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Livro RECURSOS DIGITAIS- Softwares Educacionais

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RECURSOS DIGITAIS: 
SOFTWARES 
EDUCACIONAIS
Programa de Pós-Graduação EAD
UNIASSELVI-PÓS
Autores: Wellington Lima Amorim e Everaldo da Silva
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: 
Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Camila Roczanski
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2019
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
AM524r
 Amorim, Wellington Lima
 Recursos digitais: softwares educacionais. / Wellington Lima Amorim; 
Everaldo da Silva. – Indaial: UNIASSELVI, 2019.
 152 p.; il.
 ISBN 978-85-7141-310-8
1. Computação. – Brasil. 2. Softwares educacionais. – Brasil. I. Silva, 
Everaldo da. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 004
Sumário
APRESENTAÇÃO ............................................................................5
CAPÍTULO 1
Globalização, Racionalidade e Sociedade em Redes ...............7
CAPÍTULO 2
Gestão do Conhecimento e Revolução 4.0 ..............................51
CAPÍTULO 3
Experiências e Reflexões Sobre Inovações na Educação ....95
APRESENTAÇÃO
É com imensa satisfação que apresentamos o livro da disciplina de Recursos 
Digitais: Softwares Educacionais. Sua elaboração é resultado de um longo 
processo de discussão e reflexão entre os autores. Sem dúvida, sua origem está 
pautada no respeito, na valorização e na credibilidade conferida aos professores e 
estudantes da comunidade acadêmica da UNIASSELVI. 
Nosso objetivo aqui é fomentar o desenvolvimento do conhecimento científico 
e contribuir para a sua disseminação entre as comunidades acadêmicas. 
Os textos, as leituras e as atividades aqui apresentados são importantes 
para você estudante, principalmente aqueles focados em temáticas que 
buscam estabelecer uma parceria entre a empresa, a ciência, a inovação e o 
desenvolvimento pessoal. 
Ao ler as análises e as discussões promovidas nos estudos apresentados, 
é possível perceber o espírito investigativo de seus autores. Além disso, 
constatamos releituras sobre temas atuais e polêmicos, bem como proposições e 
reflexões que podem contribuir para o incremento de novas práticas nas diversas 
áreas do conhecimento científico e no mundo do trabalho. 
Nesta obra apresentaremos temas relacionados à Globalização, à Cultura, 
à Sociedade em Redes e da Informação, à Inteligência Artificial, à Inovação na 
Educação e à Interdisciplinaridade. 
Uma boa leitura, e lembrando o que o diz o professor Waldez Ludwig: 
“Num mundo em que a diferença será pelo talento, criatividade e capacidade de 
reinventar-se, a educação pela “decoreba” está com os dias contados”.
Os autores.
CAPÍTULO 1
GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E 
SOCIEDADE EM REDES
A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
• Identifi car a relação entre o processo de globalização da informação e da 
cultura, seus efeitos nas relações sociais e na educação contemporânea.
• Espírito de cooperação, indispensável para o desenvolvimento social saudável 
e sustentável. Capacidade para relacionar teoria e prática numa perspectiva de 
desenvolvimento social.
8
 Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais
9
GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Iniciaremos nossa jornada na leitura e discussão de temas relevantes sobre 
Recursos Digitais: Softwares Educacionais. 
Neste capítulo, nosso objetivo é fazer com que você refl ita sobre globalização 
e redes, sociedade da informação, cultura e criatividade, tudo isso num processo 
de produção sofi sticado e bem cuidado.
Publicar e discutir sobre esses temas hoje é fundamental. Isso demonstra 
mais uma vez que vale a pena se dedicar à leitura, à escrita e à elaboração de um 
texto de acordo com as regras metodológicas que orientam todos os trabalhos da 
UNIASSELVI. 
2 GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE 
E SOCIEDADE EM REDES
A sociedade moderna, em permanente mudança, exige estudo constante 
de todos nós. A educação convencional não consegue mais atender à demanda 
de formação e atualização profi ssional no atual sistema. Felizmente, a evolução 
tecnológica possibilita novas soluções na área da educação. Uma dessas soluções 
é o ensino a distância: caracterizado pela separação física entre o professor e 
o aluno, que são conectados por uma tecnologia de comunicação bidirecional, 
tendo a mídia como uma mola propulsora da elaboração, discussão e divulgação 
do conhecimento. 
Uma das primeiras mídias conhecidas pela civilização é o livro. Todavia, 
existem diversas mídias consideradas de massa, como a imprensa, 
o cinema, o rádio, a televisão e, mais recentemente, a internet. 
Contemporaneamente, os efeitos que as mídias de massa 
passam a exercer sobre o ser humano podem ser analisados 
interdisciplinarmente, perpassando transversalmente a Educação, a 
Psicologia, a Sociologia, a Antropologia etc. 
É preciso pensar sobre as diferentes áreas e como elas se 
conectam e fornecem subsídios para formar identidades no mundo 
contemporâneo a partir dos efeitos da tecnologia em rede e a 
globalização. É possível perceber que diferentemente de outras 
mídias, a internet exige do indivíduo outra postura, diferentemente da 
tradicional que, em geral, nos colocava diante de certa passividade, fragilidade 
Uma das primeiras 
mídias conhecidas 
pela civilização é 
o livro. Todavia, 
existem diversas 
mídias consideradas 
de massa, como 
a imprensa, o 
cinema, o rádio, a 
televisão e, mais 
recentemente, a 
internet. 
10
 Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais
e domesticação frente aos meios de comunicação de massa. No paradigma 
tradicional, somos seres domesticados, no atual paradigma, somos seres 
desinibidos, interdisciplinares, multidisciplinares e líquidos.
Segundo Sloterdijk (2000), em sua obra, As Regras do Parque 
Humano, as novas tecnologias provocaram a falência do humanismo 
ocidental, uma vez que não conseguem mais domesticar o homem, 
desinibindo-o.
No atual estágio de desenvolvimento ocorreu um deslocamento do 
humanismo que sempre buscou a última fundamentação das coisas em si 
mesmas e que sempre exigiu um alto grau de domesticação para se buscar um 
fi m, para um plano midiático onde impera o médium, o meio, e não mais um fi m 
em si. 
É importante lembrar que o livro, enquanto mídia, sempre teve a escrita como 
método de persuasão para atingir o outro para quem se endereça a obra, o leitor. 
A obra literária por mais de 2.500 anos teve a função de domesticar (sinônimo 
de civilizar). A escrita exige do indivíduo atenção, foco, monodimensionalidade, 
uma técnica específi ca de capturar amigos através da persuasão da escrita, 
de construção de subjetividades. Contudo, serão as redes computacionais que 
desinibirão o homem, atiçando a sua vontade de poder. 
Saiba mais sobre a Língua Portuguesa no Brasil. Disponível em: 
<http://museudalinguaportuguesa.org.br/>.
11
GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 
A INTELIGÊNCIA CORPORAL DIANTE 
DAS EMPRESAS MECANICISTAS
Para entender melhor a grande problemática que afeta os 
profi ssionais no sistema organizacional mecanicista, com seus corpos 
inteligentes, é preciso compreender exatamente o cotidiano das 
repetições em suas funções, ou seja, entender o que existe dentro do 
sistema mecanicista. O potencial corporal humano está voltado para 
a rapidez (tempo) e para o controle de tarefas (produção). Assim,o 
profi ssional é uma engrenagem e sua potencialidade corporal neste 
momento fi ca engessada e o raciocínio semibloqueado.
Na vida trabalhista, o problema não está no “não pensar, e 
sim no executar”. É um fenômeno paralisante e moderno, pois as 
primeiras atividades elaborativas no histórico do mundo chamado 
trabalho estão voltadas ao artesanato, vindo depois a industrialização 
e, em seguida, a informatização.
No setor Organizacional Mecanicista, a evolução da 
industrialização e da informatização proporciona inovações que 
impossibilitam os colaboradores de criar e produzir corporalmente. 
Talvez nasçam daí o sentimento de frustração em suas atividades 
repetitivas e o sentir-se robô da indústria.
Apesar de reconhecermos a efi cácia dos modelos tradicionais 
mecanicistas em um determinado momento da história, temos 
certeza que estes modelos são ultrapassados para o nosso momento. 
Precisamos mudar, o mundo mudou, nossa sociedade mudou e com 
isso temos que ver e tratar o indivíduo não somente como mão de 
obra, ou ser pensante que é, mas também como um ser que sente, 
que fala, que tem desejos e que está cada vez mais conectado.
Em pleno século XXI, verifi camos mudanças radicais, 
com uma crescente exigência de um trabalhador polivalente, 
multidisciplinar, capaz de estar pronto para rápidas mudanças, 
muitas vezes antecipando-se ao ambiente tecnológico e econômico 
e, principalmente, ter a capacidade de trabalhar em equipe, tendo 
como requisito fundamental um bom relacionamento interpessoal, 
capacidade de lidar com as pessoas e vontade de crescer na organização.
Precisamos mudar, 
o mundo mudou, 
nossa sociedade 
mudou e com isso 
temos que ver e 
tratar o indivíduo 
não somente como 
mão de obra, ou 
ser pensante que 
é, mas também 
como um ser que 
sente, que fala, que 
tem desejos e que 
está cada vez mais 
conectado.
12
 Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais
Este robô-orgânico, que pensa, memoriza, enxerga, interpreta, 
raciocina e refl ete o que se passa em seu meio de trabalho, poderá 
encontrar o fracasso em seu trabalho, com a não contribuição de 
seus corpos inteligentes. Este efeito em massa mecanicista, do 
não crescer intelectual e corporalmente, traz um diagnóstico nítido 
para a lupa da Inteligência Corporal na educação/treinamento no 
trabalho, no sentido do desenvolvimento humano, não despertando 
corporalmente com a psique.
O processo de insatisfação dos funcionários, nesse processo de 
controle e de tempo, seria a transformação do ambiente profi ssional 
em um campo de tortura, ou seja, de perda do ciclo de felicidade no 
trabalho.
