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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/260513394 O Papel das Unidades de Conservação Article in Scientific American · May 2010 CITATIONS 15 READS 5,601 3 authors, including: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Unidades de Conservação Municipais da Mata Atlântica View project Mônica Fonseca Fundação SOS Mata Atlantica 11 PUBLICATIONS 382 CITATIONS SEE PROFILE Thais P Kasecker Federal University of Rio de Janeiro 12 PUBLICATIONS 220 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Thais P Kasecker on 05 March 2014. The user has requested enhancement of the downloaded file. https://www.researchgate.net/publication/260513394_O_Papel_das_Unidades_de_Conservacao?enrichId=rgreq-9f6284f1a7a6d80a6bd1dd7acd039d55-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI2MDUxMzM5NDtBUzoxMDE3Mjc2NTkzNjQzNTlAMTQwMTI2NTE3MjgyMA%3D%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/publication/260513394_O_Papel_das_Unidades_de_Conservacao?enrichId=rgreq-9f6284f1a7a6d80a6bd1dd7acd039d55-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI2MDUxMzM5NDtBUzoxMDE3Mjc2NTkzNjQzNTlAMTQwMTI2NTE3MjgyMA%3D%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Unidades-de-Conservacao-Municipais-da-Mata-Atlantica?enrichId=rgreq-9f6284f1a7a6d80a6bd1dd7acd039d55-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI2MDUxMzM5NDtBUzoxMDE3Mjc2NTkzNjQzNTlAMTQwMTI2NTE3MjgyMA%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-9f6284f1a7a6d80a6bd1dd7acd039d55-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI2MDUxMzM5NDtBUzoxMDE3Mjc2NTkzNjQzNTlAMTQwMTI2NTE3MjgyMA%3D%3D&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Monica-Fonseca-2?enrichId=rgreq-9f6284f1a7a6d80a6bd1dd7acd039d55-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI2MDUxMzM5NDtBUzoxMDE3Mjc2NTkzNjQzNTlAMTQwMTI2NTE3MjgyMA%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Monica-Fonseca-2?enrichId=rgreq-9f6284f1a7a6d80a6bd1dd7acd039d55-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI2MDUxMzM5NDtBUzoxMDE3Mjc2NTkzNjQzNTlAMTQwMTI2NTE3MjgyMA%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Monica-Fonseca-2?enrichId=rgreq-9f6284f1a7a6d80a6bd1dd7acd039d55-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI2MDUxMzM5NDtBUzoxMDE3Mjc2NTkzNjQzNTlAMTQwMTI2NTE3MjgyMA%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Thais-Kasecker-2?enrichId=rgreq-9f6284f1a7a6d80a6bd1dd7acd039d55-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI2MDUxMzM5NDtBUzoxMDE3Mjc2NTkzNjQzNTlAMTQwMTI2NTE3MjgyMA%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Thais-Kasecker-2?enrichId=rgreq-9f6284f1a7a6d80a6bd1dd7acd039d55-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI2MDUxMzM5NDtBUzoxMDE3Mjc2NTkzNjQzNTlAMTQwMTI2NTE3MjgyMA%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Federal-University-of-Rio-de-Janeiro2?enrichId=rgreq-9f6284f1a7a6d80a6bd1dd7acd039d55-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI2MDUxMzM5NDtBUzoxMDE3Mjc2NTkzNjQzNTlAMTQwMTI2NTE3MjgyMA%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Thais-Kasecker-2?enrichId=rgreq-9f6284f1a7a6d80a6bd1dd7acd039d55-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI2MDUxMzM5NDtBUzoxMDE3Mjc2NTkzNjQzNTlAMTQwMTI2NTE3MjgyMA%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Thais-Kasecker-2?enrichId=rgreq-9f6284f1a7a6d80a6bd1dd7acd039d55-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI2MDUxMzM5NDtBUzoxMDE3Mjc2NTkzNjQzNTlAMTQwMTI2NTE3MjgyMA%3D%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf As UCs produzem bens e serviços de elevado valor econômico. Os custos de produção desses benefícios são signifi cativos e estão diretamente relacionados ao esforço para a conservação O interesse do ser humano em proteger alguns lugares especiais do planeta é bastante an-tigo, mas somente em 1872 ocorreu o marco da atual política de conservação dos re-cursos naturais – a criação do Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos. Ainda no século 19, inspirado na estratégia americana, o engenheiro André Rebouças iniciou esforços para criar parques nacionais no Brasil, com especial interesse na ilha do Bananal e nas extintas Sete Quedas. Entretanto, só depois da morte desse pioneiro seu desejo se concretizou, com a criação do Parque Nacional do Itatiaia, em 1937. A função das áreas protegidas e o seu papel na sociedade mudaram