Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Julia Paris Malaco – UCT19 SP1 – Dispneia, dor torácica e edema Dor torácica aguda É a sensação de dor ou desconforto localizada na região anterior do tórax. Deve-se definir → localização, irradiação, características, duração, fatores precipitantes, fatores que melhoram e pioram a dor e sintomas associados Desconforto ou dor torácica representam a manifestação fundamental da isquemia miocárdica resultante da doença arterial coronariana (DAC) ou de qualquer condição que cause isquemia miocárdica por meio de desequilíbrio entre a demanda miocárdica de oxigênio e o suprimento miocárdico de oxigênio. Ainda que vários adjetivos possam ser usados pelos pacientes para descrever essa sensação, os médicos precisam suspeitar de qualquer desconforto, especialmente se irradiar para pescoço, ombros ou braços. Sintomas cardinais de doença cardiovascular: Dor torácica ou desconforto Dispneia, ortopneia, dispneia paroxística noturna, sibilância Palpitações, tontura, síncope Tosse, hemoptise Fadiga, fraqueza Dor em extremidades com esforço (claudicação) O desconforto torácico da angina instável é indistinguível daquele do IM, exceto pelo fato de que o primeiro pode ser precipitado com maior precisão pela atividade física e é mais rapidamente responsivo à terapia antianginosa. A dissecção aórtica classicamente apresenta-se com o início súbito de uma dor intensa no tórax, que se irradia para as costas; com frequência, a localização da dor proporciona pistas para a localização da dissecção. As dissecções na aorta ascendente comumente apresentam-se com um desconforto torácico que se irradia para as costas, enquanto as dissecções para a aorta descendente normalmente manifestam-se com dores nas costas irradiando-se para o abdome. A dor da pericardite pode simular a de um infarto agudo do miocárdio, ser primariamente pleurítica ou contínua; o achado clínico de relevância é o um atrito pericárdico. A dor da embolia pulmonar comumente é de natureza pleurítica e está associada à dispneia; a hemoptise também pode estar presente. A hipertensão pulmonar devido a qualquer causa pode estar associada ao desconforto torácico ao esforço, comumente relacionado com a dispneia intensa e frequentemente à cianose. A dor torácica episódica recorrente pode estar relacionada com a angina pectoris e com muitas causas cardíacas e não cardíacas. Dor ou desconforto torácico pode representar 5% das consultas em uma emergência geral. A dor ou desconforto pode resultar de dois mecanismos Fibras somáticas: p. ex., inervação de pele, estruturas superficiais e pleura parietal. Fibras vicerais: p. ex., coração, esôfago e pleura visceral. Causas mais comuns de dor torácica Julia Paris Malaco – UCT19 Condição Localização Início/duraç ão Qualidade Fatores de melhora ou piora Sinais e sintomas associados Angina /isquemia miocárdica Região retroesternal; irradia-se ou é ocasionalmente isolada para pescoço, mandíbula, epigástrio, ombros ou braços (esquerda mais comum) < 2 a 10 min Angina estável: Precipitada por exercício, frio ou estresse; 2-10 min Angina instável: Padrão em crescente ou em repouso Infarto agudo do miocárdio: Em geral > 30 min Pressão, queimação, aperto, peso, indigestão Precipitada por exercício, clima frio ou estresse emocional; aliviada pelo repouso ou uso da nitroglicerina; a angina atípica (de Prinzmetal) pode não estar relacionada com a atividade, frequente no início da manhã B3 ou sopro de disfunção muscular papilar durante a dor Angina estável Região retroestercal ou precordial, podendo irradiar para pescoço, ombros e braços 2 a 10 min e crescendo Queimação ou aperto Piora com exercício físico, estresse, frio Náuseas, vômitos, diaforese, dispneia Angina instável Mesma localização 20 min e crescendo Mais intensa que a angina estável Pode acontecer mesmo em repouso e pequenos esforços Náuseas, vômitos, diaforese, dispneia IAM Subesternal, pode irradiar como angina ≥ 30 min, mas variável Peso, pressão, queimação, constrição, intensa Não aliviada com repouso ou por nitroglicerina, piora aos esforços Falta de ar, sudorese, fraqueza, náusea, vômito Pericardite Em geral, começa ao longo do esterno ou em direção ao ápice cardíaco (retroesternal), podendo-se irradiar-se para pescoço ou ombro esquerdo; muitas vezes mais localizada do que a dor da isquemia miocárdica Dura várias horas a dias; pode aparecer e desaparecer Aguda, lancinante, em facada, pleuritica Agravada pela respiração profunda, rotação do tórax ou decúbito dorsal; aliviada na posição sentada e inclinada para a frente Atrito pericárdico Julia Paris Malaco – UCT19 Miocardite Semelhante a pericardite Horas a dias Dor que lembra IAM Atrito pericárdico, insuficiência cardíaca, arritmias Dissecção de aorta Tórax anterior; pode irradiar para as costas Início súbito, que não diminui Excruciante, lacrimejamento , como uma facada Em geral, ocorre no contexto de hipertensão ou predisposição, como a síndrome de Marfan Sopro da insuficiência aórtica, assimetria de pulso ou pressão arterial; déficit neurológico Embolia pumonar (dor torácica nem sempre presente) Subesternal ou na região de infarto pulmonar, frequentemente lateral Inicio súbito; minutos para < 1 hora Pleurítica (com infarto pulmonar) ou semelhante à angina Pode ser agravada por respiração Dispneia, taquipneia, taquicardia, hipotensão, sinais de insuficiência ventricular direita aguda e hipertensão pulmonar com grandes êmbolos; estertores, atrito pleural, hemoptise com infarto pulmonar, S1Q3T3 Hipertensão pulmonar Subesternal Semelhante à angina – 2 a 10 min Pressão; opressiva Agravada pelo esforço A dor geralmente está associada à dispneia; sinais de hipertensão pulmonar Pneumonia pleurítica Localizada sobre a área envolvida, unilateral Breve ou prolongada Pleurítica, localizada Respiração dolorosa Dispneia, tosse, febre, percussão dolorosa, ruídos brônquicos, estertores, atrito pleural ocasional Pneumotórax espontâneo Unilateral Início súbito, dura muitas horas Aguda, bem localizada Respiração dolorosa Dispneia; hipertimpanism o à percussão e diminuição dos ruídos respiratórios; ausculta da voz sobre o pulmão acometido, Julia Paris Malaco – UCT19 Distúrbios musculoesqueléticos Variável Curta ou longa duração Dor Agravada pelo movimento; histórico de esforço muscular ou lesão Sensível à pressão ou movimento Refluxo gastroesofágico Epigástrico subesternal 10 a 60 min Queimação, desconforto visceral Agravada por uma grande refeição, decúbito pós- prandial; alívio com antiácido Azia Úlcera péptica Epigástrica, subesternal Prolongada 60-90 min Queimação visceral, contínua Alívio com alimentos, antiácido Doença na vesícula biliar Epigástrica, quadrante superior direito; às vezes para as costas Prolongada Intensa ou em cólica, visceral Pode seguir-se a uma refeição Sensibilidade no quadrante superior direito pode estar presente Costocondrite (neuromuscular)Esternal Variável Intensa Às vezes edema, sensibilidade, calor sobre a articulação; pode ser reproduzida por pressão localizada ao exame Doença de disco cervical (neuromuscular) Braços e ombros Variável; pode ser súbita Intensa; pode incluir dormência Pode ser exacerbada pela movimentação do pescoço Herpes-zóster Distribuição por dermátomos Prolongada Queimação, prurido Nenhuma Exantema vesicular na área de desconforto Transtornos emocionais ou psiquiátricos Variável; pode ser retroesternal Variável; pode ser transitória ou prolongada Variável; em geral, se manifesta como aperto e dispneia com sensação de pânico ou morte iminente Fatores situacionais podem precipitar os sintomas; história de ataques de pânico, depressão Estados de ansiedade Com frequência, localizada ao longo do precórdio Varia; muitas vezes é passageira Variável; localização frequentement e se move de um lugar para outro Em determinadas situações Muitas vezes, a sensibilidade da parede torácica, respiração suspirosa Julia Paris Malaco – UCT19 É importante se obter as seguintes informações de um paciente com dor torácica: localização, irradiação e características do desconforto; o que causa e alivia a dor; duração, frequência e padrões de recorrência do desconforto; sequência em que ocorre; e sintomas associados. A angina pectoris pode ser definida como um desconforto no tórax e/ou áreas adjacentes associado à isquemia miocárdica. Tal desconforto é comumente descrito não como dor, mas como uma sensação desconfortável ou de angústia peitoral. História de desconforto torácico anginoso grave e prolongado, acompanhado de fadiga, pode significar infarto agudo do miocárdio (IAM). O desconforto torácico da hipertensão pulmonar costuma ser idêntico ao da angina típica e é causado por isquemia do ventrículo direito ou dilatação das artérias pulmonares. A pericardite aguda em geral é precedida por história de infecção respiratória viral. Mais aguda que o desconforto da angina, a dor provocada pela inflamação localiza-se mais no lado esquerdo que na parte central e frequentemente é referida no pescoço. Dura horas e, embora pouco afetada pelo esforço, é comumente agravada pela respiração e por alguns tipos de postura. A dor na dissecção aórtica caracteriza-se por episódio de início