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GUARDA E ALIMENTOS COMO COMPARTILHAR ESSE DIREITO RESUMO A proposta deste trabalho é um estudo acerca dos institutos da guarda dos filhos, com ênfase na guarda compartilhada, melhor interesse da criança e do adolescente, assim como exposição da fixação de alimentos nesta modalidade. 1. INTRODUÇÃO O principal objetivo desse estudo será a análise da guarda, pensão alimentícia e suas relevâncias sociais, assim como as consequências na órbita das relações familiares e como nossos Legisladores e o Poder Judiciário vêm tratando esse tema. Nesse sentido, será trazida à baila, a definição de guarda e seus pressupostos, assim como será apresentada a convivência compartilhada e suas responsabilidades, bem como demonstrando que afeto é de suma importância na construção da socialização, desenvolvimento e educação dos filhos. Por último, pontua-se a questão do Poder Judiciário brasileiro em face da guarda compartilhada. Para a elaboração do presente estudo, teve como questionamento a questão da pensão alimentícia na guarda compartilhada, suas possibilidades e consequências. 2. BREVE ANÁLISE DA EVOLUÇÃO HISTÓRICA DIREITO DE FAMÍLIA Tendo em vista o contexto histórico da origem da família tem seu marco no Direito Romano como uma entidade jurídica, econômica e religiosa sob a autoridade de um chefe de família, representado pelo pai, o detentor pátrio poder, bem como o direito de impor regras e normas ao comportamento dos indivíduos do lar. (VAZ, 2015, p.66) Nesse sentido, o Direito Romano, apresenta a multiplicidade da palavra família que poderia ser aplicada tanto às coisas (dimidium familiae, que significa metade do patrimônio) quanto às pessoas (tudo e todos sob o poder do pater famílias) (CASTRO, 2011, p. 2 e 99). Outrossim, pontua-se a influência do Direito romano no que tange ao princípio da autoridade exposta no pater famílias, que exercia o direito de vida e morte sobre seus filhos (ius vitae ac necis), como também a mulher era subordinada à autoridade marital (GONÇALVES, 2018, p. 31). Para Arnaldo Wald (1981, p. 9) o pater famílias administrava a justiça dentro dos limites da casa e, na primeira fase do direito romano, a família era uma unidade política e o Senado constituía-se dos chefes de família (patres conscripti). A mulher, ao casar-se, podia continuar sob a autoridade paterna sem manus ou entrar na família marital no casamento com manus, sendo limitado a escolha a uma família. Ainda, verifica-se que em Roma existiam duas espécies de parentesco, quais sejam: a agnação vinculada as pessoas com o mesmo pater; e, a cognação era o parentesco, que apesar de consanguíneo, não era parentes uma das outras. Por sua vez, com a evolução da família romana foi se restringindo a autoridade do pater, concedendo autonomia à mulher e aos filhos, assim como substituiu-se o parentesco agnatício pelo cognatício. Nesse sentido, o pater perdeu seu ius vitae necique (direito de vida e morte), os filhos passaram a administrar os pecúlios castrenses (vencimentos militares), quase castrenses (vencimentos de funcionários civis), profectício (doações feitas pelo pai) e adventício (doações e legados ao filho por terceiros), a emancipação deixou de ser punição, conservando o emancipado os seus direitos sucessórios. (WALD, 1981, p. 9) Nota-se, ainda, nos estudos da Flávia Lages de Castro (2011, p. 98 a 109), que o Direito Romano regulamentou as seguintes questões no Direito de Família, quais sejam: Pátrio Poder; Casamento; Divórcio; Dote; Adoção; Tutela e Curatela; Sucessão; Herança; Testamento; Posse e Propriedade. Na Idade média, com a invasão das tribos germânicas no território do império, agregou-se as culturas germânicas e a Igreja Católica, alterando a dinâmica social empoderando os guerreiros que conquistaram as posses das propriedades e terras. Nesse sentido, o Direito Medieval foi composto pelos Direitos Romano, Germânico e Canônico. No Direito Germânico, não utilizavam escritas e eram influenciados pela oralidade, basicamente consuetudinário. A principal instituição é a família, baseava-se no poder absoluto (mund), o pai que compartilha com sua única esposa, e os filhos até serem armados e as filhas até o casamento vivem no seio familiar. A organização judicial era caracterizada pelo Wergeld, trata-se de várias leis dos povos romano-germânico que fornecia uma medida. Ainda, no Direito Medieval, a maioria das tribos germânicas apliccavam a personalidade das Leis, cada qual leva consigo o estatuto jurídico de sua tribo de origem. (CASTRO, 2011 p. 127,128 e 129). Considerando o estudo de Arnaldo Wald (1981, p.11,12 e 13) a família no Direito Canônico, o matrimônio não era apenas um contrato, mero acordo de vontade, mas também um sacramento, não podendo o homem dissolver a união realizada por Deus (quod Deus conjunxit homo non separet). Logo, os canonistas se opuseram ao divórcio, discutia-se a questão do divórcio em relação aos infiéis. Para o autor supracitado, o direito canônico estabeleceu o quadro de impedimentos para a realização do casamento, quais sejam: idade; diferença de religião; impotência; casamento anterior; voto religioso; vício de consentimento (coação ou erro); relação antecedente (parentesco, afinidade e adultério). A evolução do direito canônico se objetivou na elaboração da teoria das nulidades e da regulamentação de separação de corpos e de patrimônios (divortium quoad thorum et mensam), que extinguia a sociedade conjugal, sem, no entanto, dissolver o vínculo. No período da Idade Média apresentou-se as fontes do Direito Canônico (ius divinum), oriundas de regras extraídas da Bíblia, dos escritos dos doutores da igreja e da doutrina patrística, legislação canônica, formada pelas decisões dos Concílios e dos escritos dos papas, os costumes e os princípios recebidos do Direito Romano. (CASTRO, 2011, pag. 132 e 133). Nesse sentido, para Gonçalves (2018, p.32) a família brasileira teve influência da família romana, da família canônica e da família germânica. As Ordenações Filipinas foram a referência e influência no direito de família, assim como o Direito Canônico. 