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1 A FUNÇÃO DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NO CONTEXTO DA GESTÃO DEMOCRÁTICA Elaine Maria Rocha Estudante, FSJT, Rio de Janeiro, elaine123eja@gmail.com Márcia Teixeira Cavalcanti Orientadora, FSJT, Rio de Janeiro, marciacavalcanti@gmail.com Resumo: Este artigo é requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Orientação Educacional do curso de Pós-graduação lato sensu da Faculdade São Judas Tadeu. O objetivo deste artigo é possibilitar ao leitor uma reflexão a respeito do papel do Orientador Educacional no Brasil, enfatizando a sua atuação na gestão democrática. Inicialmente realizo um levantamento sobre a trajetória do Orientador Educacional no Brasil, em seguida busco verificar o papel do Orientador Educacional através de relatos de educadoras que exerceram tal função. Por último, viso realizar uma análise da função do Orientador Educacional, nos dias atuais, no contexto da gestão democrática. Palavras-chave: Orientação Educacional; Práxis; Gestão Democrática. Introdução Durante a realização do curso de Pós-graduação (Especialização em Gestão com Ênfase em Orientação Escolar) percebi que algumas colegas, assim como eu, sentiam dificuldade em compreender com exatidão a função do Orientador Educacional no espaço escolar. A primeira hipótese que levantamos, na época, foi a de que a provável incompreensão teria origem na própria atuação do pedagogo que, por inúmeras vezes no exercício de sua profissão, acabava acumulando múltiplas funções: Orientação Educacional, Supervisão Educacional, Administração Escolar. Entretanto, ao me debruçar em uma vasta pesquisa bibliográfica sobre o tema, percebi que esta distorção e incompreensão em torno do papel do Orientador Educacional no contexto escolar, e até mesmo do Supervisor Educacional, pois ambas as funções por muitas vezes são confundidas entre si, não é recente. Silva (2014) menciona que o percurso histórico revela a confusão conceitual da função do Orientador Educacional e, através do relato de Scapin (2005), no decorrer deste artigo podemos perceber que nos anos 70 os professores já demonstravam dificuldade em compreender as atribuições do Orientador Educacional. Sendo assim, a presente pesquisa mailto:elaine123eja@gmail.com mailto:marciacavalcanti@gmail.com 2 torna-se relevante, à medida que, em seu contexto, tem por objetivo elucidar o papel do Orientador Educacional no espaço escolar. Para atingir tal objetivo, optei por caminhar, inicialmente, pelo contexto histórico, em seguida, visando compreender tal função na prática, dou “voz” aos relatos de educadoras que exerceram a referida função e, por fim, busco realizar uma análise deste papel no contexto atual da gestão democrática. É um estudo trabalhoso, mas ninguém disse que seria fácil. O caminho é árduo, mas também é fascinante, pois como diz Chalita (2006): "Pequenas lembranças. Carinho, caminho. Atalhos não há. Coragem. Lá de cima tudo fica mais nítido" (CHALITA, 2006, p. 9) 1. A trajetória do Orientador Educacional no Brasil Grinspun (2001) e Garcia (2011) evidenciam que a orientação educacional teve seu início no Brasil, na área profissional, com o engenheiro suíço Roberto Mange em 1924, que criou o serviço de seleção e orientação profissional para os alunos de um curso de mecânica e, posteriormente, em 1931 com Lourenço Filho, que criou, em São Paulo, o primeiro serviço público de orientação profissional no Brasil. O período de 1920 a 1941 é caracterizado por Grinspun (2001) como Período Implementador, onde se tenta introduzir a orientação educacional nas escolas. Neste período, não há uma legislação específica para a orientação, o que há, segundo a referida autora, são alguns projetos. Ainda de acordo com Grinspun (2001), a partir de 1942 aparece o primeiro documento legal, o que marca a passagem de iniciativas isoladas, relacionadas à orientação educacional, para atividades legitimadas pelo governo, e em abril do referido ano é promulgada a lei orgânica do ensino secundário ou Lei Capanema, tornando obrigatória a orientação educacional nos estabelecimentos de ensino secundário. Vejamos então alguns artigos da Lei Capanema, referentes à Orientação Educacional: Art. 80. Far-se-á, nos estabelecimentos de ensino secundário, a orientação educacional. Art. 81. E' função da orientação educacional, mediante as necessárias observações, cooperar no sentido de que cada aluno se encaminhe convenientemente nos estudos e na escolha da sua profissão, ministrando-lhe esclarecimentos e conselhos, sempre em entendimento com a sua família. 