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BIOQUÍMICA CLÍNICA HEPATOGRAMA O fígado é o maior órgão do corpo humano pesando em torno de 1,5kg, localizado no quadrante superior direito do abdômen abaixo do diafragma. Ele é provido de um suprimento sanguíneo duplo, onde o sangue do baço e TGI, que é rico em nutrientes, vem através da veia porta. E, em seguida, ele será alimentado pela artéria hepática com o sangue rico em O2, que é oriundo da circulação central hepática. Sua drenagem venosa ocorre pelas veias hepáticas direita e esquerda e pela veia cava inferior. O fígado é capaz de exercer três funções: metabólica, excretora e sintética. 1. Metabólica: produção de lipídeos, glicose, amônia e sais biliares. Além disso, há a metabolização de fármacos e detoxificação de xenobióticos e amônia. 2. Excretora: eliminação de substâncias do corpo, principalmente da bilirrubina, que é um produto da metabolização da hemoglobina. 3. Sintética: Produção de albumina, outras proteínas plasmáticas e de fatores de coagulação. Além disso, ele realiza a síntese de lipídeos e lipoproteínas. O fígado está envolvido diretamente na metabolização de fármacos, hormônios e ânions orgânicos. Estas substâncias, para serem eliminadas, precisam passar por reações de fase I, que são reações de oxidação e hidroxilação, e de fase II, que é de conjugação com compostos polares. Estas substâncias produzirão compostos hidro ou lipossolúveis e esses serão excretados através da bile ou urina. Os ácidos biliares, provenientes do colesterol, também são metabolizados pelo fígado e formam a bile, em uma qualidade de 600 a 1000 ml por dia, e são conjugados com glicina ou taurina, formando sais biliares. Esses sais biliares estão relacionados aos processos digestivos, sendo necessários para a absorção de gordura e de vitaminas lipossolúveis. Para realizar diagnóstico de doenças, os sais biliares são afetados, em algumas situações onde há disfunção hepática, mas eles não costumam ser utilizados na clínica. Na figura, vemos o colesterol que será convertido em ácidos biliares primários (ácido clórico (?) e o (?)), que irão sofrer desidroxilação e serão conjugados formando os sais biliares. A bilirrubina é um produto de degradação do produto Heme, que não pode ficar circulando na corrente sanguínea, e está relacionada a essa detoxificação. Para ser eliminada, a bilirrubina precisa ser conjugada com o ácido glicorônio. Temos as hemácias velhas, que serão destruídas. E, no baço, vão ser capturadas, filtradas e fagocitadas pelas células do sistema fagocítico. Dentro do macrófago, a hemoglobina será degradada, liberando as cadeias proteicas, o ferro e o grupamento heme. Este sofre sua primeira reação, que é a da hemeoxigenase e depois sofre a segunda reação dela bileverdinaredutase e será transformado em bilirrubina não-conjugada, que não é solúvel, logo, precisa da ajuda da albumina para ser conjugada. Ao chegar no fígado, a bilirrubina será conjugada nos hepatócitos e esses são eliminados pelos canalículos biliares para a vesícula biliar, e dali serão no intestino, junto com a bile. No TGI, teremos a bilirrubina conjugada, que será metabolizada pela microbiota intestinal formando urobilínogênios, que podem ser: estercobilina, mesobilina e urobilina, que serão eliminados nas fezes. Porém ocorre a absorção deles no sangue por eles serem hidrossolúveis, ou seja, facilmente recaptados. Ao chegar no sangue, eles são filtrados pelos rins ou recaptados de novo pelo fígado. Algo que está sempre relacionado a doenças colestáticas, que são doenças relacionadas a produção de bile ou obstrução/eliminação da bile no lúmen intestinal, é a coloração das fezes (sem cor). A principal função sintética do fígado é para a síntese de proteínas. Dentre essas proteínas a mais abundante é a albumina. Essa é uma proteína plasmática é responsável pela pressão osmótica e pelo transporte de compostos pouco solúveis. Temos também a ceruloplasmina, que é uma proteína carreadora de cobre e está envolvida em processos de oxidação de Ferro no plasma. A haptoglobina é uma proteína capaz de se ligar à hemoglobina livre, gerando um complexo de alto peso molecular que serão captados por macrófagos e após a captação, temos o processo de destruição do grupo heme. A transferrina é uma proteína capaz de transportar o ferro livre pelo sangue. Essas três proteínas acima são responsáveis por diminuir a toxicidade da hemoglobina livre. Se tivermos rompimento de hemácias na corrente sanguínea, esse processo será contido por essas proteínas. Temos também o conjunto de proteínas de coagulação e elas são essenciais para o processo hemostático. Se um paciente há uma doença muito grave, ele também terá problemas de coagulação. E também poderá ter problemas tireoidianos, pois o fígado também é responsável pela síntese da transtirretina. E por fim, temos a alfa1-antitripsina que é uma inibidora de proteinases e a alfa-fetoproteína que é importante no soro fetal, mas não está presente em adultos em situações normais. As disfunções hepáticas são manifestações clínicas da doença hepática, sendo a principal a icterícia, que é o depósito de bilirrubina na pele, mucosa e esclera, podendo ser chamada de pré ou pós-hepática. Há também a hipertensão portal que consiste na obstrução do fluxo sanguíneo em qualquer ponto da circulação porta, que pode gerar sangramento das varizes esofágicas, ascite (acúmulo de líquidos no peritônio) e síndrome hepatorrenal, que é quando uma diminuição da função renal. Também ser observado distúrbios da hemostasia, se o fígado não está funcionando bem, não há síntese dos fatores de coagulação e essa alteração nos fatores de coagulação leva a sangramento, mas pode também ser afetado pela CID (coagulação intravascular disseminada), que ocorre quando há liberação de tromboplastina tecidual e nesse caso temos o consumo dos fatores de coagulação de forma intensa. DOENÇAS HEPÁTICAS São chamadas de hepatites e podem ser classificadas como hepatite aguda e crônica 1. Hepatite aguda: quando há uma lesão aguda no hepatócito. a) Hepatite viral aguda: pode ser causada por cinco tipos de vírus (A,B,C,D e E), citomegalovírus e também pelo herpes simples. A hepatite A ocorre pela ingestão de água contaminada ou alimentos. A hepatite B normalmente é transmitida por secreções corporais, sendo sexuais ou parenterais. E a hepatite C é transmitida através do plasma. b) Hepatite alcoólica aguda: causada pelo consumo do álcool, que resulta em doença febril aguda, leucocitose e aumento de proteínas de fase aguda, que são relacionadas a processos inflamatórios intensos c) Hepatite tóxica: é quando ocorre a lesão direta do hepatócito por toxinas ou metabólitos tóxicos e está relacionada a dose do agente ingerido. d) Síndrome de Reye: é um caso de encefalopatia aguda, que gera disfunções neuropsiquiátricas, combinada com degeneração gordurosa dos órgãos que é associada ao uso de aspirina em infecções virais. e) Hepatite isquêmica: hipoperfusão hepática, ou seja, uma isquêmia que impede a passagem do sangue pelo fígado. 