2.1 BREVE HISTÓRICO SOCIAL E CULTURAL DA FAMÍLIA Maria Berenice Dias (2017, p. 38) aduz que a família tinha a formação extensiva, verdadeira comunidade rural, integrada por todos os parentes, formando unidade de produção e patrimonializada, com amplo incentivo à procriação e força de trabalho. Para Vânia Morales Sierra (2011, p.7 e 8), os gregos e romanos a família era uma instituição sagrada, sendo o patriarcalismo não uma consequência da propriedade, mas da religião que a estabeleceu. Todavia, se na Antiguidade era possível preservar a ordem familiar pela religião, a economia, ao adquirir valor central na organização social, deslocou a família e a religião, reduzindo sucessivamente sua autoridade, fazendo prevalecer o individualismo. Friedrich Engels (1984, p.91 e198) em seus estudos sobre a origem da família alega que a forma de família predominante é a monogamia, a supremacia do homem sobre a mulher, e a família individual como unidade econômica da sociedade. Ainda, pontua que a evolução da família está atrelada ao progresso, assim como as modificações familiares ocorrem na medida em que a sociedade se modifica, já que a família é produto do sistema social e refletirá o estado de cultura desse sistema. A revolução industrial caracterizou-se pela necessidade de mão de obra para desempenhar atividades terciárias. Foi assim que a mulher ingressou no mercado de trabalho, deixando o homem de ser a única fonte de subsistência. A estrutura da família se alterou. Tornou-se nuclear, restrita ao casal e a sua prole. Acabou a prevalência do caráter produtivo e reprodutivo. (DIAS, 2017, p.8) Nessa seara, a família deixou de ser uma unidade econômica, a fim de buscar seu sustento no mercado que recrutava homens, mulheres e crianças. A Família passa por transformações correspondentes às mudanças na ordem econômica e social, não permanecendo no tempoda mesma forma, uma vez que se altera, se modifica e se recompõe. (SIERRA, p. 8) Para Cyntia A. Sarti ( 2010, p.21, 22 e 23), a mudança de paradigma desde a revolução industrial, que separou o mundo do trabalho e o mundo familiar, foi a instituição da dimensão privada da família, contraposta ao mundo público, relacionadas aos impacto do desenvolvimento tecnológico. Nesse sentido, a autora em questão aponta os seguintes impactos, quais sejam: pílula anticoncepcional (1960), abalando o valor sagrado da maternidade e a identificação entre mulher e mãe; advento das inseminações artificiais (1980), reforçam a maternidade e seu valor social; nota-se, que em ambos os casos, fomentam a introdução da escolha, em contraposição com o destino, seja para evitar a gravidez, seja para provocá-la; Na década de 1990, a difusão do exame de DNA permite a identificação da paternidade, identificando laços e responsabilidades familiares, sendo um recurso de proteção para mulher e criança. 2.2. BREVE HISTÓRICO DA FAMÍLIA BRASILEIRA Verifica-se, por sua vez, que a formação familiar ibérica adotada pela sociedade colonial brasileira, fora pautada no patriarcalismo, depositando no genitor a autoridade central nas questões familiares, atrelado a doutrinação canônica de unicidade e irrevocabilidade da união matrimonial. Boris Fausto (2012, p. 31) relata que na história do Brasil a estrutura social da Colônia fora marcada por exclusão, determinada pelo princípio do sangue, estabelecendo os impuros (cristãos-novos, os negros, índios e mestiços), até a Carta-lei de 1773. Distinguia-se a escravidão indígena e negra, por meio de um alvará datado de 1775, estimulou-se casamentos mistos de índios e brancos, com previsão de empregos e honras para os descendentes dessas uniões. Gizlene Nader (2008, p.29) apresenta em seu estudo as diferenças na família tradicional/patriarcal, sobretudo no Nordeste a mulher da família patriarcal (chamada de sinhazinha) apresentava um perfil de docilidade e passividade, com atividades voltadas ao interior da casa-grande. Já no Sul, são encontradas as bandeirantes, dado o caráter militar e estratégico da colonização do Sul, as mulheres foram convocadas a administrar fazendas e a controlar a escravaria na ausência do homem, bandeirante desbravador ausente. A mesma autora (2008, p.39) aponta a organização da família escrava, marcada pelo autoritarismo e a violência da escravidão foram responsáveis por separações entre casais, rompimentos e perdas de vínculos, crises de identidades, abandono de crianças em face da ausência da figura paterna, sendo criadas em uma família ampliada de dia na Casa Grande e a noite com os escravos, gerando rompimentos em seu equilíbrio emocional. Para Luís Francisco Aguilar Cortez (2012, p. 290), o descolamento entre normas e o fato social, o descompasso entre o texto legal e a prática social, naquela época a família protegida pelo Estado era subalterna ao poder paterno, com nítida discriminação das mulheres, a família sem proteção legal, em suas diversas formas de organização, encontrava-se desamparada diante do padrão autoritário da estrutura política brasileira. 