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Avaliação (prova) antropologia III - Antropologia Brasileira (Gilberto Freyre; Florestan Fernandes; Sueli Carneiro; João Pacheco de Oliveira)

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Avaliação Individual – N1 
1. Escolha um dos autores estudados durante a disciplina e apresente as ideias do mesmo sobre a mestiçagem no Brasil.
Resolvi trazer Gilberto Freyre devido a sua importância e visibilidade dentro da antropologia brasileira ao mesmo tempo que na atualidade suas ideias acabaram sendo consideradas controversas.
Sua ideia de mestiçagem traz à tona muitas questões, como as relações de classe, região, enfim, tudo que faz parte de uma pessoa e a importância dessas coisas na identificação de quem é essa pessoa e como as coisas são consideradas, por exemplo, como os mucambos foram considerados casas de negros/pobres, como se as duas coisas fossem algo de ligação direta.
Sua obra, Sobrados e Mucambos, traz questionamentos muito importantes, especialmente raça e sociabilidade. Sobre a raça e cor, Freyre fala da desigualdade no Brasil e como se deu devido a escravidão...
Enfim, apesar de outros autores elaborarem melhor a questão da mestiçagem em si, resolvi trazer Gilberto Freyre justamente devido a essa controvérsia atual, pois ele acreditava em uma democracia racial que hoje sabemos ser inexistente.
Ele não só acreditava, mas defendia essa ideia. Éramos um povo que apesar das diferenças, éramos unidos e iguais, sendo assim, o racismo acontecia de maneira diferente justamente devido a sua crença de que a classe era mais importante do que os outros âmbitos como raça, cor, etc. Acreditando que qualquer negro poderia ocupar o lugar do branco cristianizado.
2. Na obra A integração do negro na sociedade de classes, qual é a tese sustentada por Florestan Fernandes ao desenvolver análises sobre o negro e o mulato no Brasil durante o período pós-abolição?
Em sua obra, focou no negro e no mulato e sobre seus dramas enquanto seres humanos negros. Negros e mulatos eram quem detinham a pior qualidade de vida, usufruindo do conceito de anomia de Durkheim para explicar muitas coisas.
Florestan Fernandes criticava os abolicionistas, porque estes não pensaram na integração do negro nessa sociedade pós escravista, como eles iam se inserir nela como homens/mulheres livres diante desses brancos que outrora eram senhores de escravos.
O autor fala de como o negro queria pertencer ao sistema, ocupar um lugar de poder dentro da estrutura, mas ainda que quisesse participar também queriam resistir. Mesmo com sua liberdade e busca por trabalho, o negro e mulato se viu em uma posição novamente que não o favorecia, em especial devido a presença dos imigrantes e de como os brancos brasileiros os deram prioridade em cima do povo liberto.
Sendo assim, os negros muitas vezes tinham que voltar as lavouras, já que os imigrantes eram tidos como mais politizados e ficavam como melhores trabalhos, assim como também eram acostumados a diferentes tipos de trabalhos, deixando o negro, mais uma vez, à margem da sociedade e com dificuldade de se adaptar.
A maior crítica de Florestan Fernandes era aos abolicionistas em si, que puderam até ter libertado os negros escravizados, mas deveriam ter-lhe dado direitos políticos e econômicos para terem alguma abertura. Ou seja, da forma que foi feita, não mudou nada para o negro que já estava na situação de mazela.
Ele pesquisou a visão do branco de como achavam que eram os negros na época de integração, os viam como aqueles que não queriam as mudanças, incentivando um descaso físico e psicológico, perpetuando a submissão e os deixando numa posição que os brancos queriam e gostavam.
A mulher negra conseguiu se ajustar mais que o homem negro nesse contexto, devido ao desempenho doméstico que muitas vezes já estava acostumada. Somente uma parte conseguiu se inserir nesse meio urbano de São Paulo. Passaram anos sendo vistos como escravos mesmo não sendo mais.
Enfim, como disse anteriormente sofreram com a concorrência dos imigrantes e sofriam com a visão sobre eles que não mudou mesmo com a abolição, e mesmo os senhores preferiam os imigrantes a “escravos”. O negro abruptamente se tornou responsável por si mesmo, sem nenhum auxílio.
3. Como a problemática da saúde é trabalhada pela autora Sueli Carneiro no texto “Enegrecer o feminismo: a situação da mulher negra na América Latina a partir de uma perspectiva de gênero”?
A saúde da mulher negra é algo tão pouco estudado que faltam dados para falar sobre, mas mesmo com senso comum e relatos pode-se observar – e ela enfatiza – a falta de acesso das mulheres negras a essa saúde. Essa falta de noção de como esse acesso acontece, qual a média de vezes que acontece, enfim, os fatores determinantes de um estudo da saúde da mulher negra, se torna impossível de saber com certeza por conta da não coleta da cor do paciente nos dados no sistema de saúde.
É importante falar que essa ideia da saúde da mulher negra está ligada também ao mito da democracia racial, pois apesar de não termos dados específicos de sua saúde, sabemos que as mulheres negras são as que mais sofrem violência obstétrica. Mas não só nesse caso, mas em casos de tratamento de doenças sexuais, por exemplo, não só as mulheres, mas toda a população negra é sempre tratada com desdém em sua saúde. Se eu pudesse estender isso, falaria inclusive da esterilização forçada de mulheres negras e pobres no Brasil do século XXI, coisa que seria quase ou totalmente impensável em qualquer mulher branca.
E fala disso também dentro do campo do feminismo, pois a mulher negra nunca foi vista da mesma forma que a mulher branca.
4. Explique o conceito de Territorialização trabalhado por João Pacheco de Oliveira no texto Uma etnologia dos índios misturados? Situação colonial, territorialização e fluxos culturais.
O conceito de territorialização foi baseado em 4 pontos, o primeiro foi com a criação de uma nova unidade sociocultural mediante o estabelecimento de uma identidade étnica diferenciadora, e como o nome sugere, tendo como característica a identidade para a diferenciação do outro, mas ainda sim originário e com direito a terra.
O segundo processo foi o da constituição de mecanismos políticos especializados, e nesse processo se deve notar uma organização política indígena, como uma rede de apoio entre si, com estratégias parceiras na luta pela terra e contra o Estado.
O terceiro processo é o da redefinição do controle social sobre os recursos ambientais, na questão de a terra é desses povos originários, mas o que se vai fazer com ela? Há a liberdade deles com essa terra, mas tudo deve ter como impulso a coletividade, já que era assim que a sociedade indígena vivia, dominando a natureza e usufruindo dessa gestão.
O quarto e último ponto é o da reelaboração da cultura e da relação com o passado, porque nada será o mesmo para sempre, tudo se modifica ao entrar em contato com outras coisas, sendo assim as mudanças são inevitáveis quando se entra em contato com o “de fora”, o “exterior”. A relação com o passado se dá por saber quem foram, quem eram e por que mudaram alguns traços, mas também para defenderem sua própria identidade e poder afirma-la.

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