súbito que adquire grande intensidade. Com frequência, é descrita como lancinante, na região retroesternal ou em toda a face anterior do tórax, podendo irradiar para dorso, pescoço, ombros; mais raramente, em pacientes com história de hipertensão arterial, atinge membros superiores, abdome ou membros inferiores. Dor torácica de origem cardíaca A dor de origem cardíaca causada pela doença arterial coronariana (angina do peito ou infarto do miocárdio) é localizada na região central do tórax (retroesternal) ou difusa, podendo irradiar-se para outras áreas. A dor de origem cardíaca pode se manifestar apenas em seus possíveis locais de irradiação. Quando falamos em dor torácica de origem cardíaca, subentende-se toda uma área de possível de irradiação, que vai desde a mandíbula até o umbigo, incluindo ambos os braços, a região posterior do tórax, o pescoço, a mandíbula e a boca do estômago. Uma dor torácica anterior, irradiada para ambos os braços, é altamente sugestiva de uma origem coronariana. Característica: A dor torácica coronariana é difusa e percebida como um aperto, opressão, pressão ou queimação. A dor torácica, referida como pontadas ou agulhadas, raramente tem origem coronariana. Duração: A dor da angina do peito costuma durar de 5 a 20 minutos. Uma dor torácica com características de doença arterial coronariana, mas com duração superior a 20 ou 30 minutos, sugere infarto do miocárdio. A dor torácica que dura segundos ou horas ou ainda, é intermitente (aparece e desaparece várias vezes ao longo do dia), raramente tem como origem a doença arterial coronariana. Sintomas associados: A dor torácica coronariana poderá estar acompanhada de falta de ar (dispneia), sudorese, náuseas e vômitos (indicativos de infarto do miocárdio), palpitações e palidez. A presença de tosse, febre, azia e outros sintomas, podem sugerir outras causas para a dor torácica, com doenças respiratórias ou do aparelho digestivo. Características da dor no peito de que sugerem isquemia cardíaca: Ser mais um peso ou uma forte sensação de aperto no peito do que uma propriamente uma dor (é muito comum o paciente descrever a dor encostando o punho fechado em frente ao peito, para mostrar que a dor é em aperto) Julia Paris Malaco – UCT19 Ser desencadeado por esforço físico ou estresse emocional. Ser uma dor difusa no lado esquerdo e centro do tórax, frequentemente com irradiação para braço esquerdo, costas e/ou pescoço. Vir acompanhada de suores, falta de ar, palidez ou hipotensão Vir acompanhada de palpitações. Ser uma dor que dura vários minutos. Ser uma dor que não cede aos analgésicos comuns. Um sinal de extrema gravidade, e que fala a favor de doença cardíaca, é a perda de consciência após o início da dor torácica Isquemia/lesão miocárdica A isquemia miocárdica que causa dor torácica, denominada angina pectoris é precipitada por um desequilíbrio entre a necessidade miocárdica e o fornecimento miocárdico de oxigênio, resultando em fornecimento insuficiente de oxigênio para satisfazer as demandas metabólicas cardíacas. O consumo miocárdico de oxigênio pode estar elevado por aumentos na frequência cardíaca, estresse da parede ventricular e contratilidade miocárdica, enquanto o fornecimento miocárdico de oxigênio é determinado pelo fluxo sanguíneo coronariano e pelo conteúdo de oxigênio arterial coronariano. Quando a isquemia miocárdica é grave o suficiente e prolongada (mesmo que apenas 20 minutos), ocorre lesão celular irreversível, resultando em IAM. A causa mais comum de cardiopatia isquêmica é uma placa ateromatosa que obstrui uma ou mais artérias coronárias epicárdicas. A cardiopatia isquêmica estável em geral resulta do estreitamento aterosclerótico gradual das coronárias. A angina estável caracteriza-se por episódios isquêmicos que costumam ser precipitados por um aumento superposto na demanda de oxigênio durante exercício físico e aliviados com repouso. A cardiopatia isquêmica torna-se instável mais comumente quando uma ruptura ou erosão de uma ou mais lesões ateroscleróticas desencadeia trombose coronariana. A cardiopatia isquêmica instável é classificada clinicamente pela presença ou ausência de lesão miocárdica detectável e pela presença ou ausência de elevação do segmento ST no eletrocardiograma (ECG) do paciente. Quando ocorre aterotrombose coronariana aguda, o trombo intracoronariano pode ser parcialmente obstrutivo, em geral ocasionando isquemia miocárdica sem elevação do segmento ST. Acentuada por sintomas isquêmicos em repouso, com atividade mínima ou em um padrão “em crescendo”, a cardiopatia isquêmica instável é classificada como angina instável quando não há lesão miocárdica detectável e como IAM sem elevação do ST (IAMSEST) quando há evidência de necrose miocárdica. Quando o trombo coronariano causa obstrução aguda e completa, em geral segue-se isquemia miocárdica transmural, com elevação do segmento ST no ECG e necrose miocárdica, levando a um diagnóstico de IAM com elevação do ST (IAMEST). Os médicos devem lembrar que sintomas de isquemia instável também podem ocorrer predominantemente por aumento da demanda miocárdicade oxigênio (p. ex., durante estresse psicológico intenso ou febre) ou por uma liberação menor de oxigênio em decorrência de anemia, hipoxia ou hipotensão. A angina estável em geral começa gradualmente e atinge sua intensidade máxima em questão de minutos antes de dissipar-se vários minutos depois com o repouso ou a administração de nitroglicerina. É comum a dor ocorrer de maneira previsível com um nível característico de exercício ou estresse psicológico. Por definição, a angina instável manifesta-se por dor torácica anginosa que ocorre com atividade física de intensidade cada vez mais baixa ou mesmo em repouso. A dor torácica associada ao IAM costuma ser mais grave, é prolongada (em geral, dura ≥ 30 minutos) e não é aliviada com o repouso. Mecanismos da dor cardíaca: As vias neurais envolvidas na dor cardíaca isquêmica são pouco entendidas. Acredita-se que os episódios isquêmicos excitem receptores locais sensíveis a estímulos químicos e mecânicos que, por sua vez, estimulam a liberação de adenosina, bradicinina e outras substâncias que ativam os terminais sensitivos de fibras simpáticas e vagais aferentes. As fibras aferentes atravessam os nervos que se conectam aos cinco gânglios simpáticos torácicos superiores e às cinco raízes torácicas distais superiores da medula espinal. A partir daí, os impulsos são transmitidos para o tálamo. Na medula espinal, impulsos cardíacos simpáticos aferentes podem convergir com os impulsos vindos de estruturas torácicas somáticas, e essa convergência pode ser a base da dor cardíaca irradiada. Além disso, fibras cardíacas vagais aferentes fazem sinapse no núcleo do trato solitário do bulbo e então descem para o trato espinotalâmico cervical superior, e essa rota pode contribuir para a dor anginosa sentida no pescoço e na mandíbula. Julia Paris Malaco – UCT19 Sobre a angina: Os sintomas de angina estão relacionados com a diminuição do fluxo sanguíneo no coração devido ao estreitamento das artérias, podendo a intensidade dos sintomas variar de acordo com o tipo de angina. Assim, os principais sintomas de angina são: Angina estável: É causada por uma isquemia transitória, ou seja que surge quando a pessoa faz algum esforço ou sofre algum estresse emocional, por exemplo, havendo diminuição parcial e momentâneo do fluxo sanguíneo. Angina instável: É uma situação mais grave que a angina estável, pois é causada por uma interrupção maior da oxigenação do coração, devido a um rompimento e inflamação da placa de aterosclerose o que provoca sintomas mais intensos e constantes, sendo considerada uma forma de pré-infarto. Angina de Prinzmetal ou variante: Esse tipo de angina não tem causa esclarecida e acontece devido a um espasmo da coronária, em que há interrupção do fluxo sanguíneo mesmo que a pessoa não possua acúmulo de gordura na artéria ou outros tipos de estreitamentos. Abordagem ao paciente com doença cardiovascular Qualidade da dor Pressão ou aperto são consistentes com uma apresentação típica de dor miocárdica isquêmica. alguns pacientes com sintomas torácicos isquêmicos negam qualquer “dor”, mas queixam-se de dispneia ou uma sensação vaga de ansiedade. É incomum a angina ser aguda, como uma facada, lancinante ou pleurítica; A dor pleurítica é sugestiva de um processo que envolve a pleura, incluindo pericardite, embolia pulmonar ou processos do parênquima pulmonar. Com menos frequência, a dor de pericardite ou embolia pulmonar maciça é uma pressão constante grave ou intensa que pode ser difícil de distinguir de isquemia miocárdica. Dor dilacerante ou “cortante” em geral é descrita por pacientes com dissecção aórtica aguda. Uma qualidade em queimação pode sugerir refluxo ácido ou úlcera péptica, mas também pode ocorrer com isquemia miocárdica. A dor esofágica, em particular com espasmo, pode ser uma dor compressiva grave idêntica à angina. Localização da dor Uma localização subesternal com irradiação para pescoço, mandíbula, ombros ou braços é típica da dor miocárdica isquêmica. A irradiação para ambos os braços tem associação particularmente forte com IAM como etiologia. A