2.3. SÍNTESE DA EVOLUÇÃO HISTÓRICA LEGISLATIVA NO ÂMBITO DO DIREITO DE FAMÍLIA NO BRASIL Para Boris Fausto (2012, 44) com a promulgação das Ordenações Filipinas (1603), fora a legislação que consolidou e ampliou as Leis portuguesas. No Brasil, as Ordenações tiveram longa vigência, sendo que algumas de suas determinações persistiram até a Código Civil de 1916. Arnold Wald (1981, p.18) aduz que o Decreto de 3 de novembro de 1827 declarou a vigência em todas a dioceses do Brasil o Concílio Tridentino e a Constituição do Arcebispo da Bahia, determinando que os párocos recebessem em face da Igreja os noivos. Com a consolidação da Leis Civis de Teixeira de Freitas, estabeleceu a punição dos casamentos clandestinos (Art. 98), assim como determinou a prova dos casamentos pela certidão extraída dos Livros de Eclesiásticos (Art. 99) e por outro instrumento público ou por testemunhas que reconheçam os cônjuges como marido e mulher, residem juntos por tanto tempo quanto baste para presumir- se o matrimonio entre eles (Art. 100). O Decreto 3.069, de 17 de abril de 1863, regulamentou a Lei 1.144 de 11 de setembro de 1861, estabelecendo as normas básicas ao registro de nascimentos, casamentos e óbitos dos acatólicos, manteve-se os impedimentos dirimentes do Direito Canônico, no entanto reconheceu a competência das autoridades civis para conhecer das nulidades ou de qualquer outra questão do casamento dos acatólicos (WALD, 1981, p. 19). Verifica-se que em 1890, com a proclamação da República, cominado com a separação do Estado e a Igreja, fora instituído o casamento civil. Por sua vez, a Constituição de 1891, regulamentou as relações familiares, mantendo o casamento civil, todavia não afastou a influência do Direito Canônico em que pese as condicionalidades para o casamento de família legítima (CORTEZ, p. 291). Maria Berenice Dias (2017, p. 40) pontua que o Código Civil de 1916, apresentava a visão de família, limitando-se ao casamento, impedia dissoluções, criou-se distinções entre membros e qualificações discriminatórias às pessoas unidas sem casamento e aos filhos havidos dessas relações. Luís Francisco Aguilar Cortez (2012, p. 291 a 294), destacou alguns pontos do Código Civil de 1916, quais sejam: a) o casamento como forma de constituição de família reconhecida; b) impedimentos para o casamento (entre parentes, adúlteros e cônjuges dequitados); c) opção no regime de bens; d) desproteção jurídica de uniões fora do casamento; e) imutabilidade no regime adotado; f) filiação legitima reconhecida pelo casamento; g) estabelecimento de relações de parentesco (ascendentes comum, consanguíneo, até o sexto grau na linha colateral e por afinidade ); h) obrigação de prestar alimentos entre parentes; i) direitos sucessórios com a redução entre colaterais até quarto grau (Decreto 9.461/46); j) restrições e prazos rígidos para os filhos legítimos e legitimados pleitearem a herança; k) o marido era o chefe da sociedade conjugal (art.233), já que tinha o direito de fixar e mudar o domicilio conjugal (Art. 233, III), autorizava a profissão da mulher (Art. 233, IV ), esta exercia o papel de companheira, consorte, e auxiliar nos encargos da família (Art.240); l) relativamente incapaz (Art. 6, II) a esposa dependia do marido para pratica do atos jurídicos; m) o pátrio poder era vinculado ao marido, somente em casos de sua ausência ou impedimento era exercido pela mulher (Art.380); e, n) a preocupação com a preservação do patrimônio familiar. Arnoldo Wald (1982, p. 21) relata numerosas Leis no âmbito do Direito de Família, citando o Pontes de Miranda na questão do direito mais preocupado com o círculo social da família do que com os círculos sociais da nação, quais sejam: a) Constituição de 1937 beneficiou o filho natural; b) Decreto-Lei nº 3.200 de 19 de abril de 1941, dispõe sobre a organização e proteção da família; c) Decreto- Lei nº 7.485 de 23 de abril 1945, dispõe sobre a prova do casamento nas habitações aos benefícios do seguro social; d) Decreto-Lei nº 9.701 de 3 de setembro de 1946, dispõe sobre a guarda de filhos menores, no desquite judicial; e) Lei nº 883 de 21 de outubro de 1949, dispõe do reconhecimento do filho ilegítimo; f) Lei nº 968 de 10 de dezembro de 1949, estabelece a fase preliminar de conciliação ou acordo nas causas de desquite litigioso ou de alimentos, inclusive os provisionais; g) Lei nº 1. 110 de23 de maio de 1950, regula o reconhecimento dos efeitos civis ao casamento religioso; h) Lei nº 3.133 de 8 de maio de 1957, atualiza o instituto da adoção prescrita no Código Civil; i) Lei nº 4.121 de 27 de agosto de 1962, dispõe sobre a situação jurídica da mulher casada; j) Lei nº 4.655 de 2 de junho de 1965, dispõe sobre a legitimidade da adoção; e, k) Lei nº 5.478 de 25 de julho de 1968, dispõe sobre ação de alimentos.Com a evolução no âmbito familiar, nota-se o Estatuto da Mulher (Lei 4.121/62), que garantiu à mulher casada os bens reservados e adquiridos com o fruto de seu trabalho. Outrossim, a instituição do Divórcio (EC 9/77 e Lei 6.515/77), dando o fim a indissolubilidade do casamento e da ideia de sacralização da família (DIAS, 2017, p. 40). A Lei nº 6.515/77 apresentou as seguintes evoluções, quais sejam: a) aboliu a expressão desquite e substituiu-a pela expressão separação