento das referidas custas.
A respeito do tema, importante delinear o conceito de isenção tri­
butária. Amaro (2014, p. 192) assim pontua:
Finalmente, a isenção. O que hà aqui é uma técnica peculiar utilizada 
no processo de definição do campo de incidência. Suponhamos que o 
legislador possa, num universo de cem espécies, tributar noventa (por­
que as outras dez são imunes e, portanto, ficaram fora do campo onde 
a competência tributária pode ser exercitada). Se o legislador ordinâno 
não tributar essas noventa espécies, total ou parcialmente, teremos a 
situação que referimos no parágrafo anterior (não incidência pura e 
simples). Mas pode ocorrer que o legislador, pretendendo tributar 
parte das noventa espécies, decida, em vez de relacionar as espécies 
que efetivamente queira gravar, optar pela técnica da isenção, que 
consiste em estabelecer, em regra, a tributação do universo, e, por 
exceção, as espécies que ficarão fora da incidência, ou seja, continua­
rão não tributáveis. Essas espécies excepcionadas dizem-se isentas.
Em seguida, o mesmo autor traça a fundamental distinção entre 
isenção e imunidade tributárias:
A imunidade e a isenção distinguem-se em função do plano em que 
atuam. A primeira opera no plano da definição da competência, e a 
segunda atua no plano da definição da incidência. Ou seja, a imuni­
dade é técnica utilizada pelo constituinte no momento em que define 
o campo sobre o qual outorga competência. Diz, por exemplo, o cons­
tituinte: ‘Compete à União tributar a renda, exceto a das instituições 
de assistência’. Logo, a renda dessas entidades não integra o conjunto 
de situações sobre que pode exercitar-se aquela competência. A imu­
nidade, que reveste a hipótese excepcionada, atua, pois, no plano da 
definição da competência tributária. Já a isenção se coloca no plano da 
definição da incidência do tributo, a ser implementada pela lei (geral­
mente ordinária) por meio da qual se exercite a competência tributária. 
Suponha-se que o legislador possa tributar todas as situações “y’, mas 
não queira tributar as espécies ‘y*’ e *y2’. Dirá, então, o legislador: ‘Fica 
instituído o tributo ‘x’ sobre o grupo de situações íy’> exceto ‘y1’ e *y- . 
As hipóteses excepcionadas não compõem, portanto, o rol de situações 
sobre o qual incide o tributo. Trata-se, como se vê, de técnica empre­
gada no plano da definição da incidência, para, via exceção, deixar 
fora dela as situações que o legislador não quer tributar. (AMARO, 
2014, p. 192)
_____________ Direito Tributário Contemporâneo____________ 329
Ainda sobre isenção tributária, Silva (2012, p. 1) apresenta rele­
vante classificação, essencial para que se tenha uma compreensão 
apurada da matéria:
As isenções podem ser classificadas em condicionais e incondicionais, 
temporárias e por prazo indeterminado, gerais e individuais, regionais 
ou irrestritas. A isenção incondicional é aquela que independe da com­
provação do preenchimento de qualquer requisito pelo contribuinte, a 
ser avaliada pelo fisco. É o caso da isenção da primeira faixa de renda 
do imposto de renda da pessoa física. A isenção condicional é que de­
pende do preenchimento de algum requisito pelo contribuinte, seja a 
realização de uma conduta, seja uma situação jurídica, seja uma si­
tuação fàtica. Necessariamente, as isenções incondicionadas serão ge­
rais, alcançando todos os contribuintes ou fatos, conforme seja o be­
nefício subjetivo ou objetivo. As isenções condicionais serão individu­
ais e dependerão da análise de cada caso pela Administração Tributá­
ria.
0 art. 90, § 3o, CPC, portanto, conforme se nota, estipula verda­
deira isenção condicional de taxas (custas processuais) remanescen­
tes, pois tal dispensa somente será concedida caso venha a se efetivar 
determinado evento futuro ou incerto — no caso, a ocorrência de 
transação antes da sentença de julgamento do feito. No processo ju­
dicial, o magistrado faz as vezes de autoridade administrativa tribu­
tária, razão pela qual deverá, seguindo a exigência do art. 179, caput, 
do Código Tributário Nacional1, consolidar a referida isenção de cus­
tas por meio de pronunciamento, preferencialmente, na própria de­
cisão homologatória da transação (art. 487, III, “b”, CPC/20152).
