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O Papel das Unidades de Conservação

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O Papel das Unidades de Conservação
Article  in  Scientific American · May 2010
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Unidades de Conservação Municipais da Mata Atlântica View project
Mônica Fonseca
Fundação SOS Mata Atlantica
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Thais P Kasecker
Federal University of Rio de Janeiro
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As UCs produzem bens e serviços de elevado 
valor econômico. Os custos de produção desses 
benefícios são signifi cativos e estão diretamente 
relacionados ao esforço para a conservação 
O interesse do ser humano em proteger alguns lugares especiais do planeta é bastante an-tigo, mas somente em 1872 ocorreu o marco da atual política de conservação dos re-cursos naturais – a criação do Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos. 
Ainda no século 19, inspirado na estratégia americana, o engenheiro André Rebouças iniciou 
esforços para criar parques nacionais no Brasil, com especial interesse na ilha do Bananal e nas 
extintas Sete Quedas. Entretanto, só depois da morte desse pioneiro seu desejo se concretizou, 
com a criação do Parque Nacional do Itatiaia, em 1937. 
A função das áreas protegidas e o seu papel na sociedade mudaram ao longo dos anos, mas 
basicamente esses espaços são uma resposta cultural às ameaças sofridas pela Natureza, sua 
exuberante fl ora e fauna e belezas cênicas. Com o crescimento da população humana, o impacto 
sobre os recursos naturais do planeta tem aumentado enormemente. Hoje, essas áreas represen-
tam também um importante instrumento para manutenção dos serviços ambientais, que são os 
benefícios concedidos às sociedades humanas pelos ambientes naturais bem preservados, como 
proteção de reservas de água, conservação dos solos e mitigação dos efeitos das mudanças climá-
ticas que estão em curso. 
No Brasil as unidades de conservação (UCs) são a forma mais difundida de proteção. Inúme-
ras delas foram criadas no país com distintos objetivos e sob a gestão de diferentes órgãos. Mas 
até o fi nal da década de 80 não existia no país um sistema de unidades de conservação com 
estrutura organizada e coesa. Nessa época iniciou-se o debate sobre como deveria ser um 
sistema coerente e unifi cado. Após mais de dez anos, em 2000, foi publicado o Serviço Nacio-
nal de Unidades de Conservação (SNUC), cuja estrutura atende às necessidades de uso e 
conservação de recursos naturais no país.
POR MONICA FONSECA, IVANA LAMAS, THAIS KASECKER
O Papel das
Unidades de 
Conservação
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18 SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL BIODIVERSIDADE
PAREDES DE ARENITO 
abrigam ninhos de araras-
azuis-de-lear (Anodorhynchus 
leari) na Estação Biológica de 
Canudos, em Canudos, BA, 
reserva ambiental particular 
mantida pela Fundação 
Biodiversitas.
DESAFIO DE PRESERVAÇÃO
www.sciam.com.br SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL 19
20 SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL BIODIVERSIDADE
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■ No Brasil as unidades de conservação (UCs) são a forma mais difundida de proteção. Muitas foram 
criadas com diferentes objetivos e sob a gestão de diferentes órgãos. Mas até o fi nal da década de 
80 não existia um sistema com estrutura organizada e coesa. 
■ Nessa época iniciou-se o debate sobre como deveria ser um sistema coerente e unifi cado. Após mais 
de dez anos, em 2000, foi publicado o SNUC, cuja estrutura atende às necessidades de uso e con-
servação de recursos naturais no país.
■ O Brasil dispõe de um mapa de áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade, desenvol-
vido no fi nal dos anos 90 e revisado periodicamente. 
■ O avanço do desmatamento é um forte indutor para a criação de novas UCs na Amazônia, que 
ainda dispõe de grandes extensões de fl orestas intactas. Várias unidades foram estrategicamente 
criadas para conter o avanço da pressão antrópica.
■ É preciso considerar que a maior parte das áreas protegidas, no Brasil, é composta por unidades de 
conservação de uso sustentável, como Áreas de Proteção Ambiental (APA), onde diversas atividades 
humanas são permitidas.