judicial; b) alterou-se o regime da comunhão universal de bens para a comunhão parcial de bens como regra, imposto pela Lei no silêncio das partes, estabeleceu-se igualdade no direito à herança, entre filhos de qualquer condição, c) a separação consensual só poderia ser decretada após dois anos de casamento, homologado pelo juiz; d) o divórcio era homologado após o mínimo de três anos da separação judicial (modalidade de divórcio-conversão); e, e) divórcio direto, para os casais separados de fato há mais de cinco anos. 3. APRECIAÇÃO DA GUARDA Nota-se que a Constituição Federal de 1988, nos termos do artigo 227, garantiu à criança e ao adolescente, os direitos fundamentais, inclusive à convivência familiar e comunitária, assim como pontou que é dever da família, da sociedade e do Estado, conforme in verbis: Art. 227 É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Planalto, Ainda, nesta seara o artigo 19 do Estatuto da Criança e Adolescente assegura a convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral. Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral. Outrossim, nota-se que no artigo 33 do Estatuto supracitado estabelece que a guarda obriga à prestação de assistência material, moral e educacional à criança e adolescente, conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais. Por sua vez, no Código Civil atribui a guarda ao poder familiar, nos termos dos artigos 1.566, IV, 1.634, II e VI da Lei 10.406/2002, sendo dever de ambos os genitores sustentar, guardar e educar os filhos. Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges: IV - sustento, guarda e educação dos filhos; Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos: II - Exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584; VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar; Maria Helena Diniz (2012, p. 1130 e 1131) aduz que será dever de ambos os genitores sustentar, guardar e educar os filhos, preparando-os para a vida de acordo com suas possibilidades. Para Rolf Madaleno (2018, p.430), é dever dos pais dirigir a formação da sua prole, encaminhando-a para a futura vida adulta e social; e, uma vez, sobrevivendo a separação dos progenitores a guarda dos filhos pode ser conferida a qualquer um dos genitores podendo ser confiada também a terceiro. Já Maria Berenice Dias (2017, p. 544) aduz que historicamente os filhos sempre estiveram sob os cuidados da mãe, pelo absoluto despreparo dos homens, estes, por sua vez, não foram educados para serem provedores da família. Todavia, as mulheres foram adestradas para as atividades domésticas e sentem-se proprietárias exclusivas dos filhos. Outrossim, a guarda dos filhos na hipótese de separação dos pais foi considerada como custódia individual concedida à mãe, salvo em raras e graves exceções capazes de afetar os interesses do menor. A preferência em favor da mãe para permanecer com a custódia dos filhos na separação dos pais era contida como razoável para contexto social e familiar existente em um período em que a mulher não trabalhava e tinha um tempo para poder se dedicar inteiramente ao lar aos filhos, sendo deferida ao pai a faculdade de visitar seus filhos (MADALENO, 2018, p.431). 3.1. GUARDA UNILATERAL Nota-se que a guarda unilateral está estabelecida no Código Civil no Art. 1.583, §1º, compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só dos genitores ou a alguém que o substitua. Assim como, nos termos do Art. 1.584, I, a guarda unilateral poderá ser requerida, por consenso, pelo pai e pela mãe, ou por qualquer deles, em ação autônoma de separação, de divórcio, de dissolução de união estável ou em medida cautelar. Verifica-se que a Guarda unilateral é atribuída a apenas um dos genitores, sendo que a outra parte mantém o direito de visitas e o de acompanhar e supervisionar as decisões quanto à criação do filho. Neste caso, quem não estiver com a guarda deverá contribuir para o sustento do filho, mediante o pagamento de pensão alimentícia (Ministério Público do Paraná). Para Rolf Madaleno (2018, p.433) a guarda monoparental (guarda unilateral), na hipótese de fragmentação da convivência dos pais, os filhos permanecem sob os cuidados e sob orientação de apenas um dos pais, escolhido de comum acordo pelos genitores ou por decisão judicial. Maria Berenice Dias (2017, p. 549) aduz que a guarda unilateral afasta, sem dúvida, o laço de paternidade da criança com o não guardião, pois a este é estipulado o dia de visita, sendo que nem sempre esse dia é um bom dia, também ponta que a guarda única propicia insatisfações, conflitos e barganhas envolvendo os filhos. 3.2. GUARDA COMPARTILHADA (Via de regra) Para Maria Helena Diniz (2012, p.1153) a guarda compartilhada é o exercício conjunto do poder familiar por pais que não vivem sob o mesmo teto. Ambos os genitores (separados ou divorciados) terão, portanto, responsabilidade conjunta e o exercício dual de direitos e deveres alusivos ao poder familiar dos filhos comuns. Tendo em vista o §2º do artigo 1.583 do Código Civil no que concerne a guarda compartilhada, disciplina o tempo de convívio com os filhos seja dividido de forma equilibrada com mãe e com o pai, considerando as condições fáticas e os interesses dos filhos. § 2o Na guarda compartilhada, o tempo de convívio com os filhos deve ser dividido de forma equilibrada com a mãe e com o pai, sempre tendo em vista as condições fáticas e os interesses dos filhos. Insta salientar, nas lições do MADALENO (2018, p.428), que prevalece o