2. Análise teórica do controle de constitucionalidade: possíveis 
resultados do cotejo entre um ato normativo e a Constituição 
Federal
Masson (2015, p. 1051) tece considerações fundamentais para a 
compreensão cientifica do denominado controle de constitucionali­
dade:
Controlar é sinônimo de cotejar, colocar em confronto, contraprovar. 
Representa um procedimento de análise. A locução ‘controle de cons­
titucionalidade’ deve ser entendida, pois, como uma verificação de 
compatibilidade, de adequação entre normas: as leis (e os demais aros 
normativos) e a Constituição.
Em seguida, a autora (MASSON, 2015, p. 1052) complementa, 
destacando que a inequívoca hierarquia normativa entre as normas 
constitucionais e as demais é o que justifica a realização do controle
Ari. 179. A isenção, quando não concedida em caráter geral, é efetivada, em cada caso, por despacho da autoridade 
«dministrativa, em requerimento com o qual o interessado faça prova do preenchimento das condições e do cumpri- 
iticnto dos requisitos previstos em lei ou contrato para sua concessão.
Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz: III - homologar: [...] b) a transação;
330 Denise Lucena Cavalcante (coord.)
de constitucionalidade. Afinal, se a Carta Magna se encontra em po­
sição superior no ordenamento, todas as demais normas lhe devem 
estrita observância e irrestrita obediência e precisam estar absoluta­
mente afinadas com os seus preceitos, de modo que qualquer disso­
nância deva ser detectada e solucionada em favor da Constituição. 
Esclarece, por fim, que a consolidação desse instrumental teórico de 
fiscalização da constitucionalidade dos diplomas é o que impede que 
o ideal da supremacia constitucional torne-se mera retórica.
Realizado o controle, pode-se concluir que a norma infraconsti- 
tucional é plenamente compatível com a Constituição Federal, que a 
norma infraconstitucional é totalmente incompatível com a Consti­
tuição Federal ou que a norma infraconstitucional é apenas parcial­
mente compatível com a Constituição Federal. Este último caso, o 
mais comum, é o que se destaca, haja vista seus desdobramentos e 
sua interseção, em algumas situações, com a denominada interpre­
tação conforme a Constituição.
Mendes e Branco (2015, p. 1309) traçam um panorama geral da 
declaração de inconstitucionalidade parcial (denominada pelos auto­
res de “declaração de nulidade parcial”):
A doutrina e a jurisprudência brasileiras admitem plenamente a teoria 
da divisibilidade da lei, de modo que, tal como assente, o Tribunal 
somente deve proferir a inconstitucionalidade daquelas normas vicia­
das, não devendo estender o juízo de censura às outras partes da lei, 
salvo se elas não puderem subsistir de forma autônoma.
Em seguida, o caso especial de declaração de inconstitucionali­
dade parcial sem redução de texto (“declaração de nulidade parcial 
sem redução de texto”) é tratado (MENDES; BRANCO, 2015, p. 1309- 
1311):
Já em 1949, identificara Lúcio Bittencourt os casos de inconstitucio- 
nalidade da aplicação da lei a determinado grupo de pessoas ou de 
situações como hipótese de inconstitucionalidade parcial. [...] 
Também aqui se limita o Tribunal a considerar inconstitucional ape­
nas determinada hipótese de aplicação da lei, sem proceder à alteração 
do seu programa normativo. [...]
Uma redução do âmbito da aplicação da lei pode ser operada, igual­mente, mediante simples interpretação conforme à Constituição.
Diante da proximidade da inconstitucionalidade parcial sem re­
dução de texto e a interpretação conforme a Constituição, convém 
caracterizar-se, sucintamente, do que trata esta última. Mendes e 
Branco (2015, p. 1.312), em síntese, mencionam que o texto infra­
constitucional deve ser interpretado, tanto quanto possível, de modo 
a resultar em uma norma compatível com a Constituição Federal:
Consoante postulado do direito americano incorporado à doutrina 
constitucional brasileira, deve o juiz, na dúvida, reconhecer a consti­
tucionalidade da lei. Também no caso de duas interpretações possíveis 
______________ Direito Tributário Contemporâneo_____________ 331
de uma lei, hà de se preferir aquela que se revele compatível com a 
Constituição. (...]