■ As UCs produzem muitos bens e serviços de elevado valor econômico, que benefi ciam direta e 
indiretamente um número elevado de pessoas, empresas, indústrias e governos. 
Conceitos-chave
As UCs são divididas em duas categorias 
principais, de acordo com os usos que lhes são 
permitidos: as de proteção integral e as de uso 
sustentável. As unidades de proteção integral 
têm como objetivo primordial preservar a Na-
tureza e admitem apenas o uso indireto dos 
recursos naturais. Já as de uso sustentável têm 
por fi nalidade compatibilizar a conservação da 
Natureza com o uso sustentável de uma parce-
la dos seus recursos naturais. 
O SNUC prevê a existência de 12 tiposde 
UCs, que se enquadram nas categorias de pro-
teção integral ou de uso sustentável. São cinco 
de proteção integral: Estação Ecológica, Reser-
va Biológica, Parque Nacional, Monumento 
Natural e Refúgio de Vida Silvestre. Sete cate-
gorias compõem o grupo de uso sustentável: 
Área de Proteção Ambiental, Área de Relevan-
te Interesse Ecológico, Floresta Nacional, Re-
serva Extrativista, Reserva de Desenvolvimen-
to Sustentável, Reserva de Fauna e Reserva 
Particular do Patrimônio Natural.
No Brasil, outros instrumentos legais reco-
nhecem distintas formas de áreas protegidas 
que não são consideradas UCs. São elas: terra 
indígena, reserva legal e área de preservação 
permanente. O SNUC padroniza as categorias, 
seus objetivos de criação e as estratégias de ges-
tão de cada tipo de unidade de conservação. As 
defi nições contidas no sistema devem ser segui-
das não só pela União, mas também pelos es-
tados e municípios ao criarem seus espaços 
protegidos. Esse sistema permitiu que as UCs 
brasileiras se enquadrassem nos critérios ado-
tados internacionalmente pela União Interna-
cional para a Conservação da Natureza 
(IUCN), entidade vinculada à Unesco, que de-
fi ne e padroniza as categorias de áreas protegi-
das baseada no entendimento de que a prote-
ção dos recursos naturais necessita incorporar 
todos os processos naturais e as interações hu-
manas. Entre os avanços trazidos pelo SNUC, 
um merece destaque por ser único na América 
Latina: o reconhecimento da importância do 
setor privado na conservação dos recursos na-
turais, com a criação das Reservas Particulares 
do Patrimônio Natural (RPPNs). 
A gestão do SNUC é de responsabilidade 
das esferas governamentais e do Instituto Chi-
co Mendes de Conservação da Biodiversidade 
(ICMBio), autarquia vinculada ao Ministério 
do Meio Ambiente responsável pela criação e 
pelo gerenciamento das UCs federais. As se-
cretarias estaduais de meio ambiente e os 
órgãos correlatos respondem pelas UCs nas 
esferas estadual e municipal.
Números e Metas Brasileiras 
O Brasil detém uma enorme diversidade bio-
lógica e por isso, é chamado de país de mega-
diversidade. As UCs representam a principal 
estratégia para proteger toda essa riqueza. 
Como signatário da Convenção sobre Di-
versidade Biológica (CDB) das Nações Unidas, 
BIOMA ÁREA (KM2)
ÁREA TOTAL 
EM UC ATÉ 
1999 (KM2)
% EM UC 
ATÉ 1999
ÁREA TOTAL 
EM UC ATÉ 
2009 (KM2)
% TOTAL EM UC 
ATÉ 2009 
Amazônia 4.196.943 487.228 11,6% 1.152.900 27,5%
Caatinga 844.453 56.375 6,7% 86.091 10 %
Cerrado 2.036.448 105.032 5,1% 185.737 9,1%
Mata Atlântica 1.110.182 104.480 9,4% 118.478 10,7%
Pampas 176.496 4.577 2,6% 5.932 3,4%
Pantanal 150.355 3.838 2,6% 7.531 5%
Marinho (ZEE - Zona Econômica 
Exclusiva) 3.589.962 7.264 0,2% 28.335 0,8%
EXTENSÃO DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO POR BIOMA BRASILEIRO
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acordo internacional que orienta e defi ne as 
políticas sobre biodiversidade, o país deve 
cumprir alguns compromissos assumidos nes-
se tratado. Das metas brasileiras vinculadas à 
CDB, estabelecidas em 2002 e com prazo esta-
belecido para 2010 (ambientes terrestres) e 
2012 (ambientes marinhos), quatro referem-se 
especifi camente às UCs:
• Pelo menos 30% da Amazônia e 10% dos 
demais biomas e da Zona Costeira e Marinha 
protegidos por UCs.
