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Linguagem Jurídica Aula 1 - Linguagem verbal e não verbal: relevância na atuação pro�ssional INTRODUÇÃO Nesta aula, veri�caremos que o reconhecimento e a importância da linguagem não verbal expressa por meio do corpo e do movimento do ser humano, ao lado da verbal, é muito importante para pro�ssionais de áreas diversas do saber. Vamos estudar também os enunciados compostos pelas linguagens verbal e não verbal e como o cruzamento desses enunciados auxiliam na produção de sentido: imagens e palavras (BRAIT, 2013). Estudaremos, ainda, que na produção de sentidos de textos, o leitor desempenha papel ativo e a importância dos implícitos, dos pressupostos e das inferências na compreensão e interpretação de sinais, indícios, vestígios, gestos e dos textos em geral. OBJETIVOS Reconhecer a leitura de textos verbais e não verbais como possibilidade de acesso a diferentes informações; Inferir o sentido de uma palavra ou expressão nas frases analisadas; Reconhecer que o pressuposto possui uma marca linguística que permite ao leitor depreender e inferir a informação implícita; Identi�car a dinâmica de cada linguagem na produção de sentido; Desenvolver a habilidade de descrever, analisar, interpretar e relacionar imagens. LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL Antes de começar a estudar linguagem verbal e não verbal, assista ao vídeo a seguir. VÍDEO As investigações técnico-cientí�cas sobre o fenômeno da comunicação verbal e não verbal são de grande valia para a compreensão dos relacionamentos interpessoais, como também de grande relevância na atuação de muitas áreas pro�ssionais. Uma das intuições mais fortes em matéria de linguagem verbal é a que se refere à sua capacidade de ser portadora de conteúdos. Com efeito, ainda que um conteúdo ou uma ideia possam se atualizar por meio de outras linguagens (pictórica, gestual, imagem), o verbal é sempre a materialidade privilegiada para esse �m. Assim, percebemos a referida característica nos quesitos formulados, quando o esperado é que o perito se pronuncie a respeito de conteúdos efetivamente materializados pela palavra. Em toda palavra, texto, ou outro objeto de discurso, existe uma signi�cação explícita ou implícita e com a imagem ocorre o mesmo. Há imagens que não estão visíveis, porém sugeridas, implícitas a partir de um jogo de imagens previamente oferecidas. O texto de imagens também tem na sua constituição marcas de heterogeneidade, como o implícito, o pressuposto, o subentendido, as inferências e o contexto. São marcas, porém, que não podem ser pensadas como vozes, porque analisar o não verbal pelas categorias de análise do verbal implicaria a redução de um ao outro. Assim, ao se interpretar a imagem pelo olhar — e não por meio da palavra ― apreende-se a sua matéria signi�cante em diferentes contextos. O resultado dessa interpretação é a produção de outras imagens (outros textos), produzidas pelo sujeito-espectador a partir do caráter de incompletude inerente ao discurso verbal e não verbal. Exemplo de imagem utilizada no teste de Rorschach Sirin_bird / Shutterstock Atenção , A interpretação do discurso não verbal se efetiva, então, por esse efeito de sentidos que se institui entre o olhar, a imagem e a possibilidade dos sentidos polissêmicos, a partir das formações sociais em que se inscreve tanto o sujeito-autor do texto não verbal quanto o sujeito-espectador. LEITURA DE IMAGENS: APRENDER COM OLHOS DE VER As linguagens têm muitos sentidos e, por vezes, são passíveis de muitas interpretações. Uma única imagem pode servir a múltiplos propósitos, aparecer em uma gama de diferentes situações, signi�car coisas diferentes para pessoas diferentes porque os papéis das imagens são múltiplos, diversos e complexos. Fonte da Imagem: Oxy_gen / Shutterstock É preciso “praticar o olhar”, aprender a olhar com “olhos de ver”, porque o olhar é uma atividade que envolve uma grande quantidade de propósito e de direção, envolve aprender a interpretar. A leitura de imagens como instrumento para a interpretação e para construção de descrição, narrativas e argumentações é de suma relevância, porque podemos considerar a imagem como fonte para o trabalho de reconstrução, pois valoriza os