3 Art. 82. Cabe ainda à orientação educacional cooperar com os professores no sentido da boa execução, por parte dos alunos, dos trabalhos escolares, buscar imprimir segurança e atividade aos trabalhos complementares e velar por que o estudo, a recreação e o descanso dos alunos decorram em condições da maior conveniência pedagógica. Art. 83. São aplicáveis aos orientadores educacionais os preceitos do artigo 79 desta lei, relativos aos professores. (BRASIL, 1942) Como vimos, a Lei Capanema está ligada ao ensino secundário e legitima as atividades do orientador educacional, que tem, entre suas atribuições, as funções de cooperação com os professores e o auxílio ao aluno na escolha de uma profissão. O período de 1942 a 1960 é caracterizado por Grinspun (2001) como Período Institucional, neste período o foco está no aluno, buscando identificar seu interesse, aptidões e orientá-los com relação à escolha profissional. Em seguida temos o Período Transformador de 1961 a 1970) onde o papel do orientador é basicamente de aconselhamento ao aluno (seja individual ou em grupo). Garcia ainda enfatiza que o encontro realizado em 1971 e o Congresso de 1972 focaram na discussão da Lei 5.692/71, e as associações estaduais, sob pressão dos orientadores, elaboraram uma pauta que contribuísse efetivamente para a definição do papel do orientador. Ao participar do Congresso de 1972, Garcia comunica “A informação profissional, pré-condição para uma visão do mundo do trabalho” (GARCIA, 2011, p.12). Por ocasião os orientadores tinham como função principal informar aos alunos tanto sobre as oportunidades educacionais, como as ocupacionais. Sobre as atribuições do Orientador Educacional, vale conferir também as palavras de Garcia (1994): A Lei 5.564 de 1968, embora amplie as atribuições do orientador educacional, confirma a responsabilidade em relação a orientação vocacional. E quando o decreto 72.846 de 1973 especifica as responsabilidades do orientador educacional, é dada grande ênfase a orientação vocacional, à sondagem de aptidões e interesses, ao papel do orientador educacional, articulando a escola e o mundo fora da escola (família e comunidade e mundo do trabalho). (GARCIA, 2011, p.10) Segundo Oliveira (2011), o orientador educacional possui atribuições que estão regulamentadas pelo decreto nº 72846 de setembro de 1973, que são divididas em: privadas e participativas. As privadas estão ligadas ao planejamento e coordenação de ações na escola e na comunidade, além da implementação e funcionamento do serviço de orientação educacional. Já as atribuições participativas envolvem a participação do orientador nas atividades escolares. Entretanto, no V Congresso realizado na Bahia, em 1975, é que a orientação educacional assume ser seu objeto de trabalho os três grupos sociais básicos: a escola, a 4 família e a comunidade. No VI Congresso, realizado em São Paulo em 1976, é inserido pela primeira vez na área da orientação educacional o currículo, que começa a ser percebido com instrumento comum de trabalho. Este momento é considerado importantíssimo por Garcia (2011), pois os orientadores iniciam uma saída da visão psicologizante e ideologizada e buscam, a partir de agora, uma tentativa de compreender e, ainda,de como intervir no processo pedagógico. Oliveira (2011) ao mencionar as atribuições do Orientador Educacional, também faz referência a saída de uma visão psicologizante para uma visão pedagógica. Apesar do orientador buscar harmonizar situações conflitantes dentro do espaço escolar, suas atribuições não podem ser confundidas com as de um psicólogo, como Oliveira (2011) enfatiza: “o Orientador não pode ser confundido com o psicólogo da escola, sua função é totalmente pedagógica”. (GRINSPUN, 2005, p. 62. Grifo meu). A partir de 1980, segundo Grinspun (2001), tem início o Período Questionador. Neste período crescem os questionamentos com relação ao processo, as atribuições e papéis do orientador numa dimensão político-pedagógica. Uma nova visão com relação ao papel do orientador. Mas então, qual o papel do orientador? Nas palavras da referida autora: O papel da Orientação numa escola comprometida com seu projeto político pedagógico onde além do processo ensino-aprendizagem ou, a partir processo ensino aprendizagem esteja comprometida com a formação do sujeito, com a formação da cidadania. (GRINSPUN, 2005, p.73. Grifo meu). Logo, segundo Grinspun (2005), o papel do orientador deslocou-se dos “alunos- problemas” para todos os problemas enfrentados pelos alunos como um todo. Estando o papel do orientador voltado