Diante do momento extraordinário do desenvolvimento do 
capital humano, o desenvolvimento corporal contribui para o talento 
corporal e este referencial passa a obter e a sustentar vantagens 
competitivas dentro das organizações mecanicistas. 
Para refl etirmos sobre nossa apresentação, tentaremos nos 
colocar como os funcionários que atuam nas indústrias (sistema 
mecanicista), na qual estão acostumados a fazer atividades 
repetitivas. Isso dá indícios de que o sofrimento profi ssional fi cou 
acima das máquinas, perante esses longos anos e trouxe com ele a 
dor da não potencialidade corporal para o ciclo do desenvolvimento 
humano, como um ser efi ciente e efi caz em suas tarefas profi ssionais 
cristalizadas, ou seja, com uma camisa de força.
Estas “lágrimas” profi ssionais são importantes para a 
reestruturação de novos movimentos corporais e novas execuções 
elaborativas, pois elas aparecem como intermediárias, necessárias 
para a não submissão do executar, mas, sim, para o senso corporal 
de contribuir, dentro de uma visão de reestruturação. 
A inteligência corporal assumirá o compromisso de refazer as 
imagens corporais, rompendo o gesso, descristalizando o perigo 
sobre as máquinas, desmistifi cando o medo de ser um profi ssional 
com mais talento e mais competente com seus movimentos e gestos.
Fomos educados para controlar e disciplinar o corpo, não 
podemos esquecer que nascemos bebê e o corpo é a grande alavanca 
para o conhecimento do novo mundo desconhecido, o movimento e 
13
GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 
os gestos são agentes formadores de nossa psique, lógico que a 
mente apresenta seu papel fundamental. A pré-depressão corporal 
tornou-se tão comum nas organizações mecanicistas que esta 
reação passou a ser chamada de “estado adormecido corporal”. 
Acredite mais em sua potencialidade corporal, ela é a melhor 
amiga da sua mente e não deixará ser vencida pelos pensamentos 
autoritários, solte-se e deixe viver plenamente com o seu maravilhoso 
corpo. Lembre-se: seus pés e suas mãos trouxeram você aqui e, 
com certeza, o levaram à refl exão e ao encontro do novo caminho 
de atividades.
FONTE: MARTINI, M. de. A inteligência corporal diante das 
empresas mecanicistas. 2003. Disponível em: http://www.rh.com.
br/Portal/Mudanca/Artigo/3610/a-inteligencia-corporal-diante-das-
empresas-mecanicistas.html. Acesso em: 13 nov. 2018.
Vale destacar que uma das mudanças que temos percebido durante o 
atual período de transição das organizações e dos indivíduos é a questão da 
contingência. Quando falamos de contingência, estamos falando de algo incerto ou 
eventual. São fatores que podem ser tanto internos quanto externos à organização 
e podem mudar a estrutura do ambiente organizacional. 
Para nós, os seres humanos não são objetos; ou seja, 
controláveis por alguma mão invisível ou algum mecanismo, 
inatingível e autorregulável, de ameaças. Para nós, o homem é 
um sujeito: um ser autodeterminado que é capaz de participar na 
transformação de seu mundo. Com sua capacidade criadora, ele 
é capaz de transformar estreiteza em profundidade (GARCIA, 
1980, p. 16).
Dentre as milhares de teorias que já foram ou ainda serão formuladas em 
Administração, há uma que nunca será aposentada por invalidez ou velhice. A 
Teoria da Contingência nem é bem uma teoria, mas uma simples questão de bom 
senso: ela afi rma que nas empresas nada é absoluto, ou, como dizia Einstein, que 
tudo é relativo.
A Teoria da Contingência poderia ser chamada, na intimidade, de Teoria do 
Depende. Ela está a meio-caminho entre a Verdade Absoluta e o Caos Total. A 
Verdade Absoluta prega que, seguindo-se um caminho predeterminado e nunca se 
desviando dele, chega-se a um Objetivo. Já o Caos Total garante que, não importa 
o caminho a ser usado, nunca se chegará a lugar nenhum. O conceito de Caos 
14
 Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais
Total deu à luz uma série enorme de regras metafísicas de Administração, como a 
célebre “tudo o que pode dar errado dará”, a Lei de Murphy.
Já a Teoria da Contingência (palavra de origem latina, que signifi ca “dúvida”) 
admite que o caminho pode até estar no mapa, mas adverte que a jornada será 
acidentada e que alguns dos acidentes do percurso não podem ser previstos 
antecipadamente, e se o viajante não estiver preparado para ir enfrentando os 
empecilhos, na medida em que eles aparecem, ou se perderá, ou chegará atrasado 
ao Destino, ou desistirá no meio da jornada.
Em quanto tempo um determinado projeto será concluído? Segundo as teorias 
fundadas na Verdade Absoluta, em dez semanas, nem uma hora a menos. Pelo 
conceito de Caos Total, o melhor seria abandonar o projeto, já. De acordo com a 
Teoria da Contingência, tudo indica que serão aproximadamente dez semanas.
No coração da Teoria da Contingência sempre cabe mais um conceito, e a 
Inteligência Emocional é um deles. Bons executivos são bons porque possuem 
a habilidade de enxergar problemas potenciais, contrariando a maioria, para a 
qual não há problemas à vista. Os executivos ligados à Teoria da Contingência 
conseguem relacionar fatos isolados que, na aparência, não têm nada que ver uns 
com os outros. Acreditam na existência de fatores meio etéreos, como o Acaso, 
mas não na loteria da Sorte e do Azar. Decidem com dados insufi cientes e acertam, 
na maioriados casos. São otimistas, que sempre partem de premissas pessimistas.
É claro que não basta decidir rápido para decidir bem. Muitas decisões 
apressadas se revelam catastrófi cas. Como a única ciência exata que existe em 
Administração é a previsão do passado, sempre se saberá com certeza - quando 
for tarde demais - por que uma decisão foi errada, e aí qualquer Zé-mané poderá 
dizer qual deveria ter sido a decisão correta.
A Teoria da Contingência ensina que maior será a possibilidade de acerto 
quanto mais forem as opções de rotas alternativas, e que cada rota alternativa deve 
trazer embutidas várias possibilidades imediatas de alteração de rumo. Simples? 
Pelo contrário, quando há um confronto entre o que os números e os dados indicam 
e o que a experiência e o sentimento recomendam, o resultado tanto pode ser uma 
decisão brilhante como uma bruta gastrite. “Arrependimento mata. Indecisão mutila. 
Perfeição não existe. A mais complicada das decisões é decidir quando decidir e 
quando não decidir. A receita, infelizmente, não está em nenhum livro. Está dentro 
da cabeça de cada um” (GEHRINGER, 1998, p. 55).
Dando continuidade, as organizações podem contribuir muito para o 
desenvolvimento de projetos tecnológicos e sociais na sociedade, já que elas podem 
assegurar a representação equilibrada de diferentes interesses da sociedade civil 
15
GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 
e buscar formas viáveis de participação. Uma contribuição muito importante que 
as organizações podem prestar à sociedade está no aprendizado de uma nova 
racionalidade: a racionalidade substantiva, elemento fundamental que possibilita a 
transformação e a superação das condições dadas que envolvem o indivíduo, por 
meio de sua ação consciente.
Nesse sentido, deve-se dizer que ainda vemos a racionalidade instrumental 
(funcional) nas necessidades de efi ciência, de qualidade e de competitividade que 
representam “critérios de dispensa” de muitas pessoas nas organizações. Nós, 
na nossa vida pessoal também deixamos de ser seres substantivos para agir de 
acordo com a razão instrumental (funcional). 
Os seres humanos trazem idiossincrasias contrárias à racionalidade da 
organização. Dessa forma, é mister dizer que para submeter à disposição singular 
do ser humano de pensar seus valores e interesses individuais ao propósito da 
organização, esta precisa submeter as pessoas a um objetivo comum, e este 
objetivo acaba não sendo coletivo e democraticamente determinado; ele é imposto 
de maneira legítima, pela direção da organização.
Dentro das organizações, muitos indivíduos sobressaem do mais alto grau de 
racionalização e regulação que se alcança a sociedade, ao qual o indivíduo que 
participa dela não só recebe prescrita a condução de seus atos e normas reguladas, 
mas também a sua liberdade de pensamentos e sentimentos permitidos.
Normalmente, encontramos pessoas relatando algum fato em uma organização 
onde o indivíduo se sente oprimido, tendo sua personalidade não aceita. Esses 
profi ssionais geralmente reprimem os traços de sua personalidade, passando a 
agir como máquinas e, principalmente, utilizando intensivamente a racionalidade 
funcional.
Acreditamos que considerar a personalidade do funcionário para direcionar sua 
carreira, em geral, resulta em bem-estar. Porque muitas vezes, de tanto a pessoa 
ter a sua personalidade reprimida, ela fi ca bloqueada, anulando seus valores para 
aceitar a demanda externa, gerando sentimentos como o da agressividade e, nesse 
caso, acontece o pior, o funcionário acaba sendo reconhecido como um funcionário-
problema.
Precisamos privilegiar a cooperação e a compreensão entre as pessoas, 
a emancipação da consciência individual e a preocupação com o bem-estar. 
Para tanto, a consciência individual resulta do uso da razão, o que pressupõe 
julgamentos, valores e ética. Atualmente, o que temos é a prevalência da 
racionalidade funcional (busca do sucesso individual, desprendido do julgamento 
ético), fruto de uma sociedade centrada no mercado, com seres humanos induzidos 
16
 Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais
por meios de comunicação e de publicidade, que infl uenciam fortemente o nosso 
poder de separar o certo do errado.
O sentido dado à palavra “razão” nos dias atuais é bem diferente do sentido 
antigo. Como mostra Ramos (1989 apud KOPELKE, 1998), o que hoje se entende 
por razão constitui apenas um “cálculo utilitário de consequências”, ou seja, uma 
série de medidas organizadas de forma a levar a um objetivo previamente defi nido. 