registros, os sinais, os vestígios, deixados pelo homem, permitindo, pois, a apreensão de seus signi�cados. VOCÊ SABIA? Dessa forma, a leitura de imagens pode servir de suporte para a compreensão e descrição da cena de um crime e da produção de laudos criminais consistentes, convincentes e persuasivos, por exemplo. Atenção , Sendo assim, na leitura de uma imagem, diferentes interpretações podem surgir e o sujeito-espectador é levado a escolher a interpretação mais “adequada e coerente ao contexto em que se inscreve”., , Fazer essa interpretação requer um olho exercitado, capaz de confrontar a imagem com experiências vividas, mobilizar lembranças e testar a imagem mediante projeções tentativas., , Qualquer imagem admite uma interpretação em uma linguagem compreensível, revelando ao sujeito-espectador aquilo que podemos chamar de Narrativa. IMPLÍCITOS: PRESSUPOSIÇÕES, SUBENTENDIDOS E INFERÊNCIAS As imagens implícitas funcionam como pistas, favorecendo a compreensão da narratividade sem se ater exclusivamente ao verbal, mas buscando uma articulação em um plano discursivo não verbal e revelando a tessitura da imagem em sua heterogeneidade. Os implícitos podem ser divididos em três categorias: • Pressuposições; • Subentendidos; • Inferências. Saber ler nas “entrelinhas” é articular os conhecimentos prévios às informações textuais, inclusive as que dependem de pressuposições e inferências (semânticas e/ou pragmáticas) autorizadas pelo texto. Isso permite dar conta de ambiguidades, ironias, expressões �guradas, opiniões e valores implícitos, que são fenômenos que denotam as intenções do autor. PRESSUPOSIÇÃO E SUBENTENDIDO Primeiramente, vamos analisar o que se entende pelo fenômeno da pressuposição, em contraste ao processo do subentendido. Veja a imagem abaixo: Fonte: Corepics VOF / Shutterstock Fonte: Vladimir Gjorgiev / Shutterstock Marque a opção que melhor representa o que você compreendeu ao analisar o diálogo acima: Fogaça está se candidatando novamente, mas, devido à pergunta da personagem, notamos que ele nunca tinha sido prefeito antes. Fogaça quer ser prefeito novamente, mas, devido à pergunta da personagem, notamos que ela não sabia que ele já tinha sido prefeito. Fogaça que ser prefeito novamente, mas a pergunta da personagem nos leva a compreender a crítica à má administração do prefeito, que, na verdade, não governou como deveria. Justi�cativa Veja mais um exemplo: Nesse caso, o amigo não respondeu à pergunta, mas, pelo contexto, pela situação, percebemos que não irá à festa, pois subentendemos que ele tem que cuidar da mãe. Sua fala torna-se um indício para essa conclusão. O subentendido diferentemente do pressuposto, pode ser negado ou ignorado. Agora vamos analisar a pressuposição, que é uma das formas de se dizer implicitamente alguma coisa que, uma vez sendo dita, não pode ser negada, pois se encontra inscrita na própria estrutura linguística. Assim, em linguagem verbal, muito do sentido vem implícito na própria forma de expressão. Ao dizer, por exemplo, que “ele deixou de beber”, já digo que “ele bebia antes” e que “já não bebe mais”. O interessante a observar é que não se negam os pressupostos de uma frase, mesmo colocando-a na negativa. Atenção , Veja:, , Paulo não bate mais na mulher. Pressuposto: Ele antes batia na mulher., , Precisamos �car atentos aos pressupostos de um texto, eles são fundamentais na sua interpretação., , Desse modo, a pressuposição é um mecanismo discursivo que permite ao leitor perceber certas palavras ou expressões contidas na frase, uma vez que são recuperadas as informações linguisticamente, isto é, elas são derivadas da decodi�cação de elementos do sistema linguístico., , Assim sendo, algumas palavras são ditas, outras são pressupostas e sua decodi�cação é essencial no ato da leitura. POSTOE PRESSUPOSTO Veja a frase a seguir: O tempo continua nublado. Podemos dizer que o posto é exatamente a informação explícita, que a�rma que o tempo está, no momento da fala, nublado. O verbo “continuar”, entretanto, passa uma informação implícita de que antes o tempo já estava nublado. A essa informação que passa a ser percebida pelo leitor, a partir do posto, damos o nome de pressuposto. INFERÊNCIAS As inferências são processos cognitivos que implicam