dor altamente localizada – por exemplo, a que pode ser demarcada pela ponta de um dedo – é bastante incomum na angina. Uma localização retroesternal deve levar à consideração imediata de dor esofágica, embora outras condições gastrintestinais geralmente se manifestem com dor mais intensa no abdome ou epigástrio e possível irradiação para o tórax. A angina também pode ocorrer em localização epigástrica. Porém, a dor que ocorre exclusivamente acima da mandíbula ou abaixo do epigástrio raramente é angina. A dor grave que se irradia para as costas, em particular entre as escápulas, deve levar à consideração imediata de uma síndrome aórtica aguda. A irradiação para a crista do trapézio é característica de dor pericárdica e não costuma ocorrer com angina. Julia Paris Malaco – UCT19 Padrão A dor miocárdica isquêmica geralmente surge em questão de minutos, é exacerbada por atividade e mitigada pelo repouso. Em contraste, a dor que atinge o auge de intensidade imediatamente é mais sugestiva de dissecção aórtica, embolia pulmonar ou pneumotórax espontâneo. Dor passageira (que dura apenas alguns segundos) raramente é de origem isquêmica. Similarmente, é improvável que a dor de intensidade constante por um período prolongado (muitas horas a dias) represente isquemia miocárdica se ocorrer na ausência de outras consequências clínicas, como anormalidades do ECG, elevação de biomarcadores cardíacos ou sequelas clínicas (p. ex., insuficiência cardíaca ou hipotensão). Tanto a isquemia miocárdica como o refluxo ácido podem começar pela manhã. Fatores que provocam e aliviam Pacientes com dor miocárdica isquêmica em geral preferem ficar em repouso, sentados ou parar de caminhar. Alterações na intensidade da dor com mudanças na posição ou à movimentação dos membros superiores e do pescoço são menos prováveis com isquemia miocárdica e sugerem uma etiologia musculoesquelética. A dor da pericardite, no entanto, costuma ser grave na posição supina e aliviada quando o paciente senta-se ereto e inclina-se para frente. O refluxo gastresofágico pode ser exacerbado por álcool, alguns alimentos ou uma posição reclinada. É possível ocorrer alívio ao sentar. A exacerbação à alimentação sugere uma etiologia gastrintestinal, como úlcera péptica, colecistite ou pancreatite. O alívio da dor torácica minutos após a administração de nitroglicerina é sugestivo, mas não suficientemente sensível ou específico para um diagnóstico definitivo de isquemia miocárdica. O espasmo esofágico também pode ser aliviado imediatamente com nitroglicerina. Sintomas associados Os sintomas que acompanham a isquemia miocárdica podem incluir diaforese, dispneia, náuseas, fadiga, desmaio e eructações. Além disso, esses sintomas podem estar presentes isoladamente como equivalentes anginosos (i.e., outros sintomas de isquemia miocárdica que não a angina típica), particularmente em mulheres e idosos. O início súbito de dificuldade respiratória significativa deve levar à consideração de embolia pulmonar e pneumotórax espontâneo. Pode ocorrer hemoptise na embolia pulmonar ou como escarro espumoso sanguinolento na insuficiência cardíaca grave, mas em geral indica uma etiologia pulmonar parenquimatosa de sintomas torácicos. A apresentação com síncope ou pré-síncope deve levar à consideração imediata de embolia pulmonar com repercussão hemodinâmicaou dissecção aórtica, bem como arritmias isquêmicas. Embora náuseas e vômitos sugiram um distúrbio gastrintestinal, esses sintomas podem ocorrer no contexto de IAM (mais comumente IAM de parede inferior), presumivelmente por causa da ativação do reflexo vagal ou da estimulação de receptores ventriculares esquerdos como parte do reflexo de Bezold- Jarisch. Exame físico Inspeção e palpação Pacientes com IAM ou outros distúrbios cardiopulmonares agudos em geral parecem ansiosos, desconfortáveis, pálidos, cianóticos ou diaforéticos. Os que massageiam ou apertam seu tórax podem descrever a dor com o punho cerrado contra o esterno (sinal de Levine). Ocasionalmente, a constituição corporal é útil (síndrome de Marfan, pneumotórax espontâneo) os pacientes com edema pulmonar estão acentuadamente taquipneicos e podem apresentar respiração laboriosa. Pacientes com insuficiência cardíaca avançada podem ter respirações do tipo Cheyne-Stokes. Taquicardia e hipotensão Presença de abaulamentos Análise do ictus cordis ou choque da ponta: pesquisa-se a localização, extensão, Julia Paris Malaco – UCT19 mobilidade, intensidade e forma da impulsão, ritmo e frequência do ictus cordis, que é a pulsação do ápice do coração (ponta do ventrículo esquerdo) no tórax do paciente. O deslocamento do ictus cordis indica a dilatação e/ou hipertrofia do ventrículo esquerdo. Em condições normais, corresponde a uma ou duas polpas digitais. Pesquisa de frêmito cardiovascular: Ao encontrar-se um frêmito, três características devem ser investigadas: localização (utilizando como referencias as áreas de ausculta: foco aórtico, pulmonar, tricúspide e mitral); situação no ciclo cardíaco (tomando a pulsação como referência), intensidade (+ a ++++). Taquipneia e hipoxemia indicam uma causa pulmonar. Sinais Movimentos anormais da cabeça sugerem várias DCV: Sinal de Musset: pulsação extensora da cabeça por insuficiência valvar aórtica. Sinal de Feletti: pulsação flexora da cabeça, frequente no aneurisma da aorta ascendente e joelho posterior da crossa. Coreia de Sydenham: movimentos múltiplos da cabeça, típicos da febre reumática. As dilatações das veias jugulares podem ser bilaterais pulsáteis, indicando hipertensão venosa na IC, ou não-pulsáteis, sugerindo obstrução da veia cava superior. Sinal de boinet: Dilatações pulsáteis unilaterais do lado direito, são indícios de compressão do tronco braquiocefálico por tumor ganglionar ou aneurisma da crossa aórtica Sinal de dorendorf: do lado esquerdo com empastamento da fossa supraclavicular, de compressão venosa e linfática. A palpação do pescoço permite o reconhecimento de vários sinais: Sinal de Hirtz: palpação da aorta na fúrcula esternal por dilatação ou aneurisma da aorta Sinal de Oliver-Cardarelli: percepção da pulsação para baixo, após a elevação manual da cartilagem cricoide. Sinal de MacDowell: sinal de Oliver-Cardarelli com a cabeça em extensão máxima. Sinal de lemos torres: O abaulamento intercostal expiratório traduz a existência de derrame pleural de pequeno ou médio volume. Sistema cardíaco O pulso venoso jugular costuma estar normal em pacientes com isquemia miocárdica aguda, mas também pode revelar padrões característicos com tamponamento pericárdico ou disfunção ventricular direita aguda. A ausculta cardíaca pode revelar uma terceira bulha cardíaca ou, mais comumente, uma quarta, refletindo disfunção miocárdica sistólica ou diastólica Sons de atrito pericárdico refletem inflamação do pericárdio. Pulso Carotídeo: O pulso carotídeo pode estar aumentado em frequência e ser mais intenso do que o normal em pacientes com um volume de ejeção maior secundário a insuficiência aórtica, fístula arteriovenosa, hipertireoidismo, febre ou anemia. A elevação do pulso na carótida é retardada em pacientes com estenose aórtica valvular e apresenta contorno normal, porém com amplitudes diminuídas, quando existe qualquer causa de volume de ejeção reduzido. Abdominal Sensibilidade localizada ao exame abdominal é útil para identificar uma causa gastrintestinal da síndrome de apresentação. Déficits de pulsos vasculares podem refletir aterosclerose crônica, que aumenta a probabilidade de coronariopatia. No entanto, evidência de isquemia aguda em membro com perda do pulso e palidez, em particular nos membros superiores, pode indicar consequências catastróficas de dissecção aórtica. Edema unilateral de um membro inferior deve levantar suspeita de tromboembolismo venoso. A causa mais comum de hepatomegalia em pacientes com doença cardíaca é o ingurgitamento hepático pelas pressões elevadas no lado direito do coração associadas à insuficiência ventricular direita de qualquer causa. O refluxo hepatojugular é desencadeado pressionando-se o fígado e demonstrando-se aumento na pressão venosa jugular; ele indica uma insuficiência ventricular direita avançada ou uma obstrução ao enchimento ventricular direito. Um sopro sistólico sugestivo de estenose da artéria renal ou uma aorta abdominal aumentada constituem pistas para a aterosclerose. Musculoesquelético Julia Paris Malaco – UCT19 A dor que surge das articulações costocondrais e condroesternais pode estar associada a edema localizado, eritema ou sensibilidade localizada acentuada. Déficits sensitivos nos membros superiores podem ser indicativos de doença de disco cervical Exame Oftalmológico O exame do fundo de olho pode revelar uma retinopatia diabética ou hipertensiva, ou as manchas de Roth, típicas da endocardite infecciosa. O afilamento das artérias retinianas é característico de hipercolesterolemia grave. A osteogênese imperfeita, associada a escleras azuladas, também está relacionada com dilatação aórtica e prolapso da válvula mitral. A oclusão da artéria retiniana pode ser causada por um êmbolo proveniente de um coágulo no átrio esquerdo ou no ventrículo esquerdo, de um mixoma atrial esquerdo