Esse conjunto de atos organizados estará em suas melhores condições quando, 
para atingir o objetivo, coordena os meios da forma mais efi ciente possível, porém, 
essa é uma visão parcial do antigo conceito de razão. 
Karl Mannheim chama esta razão de funcional, Max Weber de razão 
instrumental e Eric Voegelin de razão pragmática. Entretanto, no sentido antigo, 
razão era considerada a capacidade humana de distinguir entre o bem e o mal, 
entre o falso e o verdadeiro, e a partir desta capacidade, ordenar a sua vida pessoal 
e social, isto é, a razão, do ponto de vista antigo, é permeada por um elemento 
ético que permite ao ser humano ter percepções inteligentes das inter-relações 
dos mais variados acontecimentos de sua vida, o que permite uma vida pessoal 
orientada por julgamentos independentes. A esse tipo de razão, Weber chamou de 
racionalidade de valor, Mannheim de racionalidade substancial e Voegelin de razão 
noética.
Entendemos como substancialmente racional um ato de pensamento que 
revele percepção inteligente das inter-relações dos acontecimentos de uma 
determinada situação. Assim, o ato inteligente de pensamento, em si, será descrito 
como “substancialmente racional”, enquanto tudo o mais que seja falso, ou não 
seja absolutamente um ato de pensamento (por exemplo, impulsos, desejos 
e sentimentos, tanto conscientes como inconscientes) serão denominados 
“substancialmente irracionais” (MANNHEIM, 1962 apud KOPELKE, 1998).
Se na defi nição de racionalidade funcional for dado ênfase 
à coordenação da ação com referência a um objetivo defi nido, 
tudo o que desintegra e interrompe essa ordenação funcional é 
funcionalmente irracional. Tal interrupção pode ser provocada não só 
através de irracionalidades substanciais, como fantasias cerebrais 
e as explosões violentas de indivíduos sem controle, mas também 
através de atos perfeitamente intelectuais que não se harmonizem 
com a série de ações para que se voltam as atenções. O termo 
irracionalidade funcional jamais caracteriza um ato em si, mas somente em relação 
a sua posição no complexo total de conduta, do qual faz parte. Uma ação pode 
ser funcionalmente racional ou irracional, dependendo da situação do observador. 
Por exemplo: as tradicionais queimadas dos campos de cana-de-açúcar em época 
de colheita no interior do estado de São Paulo estão sendo muito criticadas pelo 
Uma ação pode 
ser funcionalmente 
racional ou 
irracional, 
dependendo 
da situação do 
observador.
17
GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 
elevado grau de poluição atmosférica que produzem ao lançarem no ar diversos 
agentes cancerígenos, além de degradarem o solo. Tal situação fez com que 
diversas entidades ecológicas e de preservação ambiental pressionassem o 
governo do estado para que este tornasse obrigatório a mecanização da colheita 
da cana-de-açúcar. Essa lei que obriga a mecanização dentro de um determinado 
prazo é considerada funcionalmente racional pelas entidades de preservação 
ambiental, mas é, ao mesmo tempo, considerada funcionalmente irracional do 
ponto de vista social, pois os trabalhadores agrícolas (boias-frias) perdem a sua 
única fonte de sustento.
Da mesma forma, a irracionalidade substancial pode ser relativa. 
Como será demonstrado no decorrer deste trabalho, se a expressão 
de sentimentos, desejos e impulsos fi zerem bem à saúde psicológicade uma pessoa, e com isso permitirem que ela cresça e se torne 
mais madura, responsável e autodeterminada, esses atos podem ser 
considerados substancialmente racionais. Além do mais, o irracional 
nem sempre é prejudicial, pelo contrário, está entre as forças mais 
valiosas do homem, quando age como força motriz no sentido de 
fi nalidades racionais e objetivas, quando cria valores culturais pela 
sublimação ou quando, como puro impulso, intensifi ca a alegria de 
viver sem romper a ordem social com a falta de planejamento. As 
sociedades, principalmente a sociedade de mercado, precisam criar 
saídas para o desabafo de impulsos, já que a objetividade da vida 
cotidiana, provocada pela racionalização generalizada, representa uma 
repressão constante de impulsos (MANNHEIM, 1962 apud KOPELKE, 
1998).
Tendo claras estas distinções, Mannheim (1962 apud KOPELKE, 1998) afi rma 
que quanto mais industrializada uma sociedade, mais avançada sua divisão do 
trabalho e sua organização, maior será o número de esferas de atividade humana 
funcionalmente racionais e, portanto, também previsíveis antecipadamente. 
Enquanto o indivíduo nas sociedades antigas, apenas ocasionalmente e em 
esferas limitadas, agia de uma maneira funcionalmente racional, na sociedade 
contemporânea ele é obrigado a agir dessa forma em um número de esferas de 
vida cada vez maior. Isso leva, segundo o autor, a um processo de racionalização 
funcional da conduta, que ele chama de autorracionalização. 
Por meio da autorracionalização, o indivíduo realiza o controle sistemático de 
seus impulsos com o objetivo de planifi car a sua vida de modo que toda ação seja 
guiada por princípios utilitários orientados para um determinado objetivo.
Por exemplo: se você fosse membro de uma organização de grande alcance, 
em que toda ação deve ser cuidadosamente ajustada às demais, seus modos de 
O irracional nem 
sempre é prejudicial, 
pelo contrário, está 
entre as forças 
mais valiosas do 
homem, quando 
age como força 
motriz no sentido de 
fi nalidades racionais 
e objetivas, quando 
cria valores culturais 
pela sublimação ou 
quando, como puro 
impulso, intensifi ca 
a alegria de viver 
sem romper a ordem 
social com a falta de 
planejamento.
18
 Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais
conduta, seu controle e a regulamentação de seus impulsos serão, evidentemente, 
muito diferentes do que seriam se você fosse mais ou menos isolado e independente 
e pudesse fazer o que lhe parecesse certo. Como trabalhador fabril, terá de 
controlar seus impulsos e desejos muito mais intensamente do que como artesão 
independente, caso em que sua atividade profi ssional teria uma organização tão 
fl exível que poderia, de tempos em tempos, satisfazer desejos que nem sempre 
estariam imediatamente ligados ao trabalho em mão (MANNHEIM, 1962 apud 
KOPELKE, 1998).
Para Mannheim (1962 apud KOPELKE, 1998), o melhor exemplo dessa 
racionalização de tarefas é a Taylorização dos trabalhadores numa fábrica 
industrial, mas não só os trabalhadores de nível operacional estão sujeitos a essa 
racionalização. O processo também ocorre com todas as pessoas vinculadas 
à estrutura de uma organização burocrática. Muitas pessoas têm o seu plano de 
vida condicionado por uma carreira, na qual as fases individuais são especifi cadas 
antecipadamente. A preocupação com uma carreira exige um máximo de 
autodomínio, pois envolve não só os processos práticos de trabalho, mas também 
a regulamentação prescritiva tanto de ideias como de sentimentos que é permitido 
ter, e ainda o tempo de lazer de cada pessoa. 
Entretanto, pior do que a autorracionalização é quando, por meio da refl exão 
e da auto-observação, uma pessoa visa não apenas um treinamento mental para 
o ajustamento a um determinado tipo de atividade, mas também uma espécie de 
autotransformação interna com o objetivo de remodelar-se mais radicalmente de 
forma a se orientar perfeitamente a objetivos puramente utilitários, aceitando a 
racionalidade funcional como o padrão fundamental da vida humana. 
A industrialização crescente, na verdade, implica na racionalidade funcional, 
isto é, na organização da atividade dos membros da sociedade em função de 
fi nalidades objetivas. Não promove, nas mesmas proporções, a racionalidade 
substancial, ou seja, a capacidade de agir com inteligência numa determinada 
situação à base da percepção própria da inter-relação dos acontecimentos. A 
racionalização está, segundo Mannheim (1962 apud KOPELKE, 1998), destinada 
a privar o indivíduo médio de refl exão, percepção e responsabilidade, e a transferir 
essa capacidade aos que dirigem o processo de racionalização.
O homem médio entrega parte de sua própria individualidade cultural a cada 
novo ato de integração num complexo de atividades funcionalmente organizadas. 
Torna-se cada vez mais acostumado a ser levado pelos outros e gradualmente 
abandona sua própria interpretação dos acontecimentos pela interpretação que lhe 
é dada por outros. Mannheim (1962 apud KOPELKE, 1998) afi rma que, quando 
o mecanismo racionalizado da vida social entra em colapso, em épocas de crise, 
o indivíduo não pode repará-lo com sua percepção própria. Ao invés disso, sua 
19
GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 
impotência o reduz a um estado de abandono aterrorizado. Na crise social, ele 
permite que o esforço e a energia necessários à decisão inteligente se percam.
Tal como a natureza era incompreensível ao homem primitivo e seus mais 
profundos sentimentos de ansiedade eram provocados pela imprevisibilidade das 
forças naturais, assim para o homem moderno industrializado a imprevisibilidade 
das forças que atuam no sistema social onde vive, com suas crises econômicas, 
infl ação e, assim por diante, tornou-se uma fonte de receios igualmente 
generalizados (MANNHEIM, 1962 apud KOPELKE, 1998).
A difusão da razão funcional em função da crescente industrialização fez com 
que boa parte da ciência social estabelecida também se fundamentasse nesse tipo 
de razão, e a teoria organizacional, como fi lha da ciência social moderna, nasceu 
viciada já em seus principais pressupostos, ou seja, que o ser humano não é 
senão uma criatura capaz do cálculo utilitário de consequências, e o mercado, o 
modelo de acordo com o qual sua vida associada deveria organizar-se. Percebe-
se, portanto, que os modelos de homem utilizado pela teoria organizacional até o 
momento, operacional e reativo, são superfi ciais por não considerarem a dimensão 
substancial da razão. A racionalidade substantiva não está necessariamente 
relacionada com a coordenação de meios e fi ns, do ponto de vista da efi ciência. 
Assim, o comportamento humano que ocorre sob a égide da racionalidade 
substantiva pode ser administrativo apenas por acaso, não por necessidade. 