• Proteção assegurada em pelo menos dois 
terços das Áreas Prioritárias para Conservação 
da Biodiversidade por meio de UCs, terras in-
dígenas e territórios quilombolas.
• 10% da Zona Marinha com áreas de ex-
clusão de pesca, temporárias ou permanentes, 
integradas às UCs, criadas para proteção dos 
estoques pesqueiros. 
• 100% das espécies ameaçadas efetiva-
mente conservadas em Áreas Protegidas.
A tabela abaixo mostra a área coberta por 
UCs em cada bioma brasileiro até o ano de 
1999 e após esse período, evidenciando o in-
cremento nos últimos dez anos. Como as me-
tas brasileiras da CDB foram instituídas em 
2002, uma análise dos últimos dez anos serve 
de demonstrativo do comprometimento do 
país no cumprimento dessas metas. 
Embora a IUCN admita que as metas para 
reduzir a perda da diversidade biológica até 
este ano não foram alcançadas, importantes 
conquistas podem ser comemoradas no Brasil. 
Até 1999 o país dispunha de 1.092 UCs fede-
rais e estaduais que cobriam uma área de apro-
ximadamente 768.880 km2. A partir de 2000, 
688 novas áreas foram criadas, protegendo 
mais cerca de 816.000 km2. 
Alguns biomas são claramente mais bem 
protegidos que outros. A Amazônia tem mais 
de 27% de sua área sob algum tipo de proteção 
de UCs, enquanto o ambiente marinho dispõe 
de menos de 1%. Outro bioma pouco repre-
sentado no sistema de UCs são os Pampas, com 
apenas 3,4% de sua área coberta por UCs. A 
Caatinga tem 10% de seu território protegido, 
e a Mata Atlântica chega, hoje, a quase 11%.
A contribuição dos estados na proteção dos 
seus ambientes naturais tem sido de extrema 
importância. As UCs decretadas pelos estados 
somam 52% do total protegido na Caatinga, 
32% nos Pampas, 56% na Mata Atlântica, 
46% na Amazônia, 47% no Pantanal, 65% 
no Cerrado e 48% no bioma Marinho. 
O setor privado também vem assumindo 
papel cada vez mais importante, uma vez que 
em muitas regiões do país a maioria dos rema-
nescentes de vegetação nativa encontra-se em 
propriedades particulares. A criação das Reser-
vas Particulares do Patrimônio Natural 
(RPPNs) tem contribuído signifi cativamente 
para a conservação da biodiversidade, comple-
mentando os esforços do poder público. Hoje, 
no Brasil, existem perto de mil RPPNs. Embo-
ra essas áreas sejam relativamente pequenas, 
elas atuam como importantes elementos de co-
nexão da paisagem natural. A criação de uma 
RPPN em determinada região serve de modelo 
para outros proprietários e muitas vezes desen-
cadeia um processo de amplo envolvimento 
dos proprietários de terra na conservação am-
biental. O município de Silva Jardim, no Rio 
de Janeiro, por exemplo, teve sua primeira 
RPPN criada em 1994 e tem atualmente 17 
RPPNs, o que o torna campeão brasileiro em 
número de reservas privadas. 
Se por um lado os números demonstram 
que as metas do país junto à CDB foram par-
cialmente atingidas, por outro mascaram fato-
res que precisam ser considerados para uma 
análise do SNUC. 
Para o cálculo da superfície protegida em 
cada bioma foram somadas as áreas de todas as 
UCs. Como existem muitas sobreposições, 
principalmente de unidades de proteção inte-
gral que se encontram dentro dos limites de uni-
dades de uso sustentável, a superfície protegida 
foi, assim, superestimada. Por exemplo, a APA 
Serra da Mantiqueira (situada no limite dos es-
tados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas 
Gerais) cobre uma área de 422.873 ha, e em 
seus limites estão incluídos um parque nacional, 
dois parques estaduais, uma fl oresta nacional e 
várias RPPNs, que totalizam mais de 60 mil ha. 