Consoante a prática vigente, limita-se o Tribunal a declarar a legitimi­
dade do ato questionado desde que interpretado em conformidade com 
a Constituição.
Seguindo a linha de Bulos (2015, p. 471-472), releva destacar 
que a interpretação conforme a Constituição é, ao mesmo tempo, um 
critério de exegese constitucional e uma técnica de controle de cons- 
titucionalidade. Como critério, a interpretação conforme a Constitui­
ção orienta no sentido de se buscar sempre a máxima preservação da 
norma infraconstitucional, o que somente pode ser alcançado por 
meio da busca do sentido normativo mais compatível com a Consti­
tuição Federal. Como técnica, a interpretação conforme garante o re­
conhecimento da constitucionalidade de determinado texto norma­
tivo, desde que adotada determinada exegese.
Em termos práticos, a inconstitucionalidade parcial sem redução 
de texto se aproxima, severamente, da chamada interpretação con­
forme a Constituição. Novamente, Mendes e Branco (2015, p. 1312) 
ajudam a compreender o tema e a tentar traçar uma distinção entre 
as duas modalidades:
Ainda que se não possa negar a semelhança dessas categorias e a pro­
ximidade do resultado prático de sua utilização, é certo que, enquanto 
na interpretação conforme à Constituição se tem, dogmaticamente, a 
declaração de que uma lei é constitucional com a interpretação que 
lhe é conferida pelo órgão judicial, constata-se, na declaração de nuli- 
dade sem redução de texto, a expressa exclusão, por inconstituciona­
lidade, de determinadas hipóteses de aplicação do programa norma­
tivo sem que se produza alteração expressa do texto legal.
Assim, se se pretende realçar que determinada aplicação do texto nor­
mativo é inconstitucional, dispõe o Tribunal da declaração de incons­
titucionalidade sem redução de texto, que, além de mostrar-se tecni­
camente adequada para essas situações, tem a virtude de ser dotada 
de maior clareza e segurança jurídica, expressas na parte dispositiva 
da decisão (a lei X é inconstitucional se aplicável a tal hipótese; a lei Y 
é inconstitucional se autorizativa da cobrança do tributo em determi­
nado exercício financeiro).
Tal distinção tem relevância pragmática principalmente pelo fato 
de apenas a declaração de inconstitucionalidade parcial sem redução 
de texto se submeter, no controle incidental de constitucionalidade, 
à cláusula de reserva de plenário prevista no art. 97 da Constituição 
Federal: “Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros 
ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais 
declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Pú­
blico” (BRASIL, 1988).
E, não custa esclarecer, além de tal diferença conceituai estar 
consolidada na jurisprudência do STF, tal discernimento é feito pela 
própria Lei n° 9.868/ 1999 (BRASIL, 1999) em seu art. 28, parágrafo 
332 Denise Lucena Cavalcante (coord.)
único, ao prever separadamente as duas técnicas de controle de 
constitucionalidade:
A declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade, in­
clusive a interpretação conforme a Constituição e a declaração parcial 
de inconstitucionalidade sem redução de texto têm eficácia contra to­
dos e efeito vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e à 
Administração Pública federal, estadual e municipal, (sublinhei)
Afinal, como saber se o caso é de “mera” interpretação conforme 
a Constituição ou de declaração de inconstitucionalidade parcial sem 
redução de texto?
Se a interpretação do texto infraconstitucional, para resultar em 
uma norma conforme a Constituição Federal, tiver que contrariar ex­
cessivamente o sentido literal do texto, entende-se prudente que seja 
declarada a inconstitucionalidade parcial sem redução de texto. Se 
várias interpretações razoáveis do texto infraconstitucional se mos­
trarem possíveis, a escolha pela interpretação (mais) compatível com 
a Lei Maior é questão que se resolve apenas pelo regular manejo do 
critério de interpretação conforme a Constituição.
Em resumo, tem-se o seguinte: se a exegese compatível com a 
Constituição contrariar moderadamente o sentido literal do texto in­
fraconstitucional, o caso se resolve pura e simplesmente pelo critério 
hermenêutico da interpretação conforme a Constituição, sem decre­
tação de inconstitucionalidade; se a exegese compatível com a Cons­
tituição contrariar excessivamente o sentido literal do texto infra­
constitucional, mas não for uma interpretação absurda, é o caso de 
declaração da inconstitucionalidade parcial sem redução de texto; se 
a exegese compatível com a Constituição contrariar frontalmente ou 
aberrantemente o texto infraconstitucional, é o caso de declaração 
parcial com redução de texto ou de decretação de inconstitucionali­
dade total do texto normativo.