A não percepção do caráter duplo da racionalidade, ou seja, a aceitação 
da razão funcional como razão geral, tem tornado, segundo Ramos (1989 apud 
GEHRINGER, 1998), o debate verdadeiro e racional, uma possibilidade cada vez 
mais remota nas sociedades modernas, mesmo nos chamados meios intelectuais. 
Para o autor, a ciência social moderna foi um instrumento propositadamente 
articulado para livrar o mercado da prisão que o mantinha dentro de limites defi nidos 
para passar a integrar todos os aspectos da vida humana.
Esperar é arriscar-se ao desespero e experimentar é arriscar-
se ao fracasso, mas os riscos têm de ser corridos, pois o 
maior risco na vida é arriscar nada. A pessoa que não arrisca 
nada, não faz nada, não tem nada, não é nada e não se torna 
coisa alguma. Pode evitar o sofrimento e a tristeza, mas não 
pode aprender, sentir, modifi car-se, crescer, amar e viver. 
Acorrentado por suas certezas, é um escravo. Foi privado 
do direito de sua liberdade. Somente a pessoa que arrisca 
é verdadeiramente livre. Experimente e veja o que acontece 
(BUSCAGLIA, 1982, s.p.).
20
 Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais
2.1 GLOBALIZAÇÃOE REDES
A função da indústria cultural, bem como das diversas mídias, é sublimar a 
potência do homem através do cinema, da música e dos diversos dispositivos 
técnicos. Pode-se dizer que dentre as várias teorias da comunicação, com relação 
aos dispositivos midiáticos, existem as apocalípticas e as integradas, conforme 
defi nições a seguir:
• Integradas: pressupõe o otimismo, ordem e pragmatismo com relação 
aos benefícios que os meios midiáticos disponibilizam.
• Apocalípticas: pressupõe o pessimismo, o caos, e partem de uma crítica 
feroz aos dispositivos técnicos, ressaltando os malefícios que estes 
meios midiáticos podem oferecer.
Todavia, entre os extremos existe uma terceira opção, apresentada pela 
teoria cibernética. Neste caso, apresentam-se pontos em comum entre as duas 
teorias apresentadas. A principal delas está no fato de que as mídias infl uenciam 
decididamente o comportamento humano, modifi cando, transformando e 
produzindo novas atitudes, ou melhor, criando novas identidades ou subjetividades. 
Isto se dá porque as redes pressupõem a desinibição e muitas vezes um 
empoderamento violento do receptor que não é mais um ser passivo, mas exige 
atividade intensa em fl uxo em todas as direções possíveis. Desta forma, cai por 
terra o argumento de que o indivíduo não é capaz de infl uenciar, na verdade ele 
está sempre em uma relação, onde se é infl uenciado e infl uenciador.
Dando continuidade, vale lembrar que rede é um conjunto de transformações 
e produção de identidades ou subjetividades que atinge todas as camadas sociais e 
territórios possíveis, por meio do entrelaçamento do espaço público com o privado, 
entretenimento e profi ssão, em um fl uxo contínuo de aceleração e velocidade 
jamais vistas, reestruturando empresas, fl uxos de capitais, novas arquiteturas 
administrativas etc., que provocam o aumento da produtividade e muitas vezes a 
precarização do trabalho. Quais as consequências para o indivíduo diante desta 
nova realidade? Bipolaridade, infantilismo, confusões identitárias etc. Entre os 
adolescentes, este fenômeno é ainda mais preocupante, uma vez que eles não 
sabem defi nir se estão vivendo uma cultura determinada pela regionalidade ou 
suas escolhas estão sob a infl uência da globalização. McLuhan (1911-1980) 
possui uma máxima: “o meio é a mensagem”, sendo possível compreender que 
a técnica e seus dispositivos são extensões do próprio homem, como tentáculos 
que expandem o poder de atuação do ser humano. Surgem assim duas formas de 
ação do homem na rede: 
21
GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 
• Utilização das redes como meio para mensagens, notícias, pesquisa, 
compras e o exercício profi ssional. 
• Entretenimento, formação de novos relacionamentos na formação de 
uma rede tribal de amizades ou relações amorosas (COHN, 1987).
Desta forma, existirão duas grandes correntes interpretativas a respeito dos 
benefícios e malefícios destas relações. De um lado a rede pode ser vista como um 
meio útil ao desenvolvimento individual e profi ssional, porém, em um movimento 
oposto, pode-se afi rmar que a rede é um lócus de fragmentação e de acesso 
apenas a dados, não sendo um local onde se produza conhecimento real. Outro 
ponto importante é a transformação do comportamento individual no cotidiano a 
partir da onipresença das redes. Tornamo-nos dependentes delas desde nossas 
atividades profi ssionais até o entretenimento, ou ainda, na produção de novas 
subjetividades e relacionamentos, criando um novo sentido de existência. O efeito 
das redes nas culturas locais, em geral, se dá pela homogeneização dos valores, 
crenças ou estilos de vida, favorecendo o desaparecimento da diversidade, bem 
como os valores tradicionais. Todavia, outros valores também passam a participar 
do cotidiano do homem comum, como direitos humanos, democracia, princípio de 
igualdade racial, gênero, orientação sexual, liberdades, individualidades, religioso, 
relacionamentos amorosos, escolhas profi ssionais etc., que por outro lado podem 
provocar guerras culturais intensas e intermináveis, mas se apresentam como 
subjetividades ambíguas e híbridas que transitam entre a regionalidade e a cultura 
global, podendo promover uma integração ou crises e confl itos, gerando uma 
confusão de identidades que pode gerar marginalização, exclusão, aumentando 
razoavelmente os casos de suicídio, drogadição ou, ainda, o surgimento de tribos 
fundamentalistas e antiglobalização.
2.2 SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO 
É a partir desta linha argumentativa que surge um novo conceito, que 
para muitos, passou a ser denominada como sociedade da informação, ou 
ainda, sociedade pós-industrial. É importante ressaltar que já se desenvolveu 
teoricamente por diversos autores outros paradigmas conceituais, por exemplo: 
sociedade fordista e taylorista, mas a sociedade da informação passou a ser o 
novo paradigma econômico e tecnológico da sociedade contemporânea, que 
aponta para as novas tecnologias e modelos organizacionais diversifi cados etc. 
O início deste movimento se dá em meados dos anos 1980. Por exemplo: a título 
de ilustração, quem melhor explicitou este conceito e expressou o espírito de seu 
tempo, pelo menos musicalmente, foi a banda americana denominada Information 
Society, que trouxe para o cenário musical um grande destaque para este 
conceito: música eletrônica. Uma das suas músicas que nos provoca a refl exão 
22
 Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais
Ouça a música: “Aprender a aprender”. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=CrTJR-SHfsI>.
Letra:
Noite quente sozinho eu espero por você
Manhã fria e frágil sozinho eu choro por você
E quando você fi nalmente liga
Você encobre seu humor nas sombras.
Esses dias e noites em que fui bom pra você
Não devem ter signifi cado muito
E na noite que eu mais precisei de você
Minhas lamentações caíram em ouvidos surdos
E eu estou correndo muito pra encontrar
E eu estou correndo muito rápido
E eu estou te dizendo agora pra me deixar
Nosso romance não pode durar
E se algum dia eu precisar te ver
Eu voltarei do passado
Eu voltarei e te encontrarei
Eu não vou te abandonar agora
Esses dias e noites em que fui bom pra você
Não devem ter signifi cado muito para você
Na noite que eu mais precisei de você
Minhas lamentações caíram em ouvidos surdos
Agora eu não quero brincar com você
Mas eu não sei o que te dizer
Os dígitos mudam tão lentamente agora
Eu estou indo sozinho
E eu estou correndo muito pra encontrar
E eu estou correndo muito rápido
E eu estou te dizendo agora pra me deixar
Nosso romance não pode durar
E se algum dia eu precisar te ver
Eu voltarei do passado
Eu voltarei e te encontrarei
Eu não vou te abandonar agora.
sobre as características da sociedade da informação é “Running”. A presença de 
conceitos, como velocidade, fl uxo e solidão é uma constante em toda a letra da 
música “Aprender a aprender”:
23
GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 
Na sociedade da informação, a lei básica e primordial é a fl exibilidade, 
abertura às transformações, uma busca insana pela efi ciência e velocidade. 
Desburocratização, desregulamentação, ruptura com a tradição. As principais 
características da sociedade da informação são: 
• A matéria-prima de todo o processo são os dados, unidades de 
informação. 
• Alta afetação sobre os indivíduos, devido à penetrabilidade na vida 
cotidiana dos diversos dispositivos técnicos. 
• Predomínio da lógica em rede, considerada complexa. 
• Ambiente fl exível e plástico, reversibilidade, modifi cação, reorganização 
e reconfi guração. 
• Tecnologias convergentes.
O ponto central da sociedade de informação são as várias 
tecnologias interconectadas, ligadas em rede em um processo 
constante de desenvolvimento e fl uxo, produzindo uma interação 
complexa que gera criatividade, empreendedorismo etc. O novo 
paradigma gera disrupções e contingências, rompendo com a 
lógica do desenvolvimentotecnológico e linear. Muitos são os 
temores frente às gigantescas transformações que a sociedade está 
passando. No entanto, agora as TIC (Tecnologias de Informação 
e Comunicação) se tornaram objetos de fetiches, totens mágicos 
que geram uma fascinação praticamente infantil, criando sonhos 
delirantes de um futuro digno de uma fi cção científi ca. Novas utopias 
de sociedade, lazer, acervo informacional ilimitado e, ainda, permite 
uma nova forma de educação, mais colaborativa, personalizada, promovendo 
uma contínua adaptação dos indivíduos envolvidos, cada vez mais acelerada e 
integrada, proporcionando a ação criativa.
