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RECURSOS DIGITAIS: SOFTWARES EDUCACIONAIS Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autores: Wellington Lima Amorim e Everaldo da Silva CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Camila Roczanski Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2019 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: AM524r Amorim, Wellington Lima Recursos digitais: softwares educacionais. / Wellington Lima Amorim; Everaldo da Silva. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 152 p.; il. ISBN 978-85-7141-310-8 1. Computação. – Brasil. 2. Softwares educacionais. – Brasil. I. Silva, Everaldo da. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 004 Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Globalização, Racionalidade e Sociedade em Redes ...............7 CAPÍTULO 2 Gestão do Conhecimento e Revolução 4.0 ..............................51 CAPÍTULO 3 Experiências e Reflexões Sobre Inovações na Educação ....95 APRESENTAÇÃO É com imensa satisfação que apresentamos o livro da disciplina de Recursos Digitais: Softwares Educacionais. Sua elaboração é resultado de um longo processo de discussão e reflexão entre os autores. Sem dúvida, sua origem está pautada no respeito, na valorização e na credibilidade conferida aos professores e estudantes da comunidade acadêmica da UNIASSELVI. Nosso objetivo aqui é fomentar o desenvolvimento do conhecimento científico e contribuir para a sua disseminação entre as comunidades acadêmicas. Os textos, as leituras e as atividades aqui apresentados são importantes para você estudante, principalmente aqueles focados em temáticas que buscam estabelecer uma parceria entre a empresa, a ciência, a inovação e o desenvolvimento pessoal. Ao ler as análises e as discussões promovidas nos estudos apresentados, é possível perceber o espírito investigativo de seus autores. Além disso, constatamos releituras sobre temas atuais e polêmicos, bem como proposições e reflexões que podem contribuir para o incremento de novas práticas nas diversas áreas do conhecimento científico e no mundo do trabalho. Nesta obra apresentaremos temas relacionados à Globalização, à Cultura, à Sociedade em Redes e da Informação, à Inteligência Artificial, à Inovação na Educação e à Interdisciplinaridade. Uma boa leitura, e lembrando o que o diz o professor Waldez Ludwig: “Num mundo em que a diferença será pelo talento, criatividade e capacidade de reinventar-se, a educação pela “decoreba” está com os dias contados”. Os autores. CAPÍTULO 1 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • Identifi car a relação entre o processo de globalização da informação e da cultura, seus efeitos nas relações sociais e na educação contemporânea. • Espírito de cooperação, indispensável para o desenvolvimento social saudável e sustentável. Capacidade para relacionar teoria e prática numa perspectiva de desenvolvimento social. 8 Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais 9 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Iniciaremos nossa jornada na leitura e discussão de temas relevantes sobre Recursos Digitais: Softwares Educacionais. Neste capítulo, nosso objetivo é fazer com que você refl ita sobre globalização e redes, sociedade da informação, cultura e criatividade, tudo isso num processo de produção sofi sticado e bem cuidado. Publicar e discutir sobre esses temas hoje é fundamental. Isso demonstra mais uma vez que vale a pena se dedicar à leitura, à escrita e à elaboração de um texto de acordo com as regras metodológicas que orientam todos os trabalhos da UNIASSELVI. 2 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES A sociedade moderna, em permanente mudança, exige estudo constante de todos nós. A educação convencional não consegue mais atender à demanda de formação e atualização profi ssional no atual sistema. Felizmente, a evolução tecnológica possibilita novas soluções na área da educação. Uma dessas soluções é o ensino a distância: caracterizado pela separação física entre o professor e o aluno, que são conectados por uma tecnologia de comunicação bidirecional, tendo a mídia como uma mola propulsora da elaboração, discussão e divulgação do conhecimento. Uma das primeiras mídias conhecidas pela civilização é o livro. Todavia, existem diversas mídias consideradas de massa, como a imprensa, o cinema, o rádio, a televisão e, mais recentemente, a internet. Contemporaneamente, os efeitos que as mídias de massa passam a exercer sobre o ser humano podem ser analisados interdisciplinarmente, perpassando transversalmente a Educação, a Psicologia, a Sociologia, a Antropologia etc. É preciso pensar sobre as diferentes áreas e como elas se conectam e fornecem subsídios para formar identidades no mundo contemporâneo a partir dos efeitos da tecnologia em rede e a globalização. É possível perceber que diferentemente de outras mídias, a internet exige do indivíduo outra postura, diferentemente da tradicional que, em geral, nos colocava diante de certa passividade, fragilidade Uma das primeiras mídias conhecidas pela civilização é o livro. Todavia, existem diversas mídias consideradas de massa, como a imprensa, o cinema, o rádio, a televisão e, mais recentemente, a internet. 10 Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais e domesticação frente aos meios de comunicação de massa. No paradigma tradicional, somos seres domesticados, no atual paradigma, somos seres desinibidos, interdisciplinares, multidisciplinares e líquidos. Segundo Sloterdijk (2000), em sua obra, As Regras do Parque Humano, as novas tecnologias provocaram a falência do humanismo ocidental, uma vez que não conseguem mais domesticar o homem, desinibindo-o. No atual estágio de desenvolvimento ocorreu um deslocamento do humanismo que sempre buscou a última fundamentação das coisas em si mesmas e que sempre exigiu um alto grau de domesticação para se buscar um fi m, para um plano midiático onde impera o médium, o meio, e não mais um fi m em si. É importante lembrar que o livro, enquanto mídia, sempre teve a escrita como método de persuasão para atingir o outro para quem se endereça a obra, o leitor. A obra literária por mais de 2.500 anos teve a função de domesticar (sinônimo de civilizar). A escrita exige do indivíduo atenção, foco, monodimensionalidade, uma técnica específi ca de capturar amigos através da persuasão da escrita, de construção de subjetividades. Contudo, serão as redes computacionais que desinibirão o homem, atiçando a sua vontade de poder. Saiba mais sobre a Língua Portuguesa no Brasil. Disponível em: <http://museudalinguaportuguesa.org.br/>. 11 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 A INTELIGÊNCIA CORPORAL DIANTE DAS EMPRESAS MECANICISTAS Para entender melhor a grande problemática que afeta os profi ssionais no sistema organizacional mecanicista, com seus corpos inteligentes, é preciso compreender exatamente o cotidiano das repetições em suas funções, ou seja, entender o que existe dentro do sistema mecanicista. O potencial corporal humano está voltado para a rapidez (tempo) e para o controle de tarefas (produção). Assim,o profi ssional é uma engrenagem e sua potencialidade corporal neste momento fi ca engessada e o raciocínio semibloqueado. Na vida trabalhista, o problema não está no “não pensar, e sim no executar”. É um fenômeno paralisante e moderno, pois as primeiras atividades elaborativas no histórico do mundo chamado trabalho estão voltadas ao artesanato, vindo depois a industrialização e, em seguida, a informatização. No setor Organizacional Mecanicista, a evolução da industrialização e da informatização proporciona inovações que impossibilitam os colaboradores de criar e produzir corporalmente. Talvez nasçam daí o sentimento de frustração em suas atividades repetitivas e o sentir-se robô da indústria. Apesar de reconhecermos a efi cácia dos modelos tradicionais mecanicistas em um determinado momento da história, temos certeza que estes modelos são ultrapassados para o nosso momento. Precisamos mudar, o mundo mudou, nossa sociedade mudou e com isso temos que ver e tratar o indivíduo não somente como mão de obra, ou ser pensante que é, mas também como um ser que sente, que fala, que tem desejos e que está cada vez mais conectado. Em pleno século XXI, verifi camos mudanças radicais, com uma crescente exigência de um trabalhador polivalente, multidisciplinar, capaz de estar pronto para rápidas mudanças, muitas vezes antecipando-se ao ambiente tecnológico e econômico e, principalmente, ter a capacidade de trabalhar em equipe, tendo como requisito fundamental um bom relacionamento interpessoal, capacidade de lidar com as pessoas e vontade de crescer na organização. Precisamos mudar, o mundo mudou, nossa sociedade mudou e com isso temos que ver e tratar o indivíduo não somente como mão de obra, ou ser pensante que é, mas também como um ser que sente, que fala, que tem desejos e que está cada vez mais conectado. 