2. Hepatite crônicas: quando há lesão inflamatória persistente que atinge os hepatócitos por um período acima de seis meses. Nesses casos, se observam atividades necro-inflamatórias e fibrose. a) Hepatite B crônica: pode ser diagnosticada pela persistência do antígeno HBsAg b) Hepatite C crônica: não entendi c) Esteatose hepática não alcoólica (NASH): doença associada à gordura e inflamação no fígado em pacientes que não ingerem álcool. d) Hepatite auto-imune: progressão rápida e leva rapidamente a cirrose. e) Doenças hereditárias: hemocromatose, deficiência e doença de Wilson. Doença hepática alcoólica: tem comofatores de risco a duração e magnitude do abuso de álcool, sexo, presença de uma co-infecção e o estado nutricional. A cirrose é uma fibrose difusa com regeneração nodular que representa o estágio final da formação de cicatriz e regeneração da lesão hepática crônica, ou seja, o tecido sofre a lesão destruindo os hepatócitos e esse tecido vai ser sendo substituído pelo tecido de recuperação. Além das hepatites, há também a doença hepática colestáticas, que são doenças relacionadas a formação de cálculos biliares. Há vários tipos de colestase, que é o bloqueio ou supressão do fluxo da bile, retendo-a dentro do sistema excretor. E pode ser classificada como intra ou extra-hepática, pois isto está relacionado onde ocorre a obstrução. Essa obstrução causa uma má absorção dos lipídeos e das vitaminas lipossolúveis, pois os sais biliares não estão sendo disponibilizados na luz intestinal. A obstrução também pode causada pela cirrose biliar primária, que é um distúrbio auto-imune que ocorre nos ductos biliares intra- hepáticos e a colangite esclerosante primária, doença inflamatória, que vai afetar os ductos biliares extra-hepáticos. Os tumores hepáticos podem ser de origem hepática primários, que são os gerados no fígado, ou secundários. Nos casos de tumor hepático primeiro, há a presença de cirrose. E o principal fator de risco é a infecção por vírus da hepatite B ou C, e o diagnóstico laboratorial da função hepática é inespecífico. O hepatograma é conjunto de dosagens laboratoriais para a avaliação da função e lesão hepática e ele aborda a avaliação das enzimas hepáticas, dosagens de albumina, dosagens de bilirrubina e fatores de coagulação. O padrão das enzimas liberadas e o grau da elevação da atividade da enzima estão relacionados ao tipo de doença hepática. As enzimas possuem especificidade tecidual, distribuição dentro da célula, perfil da atividade da enzima no fígado e plasma, padrões de liberação e tempo de remoção do plasma. As enzimas citoplasmáticas, que são aquelas relacionadas com a hepatite, são o aspartato aminotransferase (AST) e a alanina aminotransferase (ALT). Estas enzimas não estão presentes apenas no fígado, mas quando são encontradas em nível elevado em conjunto, significa que houve uma lesão hepática. Podem ser encontradas no coração (AST), fígado (AST e ALT), músculo esquelético (AST) e rim (AST e ALT). Já as enzimas membranares são a fosfatase alcalina (FA) e a gama-glutamil transferase (GGT), e o mesmo ocorre aqui: a FA está presente no fígado, rins e ossos, enquanto a GGT está presente do túbulo renal proximal, fígado, pâncreas e intestino. Mas quando temos o aumento característico das duas, podemos relacionar isso a doenças hepáticas (colestática). Quando temos uma lesão no hepatócito, como hepatite, há um rompimento do hepatócito e com isso há uma grande liberação do conteúdo citoplasmático da célula. A AST promove a transferência de um grupo amino presente no aminoácido L-aspartato para o alfa-cetoglutarato, e quando ocorre essa transferência, há a geração de oxaloacetato e L- glutamato. O OAA não consegue ser quantificado, pois não possuem nada caracteristico para ser detectado, logo, precisa de uma segunda reação em que o OAA reage com o NADH com presença de malato desidrogenase (MDH) formando malato, que indicará a doença. Valor de referência (soro ou plasma): até 42 U/L Já a ALT transfere o grupamento amina pro alfa- cetoglutarato formando piruvato e glutamato. E para quantificar o piruvato, é preciso que ele reaja com NADH em presenta a lactato desidrogenase (LDH), o que forma lactato. Valor de referência (soro ou plasma): até 41 U/L Nos dois casos, a diminuição do NADH que irá indicar a atividade da enzima no plasma do paciente. A GGT é capaz de realizar a transferência de um grupamento gama-glutamil. Nesse caso, a reação ocorre com o gama-glutamil-p-nitronilida com a glicilglicina em pH 8,2, há a produção de gama- glutamilgliciglicina e a p-nitronilina. A p-nitronilina pode ser detectada à 405nm e possui o valor de referência de 15-60 U/L em homens e 10-40 U/L em mulheres. A FA realiza uma hidrólise alcalina de grupamento fostato. No método que é utilizado (método do p-nitrofenol), temos o composto 4- nitrofenil-fosfato (incolor) que na presença de água e em pH alcalino, ALP e magnésio é capaz de gerar o 4-nitrofenóxido (incolor na forma benzenoide). Este, em pH alcalino, sofre rearranjo formando o 4-nitrofenóxido na forma quinonóide que possui uma cor amarela e pode ser detectado à 590 nm. Valor de referência: até 42 U/L. A albumina plasmática é uma proteína produzida em grandes quantidades e possui um tempo de circulação na corrente sanguínea de 10 a 15 dias. Se a albumina está em uma concentração boa hoje, só será possível detectar algum tipo de alteração daqui a 15 dias. Essa proteína não é específica, ou seja, pode ser indicativo de outros problemas além da lesão hepática, como nos casos de distúrbios inflamatórios, desnutrição e síndrome nefrótica. Ao longo do tempo a albumina vai diminuindo, o que faz com que ela seja útil na cronicidade e gravidade da lesão hepática. A dosagem é feita através do método colorimétrico onde a albumina se liga ao corante verde de bromocresol e esse composto absorve luz na faixa de 620-640 nm, sendo capaz de detectar. Quanto mais albumina, mais cor terá. O valor de referência é de 3,5 a 5,5 g/dL no soro. A eletroforese de proteínas é um tipo de teste que pode ser realizado com o plasma do paciente para ver quais tipos de proteína há ali. Em cada pico, temos mais de um tipo de proteína, porém se esse padrão estiver se repetindo significa que o paciente está produzindo proteínas em quantidades normais. Se