a construção de representação semântica, baseada na informação textual e no contexto, sendo justamente a capacidade de reconhecimento da intenção comunicativa do interlocutor, e mais precisamente do autor, no caso do texto escrito, que caracteriza o leitor maduro e, portanto, crítico, questionador e reconstrutor dos saberes acumulados culturalmente. Por conseguinte, falando-se de uma perspectiva de leitura enquanto ato comunicativo e construtivo, que é a que tem sido considerada aqui, o leitor maduro é aquele que sabe utilizar adequadamente todas as informações disponíveis, estabelecendo ligações relevantes entre a informação textual e o seu conhecimento prévio, sem privilegiar ou desprezar qualquer desses canais de informação. VOCÊ SABIA? Na atividade de negociação, contextos cognitivos surgem e se modi�cam a cada momento da interação comunicativa, exigindo dos interlocutores uma constante revisão e ajustamento aos novos contextos (Koch, 2002), os quais, por sua vez, promovem a constituição do sentido e do sujeito, favorecendo a mudança, a transformação e a construção de conhecimento. Veja um exemplo: Imagens do circuito interno do condomínio, usadas na investigação, revelam Lucas Leite Ribeiro Porto, suspeito de matar sobrinha-neta de Sarney, chegando, e, posteriormente, descendo do nono andar pelas escadas. Ele não utiliza o elevador e desce correndo e com uma aparência de estar transtornado com algo. A polícia ainda a�rmou que Lucas tentou destruir provas que o ligassem à cena do crime, como apagar os registros de ligações do celular, se desfazendo das roupas. O suspeito ainda apresentava lesões no pulso, tórax e no rosto — sinais de que a vítima lutou contra o agressor. PDF , Leia o artigo A leitura, a produção de sentidos e o processo inferencial (galeria/aula1/docs/a01_10_01.pdf), de Sandra Patrícia Ataíde Ferreira e Maria da Graça Bompastor Borges Dias. LINGUAGEM NÃO VERBAL: VESTÍGIOS, EVIDÊNCIAS, INDÍCIOS, CIRCUNSTÂNCIAS Crimes bárbaros acontecem diariamente no nosso país, nos quais, na grande maioria das vezes, os réus não confessam sua autoria. Desse modo, a perícia criminal tem o papel de investigar de maneira detalhada o caso, em uma descrição minuciosa e exaustiva, em busca da autoria do crime, do local em que o crime ocorreu, das causas, vestígios, sinais, indícios e circunstâncias em que o delito aconteceu. vestígio Um vestígio seria o produto de um agente ou evento provocador. Nessa dinâmica, pressupõe-se que algo provocou uma modi�cação no estado das coisas de forma a alterar a localização e o posicionamento de um corpo no espaço em relação a uma ou várias referências fora e ao redor do dele. Fonte: Rawpixel.com / Shuttertock http://estacio.webaula.com.br/cursos/GON831/galeria/aula1/docs/a01_10_01.pdf O correto e adequado levantamento de local de crime, por exemplo, revela uma série de vestígios. Estes são submetidos a processos objetivos de triagem e apuração analítica dos quais resultam diversas informações. Evidência Uma informação de relevância primordial é aquela que atesta ou não o vínculo de tal vestígio com o delito em questão. Uma vez con�rmado objetivamente este liame, o vestígio adquire a denominação de evidência. Nas palavras de Mallmith (2007): “As evidências, por decorrerem dos vestígios, são elementos exclusivamente materiais e, por conseguinte, de natureza puramente objetiva”. Portanto, evidência é o vestígio que, após avaliações de cunho objetivo, mostrou vinculação direta e inequívoca com o evento delituoso. Processualmente, a evidência também pode ser denominada prova material. Indício Assim como ocorre com o vestígio, a origem da palavra “indício” signi�ca “sinal, indicação, revelação, denúncia, descoberta, acusação, indício, prova”. Entretanto, ao contrário do vestígio e da evidência, o indício apresenta uma conceituação legal prevista no Código de Processo Penal. Nesse sentido, indício seria uma circunstância conhecida, provada e necessariamente relacionada ao fato investigado, e que, como tal, permite a inferência de outra(s) circunstância(s). Circunstância O termo “circunstância” é aqui utilizado como expressão próxima, semanticamente, de “conjuntura”, como a combinação ou concorrência de elementos em situações, acontecimentos ou