2.3 CULTURA E CRIATIVIDADE
Todo ato criativo se dá, inicialmente, por meio de uma prática 
interdisciplinar. No entanto, ela não pode ser defi nida, para que não 
se corra o risco de se criar uma nova disciplina, com a função única 
de controlar o conhecimento produzido. Não se pode falar sobre uma 
educação criativa sem ter a interdisciplinaridade como condição prévia 
para o seu desenvolvimento. É a cooperação entre as disciplinas que 
proporciona intercâmbios e possibilita reciprocidades e enriquecimentos mútuos, 
possíveis de estimular a transdisciplinaridade. No desafi o de buscar uma estrutura 
transdisciplinar, portanto, deve-se ter como aliado o diálogo, possível instrumento 
O ponto central 
da sociedade de 
informação são as 
várias tecnologias 
interconectadas, 
ligadas em rede 
em um processo 
constante de 
desenvolvimento e 
fl uxo, produzindo 
uma interação 
complexa que 
gera criatividade, 
empreendedorismo 
etc.
No desafi o 
de buscar 
uma estrutura 
transdisciplinar, 
portanto, deve-se 
ter como aliado o 
diálogo, possível 
instrumento de 
transformação do 
real. 
24
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de transformação do real. Sem querer correr o risco de defi nir o conceito de 
interdisciplinaridade e o ato criativo, a própria interdisciplinaridade talvez consista 
na promoção do diálogo entre as diversas disciplinas. Para isso, é preciso 
demonstrar que não há um método, ou uma dialética na educação, mas existe 
apenas o diálogo, que é a fala entre duas pessoas; conversação entre muitas 
pessoas. No diálogo não há um método defi nido, há apenas um jogo. O diálogo 
pode ocorrer em várias direções e sentidos, criando agenciamentos diversos. A 
dialética é uma técnica (techné), ou melhor, um método preciso e teleológico, que 
busca um fi m, uma resposta. É por intermediação da dialética, que é a arte de 
raciocinar, da lógica - dialektiké (techné) discussão, em um constante processo 
de racionalização - que somos levados a viver em um mundo dominado pela 
técnica moderna, o fi lho perverso da techné. 
Precisa-se, entretanto, cada vez mais de diálogos, de jogos de linguagem, 
de relações amorosas solidárias e carismáticas, e não de dialética, que é 
estéril, castrada por si mesma. A prática interdisciplinar entre a Sociologia e a 
Antropologia consiste neste diálogo, nesse jogo de ilusões, entre as diversas 
disciplinas disponíveis, nesse caso, a Sociologia e a Antropologia. Desde a 
Antiguidade Clássica, tendo como ponto de partida o pensamento platônico-
aristotélico, o homem apresenta um prazer praticamente solitário em classifi car, 
organizar e delimitar espaços e territórios. 
O progresso, trazido por este pensamento, é um acréscimo dessa 
racionalidade, que tem origem nos primórdios da civilização ocidental. Contudo, 
aos poucos, foi se percebendo que esta dita racionalidade disciplinadora é 
geradora de realidades irracionalizantes. Atualmente, a razão é designada 
apenas pelo “cálculo utilitário das consequências”, organizando-se de forma a 
levar a um objetivo previamente defi nido. Essa racionalidade funcional não se 
pergunta pelos seus pressupostos e nem pelo seu sentido, agindo na esfera do 
como, sem se perguntar pelo porquê. Isso determina um nível de ação teleológica 
exclusivamente técnica, interesseira, em que predomina a dominação do sujeito 
sobre o real; ao sujeito cabe estabelecer os fi ns e eleger os meios de toda 
ação. Weber descreve a burocracia como empenhada em funções racionais, 
no contexto peculiar de uma sociedade capitalista, centrada no mercado e cuja 
racionalidade é funcional.
25
GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 
Leia e refl ita sobre o texto “Você tem cultura?”. O artigo foi 
publicado no Jornal da Embratel, Rio de Janeiro, 1981.
Disponível em: <https://pt.scribd.com/document/274514330/DA-
MATTA-Roberto-Voce-tem-cultura-In-Exploracoes-pdf>.
A razão, com o advento da Modernidade, não consegue possuir tudo o que 
se propõe, e “a própria razão técnica, longe de garantir um domínio cada vez 
maior sobre a natureza, tinha perdido a capacidade de guiar com competência e 
responsabilidade o progresso histórico” (BRUSEKE, 2001, p. 9). Surge então uma 
instabilidade na sociedade moderna em meio a surtos irracionalizantes. A razão 
que se propõe a ser constituidora de felicidade, na verdade, gera o oposto: medo 
e incerteza. “A falta de critério é que afl ige o homem livre da alta modernidade” 
(BRUSEKE, 2001, p. 15). Então, buscam-se estruturas mais sólidas, uma vez 
que muitas haviam desmoronado, “uma ciência experimental nunca poderá ter 
como tarefa a descoberta de normas e ideais de caráter imperativo, dos quais 
pudessem deduzir-se algumas receitas para a práxis” (WEBER, 1982, p. 5). Outra 
marca da Modernidade, segundo Weber, é o processo de desencantamento do 
mundo, “Entzauberung der Welt”, que integra o processo de racionalização. Nele 
o mundo é visto “nu”, e o ser humano, nessa perspectiva, não vê mais o mundo 
como dominado por forças impessoais:
Signifi ca principalmente, portanto, que não há forças 
misteriosas incalculáveis, mas que podemos, em princípio, 
dominar todas as coisas pelo cálculo. Isto signifi ca que o mundo 
foi desencantado. Já não precisamos recorrer aos meios 
mágicos para dominar ou implorar aos espíritos, como fazia 
o selvagem, para quem esses poderes misteriosos existiam. 
Os meios técnicos e os cálculos realizam o serviço (WEBER, 
1982, p. 165).
Assim, o véu de mistério que cobria a realidade é retirado, pois o saber 
científi co avança sem confi ar em qualquer valor misterioso ou transcendental, 
uma vez que tudo pode ser dominado pelo cálculo e, assim, a ciência procura 
libertar a humanidade de qualquer elemento religioso. 
Deixa de ver a vida como algo dominado por forças impessoais 
e divinas para enxergar a natureza e a sociedade como 
passíveis de completo domínio pelo homem. Antes, eram os 
deuses que controlavam a vida do homem. Agora é o homem, 
através da ciência e da técnica, que desdiviniza a natureza e a 
sociedade e passa a controlá-las (WEBER, 1982, p. 128).
 
26
 Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais
Por esse mister, a técnica parece querer substituir as certezas religiosas. 
Dessa maneira, a hegemonia nessa área do conhecimento perde espaço: “cada 
esfera de valor, ao se racionalizar, se justifi ca por si mesma: encontra em si 
sua própria lógica interna - uma legalidade própria” (PIERUCCI, 2003, p. 138). 
Entretanto, essa fragmentação pode produzir um dândi, que tem como símbolos 
a superioridade aristocrática, com certa originalidade, possuindo um caráter de 
oposição e revolta contra a trivialidade, a banalidade, o tédio:
O dandismo surge, sobretudo nas épocas transitórias, em que 
a democracia não é ainda todo-poderosa, em que a aristocracia 
está enfraquecida e desvalorizada apenas parcialmente. Na 
confusão dessas épocas, alguns homens, deslocados de sua 
classe, descontentes, destituídos de uma ocupação, mas 
todos ricos de uma força inata, são capazes de conceber o 
projeto de fundar uma nova espécie de aristocracia, tanto mais 
difícil de abater quanto estará baseada nas mais preciosas, 
nas mais indestrutíveis faculdades, e nos dons celestes que 
nem o trabalho nem o dinheiro podem conferir. O dandismo é 
o último rasgo de heroísmo nas decadências, eo tipo do dândi 
encontrado pelo viajante na América do Norte não invalida, de 
maneira alguma, essa ideia: pois nada impede que se pense 
que as tribos que denominamos selvagens sejam os resquícios 
de grandes civilizações desaparecidas. O dandismo é um sol 
poente, como o astro que declina, é soberbo, sem calor e 
pleno de melancolia, mas desgraçadamente, a maré montante 
da democracia - que invade tudo e tudo nivela - afunda 
diariamente esses últimos representantes do orgulho humano 
e lança vagas de olvido sobre os traços desses prodigiosos 
mirmidões (BAUDELAIRE, 2008, p. 68).
 
Paradoxalmente, é diante de uma sociedade cada vez mais técnica e 
disciplinada que emerge a contingência e, por conseguinte, a liberdade, nascendo 
o pesquisador interdisciplinar, que está a princípio fortemente desligado de toda 
forma de institucionalização, uma vez que esses são independentes de qualquer 
mecanismo regular de organização, diante de uma sociedade composta de 
especialistas. A contemporaneidade é marcada por uma sinergia entre o antigo, 
ou melhor, aquilo que é considerado arcaico, e o desenvolvimento tecnológico e 
esse fenômeno é identifi cado em diversas leituras, que podem ser consideradas 
anacrônicas, que quer dizer fora de contexto, no entanto, ele as adapta, 
contextualizando-as (MAFFESOLI, 2004). 
27
GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 
O que é sinergia do arcaico para Maffesoli? A palavra sinergia 
tem origem grega, que quer dizer synergía, ou melhor, cooperação 
(sýn), conjuntamente com a ideia de trabalho (ergon). Esse 
fenômeno pode ser considerado como vários agrupamentos que 
trabalham coordenadamente realizando uma tarefa considerada 
complexa, onde vários dispositivos procuram executar determinadas 
funções e que buscam um mesmo fi m. Assim, para Maffesoli (2014, 
p. 743), “sinergia do arcaico e do desenvolvimento tecnológico. 
Esta tecnologia que havia desencantado o mundo está em via de, 
curiosamente, reencantá-lo”.