Assim, esses 60 mil hectares foram considera-
A criação de reservas particulares do patrimônio natural tem 
contribuído para a conservação da biodiversidade
Categorias de Unidades 
de Conservação Federais
Monumento natural - 2
Áreas de protação ambiental - 31
Estações ecológicas - 31
Florestas nacionais - 65
Parques nacionais - 64
Refúgios de vida silvestre - 5
Reservas biológicas - 29
Reservas de desenvolvimento sustentável - 1
Reservas extrativistas - 59
Total de UCs: 304
Áreas de relevante interesse ecológico - 17
LOCALIZAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 
22 SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL BIODIVERSIDADE
MÔNICA FONSECA, bacharel e mestre em Ecologia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Trabalha na 
Conservação Internacional há 10 anos, hoje como coordenadora de serviços ecossistêmicos. É editora assistente da 
revista Megadiversidade uma publicação científi ca da Conservação Internacional. IVANA REIS LAMAS é bacharel 
em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (1986) e mestre em Ecologia, Conservação 
emanejo de vida silvestre pela mesma instituição (1993). Atualmente trabalha no Programa da Mata Atlântica 
da Conservação Internacional. THAÍS PACHECO KASECKER, formada em Biologia pela Universidade Federal 
do Paraná e mestre em ecologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Atualmente trabalha no 
Programa da Amazônia da Conservação Internacional. FAB
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dos duas vezes. Para um cálculo mais realista da 
superfície protegida, precisaríamos eliminar to-
das as sobreposições.
Outro ponto a ser considerado é que as UCs 
também são criadas para garantir a represen-
tatividade dos diversos biomas, ambientes e 
biodiversidade do país. As metas de proteção 
estabelecidas internacionalmente são impor-
tantes balizadores, porém não mostram como 
as UCs devem ser selecionadas e delimitadas. 
As prioridades de conservação em cada um dos 
biomas devem ser guiadas para atingir os dife-
rentes ambientes que compõem um bioma, 
além de focar regiões com altos índices de ri-
queza biológica, presença de espécies endêmi-
cas, raras ou ameaçadas de extinção, áreas 
importantes por serem provedoras de serviços 
ambientais e também aquelas com alta pressão 
antrópica e elevados níveis de ameaça. 
O Brasil conta com um mapa de áreas prio-
ritárias para a conservação da biodiversidade 
inicialmente desenvolvido no fi nal dos anos 90 
e revisado periodicamente. Foi realizada uma 
ampla análise, com informações biológicas, 
físicas e socioeconômicas, que contou com es-
pecialistas em todos os grupos de biodiversida-
de. Essa estratégia tem duas abordagens prin-
cipais: a identificação de áreas de elevada 
importância biológica e de áreas sob forte pres-
são antrópica. Processos semelhantes vêm sen-
do desenvolvidos também em alguns estados 
como Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, 
Pernambuco e Rio de Janeiro, e essa ferramen-
ta tem orientado a criação das novas UCs.
O avanço do desmatamento é um forte in-
dutor para a criação de novas UCs na Amazô-
nia, que ainda guarda grandes extensões de 
fl orestas intactas. Várias unidades foram estra-
tegicamente criadas para conter o avanço da 
pressão antrópica, estabelecendo um cinturão 
verde frente ao arco do desmatamento e tam-
bém ao longo de rodovias, como na BR-163 
(Cuiabá-Santarém) e mais recentemente na 
BR-319 (Manaus-Porto Velho). 
Estamos aquém do estipulado pela meta 
que defi ne a proteção de 100% das espécies 
ameaçadas em UCs. Isso já se torna evidente 
somente pela análise dos sítios para extinção 
zero (Alliance for Zero Extinction – AZE) no 
Brasil. Um sítio AZE indica a única área de 
ocorrência ou residência da maioria da popu-
lação conhecida de uma espécie “criticamente 
ameaçada” ou “em perigo”, ou de abrigo de 
uma fase de vida da maioria da população co-
nhecida de uma espécie com esses mesmos 
status de ameaça. Dos 32 sítios AZE existentes 
no país, 19 não têm qualquer tipo de proteção, 
8 são parcialmente protegidos, e apenas 5 es-
tão dentro de UCs de proteção integral. 