12 Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais Este robô-orgânico, que pensa, memoriza, enxerga, interpreta, raciocina e refl ete o que se passa em seu meio de trabalho, poderá encontrar o fracasso em seu trabalho, com a não contribuição de seus corpos inteligentes. Este efeito em massa mecanicista, do não crescer intelectual e corporalmente, traz um diagnóstico nítido para a lupa da Inteligência Corporal na educação/treinamento no trabalho, no sentido do desenvolvimento humano, não despertando corporalmente com a psique. O processo de insatisfação dos funcionários, nesse processo de controle e de tempo, seria a transformação do ambiente profi ssional em um campo de tortura, ou seja, de perda do ciclo de felicidade no trabalho. Diante do momento extraordinário do desenvolvimento do capital humano, o desenvolvimento corporal contribui para o talento corporal e este referencial passa a obter e a sustentar vantagens competitivas dentro das organizações mecanicistas. Para refl etirmos sobre nossa apresentação, tentaremos nos colocar como os funcionários que atuam nas indústrias (sistema mecanicista), na qual estão acostumados a fazer atividades repetitivas. Isso dá indícios de que o sofrimento profi ssional fi cou acima das máquinas, perante esses longos anos e trouxe com ele a dor da não potencialidade corporal para o ciclo do desenvolvimento humano, como um ser efi ciente e efi caz em suas tarefas profi ssionais cristalizadas, ou seja, com uma camisa de força. Estas “lágrimas” profi ssionais são importantes para a reestruturação de novos movimentos corporais e novas execuções elaborativas, pois elas aparecem como intermediárias, necessárias para a não submissão do executar, mas, sim, para o senso corporal de contribuir, dentro de uma visão de reestruturação. A inteligência corporal assumirá o compromisso de refazer as imagens corporais, rompendo o gesso, descristalizando o perigo sobre as máquinas, desmistifi cando o medo de ser um profi ssional com mais talento e mais competente com seus movimentos e gestos. Fomos educados para controlar e disciplinar o corpo, não podemos esquecer que nascemos bebê e o corpo é a grande alavanca para o conhecimento do novo mundo desconhecido, o movimento e 13 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 os gestos são agentes formadores de nossa psique, lógico que a mente apresenta seu papel fundamental. A pré-depressão corporal tornou-se tão comum nas organizações mecanicistas que esta reação passou a ser chamada de “estado adormecido corporal”. Acredite mais em sua potencialidade corporal, ela é a melhor amiga da sua mente e não deixará ser vencida pelos pensamentos autoritários, solte-se e deixe viver plenamente com o seu maravilhoso corpo. Lembre-se: seus pés e suas mãos trouxeram você aqui e, com certeza, o levaram à refl exão e ao encontro do novo caminho de atividades. FONTE: MARTINI, M. de. A inteligência corporal diante das empresas mecanicistas. 2003. Disponível em: http://www.rh.com. br/Portal/Mudanca/Artigo/3610/a-inteligencia-corporal-diante-das- empresas-mecanicistas.html. Acesso em: 13 nov. 2018. Vale destacar que uma das mudanças que temos percebido durante o atual período de transição das organizações e dos indivíduos é a questão da contingência. Quando falamos de contingência, estamos falando de algo incerto ou eventual. São fatores que podem ser tanto internos quanto externos à organização e podem mudar a estrutura do ambiente organizacional. Para nós, os seres humanos não são objetos; ou seja, controláveis por alguma mão invisível ou algum mecanismo, inatingível e autorregulável, de ameaças. Para nós, o homem é um sujeito: um ser autodeterminado que é capaz de participar na transformação de seu mundo. Com sua capacidade criadora, ele é capaz de transformar estreiteza em profundidade (GARCIA, 1980, p. 16). Dentre as milhares de teorias que já foram ou ainda serão formuladas em Administração, há uma que nunca será aposentada por invalidez ou velhice. A Teoria da Contingência nem é bem uma teoria, mas uma simples questão de bom senso: ela afi rma que nas empresas nada é absoluto, ou, como dizia Einstein, que tudo é relativo. A Teoria da Contingência poderia ser chamada, na intimidade, de Teoria do Depende. Ela está a meio-caminho entre a Verdade Absoluta e o Caos Total. A Verdade Absoluta prega que, seguindo-se um caminho predeterminado e nunca se desviando dele, chega-se a um Objetivo. Já o Caos Total garante que, não importa o caminho a ser usado, nunca se chegará a lugar nenhum. O conceito de Caos 14 Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais Total deu à luz uma série enorme de regras metafísicas de Administração, como a célebre “tudo o que pode dar errado dará”, a Lei de Murphy. Já a Teoria da Contingência (palavra de origem latina, que signifi ca “dúvida”) admite que o caminho pode até estar no mapa, mas adverte que a jornada será acidentada e que alguns dos acidentes do percurso não podem ser previstos antecipadamente, e se o viajante não estiver preparado para ir enfrentando os empecilhos, na medida em que eles aparecem, ou se perderá, ou chegará atrasado ao Destino, ou desistirá no meio da jornada. Em quanto tempo um determinado projeto será concluído? Segundo as teorias fundadas na Verdade Absoluta, em dez semanas, nem uma hora a menos. Pelo conceito de Caos Total, o melhor seria abandonar o projeto, já. De acordo com a Teoria da Contingência, tudo indica que serão aproximadamente dez semanas. No coração da Teoria da Contingência sempre cabe mais um conceito, e a Inteligência Emocional é um deles. Bons executivos são bons porque possuem a habilidade de enxergar problemas potenciais, contrariando a maioria, para a qual não há problemas à vista. Os executivos ligados à Teoria da Contingência conseguem relacionar fatos isolados que, na aparência, não têm nada que ver uns com os outros. Acreditam na existência de fatores meio etéreos, como o Acaso, mas não na loteria da Sorte e do Azar. Decidem com dados insufi cientes e acertam, na maioriados casos. São otimistas, que sempre partem de premissas pessimistas. É claro que não basta decidir rápido para decidir bem. Muitas decisões apressadas se revelam catastrófi cas. Como a única ciência exata que existe em Administração é a previsão do passado, sempre se saberá com certeza - quando for tarde demais - por que uma decisão foi errada, e aí qualquer Zé-mané poderá dizer qual deveria ter sido a decisão correta. A Teoria da Contingência ensina que maior será a possibilidade de acerto quanto mais forem as opções de rotas alternativas, e que cada rota alternativa deve trazer embutidas várias possibilidades imediatas de alteração de rumo. Simples? Pelo contrário, quando há um confronto entre o que os números e os dados indicam e o que a experiência e o sentimento recomendam, o resultado tanto pode ser uma decisão brilhante como uma bruta gastrite. “Arrependimento mata. Indecisão mutila. Perfeição não existe. A mais complicada das decisões é decidir quando decidir e quando não decidir. A receita, infelizmente, não está em nenhum livro. Está dentro da cabeça de cada um” (GEHRINGER, 1998, p. 55). Dando continuidade, as organizações podem contribuir muito para o desenvolvimento de projetos tecnológicos e sociais na sociedade, já que elas podem assegurar a representação equilibrada de diferentes interesses da sociedade civil 15 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 e buscar formas viáveis de participação. Uma contribuição muito importante que as organizações podem prestar à sociedade está no aprendizado de uma nova racionalidade: a racionalidade substantiva, elemento fundamental que possibilita a transformação e a superação das condições dadas que envolvem o indivíduo, por meio de sua ação consciente. Nesse sentido, deve-se dizer que ainda vemos a racionalidade instrumental (funcional) nas necessidades de efi ciência, de qualidade e de competitividade que representam “critérios de dispensa” de muitas pessoas nas organizações. Nós, na nossa vida pessoal também deixamos de ser seres substantivos para agir de acordo com a razão instrumental (funcional). Os seres humanos trazem idiossincrasias contrárias à racionalidade da organização. Dessa forma, é mister dizer que para submeter à disposição singular do ser humano de pensar seus valores e interesses individuais ao propósito da organização, esta precisa submeter as pessoas a um objetivo comum, e este objetivo acaba não sendo coletivo e democraticamente determinado; ele é imposto de maneira legítima, pela direção da organização. Dentro das organizações, muitos indivíduos sobressaem do mais alto grau de racionalização e regulação que se alcança a sociedade, ao qual o indivíduo que participa dela não só recebe prescrita a condução de seus atos e normas reguladas, mas também a sua liberdade de pensamentos e sentimentos permitidos. Normalmente, encontramos pessoas relatando algum fato em uma organização onde o indivíduo se sente oprimido, tendo sua personalidade não aceita. Esses profi ssionais geralmente reprimem os traços de sua personalidade, passando a agir como máquinas e, principalmente, utilizando intensivamente a racionalidade funcional. Acreditamos que considerar a personalidade do funcionário para direcionar sua carreira, em geral, resulta em bem-estar. Porque muitas vezes, de tanto a pessoa ter a sua personalidade reprimida, ela fi ca bloqueada, anulando seus valores para aceitar a demanda externa, gerando sentimentos como o da agressividade e, nesse caso, acontece o pior, o funcionário acaba sendo reconhecido como um funcionário- problema. Precisamos privilegiar a cooperação e a compreensão entre as pessoas, a emancipação da consciência individual e a preocupação com o bem-estar. Para tanto, a consciência individual resulta do uso da razão, o que pressupõe julgamentos, valores e ética. Atualmente, o que temos é a prevalência da racionalidade funcional (busca do sucesso individual, desprendido do julgamento ético), fruto de uma sociedade centrada no mercado, com seres humanos induzidos 16 Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais por meios de comunicação e de publicidade, que infl uenciam fortemente o nosso poder de separar o certo do errado. O sentido dado à palavra “razão” nos dias atuais é bem diferente do sentido antigo. Como mostra Ramos (1989 apud KOPELKE, 1998), o que hoje se entende por razão constitui apenas um “cálculo utilitário de consequências”, ou seja, uma série de medidas organizadas de forma a levar a um objetivo previamente defi