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TUTELA_JURDICA_DA_FAUNA

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TUTELA JURÍDICA DA FAUNA 
Marise Costa de Souza Duarte 
Mestre em Direito Público 
Doutora em Arquitetura e Urbanismo 
marise_csd@yahoo.com.br
FAUNA
INTRODUÇÃO E CONCEITUAÇÃO 
NORMAS INTERNACIONAIS APLICÁVEIS 
A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E A LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL 
NORMAS CONSTITUCIONAIS 
A LEI DE PROTEÇÃO À FAUNA E OUTRAS 
A LEI DE CRIMES AMBIENTAIS E INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS 
DECISÕES EMBLEMÁTICAS DO STF E STJ 
RECENTES ATUAÇÕES DO LEGISLATIVO FEDERAL 
INTRODUÇÃO E CONCEITUAÇÃO 
Interconexão com normas de proteção da flora, da água, do solo, do ar, dos espaços especialmente protegidos (que compõem os ecossistemas). 
Fauna como termômetro da Biodiversidade na manutenção do equilíbrio ecológico (MILARÉ, 2010) 
Fauna com função ecológica quando participa da manutenção e equilíbrio do ecossistema (art.225, §1º, VII, da CF/88). 
Fauna: conjunto da vida animal localizada em determinado espaço, em um certo período de tempo (GRANZIERA, 2015).
Várias divisões da fauna. Principais:
GEOGRAFICAMENTE (MILARÉ, 2010):
TERRESTRE – que habita as superfícies sólidas do Planeta (silvestre e doméstica) ou se desloca pelo espaço atmosférico (fauna alada ou avifauna) 
AQUÁTICA – que habita em meio líquido (oceânico, fluvial ou lacustre). São os peixes, que constituem a ictiofauna (conjunto de espécies de peixes que habitam em uma região). 
QUANTO AO HABITAT
Silvestre – conjunto de animais que vivem em liberdade, fora do cativeiro
Doméstica – que não vive em liberdade, mas em cativeiro. Obs. Discussão quanto aos animais em criadouros. Lei 5.197/67, em seu art.3º, indica pertencerem à fauna silvestre. Porém, o próprio artigo 1º da mesma Lei permite compreendê-los como integrantes da fauna doméstica 
Fauna como recurso ambiental (Lei 6.938/81, art.3º, V). Desse modo, são bens sobre os quais incide a ação do homem, não sendo considerada sujeito de direitos, de acordo com o sistema jurídico brasileiro.
Atual debate: animais portadores de direito ou objeto de proteção pelo Direito? Disciplina específica: Direito dos Animais 
Fauna como bem ambiental (microbem). A fauna já foi considerada res nullius (Código Civil/1916; Decreto-Lei 5.894/43- Código de Caça e Decreto-Lei 794/38-Código de Pesca). Com a Lei 5.197/67 (revogou aqueles Códigos), a fauna silvestre foi considerada bem da União (art.1º). Mas, como bem público (uso comum do povo) e não, patrimonial (de domínio privado), sem permissão de “usar, gozar e dispor”. Estão sob o domínio da Nação, por estarem regulados por normas administrativas estatais. (MACHADO, 2016). 
Fauna silvestre (conceitos):
Lei 5.197/67 (art. 1º): animais de quaisquer espécies, em qualquer fase do seu desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do cativeiro, bem como seus ninhos, abrigos e criadouros naturais. Proibida a sua utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha.
Lei 9.605/98 (art. 29, §3°): espécimes da fauna silvestre são todos aqueles pertencentes às espécies nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras. 
Proteção da fauna pode ocorrer:
in situ - através de espaços territoriais especialmente protegidos, como as Unidades de Conservação (Lei 9985/2000): Refúgio da Vida Silvestre e Reservas da Fauna
ex situ – fora daqueles ambientes; como os Jardins Zoológicos 
NORMAIS INTERNACIONAIS APLICÁVEIS
Convenção sobre Zonas Úmidas de Importância Internacional ou Convenção de Ramsar – 1971 
Destina-se à proteção de ecossistemas necessários à sobrevivência de espécies migratórias. Estabelece marcos para ações nacionais e para a cooperação entre países com o objetivo de promover a conservação e o uso racional de áreas úmidas no mundo. Os países signatários da Convenção devem estabelecer uma Lista de Zonas Úmidas de Importância Internacional com descrição detalhada das áreas respectivas. 
