Buscar

Resenha Ser humano, consciência e sociedade em movimento - Paulo Freire - Psicologia Social II

Prévia do material em texto

1
RESENHA - SER HUMANO, CONSCIÊNCIA E SOCIEDADE EM MOVIMENTO - PAULO FREIRE
Autores interligados na resenha: Silvia Lane e Martinho Baró
A EDUCAÇÃO E O PROCESSO DE MUDANÇA SOCIAL
Compartilho, inicialmente, uma reflexão dentro do texto da autora Silvia Lane no qual resumidamente ela define uma ideia de homem que é interligado socialmente, um homem biológico, mas de necessidades externas. Remetendo à uma ideia de um sujeito ativo e ao mesmo tempo passivo que é afetado pelas próprias mudanças que produz no ambiente, um produto histórico-social. Assim como Lane, Paulo Freire ao falar sobre a educação e o processo de mudança social, inicia o capítulo fazendo uma reflexão sobre o homem, sobre sua natureza, provocando a nós mesmos no sentido de que a partir de nossas próprias experiências, podermos identificar, ou melhor, fazermos uma tentativa de explicar o núcleo fundamental do processo de educação, e que apesar de inconclusivo, o texto propõe uma definição para a temática na perspectiva de que o homem é um ser “inacabado” e em “constante busca”, motivo pelo qual esse processo de educação se dá através dessa mobilidade, esse constante movimento. Com isso, o texto ressalta a busca solitária definindo-o como uma forma de ser “menos”. Em contrapartida, a busca com os outros, “consciências coletivas”, seria uma forma de ser “mais”. Em suma, o homem estaria numa posição de ser “único” mas sendo construído nas relações.
Sobre o saber e a ignorância, o autor reconhece a eficácia individual do saber quando ele relata que não há ignorantes “absolutos”, cada qual domina sua área de saber, remetendo uma ideia de que o indivíduo se complementa com o outro, move e é movido pelo meio, interage e é afetado por esta interação. Enquanto Martinho Baró estuda um ser “ideológico”, Paulo Freire trabalha as relações, a forma que eu afeto e sou afetado pelo meio social.
Quanto a instrumentação da educação, o autor vai dizer que o que implica esta questão é levar o indivíduo a pensar em sua própria condição, a fazer reflexões de maneira crítica sobre a sua situacionalidade e sua temporalidade e que ambas devem ocorrer em harmonia, um sujeito que “não” é um mero expectador e sim, um sujeito que interfere. Quanto ao relacionar-se, o autor expõe que vai muito mais além da interação com o outro, envolve os desafios do ambiente, uma relação com o mundo. Ele define que essas relações são compostas de pluralidade, criticidade, de consequência e de temporalidade. Quanto às características desta relação, ela se dá de maneira reflexiva sobre os desafios, objetivando a busca por soluções e transformando situações, como também a consequência que se resulta da criação e recriação, e quanto a educação, esta não deve ter a função de tornar um indivíduo adaptável, mas sim, transformador. Essas relações também assumem o lugar de temporais e transcendentes. O autor faz um comparativo com a vida animal, ressaltando algumas diferenças em relação ao comportamento do ser humano, enumera algumas características animais, dentre elas, o animal como um ser instintivo, atemporal, inconsequentes, reflexo, um ser não de relações, mas de contatos, estão (no) e não (com) o mundo. Sylvia Lane vai dizer que a consciência da reprodução ideológica definidos socialmente, permitem aos indivíduos superarem suas individualidades e compreenderem suas condições históricas em comum que o caracterizam como uma unidade.
Freire retoma uma visão mais ampla quanto a mudança de percepção, considerando que essa percepção requer uma dinâmica entre o “antes” e o “hoje”, sendo o “antes” no sentido de passado-presente e o “hoje” aquele que protagoniza a mudança e a estabilidade. Com base nessa dicotomia, cabe-se pensar uma nova percepção crítica de realidade, estar ‘não’ sob o tempo e ‘sim’ no tempo, um indivíduo que pensa, cresce, transforma e não se adapta de forma coagida.
Sobre a sociedade fechada, o autor descreve dois tipos: “A sociedade-sujeito e a sociedade-objeto”. A sociedade-sujeito é aquela com poder de decisão, ditatorial e impositora de regras. já a sociedade-objeto retrata uma sociedade não reflexiva, à margem subjulgada, não estando na posição de povo e sim de massa, de participação indireta, marcados como objetos e não como sujeitos. A meta de uma sociedade fechada é a conservação do status, havendo uma diferença entre trabalho manual e intelectual, uma construção social de valoração dos trabalhos intelectuais sendo eles dignos e os manuais indignos, bem como as escolas técnicas para classes populares e graduações para elites e assim sucessivamente... O autor enfatiza a importância de se trabalhar o social não só no agir, mas nos objetivos, levando à uma reflexão crítica com o propósito de uma mudança cultural que segundo ele, a mudança cultural tem base na estrutura social, o ato de criar e recriar em todas as áreas de atividade humana, afetando sua forma de ser e de se comportar. Lane afirma que a análise do processo grupal nos permite captar a dialética indivíduo-grupo, quando indivíduo e grupo se tornam agentes da história social.
Uma sociedade em transição, segundo Freire, está numa posição progressista e reacionária quanto ao processo de desalienação a partir do surgimento de novos valores e que a educação das massas se inicia quando elas descobrem na educação um canal para um novo status. Essas co-relações mobilizam as manifestações e reivindicações. Já sobre a “consciência bancária”, o autor afirma que ela se traduz num depósito de informações onde o próprio homem é o objeto passivo perdendo seu poder de criar, por exemplo, o professor na posição de depositante e o aluno na posição de depositário. A questão em pauta é que os indivíduos se dividem entre aqueles que desejam ou não a mudança e a estabilidade, sendo que toda mudança gera respostas, algumas estruturais outras ideológicas. O autor reitera que uma mudança de uma parte, afeta a outra parte até a mudança de sua totalidade.
Um fator bem evidenciado no texto que merece nossa reflexão é a consciência crítica, que segundo o autor é um fator essencial para se pensar o social, um sujeito que tem voz ativa, de opinião, aberto ao novo, que analisa os fatos, verifica, compartilha ideias e está sujeito a mudanças. Uma mudança, de acordo com Freire, é pautada na realidade histórico-cultural, humana, criada pelo homem e que pode ser transformada por ele.
Concernente ao papel do trabalhador social, o autor afirma que este se dá no processo de mudança, um agente pretencioso de ação e reação enfatizando a estabilidade no processo da estrutura social, ressaltando a essência dessa estrutura, não sendo nem mutável e nem estática, mas sim, dialética, inteirada pela “demora” e “resistência” culturais, rígidas a transformações. Sendo a mudança e a transformação resultados da ação do homem, um ser de práxis, que responde aos desafios, cria seu mundo histórico e cultural e que de igual modo é por ele condicionado.

Continue navegando