princípio do melhor interesse da criança, verifica-se os critérios de definição da guarda é apurar a felicidade dos filhos, e não os de se voltar para os interesses particulares dos pais, tampouco para compensar algum desarranjo conjugal dos genitores por culpa da separação. Havendo ruptura do casamento ou da união estável pela via consensual, será observado aquilo que os pais acordarem sobre a guarda dos filhos, ordenando o §2º do artigo 1.584 do Código Civil, com a redação da Lei nº 13.058/2014, deva ser aplicada a guarda compartilhada quando sobre sua definição não houver acordo entre ao mãe e o pai, salvo se um dos genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor. Art. 1.584. A guarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser: § 2o Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho, encontrando-se ambos os genitores aptos a exercer o poder familiar, será aplicada a guarda compartilhada, salvo se um dos genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor. Já Maria Berenice Dias (2018, p. 547), aduz que ao tratar da proteção dos filhos (CC1.583 a 1.590), sucessivas leis, de forma didática, definem o que é guarda unilateral e compartilhada,impondo o compartilhamento mesmo contra a vontade dos genitores e eventual estado de beligerância entre eles (CC 1.584 §2.º). No tocante as decisões dos Tribunais no que tange a Guarda Compartilhada, buscou-se trazer à baila as decisões publicadas de janeiro até março de 2019, a fim de apresentar breve análise da aplicação da Lei 13.058/2014, quais sejam: a) APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE GUARDA, REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS E ALIMENTOS. FILHO MENOR, TENRA IDADE. GUARDA COMPARTILHADA. 1.Deixam de ser conhecidos os documentos juntados pelo apelante intempestivamente, pois não se tratam de documentos novos, a teor do art. 435, do CPC. 2.Consoante entendimento pacificado no Superior Tribunal de Justiça, com o advento da Lei n.º 13.058/2014, que alterou a redação do artigo 1.584, inciso II, § 2º, do Código Civil, a imposição da guarda compartilhada deixou de ser facultativa para ser regra impositiva, sendo prescindível a existência de consenso entre os genitores. Assim, fica acolhido o pedido de alteração da guarda unilateral para a guarda compartilhada, fixada a residência base materna, e o regime de convivência com o genitor, devendo ser mantida a rotina de vida da criança, que conta tenra idade. 3.No tocante aos alimentos, considerando que o apelante não demonstrou a impossibilidade financeira, ônus que lhe incumbia, conforme a Conclusão nº 37 do Centro de Estudos deste Tribunal, cabível a manutenção dos alimentos como fixados na sentença. 4.Regulamentadas as visitas, devendo ser observado o período de aleitamento materno. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (Apelação Cível Nº 70080342371, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,... Relator: Liselena Schifino Robles Ribeiro, Julgado em 28/02/2019). (TJ-RS - AC: 70080342371 RS, Relator: Liselena Schifino Robles Ribeiro, Data de Julgamento: 28/02/2019, Oitava Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 13/03/2019); (grifo nosso). b) FAMÍLIA. AÇÃO DE DIVÓRCIO COM PARTILHA DE BENS E AÇÃO DE GUARDA. FIXAÇÃO DA GUARDA COMPARTILHADA TENDO COMO LAR DE REFERÊNCIA O MATERNO. PEDIDO DO GENITOR PARA MUDANÇA PARA GUARDA UNILATERAL. PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA. AUSÊNCIA DE PROVA QUE DESABONE A CONDUTA DA MÃE NA CRIAÇÃO DO FILHO. MANTIDA A GUARDA FIXADA NA SENTENÇA. PENSÃO ALIMENTÍCIA. VALOR ESTIPULADO ACIMA DO PLEITEADO. INEXISTÊNCIA DE JULGAMENTO EXTRA PETITA. REDUÇÃO DOS ALIMENTOS PARA ADEQUAR AO BINÔMIO POSSIBILIDADE X NECESSIDADE. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA. 1. Com efeito, a guarda compartilhada é regra no ordenamento jurídico, devendo-se dar prevalência à guarda unilateral quando essa atender ao melhor interesse da criança e quando houver beligerância entre os genitores. 2. In casu, em que pese o genitor sugira que a criança possa não receber o tratamento adequado no lar materno, não trouxe aos autos nenhum documento ou prova que pudesse corroborar concretamente tal afirmação, não cumprindo, portanto, com o ônus que lhe é imposto; qual seja, comprovar fato modificativo, extintivo ou impeditivo do direito da autora, nos termos do artigo 373, inciso II, do CPC. 3. Diante da ausência de provas que demonstrem qualquer prejuízo ao menor, por ter como lar de referência o materno e, não demonstrado nos autos qualquer situação que desabone a conduta da ré, ora apelada, na criação do filho, não há razão para modificar a guarda fixada na sentença. Ressalta-se que a sentença recorrida não faz coisa julgada material; ou seja, não se torna imutável e indiscutível, podendo se sujeitar à nova apreciação se houver mudanças nas circunstâncias fáticas. 4. Como é sabido, nas ações que versam sobre alimentos, é permitido ao magistrado relativizar o princípio da adstrição, fixando alimentos em patamar diferente daquele pleiteado pela parte interessa, desde que atendido o binômio possibilidade x necessidade, não se configurando julgamento extra petita. 5. Impõe-se a redução da verba alimentar para atender ao critério do binômio possibilidade x necessidade. 