3. Conformação do art. 90, § 3o, CPC/2015, com a Constituição
Federal
Consoante visto mais acima, o art. 90, § 3o, CPC/2015, é norma 
que veicula isenção condicional de taxas (custas processuais) rema­
nescentes. Não é preciso grande esforço para perceber que tal norma, 
por estar contida em diploma processual civil aplicável tanto no âm­
bito do Judiciário administrado pela União (Justiça Eleitoral, Justiça 
do Trabalho, Justiça Federal, Justiça Militar Federal, Justiça do Dis­
trito Federal e dos Territórios3, respectivos tribunais superiores e o 
Supremo Tribunal Federal) quanto na Justiça dos Estados, teve a 
pretensão de estipular generalizadamente tal isenção para todos os
1 Constituição Federal, com redação do inciso dada pela Emenda Constitucional n° 69, de 2012: Art. 21. Compete i 
União: [.,.] XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e 
a Defensoria Pública dos Territórios/
Direito Tributário Contemporâneo___________ 333
órgãos judiciários sujeitos ao Código de Processo Civil, sem levar em 
conta o ente federativo que administra cada respectivo ramo da Jus­
tiça.
Ou seja, a União, por meio da referida norma, estaria concedendo 
isenção para custas processuais (taxas) nos ramos judiciários que 
administra, mas também estaria concedendo isenção a tributos (ta­
xas) de competência dos Estados (custas processuais nos processos 
que tramitam perante a Justiça Estadual). Esta última hipótese é 
caso de típica isenção heterônoma.
Coélho (2012) explica o conceito:
Coloquemos a questão: as isenções são autonômicas e heterõnomas 
quanto à fonte legislativa de onde promanam. Autonômica é a isenção 
concedida pelo Poder Legislativo de pessoa jurídica de Direito Público 
titulada pela Constituição para instituir o tributo. Assim, quem pode 
tributar pode dispensar o tributo. Esta é a regra geral. Isenção hete­
rônoma é a concedida pelo Poder Legislativo de uma pessoa jurídica 
de Direito Público que não tem competência para instituir o tributo 
objeto da isenção. A isenção heterônoma ê isenção de tributo de alheia 
competência.
A União, entretanto, não pode adotar a isenção heterônoma, con­
forme preceitua o art. 151, 111, da Constituição Federal: “Art. 151. É 
vedado à União: (...) 111 - instituir isenções de tributos da competência 
dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios” (BRASIL, 1988).
Alexandre(2016), acerca da citada vedação constitucional, pon­
tua que o poder de isentar é natural decorrência do poder de tributar. 
Assim, em outras palavras, a regra é que as isenções sejam autôno­
mas (ou autonômicas), porque podem ser concedidas pelo ente fede­
rado a quem a Constituição atribuiu a competência para a criação do 
tributo. Tal vedação consiste em uma importante garantia protetora 
do pacto federativo, pois impede que os entes maiores, por ato pró­
prio, interfiram na arrecadação dos entes menores, pondo-lhes em 
risco a autonomia. Destaca, por fim, que a proibição é novidade da 
Constituição Federal de 1988, contrapondo-se à Constituição de 
1967, que garantia o poder da União de, mediante lei complementar 
e atendendo a relevante interesse social ou econômico nacional, con­
ceder isenções até mesmo de impostos estaduais e municipais.
Sabbag (2016) ajuda a compreender definitivamente o comando 
constitucional sob exame, ao estipular que a referida garantia guar­
nece o pacto federativo quando obsta a interferência de entes maiores 
no plano arrecadatório dos menores, colocando em xeque sua auto­
nomia. Entende o doutrinador que tal interferência é registrada no 
dispositivo constitucional na exclusiva situação de isenção, porém 
nada obsta que estendamos a proibição a outros benefícios por 
exemplo, anistia, remissão, concessão de crédito presumido etc. Tal 
intima conexão com a proteção do pacto federativo rechaçaria, inclu­
334 Denise Lucena Cavalcante (coord.)
sive, a possibilidade de alteração da matéria por emenda constituci­
onal, por força do art. 60, § 4o, I, da Constituição Federal. Por sime­
tria, a lógica do dispositivo deve ser estendida aos Estados-membros 
com relação aos tributos municipais, pois a despeito da literalidade 
do texto, a lógica jurídica deve prevalecer.