condições de tempo, lugar ou modo. Considerando a de�nição legal, é de se reparar que um indício, sendo uma circunstância, autoriza a conclusão indutiva de outros indícios, também circunstanciais. Nos termos da lei, a circunstância conhecida e provada seria uma premissa menor, ao passo que a razão e a experiência seriam uma premissa maior. Da comparação entre as premissas menor e maior emerge a conclusão indutiva de que trata o texto legal (MIRABETE, 2003). Via de regra, essa premissa menor vem apresentada de forma objetiva por se tratar de “circunstância conhecida e provada”. PDF , Para saber mais sobre o assunto, clique aqui. (galeria/aula1/docs/a01_11_01.pdf) Agora veja o mesmo exemplo, com novos elementos: http://estacio.webaula.com.br/cursos/GON831/galeria/aula1/docs/a01_11_01.pdf Mariana Menezes de Araújo Costa Pinto foi morta, em 14/11/16, dentro do apartamento em que morava, e o principal suspeito é o seu cunhado Lucas Porto, casado com a irmã dela. Segundo o laudo pericial, ela morreu as�xiada por um travesseiro depois de ter sido estrangulada. Imagens do circuito interno do condomínio, usadas na investigação, revelam o suspeito chegando, e, posteriormente, descendo do nono andar pelas escadas. Ele não utiliza o elevador. Ele desce correndo e com uma aparência de estar transtornado com algo. Segundo a polícia, ao ser preso, o suspeito ainda apresentava lesões no pulso, tórax e no rosto ― sinais de que a vítima lutou contra o agressor. Nesse caso, o papel da perícia criminal é a busca da verdade “real” no processo, atuando não como auxiliar na justiça mas, sim, como peça chave para a conclusão de um processo crime. Em primeiro lugar, o perito deve de�nir a extensão do local onde o crime ocorreu. De acordo com o tipo de homicídio, a cena do crime pode não ser apenas o local onde a vítima é encontrada, mas também locais próximos à cena do crime, como a vizinhança. Exemplo de investigação de crime – numeração de evidências. Veja: A polícia ainda a�rmou que o suspeito do crime Lucas Leite Ribeiro Porto tentou destruir provas que o ligassem a cena do crime, como apagar os registros de ligações do celular, se desfazendo das roupas. O suspeito ainda apresentava lesões no pulso, tórax e no rosto — sinais de que a vítima lutou contra o agressor. De modo geral, quem chega primeiro ao local é a polícia, isolando o lugar onde o maior número de provas certamente está concentrado. Com a chegada do perito, a área isolada aumenta, afastando os curiosos do local para que não inutilizem as provas deixadas nele. O perito inicia seu trabalho fazendo anotações de detalhes da cena do crime e do corpo das vítimas que podem ser alterados com o passar do tempo, mas que podem ser fundamentais para se chegar ao resultado �nal. Momento em que a linguagem não verbal, os vestígios, os implícitos e subentendidos são fundamentais para desvelamento do crime. Posteriormente, o perito conta com a ajuda de outros pro�ssionais especialistas para ajudá-lo, de acordo com o tipo de prova encontrada no local durante o reconhecimento da área investigada. Vestígios como pingos de sangue requerem a análise de um pro�ssional especí�co e não há como enviar uma amostra para o laboratório. Sendo necessária, assim, a presença do especialista. Fonte: Couper�eld / ShutterstockO perito é, por vezes, solicitado a localizar no tempo certa comunicação verbal. No caso de uma demanda que também se encontra dentro das possibilidades do linguista, porque é possível, com efeito, recuperar, na materialidade linguística, traços indicativos de tempo (e também de espaço). Em contrapartida, na hipótese de o quesito buscar saber se existem evidências digitais sobre o momento da gravação do áudio, tais como a data e a hora em que ocorreu a conversa, essa análise demandaria conhecimentos complementares na área de informática. PDF , Para ler sobre o assunto nos casos Isabella Nardoni e Suzane Von Richthofen, clique aqui. (galeria/aula1/docs/a01_12_01.pdf) CUIDADOS COM O LOCAL DO CRIME Para a produção da maioria dos laudos da perícia é preciso, antes de qualquer coisa, que o local do crime seja fotografado, analisado e feita a coleta de todos os vestígios necessários, que, posteriormente, serão submetidos a análises em laboratório. São, portanto, projetos