6. Recurso parcialmente provido. (TJ-DF 20170610035627 - Segredo de Justiça 0003478-36.2017.8.07.0006, Relator: JOSAPHA FRANCISCO DOS SANTOS, Data de Julgamento: 13/03/2019, 5ª TURMA CÍVEL, Data de Publicação: Publicado no DJE : 20/03/2019 . Pág.: 294/300); (grifo nosso). c) DIREITO DE FAMÍLIA. GUARDA. PREFERÊNCIA LEGAL PELA FORMA COMPARTILHADA. PRESERVAÇÃO DO CONTRADITÓRIO E DA COMPETÊNCIA DO JUÍZO DE ORIGEM NA FIXAÇÃO DOS TERMOS EM QUE ELA SERÁ DEFINIDA. PENSÃO À EX-CONSORTE. MINORAÇÃO DO VALOR FIXADO NA ORIGEM. ALIMENTOS AO FILHO COMUM. REDUÇÃO DO VALOR ARBITRADO. OBSERVÂNCIA DO TRINÔMIO NECESSIDADE, DISPONIBILIDADE, PROPORCIONALIDADE. "A guarda compartilhada é o ideal a ser buscado no exercício do Poder Familiar entre pais separados, mesmo que demandem deles reestruturações, concessões e adequações diversas, para que seus filhos possam usufruir, durante sua formação, do ideal psicológico de duplo referencial." (REsp 1428596/RS, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 3.6.2014) Os companheiros podem pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, devendo-se considerar para a fixação da verba alimentar a relação de dependência econômica existente, bem como as possibilidades de reingresso no mercado de trabalho. O arbitramento dos alimentos a filho menor deve ser feito em consonância com o disposto no art. 1.694, parágrafo único, do Código Civil. Do ponto de vista da necessidade do alimentando, deve-se atentar ao disposto no art. 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente. Em relação à disponibilidade, deve-se observar a proporcionalidade entre os pagamentos pelos pais, conforme sua capacidade econômica, sendo relevante observar que quem exerce a guarda presta alimentos in natura (fornecendo, por exemplo, moradia, alimentação e transporte). (TJ-SC - AI: 40315455020188240000 Capital 4031545-50.2018.8.24.0000, Relator: Sebastião César Evangelista, Data de Julgamento: 04/04/2019, Segunda Câmara de Direito Civil) d) DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO DE GUARDA UNILATERAL E ALIMENTOS MOVIDA EM FACE DO GENITOR. Interlocutório que deferiu a guarda da filha à mãe e fixou alimentos provisórios no valor de 47,17% (quarenta e sete inteiros e dezessete centésimos por cento) de um salário mínimo. Insurgência do réu. Pretendida a concessão da guarda compartilhada e o afastamento da obrigação alimentar. Pleito subsidiário de minoração do encargo. Juízo de retratação que deliberou sobre a guarda da infante, fixando-a sob a forma compartilhada, bem como reduziu o valor da pensão alimentícia para 30% (trinta por cento) do salário mínimo em favor da infante. Perda do objeto. Extinção do procedimento recursal. (TJ-SC - AI: 40020623820198240000 Capital 4002062-38.2019.8.24.0000, Relator: Marcus Tulio Sartorato, Data de Julgamento: 09/04/2019, Terceira Câmara de Direito Civil); (grifo nosso) e) APELAÇÕES CÍVEIS. DIREITO DE FAMÍLIA. ALIMENTOS. BINÔMIO POSSIBILIDADE/NECESSIDADE. FILHAS MENORES. MAJORAÇÃO OU REDUÇÃO. INVIABILIDADE. ALIMENTOS COMPENSATÓRIOS. EX- CÔNJUGE. MANUTENÇÃO. GUARDA COMPARTILHADA. MELHOR INTERESSE DO MENOR. RECURSOS CONHECIDOS E DESPROVIDOS. 1. O valor de 5 (cinco) salários mínimos para cada menor fixado na sentença, a título de prestação alimentar, mostrou-se condizente com os parâmetros jurisprudenciais, a atual situação financeira do devedor e às necessidades das menores em idade escolar. 2. Os alimentos compensatórios pagos a partir da publicação da sentença, somados aos provisórios adimplidos ao longo da demanda, perfazem o período de 4 (quatro) anos. Esse lapso, aliado à potencialidade laboral da ré, é suficiente para o rompimento do nexo de dependência financeira entre as partes. 3. O objetivo das Leis 11.698/2008 e 13.058/2014, que alteraram o § 2º do art. 1584 do CC, foi o de estabelecer a guarda compartilhada como a regra no direito brasileiro, calcadas na premissa de que ambos os pais têm igual direito de exercer a guarda dos filhos menores e que esseexercício seria saudável à sua formação. 4. O compartilhamento da guarda visa preservar o melhor interesse da criança e do adolescente, nos termos do artigo 227 da Constituição Federal e do artigo 1º da Lei 8.069/90. Dessa forma, é aplicada independentemente de concordância entre os genitores, resguardado o pleno desenvolvimento do infante. 5. Se a moldura fática apurada e o parecer técnico pelo Serviço Psicossocial revelam que a guarda compartilhada é de fato a melhor medida para atender o interesse da criança, não serão pequenas alterações ou desavenças entre os genitores que privarão as filhas de alcançar a melhor condição para sua formação e desenvolvimento afetivo. 6. RECURSOS CONHECIDOS E DESPROVIDOS. (TJ- DF 20160110869015 - Segredo de Justiça 0012631-97.2016.8.07.0016, Relator: LUÍS GUSTAVO B. DE OLIVEIRA, Data de Julgamento: 13/03/2019, 4ª TURMA CÍVEL, Data de Publicação: Publicado no DJE: 22/03/2019. Pág.: 254/256); (grifo nosso). Percebe-se que as decisões supramencionadas apontam para a guarda compartilhada como regra, em consonância com o melhor interesse da criança. Nota-se que uma decisão teve o subsídio do parecer técnico psicossocial, mesmo os genitores com desarmonias e contendas, ponderou-se no melhor interesse e no desenvolvimento psicólogo e afetivo, com duplo referencial. Tendo em vista as decisões supracitadas, os alimentos foram garantidos e aplicadas em cada caso concreto e especificidades. Todavia, verifica-se decisões que reconhece a guarda compartilhada como regra, no entanto em face de conflitos entre os genitores estabelecem a guarda unilateral, pôr entenderem que a relação conflituosa fere o princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, quais sejam: a) APELAÇÃO. AÇÃO DE GUARDA. COMPARTILHADA. REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS. PRELIMINAR DE NULIDADE DA SENTENÇA CITRA PETITA. I - A r. sentença é citra petita, pois o pleito de regulamentação de visitas decorre logicamente da pretensão de guarda da criança, não havendo empecilho para o seu exame. Pedido analisado pelo Tribunal, art. 1.013, §3º, inc. III, do CPC. II - A guarda compartilhada, arts. 1.583 e 1.584 do Código Civil, deve ser a regra e o ideal a ser alcançado. No entanto, a custódia física conjunta dos genitores não pode ser deferida em detrimento do melhor interesse da criança, pois pressupõe a divisão de responsabilidades, o que se torna impossível quando os pais vivem em intenso conflito, não possuem diálogo saudável, além do que a criança está residindo com sua genitora em outro Estado. Mantida a guarda unilateral da mãe. III - A criança sempre conviveu com o genitor e respectivos familiares e, devido à sua mudança para Rondonópolis/MT em dezembro/2017, é importante que ela passe períodos com o pai, de modo a preservar os laços afetivos, em benefício do seu desenvolvimento psíquico e emocional. Acolhido parcialmente o pedido de regulamentação das visitas. IV - Apelação parcialmente provida. (TJ-DF 20160310114056 - Segredo de Justiça 0011139-12.2016.8.07.0003, Relator: VERA ANDRIGHI, Data de Julgamento: 06/02/2019, 6ª TURMA CÍVEL, Data de Publicação: Publicado no DJE : 12/02/2019 . Pág.: 981/985); (grifo nosso). b) AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. FAMÍLIA. GUARDA COMPARTILHADA. MELHOR INTERESSE DA MENOR. IMPOSSIBILIDADE. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO DESPROVIDO. 1. Esta Corte Superior de Justiça entende que a guarda compartilhada deve ser instituída independentemente da vontade dos genitores ou de acordo; contudo, o instituto não deve prevalecer quando sua adoção seja passível de gerar efeitos ainda mais negativos ao já instalado conflito, potencializando-o e colocando em risco o interesse da criança. 2. O Tribunal de origem, analisando atentamente o contexto fático-probatório dos autos e considerando o interesse da menor, concluiu pela inviabilidade da guarda compartilhada. Assim, a pretensão recursal demandaria o reexame do acervo fático- probatório, o que é inviável em sede de recurso especial, conforme dispõe a Súmula 7/STJ. 3. Impossível conhecer da alegada divergência interpretativa, pois a incidência da Súmula 7 do STJ na questão controversa apresentada é, por consequência, óbice também para a análise do apontado dissídio, o que impede o conhecimento do recurso pela alínea c do permissivo constitucional. 4. Agravo interno desprovido. (STJ - AgInt no AREsp: 1355506 SP 2018/0222423-2, Relator: Ministro RAUL ARAÚJO, Data de Julgamento: 12/02/2019, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: REPDJe 26/02/2019 DJe 25/02/2019) c) APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO DE ALTERAÇÃO DE GUARDA, CUMULADA COM EXONERAÇÃO/REDUÇÃO DE ALIMENTOS. FILHO MENOR DE IDADE. GUARDA COMPARTILHADA. DESCABIMENTO. REDUÇÃO DO ENCARGO ALIMENTAR. INVIABILIDADE NO CASO CONCRETO. ANÁLISE DO BINOMIO NECESSIDADE- POSSIBILIDADE. 1. A guarda compartilhada deve ser deferida sempre que demonstrada sua conveniência em prol dos interesses do filho menor, exigindo-se, para tanto, harmonia entre os genitores, mesmo na separação, e real disposição em compartilhar a guarda como medida eficaz e necessária à formação da prole, com vistas a sua adaptação à separação com o mínimo de prejuízo. A presença de conflitos entre os genitores inviabiliza o estabelecimento da guarda compartilhada na situação em exame, por não atender ao melhor interesse da criança, impondo-se manter a guarda unilateral deferida à genitora, assim como o arranjo de visitação paterna estabelecido no grau de origem. 2. Para que a obrigação alimentar seja minorada é necessário venham aos autos elementos suficientes de convicção a justificar a necessidade de redefinição do quantum. Caso concreto em que o alimentante não comprovou alteração do binômio alimentar desde a instituição do encargo, no ano de 2014, nada trazendo ao feito nesse sentido. Sentença confirmada. APELO DESPROVIDO.... (Apelação Cível Nº 70080063431, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sandra Brisolara Medeiros, Julgado em 27/03/2019). Nota-se que o entendimento das jurisprudências supracitadas demandam que guarda compartilhada deixou de ser facultativa para ser regra impositiva, assim deve ser instituída independente da vontade dos genitores ou de acordo, no entanto, quando houver efeitos negativos instalados por meio de conflitos que potencializam o riscos do melhor interesse da criança, o instituto não deve prevalecer. Outrossim, verificam-se posicionamentos em que a guarda compartilhada não consiste na possibilidade em transformar o filho em objeto, que fica à disposição de cada genitor por um determinado período, já que o instituto visa garantir a corresponsabilidade parental, continuidade e manutenção dos vínculos com a participação dos pais na formação, educação e desenvolvimento do filho. Para Maria Berenice Dias (2017, p. 550) compartilhar a guarda de um filho diz muito mais com a garantia de que ele terá pais igualmente engajados no atendimento aos deveres inerentes ao poder familiar, deve ser tomada como postura de que mãe e pai são igualmente importantes para os filhos de qualquer idade, essas relações devem ser preservadas para a garantia de que o adequado desenvolvimento fisiopsíquico das crianças ou adolescentes envolvidos venha a ocorrer. 