É preciso considerar que a maior parte da 
superfície protegida no Brasil é composta por 
unidades de conservação de uso sustentável, 
como Áreas de Proteção Ambiental (APA), 
onde diversas atividades humanas são permi-
tidas, incluindo as que produzem profundos 
impactos ambientais, como a mineração e a 
indústria, e onde se incluem até mesmo núcleos 
urbanos. Frequentemente, essas áreas de uso 
sustentável no país não cumprem o mínimo 
necessário para alcançar os objetivos de con-
servação a que se destinam. São poucos os 
exemplos de APAs onde realmente existem pla-
nejamento e manejo compatíveis ao uso e à 
conservação dos recursos naturais.
Por fi m, mas não menos importante, a pre-
cária situação de muitas das unidades de con-
servação põe em risco sua integridade e sua 
efetividade de conservação. A maioria delas 
sofre carência de pessoal, infraestrutura e re-
cursos que comprometem suas atividades de 
fiscalização, gerenciamento e uso público. 
Muitas não dispõem de plano de manejo para 
nortear as ações dos gestores, e a maioria não 
tem a totalidade de suas áreas regularizadas, ou 
seja, grande parte ainda não pertence ao poder 
público, o que restringe a atuação dos gestores. 
Até mesmo o primeiro parque nacional criado 
no país, o Parque Nacional do Itatiaia, ainda 
não teve sua situação fundiária regularizada. 
Os investimentos atuais em unidades de 
conservação são insufi cientes para que essas 
áreas garantam a conservação da biodiversi-
dade. Assim, nos últimos anos, as discussões 
PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA, 
o primeiro dessas unidades no 
Brasil, criado em 1937, fi ca no 
maciço do Itatiaia, na serra da 
Mantiqueira, entre os estados de 
Minas Gerais e Rio de Janeiro
www.sciam.com.br SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL 23
 PARA CONHECER MAIS
Unidades de conservação brasileiras. Mega-
diversidade, vol. 35.
Pilares para sustentabilidade fi nanceira do 
sistema nacional de unidades de conservação. 
Ministério do Meio Ambiente, 2009.
Unidades de conservação no Brasil: História 
e legislação. R.J. Paz, G.L. Freitas e E.A. Souza. 
Editora Universitária/UFPB, vol. 243, 2006.
http://www.socioambiental.org/uc/
http://www.icmbio.gov.br ©
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Financiamento de governos e doadores internacionais não foi 
sufi ciente para acompanhar expansão do sistema
sobre sua sustentabilidade fi nanceira ganha-
ram espaço fundamental tanto na agenda glo-
bal quanto no Brasil.
O fi nanciamento atual para as UCs, pro-
veniente de governos nacionais e doadores 
internacionais, não conseguiu acompanhar a 
expansão do sistema ocorrida nos últimos 
anos. No Brasil, segundo estimativa do Mi-
nistério do Meio Ambiente, o custo anual do 
funcionamento efetivo do SNUC seria de R$ 
543,2 milhões. Somam-se a esse montante os 
custos para planejamento e investimento em 
infraestrutura básica, estimados em R$ 611 
milhões/ano, e esses valores fi cam acima dos 
atuais R$ 316 milhões do orçamento desti-
nados às UCs federais (dados de 2008). Os 
estados necessitariam de R$ 360,8 milhões/
ano para a gestão efetiva de suas UCs, além 
de R$ 1,18 bilhão/ano para seu planejamen-
to e infraestrutura.