de construção de conhecimento verbo-visualmente constituídos e que estão presentes na área funcional ou de atuação em questão. LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL: TÉCNICA DA ESCUTA ATIVA A escuta não é apenas o calar-se diante do outro, mas acompanhar, acolher, compreender e, quando necessário, provocar a pensar, pensar junto com o outro. É possível observar o quanto a escuta atenta, mas silenciosa, ou melhor, sem interferências, com imparcialidade, é importante na mediação de con�itos, não só para coletar dados ou fatos para maior clareza no entendimento da situação de con�ito, mas também pela possibilidade de minimizar os con�itos em nosso mundo. Fonte: Andrew Rybalko / Shutterstock Fonte: Couper�eld / Shutterstock http://estacio.webaula.com.br/cursos/GON831/galeria/aula1/docs/a01_12_01.pdf Em grande parte das vezes, para que a própria pessoa, ou parte envolvida no con�ito, compreenda suas questões é necessário intervir na mediação de modo mais especí�co. Nesses casos, o papel do mediador é provocar os con�itantes a pensar de que modo, em que, onde, quando e como se chegou àquele impasse. E levá-los a re�etir, nos pontos que foram observados, e, a partir da historicidade daquela lide, como pontos importantes a ela talvez estejam até supervalorizados ou negligenciados. Ou nos dados circunstanciais que talvez não estejam sendo considerados como de seu contexto, de modo que aquelas partes ou pessoas se sintam provocadas a pensar no con�ito sob novos ângulos. PDF , Para ler sobre A escuta ativa, clique aqui. (galeria/aula1/docs/a01_14_01.pdf) Destacamos que, a partir da iniciativa de promover a fala e a escuta recíprocas entre os envolvidos na lide, o mediador dá valor às ponderações das partes e as libera do hermetismo da linguagem jurídica, razão por que a simpli�cação da linguagem jurídica con�gura instrumento fundamental para o acesso à Justiça. Uma técnica bastante interessante é que o mediador use o modo a�rmativo para checar a compreensão de certas a�rmações e seguir evoluindo na comunicação. Ao parafrasear e resumir o que foi dito, o mediador permite que o interlocutor possa ouvir-se e perceber de forma clara o que expressou. Parafrasear é uma técnica que ajuda no entendimento do que está sendo dito pelo interlocutor. Se o mediador usar regularmente essa técnica, perceberá o quanto ela clari�ca pontos e evita os desentendimentos, muito comuns em comunicação, porque, no parafraseamento, o mediador reformula a frases sem alterar o sentido com a �nalidade de organizá-las, sintetizá-las. Assim como, a partir da formulação de perguntas, o mediador faz indagações pertinentes à compreensão do con�ito para explorar soluções viáveis. Já quanto ao resumo, seguido de con�rmação, permite que os mediandos observem como os seus relatos foram registrados. LINGUAGEM NÃO VERBAL: MEDIAÇÃO DE CONFLITOS Fonte: Popartic / Shutterstock http://estacio.webaula.com.br/cursos/GON831/galeria/aula1/docs/a01_14_01.pdf Às vezes, esses gestos podem ser mais fortes do que discursos inteiros. A postura física, que pode ser encontrada em qualquer situação comunicacional comum, possui um grande poder na transmissão de uma mensagem e, por consequência, na empatia e persuasão de uma audiência de mediação. Daí a força e os perigos de uma postura física enganosa, principalmente por parte do mediador. Segundo os pesquisadores da linguagem, a utilização de gestos, expressões faciais e olhares causam mais reação no receptor do que a fala por si só. Dessa forma, para que o emissor/mediador tenha um bom desempenho, é vital que todas essas formas de discurso, tanto oral quanto gestual, estejam em consonância, pois o poder da imagem é de grande relevância a respeito da importância do gestual, da postura, da expressão. Devemos entender, então, a importância dos sinais externos, pois eles fazem parte da mensagem comunicada, incorporando-se a ela. Portanto, eles não podem contradizer o que exprimem as nossas palavras. É sabido que os sinais externos são re�exos da alma da pessoa e, muitas vezes, recebem maior atenção do receptor do que o discurso falado. Daí a importância do mediador estar sempre atento entre a mensagem que busca transmitir e suas expressões, gestos e postura. A postura