há variações nesses picos, há uma indicação de doença (vários tipos). A bilirrubina também vai auxiliar na avaliação da lesão hepática, pois dependendo do tipo que é detectada temos um indicativo que pode ser de doença hepática ou colestática. Se temos uma hepatite, significa que o hepatócito foi rompido e há uma menor conjugação da bilirrubina, logo, nesses casos há um aumento da bilirrubina. Se há uma lesão colestática, temos a função hepática sendo exercida normalmente, mas não temos a excreção, o que resulta no acumulo da bilirrubina conjugada. Em casos de icterícia do neonato, o quantitativo de bilirrubina é extremamente útil. Todo bebê recém nascido possui um valor de referencia de bilirrubina em 15 mg/dL em soro, pois esse bebê possuía uma grande quantidade de hemoglobina que ele não precisará mais. A luz azul ajuda a degradar a bilirrubina acumulada na pele, mucosas e etc. A dosagem da bilirrubina acontece através do método diazo. Este método teremos a reação da bilirrubina conjugada (BD) com o ácido sulfanílico diazotado que gera o azobilirrubina que pode ser detectado à 540 nm. A bilirrubina total (BT) será dosada através da utilização de um composto que vá competir pela albumina com a bilirrubina, podendo ser o metanol ou cafeína. O metanol/cafeína será capaz de deslocar a bilirrubina não conjugada, desfazendo a interação com a albumina. Após isso, há a reação da bilirrubina não conjugada e conjugada com o ácido sulfanílico diazotado, formando azobilirrubina. O valor de referencia são de até 1,0mg/dL no soro. A bilirrubina não conjugada (BI) só consegue ser dosada através da diferença de BT com BD. Seu valor de referência, em soro, é de 0,2-0,8 mg/dL. A forma mais rápida de avaliar a capacidade sintética do fígado é através da coagulação, pois esses fatores são consumidos muitos rápidos. (protrombina). Nos casos de doenças hepatocelulares e nas colestases, temos um tempo de coagulação prolongado, mas em cada caso temos uma causa diferentepara esse tempo ter variado. Quando temos doenças hepatocelulares, teremos esse tempo prolongado, mas se for administrado vitamina K não teremos a variação no tempo. Mas se temos uma doença colestática, significa que esse tempo prolongado não ocorreu por conta da função hepática, mas pq você não está conseguindo absorver vitamina K em quantidades necessárias, logo, quando a vitamina K é administrada de forma parenteral temos a correção do tempo de coagulação. ELEMENTOS ANORMAIS E SEDIMENTOS O sistema urinário é responsável pela filtração do sangue. Por minuto, passa 1200 mL de sangue nos rins, logo, 180L são filtrados diariamente e há a formação de 1-2 litros de urina. O sistema urinário é composto por dois rins que realizam a filtração do sangue que vai ser conduzido através dos ureteres para a bexiga. Na bexiga, o líquido filtrado é armazenado e eliminado através da uretra. Os rins são compostos por unidades básicas chamadas de néfrons, que são compostos glomérulos que são envoltos pela capsula de balman (não lembro como escreve) e é onde realmente ocorre a filtração da urina. As funções renais são eliminar resíduos metabólicos (ureia, creatinina, ácido úrico, ácidos orgânicos, bilirrubina conjugada, drogas e toxinas); reter nutrientes (proteínas, aminoácidos, glicose, sódio, cálcio, potássio, bicarbonato e água); regular o equilíbrio ácido-básico; sintetizar eritropoietina, renina, prostaglandina e ativar a vitamina D. O EAS é um exame de urina, então, ele tem como sinônimos: exame qualitativo de urina (EQU); exame comum de urina (ECU); exame de urina tipo 1; urina de rotina; sumário de urina; pesquisa dos elementos anormais e sedimentos (PEAS). E esse exame é importante para o estudo de doenças renais/trato genito-urinário e serve para acompanhar doenças sistêmicas, como triagem de doenças assintomáticas. Além disso, esse exame possui como vantagem o fato de ser um exame simples, de baixo custo e não-invasivo. Como coletar a urina: 1. Lavar bem as mãos; 2. Abrir o frasco sem tocar na parte interna; 3. Desprezar o primeiro jato de urina; 4. Lavar a região genital; 5. Coletar a urina (cerca de mL); 6. Desprezar a parte final; 7. Levar imediatamente ao laboratório ou manter em geladeira por até 8h. Para alguns exames, é recomendável que seja coletada a primeira urina da manhã, por ser mais concentrada. OBS: o inicio e o final da urina são mais ricos de sedimento, pois existem bactérias/células que vão se acumulando na uretra no período em que a pessoa não urinou e elas serão eliminadas no primeiro jato; no ultimo jato existem células epiteliais/bactérias/leucócitos/hemácias etc que podem ficar acumulados em maior quantidade no fundo da bexiga e esse sedimento final também será exagerado. A urina é coletada em frascos de plástico incolor para que seja de fácil observação e esses frascos possuem uma capacidade de 50-100mL. O EAS é composto por três etapas: exame físico, exame químico e análise de sedimento. ANÁLISE FÍSICA O exame físico avalia os parâmetros físicos dessa urina. Cor da urina: indica o estado hidratação do paciente e a presença nos pigmentos naturais: urocromo (amarelo), uroeritrina (vermelho) e urobilina (laranja). As alterações na cor da urina podem ser causadas por alimentos, medicamentos, patologias e produtos metabólicos. O importante não é a definição exata da cor, mas a constatação de se a cor está normal ou anormal. Odor: o odor normal é descrito como sui generis e este não precisa ser meticulosamente avaliado. O anormal pode ser: 1. Odor fétido que ocorre por conta de processo infeccioso 2. Odor amoniacal que ocorre pela transformação de ureia em amônia por bactérias 3. Odor frutado que é causado pelos corpos cetônicos em pacientes diabéticos. Presença de espuma: é um procedimento recomendado pelo NCCLS, mas não é reconhecida pela NBR 15268. Essa presença de espuma é um indicativo de bilirrubina e albumina, que é presente na amostra pelo extravasamento de proteínas do plasma quando a filtração glomerular não ocorre de forma adequada. Aspecto: é o nível de turbidez da urina. Esta, normalmente, se encontra límpida, mas em algumas situações pode ocorrer a turbidez da amostra. E isso é indicativa de alguma doença ou de coleta inadequada. Em casos de infecção bacteriana, temos o aumento de turbidez por conta da presença de bactérias ou pela presença de leucócitos, células que vão compor o pus. Depósito: é quando essas partículas, diferentes tipos celulares que podem ser encontrados na urina, são encontrados em grande quantidade e eles se depositam no fundo. Para fazer essa avaliação da urina, é necessário que, inicialmente, veja se há a presença de deposito, depois a amostra precisa