Zonas úmidas: áreas de pântano, charco, turfa ou água, natural ou artificial, permanente ou temporária, com água estagnada ou corrente, doce, salobra ou salgada, incluindo áreas de água marítima com menos de seis metros de profundidade na maré baixa. (RAMSAR, 1971)
Foi promulgada no Brasil pelo Decreto nº 1.905/96. O Comitê Nacional de Zonas Úmidas – CNZU do MMA editou a Recomendação CNZU nº 7, de 11 de junho de 2015, aprovando um sistema de classificação das áreas úmidas brasileiras (ferramenta básica para a formulação de políticas e conservação dessas áreas).
 
Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagem em Perigo de Extinção (CITES) ou Convenção de Washington - 1973 
Pretende assegurar que o comércio de animais e plantas selvagens, e de produtos derivados, não coloque em risco a sobrevivência das espécies nem constitua um perigo para a manutenção da biodiversidade
Controla e/ou proíbe comércio internacional de espécies ameaçadas (inclui cerca de 5.000 espécies animais e 25.000 vegetais);
Foi promulgada pelo Brasil pelo Dec. 76.623/75. O Decreto 3.607/2000 tratou da implementação da CITES no pais, designando o IBAMA como autoridade administrativa e autoridade científIca, com competências específicas (ver texto do Decreto).
Declaração Universal dos Direitos Animais: proposta para constituição de um documento normativo internacional, apresentado à UNESCO (pela Liga Internacional dos Direitos do Animal e pelas ligas nacionais existentes à época) em 15.10.1978. 
Principal objetivo: criar parâmetros jurídicos voltados à implementação dos direitos animais pelos países membros da ONU. Atualmente, ONG World Animal Protection lidera o movimento global pela aprovação. 
Análise sobre a matéria: PORTO, Adriane Célia de Souza Porto e Paccagnella, Amanda Formisano. A verdadeira natureza jurídica da Declaração Universal dos Direitos dos Animais e sua força como carta de princípios. http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=19733. Acesso em 10.4.2018
 ART. 225 – obrigação de fazer do Poder Público (§1o) 
(….)
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade 
 COMPETÊNCIAS:
LEGISLATIVA:
art.24, VI - competência concorrente: União, Estados e DF
art.30, II – competência suplementar: municípios 
ADMINISTRATIVA (comum a todos os entes) 
	 art.23, VII
A FAUNA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 
FAUNA NA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL
 Segundo a legislação brasileira, os espécimes da fauna podem ser utilizados com finalidades científica, recreativa e cultural (com limitações constitucionais e legais). 
 Lei 5197/67 (Lei de Proteção à Fauna).
 Decreto 97633/89 (regulamenta o Conselho Nacional de Proteção à Fauna). 
 Lei 11.794/2008 (estabelece procedimentos para o uso científico de animais). Fundamento no art.14 da Lei 5.197/67 (Lei de Proteção à Fauna). Conhecida como Lei Arouca. Também criou o CONCEA (Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal), exigindo a criação de CEUAs (Comissões de Ética no Uso de Animais) para o credenciamento das instituições com atividades de ensino ou pesquisa com animais. 
 Animais em circo. Não há legislação federal (registra-se apenas o Projeto de Lei 7291/06 – em out/2010: pronto para ir a Plenário). Existem leis estaduais (Alagoas, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo) que proíbem.
 Jardins Zoológicos. Regulados pela Lei Federal 7.173/83. Atendimento de finalidades socioculturais e objetivos científicos. Funcionamento depende de prévia autorização do Poder Público Federal. 
 Lei 10519/2002 (defesa sanitária animal em rodeios).
 Leis estaduais de Proteção e Defesa dos Animais. RN: Lei nº 10.326, de 9.1.2018 
 Quanto à CAÇA: 
 Profissional: proibida pela Lei 5.197/67 (art.2º)
Amadora (recreativa e esportiva). Fundamento nos artigos 11 a 13 da Lei5.197/67. Não existe unanimidade doutrinária. Para os que admitem, há necessidade de estudos científicos que forneçam bases para o desenvolvimento da atividade com menor prejuízo ambiental (RS é o único Estado brasileiro que atende às exigências da lei e por isso tem a atividade autorizada pelo IBAMA). Ex: Portaria 73/02-IBAMA (permitindo caça de perdizes, lebres, dentre outras, em período e territórios definidos. Existe decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região proibindo. ACP impetrada, em 2004, pela ONG União Pela Vida contra o IBAMA). https://www.youtube.com/watch?v=ndvz7Ptaqlk (3min6s)
De subsistência – não há disposição legal expressa, mas é caso de excludente de ilicitude no caso de crime ambiental (Lei 9605/98, art.37)
De controle (destruição de animais silvestres considerados nocivos ao meio ambiente e ao homem). Regramento pelo IBAMA/RS em casos específicos. Exemplos: Instrução Normativa 3/2013 (javali) 
Proibição de comércio de espécimes da fauna silvestre e objetos derivados de caça (art.3º da Lei 5.197/67). 