para um trabalho que busque o desenvolvimento pleno do aluno, isto é, de forma integral, em todos os aspectos. O desenvolvimento pleno do educando requer, segundo Chalita (2004), uma saída da visão conteudista, que tem o foco apenas no desenvolvimento da habilidade cognitiva, e ampliar para o desenvolvimento de outras habilidades: sociais e psicológicas. Onde devemos priorizar também a afetividade, o equilíbrio e a convivência plural. Dentro desta perspectiva Luck (2005) nos diz que uma educação para o desenvolvimento integral “Só é possível vendo-se o educando de forma integral, cujos componentes cognitivos, psicomotores e afetivos devem ser desenvolvidos equilibrada e harmoniosamente”. (LUCK, 2005, pg19). 5 Além do papel do orientador, torna-se válido também compreendermos a sua formação na escrita da lei. O artigo 64 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº 9.394/96) deixa claro como deve ser a formação dos profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação. Art. 64. A formação dos profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional. (BRASIL, 1996). Porém, Silva (2014), ao citar Oliveira (2007), menciona que o documento final aprovado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) em 2006, instituindo Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia, modifica a formação dos chamados “especialistas” em educação, segundo a referida autora tal formação por meio de bacharelado desaparece, podendo agora ser realizada em cursos de pós-graduação. Art. 14. A Licenciatura em Pedagogia nos termos do Parecer CNE/CP nº 5/2005 e desta Resolução assegura a formação de profissionais de educação prevista no art. 64, em conformidade com o inciso VIII do art. 3 da Lei nº 9.394/96. 1º Esta formação profissional também poderá ser realizada em cursos de pós- graduação, especialmente estruturados para este fim e abertos a todos os licenciados. 2º Os cursos de pós-graduação indicados no 1º deste artigo poderão ser completamente disciplinados pelos respectivos sistemas de ensino, nos termos do Parágrafo único do art. 67 da Lei nº 9.394/96. (BRASIL, 1996). Silva e Leme (2014) também faz uma referência ao art. 67 da LDB nº 9.394/96: Ainda o art. 67 da LDB deixa claro que a experiência docente é pré-requisito para o exercício profissional de quaisquer outras funções de magistério, nos termos das normas de cada sistema de ensino. (SILVA e LEME, 2014,20) Com isto, fica visível que a formação dos “especialistas” em educação não deve ocorrer mais em nível de bacharelado e, ainda, que a experiência docente é pré-requisito para o exercício das outras funções relacionadas ao magistério. Logo, o orientador é, antes de tudo, um educador. Grinspun (2005) destaca que atualmente a orientação educacional realiza um papel de mediação, ela se reveste de mais de um campo, visando analisar, discutir, refletir para com todos os atores envolvidos. A autora ainda enfatiza que o papel do orientador não é o de juntar partes fragmentadas, mas sim o de ser um dinamizador ao buscar dialogar com estes campos. Temos então um novo olhar sobre o papel do orientador, que, como mediador, é chamado a cumprir também um papel importante na organização de um novo currículo que 6 abranja segundo Grinspun, “Textos e intertexto, as entrelinhas, os saberes dispostos em outros locais que não as escolas, os valores, afetos e sentimentos” (GRISPUN, 2005, p. 87). Assim, a presença dos orientadores, não está mais, segundo Grinspun, apoiada em documentos legais que exijam sua presença na escola, mas na necessidade de termos profissionais que, ao realizarem suas funções, contribuam efetivamente para uma educação de qualidade. Mas Grinspun (2005) vai além e nos diz que “A orientação educacional deve ser vista com a área que pode caminhar junto com todos que buscam uma educação de melhor qualidade e, se possível, numa dimensão mais ampla de um mundo melhor”. (GRINSPUN, 2005, p.78). Podemos perceber, ao analisar a função do orientador dentro do contexto histórico, que a sua atuação já apresentou diversas nuances, indo desde o orientador que fazia um trabalho basicamente de aconselhamento ao orientador como mediador. Mediações que, segundo Silva (2014), ocorrem entre o aluno e as situações de caráter didático-pedagógica e socioculturais. 