ser agitada para ver se esses depósitos se transformam em turbidez. E os sedimentos serão observados após a centrifugação. Densidade: pode ser feita através de densitômetros/urinômetros que vão ser mergulhados na urina para calcularem a densidade que é a massa de 1 mL de urina pela massa de 1mL de água. Mas, em geral, são utilizadas as tiras reativas. Os valores de referencia são entre 1,003 a 1,030. Através da densidade da urina podemos concluir a hipoestenúria ou hiperestenúria, ou seja, uma densidade baixa ou uma densidade alta que podem ser patológicas ou não. Já a isostenúria é patológica e isso significa que a filtração glomerular não está funcionando da forma mais adequada, estando relacionada com a incapacidade dos rins em concentrar ou diluir a urina de acordo com o nível de hidratação do paciente. ANÁLISE QUÍMICA Na análise química, é utilizada tira reativas que, no geral, contem 10 áreas. As tiras observam: bilirrubina, corpos cetônicos, densidade, glicose, Hb, leucócitos, nitrito, pH, proteínas e urobilinogênio. Essa é uma avaliação semi-quantitativa, onde iremos observar a cor com o padrão existente. Para cada analito é esperado um tempo especifico. Então, para algumas é feita a identificação após o mergulho na urina, e em outras é necessário esperar em torno de 120s. Análise de pH: os rins, junto com o pulmão, possuem uma capacidade de manter constante a concentração de hidrogênio e o pH do sangue, que precisa ser próximo de 7,4. Por isso, o pH da urina fica entre cinco e seis. A acidose pode ser causada por: DM descompensado, pneumonia e dieta cetogênica (rica em proteína) E a alcalose pode ser causada por: dieta vegetariana ou baseada em leite, medicação a base de antiácidos e presença de bactérias. Quantificação de proteínas: as proteínas, normalmente, não devem ser detectadas na urina, porém a presença de proteína na urina pode ser um indicativo de lesão renal. Os valores de referência de 24h (dois litros de urina) são entre 10 a 150mg de proteína, mas na urina da manhã as proteínas não devem ser detectadas em níveis perceptíveis. Em casos de febre, frio ou exercício intensos, os rins dos pacientes não funcionam adequadamente, logo, há uma presença de proteína na urina. Glicose: em indivíduos normais, há uma quantidade não detectável de glicose girando em torno de 1 a 15mg/dL, mas em casos de pacientes diabéticos, há glicemia é elevada fazendo com que haja mais de 180mg/dL. Cetonas: serão indicativos de cetonuria, que não ocorre em condições normais e são indicativos de corpos cetônicos. Esses corpos estão presentes na urina em situações patológicas, como diabetes, bulimia, gastroenterite, dieta pobre em carboidrato ou jejum prolongado. Bilirrubina: sempre aparece em situações patológicas (doenças hepáticas) e sua aparição é chamada de bilirrubunúria. A bilirrubina não conjugada é insolúvele transportada ligada à albumina, logo, não é encontrada na urina. Já a bilirrubina conjugada é solúvel e filtrada pelo glomérulo, logo, pode ser encontrada na urina quando estiver em excesso no sangue. Urobilinogênio: associado com doenças hepáticas e ajuda a diferencia icterícia. Quando temos um aumento de bilirrubina e o urobilinogênio em situações normais ou abaixo no nível, temos um caso de icterícia obstrutiva. Mas em situações onde o urobilinogênio está aumentado e a bilirrubina em níveis normais, há um caso de hemólise intravascular. É ideal que para a detecção de urobilinogênio se use uma urina recém coletada, pois essa proteína é lábil (sensível a luz) e forma urobilina, que não é reativa. Hemoglobina: será detectada na sua forma livre, mas também pode haver a detecção de hemácias. Em forma livre, pode acontecer por anemia hemolítica, talassemias, anemia falciforme ou outra causa de hemólise intravascular acentuada. Além disso, essa hemoglobina pode indicar também infecções no trato urinário, uso de fármacos anticoagulantes e traumatismos. É importante observar também que hemoglobinúria não é a mesma coisa que hematúria. E quando for ser feita a dosagem com a fita, é importante que homogeneíze a amostra, ou seja, ser feita antes da centrifugação. Nitrito: é útil para triagem de pacientes assintomáticos com infecção urinária, pois ele será produzido como consequência da ação indireta de bactérias redutoras e conversoras de nitrato (presente na alimentação) em nitrito. É necessário que o paciente não esteja fazendo uso de antibióticos ou quimioterápicos, pois pode haver a interferência no resultado. Esterase: é uma enzima que está presente nos leucócitos, que são marcados de infecções no trato-urinário. Esse teste é de alta sensibilidade e especificidade. Além disso, é detectada dentro e fora da célula. Só ocorrem resultados falso-negativos em situações de urinas hipotônicas ou com o uso de antibióticos. Ácido ascórbico: não é um indicador importante no EAS, porém é capaz de interferir no resultado de outros testes (glicose, esterase, bilirrubina, nitrito e hemoglobina). Valores de referência: 1. Urobilinogênio: normal 2. Proteínas: ausentes 3. pH: 5,0 a 7,0 4. Cetona: ausência 5. Bilirrubina: ausência 6. Glicose: ausência 7. Densidade: 1005 a 1020 8. Nitrito: ausência 9. Hemoglobina: ausência Ao longo do tempo, em uma urina não refrigerada, temos essas alterações: ANÁLISE DO SEDIMENTO O sedimento é qualquer partícula em suspensão na urina que precipita após a centrifugação. Podendo ser observado na microscopia de campo claro e de contraste de fase. Os métodos de coloração não são recomendados pela NBR 15268, porém podem facilitar a identificação dos sedimentos. No sedimento podemos encontrar: Células epiteliais escamosas: apresenta núcleo pequeno e condensado. O normal é que tenham poucas dessas células. Células epiteliais de transição: se estiverem em número aumentado há infecção urinária. Células epiteliais tubulares renais: sem a utilização de corantes é difícil de se identificar e diferenciar; Sua presença maciça pode significar necrose tubular agua, infecções bacterianas, virais, inflamações, neoplasias e até pacientes com rejeição de rim transplantado. Os leucócitos são células mais redondas, sem marcação de núcleo. As hemácias são bem menores e tem aparência de anel. Leucócitos: presença deles indica leucocitúria/piúria, em que você tem essas células presentes por conta de uma infecção. Possui um citoplasma granulado e núcleo lobulado. O normal é haver menos de 5 leucócitos por campo. Sua identificação constitui uma indicação de patologia inflamatória do trato urinário ou genital, geralmente do trato urinário superior, que é mais vascularizado Hemácias: o normal é menos de 2 hemácias por campo. Dá para ter uma noção do grau de