nido. Esse conjunto de atos organizados estará em suas melhores condições quando, para atingir o objetivo, coordena os meios da forma mais efi ciente possível, porém, essa é uma visão parcial do antigo conceito de razão. Karl Mannheim chama esta razão de funcional, Max Weber de razão instrumental e Eric Voegelin de razão pragmática. Entretanto, no sentido antigo, razão era considerada a capacidade humana de distinguir entre o bem e o mal, entre o falso e o verdadeiro, e a partir desta capacidade, ordenar a sua vida pessoal e social, isto é, a razão, do ponto de vista antigo, é permeada por um elemento ético que permite ao ser humano ter percepções inteligentes das inter-relações dos mais variados acontecimentos de sua vida, o que permite uma vida pessoal orientada por julgamentos independentes. A esse tipo de razão, Weber chamou de racionalidade de valor, Mannheim de racionalidade substancial e Voegelin de razão noética. Entendemos como substancialmente racional um ato de pensamento que revele percepção inteligente das inter-relações dos acontecimentos de uma determinada situação. Assim, o ato inteligente de pensamento, em si, será descrito como “substancialmente racional”, enquanto tudo o mais que seja falso, ou não seja absolutamente um ato de pensamento (por exemplo, impulsos, desejos e sentimentos, tanto conscientes como inconscientes) serão denominados “substancialmente irracionais” (MANNHEIM, 1962 apud KOPELKE, 1998). Se na defi nição de racionalidade funcional for dado ênfase à coordenação da ação com referência a um objetivo defi nido, tudo o que desintegra e interrompe essa ordenação funcional é funcionalmente irracional. Tal interrupção pode ser provocada não só através de irracionalidades substanciais, como fantasias cerebrais e as explosões violentas de indivíduos sem controle, mas também através de atos perfeitamente intelectuais que não se harmonizem com a série de ações para que se voltam as atenções. O termo irracionalidade funcional jamais caracteriza um ato em si, mas somente em relação a sua posição no complexo total de conduta, do qual faz parte. Uma ação pode ser funcionalmente racional ou irracional, dependendo da situação do observador. Por exemplo: as tradicionais queimadas dos campos de cana-de-açúcar em época de colheita no interior do estado de São Paulo estão sendo muito criticadas pelo Uma ação pode ser funcionalmente racional ou irracional, dependendo da situação do observador. 17 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 elevado grau de poluição atmosférica que produzem ao lançarem no ar diversos agentes cancerígenos, além de degradarem o solo. Tal situação fez com que diversas entidades ecológicas e de preservação ambiental pressionassem o governo do estado para que este tornasse obrigatório a mecanização da colheita da cana-de-açúcar. Essa lei que obriga a mecanização dentro de um determinado prazo é considerada funcionalmente racional pelas entidades de preservação ambiental, mas é, ao mesmo tempo, considerada funcionalmente irracional do ponto de vista social, pois os trabalhadores agrícolas (boias-frias) perdem a sua única fonte de sustento. Da mesma forma, a irracionalidade substancial pode ser relativa. Como será demonstrado no decorrer deste trabalho, se a expressão de sentimentos, desejos e impulsos fi zerem bem à saúde psicológicade uma pessoa, e com isso permitirem que ela cresça e se torne mais madura, responsável e autodeterminada, esses atos podem ser considerados substancialmente racionais. Além do mais, o irracional nem sempre é prejudicial, pelo contrário, está entre as forças mais valiosas do homem, quando age como força motriz no sentido de fi nalidades racionais e objetivas, quando cria valores culturais pela sublimação ou quando, como puro impulso, intensifi ca a alegria de viver sem romper a ordem social com a falta de planejamento. As sociedades, principalmente a sociedade de mercado, precisam criar saídas para o desabafo de impulsos, já que a objetividade da vida cotidiana, provocada pela racionalização generalizada, representa uma repressão constante de impulsos (MANNHEIM, 1962 apud KOPELKE, 1998). Tendo claras estas distinções, Mannheim (1962 apud KOPELKE, 1998) afi rma que quanto mais industrializada uma sociedade, mais avançada sua divisão do trabalho e sua organização, maior será o número de esferas de atividade humana funcionalmente racionais e, portanto, também previsíveis antecipadamente. Enquanto o indivíduo nas sociedades antigas, apenas ocasionalmente e em esferas limitadas, agia de uma maneira funcionalmente racional, na sociedade contemporânea ele é obrigado a agir dessa forma em um número de esferas de vida cada vez maior. Isso leva, segundo o autor, a um processo de racionalização funcional da conduta, que ele chama de autorracionalização. Por meio da autorracionalização, o indivíduo realiza o controle sistemático de seus impulsos com o objetivo de planifi car a sua vida de modo que toda ação seja guiada por princípios utilitários orientados para um determinado objetivo. Por exemplo: se você fosse membro de uma organização de grande alcance, em que toda ação deve ser cuidadosamente ajustada às demais, seus modos de O irracional nem sempre é prejudicial, pelo contrário, está entre as forças mais valiosas do homem, quando age como força motriz no sentido de fi nalidades racionais e objetivas, quando cria valores culturais pela sublimação ou quando, como puro impulso, intensifi ca a alegria de viver sem romper a ordem social com a falta de planejamento. 18 Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais conduta, seu controle e a regulamentação de seus impulsos serão, evidentemente, muito diferentes do que seriam se você fosse mais ou menos isolado e independente e pudesse fazer o que lhe parecesse certo. Como trabalhador fabril, terá de controlar seus impulsos e desejos muito mais intensamente do que como artesão independente, caso em que sua atividade profi ssional teria uma organização tão fl exível que poderia, de tempos em tempos, satisfazer desejos que nem sempre estariam imediatamente ligados ao trabalho em mão (MANNHEIM, 1962 apud KOPELKE, 1998). Para Mannheim (1962 apud KOPELKE, 1998), o melhor exemplo dessa racionalização de tarefas é a Taylorização dos trabalhadores numa fábrica industrial, mas não só os trabalhadores de nível operacional estão sujeitos a essa racionalização. O processo também ocorre com todas as pessoas vinculadas à estrutura de uma organização burocrática. Muitas pessoas têm o seu plano de vida condicionado por uma carreira, na qual as fases individuais são especifi cadas antecipadamente. A preocupação com uma carreira exige um máximo de autodomínio, pois envolve não só os processos práticos de trabalho, mas também a regulamentação prescritiva tanto de ideias como de sentimentos que é permitido ter, e ainda o tempo de lazer de cada pessoa. Entretanto, pior do que a autorracionalização é quando, por meio da refl exão e da auto-observação, uma pessoa visa não apenas um treinamento mental para o ajustamento a um determinado tipo de atividade, mas também uma espécie de autotransformação interna com o objetivo de remodelar-se mais radicalmente de forma a se orientar perfeitamente a objetivos puramente utilitários, aceitando a racionalidade funcional como o padrão fundamental da vida humana. A industrialização crescente, na verdade, implica na racionalidade funcional, isto é, na organização da atividade dos membros da sociedade em função de fi nalidades objetivas. Não promove, nas mesmas proporções, a racionalidade substancial, ou seja, a capacidade de agir com inteligência numa determinada situação à base da percepção própria da inter-relação dos acontecimentos. A racionalização está, segundo Mannheim (1962 apud KOPELKE, 1998), destinada a privar o indivíduo médio de refl exão, percepção e responsabilidade, e a transferir essa capacidade aos que dirigem o processo de racionalização. O homem médio entrega parte de sua própria individualidade cultural a cada novo ato de integração num complexo de atividades funcionalmente organizadas. Torna-se cada vez mais acostumado a ser levado pelos outros e gradualmente abandona sua própria interpretação dos acontecimentos pela interpretação que lhe é dada por outros. Mannheim (1962 apud KOPELKE, 1998) afi rma que, quando o mecanismo racionalizado da vida social entra em colapso, em épocas de crise, o indivíduo não pode repará-lo com sua percepção própria. Ao invés disso, sua 19 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 impotência o reduz a um estado de abandono aterrorizado. Na crise social, ele permite que o esforço e a energia necessários à decisão inteligente se percam. Tal como a natureza era incompreensível ao homem primitivo e seus mais profundos sentimentos de ansiedade eram provocados pela imprevisibilidade das forças naturais, assim para o homem moderno industrializado a imprevisibilidade das forças que atuam no sistema social onde vive, com suas crises econômicas, infl ação e, assim por diante, tornou-se uma fonte de receios igualmente generalizados (MANNHEIM, 1962 apud KOPELKE, 1998). A difusão da razão funcional em função da crescente industrialização fez com que boa parte da ciência social estabelecida também se fundamentasse nesse tipo de razão, e a teoria organizacional, como fi lha da ciência social moderna, nasceu viciada já em seus principais pressupostos, ou seja, que o ser humano não é senão uma criatura capaz do cálculo utilitário de consequências, e o mercado, o modelo de acordo com o qual sua vida associada deveria organizar-se. Percebe- se, portanto, que os modelos de homem utilizado pela teoria organizacional até o momento, operacional e reativo, são superfi ciais por não considerarem a dimensão substancial da razão. A racionalidade substantiva não está necessariamente relacionada com a coordenação de meios e fi ns, do ponto de vista da efi ciência. Assim, o comportamento humano que ocorre sob a égide da racionalidade substantiva pode ser administrativo apenas por acaso, não por necessidade. A não percepção do caráter duplo da racionalidade, ou seja, a aceitação da razão funcional como razão geral, tem tornado, segundo Ramos (1989 apud GEHRINGER, 1998), o debate verdadeiro e racional, uma possibilidade cada vez mais remota nas sociedades modernas, mesmo nos chamados meios intelectuais. Para o autor, a ciência social moderna foi um instrumento propositadamente articulado para livrar o mercado da prisão que o mantinha dentro de limites defi nidos para passar a integrar todos os aspectos da vida humana. Esperar é arriscar-se ao desespero e experimentar é arriscar- se ao fracasso, mas os riscos têm de ser corridos, pois o maior risco na vida é arriscar nada. A pessoa que não arrisca nada, não faz nada, não tem nada, não é nada e não se torna coisa alguma. Pode evitar o sofrimento e a tristeza, mas não pode aprender, sentir, modifi car-se, crescer, amar e viver. Acorrentado por suas certezas, é um escravo. Foi privado do direito de sua liberdade. Somente a pessoa que arrisca é verdadeiramente livre. Experimente e veja o que acontece (BUSCAGLIA, 1982, s.p.). 