2. Análise da função do Orientador Educacional através de alguns relatos Nesta parte pretendemos apresentar alguns relatos de quem iniciou seu trabalho como orientador educacional quando as delimitações da função ainda não eram muito claras, para que possamos elucidar um pouco mais sobre este papel. Scapin (2005) iniciou a sua experiência como orientadora educacional nos anos 80, na equipe do SOE (Serviço de Orientação Educacional) do Instituto de Educação do Rio de Janeiro. Com isto, ela tinha quatro a cinco turmas sob a sua responsabilidade. Sobre essas turmas ela deveria atuar em encontros semanais na sala de aula e em atendimentos individuais. Nos encontros semanais ela coordenava atividades que permitiam uma interação mais livre, onde temas de interesse da turma eram debatidos. Eram realizados, ainda, atendimentos individuais, onde os orientadores recebiam os alunos considerados “problemas” na estrutura escolar. Em geral de dois tipos: os que não aprendiam e os que não obedeciam. A partir desse encaminhamento tinha início uma série de entrevistas com o aluno, responsáveis e professores, com o objetivo de compreender melhor a situação e assim realizar uma análise cuidadosa e traçar alternativas de ação. Os professores, entretanto, segundo Scapin (2005), não compreendiam bem o trabalho realizado pelo SOE, pois estavam desejosos de resultados imediatos. Por diversas vezes, os 7 orientadores tentaram explicar aos colegas o papel e a atuação do SOE, mas Scapin (2005) confessa que talvez nem eles mesmos soubessem com clareza o papel que exerciam na escola. É neste momento de incompreensão que surge, segundo Scapin (2005), um novo “tripé”, nome dado ao conjunto: direção, supervisão escolar e orientação educacional. A partir de então eles são chamados de assessores para assuntos específicos, estando inseridos assim tanto no planejamento e desenvolvimento quanto na avaliação doprocesso educativo. Sendo assim, de acordo com a referida autora, os orientadores podiam participar mais ativamente do planejamento, para que a ação educativa fosse mais adequada à realidade do aluno. Porém destaca “Se por um lado, isto nos oportunizou um campo mais abrangente de influência e ação, por outro, mais nos distanciou dos professores. Trouxe os orientadores e os supervisores para o círculo estreito do poder.” (SCAPIN, 2005, p. 21). Ainda segundo Scapin (2005), este período é caracterizado também pela crítica e revisão do processo político brasileiro que se adicionou a visão crítica da educação, da instituição, da escola e da prática exercida pelos professores. A leitura dos textos de Paulo Freire ampliava a visão política da educação, o que chamava atenção dos professores para o papel da escola na reprodução da desigualdade de oportunidade de escolarização. Além disso, os teóricos sinalizavam que a prática escolar não nasce somente dentro da escola, mas alimentam-se da sociedade, isto é, estão envolvidos neste processo elementos como: o social, o político, o econômico, o histórico e o cultural. Através do relato de Scapin (2005), podemos perceber que a “confusão” com relação a atribuição dos orientadores não é recente, por isso a relevância em buscarmos compreender tal função. Vamos prosseguir com mais um relato de uma orientadora. Dia de sol, vento soprando na direção do mangue, ideal para soltar pipa. Os meninos sabem disso e não perdem a ocasião para lançá-la ao ar... outros correm brincando de pique entre os transeuntes, com o cuidado para não esbarrar neles, o que parece tornar a brincadeira mais atraente. Alguns andam apressados com seus carretos, a caminho da feira próxima onde vão “descolar um troco” ... há quem não pode brincar, ocupado com as responsabilidades domésticas, tomar conta dos irmãos menores, fazer comida, arrumar a casa e lavar a roupa... (MILET,2010, p. 45). É assim que Rosa Milet (2010) começa descrevendo a sua prática como orientadora. Uma orientadora que ultrapassou os muros da escola, que se propôs a conhecer a realidade dos educandos que frequentavam a sua instituição. Uma orientadora que buscou conhecer o sujeito real, não se deteve a uma visão empobrecida de um sujeito ideal, que fora apresentado, como ela relata, ao longo de sua formação. “Resgatar este aluno “de verdade”, isto é, considerar a sua realidade de vida e fazê-la presente em todos os momentos da vida escolar tem sido o objetivo que orienta toda a minha ação na escola”. (MILET, 2010, p. 46). A autora 8 busca resgatar esta realidade, pois acredita que a escola “de verdade” é aquela que ajuda o aluno a compreender o mundo para transformá-lo. Como orientadora ela visa participar da construção de uma escola “de verdade” para um aluno “de verdade”. Foi isto que a levou a ultrapassar os muros da escola e conhecer de perto como vivia a comunidade onde a sua instituição estava localizada, as dificuldades que enfrentavam, seus