hematura da urina pela coloração, uma urina com uma hematura grande vai ser mais avermelhada. Caso se encontre Hb+ e sem hemácias, é importante considerar a possibilidade de hemólise, repetindo o exame com urina fresca. Hemácias fantasma: membrana rompe em urina hipotônica Hemácias dismórficas: protusões celulares ou fragmentadas. Indicam sangramento glomerular (porque ela precisou transitar no aparelho renal até ser eliminada, passando por várias condições de urina e vai sofrer alterações). Numa urina hipotônica, pode haver hemácias dismórficas Alterações de pH do glomérulo ou traumatismo mecânico Cilindros: são componentes do sedimento que tem origem exclusivamente renal, porque está associado à proteinúria e vai ser formado por causa do mal funcionamento glomerular (a proteína, pelo glomérulo não funcionar bem, vai se acumular nos túbulos, formando precipitados que vão adquirir o formato do túbulo). Também pode conter células e outras estruturas. O componente majoritário é a proteína de Tamm- Horsfall. Variam em aparência, tamanho, forma e estabilidade, causando uma difícil identificação. Sua denominação depende da presença ou não de inclusões: hialinos, epiteliais, granulosos, eritrocitários, céreos, leucocitários, bacterianos, adiposos e de cristais. Cilindros hialinos: formados apenas pela proteína Tamm-Horsfall, que são proteínas do plasma que extravasaram durante a filtração e ficaram retidas nos túbulos; difícil visualização; é normal em pequenas quantidades, quando aumentada pode indicar ICC, febre, desidratação, exposição ao frio e exercícios Cilindro céreo: evolução do cilindro hialino. É como se o cilindro hialino ficasse mais ressecado. Pode haver uma falência renal tão grave que até lipídios estão sendo extravasados para a urina e acumularam para a formação do cilindro gorduroso. Cristais: são compostos por sais urinários que estão presentes na urina e precipitam quando fatores alteram sua solubilidade (pH, temperatura, concentração); medir o pH da urina é fundamental para saber qual sal pode ter precipitado e fazer a correlação Sedimento amorfo: sedimentos na urina que não são identificáveis. Tem menor significado que os demais elementos e nem sempre indica patologia. Cristais de urina normal ácida: Cristais amorfos: uratos de sódio, potássio magnésio e cálcio. Precipitam após muito tempo em pH ácido. Dissolvem com calor (60ºC) e formam cristais de ácido úrico com a adição de ácido acético. Uratos cristalinos: sódio, potássio, amônio. São esferas levemente marrons, detectadas em pH levemente ácido. Também formam cristais de ácido úrico com a adição de ácido acético. Cristais de ácido úrico: ocorrem em pH baixo (5- 5,5), tem formas diversas. São encontrados em pacientes com gota ou em quimioterapia. Os pacientes com gota têm uma alta de ácido úrico e os pacientes em quimioterapia tem uma morte celular muito grande e com isso, ácidos nucleicos, que dão origem ao ácido úrico. Cristais de oxalato de cálcio: refletem doença renal severa ou intoxicação por etilenoglicol Cristais de urina normal alcalina: Fosfatos amorfos (cálcio e magnésio): aparência granular Fosfatos cristalinos: são mais facilmente identificáveis; variam de tamanho Carbonato de cálcio Biurato de amônio *Todos têm pequena importância clínica Cristais encontrados em urinas anormais (indicativos de doença): Cristais de cistina: cristais mais importantes, ocorrem em pacientes com cistinúria => indicam cálculo de cistina Cristais de Leucina e Tirosina: muito raros, podem ser encontrados em pacientes com doenças hepáticas graves ou doenças inatas do metabolismo. Outros achados: muco, bactérias, leveduras (geralmente em diabéticos), parasitas ou seus ovos. Normalmente não são encontrados na urina, então, sempre que encontrados, indicam infecção urinária ou parasitose Carboidratose correlações clínicas Os carboidratos podem ser fonte energética; são polímeros insolúveis que podem servir como elementos estruturais e protetores; são lubrificantes de junções esqueléticas; podem participar do reconhecimento e adesão entre células; e são polímeros que são covalentemente ligados a proteínas ou lipídios e vão agir como sinalizadores. Os carboidratos são classificados como monossacarídeo se eles forem formados por uma única molécula de polihidroxi aldeído ou cetona, que é o caso da glicose. E eles são oligossacarídeos se forem formados por pequenas cadeias de monossacarídeos ou resíduos por ligações glicosídicas, que é o caso da sacarose (dissacarídeo). E os carboidratos também podem ser polissacarídeos, que são polímeros com mais de 20 unidades de monossacarídeos, que podem ter cadeias lineares (celulose) ou ramificadas (glicogênio). Os carboidratos serão, primariamente, digeridos na boca pela alfa-amilase salivar durante a mastigação. E os principais carboidratos que sofrem esse processo são o amido, sacarose e lactose. E o término do processo de digestão é feita pela alfa-amilase pancreática quando o carboidrato chega ao intestino delgado, no duodeno, onde produzem maltose e dextrinas através de hidrólise. As células intestinais (enterócitos) produzirão quatro enzimas: lactase, sacarase, maltase e alfa-dextrinase, que serão capazes de clivar os dissacarídeos nos monossacarídeos que os compõem • Lactose: galactose + glicose • Sacarose: frutose + glicose • Maltose: duas moléculas de glicose • Dextrina: n glicoses As vias envolvidas no metabolismo da glicose são: • Glicólise: metabolismo da molécula de glicose que gera piruvato ou lactato para produção de energia • Gliconeogênese: formação da glicose-6- fosfato a partir de fontes não-glicídicas • Glicogenólise: quebra do glicogênio para gerar glicose para a produção de energia • Glicogeniogênese: conversão de glicose a glicogênio para realizar o armazenamento da energia quando não há necessidade de consumo imediatamente. A concentração de glicose no sangue do indivíduo será mantida no sistema tampão principalmente pelo fígado e regulado por hormônios produzidos pelo pâncreas. No jejum, temos uma glicose de 70 a 99 mg/dL no sangue. E, no estado alimentado, temos 120 a 140 mg/dL no sangue na primeira hora após uma refeição. Para voltarmos aos valores basais de glicose, precisamos da ação da insulina que irá levar esse rápido retorno da concentração de glicose aos níveis de controle, que ocorre dentro de duas horas após a última absorção de carboidratos. E no estado de inanição, esses valores serão mantidos pela gliconeogênese no fígado, que fornecerá a glicose necessária para manter o nível de glicemia. Em condições naturais, a glicemia é mantida em valores normais por alguns mecanismos regulatórios. Após uma refeição, temos a liberação de insulina, que gerará a captação de glicose pelos tecidos para ser consumido por energia. 