20 Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais 2.1 GLOBALIZAÇÃOE REDES A função da indústria cultural, bem como das diversas mídias, é sublimar a potência do homem através do cinema, da música e dos diversos dispositivos técnicos. Pode-se dizer que dentre as várias teorias da comunicação, com relação aos dispositivos midiáticos, existem as apocalípticas e as integradas, conforme defi nições a seguir: • Integradas: pressupõe o otimismo, ordem e pragmatismo com relação aos benefícios que os meios midiáticos disponibilizam. • Apocalípticas: pressupõe o pessimismo, o caos, e partem de uma crítica feroz aos dispositivos técnicos, ressaltando os malefícios que estes meios midiáticos podem oferecer. Todavia, entre os extremos existe uma terceira opção, apresentada pela teoria cibernética. Neste caso, apresentam-se pontos em comum entre as duas teorias apresentadas. A principal delas está no fato de que as mídias infl uenciam decididamente o comportamento humano, modifi cando, transformando e produzindo novas atitudes, ou melhor, criando novas identidades ou subjetividades. Isto se dá porque as redes pressupõem a desinibição e muitas vezes um empoderamento violento do receptor que não é mais um ser passivo, mas exige atividade intensa em fl uxo em todas as direções possíveis. Desta forma, cai por terra o argumento de que o indivíduo não é capaz de infl uenciar, na verdade ele está sempre em uma relação, onde se é infl uenciado e infl uenciador. Dando continuidade, vale lembrar que rede é um conjunto de transformações e produção de identidades ou subjetividades que atinge todas as camadas sociais e territórios possíveis, por meio do entrelaçamento do espaço público com o privado, entretenimento e profi ssão, em um fl uxo contínuo de aceleração e velocidade jamais vistas, reestruturando empresas, fl uxos de capitais, novas arquiteturas administrativas etc., que provocam o aumento da produtividade e muitas vezes a precarização do trabalho. Quais as consequências para o indivíduo diante desta nova realidade? Bipolaridade, infantilismo, confusões identitárias etc. Entre os adolescentes, este fenômeno é ainda mais preocupante, uma vez que eles não sabem defi nir se estão vivendo uma cultura determinada pela regionalidade ou suas escolhas estão sob a infl uência da globalização. McLuhan (1911-1980) possui uma máxima: “o meio é a mensagem”, sendo possível compreender que a técnica e seus dispositivos são extensões do próprio homem, como tentáculos que expandem o poder de atuação do ser humano. Surgem assim duas formas de ação do homem na rede: 21 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 • Utilização das redes como meio para mensagens, notícias, pesquisa, compras e o exercício profi ssional. • Entretenimento, formação de novos relacionamentos na formação de uma rede tribal de amizades ou relações amorosas (COHN, 1987). Desta forma, existirão duas grandes correntes interpretativas a respeito dos benefícios e malefícios destas relações. De um lado a rede pode ser vista como um meio útil ao desenvolvimento individual e profi ssional, porém, em um movimento oposto, pode-se afi rmar que a rede é um lócus de fragmentação e de acesso apenas a dados, não sendo um local onde se produza conhecimento real. Outro ponto importante é a transformação do comportamento individual no cotidiano a partir da onipresença das redes. Tornamo-nos dependentes delas desde nossas atividades profi ssionais até o entretenimento, ou ainda, na produção de novas subjetividades e relacionamentos, criando um novo sentido de existência. O efeito das redes nas culturas locais, em geral, se dá pela homogeneização dos valores, crenças ou estilos de vida, favorecendo o desaparecimento da diversidade, bem como os valores tradicionais. Todavia, outros valores também passam a participar do cotidiano do homem comum, como direitos humanos, democracia, princípio de igualdade racial, gênero, orientação sexual, liberdades, individualidades, religioso, relacionamentos amorosos, escolhas profi ssionais etc., que por outro lado podem provocar guerras culturais intensas e intermináveis, mas se apresentam como subjetividades ambíguas e híbridas que transitam entre a regionalidade e a cultura global, podendo promover uma integração ou crises e confl itos, gerando uma confusão de identidades que pode gerar marginalização, exclusão, aumentando razoavelmente os casos de suicídio, drogadição ou, ainda, o surgimento de tribos fundamentalistas e antiglobalização. 2.2 SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO É a partir desta linha argumentativa que surge um novo conceito, que para muitos, passou a ser denominada como sociedade da informação, ou ainda, sociedade pós-industrial. É importante ressaltar que já se desenvolveu teoricamente por diversos autores outros paradigmas conceituais, por exemplo: sociedade fordista e taylorista, mas a sociedade da informação passou a ser o novo paradigma econômico e tecnológico da sociedade contemporânea, que aponta para as novas tecnologias e modelos organizacionais diversifi cados etc. O início deste movimento se dá em meados dos anos 1980. Por exemplo: a título de ilustração, quem melhor explicitou este conceito e expressou o espírito de seu tempo, pelo menos musicalmente, foi a banda americana denominada Information Society, que trouxe para o cenário musical um grande destaque para este conceito: música eletrônica. Uma das suas músicas que nos provoca a refl exão 22 Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais Ouça a música: “Aprender a aprender”. Disponível em: <https:// www.youtube.com/watch?v=CrTJR-SHfsI>. Letra: Noite quente sozinho eu espero por você Manhã fria e frágil sozinho eu choro por você E quando você fi nalmente liga Você encobre seu humor nas sombras. Esses dias e noites em que fui bom pra você Não devem ter signifi cado muito E na noite que eu mais precisei de você Minhas lamentações caíram em ouvidos surdos E eu estou correndo muito pra encontrar E eu estou correndo muito rápido E eu estou te dizendo agora pra me deixar Nosso romance não pode durar E se algum dia eu precisar te ver Eu voltarei do passado Eu voltarei e te encontrarei Eu não vou te abandonar agora Esses dias e noites em que fui bom pra você Não devem ter signifi cado muito para você Na noite que eu mais precisei de você Minhas lamentações caíram em ouvidos surdos Agora eu não quero brincar com você Mas eu não sei o que te dizer Os dígitos mudam tão lentamente agora Eu estou indo sozinho E eu estou correndo muito pra encontrar E eu estou correndo muito rápido E eu estou te dizendo agora pra me deixar Nosso romance não pode durar E se algum dia eu precisar te ver Eu voltarei do passado Eu voltarei e te encontrarei Eu não vou te abandonar agora. sobre as características da sociedade da informação é “Running”. A presença de conceitos, como velocidade, fl uxo e solidão é uma constante em toda a letra da música “Aprender a aprender”: 23 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 Na sociedade da informação, a lei básica e primordial é a fl exibilidade, abertura às transformações, uma busca insana pela efi ciência e velocidade. Desburocratização, desregulamentação, ruptura com a tradição. As principais características da sociedade da informação são: • A matéria-prima de todo o processo são os dados, unidades de informação. • Alta afetação sobre os indivíduos, devido à penetrabilidade na vida cotidiana dos diversos dispositivos técnicos. • Predomínio da lógica em rede, considerada complexa. • Ambiente fl exível e plástico, reversibilidade, modifi cação, reorganização e reconfi guração. • Tecnologias convergentes. O ponto central da sociedade de informação são as várias tecnologias interconectadas, ligadas em rede em um processo constante de desenvolvimento e fl uxo, produzindo uma interação complexa que gera criatividade, empreendedorismo etc. O novo paradigma gera disrupções e contingências, rompendo com a lógica do desenvolvimentotecnológico e linear. Muitos são os temores frente às gigantescas transformações que a sociedade está passando. No entanto, agora as TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) se tornaram objetos de fetiches, totens mágicos que geram uma fascinação praticamente infantil, criando sonhos delirantes de um futuro digno de uma fi cção científi ca. Novas utopias de sociedade, lazer, acervo informacional ilimitado e, ainda, permite uma nova forma de educação, mais colaborativa, personalizada, promovendo uma contínua adaptação dos indivíduos envolvidos, cada vez mais acelerada e integrada, proporcionando a ação criativa. 