corporal do outro, suas expressões faciais, a maneira como anda, como gesticula e até a maneira como se veste nos dão informações preciosas. É necessário prestar atenção também ao som da voz do outro. É por meio da voz que expressamos alegria, desespero, tristeza, medo ou raiva. Às vezes, a maneira como uma pessoa usa sua voz nos dá muito mais informações sobre ela do que o sentido lógico daquilo que diz. Devemos também aprender a “ouvir” com nossos olhos. Fonte: Bacho / Shutterstock Fonte: bikeriderlondon / Shutterstock Fonte da Imagem: O poeta Décio Pignatari costuma dizer que o homem precisa aprender a “ouviver”, verbo que ele inventou a partir de ouvir, ver e viver (SUAREZ, 1999, p.39). LINGUAGEM NÃO VERBAL: MEDIADOR DE CONFLITO No processo de resolução de disputa, o mediador é um modelo de comportamento para as partes e está, a todo o momento, ajustando a forma como as partes agem no processo por meio de suas próprias atitudes. Portanto, o mediador deve se preocupar não apenas com a forma como ele fala, mas também com os outros elementos da comunicação que podem infundir nas partes sentimentos que alterarão seu comportamento. VOCÊ SABIA? O modo como o mediador se apresenta, o ambiente propiciado por sua atuação, sua linguagem corporal, todos esses elementos têm importância e devem ser observados. Os gestos, se bem utilizados, podem evitar situações desagradáveis ou repetições desnecessárias. Fonte da Imagem: Farhad Bek / Shutterstock Em vez de o mediador chamar a atenção de uma parte repetidas vezes, sempre que esta interrompe a fala da outra parte, basta um simples gesto com a mão, acompanhado de uma amena expressão facial, para que a parte entenda que naquele momento não deve interromper. Devem ser evitados gestos bruscos, hostis ou excessivamente enérgicos. A comunicação não verbal é tão importante quanto a comunicação verbal, principalmente em relação ao rosto, cuja capacidade de expressão é extremamente signi�cativa. O psicólogo norte-americano Paul Ekman declarou que o rosto humano é capaz de exibir mais de dez mil expressões. O rosto é um verdadeiro laboratório da psicologia das emoções e ser capaz de elaborar o seu mapa, a sua geogra�a, não está dissociado de outras dimensões da linguagem corporal, como o comportamento espacial, o contato corporal, a distância interpessoal, a orientação, os gestos típicos, a postura e o próprio olhar. Observe: Atenção , A série “Lie to me” traz as investigações de uma equipe formada por especialistas em detectar mentiras. As mínimas expressões e gestos são interpretados por esses cientistas do comportamento, que prestam seus serviços para diversas entidades como o FBI, a polícia, empresas particulares ou, algumas vezes, pessoas que estejam dispostas a descobrir a verdade sobre o que alguém pode estar escondendo.Questão 1 - A expressão corporal é muito utilizada na vida cotidiana e no âmbito judicial como meio de provas. Quanto ao sentido das expressões corporais, assinale a opção INCORRETA. A - As expressões corporais podem auxiliar também na redução de outras questões e de outras dúvidas, que as próprias autoridades podem suscitar ao longo do processo. Assim no Processo Penal ou no inquérito, as expressões corporais tornam- se poderosas aliadas na busca de uma resposta que ainda não existe. B - A linguagem corporal é uma importante aliada na audiência de conciliação, pois ajuda não somente a estabelecer a empatia, mas favorece também o diálogo entre as partes. p , g p C - Quando as pessoas estão em uma negociação, como no caso da audiência, o juiz, o conciliador e até mesmo os advogados podem aprender a ler os sinais que as pessoas emitem, se estão dispostas a uma possível negociação ou se estão fechadas. Braços e pernas cruzadas quando alguém está verbalizando, por exemplo, sinaliza claramente que essa pessoa não está aberta a nenhuma tipo de negociação. O jeito, portanto, nesse caso, é retroceder. D - A linguagem corporal auxilia na criação da empatia entre os partícipes da audiência, indispensável para que seja obtida a conciliação. Em sentido contrário, pode estabelecer um clima de antipatia que impede o diálogo e, com ele, a colaboração para uma solução amigável. E - A linguagem corporal é de fácil compreensão, logo não