interesses e aspirações. Para Milet (2010), os elementos obtidos através desta investigação constituem um instrumento de trabalho, buscando tornaras atividades realizadas no espaço escolar significativas para os alunos. Sendo seu papel específico, como orientadora, trazer os elementos obtidos na investigação para as atividades a serem planejadas e desenvolvidas, visando atender o aluno no seu caminhar com relação ao conhecimento. O papel do orientador, como vimos, não está restrito a sua sala, ao seu gabinete, ele vai além dos muros da escola, não é mais aquele controlador dos problemas dos alunos, mas a orientação é vista, atualmente, como uma parceira na construção de uma escola de qualidade que convide seus alunos a refletirem sobre os valores, a ética, enfim, sobre o meio que os circunda. Percebemos que num dado momento histórico, o papel do orientador esteve voltado para a orientação profissional do educando, posteriormente o foco esteve no aconselhamento de alunos, geralmente daqueles alunos que eram vistos como “aluno-problema” e atualmente o foco está no orientador como mediador, contribuindo para a organização curricular, visando à formação integral do aluno. Mas como seria efetivamente o papel do Orientador Educacional numa gestão democrática? É o que iremos analisar no terceiro momento. 3. O papel do Orientador Educacional numa gestão democrática Antes de analisarmos o papel do Orientador Educacional numa gestão democrática, precisamos compreender o que é gestão democrática. A gestão democrática está presente na escrita da lei. Segundo Dourado (2002), a Constituição brasileira, promulgada em 1998, traz princípios fundamentais de cidadania, onde vale ressaltar os capítulos referentes aos direitos sociais, a garantia do acesso ao ensino obrigatório e gratuito, a gestão democrática do ensino, a vinculação constitucional de recursos à educação. 9 Ainda segundo Dourado (2002), a Constituição brasileira é balizada por princípios orgânicos, cujas exigências e parâmetros são objetos de leis ordinárias que visam garantir a regulamentação desta lei maior. Entre elas podemos destacar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e o Plano Nacional de Educação (PNE). A LDB nº 9.394/96 estabelece em seu artigo 14 que os sistemas de ensino deverão definir as normas da gestão democrática das escolas públicas de educação básica e que as normas devem estar de acordo com os seguintes princípios: I – participação dos profissionais da educação na elaboração projeto pedagógico da escola; II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. (BRASIL, 1996). Dourado (2007) destaca que: Todos esses princípios implicam uma nova escola, onde novos processos de participação na gestão da escola pública devem ser implementados, envolvendo comunidade, professores, coordenadores, supervisores, orientadores educacionais, pais e alunos na definição das políticas e na orientação para a gestão de sistemas com autonomia para a escola. (DOURADO, 2007, p. 153). Podemos perceber então que esta nova forma de administrar requer um fazer coletivo, que exige a participação da equipe escolar e da comunidade local. Além disso, neste tipo de gestão há uma descentralização do poder, em que o coletivo passa a participar e ter responsabilidade nas tomadas de decisões. A promoção do princípio da gestão democrática da educação é uma das diretrizes do Plano Nacional de Educação que traz em seu anexo a meta 19, visando assegurar condições para a efetivação da gestão democrática e estabelecendo algumas estratégias, tornando possível perceber alguns critérios, dentre eles: A criação e o fortalecimento de grêmios estudantis e de associação de pais e mestres; A constituição e o fortalecimento de conselhos escolares e conselhos municipais de educação; A construção coletiva do Projeto Político-pedagógico da escola; O financiamento pelo poder público; A nomeação de diretores (as) de escola, por mérito e desempenho; Favorecer processos de autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira. Segundo Bordignon (2005): Entre os fundamentos da gestão democrática do ensino público, a LDB e o PNE destacam a autonomia dos sistemas de ensino e de suas escolas, Como estratégia privilegiada da gestão democrática, são instituídos os conselhos de educação nos 10 sistemas de ensino e, na gestão das escolas, os conselhos escolares, sempre com a participação da comunidade. (BORDIGNON,2005, p. 45) Vimos então, nas palavras de Bordignon (2005), que para que as escolas tenham mais autonomia em sua gestão são instituídos os conselhos