ao longo dos anos, mas basicamente esses espaços são uma resposta cultural às ameaças sofridas pela Natureza, sua exuberante fl ora e fauna e belezas cênicas. Com o crescimento da população humana, o impacto sobre os recursos naturais do planeta tem aumentado enormemente. Hoje, essas áreas represen- tam também um importante instrumento para manutenção dos serviços ambientais, que são os benefícios concedidos às sociedades humanas pelos ambientes naturais bem preservados, como proteção de reservas de água, conservação dos solos e mitigação dos efeitos das mudanças climá- ticas que estão em curso. No Brasil as unidades de conservação (UCs) são a forma mais difundida de proteção. Inúme- ras delas foram criadas no país com distintos objetivos e sob a gestão de diferentes órgãos. Mas até o fi nal da década de 80 não existia no país um sistema de unidades de conservação com estrutura organizada e coesa. Nessa época iniciou-se o debate sobre como deveria ser um sistema coerente e unifi cado. Após mais de dez anos, em 2000, foi publicado o Serviço Nacio- nal de Unidades de Conservação (SNUC), cuja estrutura atende às necessidades de uso e conservação de recursos naturais no país. POR MONICA FONSECA, IVANA LAMAS, THAIS KASECKER O Papel das Unidades de Conservação © F AB IO C O LO M BI N I 18 SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL BIODIVERSIDADE PAREDES DE ARENITO abrigam ninhos de araras- azuis-de-lear (Anodorhynchus leari) na Estação Biológica de Canudos, em Canudos, BA, reserva ambiental particular mantida pela Fundação Biodiversitas. DESAFIO DE PRESERVAÇÃO www.sciam.com.br SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL 19 20 SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL BIODIVERSIDADE FO N TE S: IB G E, M M A, IS A, C N IP E C I-B RA SI L ■ No Brasil as unidades de conservação (UCs) são a forma mais difundida de proteção. Muitas foram criadas com diferentes objetivos e sob a gestão de diferentes órgãos. Mas até o fi nal da década de 80 não existia um sistema com estrutura organizada e coesa. ■ Nessa época iniciou-se o debate sobre como deveria ser um sistema coerente e unifi cado. Após mais de dez anos, em 2000, foi publicado o SNUC, cuja estrutura atende às necessidades de uso e con- servação de recursos naturais no país. ■ O Brasil dispõe de um mapa de áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade, desenvol- vido no fi nal dos anos 90 e revisado periodicamente. ■ O avanço do desmatamento é um forte indutor para a criação de novas UCs na Amazônia, que ainda dispõe de grandes extensões de fl orestas intactas. Várias unidades foram estrategicamente criadas para conter o avanço da pressão antrópica. ■ É preciso considerar que a maior parte das áreas protegidas, no Brasil, é composta por unidades de conservação de uso sustentável, como Áreas de Proteção Ambiental (APA), onde diversas atividades humanas são permitidas. ■ As UCs produzem muitos bens e serviços de elevado valor econômico, que benefi ciam direta e indiretamente um número elevado de pessoas, empresas, indústrias e governos. Conceitos-chave As UCs são divididas em duas categorias principais, de acordo com os usos que lhes são permitidos: as de proteção integral e as de uso sustentável. As unidades de proteção integral têm como objetivo primordial preservar a Na- tureza e admitem apenas o uso indireto dos recursos naturais. Já as de uso sustentável têm por fi nalidade compatibilizar a conservação da Natureza com o uso sustentável de uma parce- la dos seus recursos naturais. O SNUC prevê a existência de 12 tiposde UCs, que se enquadram nas categorias de pro- teção integral ou de uso sustentável. São cinco de proteção integral: Estação Ecológica, Reser- va Biológica, Parque Nacional, Monumento Natural e Refúgio de Vida Silvestre. Sete cate- gorias compõem o grupo de uso sustentável: Área de Proteção Ambiental, Área de Relevan- te Interesse Ecológico, Floresta Nacional, Re- serva Extrativista, Reserva de Desenvolvimen- to Sustentável, Reserva de Fauna e Reserva Particular do Patrimônio Natural. No Brasil, outros instrumentos legais reco- nhecem distintas formas de áreas protegidas que não são consideradas UCs. São elas: terra indígena, reserva legal e área de preservação permanente. O SNUC padroniza as categorias, seus objetivos de criação e as estratégias de ges- tão de cada tipo de unidade de conservação. As defi nições