70% dessa glicose será captada pelo fígado, que vai gerar a produção de glicogênio, que é um combustível rápido, logo que se precisa de energia ele vai ser clivado e produzir glicose. E o excesso que não será consumido a curto prazo, será transformado em ácidos graxos que serão transportados pelas VLDL até o tecido adiposo. A insulina é produzida pelas células beta das ilhotas de Langherans – compreendem de 1 a 2% da massa celular do pâncreas. E a insulina é um hormônio fundamental que coordena a utilização de combustíveis pelos tecidos, realiza efeitos metabólicos anabólicos, que é a estimulação da síntese de glicogênio, de triacilgliceróis e de proteínas, e auxilia na absorção intestinal desses macronutrientes. O efeito da insulina sobre o metabolismo da glicose no fígado é de inibição da gliconeogênese e da glicogenólise, além de aumentar a glicogeniogênese. E o efeito no musculo é de estimular o aumento da glicogeniogênese. No musculo e no tecido adiposo, a insulina vai aumentar o número de transportadores de glicose (GLUT4) que serão expostos na membrana celular e que vão promover a captação da glicose. A insulina se ligará no receptor presente na membrana, que vai gerar uma sinalização celular para que as vesículas sejam levadas para a membrana celular e se fundam a ela. Quando temos a ocorrência dessa fusão, há uma exposição dos transportadores de glicose, que irão captar a glicose sanguínea e lançar no meio intracelular. Quando os níveis de insulina diminuem, a molécula se “desliga” do receptor e com isso temos uma fissão dos transportadores de glicose da membrana que voltam a ser armazenados em vesículas. O glucagon é produzido pelas células alfa das ilhotas de Langherns e agem nas mesmas células que a insulina, através de receptores específicos de membrana. Mas a sua função é de mobilizar as reservas energéticas para a manutenção da glicemia entre as refeições, ou seja, no estado não alimentado, quem atua é o glucagon. No fígado, o glucagon o estimula a realizar a gliconeogênese e glicogenólise para que os níveis sejam mantidos e a glicose seja lançada na corrente sanguínea. E, no tecido adiposo, o glucagon realiza a estimulação da lipólise, liberando ácidos graxos. O glucagon também estimula a cetogênese. Quando temos o aumento de glicose no sangue, há a liberação de insulina pelo pâncreas e estimulará a produção de glicogênio pelo fígado, além de promover a retirada da glicose do sangue pelos tecidos. E por fim temos a diminuição da glicose no sangue. Quando temos essa diminuição, há a liberação de glucagon produzido pelo pâncreas e haverá a quebra do glicogênio (glicogênio -> glicose), e a glicose será lançada para a corrente sanguínea. Em estado não alimentado, os hormônios estarão em níveis basais para gerar esse equilíbrio. A diabetes mellitus é um comprometimento do metabolismo dos carboidratos, lipídios e proteínas que pode ser classificada como: • Diabetes mellitus tipo 1: falta de secreção de insulina • Diabetes mellitus tipo 2: resistência à insulina A ausência ou a resistência à insulina geram uma deficiência no metabolismo da glicose e vão levar a uma captação ineficiente da glicose pela maior parte dos tipos celulares, isso resulta em uma menor utilização de glicose pelas células e um aumento da utilização de gorduras e proteínas, que gera um estado de hiperglicemia. A hiperglicemia tanto pela utilização periférica de glicose diminuída e tanto pela gliconeogênese por conta da não percepção de que essa glicemia está alta vai levar uma serie de efeitos no paciente. Os efeitos são: glicosúria, desidratação e glicação de proteínas. A glicosuria gera uma diurese osmótica, ou seja, por conta do excesso de glicose, mais água será eliminada para manter as concentrações equilibradas o que vai gerar uma poliúria. E, por conta da poliúria, o paciente sofre desidratação que leva a ocorrência de polidipsia. E essa glicemia produz um efeito pela concentração alta de glicose no sangue chamado de glicação das proteínas. Essa glicose irá reagir com resíduos de proteína levando ao mal funcionamento dessas proteínas, o que gera um dano tecidual. O aumento da lipólise gera a oxidação dos ácidos graxos. Além dos ácidos graxos oxidados em grande quantidade levarem a perda de peso, fadiga, fraqueza e polifagia, ele gera também cetoacidose, por causa da cetogênese acelerada. A cetoacidose junto com a desidratação pode levar a uma acidose grave e por fim causar a morte do paciente. Observa-se a cetonuria, que é a excreção de corpos cetônicos na urina, e o hálito cetônico, que é a eliminação de corpos cetônicos no ar. A incapacidade de utilizar glicose como fonte de energia leva a uma maior utilização e armazenamentodiminuído de proteínas – as proteínas serão degradas e não serão armazenadas, inclusive as mecânicas/funcionais dos músculos – e essa depleção de proteínas no organismo pode acabar levando a morte. É previsto que a diabetes cresça em todas as populações até o ano de 2045. Diabetes mellitus tipo 1 Também conhecida como diabetes juvenil, pois costuma aparecer em indivíduos com menos de 20 anos de idade. Esse tipo de doença ocorre por uma lesão das células beta pancreáticas e isso gera uma deficiência absoluta de insulina, que resulta em uma liberação excessiva de glucagon. A origem da diabetes tipo 1 pode ser de infecções virais ou doenças autoimunes, mas também é tendencia hereditária à degeneração. No geral, a doença será detectada quando já houver 80 a 90% das células beta pancreáticas destruídas, pois enquanto ainda haver uma quantidade de células capazes de produzir o mínimo de insulina para que o corpo continue se mantendo de forma pouco prejudicial, o efeito não é observado. Os sintomas abruptos são: • Hiperglicemia • Utilização aumentada de gorduras para a obtenção de energia -> perda de peso rápida • Depleção das proteínas do organismo • Cetoacidose -> mais comum na diabetes tipo 1 O DM1 pode estar relacionado com a alta produção de autoanticorpos ou pode ter uma origem não conhecida. Os principais marcadores dessa autoimunidade são: • Anticorpo anti-ilhota (ICA) • Autoanticorpo anti-insulina (IAA) • Anticorpo antidescarboxilase do ácido glutâmico (anti-GAD65) • Anticorpo antitirosina-fosfatase IA-2 e IA- 2B • Anticorpo antitransportador de zinco (Znt8) Esses autoanticorpos vão preceder a hiperglicemia por meses a anos durante um estágio pré-diabético. Quanto maior o número de tipos de autoanticorpos presentes e mais elevados seus títulos, maior a chance de o indivíduo desenvolver a doença. Diabetes mellitus tipo 2 O inicio da doença costuma