2.3 CULTURA E CRIATIVIDADE Todo ato criativo se dá, inicialmente, por meio de uma prática interdisciplinar. No entanto, ela não pode ser defi nida, para que não se corra o risco de se criar uma nova disciplina, com a função única de controlar o conhecimento produzido. Não se pode falar sobre uma educação criativa sem ter a interdisciplinaridade como condição prévia para o seu desenvolvimento. É a cooperação entre as disciplinas que proporciona intercâmbios e possibilita reciprocidades e enriquecimentos mútuos, possíveis de estimular a transdisciplinaridade. No desafi o de buscar uma estrutura transdisciplinar, portanto, deve-se ter como aliado o diálogo, possível instrumento O ponto central da sociedade de informação são as várias tecnologias interconectadas, ligadas em rede em um processo constante de desenvolvimento e fl uxo, produzindo uma interação complexa que gera criatividade, empreendedorismo etc. No desafi o de buscar uma estrutura transdisciplinar, portanto, deve-se ter como aliado o diálogo, possível instrumento de transformação do real. 24 Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais de transformação do real. Sem querer correr o risco de defi nir o conceito de interdisciplinaridade e o ato criativo, a própria interdisciplinaridade talvez consista na promoção do diálogo entre as diversas disciplinas. Para isso, é preciso demonstrar que não há um método, ou uma dialética na educação, mas existe apenas o diálogo, que é a fala entre duas pessoas; conversação entre muitas pessoas. No diálogo não há um método defi nido, há apenas um jogo. O diálogo pode ocorrer em várias direções e sentidos, criando agenciamentos diversos. A dialética é uma técnica (techné), ou melhor, um método preciso e teleológico, que busca um fi m, uma resposta. É por intermediação da dialética, que é a arte de raciocinar, da lógica - dialektiké (techné) discussão, em um constante processo de racionalização - que somos levados a viver em um mundo dominado pela técnica moderna, o fi lho perverso da techné. Precisa-se, entretanto, cada vez mais de diálogos, de jogos de linguagem, de relações amorosas solidárias e carismáticas, e não de dialética, que é estéril, castrada por si mesma. A prática interdisciplinar entre a Sociologia e a Antropologia consiste neste diálogo, nesse jogo de ilusões, entre as diversas disciplinas disponíveis, nesse caso, a Sociologia e a Antropologia. Desde a Antiguidade Clássica, tendo como ponto de partida o pensamento platônico- aristotélico, o homem apresenta um prazer praticamente solitário em classifi car, organizar e delimitar espaços e territórios. O progresso, trazido por este pensamento, é um acréscimo dessa racionalidade, que tem origem nos primórdios da civilização ocidental. Contudo, aos poucos, foi se percebendo que esta dita racionalidade disciplinadora é geradora de realidades irracionalizantes. Atualmente, a razão é designada apenas pelo “cálculo utilitário das consequências”, organizando-se de forma a levar a um objetivo previamente defi nido. Essa racionalidade funcional não se pergunta pelos seus pressupostos e nem pelo seu sentido, agindo na esfera do como, sem se perguntar pelo porquê. Isso determina um nível de ação teleológica exclusivamente técnica, interesseira, em que predomina a dominação do sujeito sobre o real; ao sujeito cabe estabelecer os fi ns e eleger os meios de toda ação. Weber descreve a burocracia como empenhada em funções racionais, no contexto peculiar de uma sociedade capitalista, centrada no mercado e cuja racionalidade é funcional. 25 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 Leia e refl ita sobre o texto “Você tem cultura?”. O artigo foi publicado no Jornal da Embratel, Rio de Janeiro, 1981. Disponível em: <https://pt.scribd.com/document/274514330/DA- MATTA-Roberto-Voce-tem-cultura-In-Exploracoes-pdf>. A razão, com o advento da Modernidade, não consegue possuir tudo o que se propõe, e “a própria razão técnica, longe de garantir um domínio cada vez maior sobre a natureza, tinha perdido a capacidade de guiar com competência e responsabilidade o progresso histórico” (BRUSEKE, 2001, p. 9). Surge então uma instabilidade na sociedade moderna em meio a surtos irracionalizantes. A razão que se propõe a ser constituidora de felicidade, na verdade, gera o oposto: medo e incerteza. “A falta de critério é que afl ige o homem livre da alta modernidade” (BRUSEKE, 2001, p. 15). Então, buscam-se estruturas mais sólidas, uma vez que muitas haviam desmoronado, “uma ciência experimental nunca poderá ter como tarefa a descoberta de normas e ideais de caráter imperativo, dos quais pudessem deduzir-se algumas receitas para a práxis” (WEBER, 1982, p. 5). Outra marca da Modernidade, segundo Weber, é o processo de desencantamento do mundo, “Entzauberung der Welt”, que integra o processo de racionalização. Nele o mundo é visto “nu”, e o ser humano, nessa perspectiva, não vê mais o mundo como dominado por forças impessoais: Signifi ca principalmente, portanto, que não há forças misteriosas incalculáveis, mas que podemos, em princípio, dominar todas as coisas pelo cálculo. Isto signifi ca que o mundo foi desencantado. Já não precisamos recorrer aos meios mágicos para dominar ou implorar aos espíritos, como fazia o selvagem, para quem esses poderes misteriosos existiam. Os meios técnicos e os cálculos realizam o serviço (WEBER, 1982, p. 165). Assim, o véu de mistério que cobria a realidade é retirado, pois o saber científi co avança sem confi ar em qualquer valor misterioso ou transcendental, uma vez que tudo pode ser dominado pelo cálculo e, assim, a ciência procura libertar a humanidade de qualquer elemento religioso. Deixa de ver a vida como algo dominado por forças impessoais e divinas para enxergar a natureza e a sociedade como passíveis de completo domínio pelo homem. Antes, eram os deuses que controlavam a vida do homem. Agora é o homem, através da ciência e da técnica, que desdiviniza a natureza e a sociedade e passa a controlá-las (WEBER, 1982, p. 128). 26 Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais Por esse mister, a técnica parece querer substituir as certezas religiosas. Dessa maneira, a hegemonia nessa área do conhecimento perde espaço: “cada esfera de valor, ao se racionalizar, se justifi ca por si mesma: encontra em si sua própria lógica interna - uma legalidade própria” (PIERUCCI, 2003, p. 138). Entretanto, essa fragmentação pode produzir um dândi, que tem como símbolos a superioridade aristocrática, com certa originalidade, possuindo um caráter de oposição e revolta contra a trivialidade, a banalidade, o tédio: O dandismo surge, sobretudo nas épocas transitórias, em que a democracia não é ainda todo-poderosa, em que a aristocracia está enfraquecida e desvalorizada apenas parcialmente. Na confusão dessas épocas, alguns homens, deslocados de sua classe, descontentes, destituídos de uma ocupação, mas todos ricos de uma força inata, são capazes de conceber o projeto de fundar uma nova espécie de aristocracia, tanto mais difícil de abater quanto estará baseada nas mais preciosas, nas mais indestrutíveis faculdades, e nos dons celestes que nem o trabalho nem o dinheiro podem conferir. O dandismo é o último rasgo de heroísmo nas decadências, eo tipo do dândi encontrado pelo viajante na América do Norte não invalida, de maneira alguma, essa ideia: pois nada impede que se pense que as tribos que denominamos selvagens sejam os resquícios de grandes civilizações desaparecidas. O dandismo é um sol poente, como o astro que declina, é soberbo, sem calor e pleno de melancolia, mas desgraçadamente, a maré montante da democracia - que invade tudo e tudo nivela - afunda diariamente esses últimos representantes do orgulho humano e lança vagas de olvido sobre os traços desses prodigiosos mirmidões (BAUDELAIRE, 2008, p. 68). Paradoxalmente, é diante de uma sociedade cada vez mais técnica e disciplinada que emerge a contingência e, por conseguinte, a liberdade, nascendo o pesquisador interdisciplinar, que está a princípio fortemente desligado de toda forma de institucionalização, uma vez que esses são independentes de qualquer mecanismo regular de organização, diante de uma sociedade composta de especialistas. A contemporaneidade é marcada por uma sinergia entre o antigo, ou melhor, aquilo que é considerado arcaico, e o desenvolvimento tecnológico e esse fenômeno é identifi cado em diversas leituras, que podem ser consideradas anacrônicas, que quer dizer fora de contexto, no entanto, ele as adapta, contextualizando-as (MAFFESOLI, 2004). 