ou de debris ateroscleróticos provenientes dos grandes vasos. Extremidades Os pulsos periféricos diminuídos sugerem uma doença arterial periférica. Os pulsos retardados nas pernas são consistentes com uma coarctação da aorta e são observados nos casos de dissecção aórtica. Edema: é uma manifestação fundamental de insuficiência cardíaca do lado direito do coração. Quando causado pela insuficiência cardíaca, doença pericárdica ou hipertensão pulmonar, o edema geralmente é simétrico e progride para cima a partir dos tornozelos; cada uma das causas de edema cardíaco comumente está associada à distensão venosa jugular e, frequentemente, à congestão hepática. O edema unilateral sugere tromboflebite ou obstrução venosa ou linfática proximal. O edema, na ausência de evidências de falência cardíaca dos lados direito ou esquerdo, sugere doença renal, hipoalbuminemia, mixedema ou outras causas não cardíacas. Cianose: é uma descoloração azulada causada pela hemoglobina reduzida excedendo aproximadamente 5 g/dL no leito capilar. A cianose central é observada em pacientes com baixa saturação de oxigênio resultante de uma concentração reduzida de oxigênio inspirado ou com incapacidade de oxigenar o sangue proveniente dos pulmões. A cianose periférica pode ser causada por um fluxo sanguíneo diminuído para as extremidades secundariamente a vasoconstrição, insuficiência cardíaca ou choque. Observa-se baqueteamento digital, que é uma perda da configuração côncava normal da unha conforme ela emerge da falange distal, em pacientes com problemas pulmonares, comocâncer de pulmão, e em pacientes com doença cardíaca congênita cianótica. Exame da Pele O exame da pele pode revelar pigmentação bronzeada típica da hemocromatose, icterícia característica da insuficiência cardíaca direita grave, ou hemocromatose; ou os hemangiomas capilares típicos da doença de Osler-Weber-Rendu, que também está associada a fístulas arteriovenosas pulmonares e cianose. Endocardite infecciosa pode estar associada aos nódulos de Osler, manchas de Janeway ou hemorragias subungueais Os xantomas são depósitos subcutâneos de colesterol observados na superfície extensora das extremidades ou na palma das mãos e nas dobras digitais; estão presentes em pacientes com hipercolesterolemia grave. Julia Paris Malaco – UCT19 Exames complementares Eletrocardiograma Elevação do segmento ST diagnóstica de IAM Depressão do segmento ST e inversões simétricas da onda T de pelo menos 0,2 mV de profundidade são úteis para detectar isquemia miocárdica na ausência de IAMEST e também são indicativas de maior risco de morte ou isquemia recorrente. Podem ocorrer anormalidades do segmento ST e da onda T em uma variedade de condições, inclusive embolia pulmonar, hipertrofia ventricular, pericardite aguda e crônica, miocardite, desequilíbrio eletrolítico e distúrbios metabólicos. É importante observar que a hiperventilação associada ao transtorno do pânico também pode causar anormalidades inespecíficas de ST e ondas T. ECG normal não exclui diagnostico de SCA Avaliação inicial do ECG O ECG mostra uma elevação do segmento ST maior que 1 mm em duas ou mais derivações contíguas o diagnóstico provável é SCA com elevação do segmento ST. O ECG não mostra elevação do segmento ST maior que 1 mm em duas ou mais derivações contíguas - nesse caso, com quadro clínico compatível, está-se diante de uma SCA sem elevação do segmento ST, e as enzimas cardíacas seriadas mostrarão se o caso é uma angina instável (AI), se não houver aumento de enzimas cardíacas; ou se é um IAM sem elevação do segmento ST (IAM – sem supra ST), se houver aumento de enzimas cardíacas. ECG completamente normal não descarta uma doença coronariana. Alterações dinâmicas do segmento ST com sintomas são de grande relevância, geralmente indicando isquemia aguda e doença coronariana. Radiografia de tórax Os achados em geral nada têm de notável nos pacientes com SCA, mas edema pulmonar pode ser evidente. Outros achados específicos incluem alargamento do mediastino em alguns pacientes com dissecção aórtica, corcova de Hampton ou sinal de Westermark em pacientes com embolia pulmonar ou calcificação pericárdica na pericardite crônica. RX de tórax: maior utilidade em diagnósticos diferenciais de dor torácica não isquêmica - Pneumonia, pneumotórax, câncer de pulmão, derrame pleural etc. Pode sugerir: derrame pericárdico, embolia pulmonar (raro), hipertensão pulmonar etc. TC de tórax: mais sensível e específica que a radiografia de tórax para diagnóstico de doenças pleurais, do parênquima e vasculatura pulmonar. Tem maior utilidade no diagnóstico de embolia pulmonar. Dissecção de aorta. Biomarcadores cardíacos Os primeiros biomarcadores de lesão podem estar nos níveis normais, mesmo em pacientes com IAMEST. Troponina: A troponina cardíaca é o biomarcador preferido para o diagnóstico de IAM, é o mais especifico e mais sensível e deve ser medida em todos os pacientes que chegam com suspeita de SCA e repetida 3 a 6 horas depois. As troponinas cardíacas T e I (exclusivos do musculo cardíaco) são os marcadores laboratoriais mais sensíveis e específicos de lesão miocárdica. Por isso, é o melhor marcador para o diagnóstico de infarto do miocárdio, superando a CKMB. Além de diagnóstica, a troponina tem informação prognóstica; aumento de troponina implica um risco três vezes maior de óbito. A troponina começa a elevar-se em quatro horas, tem pico em 12 a 48 horas e permanece aumentada por 10 a 14. Ocasionalmente, a troponina eleva-se, mas não é pela doença coronariana aterosclerótica; troponina isoladamente não faz diagnóstico de infarto Não é encontrada no soro de pessoas normais. Vantagem: não sofre alterações após exercícios físicos extenuantes ou insuficiência renal, como ocorre com a CKMB ou a mioglobina. Nos pacientes que consultam > 2 horas após o início dos sintomas, uma concentração de troponinas cardíacas abaixo do limite de detecção usando um ensaio de alta sensibilidade pode ser suficiente para excluir IAM com valor preditivo negativo > 99% no momento da apresentação ao hospital. O diagnóstico de IAM é reservado para a lesão miocárdica aguda assinalada por uma padrão de elevação e/ou queda – com pelo Julia Paris Malaco – UCT19 menos um valor excedendo o percentil 99 do limite de referência – e que é causada por isquemia. Mioglobina: A mioglobina é o marcador mais precoce disponível: aumenta em duas a três horas após o infarto, tem pico entre seis e doze horas e normalização em 24 horas. É um marcador sensível mas pouco específico, CKMB: trata-se de uma isoenzima MB da Creatino- quinase (CK). Ainda é o marcador enzimático mais utilizado no diagnóstico do IAM. Eleva-se a partir de 4 a 8 horas do início dos sintomas e atinge os valores de pico nas primeiras 24 horas, retornando então aos valores normais em 48 a 72 horas. Nos casos suspeitos: solicitar a cada 12 horas por 02 dias e então diariamente, por 03 dias. Desvantagem: pode estar elevada em outras circunstâncias, tais como: politraumatismo, doenças sistêmicas com dano muscular, atletas, nefropatas, miocardite, pacientes submetidos a cateterismo cardíaco, lesões específicas no intestino delgado, diafragma, língua, útero e próstata. CK e DHL: são inespecíficas, elevam-se de 4 a 8 h e normalizam-se de 48-72 h. Ecocardiografia A ecocardiografia é diagnóstica em pacientes com complicações mecânicas do IAM ou naqueles com tamponamento pericárdico. A ecocardiografia transtorácica é pouco sensível para dissecção aórtica. Angiotomografia A angiotomografia está emergindo como uma modalidade para a avaliação de pacientes com dor torácica aguda. A angiotomografia coronariana é uma técnica sensível para a detecção de coronariopatia obstrutiva, em particular no terço proximal das coronárias epicárdicas principais. Ao mesmo tempo, a angiotomografia pode excluir dissecção aórtica, derrame pericárdico e embolia pulmonar. Ressonância magnética A RMC realçada por gadolínio pode detectar IAM precocemente, definindo com acurácia áreas de necrose miocárdica, além de delinear padrões de doença miocárdica que geralmente são úteis para discriminar lesão miocárdica isquêmica de não isquêmica. Classificação da dor Definitivamente anginosa: Precipitada por esforços físicos Irradiada para ombro, mandíbula, face interna do braço Duração de alguns minutos Alivia em 10 min com repouso ou nitrato Provavelmente anginosa: Tem a maioria, mas não todas as características de uma dor anginosa Definitivamente não anginosa: Nenhuma característica da dor anginosa, fortemente indicativa de diagnóstico não cardiológicos Provavelmente não anginosa: Tem poucas características da dor definitivamente anginosa → dor típica, sintomas de “equivalente anginoso” Julia Paris Malaco – UCT19 Fluxograma de atendimento RESUMOAbordagem inicial - Estabilização hemodinâmica - Monitorização: PA, FC, FR, temperatura e SatO2 - Oxigênio: se SatO2 < 94% - Acesso venoso calibroso - Solicitar marcadores de necrose cardíaca - Eletrólitos, glicemia, função renal e coagulação - AAS 200-300 mg mastigável - ECG de 12 derivações (no máximo 10min) - Raio X de tórax (DD) - História e exame físico diferenciados Historia clinica - Há quanto tempo começou? - Tem fator desencadeante? - Localização? Irradiação? - Melhora com nitrato sublingual? - Intensidade? - Característica (aspecto, queimação, ventilatório dependente)? Sintomas associados (dispneia, palpitação, síncope)? - Fatores de risco (tabagismo, HAS, DM, passado de IAM, etc.)