contidas no sistema devem ser segui- das não só pela União, mas também pelos es- tados e municípios ao criarem seus espaços protegidos. Esse sistema permitiu que as UCs brasileiras se enquadrassem nos critérios ado- tados internacionalmente pela União Interna- cional para a Conservação da Natureza (IUCN), entidade vinculada à Unesco, que de- fi ne e padroniza as categorias de áreas protegi- das baseada no entendimento de que a prote- ção dos recursos naturais necessita incorporar todos os processos naturais e as interações hu- manas. Entre os avanços trazidos pelo SNUC, um merece destaque por ser único na América Latina: o reconhecimento da importância do setor privado na conservação dos recursos na- turais, com a criação das Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs). A gestão do SNUC é de responsabilidade das esferas governamentais e do Instituto Chi- co Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), autarquia vinculada ao Ministério do Meio Ambiente responsável pela criação e pelo gerenciamento das UCs federais. As se- cretarias estaduais de meio ambiente e os órgãos correlatos respondem pelas UCs nas esferas estadual e municipal. Números e Metas Brasileiras O Brasil detém uma enorme diversidade bio- lógica e por isso, é chamado de país de mega- diversidade. As UCs representam a principal estratégia para proteger toda essa riqueza. Como signatário da Convenção sobre Di- versidade Biológica (CDB) das Nações Unidas, BIOMA ÁREA (KM2) ÁREA TOTAL EM UC ATÉ 1999 (KM2) % EM UC ATÉ 1999 ÁREA TOTAL EM UC ATÉ 2009 (KM2) % TOTAL EM UC ATÉ 2009 Amazônia 4.196.943 487.228 11,6% 1.152.900 27,5% Caatinga 844.453 56.375 6,7% 86.091 10 % Cerrado 2.036.448 105.032 5,1% 185.737 9,1% Mata Atlântica 1.110.182 104.480 9,4% 118.478 10,7% Pampas 176.496 4.577 2,6% 5.932 3,4% Pantanal 150.355 3.838 2,6% 7.531 5% Marinho (ZEE - Zona Econômica Exclusiva) 3.589.962 7.264 0,2% 28.335 0,8% EXTENSÃO DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO POR BIOMA BRASILEIRO www.sciam.com.br SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL 21 DI US P/ IC M Bi o/ M M A, B ra síl ia acordo internacional que orienta e defi ne as políticas sobre biodiversidade, o país deve cumprir alguns compromissos assumidos nes- se tratado. Das metas brasileiras vinculadas à CDB, estabelecidas em 2002 e com prazo esta- belecido para 2010 (ambientes terrestres) e 2012 (ambientes marinhos), quatro referem-se especifi camente às UCs: • Pelo menos 30% da Amazônia e 10% dos demais biomas e da Zona Costeira e Marinha protegidos por UCs. • Proteção assegurada em pelo menos dois terços das Áreas Prioritárias para Conservação da Biodiversidade por meio de UCs, terras in- dígenas e territórios quilombolas. • 10% da Zona Marinha com áreas de ex- clusão de pesca, temporárias ou permanentes, integradas às UCs, criadas para proteção dos estoques pesqueiros. • 100% das espécies ameaçadas efetiva- mente conservadas em Áreas Protegidas. A tabela abaixo mostra a área coberta por UCs em cada bioma brasileiro até o ano de 1999 e após esse período, evidenciando o in- cremento nos últimos dez anos. Como as me- tas brasileiras da CDB foram instituídas em 2002, uma análise dos últimos dez anos serve de demonstrativo do comprometimento do país no cumprimento dessas metas. Embora a IUCN admita que as metas para reduzir a perda da diversidade biológica até este ano não foram alcançadas, importantes conquistas podem ser comemoradas no Brasil. Até 1999 o país dispunha de 1.092 UCs fede- rais e estaduais que cobriam uma área de apro- ximadamente 768.880 km2. A partir de 2000, 688 novas áreas foram criadas, protegendo mais cerca de 816.000 km2. Alguns biomas são claramente mais bem protegidos que outros. A Amazônia tem mais de 27% de sua área sob algum tipo de proteção de UCs, enquanto o ambiente marinho dispõe de menos de 1%. Outro bioma pouco repre- sentado no sistema de UCs são os Pampas, com apenas 3,4% de sua área coberta por UCs. A Caatinga tem 10% de seu território protegido, e a Mata Atlântica chega, hoje, a quase 11%. A contribuição dos estados na proteção dos seus ambientes naturais tem sido de extrema importância. As UCs decretadas pelos estados somam 52% do total protegido na Caatinga, 32% nos Pampas, 56% na Mata Atlântica, 46% na Amazônia, 47% no Pantanal, 65% no Cerrado e 48% no bioma Marinho. O setor privado também vem assumindo papel cada vez mais