ocorrer após dos 40 anos de idade, mas também pode ser comum em grupos étnicos específicos. Nessa situação temos a redução da sensibilidade dos tecidos-alvos aos efeitos metabólicos da insulina. Os tecidos passam a ter menos receptores para insulina/receptores menos ativos o que resulta na não exposição dos transportadores de glicose na mesma quantidade que deveria ocorrer, com isso há a resistência à insulina, pois é necessária uma maior quantidade de hormônio para obtermos o mesmo efeito. As origens podem ser genéticas ou secundárias à obesidade, ou seja, quanto mais obeso o paciente, maior é a chance dele desenvolver diabetes do tipo 2. Nesses casos a cetoacidose não é muito frequente, mas pode ocorrer em casos de estresse ou infecções. Na DM2 temos células beta funcionais, ou seja, há a produção de insulina e vai ocorrer o aumento da concentração plasmática de insulina, porém por conta da resistência tecidual a insulina, teremos o aumento da glicemia. E essa falta de sinalização da insulina resulta na diminuição da utilização e armazenamento de carboidratos. Nessas situações também pode ocorrer do paciente perder peso, perder musculatura, perder lipídios e de evoluir negativamente. Mas a principal questão desse caso é a glicação das proteínas, que irá gerar todos os efeitos do diabetes. A DM2 costuma ser secundária à obesidade e resulta num menor número de receptores de insulina nos tecidos, o que gera uma anormalidade das vidas de sinalização, causando uma resistência à insulina. Fatores de risco para o desenvolvimento de DM2: • Excesso de peso • Sedentarismo • Histórico familiar • Idade avançada • Doença do ovário policístico • História de diabetes gestacional ou parte antes da diabetes de bebê pesando > 4kg • Hipertensão • Doença vascular • Dislipidemia A pré-diabetes/categorias de risco aumentado para diabetes é quando o individuo está no processo do desenvolvimento de diabetes. E nessas situações temos: • A1C na faixa de 5,7 - 6,4% • Glicemia em jejum entre 100 – 125 mg/dL • Teste oral de tolerância a glicose após 2h entre 140 – 190 mg/dL O paciente sofrerá intolerância a glicose/resistência a insulina, ou seja, o paciente produzirá grande quantidade de insulina, mas não conseguirá absorver a glicose. Em casos de pré-diabetes, há um maior risco do desenvolvimento de desenvolver diabetes (obviamente) e doenças cardiovasculares. A doença cardiovascular em paciente que apresente DM2 é mais severa do que em casos de pacientes que só possuem as proteínas do colesterol alteradas, pois o diabético possui a glicação, que é a reação da glicose em excesso com resíduos nas proteínas que formam o endotélio, as hemoglobinas, as células da retina etc e essa glicação resulta da destruição dessas proteínas, então esses tecidos/órgãos não exercem sua função na melhor forma possível. Além da obesidade, que >provavelmente< estará presente, não haverá nenhum outro sintoma. O paciente pode estar sofrendo tanta glicação de proteína que já pode estar tendo algum dano aos seus tecidos, como perda de visão ou perda da função renal. Para reduzir esses riscos de desenvolvimento de diabetes é necessário: • Perder 7% do peso corporal -> diminui 58% de chances da ocorrência de DM • Controle de dieta • Exercícios físicos moderados Diabetes gestacional Afeta em torno de 18 – 20% das mulheres grávidas. As mães não-diabéticas desenvolvem resistência à insulina durante a gravidez, possui o hormônio lactogênio placentário que tem uma resistência à insulina que é induzida pelos hormônios femininos que estarão muito altos nos tecidos. Os valores de insulina encontrados nessas mulheres podem ser até 3x mais altos do que em outras mulheres e eles não irão conseguir manter os níveis de glicose na faixa normaglicemica. Esse risco do diabetes gestacional para o bebê é menor do que com mães diabéticas, pois haverá o surgimento por volta do sexto mês da gravidez, então, os riscos de dano ao feto que ocorre no início da gravidez que irão alterar morfologicamente o embrião ou o feto pela alta da glicose, vai gerar glicação de proteínas, que vai fazer que esse bebê não se desenvolva da maneira mais adequada são menores. A insulina materna não irá atravessar a placenta, ela não será utilizada pelo feto, porém a glicose irá atravessar e o feto vai receber uma quantidade de glicose maior do que deveria. Com isso, o feto terá que produzir mais insulina, o que resulta no ganho de peso excessivo. Além disso também ocorre o risco de hipoglicemia no neonato, pois na hora do nascimento, o bebê produzirá uma quantidade grande de insulina, então, quando o cordão umbilical for cortado e o nível excessivo de glicose for reduzido, resultando na hipoglicemia. As complicações crônicas vão resultar de um estado hiperglicêmico crônico e vão ser caracterizadas por alterações vasculares e neuropáticas. As alterações vasculares são: macroangiopatia diabética e microangiopatia diabética, que são oriundas da glicação não-enzimática e irreversível das proteínas. A formação dos produtos finais de glicação avançada são ativadores de fatores pro- inflamatórios e eles irão impedir o funcionamento adequado dos tecidos afetados, que é o caso dos nervos periféricos. Os nervos periféricos, cérebro, cristalino e as hemácias não são dependentes da insulina para o transporte de glicose e em situações onde temos hiperglicemia, eles terão também um acumulo de glicose no meio intracelular, que ativará a via da aldose redutase, gerando muito sorbital e frutose. O acumulo de sorbitol e frutose no meio intracelular torna a célula hipertônica, que vai gerar um influxo de água, resultando em uma lesão celular. Critérios e métodos para os diagnósticos e acompanhamento de pacientes com diabetesA glicemia em jejum precisa ser feita em jejum calórico de oito horas, onde apenas a ingestão de água é permitida. Nesse teste há a medição da glicemia plasmática (mg/dL) do paciente. • Normal: até 99 mg/dL • Pré-diabetes: 100 a 125 mg/dL • Diabetes: maior ou igual a 126 mg/dL Em todos os casos, precisam haver confirmações com um novo teste que deve ser realizado em outro dia se eles tiverem alterados. A dosagem é realizada com o soro ou plasma. Se for realizada com o sangue total, ela estará de 10 a 15% mais baixa. A coleta é realizada por punção venosa e deve ser preferencialmente obtida por tudo com fluoreto e EDTA, pois o fluoreto agirá como um inibidor da via glicolítica, fazendo com que a amostra seja conservada por mais tempo. Nos tubos sem fluoreto, há amostra precisa ser centrifugada logo após a punção. E, se for os tubos que apresentam gel no interior, haverá a separação dos eritrócitos/células de forma geral do plasma/soro, o