? Classificação - típica ou atípica: característica da dor, localização, fatores de piora - definitivamente anginosa - provavelmente anginosa - provavelmente não anginosa - definitivamente não anginosa - dor de IAM - dor de não IAM Julia Paris Malaco – UCT19 Exame físico - Estado geral - PA nos dois membros: em caso de assimetria a principal suspeita deve ser dissecção de aorta - Pulso - FR - Ap. respiratório: creptos (congestão pulmonar) - Ap. cardiovascular: B3, hipofonese, sopro (disfunção ventricular) - Sinais de má perfusão - Função neurológica → Glasgow Exames complementares - ECG: Principal exame para avaliar IAM e também pode ser usado na suspeita de TEP - Raio X de Tórax: Pneumotórax, pneumonia, alargamento de mediastino US à beira do leito → Pneumotórax, pneumonia, derrame pericárdico, sinais de tamponamento - Dímero-D: Avaliação de TEP e dissecção de aorta - Troponina: Marcador de necrose de cardiomiócito - Angiotomografia: Pesquisa de embolia pulmonar - Ecocardiograma: Avaliação de função sistólica - Enzimas pancreáticas: investigação de pancreatite - EDA: Investigação de rotura esofágica Localização - De origem cardíaca (doença arterial coronariana - angina do peito ou infarto do miocárdio): localizada na região central do tórax (retroesternal) ou difusa, podendo irradiar-se para outras áreas. - De origem cardíaca: pode também se manifestar apenas em seus possíveis locais de irradiação (desde a mandíbula até o umbigo → incluindo: ambos os braços, região posterior do tórax, pescoço, mandíbula, boca do estômago. - Uma dor toráxica anterior + irradiação para ambos os braços → altamente sugestiva de uma origem coronariana Características - Dor torácica coronariana é difusa e percebida como uma aperto, opressão, pressão ou queimação. - Dor torácica referida como pontadas ou agulhadas raramente tem origem cardíaca Sintomas associados - Dor torácica coronariana pode vir acompanhada de falta de ar (dispnéia), sudorese, náuseas e vômitos (indicativo de infarto do miocárdio), palpitações e palidez - A presença de tosse, febre, azia e outros sintomas, pode sugerir outras causas, como doenças respiratórias ou do aparelho digestivo Duração - A dor da angina do peito costuma durar de 5 a 20 min. - Uma dor torácica com característica de doença arterial coronariana, mas com duração superior a 20 - 30 min, sugere infarto do miocárdio - A dor torácica que dura segundos ou horas, ou é intermitente (aparece e desaparece várias vezes ao longo do dia), raramente têm como origem a doença arterial coronariana Fatores de melhora ou piora - Dor torácica coronariana não costuma ter fatores de piora (como a palpação do tórax, respiração profunda, mudança na posição do corpo ou movimentos dos braços) - Costuma aliviar espontaneamente com o repouso ou com uso de nitratos (vasodilatadores coronarianos) Diagnostico diferencial de SCA Dissecção de aorta Embolia pulmonar Pneumotórax Ruptura de esôfago Pericardite Costocondrite História clinica Dor excruciante Dor pleurítica Dor aguda e intensa Dor com piora progressiv a dor forte e contínua Inflamação da cartilagem costal ou da articulação entre a mesma e o osso esterno. Julia Paris Malaco – UCT19 Sintomas associados Irradiada para dorso, sintomas neurológicos Dispneia, taquipneia, hemoptise Hipotensão, dispneia Dispneia, choque Acompanha febre e leucocitose. À compressão, a dor aumenta. Exame físico PA elevada PA elevada PA elevada PA elevada Melhora com a “posição de prece maometana”, isto é, se ajoelhando sobre o leito e recostando a testa sobre o mesmo. dor bem localizada, passível de ser indicada com a ponta de um dedo. Exames complement ares TC ou ECG D-dímero, USG venoso RX, TC RX, TC, EDA Tratamento Betabloque adores, nitroprussiato Anticoagul ação Drenagem torácica Cirurgia IAM X PERICARDITE X EMBOLIA PULMONAR IAM Pericardite Embolia pulmonar Característic a Pressão, esforço, peso Aguda, lancinante, ocasionalmente maciça Aguda, lancinante Muda com respiração? Não Piora com expiração Na fase com a respiração – ausente quando o paciente esta em apneia Muda com a posição? Não Piora quando em decúbito dorsal, melhora quando sentado ou inclinado para frente Não Duração Minutos (isquemia), horas (infarto) Horas a dias Horas a dias Responde a nitroglicerina ? Melhora Sem mudança Sem mudança Atrito (exame físico) Ausente (a menos que pericardite esteja presente) Presente na maioria dos pacientes Atrito pleural pode ocorrer Elevação do segmento ST Convexa localizada Côncava disseminada Limitada as derivações III, aVF e V1 Depressão do segmento PR Rara Frequente Nenhuma Pericardite O coração é revestido por uma membrana que garante a sua posição ideal para bater de forma eficiente → pericárdio (estrutura fibro-serosa em forma de saco que envolve o coração e as raízes dos grandes vasos sanguíneos). Confere estabilidade, produz líquido que fica entre o coração e a membrana (reduz atrito das batidas do coração) Pericárdio: é um saco fibroso relativamente avascular que envolve o coração, tem duas camadas: os pericárdios visceral e parietal. Julia Paris Malaco – UCT19 O pericárdio visceral consiste em uma membrana serosa, separada do pericárdio parietal fibroso por pequena quantidade (15 a 50 mL) de líquido, um ultrafiltrado de plasma. Como resultado de suas propriedades físicas relativamente inelásticas, o pericárdio limita a dilatação cardíaca aguda e aumenta as interações mecânicas das câmaras cardíacas. Em resposta ao estresse de longa duração, o pericárdio dilata para permitir um lento acúmulo do derrame pericárdico, para se tornar muito grande sem comprimir as câmaras cardíacas, e para permitir que o remodelamento ventricular esquerdo ocorra sem constrição pericárdica. Por outro lado, um pericárdio espessado ou cicatrizado pode limitar o preenchimento do coração, resultando na constrição pericárdica. Apesar das funções importantes do pericárdio normal, a ausência congênita ou a ressecção cirúrgica do pericárdio não parece ter qualquer efeito adverso principal. Sobre a pericardite: é a inflamação aguda do pericárdio, com ou sem um derrame pericárdico associado, pode ocorrer como um problema clínico isolado ou como uma manifestação de doença sistêmica. Trata-se de um processo inflamatório agudo do pericárdio, que pode ser primário (exemplo: infecção viral) ou secundário (exemplo: lúpus), podendo cursar com ou sem derrame pericárdico. Classificação Classificação clínica: Pericardite aguda (< 6 semanas): - Fibrinosa - Com derrame (seroso ou sanguíneo) Pericardite subaguda (6 semanas a 6 meses) - Com derrame-constritiva - Constritiva Pericardite crônica (> 6 meses) - Constritiva - Adesiva (não constritiva) Classificação etiológica: Pericarditeinfecciosa - Viral (vírus Coxsackie A e B, vírus Echo, herpes- vírus, vírus da caxumba, adenovírus, hepatite, vírus da imunodeficiência humana) - Piogênica (pneumococos, Streptococcus, Staphylococcus, Neisseria, Legionella, Chlamydia) - Tuberculosa - Fúngica (histoplasmose, coccidioidomicose, Candida, blastomicose) - Outras infecções (sifilítica, protozoária, parasitária) Pericardite não infecciosa - Aguda idiopática - Insuficiência renal - Neoplasia: Tumores primários (benignos ou malignos, mesotelioma); Tumores metastáticos para o pericárdio (cânceres de pulmão e de mama, linfoma, leucemia) - Trauma (penetrante da parede torácica, não penetrante) - Dissecção aórtica (com vazamento para o saco pericárdico) - Infarto agudo do miocárdio - Pós-irradiação - Febre familiar do Mediterrâneo - Pericardite familiar: Nanismo de Mulibreya - Metabólica (mixedema, colesterol) Pericardite presumivelmente relacionada com hipersensibilidade ou autoimunidade - Febre reumática - Doença vascular do colágeno (lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide, espondilite anquilosante, esclerodermia, febre reumática aguda, granulomatose com poliangeíte [de Wegener]) - Induzida por fármacos (p. ex., procainamida, hidralazina, fenitoína, isoniazida, minoxidil, anticoagulantes, metisergida) - Pós-lesão cardíaca: Pós-pericardiotomia, Pós- traumática, Após infarto agudo do miocárdio (síndrome de Dressler) A pericardite pode ocorrer após um infarto agudo do miocárdio (IAM). Ocorre de 1 a 3 dias após um IAM transmural, presumivelmente devido à interação entre o epicárdio necrótico de cura e o pericárdio sobrejacente. A síndrome de Dressler, que é outra forma de pericardite associada com IAM, normalmente ocorre semanas a meses após o IAM. É semelhante à pericardite que pode ocorrer de dias a meses após a lesão pericárdica traumática, manipulação cirúrgica do pericárdio ou infarto pulmonar. Acredita-se que essa síndrome seja mediada por um mecanismo autoimune e está associada a sinais de inflamação sistêmica, incluindo febre e polisserosite. Julia Paris Malaco – UCT19 A pericardite apresenta sinais de inflamação aguda, com números elevados de leucócitos polimorfonucleares, vascularidade