Pode ser entendido como sendo uma forma de rompimento com o relato 
antigo ou arcaico, atualizando-o para o atual contexto, inserindo-o no mundo 
técnico. Portanto, o paradoxo e um cosmos belicoso se tornam as principais 
marcas do drama contemporâneo, criando condições para o surgimento do 
pesquisador interdisciplinar, que é chamado para a decisão, reencantando o 
mundo. Contudo, esse reencantamento patrocinado por essa nova modalidade 
de pesquisa pode apresentar-se ambivalente. Por um lado, se tem a exaltação 
do tempo presente, abandonando a linearidade do tempo, na busca por êxtases 
contemporâneos e efêmeros, seja de ordem técnica, afetiva, cultural ou musical, 
como forma de resistência ao desencantamento do mundo, patrocinado pelas 
várias racionalizações do mundo ocidental:
É no quadro tribal que se vai sair de si, explodir-se e, através 
desse êxtase, comungar com forças cósmicas ou, muito 
simplesmente, navegar nas redes da internet. Onde havia 
separação, corte e diferenciação, e isso em todos os domínios, 
renasce uma perspectiva global, dando ênfase à “religação” 
das pessoas e das coisas, da natureza e da cultura, do corpo e 
da alma (MAFFESOLI, 2004, p. 149).
 
Por outro lado, pode dar origem ao fenômeno fundamentalista dos diversos 
grupos de especialistas, que pode ser interpretado como sendo uma forma 
de resistência à perda de prestígio dos diversos valores éticos e a constante 
profanização das camadas consideradas tradicionais da sociedade, que implica 
uma recusa do que podemos chamar de modernidade líquida, ou refl exiva, ou 
ainda pós-modernidade. Por isso, o pesquisador interdisciplinar deve se relacionar 
com a imagem de um peregrino, um nômade, um dândi, um ser que se abre à 
vida contingente. Portanto, de um ponto de vista antropológico, existem várias 
28
 Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais
defi nições para o peregrino, ou seja, é um conceito de múltiplas faces e não se 
pretende, aqui, neste momento, dar conta de todas essas facetas. Entretanto, 
antes de qualquer coisa, é bom deixar claro que a palavra peregrinação nos 
remete à ideia de viagem, na andança por terras distantes, em uma romaria por 
lugares santos, ou seja, um estrangeiro que possui uma bondade de beleza rara. 
É justamente esse aspecto que nos interessa analisar na interdisciplinaridade, 
tendo como imagem, um dândi, um fi lósofo, um místico, um líder que, com o seu 
carisma, sustenta que a irracionalidade da vida, em que estamos imersos, pode 
promover a transformação da vida humana:
Sua ociosidade é um trabalho e seu trabalho, um repouso, ele 
é, alternadamente, elegante e desleixado, veste, a seu bel-
prazer, a camisa do operário, e decide-se pelo fraque trajado 
pelo homem da moda, não está sujeito a leis: ele as impõe... ele 
é a expressão de um grande pensamento, ele tem elegância e 
vida própria, porque nele tudo refl ete a sua inteligência e a sua 
glória (BALZAC, 2009, p. 79).
O peregrino é um aventureiro, é um sujeito extremamente 
viciado, drogado pela vida, está sempre em busca do desconhecido, 
se volta para o passado e quer parar para salvar os mortos, mas a 
todo o momento é empurrado por uma tempestade em direção ao 
futuro, e essa tempestade é o que chamamos de progresso. Assim, 
podemos delinear o mundo do peregrino: 
Em resumo, há uma confrontação com uma verdadeira procura 
mística desempenhando de um modo mais amplo aquilo que 
foi, stricto sensu, a experiência mística própria de alguns 
eleitos, ascetas e outros pesquisadores do absoluto que nos 
falam a história humana. Para retomar aqui uma análise de 
Cioran, que é um tema recorrente em toda a sua obra, podem-
se estabelecer uma relação entre o espírito cavalheiroso, o 
amor da aventura e a aventura mística (MAFFESOLI, 2004, 
p. 151). 
No entanto, o peregrino constata que o homem moderno e burguês perdeu 
essa capacidade de rememoração e, nesse mundo em que está imerso, vive 
agora vegetando na mera presentifi cação da vivência. O homem se tornou um 
autômato, sem memória, perdendo a sua história. Para o homem que peregrina, 
quem não pode experienciar o passado, nunca poderá sonhar com o futuro, e não 
pode criticar o presente. É sob essa perspectiva que o pesquisador interdisciplinar 
passa a ser visto como um peregrino, que se coloca como crítico da noção dura 
de progresso, que disciplina, classifi ca, organiza, discrimina, o que é visto como 
uma ação de decadência. Para o peregrino, é preciso citar os mortos, como 
se estivesse citando um texto e como uma forma de trazer o passado para o 
presente, de dar uma nova vida aos diversos objetos que são retirados de seu 
contexto, promovendo a sinergia entre o arcaico e o contemporâneo.
O peregrino é 
um aventureiro, 
é um sujeito 
extremamente 
viciado, drogado 
pela vida, está 
sempre em busca 
do desconhecido, 
se volta para o 
passado e quer 
parar para salvar 
os mortos, mas a 
todo o momento é 
empurrado por uma 
tempestade em 
direção ao futuro, e 
essa tempestade é 
o que chamamos de 
progresso.
29
GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 
Na falta de um lugar seguro que o proteja, ele leva a casa nas costas. Como 
em um acampamento, ele leva seus apetrechos, a sua barraca e o colchão de 
dormir; esse comportamento é o que faz dele o ser mais próximo de um caramujo. 
Ele tem inveja dos animais que, por sua irracionalidade, estão no paraíso, 
enquanto ele está no inferno da racionalização. Anda por longas distâncias 
à procura de novos ares ou novas pastagens e, como na obra Quixotesca, ele 
avança, percorrendo vários territórios, como algumas espécies viajantes das 
fl orestas que povoam a nossa imaginação. De vez em quando parece tentar voltar 
as suas origens primitivas. O medo, para o peregrino, faz parte do processo, mas 
a sua principal virtude é a coragem. Em toda parte, a covardia é desprezada; 
em toda parte a bravura é estimada. As formas podem variar, assim como os 
conteúdos: cada civilizaçãotem seus medos, suas coragens, mas o que não 
varia, ou quase não varia, é a coragem, que é compreendida como sendo a 
capacidade de superar o medo. A coragem é a virtude dos heróis, e quem não 
admira os heróis? Com o seu espírito empreendedor, com muita raiva do mundo, 
da realidade e com baixíssimo medo, o peregrino, este dândi, assume o real com 
um sentimento verdadeiro e uma atitude interdisciplinar. Sentimento esse que se 
equivale ao amor direcionado à vida, embora muitas vezes necessite andar de 
quatro apoios para subir superfícies muito íngremes.
Para ampliar seu conhecimento sobre cultura, leia o texto 
“O conceito antropológico de cultura”, de José Lisboa Moreira 
de Oliveira. Disponível em: <http://www.ucb.br/sites/000/14/PDF/
OconceitoantropologicodeCultura.pdf>.
O peregrino é um líder que assume o medo como parte de sua vida, assim 
como assumimos o sofrimento como parte de nossa existência, possuindo a 
incrível capacidade de controlá-lo e de superá-lo. Sua carapaça muda conforme 
o ambiente ou o terreno. São espécies andróginas, são híbridas e por isso são as 
mais interessantes. Eles possuem a capacidade de transformar qualquer objeto 
em extensão do seu corpo, unindo o que se tem de mais arcaico no mundo com a 
alta tecnologia. Esse ser, que peregrina longas distâncias, quer apenas chegar a 
um determinando ponto, para simplesmente apreciar e contemplar. A melhor forma 
de compreendermos o verdadeiro espírito interdisciplinar é a sua capacidade de 
vivenciar o real não desprezando os mortos, pois os vivos, ou seja, os peregrinos, 
se veem ao meio-dia, numa passagem, numa travessia, em um caminho, onde são 
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obrigados constantemente a oferecer um banquete ao passado, convidando os 
mortos para a sua mesa (MAFFESOLI, 2004). Portanto, o conceito de recordação 
nos remete à compreensão que se deve articular, lembrando constantemente 
do que se passou na história e isso não signifi ca reconhecê-lo como ele de fato 
ocorreu, mas se apropriar de uma reminiscência, atualizando-a através de uma 
sinergia entre o arcaico e o novo.
 
O homem moderno é um ser incapaz de recordar. A recordação possui a 
categoria de um organon para o conhecimento histórico e a noção de História 
equivale ao papel exercido pela revolução copernicana. O peregrino assume 
a recordação não como profecia, como é o caso da noção de progresso que 
possuímos na atualidade. O peregrino assume uma história materialista, imanente 
e panteísta, onde a sua arké está na recordação. Como ele faria isso? Levando 
o niilismo a sério. A fi losofi a niilista é a desvalorização de todos os valores, um 
verdadeiro movimento de desencantamento e desconstrução do conhecimento 
humano. O pesquisador interdisciplinar assume a anarquia como projeto político, 
compreendendo a história enquanto declínio, decadência, obedecendo à lógica 
do pior. O peregrino apenas aplaina o terreno. O caráter de violência, que é 
imposto pela atitude interdisciplinar, quebra com todos os cânones e valores da 
civilização, abrindo espaço para uma nova ordem. 
Para ampliar seu conhecimento na prática sobre o niilismo, 
assista ao fi lme “Laranja Mecânica”, de Stanley Kubrick, criado em 
1971. Este fi lme é um clássico icônico que manifesta um espírito 
niilista.
Para o pesquisador interdisciplinar, é necessário assumir a vida como 
sendo uma grande viagem. Uma forma de adquirir uma visão de conjunto desse 
processo, sem sacrifi car a sua dinâmica, é tentar nos aproximar com um breve 
resumo do movimento do real. Cabe lembrar que a interdisciplinaridade, que se 
apresenta do ponto de vista antropológico, como sendo um peregrino, é antes de 
tudo uma passagem. As passagens são como símbolos, arquétipos inconscientes, 
os quais não possuem nenhuma técnica. Antes disso, são totalmente dominadas 
pelo mito, pelos sonhos, pelo imaginário, pelas fantasias mais inconfessáveis em 
que a realidade se transfi gura e se transcende na materialidade do mundo. É aí 
que aparece a noção da utopia, da terra prometida, que se apropria do sonho. No 
entanto, cabe lembrar que, devido a sua incapacidade de transformar o sonho em 
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GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 
realidade, a utopia pode surgir como catástrofe. Por isso, a interdisciplinaridade 
possui duas formas de lidar com o real, que são ambíguas: o panorama, uma 
forma alucinatória de trazer a história e a natureza para um mundo exilado da 
história e da natureza, como sendo uma antecipação de uma reconquista real 
dessas duas dimensões perdidas, e a ciência, o conhecimento, que são agentes 
desencantadores da realidade, da cultura e do símbolo, abolindo as promessas 
de um mundo liberto. 