27 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 O que é sinergia do arcaico para Maffesoli? A palavra sinergia tem origem grega, que quer dizer synergía, ou melhor, cooperação (sýn), conjuntamente com a ideia de trabalho (ergon). Esse fenômeno pode ser considerado como vários agrupamentos que trabalham coordenadamente realizando uma tarefa considerada complexa, onde vários dispositivos procuram executar determinadas funções e que buscam um mesmo fi m. Assim, para Maffesoli (2014, p. 743), “sinergia do arcaico e do desenvolvimento tecnológico. Esta tecnologia que havia desencantado o mundo está em via de, curiosamente, reencantá-lo”. Pode ser entendido como sendo uma forma de rompimento com o relato antigo ou arcaico, atualizando-o para o atual contexto, inserindo-o no mundo técnico. Portanto, o paradoxo e um cosmos belicoso se tornam as principais marcas do drama contemporâneo, criando condições para o surgimento do pesquisador interdisciplinar, que é chamado para a decisão, reencantando o mundo. Contudo, esse reencantamento patrocinado por essa nova modalidade de pesquisa pode apresentar-se ambivalente. Por um lado, se tem a exaltação do tempo presente, abandonando a linearidade do tempo, na busca por êxtases contemporâneos e efêmeros, seja de ordem técnica, afetiva, cultural ou musical, como forma de resistência ao desencantamento do mundo, patrocinado pelas várias racionalizações do mundo ocidental: É no quadro tribal que se vai sair de si, explodir-se e, através desse êxtase, comungar com forças cósmicas ou, muito simplesmente, navegar nas redes da internet. Onde havia separação, corte e diferenciação, e isso em todos os domínios, renasce uma perspectiva global, dando ênfase à “religação” das pessoas e das coisas, da natureza e da cultura, do corpo e da alma (MAFFESOLI, 2004, p. 149). Por outro lado, pode dar origem ao fenômeno fundamentalista dos diversos grupos de especialistas, que pode ser interpretado como sendo uma forma de resistência à perda de prestígio dos diversos valores éticos e a constante profanização das camadas consideradas tradicionais da sociedade, que implica uma recusa do que podemos chamar de modernidade líquida, ou refl exiva, ou ainda pós-modernidade. Por isso, o pesquisador interdisciplinar deve se relacionar com a imagem de um peregrino, um nômade, um dândi, um ser que se abre à vida contingente. Portanto, de um ponto de vista antropológico, existem várias 28 Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais defi nições para o peregrino, ou seja, é um conceito de múltiplas faces e não se pretende, aqui, neste momento, dar conta de todas essas facetas. Entretanto, antes de qualquer coisa, é bom deixar claro que a palavra peregrinação nos remete à ideia de viagem, na andança por terras distantes, em uma romaria por lugares santos, ou seja, um estrangeiro que possui uma bondade de beleza rara. É justamente esse aspecto que nos interessa analisar na interdisciplinaridade, tendo como imagem, um dândi, um fi lósofo, um místico, um líder que, com o seu carisma, sustenta que a irracionalidade da vida, em que estamos imersos, pode promover a transformação da vida humana: Sua ociosidade é um trabalho e seu trabalho, um repouso, ele é, alternadamente, elegante e desleixado, veste, a seu bel- prazer, a camisa do operário, e decide-se pelo fraque trajado pelo homem da moda, não está sujeito a leis: ele as impõe... ele é a expressão de um grande pensamento, ele tem elegância e vida própria, porque nele tudo refl ete a sua inteligência e a sua glória (BALZAC, 2009, p. 79). O peregrino é um aventureiro, é um sujeito extremamente viciado, drogado pela vida, está sempre em busca do desconhecido, se volta para o passado e quer parar para salvar os mortos, mas a todo o momento é empurrado por uma tempestade em direção ao futuro, e essa tempestade é o que chamamos de progresso. Assim, podemos delinear o mundo do peregrino: Em resumo, há uma confrontação com uma verdadeira procura mística desempenhando de um modo mais amplo aquilo que foi, stricto sensu, a experiência mística própria de alguns eleitos, ascetas e outros pesquisadores do absoluto que nos falam a história humana. Para retomar aqui uma análise de Cioran, que é um tema recorrente em toda a sua obra, podem- se estabelecer uma relação entre o espírito cavalheiroso, o amor da aventura e a aventura mística (MAFFESOLI, 2004, p. 151). No entanto, o peregrino constata que o homem moderno e burguês perdeu essa capacidade de rememoração e, nesse mundo em que está imerso, vive agora vegetando na mera presentifi cação da vivência. O homem se tornou um autômato, sem memória, perdendo a sua história. Para o homem que peregrina, quem não pode experienciar o passado, nunca poderá sonhar com o futuro, e não pode criticar o presente. É sob essa perspectiva que o pesquisador interdisciplinar passa a ser visto como um peregrino, que se coloca como crítico da noção dura de progresso, que disciplina, classifi ca, organiza, discrimina, o que é visto como uma ação de decadência. Para o peregrino, é preciso citar os mortos, como se estivesse citando um texto e como uma forma de trazer o passado para o presente, de dar uma nova vida aos diversos objetos que são retirados de seu contexto, promovendo a sinergia entre o arcaico e o contemporâneo. O peregrino é um aventureiro, é um sujeito extremamente viciado, drogado pela vida, está sempre em busca do desconhecido, se volta para o passado e quer parar para salvar os mortos, mas a todo o momento é empurrado por uma tempestade em direção ao futuro, e essa tempestade é o que chamamos de progresso. 29 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 Na falta de um lugar seguro que o proteja, ele leva a casa nas costas. Como em um acampamento, ele leva seus apetrechos, a sua barraca e o colchão de dormir; esse comportamento é o que faz dele o ser mais próximo de um caramujo. Ele tem inveja dos animais que, por sua irracionalidade, estão no paraíso, enquanto ele está no inferno da racionalização. Anda por longas distâncias à procura de novos ares ou novas pastagens e, como na obra Quixotesca, ele avança, percorrendo vários territórios, como algumas espécies viajantes das fl orestas que povoam a nossa imaginação. De vez em quando parece tentar voltar as suas origens primitivas. O medo, para o peregrino, faz parte do processo, mas a sua principal virtude é a coragem. Em toda parte, a covardia é desprezada; em toda parte a bravura é estimada. As formas podem variar, assim como os conteúdos: cada civilizaçãotem seus medos, suas coragens, mas o que não varia, ou quase não varia, é a coragem, que é compreendida como sendo a capacidade de superar o medo. A coragem é a virtude dos heróis, e quem não admira os heróis? Com o seu espírito empreendedor, com muita raiva do mundo, da realidade e com baixíssimo medo, o peregrino, este dândi, assume o real com um sentimento verdadeiro e uma atitude interdisciplinar. Sentimento esse que se equivale ao amor direcionado à vida, embora muitas vezes necessite andar de quatro apoios para subir superfícies muito íngremes. Para ampliar seu conhecimento sobre cultura, leia o texto “O conceito antropológico de cultura”, de José Lisboa Moreira de Oliveira. Disponível em: <http://www.ucb.br/sites/000/14/PDF/ OconceitoantropologicodeCultura.pdf>. O peregrino é um líder que assume o medo como parte de sua vida, assim como assumimos o sofrimento como parte de nossa existência, possuindo a incrível capacidade de controlá-lo e de superá-lo. Sua carapaça muda conforme o ambiente ou o terreno. São espécies andróginas, são híbridas e por isso são as mais interessantes. Eles possuem a capacidade de transformar qualquer objeto em extensão do seu corpo, unindo o que se tem de mais arcaico no mundo com a alta tecnologia. Esse ser, que peregrina longas distâncias, quer apenas chegar a um determinando ponto, para simplesmente apreciar e contemplar. A melhor forma de compreendermos o verdadeiro espírito interdisciplinar é a sua capacidade de vivenciar o real não desprezando os mortos, pois os vivos, ou seja, os peregrinos, se veem ao meio-dia, numa passagem, numa travessia, em um caminho, onde são 30 Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais obrigados constantemente a oferecer um banquete ao passado, convidando os mortos para a sua mesa (MAFFESOLI, 2004). Portanto, o conceito de recordação nos remete à compreensão que se deve articular, lembrando constantemente do que se passou na história e isso não signifi ca reconhecê-lo como ele de fato ocorreu, mas se apropriar de uma reminiscência, atualizando-a através de uma sinergia entre o arcaico e o novo. O homem moderno é um ser incapaz de recordar. A recordação possui a categoria de um organon para o conhecimento histórico e a noção de História equivale ao papel exercido pela revolução copernicana. O peregrino assume a recordação não como profecia, como é o caso da noção de progresso que possuímos na atualidade. O peregrino assume uma história materialista, imanente e panteísta, onde a sua arké está na recordação. Como ele faria isso? Levando o niilismo a sério. A fi losofi a niilista é a desvalorização de todos os valores, um verdadeiro movimento de desencantamento e desconstrução do conhecimento humano. O pesquisador interdisciplinar assume a anarquia como projeto político, compreendendo a história enquanto declínio, decadência, obedecendo à lógica do pior. O peregrino apenas aplaina o terreno. O caráter de violência, que é imposto pela atitude interdisciplinar, quebra com todos os cânones e valores da civilização, abrindo espaço para uma nova ordem. Para ampliar seu conhecimento na prática sobre o niilismo, assista ao fi lme “Laranja Mecânica”, de Stanley Kubrick, criado em 1971. Este fi lme é um clássico icônico que manifesta um espírito niilista. Para o pesquisador interdisciplinar, é necessário assumir a vida como sendo uma grande viagem. Uma forma de adquirir uma visão de conjunto desse processo, sem sacrifi car a sua dinâmica, é tentar nos aproximar com um breve resumo do movimento do real. Cabe lembrar que a interdisciplinaridade, que se apresenta do ponto de vista antropológico, como sendo um peregrino, é antes de tudo uma passagem. As passagens são como símbolos, arquétipos inconscientes, os quais não possuem nenhuma técnica. Antes disso, são totalmente dominadas pelo mito, pelos sonhos, pelo imaginário, pelas fantasias mais inconfessáveis em que a realidade se transfi gura e se transcende na materialidade do mundo. É aí que aparece a noção da utopia, da terra prometida, que se apropria do sonho. No entanto, cabe lembrar que, devido a sua incapacidade de transformar o sonho em 31 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 realidade, a utopia pode surgir como catástrofe. Por isso, a interdisciplinaridade possui duas formas de lidar com o real, que são ambíguas: o panorama, uma forma alucinatória de trazer a história e a natureza para um mundo exilado da história e da natureza, como sendo uma antecipação de uma reconquista real dessas duas dimensões perdidas, e a ciência, o conhecimento, que são agentes desencantadores da realidade, da cultura e do símbolo, abolindo as promessas de um mundo liberto. Para ampliar seu conhecimento sobre interdisciplinaridade, leia o texto “O entendimento da interdisciplinaridade no cotidiano”, de Mafalda Nesi Francischett. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/ pag/francishett-mafalda-entendimento-da-interdisciplinaridade.pdf>. O pesquisador interdisciplinar é dominado pelo fetichismo, em múltiplas fi guras, contendo em si o desastre e a redenção. O mundo se apresenta como uma residência ou um quarto mobiliado com objetos de todos os séculos. O peregrino ou o pesquisador interdisciplinar se torna um colecionador, que mata os objetos retirando-os do seu contexto, salvando-os, porque esse contexto era em si mortal. O pesquisador interdisciplinar se torna um espectador da multidão condenado a ser um observador. O pesquisador que peregrina, que assume o projeto dionisíaco, o projeto da ruína, no que ele tem de destrutivo e de construtivo, percorre o espaço e o tempo e é nesse percurso que se percebe que o tempo se apresenta na forma de um eterno retorno. Assim: O peregrino vive o trágico no ponto mais alto, ponto em que a insatisfação jamais encontra uma solução, um lugar, uma situação em que possa ser absorvida. Poder-se-ia dizer que a tensão do peregrino sobre a terra é um estado, um estado de alma sem dúvida, uma sensibilidade incitando a errar, a sucumbir, a viver o excesso e a escassez, mas, graças a isso, a reencontrar ou encontrar uma plenitude do ser: plenitude que dá a intensidade vivida no presente, outra maneira de dizer eternidade (MAFFESOLI, 2004, p. 160). 32 Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais Pesquise sobre a vida e as obras do Sociólogo Michel Maffesoli, principalmente sobre o que ele pensa da criatividade na sociedade contemporânea. Também se apresenta como um presente tenso, capaz de liberar o novo aprisionado, o arcaico, momento em que o sonho se extingue e as fantasmagorias se dissipam, sem que o fi m do sonho signifi que a rejeição do saber do sonho, e sem que o fi m das fantasmagorias signifi que a negação da verdade que elas continham. No entanto, no diálogo que vem travando com a Educação, a partir dos estudos da hermenêutica fi losófi ca, as “ciências humanas” insistem em importar o referencial das ciências causais explicativas, como única visão para deduzir a realidade, e como forma de “fazer progredir” o campo teórico humanístico. Metaforicamente, a “ciência” é uma simples janela. Há muito a ser dito sobre o que vislumbramos por esta janela, porém, fi ca ainda muito por ser dito. Esse pensamento remete-nos à ideia de binariedade, a separação entre o que pode ser dito e o que não pode ser dito, ou seja, a binariedade é um pensamento nefasto que percorre toda a história da Filosofi a, na busca pela certeza e pela segurança metódica - pensamento esse que se origina na Dialética e, posteriormente, na Ciência, mesmo crendo que o dito não esgota o tema pautado. Diante desta última atitude, a hermenêutica é promissora, pois esclarece esses limites, mas ainda permanece delimitando, organizando e discriminando espaços. Dizer algo, em primeiro lugar, nunca esgota o tema, ou seja, o diálogo não termina, somente se interrompe. Quando dizemos algo, e esperamos a interlocução, temos ainda ummundo de coisas a serem ditas. Esse é o radical limite da fi nitude. Tentar cercar o ideal, atrás de uma suposta segurança de uma torrente de argumentos, não nos garante nada. Precisamos falar, mas precisamos também ouvir, para que o acontecer da vida aconteça, porém, nessa linha de raciocínio, abrem-se clareiras, onde no encontro de questões essenciais, já podemos vislumbrar, no caso da educação, a indissociabilidade entre projeto social e o projeto pedagógico. No entanto, não se pode esquecer que a realidade é una e indivisível, e o pensamento obedece ainda a binariedade, que é herdada da tradição fi losófi ca ocidental. Por isso, a manifestação de tais projetos, no mundo da vida, vem permeada por racionalidades que engessam e dominam a realidade social. Pensar a questão da interdisciplinaridade é um desafi o que a Educação vem se esforçando para fazer. Tal afi rmação é possível graças a educadores 33 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 e educandos que se aventuram em desafi ar e transgredir a miopia, a ditadura do método e do pensamento binário. Portanto, interdisciplinaridade é o esforço de promover uma sinergia entre diversas disciplinas, em um único momento de convergência, em uma total imersão na presentifi cação do ser. Tal cooperação entre essas disciplinas proporciona intercâmbios, possibilitando reciprocidades e enriquecimentos mútuos. Com esse esforço, pode-se aspirar a transdisciplinaridade como etapa posterior, com vistas à construção de um sistema, que incorpore as várias diferenças. Nesse sentido, podemos chegar a uma teoria geral de sistemas ou de estruturas generalíssimas, que inclua estruturas operacionais, estruturas de regulamentação e sistemas probabilísticos. Nesse desafi o de buscar uma estrutura transdisciplinar, deve-se ter como aliado o diálogo, pois este provoca e consegue ainda formular autênticas e pertinentes perguntas, tendo em vista sua conexão com o mundo, que não pode ser negado pela visão maniqueísta e dicotômica. Assim, o diálogo pode ser um instrumento de transformação do real. A interdisciplinaridade exige uma postura que não seja apenas dialógica; exige um espaço de abertura, em que ocorrem diversos encontros e agenciamentos. Para que isso ocorra, é necessária a democratização do conhecimento, mas em completa sinergia com a “técnica”; porém, cabe lembrar que o conhecimento não pode passar de um movimento meramente instrumental. Na busca pela compreensão, abre-se possibilidades promissoras para a Educação, pois o compreender vai além da “entrega” do conhecimento. O acontecer da compreensão não pode ser mapeado epistemologicamente, mas se entende que a retomada da bildung (formação) é um dos caminhos de acesso para a recuperação da compreensão como categoria fundamental para a Educação. A compreensão abre o caminho para a articulação do conhecimento, que só pode ocorrer com a pergunta sendo constantemente posta em evidência. A pergunta indica sentido, coerência, caminho, abertura, possibilidades, nos move, gera enfrentamento, questiona, tira-nos da inércia, rompe com a massifi cação, só para citar algumas consequências deste processo. A pergunta move o diálogo e este nos transforma. Depois do diálogo, já não seguimos sendo quem éramos. Os pretensos intelectuais partem do princípio de que o mundo se divide em generalistas e especialistas, e que estamos diante de uma escolha entre um e outro, tornando-nos reféns de suas consequências. Tal questão - um suposto embate entre o generalista e o especialista - pode ser um falso problema, enquanto criação de um modo banalizado de pensar a vida, orquestrada pela visão binária da realidade. Entretanto, se estamos diante de um falso problema, então por que tratar dessa querela entre generalistas e especialistas? Para se pensar além deste dualismo é necessário analisar os acontecimentos catastrófi cos advindos dessa visão de mundo. Interdisciplinaridade é o esforço de promover uma sinergia entre diversas disciplinas, em um único momento de convergência, em uma total imersão na presentifi cação do ser. 34 Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais No processo de fragmentação do conhecimento, as “ciências da administração” tornaram-se a voz recorrente no debate entre as “vantagens” ou “desvantagens” de tornar-se um especialista ou generalista. Descartes ofereceu o arcabouço fi losófi co para o desenvolvimento da “nova ciência”, e a visão de “domínio da natureza”, promovida por Francis Bacon, alastrou-se de forma a tornar-se uma referência para o desenvolvimento e o progresso da humanidade. A título de alerta não se deve confundir a visão grega de técnica (teckne) com a visão de técnica que foi difundida na modernidade ocidental. Enquanto na Grécia se pensava a técnica como possibilidade restritiva de se produzir algo, a partir de um método que podia ser ensinado e repetido, na modernidade, a técnica torna- se a representação e o desvelamento do mundo. No horizonte da técnica pautada pela modernidade, esta se tornou a única via de acesso por onde toda a realidade poderia ser deduzida. A humanidade, seduzida pela possibilidade de ser redimida do pecado original, rende-se sem reservas à técnica moderna, acreditando que o homem será reconduzido ao jardim encantado. O homem no horizonte da especialização torna-se sagaz para as coisas próximas, ao lado de uma grande miopia para o longínquo. O especialista está imerso no pântano da especialização e na desimportância do pensamento e do conhecimento que ele produz. O especialista é o natural adversário do gênio. Os livres pensadores têm que lidar com o empecilho dos cientistas que atrapalham o seu caminho. O termo “especialista”, vinculado à tradição metafísica, é o especialista que atrapalha Zaratustra em seu caminho. Formar- se por uma teleologia metafísica é o trabalho que tem sido proposto pela maioria das instituições e aceito pela maioria dos alunos. A decisão por uma formação interdisciplinar é a maneira de romper contra o utilitarismo das especializações. É interessante ainda ressaltar que as