aumentada e depósito de fibrina. Se a inflamac ̧a ̃o for de longa durac ̧a ̃o, o perica ́rdio pode se tornar fibroso e com retrac ̧a ̃o cicatricial, com depo ́sitos de ca ́lcio. O perica ́rdio altamente fibro ́tico pode inibir o enchimento dos ventrículos. Neste ponto, aparecem os sinais de pericardite constritiva. Manifestações clinicas Dor torácica: A dor da pericardite aguda com frequência é intensa, tem localização retroesternal e/ou precordial esquerda, sendo referida para pescoço, braços ou ombro esquerdo. Frequentemente a dor é pleurítica em consequência da inflamação pleural associada (i.e., aguda e agravada por inspiração e tosse), mas, às vezes, é contínua, com irradiação para a borda do trapézio ou para um dos braços e assemelha-se à isquemia miocárdica; a pericardite é, portanto, geralmente confundida com infarto agudo do miocárdio (IAM). Caracteristicamente, a dor pericárdica pode ser intensificada pela posição supina e aliviada quando o paciente fica sentado e inclinado para a frente. A diferenciação entre IAM e pericardite aguda torna-se mais difícil quando, na pericardite aguda, há elevações séricas dos marcadores bioquímicos de lesão miocárdica, como a creatina-cinase-MB e a troponina, provavelmente porque também ocorre o comprometimento do epicárdio no processo inflamatório (epimiocardite) com a consequente necrose de miócitos. Usualmente, a dor pericárdica é chamada de crista escapular, presumivelmente devido à irritação do nervo frênico, que passa adjacente ao pericárdio. A dor pode ser sutil ou ausente na pericardite tuberculosa, urêmica e neoplásica. Atrito pericárdico: O atrito pericárdico é o achado clássico em pacientes com pericardite aguda. Um ruído de atrito é um som áspero de alta frequência que pode ter um, dois ou três componentes que ocorrem quando os volumes cardíacos mudam mais rapidamente: durante a ejeção ventricular, durante o enchimento ventricular rápido no início da diástole e durante a sístole atrial. Um atrito pericárdico, que é diferenciado de um sopro áspero por sua qualidade, às vezes está localizado em uma área pequena na parede torácica e pode ir e vir espontaneamente ou com as mudanças de posição. O atrito pericárdico deve ser diferenciado de um atrito pleural, que está ausente durante a respiração suspensa, mas o atrito pericárdico não é afetado. Geralmente é mais audível no final da expiração, com o paciente ereto e inclinado para a frente. O atrito pericárdico indica pequena quantidade de líquido no pericárdio e sua presença fortemente aponta para pericardite como causa da dor torácica. Pode até desaparecer quando ocorre aumento de líquido no saco pericárdico. Derrame pericárdico: geralmente está associado à dor e/ou às alterações no ECG supramencionadas e, se o derrame for grande, à alternância elétrica. O derrame pericárdico adquire importância clínica especial quando se desenvolve em um intervalo relativamente curto, pois pode causar tamponamento cardíaco. As bulhas cardíacas podem ficar mais abafadas no derrame pericárdico, sugerindo significativa quantidade de derrame. O ruído de atrito e o impulso do ápice podem desaparecer. A base do pulmão esquerdo pode ser comprimida pelo líquido pericárdico, gerando o sinal de Ewart (raro), uma área de macicez e aumento do frêmito sob o ângulo da escápula esquerda. A radiografia do tórax pode mostrar alargamento da silhueta cardíaca, com uma Julia Paris Malaco – UCT19 configuração “em garrafa de água”, mas pode ser normal em pacientes com derrames pequenos. Eletrocardiograma: Caracteristicamente, o quadro da doença desenvolve-se em quatro estágios. Estagio 1: No estágio 1, há elevação generalizada dos segmentos ST, frequentemente com a concavidade voltada para cima, envolvendo duas ou três derivações básicas dos membros e V2 a V6, com depressões recíprocas apenas em aVR e, algumas vezes, em V1. Também há depressão do segmento PR abaixo do segmento TP, refletindo envolvimento atrial. Geralmente não há alterações significativas nos complexos QRS, a não ser que ocorra o desenvolvimento de um grande derrame pericárdico (ver adiante). Estagio 2: Após vários dias, os segmentos ST retornam ao normal (estágio 2) e Estagio 3: apenas nesse momento, ou até mais tarde, as ondas T tornam-se invertidas (estágio 3). Estagio 4: Semanas ou meses após o início da pericardite aguda, o ECG retorna ao normal (estágio 4). Por outro lado, no IAM, as elevações de ST são convexas para cima e a depressão recíproca é, em geral, mais proeminente; essas mudanças podem retornar ao normal em 1 ou 2 dias. 1º - Pericardite aguda: Há elevações difusas do segmento ST nas derivações I, II, aVF e V2 a V6. Há depressão do segmento PR devido a uma corrente da lesão atrial concomitante. 2º - Alternância elétrica: Este traçado foi obtido de um paciente com um grande derrame pericárdico com tamponamento. Quadro agudo estágio I: nos primeiros dois dias a semanas, pode haver elevações do segmento ST e depressões do segmento PR. Quadro agudo estágio II: as ondas T tendem a aplanar Quadro agudo estágio III: : inversão da onda T difusa, ao longo de algumas semanas. Quadro agudo estágioIV: eventualmente o ECG regressa ao normal. Julia Paris Malaco – UCT19 Cuidado: presença de dispneia, ortopneia, hepatomegalia e turgência jugular pode indicar tamponamento pericárdico, no contexto de uma pericardite. Os pacientes podem evoluir para sinais de baixo débito cardíaco, hipotensão e parada cardiorrespiratória. Diagnostico No início da evolução da pericardite aguda, o eletrocardiograma (ECG) normalmente apresenta elevação do segmento ST difusa em associação à depressão PR. A elevação do segmento ST geralmente está presente em todas as derivações, exceto para aVR, mas as alterações podem estar mais localizadas na pericardite pós-IAM. Classicamente, as alterações do ECG da pericardite aguda evoluem ao longo de vários dias; a resolução da elevação do segmento ST é seguida por inversão da onda T disseminada, que subsequentemente se normaliza. A pericardite urêmica ocorre, geralmente, sem as anormalidades eletrocardiográficas típicas. Elevação do segmento ST difusamente, com concavidade para cima, geralmente de V2 a V6, associada a infradesnivelamento do segmento ST em AVR, às vezes em V1 - com pequena quantidade de liquido pericárdico Intervalo PR: infra ou supra, geralmente discordante do segmento ST; ocorre por causa de lesão atrial - com pequena quantidade de liquido pericárdico QRS em todas as derivações com amplitude reduzida (< 5 mm) - com significativa quantidade de líquido pericárdico A ecocardiografia é a técnica de imagem mais utilizada. O exame é sensível, específico, simples e não invasivo, pode ser realizado à beira do leito, e permite a localização e estimativa da quantidade de líquido pericárdico. A presença de líquido pericárdico é demonstrada pela ecocardiografia transtorácica bidimensional como um espaço relativamente anecoico entre o pericárdio posterior e o epicárdio ventricular esquerdo e/ou como um espaço entre o ventrículo direito anterior e o pericárdio parietal logo abaixo da parede torácica anterior. O ecocardiograma pode demonstrar um pequeno derrame pericárdico, na presença de pericardite aguda, mas um ecocardiograma normal não exclui o diagnóstico da doença. O diagnóstico de derrame ou espessamento pericárdico pode ser confirmado pela tomografia computadorizada (TC) ou por ressonância magnética (RM). Quando o diagnóstico de pericardite aguda é duvidoso, a ressonância magnética (RM) pode demonstrar inflamação pericárdica como realce tardio do pericárdio Essas técnicas podem ser superiores à ecocardiografia na detecção de derrames pericárdicos loculados, espessamento pericárdico e presença de massas pericárdicas. A RM também é útil na detecção de inflamação pericárdica. Normalmente, os níveis de troponina são minimamente elevados na pericardite aguda devido a algum comprometimento do epicárdio pelo processo inflamatório. Um nível elevado de troponina na pericardite aguda geralmente retorna ao normal dentro de 1 a 2 semanas e não é associado a um prognóstico pior. Embora o nível elevado de troponina possa levar ao diagnóstico errôneo de um IAM com elevação do segmento ST, a maioria dos pacientes com níveis elevados de troponina e pericardite aguda tem angiogramas coronarianos normais. A elevação das enzimas ou marcadores de lesão miocárdica (CKMB e troponina) reflete o comprometimento miocárdico subjacente ao pericárdio primariamente acometido, sendo a troponina I um sensível e específico indicador de dano miocárdico em pacientes com pericardite (a troponina pode variar de 0,5 a mais de 50 ng/mL) Os pacientes com pericardite aguda geralmente apresentam evidências de inflamação sistêmica, Julia Paris Malaco – UCT19 incluindo leucocitose, uma elevada taxa de sedimentação de eritrócitos (VHS) e aumento do nível de proteína C-reativa (PCR). A febre baixa é comum, mas uma temperatura mais alta que 38 °C não é e sugere a possibilidade de pericardite bacteriana. Diagnostico diferencial: Síndrome coronariana aguda: geralmente é de fácil diferenciação. Entretanto, às vezes, ECGs seriados podem ajudar nessa diferenciação. Doenças reumatológicas ou induzidas por