Para ampliar seu conhecimento sobre interdisciplinaridade, leia 
o texto “O entendimento da interdisciplinaridade no cotidiano”, de 
Mafalda Nesi Francischett. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/
pag/francishett-mafalda-entendimento-da-interdisciplinaridade.pdf>.
O pesquisador interdisciplinar é dominado pelo fetichismo, em múltiplas 
fi guras, contendo em si o desastre e a redenção. O mundo se apresenta como 
uma residência ou um quarto mobiliado com objetos de todos os séculos. O 
peregrino ou o pesquisador interdisciplinar se torna um colecionador, que mata 
os objetos retirando-os do seu contexto, salvando-os, porque esse contexto era 
em si mortal. O pesquisador interdisciplinar se torna um espectador da multidão 
condenado a ser um observador. O pesquisador que peregrina, que assume o 
projeto dionisíaco, o projeto da ruína, no que ele tem de destrutivo e de construtivo, 
percorre o espaço e o tempo e é nesse percurso que se percebe que o tempo se 
apresenta na forma de um eterno retorno. Assim: 
O peregrino vive o trágico no ponto mais alto, ponto em que 
a insatisfação jamais encontra uma solução, um lugar, uma 
situação em que possa ser absorvida. Poder-se-ia dizer que 
a tensão do peregrino sobre a terra é um estado, um estado 
de alma sem dúvida, uma sensibilidade incitando a errar, a 
sucumbir, a viver o excesso e a escassez, mas, graças a isso, 
a reencontrar ou encontrar uma plenitude do ser: plenitude que 
dá a intensidade vivida no presente, outra maneira de dizer 
eternidade (MAFFESOLI, 2004, p. 160). 
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Pesquise sobre a vida e as obras do Sociólogo Michel Maffesoli, 
principalmente sobre o que ele pensa da criatividade na sociedade 
contemporânea.
Também se apresenta como um presente tenso, capaz de liberar o novo 
aprisionado, o arcaico, momento em que o sonho se extingue e as fantasmagorias 
se dissipam, sem que o fi m do sonho signifi que a rejeição do saber do sonho, 
e sem que o fi m das fantasmagorias signifi que a negação da verdade que elas 
continham. No entanto, no diálogo que vem travando com a Educação, a partir dos 
estudos da hermenêutica fi losófi ca, as “ciências humanas” insistem em importar 
o referencial das ciências causais explicativas, como única visão para deduzir 
a realidade, e como forma de “fazer progredir” o campo teórico humanístico. 
Metaforicamente, a “ciência” é uma simples janela. Há muito a ser dito sobre 
o que vislumbramos por esta janela, porém, fi ca ainda muito por ser dito. Esse 
pensamento remete-nos à ideia de binariedade, a separação entre o que pode ser 
dito e o que não pode ser dito, ou seja, a binariedade é um pensamento nefasto 
que percorre toda a história da Filosofi a, na busca pela certeza e pela segurança 
metódica - pensamento esse que se origina na Dialética e, posteriormente, na 
Ciência, mesmo crendo que o dito não esgota o tema pautado.
 
Diante desta última atitude, a hermenêutica é promissora, pois esclarece 
esses limites, mas ainda permanece delimitando, organizando e discriminando 
espaços. Dizer algo, em primeiro lugar, nunca esgota o tema, ou seja, o diálogo 
não termina, somente se interrompe. Quando dizemos algo, e esperamos a 
interlocução, temos ainda ummundo de coisas a serem ditas. Esse é o radical 
limite da fi nitude. Tentar cercar o ideal, atrás de uma suposta segurança de uma 
torrente de argumentos, não nos garante nada. Precisamos falar, mas precisamos 
também ouvir, para que o acontecer da vida aconteça, porém, nessa linha de 
raciocínio, abrem-se clareiras, onde no encontro de questões essenciais, já 
podemos vislumbrar, no caso da educação, a indissociabilidade entre projeto 
social e o projeto pedagógico. No entanto, não se pode esquecer que a realidade 
é una e indivisível, e o pensamento obedece ainda a binariedade, que é herdada 
da tradição fi losófi ca ocidental. Por isso, a manifestação de tais projetos, no 
mundo da vida, vem permeada por racionalidades que engessam e dominam a 
realidade social. 
Pensar a questão da interdisciplinaridade é um desafi o que a Educação 
vem se esforçando para fazer. Tal afi rmação é possível graças a educadores 
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GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 
e educandos que se aventuram em desafi ar e transgredir a 
miopia, a ditadura do método e do pensamento binário. Portanto, 
interdisciplinaridade é o esforço de promover uma sinergia entre 
diversas disciplinas, em um único momento de convergência, em uma 
total imersão na presentifi cação do ser. Tal cooperação entre essas 
disciplinas proporciona intercâmbios, possibilitando reciprocidades 
e enriquecimentos mútuos. Com esse esforço, pode-se aspirar a 
transdisciplinaridade como etapa posterior, com vistas à construção 
de um sistema, que incorpore as várias diferenças. Nesse sentido, 
podemos chegar a uma teoria geral de sistemas ou de estruturas 
generalíssimas, que inclua estruturas operacionais, estruturas 
de regulamentação e sistemas probabilísticos. Nesse desafi o de buscar uma 
estrutura transdisciplinar, deve-se ter como aliado o diálogo, pois este provoca 
e consegue ainda formular autênticas e pertinentes perguntas, tendo em vista 
sua conexão com o mundo, que não pode ser negado pela visão maniqueísta e 
dicotômica. Assim, o diálogo pode ser um instrumento de transformação do real. 
A interdisciplinaridade exige uma postura que não seja apenas dialógica; 
exige um espaço de abertura, em que ocorrem diversos encontros e 
agenciamentos. Para que isso ocorra, é necessária a democratização do 
conhecimento, mas em completa sinergia com a “técnica”; porém, cabe 
lembrar que o conhecimento não pode passar de um movimento meramente 
instrumental. Na busca pela compreensão, abre-se possibilidades promissoras 
para a Educação, pois o compreender vai além da “entrega” do conhecimento. 
O acontecer da compreensão não pode ser mapeado epistemologicamente, 
mas se entende que a retomada da bildung (formação) é um dos caminhos de 
acesso para a recuperação da compreensão como categoria fundamental para a 
Educação. A compreensão abre o caminho para a articulação do conhecimento, 
que só pode ocorrer com a pergunta sendo constantemente posta em evidência. A 
pergunta indica sentido, coerência, caminho, abertura, possibilidades, nos move, 
gera enfrentamento, questiona, tira-nos da inércia, rompe com a massifi cação, só 
para citar algumas consequências deste processo. A pergunta move o diálogo e 
este nos transforma. Depois do diálogo, já não seguimos sendo quem éramos. 
Os pretensos intelectuais partem do princípio de que o mundo se divide em 
generalistas e especialistas, e que estamos diante de uma escolha entre um e 
outro, tornando-nos reféns de suas consequências. Tal questão - um suposto 
embate entre o generalista e o especialista - pode ser um falso problema, enquanto 
criação de um modo banalizado de pensar a vida, orquestrada pela visão binária 
da realidade. Entretanto, se estamos diante de um falso problema, então por que 
tratar dessa querela entre generalistas e especialistas? Para se pensar além 
deste dualismo é necessário analisar os acontecimentos catastrófi cos advindos 
dessa visão de mundo.
 
Interdisciplinaridade 
é o esforço de 
promover uma 
sinergia entre 
diversas disciplinas, 
em um único 
momento de 
convergência, em 
uma total imersão 
na presentifi cação 
do ser.
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 Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais
No processo de fragmentação do conhecimento, as “ciências da 
administração” tornaram-se a voz recorrente no debate entre as “vantagens” ou 
“desvantagens” de tornar-se um especialista ou generalista. Descartes ofereceu 
o arcabouço fi losófi co para o desenvolvimento da “nova ciência”, e a visão de 
“domínio da natureza”, promovida por Francis Bacon, alastrou-se de forma a 
tornar-se uma referência para o desenvolvimento e o progresso da humanidade. 
A título de alerta não se deve confundir a visão grega de técnica (teckne) com a 
visão de técnica que foi difundida na modernidade ocidental. Enquanto na Grécia 
se pensava a técnica como possibilidade restritiva de se produzir algo, a partir de 
um método que podia ser ensinado e repetido, na modernidade, a técnica torna-
se a representação e o desvelamento do mundo. No horizonte da técnica pautada 
pela modernidade, esta se tornou a única via de acesso por onde toda a realidade 
poderia ser deduzida. A humanidade, seduzida pela possibilidade de ser redimida 
do pecado original, rende-se sem reservas à técnica moderna, acreditando que o 
homem será reconduzido ao jardim encantado.
 
O homem no horizonte da especialização torna-se sagaz para as coisas 
próximas, ao lado de uma grande miopia para o longínquo. O especialista está 
imerso no pântano da especialização e na desimportância do pensamento 
e do conhecimento que ele produz. O especialista é o natural adversário do 
gênio. Os livres pensadores têm que lidar com o empecilho dos cientistas 
que atrapalham o seu caminho. O termo “especialista”, vinculado à tradição 
metafísica, é o especialista que atrapalha Zaratustra em seu caminho. Formar-
se por uma teleologia metafísica é o trabalho que tem sido proposto pela maioria 
das instituições e aceito pela maioria dos alunos. A decisão por uma formação 
interdisciplinar é a maneira de romper contra o utilitarismo das especializações. 