Não há dúvidas, assim, que a norma extraivel do art. 90, § 3o, 
CPC/2015, que confere isenção às custas processuais remanescen­
tes nos processos que tramitam perante a Justiça Estadual é incons­
titucional. O dispositivo do Código de Processo Civil de 2015 deve ser 
lido em conformidade com a Constituição Federal, qual seja:
a) É concedida a isenção condicional de taxas (custas processuais) 
remanescentes no âmbito do Judiciário administrado pela União 
(Justiça Eleitoral, Justiça do Trabalho4, Justiça Federal, Justiça 
Militar Federal, Justiça do Distrito Federal e cíos Territórios, res­
pectivos tribunais superiores e o Supremo Tribunal Federal), haja 
vista que tais tributos são de competência da própria União;
b) É meramente incentivada a isenção condicional de taxas (custas 
processuais) remanescentes no âmbito do Judiciário administrado 
pelos Estados, devendo cada ente avaliar politicamente a conveni­
ência de estipular tal isenção por meio de sua própria legislação.
A Comissão de Estudos do NCPC do Tribunal de Justiça do Es­
tado do Espírito Santo (ESPÍRITO SANTO, 2015, p. 15) apresenta 
ponderação no mesmo sentido, a despeito de, ao final, apresentar 
recomendação a qual se considera incompatível com a Constituição 
Federal:
A despeito da clara e elogiável intenção de promover a realização de 
transações (pondo fim, com isso, a litígios ainda pendentes de apreci­
ação judicial), é questionável a constitucionalidade da norma no âm­
bito das Justiças Estaduais.
Oriunda de lei federal, sua aplicação aos Estados consistiría nova­
mente em isenção heterõnoma, tendo como objeto, desta feita, as cus­
tas processuais remanescentes (taxas derivadas da prestação da ati­
vidade jurisdicional, serviço público específico e divisível, custeado 
pelo erário de cada Estado).
Por tal razão, no âmbito das Justiças Estaduais compete com exclusi­
vidade ao respectivo Estado — no exercício de sua autonomia — optar 
por conceder referida isenção. Caso deseje fazê-lo, deverá promulgar 
lei específica para esse fim.
J Nesse sentido, inclusive, o Enunciado 112 do Encontro do Fórum Permanente de Processualistas Civis (201-1): “(art. 
90, $ 3o; art. 15) No processo do trabalho, se a transação ocorrer antes da sentença, as partes ficam dispensadas do 
pagamento das custas processuais, se houver. (Grupo: Impacto do CPC no Processo do Trabalho)". Observe-se que nu 
Justiça do Trabalho não há que se falarem adiantamento de custas processuais, sendo estas devidas pela parte vencida 
somente após o trânsito em julgado, vide art. 789, $ Io, CLT (HliASIL, 1943), com redação dada pela Lei 10.537/ 
2002. Assim, quando da ocorrência de transação prê-sentença, as custas a serem dispensáveis corresponderão à inte- 
gralidade das custas devidas no processo. Constata-se, desse modo, que o instituto previsto no art. 90. J 3", CPC/2015, 
se encaixa com perfeição à sistemática processualista laborai, garantindo forte incentivo à conciliação das partes.
____________ Direito Tributário Contemporâneo____________335
Até que sobrevenha tal lei, no entanto, não nos parece adequado afas­
tar o disposto no art. 90, § 3o, do NCPC, sendo recomendável que os 
magistrados capixabas não exijam as custas e as despesas processu­
ais, porventura pendentes de recolhimento, diante de acordos celebra­
dos.
A propugnada leitura do art. 90, § 3o, CPC/2015, não contraria 
excessivamente a literalidade do texto normativo. O dispositivo não 
diz categoricamente que as partes sempre ficarão “dispensadas do 
pagamento das custas processuais remanescentes”. Além disso, o 
texto ainda utiliza a expressão “se houver”, deixando claro que, inde­
pendentemente da interpretação constitucional que se confira ao pa­
rágrafo, a depender do modo como as custas processuais são regula­
das pelo estado-membro no que diz respeito ao momento de adianta­
mento das referidas taxas, sequer existirão custas a serem dispensa­
das. Ou seja, o texto normativo possui plasticidade suficiente para 
que o caso se resolva pelo simples critério hermenêutico da interpre­
tação conforme a Constituição, sem haver necessidade da decretação 
de inconstitucionalidade parcial sem redução de texto.