que faz que tenhamos um impedimento físico do consumo da glicose pelos eritrócitos. As metodologias mais comuns que são aplicadas à dosagem de glicose são os métodos de glicose oxidase e método de hexoquinase. • Glicose oxidase: em presença da enzima, ao fornecermos glicose, água e O2, teremos a produção de ácido glicônico e peróxido de hidrogênio, que na presença de orto-dianisidina e peroxidase, formará a orto-dianisina oxidada (colorida). A absorbância pode ser determinada em 505nm. • Hexoquinase: a enzima converte a glicose em glicose-6-fostato, que, em presença da G6PD, é convertida em 6- fosfogliconato e há a liberação de NAPH, que resulta no aumento de absorbância em 340nm, que pode ser detectada Os métodos de dosagem do teste oral de tolerância á glicose (TOTG) são os mesmos da glicemia em jejum, apenas a forma de obtenção da amostra que é feita de modo diferente. O TOTG é um teste diagnóstico para diabetes e as medidas de glicose são seriadas nos tempos de 0, 30, 60, 90 e 120min (ou 0, 60 e 120min) após ingestão de 75g de glicose anidra em 300ml de água. O teste é realizado pela manhã e o paciente também precisa ter um jejum de oito horas – o teste não pode ser realizado depois das 11h, pois há interferência do cortisol. O valor máximo da glicemia capilar para realização do teste é até 180 mg/dL, então, quando o teste for realizado, o técnico de coleta precisa realizar uma medida da glicemia capilar do paciente. Se a medida estiver acima de 180 mg/dL, o paciente não poderá realizar o TOTG. Os cuidados a serem tomados antes do teste são: • Ingestão de pelo menos 150g de carboidrato nos 3 duas anteriores • Hábitos alimentares normais • Atividades físicas normais • Durante o teste, não fumar e permanecer em repouso • Não usar medicação que interfira no metabolismo dos carboidratos. As indicações são: • Diagnóstico DM gestacional • Diagnóstico tolerância à glicose diminuída • Avaliação de pacientes com nefropatia, neuropatia ou retinopatia não explicada e com glicemia em jejum abaixo de 126 mg/dL A aa A hemoglobina glicada (HG) é quando temos a reação da glicose livre na corrente sanguínea com proteínas de diversos tecidos e diversos tipos celulares. No caso da hemácia, a hemoglobina vai sofrer a glicação, pois a glicose irá penetrar livremente no eritrócito – não precisará de um transportador – e a glicose irá reagir com a hemoglobina. Quanto maior for a taxa de glicemia do paciente, maior será a fração de hemoglobina que sofrerá a glicação. A hemoglobina glicada será um indicativo da glicemia desse paciente nos últimos 120 dias, pois é o tempo de vida útil de uma hemácia. Esse teste não será indicado para pacientes com diversas condições hematológicas, com algumas hemoglobinopatias, pois há redução na meia-vida das hemácias e do tempo de exposição da hemoglobina às variações da glicose. Para o paciente com DM, a medida da glicemia em jejum é insuficiente para o acompanhamento do controle glicêmico, pois esse teste é de medida pontual que estará relacionada com o momento da coleta do sangue. A dosagem da HG será realizada através da coleta em tubo com EDTA e, nesse caso, não é necessário que haver jejum. E o método utilizado é de HPLC – cromatografia de troca iônica, cromatografia de afinidade utilizando derivados do ácido borônico – e também pode ser utilizado o imunoensaio turbidimétrico. A HbA1c é aquela que apresenta uma glicose ao resíduo de valina na cadeia beta. Essa ligação é estável e irreversível, e será medida e estará relacionada com as complicações. A hemoglobina do paciente não é produzida em lotes, de quatro em quatro meses não há a renovação de TODAS as hemácias, a renovação ocorre ao longo do tempo. Então, no mês anterior da coleta, sabemos que 50% das hemoglobinas foram renovadas, e de 2 a 4 meses temos a renovação de 25% das hemoglobinas. Tem sido proposta a utilização da glicemia média estimada (GME) como meio de “traduzir” melhor aos pacientes o significado prático da HbA1c. A GME é estabelecida por meio de um cálculo matemático simples, sendo GME = 28,7 x A1c – 46,7 Conforme a HG sobe, esse risco de complicações sobe também, como podemos ver abaixo: Retinopatia -> dano ocular; Nefropatia -> dano renal, Neuropatia -> dano neurológico. A albumina glicada é uma cetoamina formada a partir da oxidação não enzimática da albumina pela glicose. Esse controle da glicemia é de curto prazo, pois a albumina possui uma meia-vida de, aproximadamente, 15 dias. E seus resultados podem ser afetados por idade, estado nutricional, albuminúria, cirrose, disfunção da tireóide e tabagismo. A frutosamina é praticamente a mesma coisa que a albumina glicada, mas esse método está relacionado a medição da glicação da fração total de proteínas plasmáticas das quais a albumina é a principal – 90%. Também apresenta um controle da glicemia de curto prazo – 10 a 14 dias anterior ao exame – e pode ser utilizada em casos de doenças que levam a redução da meia-vida das hemácias. E nesse método é alterado em casos de alterações no turnover de proteínas, altas de bilirrubina, ácido úrico e ureia. O 1,5-anidroglucitol (1,5-AG) é um marcador de glicemia poliol plasmático que ocorre naturalmente na dieta que é mantido constante durante a normoglicemia do paciente, pois ele será filtrado e reabsorvido nos rins. O 1,5-AG é os um análogo da glicose não metabolizável encontrado no plasma após a ingestão de glicose, mantendo-se sempre em níveis normais. Nos rins, temos um transportador de glicose que promove essa reabsorção. Então, ele se caracteriza pela excreção urinária, filtração através dos glomérulos na taxa de 5 a 10 g/L e a reabsorção tubular é muito alta, que será inibida pela glicose em momentos de hiperglicemia. O 1,5-AG é praticamente todo filtrado e absorvido pelos rins em condições normais. Só que quando temos concentrações glicêmicas que ultrapassam o limiar renal, ocorre uma diminuição na concentração plasmática do 1,5-AG, pois haverá uma inibição competitiva com a glicose por essa reabsorção tubular proximal. Então, quando temos a glicose muito alta, o 1,5-AG fica mais baixo. A avaliação da diabetes gestacional é diferenciada. Nessas situações o diagnóstico ocorre através da observação da glicemia de jejum no primeiro trimestre e os valores devem ser entre 92 a 126 mg/dL. E o TOTG precisa ser relacionado entre a 24º e a 28º semana para avaliar se essa metabolização da glicose está normal. Os métodos diagnósticos para a DM são: • Glicose em jejum • Hemoglobina glicada • TOTG Os métodos de controle do paciente diabético são: • Automonitoramento da glicemia capilar • Hemoglobina glicada • Frutosamina
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