precisa ser especialista ou estudioso no assunto, basta decorar o signi�cado de cada linguagem corporal que a interpretação, juntamente a outros comportamentos, como as pistas deixadas pelas partes, já serão su�cientes para um consistente entendimento. Justi�cativa Questão 2 - Quais as vantagens do mediador fazer um acolhimento com um sorriso? Há outras formas de linguagem não verbal que também auxiliam a mediação? Resposta Correta Questão 3 - Identi�que se a frase abaixo contém expressão explícita de sentimentos. Justi�que a sua resposta. “Meu marido vive me dizendo que me ama, mas não demonstra isso com suas ações.” Resposta Correta Questão 4 - Identi�que quais são os sentimentos implícitos contidos no discurso abaixo e justi�que o seu entendimento sobre eles. Ao proceder a essa identi�cação, presuma que está em uma sessão individual. Busque fazer uso de linguagem neutra e produtiva para a mediação. “Dei à Teresa tudo o que uma mulher poderia querer de um marido (Pedro): roupas, paguei os estudos dela, apoiei os pais dela comprando uma casa para eles e agora ela vem me dizer que quer se divorciar por ter um outro ― isso é muito injusto!” Resposta Correta Questão 5 - Indique o pedido implícito que consta do discurso abaixo. Traduza-o para uma linguagem conciliatória. “Não aceito dividir o dinheiro dos direitos autorais com esta mulher, pois ela, quando encerramos nossa sociedade, esvaziou a conta conjunta que a gente tinha.” Resposta Correta Questão 6 - O anúncio publicitário está intimamente ligado ao ideário de consumo quando sua função é vender um produto. No texto apresentado, utilizam-se elementos linguísticos e extralinguísticos para divulgar a atração “Noites do Terror”, de um parque de diversões. O entendimento da propaganda requer do leitor: A - A identi�cação com o público-alvo a que se destina o anúncio. B - A avaliação da imagem como uma sátira às atrações de terror. C - A atenção para a imagem da parte do corpo humano selecionada aleatoriamente. D - O reconhecimento do intertexto entre a publicidade e um dito popular. E - A percepção do sentido literal da expressão “noites do terror” equivalente à expressão “noites de terror”. Justi�cativa Questão 7 - Considerando que duas pessoas desconhecidas, envolvidas em um acidente de trânsito sem vítimas, tenham, em razão do estresse e dos danos causados aos veículos, discutido e não chegado a nenhum ponto comum, analise as sentenças e assinale a opção correta no que se refere aos métodos extrajudiciais de soluções de con�itos. I - Se o caso for tratado pela mediação, é papel do mediador apontar as vantagens de um acordo, mesmo que com concessões mútuas, a �m de evitar prejuízos e desgastes emocionais; II - O conciliador toma decisões em vez de dar às partes a oportunidade de aceitar ou não a solução; III - Segundo as orientações do Novo CPC, a conciliação é o procedimento de autocomposição adequado a esse caso; IV - A discriminação pelas diferenças pessoais deve ser prioridade na resolução desse con�ito. É correto apenas o que está em: A - I e III B - II e IV C - II e III D - I e II E - I e IV Justi�cativa Questão 8 - Acerca de laudo pericial, assinale a opção incorreta. A - Laudo pericial é a conclusão a que chegam os peritos, exposta na forma escrita, devidamente fundamentada, constando todas as observações pertinentes ao que foi veri�cado e contendo as respostas aos quesitos. B - Entre os elementos do laudo do exame de corpo de delito estão o preâmbulo e o histórico. C - Permite-se aos peritos optar por descrições sucintas e resumidas ao retratarem uma inspeção, e as partes não podem questionar o conteúdo do laudo, solicitando ao juiz que determine aos peritos a sua complementação. D - A discussão é a parte do laudo em que se realiza a análise minuciosa dos dados encontrados, esclarecendo hipóteses e divergências, trajeto de instrumentos, entre outros, muitas vezes com auxílio de citações bibliográ�cas. É nesse momento que se deve esclarecer dúvidas a respeito dos termos técnicos e das siglas utilizadas no laudo. E - Não devem ser deixados quesitos sem resposta, mesmo que o resultado seja indeterminado ou sem elementos para con�gurar a resposta. Justi�cativa Glossário
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