importante, uma vez que em muitas regiões do país a maioria dos rema- nescentes de vegetação nativa encontra-se em propriedades particulares. A criação das Reser- vas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) tem contribuído signifi cativamente para a conservação da biodiversidade, comple- mentando os esforços do poder público. Hoje, no Brasil, existem perto de mil RPPNs. Embo- ra essas áreas sejam relativamente pequenas, elas atuam como importantes elementos de co- nexão da paisagem natural. A criação de uma RPPN em determinada região serve de modelo para outros proprietários e muitas vezes desen- cadeia um processo de amplo envolvimento dos proprietários de terra na conservação am- biental. O município de Silva Jardim, no Rio de Janeiro, por exemplo, teve sua primeira RPPN criada em 1994 e tem atualmente 17 RPPNs, o que o torna campeão brasileiro em número de reservas privadas. Se por um lado os números demonstram que as metas do país junto à CDB foram par- cialmente atingidas, por outro mascaram fato- res que precisam ser considerados para uma análise do SNUC. Para o cálculo da superfície protegida em cada bioma foram somadas as áreas de todas as UCs. Como existem muitas sobreposições, principalmente de unidades de proteção inte- gral que se encontram dentro dos limites de uni- dades de uso sustentável, a superfície protegida foi, assim, superestimada. Por exemplo, a APA Serra da Mantiqueira (situada no limite dos es- tados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais) cobre uma área de 422.873 ha, e em seus limites estão incluídos um parque nacional, dois parques estaduais, uma fl oresta nacional e várias RPPNs, que totalizam mais de 60 mil ha. Assim, esses 60 mil hectares foram considera- A criação de reservas particulares do patrimônio natural tem contribuído para a conservação da biodiversidade Categorias de Unidades de Conservação Federais Monumento natural - 2 Áreas de protação ambiental - 31 Estações ecológicas - 31 Florestas nacionais - 65 Parques nacionais - 64 Refúgios de vida silvestre - 5 Reservas biológicas - 29 Reservas de desenvolvimento sustentável - 1 Reservas extrativistas - 59 Total de UCs: 304 Áreas de relevante interesse ecológico - 17 LOCALIZAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 22 SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL BIODIVERSIDADE MÔNICA FONSECA, bacharel e mestre em Ecologia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Trabalha na Conservação Internacional há 10 anos, hoje como coordenadora de serviços ecossistêmicos. É editora assistente da revista Megadiversidade uma publicação científi ca da Conservação Internacional. IVANA REIS LAMAS é bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (1986) e mestre em Ecologia, Conservação emanejo de vida silvestre pela mesma instituição (1993). Atualmente trabalha no Programa da Mata Atlântica da Conservação Internacional. THAÍS PACHECO KASECKER, formada em Biologia pela Universidade Federal do Paraná e mestre em ecologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Atualmente trabalha no Programa da Amazônia da Conservação Internacional. FAB IO M AS CA RE N HA S/ FL IC KR AS AUTORAS dos duas vezes. Para um cálculo mais realista da superfície protegida, precisaríamos eliminar to- das as sobreposições. Outro ponto a ser considerado é que as UCs também são criadas para garantir a represen- tatividade dos diversos biomas, ambientes e biodiversidade do país. As metas de proteção estabelecidas internacionalmente são impor- tantes balizadores, porém não mostram como as UCs devem ser selecionadas e delimitadas. As prioridades de conservação em cada um dos biomas devem ser guiadas para atingir os dife- rentes ambientes que compõem um bioma, além de focar regiões com altos índices de ri- queza biológica, presença de espécies endêmi- cas, raras ou ameaçadas de extinção, áreas importantes por serem provedoras de serviços ambientais e também aquelas com alta pressão antrópica e elevados níveis de ameaça. O Brasil conta com um mapa de áreas prio- ritárias para a conservação da biodiversidade inicialmente desenvolvido no fi nal dos anos 90 e revisado periodicamente. Foi realizada uma ampla análise, com informações biológicas, físicas e socioeconômicas, que contou com es- pecialistas em todos os grupos de biodiversida- de. Essa estratégia tem duas abordagens prin- cipais: a identificação de áreas