diversas “especializações” terão que ser pautadas por meio do diálogo. Como em tudo na vida, há os perigos dessa iniciativa. Aquele que não estiver atento será tragado para o manto da “pretensa segurança metódica”, transformando-se em consciência de rebanho, numa programação que rouba sua vida e humanidade. A sedução do método estará a espreitá-lo com o doce discurso das “certezas das ciências causais explicativas”. Por sua vez, o generalista, por defi nição, seria alguém que tem um conhecimento interdisciplinar. Pensar a mudança do especialista para o generalista esbarra em uma inexorável resistência do humano. Na circularidade, ou no círculo hermenêutico - o círculo deve ser entendido no sentido virtuoso e não como vícios - existe uma possibilidade positiva do conhecimento mais originário, que, evidentemente, só será compreendido de modo adequado quando se compreender que sua tarefa primeira, constante e última, permanece sendo a de não receber de antemão, por meio de uma feliz ideia ou por meio de conceitos populares, nem a posição prévia, nem a visão prévia, nem a concepção prévia, mas em assegurar o tema científi co na elaboração desses conceitos, a partir da 35 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 coisa, ela mesma. Em última análise, é preciso estar circunscrito na dinâmica da compreensão, para que não percamos o foco. Assim, a regra da hermenêutica, onde tudo deve ser entendido a partir do individual, e do individual ao todo, procede da retórica antiga. Em ambos os casos, encontramos uma relação circular. O movimento da compreensão discorre do todo para a parte e novamente ao todo. A tarefa é ampliar, em círculos concêntricos, a unidade do sentido compreendido. A confl uência de todos os detalhes no todo é o critério para a correta compreensão.A falta da confl uência signifi ca o fracasso da compreensão. Heidegger faz uma descrição fenomenológica plenamente correta, quando descobre, na suposta leitura que consta, a estrutura prévia da compreensão. Para explicitar a situação hermenêutica da questão do ser com relação à intenção prévia, antecipação e pré-compreensão, examina criticamente a pergunta que ele dirige à Metafísica em momentos decisivos de sua história. A compreensão, guiada por uma intenção metodológica, não buscará confi rmar simplesmente suas antecipações, mas tentará tomar consciência delas para controlá-las e obter, assim, a reta compreensão a partir das mesmas coisas. Isso seria a forma de assegurar o tema científi co. A estrutura circular se manteve dentro do quadro de uma relação formal entre o individual e o global ou seu refl exo subjetivo. A anterior teoria da compreensão culminava no ato divinatório que dava acesso direto ao autor e, a partir daí, dissolvia tudo que era estranho e chocante no texto. Entretanto, é preciso entender que o sentido interno do círculo entre o todo e a parte, que está na base de toda a compreensão, deve ser completado com uma determinação ulterior que ele denomina “antecipação da completude”. Quando compreendemos, pressupomos a completude e o sentido do objeto de nosso esforço compreensivo. A antecipação da completude, que dirige toda a nossa compreensão, aparece, ela mesma, respaldada por um conteúdo. Não se pressupõe apenas uma unidade de sentido imanente que orienta o leitor, mas que a compreensão deste é guiada constantemente por expectativas transcendentes, que derivam da relação com a verdade do conteúdo intencionado. Assim, as práticas interdisciplinares buscam ter uma visão unidimensional da condição do homem, assumindo a postura de abertura, colocando-se à disposição do diálogo com as diversas disciplinas existentes. Compreender algo através de uma disciplina tem relação com escolhas metodológicas. A interdisciplinaridade implica uma escolha em outra dimensão, não abandonando o horizonte metodológico, ou seja, reconhecendo que ela também tem seus limites. No entanto, se ampliarmos o círculo concêntrico da compreensão, ao optarmos pela interdisciplinaridade, saímos do limite demarcado pela disciplina para “ouvirmos” a outra disciplina, enfi m, para dialogarmos. É necessário fi car claro que, para que a interdisciplinaridade ocorra, é preciso que haja uma linguagem comum. Convém considerar que a compreensão entre as pessoas cria uma linguagem que 36 Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais possibilita a troca, o intercâmbio. O distanciamento entre as pessoas manifesta- se no fato que elas não falam mais a mesma linguagem. Não podemos escapar do fato de que o entendimento se torna difícil onde falta uma linguagem comum. É aqui que a criatividade contribui para a interdisciplinaridade, pois tem a função de criar uma fi losofi a platônica, ou um platonismo invertido. A interdisciplinaridade é uma criação fantástica e surge como acontecimento. Para que ocorra essa proposta, é preciso que se crie uma linguagem que seja ao mesmo tempo referente e aberta, que seja necessária e contingente. Uma linguagem que tenha a capacidade de criar a todo o momento “palavra-valise”. O que é “palavra-valise”? Para uma aproximação de entendimento do que seja uma palavra-valise, é interessante entender o que signifi ca o conceito de complexidade. A linguagem interdisciplinar, que precisa ser uma síntese disjuntiva entre as disciplinas, tem como tarefa criar espíritos equilibrados. É aqui que o pensamento interdisciplinar se aproxima da literatura, da poesia e, por sua vez, da linguagem cinematográfi ca. O ato criativo nasce no esforço pelo diálogo, ou melhor, na busca por uma linguagem comum, diante da fragmentação do pensamento científi co, em uma busca constante por uma linguagem interdisciplinar e, por que não dizer, esotérica. Entretanto, cabe o alerta: ao criarmos uma linguagem comum entre as disciplinas não podemos tirar toda e qualquer forma de dinamicidade e criatividade da ação interdisciplinar, criando uma nova disciplina. Afi nal, as palavras-valise são problemáticas e problematizantes. O que isto signifi ca? Signifi ca que as palavras-valise são respondidas sem serem resolvidas, ou seja, são determinadas como problema, sem deixarem de ser problematizadas, ou melhor, são referentes e abertas, portanto, esotéricas. Aqui, esoterismo deve ser compreendido como sendo aquele que guarda um segredo, certo mistério, conferindo às palavras uma dimensão de profundidade, produzindo um reencantamento, sugerindo que a compreensão de um mito ou do real se dá através do esforço da linguagem que produz um acontecimento, uma espécie de hermenêutica. Talvez, a grande característica da linguagem esotérica e interdisciplinar sejam as correspondências simbólicas e reais entre todas as disciplinas das Ciências Humanas e Naturais, em um princípio de interdependência universal. A linguagem que fala do real é o refl exo de um universo como sendo um grande teatro de espelhos, tendo como referência o signo e o mistério. O princípio do terceiro excluído, do pensamento linear, do princípio da causalidade, passa a ser uma visão incompleta do real, onde a referência passa a ser a do terceiro incluído. O primeiro passo, para a interpretação do mundo, é compreender que o real é um fenômeno linguístico. A prática interdisciplinar é a prática da concordância; é possuir o ato de criar, ou de encontrar ou reencontrar denominadores comuns, palavras-valises, entre duas, três ou todas as disciplinas 37 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 possíveis, na busca por um conhecimento, de uma qualidade superior. Não se trata de simplesmente tolerar ou respeitar os territórios disciplinares, mas trata-se de concordância criativa, para adquirir um conhecimento que abrace e abrase as diversas disciplinas, em um conhecimento verdadeiramente interdisciplinar. 2.4 INTERATIVIDADE E RELAÇÕES SOCIAIS Este subcapítulo tem a intenção de oferecer os elementos necessários para uma discussão acerca dos conceitos de interatividade e relações sociais no espaço educacional. De modo algum, se quer esgotar o assunto. Aliás, isso seria muita presunção. Cabe lembrar que também não se quer dizer que tudo o que está nas páginas seguintes seja um refl exo fi el da realidade do sistema educacional. O que podemos afi rmar é que será um recorte da realidade e, como todo recorte, não é perfeito. Sempre deixa algo escondido, velado. A intenção é caminhar com certa prudência para um esclarecimento de um dos processos mais importantes do ser humano: o processo de ensino-aprendizagem. Afi nal, o aluno passa boa parte da sua vida dentro de uma escola. Nesse sentido, temos dois modos de processos de ensino-aprendizagem, o da Escola Tradicional ou Velha e o da Escola Nova ou Progressista. Assim, o fi lósofo americano John Dewey será o nosso companheiro nesta jornada, nos ajudando nesta discussão. Por isso, pretende-se analisar os conceitos de interatividade e relações sociais e como se articulam para um melhor desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem. Em um segundo momento, analisaremos os pressupostos da Escola Tradicional e da Escola Nova. Por fi m, analisaremos os diversos tipos de experiência educacional. Pedagogia não é uma ciência, é uma arte que, para funcionar, precisa de outras ciências, como a Filosofi a, a Psicologia e a Sociologia, enfi m, as Ciências Humanas e as Ciências da Natureza. Assim, é um saber interdisciplinar, uma vez que quando se ensina a um aluno não se ensina somente a ele, mas a toda a sua história, pois aquilo que somos agora é uma consequência de vários fatores, psicológicos, sociológicos etc., podemos dizer que somos o resultado de um processo histórico. Então, ensinar é ensinar a alguém que está inserido em um contexto histórico e sociológico específi co. No
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