 Aumentar o fi nanciamento das UCs é uma 
necessidade. Ao estabelecerem uma rede per-
manente dessas unidades, os governos assu-
mem a responsabilidade de assegurar que fun-
dos adequados sejam fornecidos para sua 
manutenção. A sustentabilidade fi nanceira de 
UC pode ser defi nida como a habilidade de 
garantir recursos sufi cientes, estáveis e de longo 
prazo e alocá-los no tempo e de forma apro-
priada para cobrir os custos totais dessas áreas 
e garantir que sejam bem gerenciadas para 
cumprir seus objetivos. O fi nanciamento de 
áreas protegidas é muito mais que garantir di-
nheiro, envolve a mobilização e aparelhamen-
to institucional para a gestão de fundos. 
Além de cobrirem os custos diretos e indi-
retos da implantação e gestão dessas unidades 
de conservação, os cálculos para a sustentabi-
lidade fi nanceira devem considerar também os 
benefícios gerados por essas áreas aos diferen-
tes atores. Os gestores são cada vez mais cobra-
dos para justifi car seus orçamentos em termos 
de benefícios revertidos às comunidades e eco-
nomias locais, estaduais, regionais e nacional. 
Apesar da difi culdade de avaliar a distribuição 
social dos benefícios da UC e os impactos dos 
mecanismos de fi nanciamento alternativo, essa 
informação é essencial para avaliar a sustenta-
bilidade fi nanceira sob a ótica social.
Inovações
Nos últimos anos, uma série de mecanismos de 
fi nanciamento inovadores que vão além de 
fontes convencionais tem sido discutida e apli-
cada na gestão de UCs. Exemplos disso são os 
mecanismos para gerar fundos de investimento 
empresarial, instrumentos fi scais que encora-
jam atividades de conservação, compensação 
ambiental, termos de ajuste de condutas e tam-
bém sistemas que utilizam taxas de mercado 
para bens e serviços, incluindo as de utilização 
dos recursos, turismo e pagamentospor servi-
ços ambientais.
As UCs produzem muitos bens e serviços 
de elevado valor econômico, que benefi ciam 
direta e indiretamente um número elevado de 
pessoas, empresas, indústrias e governos. Os 
custos de produção desses benefícios são sig-
nifi cativos e estão diretamente relacionados 
ao esforço para a conservação. 
Implantar um sistema de cobrança de bens 
e serviços pode ajudar a criar ou fortalecer in-
centivos fi nanceiros para produtores e consu-
midores apoiarem a conservação da biodiver-
sidade e o uso sustentável de seus recursos 
naturais, e também arrecadar novos fundos 
para a gestão das UCs. O uso de pagamento 
por serviços ambientais (PSA) para gerar fun-
dos para essas unidades de conservação é rela-
tivamente recente, mas vem adquirindo gran-
de força e simpatia no financiamento da 
conservação. Incentivos, na forma de paga-
mentos pelo governo a agricultores para con-
servar ou restaurar a vegetação nativa, prote-
ger recursos hídricos ou adotar práticas 
agrícolas de baixo impacto são exemplos co-
muns de pagamentos por serviços ambientais 
adotados em alguns países. No Brasil, o paga-
mento por serviços ambientais prestados pelas 
UCs ainda precisa ser desenvolvido e regula-
mentado. O desafi o é identifi car o mecanismo 
mais efi ciente para assegurar os esforços de 
conservação previstos no SNUC.
Outra importante fonte de fi nanciamento a 
ser explorada são os fundos ambientais. Esses 
mecanismos merecem uma melhor análise so-
bre benefícios, procedimentos, critérios, efi cá-
cia, efi ciência econômica e governança. De 
maneira geral, as diversas fontes potenciais de 
receitas para o SNUC não são aplicadas e, 
quando isso acontece, são geridas mal, como 
no caso das compensações ambientais. Assim, 
é essencial construir capacidades para o melhor 
planejamento fi nanceiro, e o poder público 
deve investir em pessoal e estrutura para dina-
mizar a captação e a aplicação de receitas. O 
planejamento fi nanceiro e, especialmente, a 
diversifi cação de fontes de recursos ajudam a 
garantir o fi nanciamento das UCs e a minimi-
zar as fl utuações ao longo do tempo. 
BALEIA JUBARTE (Megaptera novaeangliae) no 
Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, onde 
elas se reproduzem, entre os meses de julho a 
novembro, parte do inverno no hemisfério sul
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https://www.researchgate.net/publication/260513394

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