de elevada importância biológica e de áreas sob forte pres- são antrópica. Processos semelhantes vêm sen- do desenvolvidos também em alguns estados como Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Pernambuco e Rio de Janeiro, e essa ferramen- ta tem orientado a criação das novas UCs. O avanço do desmatamento é um forte in- dutor para a criação de novas UCs na Amazô- nia, que ainda guarda grandes extensões de fl orestas intactas. Várias unidades foram estra- tegicamente criadas para conter o avanço da pressão antrópica, estabelecendo um cinturão verde frente ao arco do desmatamento e tam- bém ao longo de rodovias, como na BR-163 (Cuiabá-Santarém) e mais recentemente na BR-319 (Manaus-Porto Velho). Estamos aquém do estipulado pela meta que defi ne a proteção de 100% das espécies ameaçadas em UCs. Isso já se torna evidente somente pela análise dos sítios para extinção zero (Alliance for Zero Extinction – AZE) no Brasil. Um sítio AZE indica a única área de ocorrência ou residência da maioria da popu- lação conhecida de uma espécie “criticamente ameaçada” ou “em perigo”, ou de abrigo de uma fase de vida da maioria da população co- nhecida de uma espécie com esses mesmos status de ameaça. Dos 32 sítios AZE existentes no país, 19 não têm qualquer tipo de proteção, 8 são parcialmente protegidos, e apenas 5 es- tão dentro de UCs de proteção integral. É preciso considerar que a maior parte da superfície protegida no Brasil é composta por unidades de conservação de uso sustentável, como Áreas de Proteção Ambiental (APA), onde diversas atividades humanas são permi- tidas, incluindo as que produzem profundos impactos ambientais, como a mineração e a indústria, e onde se incluem até mesmo núcleos urbanos. Frequentemente, essas áreas de uso sustentável no país não cumprem o mínimo necessário para alcançar os objetivos de con- servação a que se destinam. São poucos os exemplos de APAs onde realmente existem pla- nejamento e manejo compatíveis ao uso e à conservação dos recursos naturais. Por fi m, mas não menos importante, a pre- cária situação de muitas das unidades de con- servação põe em risco sua integridade e sua efetividade de conservação. A maioria delas sofre carência de pessoal, infraestrutura e re- cursos que comprometem suas atividades de fiscalização, gerenciamento e uso público. Muitas não dispõem de plano de manejo para nortear as ações dos gestores, e a maioria não tem a totalidade de suas áreas regularizadas, ou seja, grande parte ainda não pertence ao poder público, o que restringe a atuação dos gestores. Até mesmo o primeiro parque nacional criado no país, o Parque Nacional do Itatiaia, ainda não teve sua situação fundiária regularizada. Os investimentos atuais em unidades de conservação são insufi cientes para que essas áreas garantam a conservação da biodiversi- dade. Assim, nos últimos anos, as discussões PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA, o primeiro dessas unidades no Brasil, criado em 1937, fi ca no maciço do Itatiaia, na serra da Mantiqueira, entre os estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro www.sciam.com.br SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL 23 PARA CONHECER MAIS Unidades de conservação brasileiras. Mega- diversidade, vol. 35. Pilares para sustentabilidade fi nanceira do sistema nacional de unidades de conservação. Ministério do Meio Ambiente, 2009. Unidades de conservação no Brasil: História e legislação. R.J. Paz, G.L. Freitas e E.A. Souza. Editora Universitária/UFPB, vol. 243, 2006. http://www.socioambiental.org/uc/ http://www.icmbio.gov.br © O ST IL L/ SH UT TE RS TO CK Financiamento de governos e doadores internacionais não foi sufi ciente para acompanhar expansão do sistema sobre sua sustentabilidade fi nanceira ganha- ram espaço fundamental tanto na agenda glo- bal quanto no Brasil. O fi nanciamento atual para as UCs, pro- veniente de governos nacionais e doadores internacionais, não conseguiu acompanhar a expansão do sistema ocorrida nos últimos anos. No Brasil, segundo estimativa do Mi- nistério do Meio Ambiente, o custo anual do funcionamento efetivo do SNUC seria de R$ 543,2 milhões. Somam-se a esse montante os custos para planejamento e investimento em infraestrutura básica, estimados em R$ 611 milhões/ano, e esses valores fi cam acima dos atuais R$ 316 milhões do orçamento desti- nados às UCs federais (dados de 2008). Os estados