medicamentos: a pericardite pode acompanhar as várias manifestações de doenças sistêmicas. O acometimento pericárdico pode ser sutil e raramente evoluir para tamponamento. Pacientes com SIDA: pericardite aguda pode complicar a evolução dessa doença, com as mais variadas etiologias: vírus, bactérias, micobactérias, fungos, protozoários e neoplasias. Febre reumática: costuma fazer parte da pancardite e associar-se a outras manifestações da febre reumática. Endocardite infecciosa: a pericardite costuma ser complicação de abscesso perivalvular; nesse caso, há febre, calafrios e sepse. Uremia: pericardite associada a uremia ocorre em até um terço dos pacientes com uremia crônica, e é vista mais frequentemente em pacientes que fazem hemodiálise. O derrame pode ser fibrinoso ou hemorrágico. Atrito pericárdico é comum, apesar de ser rara dor precordial Neoplasias: geralmente, câncer de mama, pulmão, melanoma, linfomas ou leucemias; podem ocorrer dor torácica, arritmias e evoluir com tamponamento. Tuberculose: sempre deve fazer parte do diagnóstico diferencial de pericardite no Brasil. Febre, perda de peso e fadiga podem surgir semanas a meses antes do quadro. O diagnóstico é confirmado por biópsia do pericárdio. Complicações A mais temível e grave complicação é o tamponamento pericárdico. Quadro clínico: Hipotensão, taquicardia, dispneia, ortopneia, taquipneia com pulmões “limpos”, pulso paradoxal e turgência jugular. Mais frequentes causas: Medicamentos (trombolíticos, anticoagulação), cirurgia cardíaca recente, trauma torácico, neoplasias, uremia, doenças autoimunes. Eletrocardiograma: Pode ser normal ou apresentar alterações sutis (alterações de segmento ST e T difusos), baixa amplitude ou alternância elétrica de QRS (QRS de amplitudes variáveis) RX de tórax: Aumento da área cardíaca, com pulmão sem congestão Ecocardiograma: Derrame pericárdico com colapso diastólico de câmaras cardíacas. Aumento do fluxo tricúspide à inspiração e diminuição do fluxo mitral à inspiração Hemodinâmica: Pressão de átrio direito (AD) elevada; pressão intrapericárdica virtualmente igual à do AD; pressão diastólica de VD igual à do AD; pressão capilar pulmonar (wedge): aumentada e semelhante à pressão de AD, VD e intrapericárdica. Prova terapêutica: Aspiração do líquido pericárdico é seguida da normalização hemodinâmica Tratamento Anti-inflamatório: Acido acetilsalicílico (2 a 4 g/dia – 650mg a cada 6 horas) Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), como ibuprofeno (600 a 800 mg, 3 ×/dia) ou indometacina (25 a 50 mg, 3 ×/dia), que devem ser administrados com proteção gástrica (p. ex., omeprazol, 20 mg/dia). o Em pacientes que respondem ao tratamento, as doses devem prosseguir por 1 a 2 semanas e, então, ser diminuídas durante várias semanas. A medicação deve ser tomada por, pelo menos, 3 a 4 semanas para minimizar o risco da pericardite recorrente Além disso, a colchicina (0,5 mg/dia [< 70 kg] ou 0,5 mg, 2 ×/dia [> 70 kg]) deve ser administrada por 3 meses. o A colchicina melhora a resposta aos AINEs e ajuda na redução dos riscos de pericardite recorrente. É contraindicado em pacientes com disfunção hepática ou renal. o O principal efeito colateral da colchicina é a diarreia. A dose mais baixa de colchicina deve ser usada em pacientes que pesam menos de 70 kg ou que tenham efeitos colaterais com a dose mais alta. Glicocorticoides: Prednisona, 1 mg/kg/dia) o Geralmente suprimemas manifestações clínicas da pericardite aguda em Julia Paris Malaco – UCT19 pacientes que não responderam à terapia ou não toleram AINEs e colchicina. o a dose completa de corticosteroides deve ser administrada por apenas 2 a 4 dias e, depois, reduzida gradualmente. Anticoagulantes: Os anticoagulantes devem ser evitados, pois seu uso pode causar sangramento na cavidade pericárdica e tamponamento. . Tamponamento cardíaco O acúmulo de líquido no espaço pericárdico, em quantidade suficiente para causar obstrução grave à entrada de sangue nos ventrículos, resulta em tamponamento cardíaco. As causas mais comuns de tamponamento são a pericardite idiopática e a pericardite secundária à doença neoplásica, tuberculose ou sangramento para o espaço pericárdico após vazamento de uma dissecção aórtica, cirurgia cardíaca, trauma e tratamento com anticoagulantes. Tríade de beck - são as três principais manifestações do tamponamento: hipotensão bulhas cardíacas hipofonéticas ou ausentes distensão venosa jugular com descenso x proeminente (protossistólico), mas descenso y ausente (protodiastólico). Pode haver redução da amplitude dos complexos QRS, e a alternância elétrica das ondas P, QRS ou T deve fortalecer a suspeita de tamponamento cardíaco. As limitações ao enchimento ventricular são responsáveis por uma redução do débito cardíaco e da pressão arterial. Sob condições normais, o espaço entre o pericárdio parietal e visceral pode acomodar apenas uma pequena quantidade de fluido antes do desenvolvimento de uma fisiologia de tamponamento. A quantidade de líquido necessária para produzir tamponamento cardíaco pode ser de apenas 200 mL quando o líquido se desenvolve rapidamente, para até > 2.000 mL nos derrames de aparecimento lento quando o pericárdio teve a oportunidade de distender e se adaptar ao aumento do volume. A fisiologia do tamponamento ocorre quando o acúmulo de fluido no espaço intrapericárdico é suficiente para comprimir o coração, resultando no preenchimento cardíaco prejudicado. O aumento na pressão pericárdica no tamponamento cardíaco acentua a interdependência entre as câmaras cardíacas, já que o volume cardíaco total é limitado pelo derrame pericárdico. Com a inspiração, o enchimento ventricular direito é intensificado, deslocando o septo interventricular na direção do ventrículo esquerdo e exagerando a redução no enchimento ventricular esquerdo e no volume de ejeção do VE resultante. Por causa das baixas pressões do lado direito, o ventrículo direito é mais vulnerável à compressão por um derrame pericárdico e o enchimento cardíaco direito anormal é o primeiro sinal de um derrame pericárdico hemodinamicamente significativo. No tamponamento, o enchimento cardíaco esquerdo ocorre preferencialmente durante a expiração, quando há menos enchimento do Julia Paris Malaco – UCT19 coração direito. O pequeno aumento respiratório normal no volume ventricular direito, com uma diminuição concomitante no volume ejetado ventricular esquerdo e pressão arterial sistólica, é bastante acentuado no tamponamento cardíaco e resulta no achado clínico do “pulso paradoxal”. Um pulso paradoxal pequeno (<10 mmHg), que é uma diminuição na pressão arterial sistêmica durante a inspiração, é normal e está relacionado com os ventrículos confinados dentro do pericárdio e compartilhando um septo comum. No tamponamento cardíaco, esse fenômeno é exagerado e a pressão arterial sistêmica cai mais de 10 mmHg durante a inspiração. O pulso paradoxal também pode estar presente no choque hipovolêmico, doença pulmonar obstrutiva crônica e broncospasmo. Fisiopatologia: Aumento do líquido no saco pericárdico → compressão das câmaras cardíacas (ocasiona estase jugular) → diminuição do volume de enchimento cardíaco e maior interdependência ventricular (causa redução do descenso Y do pulso venoso) → redução do retorno venoso e diminuição do débito cardíaco (hipotensão). Inspiração → diminuição da pressão intratorácica → aumento do retorno venoso → aumento da pressão do ventrículo direito (causa aumento da distensão jugular, sinal de Kussmaul) → desvio do septo para a esquerda → diminuição do enchimento do ventrículo esquerdo → queda da PAS > ou igual 10 mmHg (pulso arterial paradoxal). Clinica: O acúmulo lento e isolado do derrame pericárdico é muitas vezes completamente assintomático. bulhas cardíacas podem ser abafadas. radiografia de tórax mostrando cardiomegalia com um coração globular Os pacientes com hipotireoidismo, uremia ou doença vascular do colágeno podem ter derrame assintomático descoberto durante uma avaliação abrangente. Pacientes com tamponamento inicial ou iminente são geralmente ansiosos e taquicárdicos, taquipneicos e podem se queixar de dispneia, ortopneia e dor torácica. O aumento da pressão venosa geralmente é evidente como distensão venosa jugular. O descenso x (durante a sístole ventricular) é normalmente a onda venosa jugular dominante, com pouco ou nenhum descenso y (durante o início da diástole). O paciente pode apresentar sinais de insuficiência cardíaca direita, com edema periférico, dor no quadrante superior direito causada por congestão hepática ou enzimas hepáticas e nível de bilirrubina sérica anormais. Pode apresentar também hepatomegalia A marca característica de tamponamento cardíaco é um pulso paradoxal, definido como mais de 10 mmHg de queda na pressão arterial sistólica durante a inspiração. Quando grave, o pulso paradoxal pode ser aparente como a ausência de um pulso braquial ou radial palpável durante a inspiração. Um pulso paradoxal também pode ocorrer quando há grandes oscilações da pressão intratorácica, embolia pulmonar ou choque hipovolêmico Pulso paradoxal: Esse importante indício de tamponamento cardíaco consiste em um declínio inspiratório acima do