Lei 9985/2000 (SNUC) revogou o art.5, b, da Lei 5.197/67, que previa a criação de parques de caça (permitindo a caça para fins recreativos, educativos e turísticos) 
 Quanto à PESCA:
deve ser compatível com a capacidade de reprodução das espécies. 
Dec. Lei n.221/67 (Proteção e estímulo à pesca). Fauna aquática era considerada como atividade de interesse econômico. Foi praticamente todo alterado pel Lei 11.959/2009, que estabelece a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca. Importantes conceitos (art.2°): Ver texto da Lei
I – recursos pesqueiros: os animais e os vegetais hidróbios passíveis de exploração, estudo ou pesquisa pela pesca amadora, de subsistência, científica, comercial e pela aquicultura;
II – aquicultura: a atividade de cultivo de organismos cujo ciclo de vida em condições naturais se dá total ou parcialmente em meio aquático, implicando a propriedade do estoque sob cultivo, equiparada à atividade agropecuária e classificada nos termos do art. 20 desta Lei;
III – pesca: toda operação, ação ou ato tendente a extrair, colher, apanhar, apreender ou capturar recursos pesqueiros;
IV – aquicultor: a pessoa física ou jurídica que, registrada e licenciada pelas autoridades competentes, exerce a aquicultura com fins comerciais;
(.....)
Lei n.7643/87 (proíbe a pesca de cetáceos – mamíferos carnívoros aquáticos: golfinhos, botos, baleias).
 
 Crimes: Seção I do Cap.V da Lei Federal n.9605/98;
 Infrações administrativas: art.24 a 42 do Dec.6.514/2010. 
LEI DE CRIMES AMBIENTAIS E INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS (Lei 9.605/98) E SEU DECRETO REGULAMENTADOR (Decreto 6.514/2008) 
Decisão da 2ª Turma do STJ (2009) no Recurso Especial nº 1.115.916/MG (Rel. Min. Humberto Martins). Eliminação de animais em Centro de Controle de Zoonose não pode ser feita de modo cruel. “Em situações extremas em que o sacrifício de animais seja imprescindível para proteger a saúde humana, deverão ser utilizados métodos que amenizem ou inibam o sofrimento dos animais”. 
STF - na ADI 1856 (RJ) e ADI 3776 (RN) - briga de galo (rinha) e no RE 153531 (SC) - farra do boi. Compreensão de que o conflito de normas constitucionais (cultura x meio ambiente) se resolve em favor da preservação do meio ambiente quando as práticas e os esportes condenam animais a situações degradantes. 
ADI 4983 (CE) – STF julgou inconstitucional lei cearense que regulamentou a prática de vaquejada (out/2016). 
ADI 5728 (DF) – Interposta pelo FORUM NACIONAL DE PROTECAO E DEFESA ANIMAL em face da Emenda Constitucional 96/2017. Situação atual: conclusa ao Relator desde 3.5.2018.
DECISÕES (EMBLEMÁTICAS) DO STF E STJ E ADI EM FACE DA EC 96/2017 
Entendimento do Ministro Luiz Roberto Barroso no julgamento da ADI 4983/CE
Manifestações culturais com características de entretenimento que submetem animais a crueldade são incompatíveis com o art. 225, §1º, VII, da Constituição Federal, quando for impossível sua regulamentação de modo suficiente para evitar práticas cruéis, sem que a própria prática seja descaracterizada.
INICIATIVAS LEGISLATIVAS 
Em nov/2016 foi sancionada a Lei n 13.364, que “eleva o rodeio, a vaquejada, bem como as respectivas expressões artístico-culturais, à condição de manifestação cultural nacional e de patrimônio cultural imaterial”
Através da PEC 50/2016 e, respectiva, EMENDA CONSTITUCIONAL 96/2017 foi acrescentado o §7º ao art. 225 da CF/88 para permitir a realização das manifestações culturais registradas como patrimônio cultural brasileiro que não atentem contra o bem-estar animal.
PL 6.799/2013 ( Ricardo Izar (PSD-SP): estabelece regime jurídico especial para os animais não humanos. 
PL 6268/2016 Valdir Colatto - PMDB/SC (conhecido como o PL da Caça) – Ementa: “Dispõe sobre a Política Nacional de Fauna e dá outras providências”. Registram-se vários retrocessos à atual legislação que tutela a fauna.

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