necessitariam de R$ 360,8 milhões/ ano para a gestão efetiva de suas UCs, além de R$ 1,18 bilhão/ano para seu planejamen- to e infraestrutura. Aumentar o fi nanciamento das UCs é uma necessidade. Ao estabelecerem uma rede per- manente dessas unidades, os governos assu- mem a responsabilidade de assegurar que fun- dos adequados sejam fornecidos para sua manutenção. A sustentabilidade fi nanceira de UC pode ser defi nida como a habilidade de garantir recursos sufi cientes, estáveis e de longo prazo e alocá-los no tempo e de forma apro- priada para cobrir os custos totais dessas áreas e garantir que sejam bem gerenciadas para cumprir seus objetivos. O fi nanciamento de áreas protegidas é muito mais que garantir di- nheiro, envolve a mobilização e aparelhamen- to institucional para a gestão de fundos. Além de cobrirem os custos diretos e indi- retos da implantação e gestão dessas unidades de conservação, os cálculos para a sustentabi- lidade fi nanceira devem considerar também os benefícios gerados por essas áreas aos diferen- tes atores. Os gestores são cada vez mais cobra- dos para justifi car seus orçamentos em termos de benefícios revertidos às comunidades e eco- nomias locais, estaduais, regionais e nacional. Apesar da difi culdade de avaliar a distribuição social dos benefícios da UC e os impactos dos mecanismos de fi nanciamento alternativo, essa informação é essencial para avaliar a sustenta- bilidade fi nanceira sob a ótica social. Inovações Nos últimos anos, uma série de mecanismos de fi nanciamento inovadores que vão além de fontes convencionais tem sido discutida e apli- cada na gestão de UCs. Exemplos disso são os mecanismos para gerar fundos de investimento empresarial, instrumentos fi scais que encora- jam atividades de conservação, compensação ambiental, termos de ajuste de condutas e tam- bém sistemas que utilizam taxas de mercado para bens e serviços, incluindo as de utilização dos recursos, turismo e pagamentospor servi- ços ambientais. As UCs produzem muitos bens e serviços de elevado valor econômico, que benefi ciam direta e indiretamente um número elevado de pessoas, empresas, indústrias e governos. Os custos de produção desses benefícios são sig- nifi cativos e estão diretamente relacionados ao esforço para a conservação. Implantar um sistema de cobrança de bens e serviços pode ajudar a criar ou fortalecer in- centivos fi nanceiros para produtores e consu- midores apoiarem a conservação da biodiver- sidade e o uso sustentável de seus recursos naturais, e também arrecadar novos fundos para a gestão das UCs. O uso de pagamento por serviços ambientais (PSA) para gerar fun- dos para essas unidades de conservação é rela- tivamente recente, mas vem adquirindo gran- de força e simpatia no financiamento da conservação. Incentivos, na forma de paga- mentos pelo governo a agricultores para con- servar ou restaurar a vegetação nativa, prote- ger recursos hídricos ou adotar práticas agrícolas de baixo impacto são exemplos co- muns de pagamentos por serviços ambientais adotados em alguns países. No Brasil, o paga- mento por serviços ambientais prestados pelas UCs ainda precisa ser desenvolvido e regula- mentado. O desafi o é identifi car o mecanismo mais efi ciente para assegurar os esforços de conservação previstos no SNUC. Outra importante fonte de fi nanciamento a ser explorada são os fundos ambientais. Esses mecanismos merecem uma melhor análise so- bre benefícios, procedimentos, critérios, efi cá- cia, efi ciência econômica e governança. De maneira geral, as diversas fontes potenciais de receitas para o SNUC não são aplicadas e, quando isso acontece, são geridas mal, como no caso das compensações ambientais. Assim, é essencial construir capacidades para o melhor planejamento fi nanceiro, e o poder público deve investir em pessoal e estrutura para dina- mizar a captação e a aplicação de receitas. O planejamento fi nanceiro e, especialmente, a diversifi cação de fontes de recursos ajudam a garantir o fi nanciamento das UCs e a minimi- zar as fl utuações ao longo do tempo. BALEIA JUBARTE (Megaptera novaeangliae) no Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, onde elas se reproduzem, entre os meses de julho a novembro, parte do inverno no hemisfério sul View publication statsView publication stats https://www.researchgate.net/publication/260513394
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