É interessante ainda ressaltar que as diversas “especializações” terão que ser 
pautadas por meio do diálogo. Como em tudo na vida, há os perigos dessa 
iniciativa. Aquele que não estiver atento será tragado para o manto da “pretensa 
segurança metódica”, transformando-se em consciência de rebanho, numa 
programação que rouba sua vida e humanidade. A sedução do método estará a 
espreitá-lo com o doce discurso das “certezas das ciências causais explicativas”.
 
Por sua vez, o generalista, por defi nição, seria alguém que tem um 
conhecimento interdisciplinar. Pensar a mudança do especialista para o 
generalista esbarra em uma inexorável resistência do humano. Na circularidade, 
ou no círculo hermenêutico - o círculo deve ser entendido no sentido virtuoso 
e não como vícios - existe uma possibilidade positiva do conhecimento mais 
originário, que, evidentemente, só será compreendido de modo adequado quando 
se compreender que sua tarefa primeira, constante e última, permanece sendo a 
de não receber de antemão, por meio de uma feliz ideia ou por meio de conceitos 
populares, nem a posição prévia, nem a visão prévia, nem a concepção prévia, 
mas em assegurar o tema científi co na elaboração desses conceitos, a partir da 
35
GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 
coisa, ela mesma. Em última análise, é preciso estar circunscrito na dinâmica da 
compreensão, para que não percamos o foco. Assim, a regra da hermenêutica, 
onde tudo deve ser entendido a partir do individual, e do individual ao todo, procede 
da retórica antiga. Em ambos os casos, encontramos uma relação circular. O 
movimento da compreensão discorre do todo para a parte e novamente ao todo. A 
tarefa é ampliar, em círculos concêntricos, a unidade do sentido compreendido. A 
confl uência de todos os detalhes no todo é o critério para a correta compreensão.A falta da confl uência signifi ca o fracasso da compreensão. Heidegger faz uma 
descrição fenomenológica plenamente correta, quando descobre, na suposta 
leitura que consta, a estrutura prévia da compreensão. Para explicitar a situação 
hermenêutica da questão do ser com relação à intenção prévia, antecipação e 
pré-compreensão, examina criticamente a pergunta que ele dirige à Metafísica 
em momentos decisivos de sua história.
A compreensão, guiada por uma intenção metodológica, não buscará 
confi rmar simplesmente suas antecipações, mas tentará tomar consciência delas 
para controlá-las e obter, assim, a reta compreensão a partir das mesmas coisas. 
Isso seria a forma de assegurar o tema científi co. A estrutura circular se manteve 
dentro do quadro de uma relação formal entre o individual e o global ou seu 
refl exo subjetivo. A anterior teoria da compreensão culminava no ato divinatório 
que dava acesso direto ao autor e, a partir daí, dissolvia tudo que era estranho 
e chocante no texto. Entretanto, é preciso entender que o sentido interno do 
círculo entre o todo e a parte, que está na base de toda a compreensão, deve 
ser completado com uma determinação ulterior que ele denomina “antecipação 
da completude”. Quando compreendemos, pressupomos a completude e o 
sentido do objeto de nosso esforço compreensivo. A antecipação da completude, 
que dirige toda a nossa compreensão, aparece, ela mesma, respaldada por um 
conteúdo. Não se pressupõe apenas uma unidade de sentido imanente que 
orienta o leitor, mas que a compreensão deste é guiada constantemente por 
expectativas transcendentes, que derivam da relação com a verdade do conteúdo 
intencionado.
 
Assim, as práticas interdisciplinares buscam ter uma visão unidimensional da 
condição do homem, assumindo a postura de abertura, colocando-se à disposição 
do diálogo com as diversas disciplinas existentes. Compreender algo através de 
uma disciplina tem relação com escolhas metodológicas. A interdisciplinaridade 
implica uma escolha em outra dimensão, não abandonando o horizonte 
metodológico, ou seja, reconhecendo que ela também tem seus limites. No 
entanto, se ampliarmos o círculo concêntrico da compreensão, ao optarmos pela 
interdisciplinaridade, saímos do limite demarcado pela disciplina para “ouvirmos” 
a outra disciplina, enfi m, para dialogarmos. É necessário fi car claro que, para 
que a interdisciplinaridade ocorra, é preciso que haja uma linguagem comum. 
Convém considerar que a compreensão entre as pessoas cria uma linguagem que 
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 Recursos DiGitais: SoftWares Educacionais
possibilita a troca, o intercâmbio. O distanciamento entre as pessoas manifesta-
se no fato que elas não falam mais a mesma linguagem. Não podemos escapar 
do fato de que o entendimento se torna difícil onde falta uma linguagem comum. 
É aqui que a criatividade contribui para a interdisciplinaridade, pois tem a função 
de criar uma fi losofi a platônica, ou um platonismo invertido. A interdisciplinaridade 
é uma criação fantástica e surge como acontecimento.
Para que ocorra essa proposta, é preciso que se crie uma linguagem que 
seja ao mesmo tempo referente e aberta, que seja necessária e contingente. Uma 
linguagem que tenha a capacidade de criar a todo o momento “palavra-valise”. O 
que é “palavra-valise”? Para uma aproximação de entendimento do que seja uma 
palavra-valise, é interessante entender o que signifi ca o conceito de complexidade. 
A linguagem interdisciplinar, que precisa ser uma síntese disjuntiva entre as 
disciplinas, tem como tarefa criar espíritos equilibrados. É aqui que o pensamento 
interdisciplinar se aproxima da literatura, da poesia e, por sua vez, da linguagem 
cinematográfi ca. O ato criativo nasce no esforço pelo diálogo, ou melhor, na busca 
por uma linguagem comum, diante da fragmentação do pensamento científi co, 
em uma busca constante por uma linguagem interdisciplinar e, por que não dizer, 
esotérica. Entretanto, cabe o alerta: ao criarmos uma linguagem comum entre as 
disciplinas não podemos tirar toda e qualquer forma de dinamicidade e criatividade 
da ação interdisciplinar, criando uma nova disciplina. Afi nal, as palavras-valise 
são problemáticas e problematizantes. O que isto signifi ca? 
Signifi ca que as palavras-valise são respondidas sem serem resolvidas, ou 
seja, são determinadas como problema, sem deixarem de ser problematizadas, 
ou melhor, são referentes e abertas, portanto, esotéricas. Aqui, esoterismo 
deve ser compreendido como sendo aquele que guarda um segredo, certo 
mistério, conferindo às palavras uma dimensão de profundidade, produzindo 
um reencantamento, sugerindo que a compreensão de um mito ou do real se 
dá através do esforço da linguagem que produz um acontecimento, uma espécie 
de hermenêutica. Talvez, a grande característica da linguagem esotérica e 
interdisciplinar sejam as correspondências simbólicas e reais entre todas as 
disciplinas das Ciências Humanas e Naturais, em um princípio de interdependência 
universal. 
A linguagem que fala do real é o refl exo de um universo como sendo um 
grande teatro de espelhos, tendo como referência o signo e o mistério. O princípio 
do terceiro excluído, do pensamento linear, do princípio da causalidade, passa 
a ser uma visão incompleta do real, onde a referência passa a ser a do terceiro 
incluído. O primeiro passo, para a interpretação do mundo, é compreender 
que o real é um fenômeno linguístico. A prática interdisciplinar é a prática 
da concordância; é possuir o ato de criar, ou de encontrar ou reencontrar 
denominadores comuns, palavras-valises, entre duas, três ou todas as disciplinas 
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GLOBALIZAÇÃO, RACIONALIDADE E SOCIEDADE EM REDES Capítulo 1 
possíveis, na busca por um conhecimento, de uma qualidade superior. Não se 
trata de simplesmente tolerar ou respeitar os territórios disciplinares, mas trata-se 
de concordância criativa, para adquirir um conhecimento que abrace e abrase as 
diversas disciplinas, em um conhecimento verdadeiramente interdisciplinar.
2.4 INTERATIVIDADE E RELAÇÕES 
SOCIAIS
Este subcapítulo tem a intenção de oferecer os elementos necessários 
para uma discussão acerca dos conceitos de interatividade e relações sociais 
no espaço educacional. De modo algum, se quer esgotar o assunto. Aliás, isso 
seria muita presunção. Cabe lembrar que também não se quer dizer que tudo 
o que está nas páginas seguintes seja um refl exo fi el da realidade do sistema 
educacional. O que podemos afi rmar é que será um recorte da realidade e, como 
todo recorte, não é perfeito. Sempre deixa algo escondido, velado. A intenção é 
caminhar com certa prudência para um esclarecimento de um dos processos mais 
importantes do ser humano: o processo de ensino-aprendizagem. Afi nal, o aluno 
passa boa parte da sua vida dentro de uma escola. Nesse sentido, temos dois 
modos de processos de ensino-aprendizagem, o da Escola Tradicional ou Velha e 
o da Escola Nova ou Progressista. Assim, o fi lósofo americano John Dewey será 
o nosso companheiro nesta jornada, nos ajudando nesta discussão. 
Por isso, pretende-se analisar os conceitos de interatividade e relações 
sociais e como se articulam para um melhor desenvolvimento do processo 
ensino-aprendizagem. Em um segundo momento, analisaremos os pressupostos 
da Escola Tradicional e da Escola Nova. Por fi m, analisaremos os diversos tipos 
de experiência educacional. Pedagogia não é uma ciência, é uma arte que, 
para funcionar, precisa de outras ciências, como a Filosofi a, a Psicologia e a 
Sociologia, enfi m, as Ciências Humanas e as Ciências da Natureza. Assim, é um 
saber interdisciplinar, uma vez que quando se ensina a um aluno não se ensina 
somente a ele, mas a toda a sua história, pois aquilo que somos agora é uma 
consequência de vários fatores, psicológicos, sociológicos etc., podemos dizer 
que somos o resultado de um processo histórico. 
Então, ensinar é ensinar a alguém que está inserido em um contexto 
histórico e sociológico específi co. No

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