escolares, acompanhados da participação da comunidade. Segundo Dourado (2007), torna-se necessário: Conhecer a Lei de Diretrizes e Bases, as leis que regulam os sistemas educativos, entre outros,não numa perspectiva meramente legalista e normativa, mas compreendendo esses aparatos jurídicos como instrumentos vivos das políticas educacionais, dimensionando esses dispositivos e alocando-os como aliados na luta pela democratização da escola. (DOURADO, 2007, p. 159). Dourado também destaca a importância da participação efetiva dos professores, coordenadores, supervisores, orientadores educacionais, demais funcionários, alunos, pais e comunidade local, na defesa e na implementação de mecanismos que visem realmente efetivar esse novo processo de gestão, com o qual “O exercício democrático expresse as possibilidades de construção de uma nova cultura escolar” (DOURADO, 2007, p. 160). É neste novo contexto de gestão que o orientador educacional encontra-se inserido. Numa educação comprometida com o exercício da cidadania, com uma educação emancipadora. Bordignon (2005) caminha dentro desta perspectiva e nos diz que é aí que está o grande desafio: A democracia, que é o exercício efetivo da cidadania, pressupõe a autonomia – das pessoas e instituições. A educação emancipadora e gestão democrática são indissociáveis, sem o que estaríamos trabalhando numa contradição intrínseca. Escolas, profissionais da educação e estudantes privados de autonomia não terão a condição essencial para exercer uma gestão democrática, de promover uma educação cidadã. (BORDIGNON,2005, p. 32). E é, segundo Silva (2010), dentro desta ótica que está o papel do orientador, onde o foco da sua atuação deve estar ligado ao desenvolvimento de uma aprendizagem que seja significativa, visando a formação do cidadão crítico reflexivo. Vimos, então, se delinear uma orientação educacional participativa, voltada para a formação integral do sujeito, focada numa abordagem participativa, construída em conjunto e comprometida com a educação emancipatória, onde a formação do cidadão autônomo, crítico, reflexivo é valorizada. 11 Considerações Finais Ao analisar o contexto histórico relacionado à orientação educacional, podemos perceber que está se inicia na área profissional, tanto que a profissão do orientador educacional foi legitimada através da Lei Capanema que é voltada para o ensino secundário, e o orientador tinha em suas atribuições orientar os alunos com relação às oportunidades educacionais e profissionais. Em seguida o foco das atribuições do orientador passou por uma visão psicologizante de atendimento aos alunos considerados “alunos problemas” na estrutura escolar, que em geral, segundo Scapin (2005), eram os que demonstravam problemas de aprendizagem ou de comportamento. Posteriormente o currículo passa a ser percebido como instrumento de trabalho do orientador educacional. Inicia-se então uma saída da visão psicologizante para uma visão pedagógica. Em 1980, como Grinspun (2001) sinaliza, crescem os questionamentos com relação às atribuições do orientador e a sua função passa a ser configurada numa dimensão político- pedagógica e ele passa a ser visto como um mediador que articula situações de caráter didático-pedagógicas e socioculturais. Já no contexto atual da gestão democrática o orientador encontra-se inserido e comprometido com uma educação emancipadora, com a formação do sujeito crítico reflexivo. Vimos, assim, que, ao longo da história, a atribuição do orientador passou por várias nuances, porém não podemos nos esquecer de que o orientador é, antes de tudo, um educador. 12 Bibliografia: BORDIGNON, Genuíno. Gestão democrática da educação. Salto para o futuro. Boletim 19, Outubro 2005. http://www2.ifrn.edu.br/ppi/lib/exe/fetch.php?media=textos:03_gestao_democratica_textos.p df Acesso em: 24 jan. 2015. ________. Desafios da gestão democrática na educação: nos sistemas de ensino e nas escolas públicas 1. Salto para o futuro. Boletim 19, Out. 2005. http://www2.ifrn.edu.br/ppi/lib/exe/fetch.php?media=textos:03_gestao_democratica_textos.p df Acesso em: 24 jan. 2015. BRASIL. Decreto-lei nº 204, de 9 de abril de 1942. Lei orgânica do ensino secundário. Disponível em: < http://www.histedbr.fe.unicamp.br/navegando/fontes_escritas/5_Gov_Vargas/decreto- lei%204.244-1942%20reforma%20capanema-ensino%20secund%E1rio.htm>. Acesso em: 03 fev. 2015. ________. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/tvescola/leis/lein9394.pdf>. Acesso em: 24 jan. 2015. ________. Projeto de Lei Nº 8.035-B, de 2010. 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