normal (10 mmHg) na pressão arterial sistólica. Quando grave, pode ser detectado pela palpação de fraqueza ou desaparecimento do pulso arterial durante a inspiração, mas, em geral, é necessário medir a pressão sistólica com esfigmomanômetro durante a respiração lenta para detectá-lo. Como ambos os ventrículos compartilham revestimento justo e não compressível – ou seja, o saco pericárdico –, o aumento inspiratório do ventrículo direito causa abaulamento para a esquerda do septo interventricular, comprimindo e reduzindo o volume ventricular esquerdo, o volume sistólico e a pressão arterial sistólica. O pulso paradoxal também ocorre em cerca de um terço dos pacientes com pericardite constritiva (ver adiante) e em alguns casos de choque hipovolêmico, doenças obstrutivas agudas e crônicas das vias aéreas, bem como embolia pulmonar. Um infarto ventricular direito pode assemelhar-se ao tamponamento cardíaco com hipotensão, pressão venosa jugular elevada, deflexão y ausente no pulso venoso jugular e, às vezes, pulso paradoxal Diagnostico: O tamponamento cardíaco deve ser considerado no diagnóstico diferencial de qualquer paciente com choque ou atividade elétrica sem pulso. O exame clínico típico do tamponamento mostra uma distensão venosa jugular com um descenso x proeminente, taquicardia sinusal com hipotensão, pressão de pulso estreitada, pulso paradoxal elevado (>10 mmHg) e bulhas cardíacas abafadas. O pulso paradoxal pode ser óbvio por palpação; ele é medido de maneira melhor com um esfingomanômetro durante a inspiração lenta. O ECG mostra com voltagem baixa e, às vezes, uma alternância elétrica quando o Julia Paris Malaco – UCT19 coração oscila em um grande derrame pericárdico. A radiografia de tórax mostra uma sombra globular cardíaca aumentada sem congestão venosa pulmonar. A ecocardiografia, que é o principal método diagnóstico para tamponamento cardíaco, ela visualiza o derrame pericárdico, um espaço livre de eco ao redor do coração, demonstra a presença e o tamanho do derrame pericárdico e reflete suas consequências hemodinâmicas. A veia cava inferior é quase sempre aumentada, o colapso ventricular direito e atrial direito indica compressão cardíaca e a variação respiratória acentuada do enchimento ventricular é uma manifestação de interdependência ventricular aumentada. O colapso ventricular direito é mais específico para o tamponamento do que é o colapso atrial direito, mas as câmaras direitas podem não colapsar quando o tamponamento ocorre em pacientes com hipertensão pulmonar. Os achados do Doppler para tamponamento, que são mais sensíveis do que a ecocardiografia bidimensional, incluem aumento da variação respiratória das velocidades E da injeção mitral e tricúspide como uma função da interdependência ventricular. o Doppler mostra que as velocidades do fluxo sanguíneo através das valvas tricúspide e pulmonar aumentam acentuadamente durante a inspiração, enquanto as velocidades do fluxo na veia pulmonar, mitral e aórtica diminuem Apesar dos exames, por fim, é um diagnóstico clínico. A avaliação de rotina deve incluir uma avaliação da função renal, um nível de hormônio estimulador da tireoide, um hemograma completo com diferencial, uma contagem de plaquetas, os parâmetros de coagulação e um teste cutâneo tuberculínico. As medicações comuns que podem causar um derrame pericárdico incluem o cromoglicato, isoniazida, fenitoína; procainamida, hidralazina e reserpina são outras. Tratamento: O tratamento do tamponamento cardíaco é a drenagem urgente do derrame pericárdico, especialmente quando há comprometimento hemodinâmico. A reposição de fluidos pode ser de benefício transitório, se o paciente estiver com depleção de volume (tamponamento cardíaco hipovolêmico). O início da ventilação mecânica em um paciente com tamponamento pode produzir uma queda repentina de pressão arterial, porque a pressão intratorácica positiva prejudica ainda mais o preenchimento cardíaco. A pericardiocentese percutânea guiada por ecocardiografia, que pode ser realizada no leito por operadores experientes, é indicada se o paciente estiver em circunstâncias desesperadoras e pelo menos 1 cm de fluido for observado anterior à parede livre ventricular médio-direita durante a diástole. O máximo de fluido possível deve ser removido. A drenagem contínua do fluido pericárdico através de um cateter intravenoso minimiza o risco de derrame recorrente. Pericardite Constritiva Esse distúrbio ocorre quando a resolução de uma pericardite fibrinosa ou serofibrinosa ou a reabsorção de um derrame pericárdico crônico são sucedidas pela obliteração da cavidade pericárdica com a formação de tecido de granulação, o qual se contrai gradualmente e forma uma cicatriz firme que pode calcificar, encarcerando o coração Julia Paris Malaco – UCT19 Miopericardite A miopericardite concomitante pode se desenvolver em pacientes com pericardite, provavelmente devido à extensão direta do processo inflamatório, e é frequentemente manifestada por atrasos de condução no ECG, arritmias ventriculares e níveis elevados de troponina. Nenhum tratamento específico está disponível. A dilatação ventricular aguda e súbita ou a insuficiência cardíaca progressiva desenvolvem- se em alguns pacientes após a pericardiectomia para pericardite constritiva ou até mesmo após a drenagem de um grande derrame pericárdico. A síndrome pode ser a miocardite subjacente. Miocardite Define-se miocardiopatia como doença do músculo cardíaco. As cardiomiopatias são classificadas, de acordo com a morfologia ventricular e a fisiopatologia, em quatro tipos principais: dilatada, hipertrófica, restritiva e ventricular direita arritmogênica (CVDA). As doenças que não se encaixam nesses grupos (tais como fibroelastose endocárdica e miocárdio não compactado de ventrículo esquerdo) são denominadas cardiomiopatias não classificadas. As miocardiopatias dilatadas e hipertróficas podem ser distinguidas com base na espessura da parede ventricular esquerda e nas dimensões da cavidade; entretanto, a miocardiopatia restritiva pode se apresentar com aumento variável na espessura da parede e com alteração nas dimensões da câmara, variando desde redução até aumento discreto, com proeminente aumento atrial. Atualmente, a miocardiopatia restritiva é definida com base na alteração da função diastólica, que também está presente, ainda que de forma menos evidente no início, nas formas hipertrófica e dilatada. A miocardiopatia restritiva pode se sobrepor às formas hipertrófica e dilatada no que se refere à apresentação, à morfologia macroscópica e à etiologia. Fisiopatologia: Fase aguda: caracterizada pela viremia - lesão direta – necrose do miocito é causada pelo agente etiológico com a entrada do vírus na célula e replicação do mesmo dentro da célula, que acaba fazendo uma modulação na célula cardíaca e faz com que ela crie cada vez mais novos vírus e com isso ela acaba entrando em necrose porque perde sua função normal ou porque o excesso de replicação dentro dela faz com que ela “exploda”. Com a morte das células, ocorre recrutamento de células imunes para aquela região, nesse momento da fase aguda quem chega é o macrófago, fazendo uma reposta imune inata, para tentar remover o que a morte celular causou. O macrófago também inicia a sinalização para que essa resposta se adapte, ele então começa a liberar citocinas pro inflamatórias (IL1, IL2 TNF, IFgama). A fase aguda dura em torno de 7 a 10 dias e se sobrepõe a fase subaguda. Fase subaguda: começa mais ou menos a partir do 4º dia até 14 dias – depende da resposta imune. É nessa fase que ocorre a resposta imune adaptativa, com a presença de linfócitos T e B, esses linfócitos se infiltram no miocárdio, primeiro o T citotóxico que tem função de ativar a via de morte celular para matar a célula infectada, induzindo a consequente morte de mais miocitos. Os linfócitos B e T helper também chegam para opsonizar e neutralizar o vírus para que a infecção seja contida, mas os linfócitos B também reconhecem como estranhos os próprios componentes da célula (miocitos) - que são a miosina e actina (proteínas que fazem contração muscular) – e acabam matando essas proteínas também. Nessa fase é onde ocorre maior dano no miocárdio e onde é definido se o paciente terá sintomas ou não. Fase crônica: resolução/reparo da inflamação – substituição do tecido muscular por colágeno/tecido conjuntivo, que é a fibrose. A consequência dessa fibrose depende do quanto a resposta imune na fase anterior afetou o musculo cardíaco. Uma das consequências dessa fibrose, dependendo do tamanho, é a dilatação do ventrículo, pelo fato do tecido conjuntivo não conseguir fazer a contração que ocorria normalmente antes da fibrose, evoluindo para uma cardiomiopatia dilatada – aumento o volume diastólico e diminuição da fração de ejeção – podendo levar também a falência cardíaca. Julia Paris Malaco – UCT19 Classificação das miocardiopatias Dilatada Hipertrófica Restritiva CVDA Causas - Miocardite - Metabólica/endócrina - Genética - periparto - Genética - Doenças infiltrativas ou de armazenamento - Endomiocárdica (p. ex., carcinoide de Löffler) - Genética - Genética Fração de ejeção Reduzida (geralmente
Compartilhar