Considerações finais
0 art. 90, § 3o, do CPC, estipula verdadeira isenção condicional 
de taxas (custas processuais) remanescentes, pois tal dispensa so­
mente será concedida caso venha a se efetivar determinado evento 
futuro ou incerto — no caso, a ocorrência de transação antes da sen­
tença de julgamento do feito. No processo judicial, o magistrado faz 
as vezes de autoridade administrativa tributária, razão pela qual de­
verá, seguindo a exigência do art. 179, caput, do Código Tributário 
Nacional, consolidar a referida isenção de custas por meio de pro­
nunciamento, preferencialmente, na própria decisão homologatória 
da transação (art. 487, III, “b”, CPC/2015).
0 controle de constitucionalidade das normas infraconstitucio- 
nais atrai uma das seguintes soluções: a norma infraconstitucional é 
plenamente compatível com a Constituição Federal, que a norma in­
fraconstitucional é totalmente incompatível com a Constituição Fe­
deral ou que a norma infraconstitucional é apenas parcialmente com­
patível com a Constituição Federal. Este último caso, o mais comum, 
coque se destaca, haja vista seus desdobramentos e sua costumeira 
mterseção com a interpretação conforme a Constituição.
Tentando delinear o espaço de aplicabilidade da declaração de 
inconstitucionalidade parcial sem redução de texto e da interpretação 
conforme a Constituição, chega-se à seguinte conclusão: se a exegese 
compatível com a Constituição contrariar moderadamente o sentido 
literal do texto infraconstitucional, o caso se resolve pura e simples­
mente pelo critério hermenêutico da interpretação conforme a Cons­
tituição, sem decretação de inconstitucionalidade; se a exegese com­
patível com a Constituição contrariar excessivamente o sentido literal 
336 Denise Lucena Cavalcante (coord.)
do texto infraconstitucional, mas não for uma interpretação absurda, 
é o caso de declaração da inconstitucionalidade parcial sem redução 
de texto; se a exegese compatível com a Constituição contrariar fron­
talmente ou aberrantementeo texto infraconstitucional, é o caso de 
declaração parcial com redução de texto ou de decretação de incons­
titucionalidade total do texto normativo.
A fim de compatibilizar o art. 90, § 3°, CPC/2015, com a vedação, 
prevista na Constituição Federal, à isenção heterónoma de tributos 
(art. 151, III), chega-se, por consequência, à interpretação de que: o 
dispositivo do CPC concede a isenção condicional de taxas (custas 
processuais) remanescentes no âmbito do Judiciário administrado 
pela União (Justiça Eleitoral, Justiça do Trabalho, Justiça Federal, 
Justiça Militar Federal, Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, 
respectivos tribunais superiores e o Supremo Tribunal Federal), haja 
vista que tais tributos são de competência da própria União; o texto 
normativo meramente incentiva a isenção condicional de taxas (cus­
tas processuais) remanescentes no âmbito do Judiciário adminis­
trado pelos Estados, devendo cada ente avaliar politicamente a con­
veniência de estipular tal isenção por meio de sua própria legislação.
Diante da plasticidade do art. 90, § 3o, CPC/2015, constata-se 
que a propugnada leitura do artigo não contraria excessivamente a 
literalidade do texto normativo, razão pela qual se percebe que o pro­
blema de harmonização com o Texto Maior se resolve simplesmente 
pela aplicação do critério hermenêutico da interpretação conforme a 
Constituição, sem haver necessidade da decretação de inconstitucio­
nalidade parcial sem redução de texto.
Portanto, após testar a hipótese formulada e atingir todos os ob­
jetivos pretendidos, pode-se concluir que o artigo 90, § 3o, CPC/2015, 
é plenamente compatível com a Constituição Federal, desde que con­
cedida a interpretação ora defendida neste estudo. Por uma questão 
puramente técnica, portanto, não se pode dizer, ao contrário da hi­
pótese formulada, que o artigo é apenas parcialmente conciliável com 
a Constituição Federal.
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