4. DOS ALIMENTOS Para Maria Helena Diniz (2012, p. 1251) os pais separados judicialmente e os divorciados deverão cooperar para a criação e educação dos filhos, na proporção dos ser recursos, ambos tem o dever jurídico alimentar em relação a prole, proporcionalmente a seus recursos econômicos, logo o quantum da verba alimentícia terá por parâmetro a necessidade dos alimentandos e a possibilidade econômica de ambos os genitores. Já Carlos Roberto Gonçalves (2018, p.497) faz menção a definição de alimentos de Orlando Gomes, qual seja: são prestações para satisfação das necessidades vitais de quem não pode provê-las por si. Ainda, pontua que alimentos não se limita ao necessário para o sustento e a obrigação deprestá-los, como também o necessário para a manutenção da condição social e moral de alimentando. Nesse sentindo, os alimentos abarcam o sustento, vestuário, habitação, assistência médica, instrução, educação e lazer. De acordo com os seguintes Artigos do Código Civil: Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação. § 1o Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada. Art. 1.703. Para a manutenção dos filhos, os cônjuges separados judicialmente contribuirão na proporção de seus recursos. Assevera Carlos Roberto Gonçalves (2018, p.503) que somente os alimentos legais ou legítimos pertencem ao direito de família, assim cita a prisão civil pelo não pagamento da dívida de alimentos (Art. 5º, LXVII), limitando-se a decretação nos casos previstos nos Art. 1.694 supracitado e 1.566, III. Nesta seara, nota-se o artigo 528, § 7º, do Código de Processo Civil, qual seja: Art. 528. No cumprimento de sentença que condene ao pagamento de prestação alimentícia ou de decisão interlocutória que fixe alimentos, o juiz, a requerimento do exequente, mandará intimar o executado pessoalmente para, em 3 (três) dias, pagar o débito, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo. · § 7º O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende até as 3 (três) prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo. Por outro lado, Rolf Madaleno (2018, p. 333) aduz que na doutrina apresenta uma diferença entre os conceitos de dever (atrelado ao poder familiar com vínculo no parentesco das pessoas menores e incapazes) e de obrigação alimentar (figuram parentes mais distantes, como avós e irmãos e os filhos maiores e capazes fora do poder familiar). No entendimento da Maria Berenice Dias (2017, p. 583) o dever deriva da solidariedade familiar existentes entre os cônjuges, companheiros e demais parentes em linha reta e colateral, tem natureza assistencial, sendo necessária a demonstração da necessidade. A obrigação alimentar decorre do poder familiar, sendo ilimitada, há presunção da necessidade do credor, que não precisa prová-las. Uma vez cessado o poder familiar, pela maioridade ou emancipação, finaliza o ciclo do dever de sustento e inicia o vínculo da obrigação alimentar. Nesse sentido, o Código Civil nos termos do Art. Art. 1.566, no que concerne aos deveres de ambos os cônjuges: III - mútua assistência; e, IV - sustento, guarda e educação dos filhos; assim como, o Art. 1.568. Os cônjuges são obrigados a concorrer, na proporção de seus bens e dos rendimentos do trabalho, para o sustento da família e a educação dos filhos, qualquer que seja o regime patrimonial. Em tese, Carlos Roberto Gonçalves (2018, p. 499, 502, 503 e 506), pontua os alimentos quanto a natureza (naturais, civis e compensatórios); quanto a causa jurídica (legais ou legítimos, voluntários e indenizatórios); quanto sua finalidade (definitivos, regulares, provisórios, provisionais, e transitórios); e, quanto ao momento em que são reclamados (pretéritos, atuais e futuros). O autor, ainda, aduz que no direito brasileiro só admite os alimentos atuais e futuros, já os pretéritos não são devidos, malgrado, este último não se confunde com as prestações pretéritas que são fixadas na sentença ou acordo. 4.1 DAS DECISÕES DE GUARDA COMPARTILHADA COMINADAS COM ALIMENTOS Nas decisões mencionadas anteriormente as questões pertinentes aos alimentos foram garantidas, em algumas decisões foram revisadas e em outras mantidas o quantum em consonância com a necessidade, possibilidade e proporcionalidade. Não obstante, Rolf Madaleno (2018, p. 461), apresenta o Agravo Interno n. 70062253836 do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, que recusou o pedido de alimentos de uma mãe de uma criança em situação de guarda compartilhada, entendeu-se que não caberia as despesas extraordinárias da criança, pois ambos os pais exercem atividades laborativa, devendo cada qual arcar com as despesas. Ainda, o aludido doutrinador, pontua a Apelação Civil n. 1.0231.12.007549-5/001 do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, que reduziu os alimentos fixados em sentença por decorrência da guarda compartilhada, cuja permanência da criança ficaria a cada 15 (quinze) dias com os genitores. Para Maria Berenice Dias (2017, p. 552 e 555) o regime de compartilhamento não se conjectura na obrigação alimentar, já que as despesas do alimentando devem ser divididas entre ambos os pais, os alimentos podem ser buscados por meio judicial. Ademais, a concessão de guarda compartilhada não subtrai a obrigação alimentar. Verifica-se, portanto, o Enunciado 607 do CJF: a guarda compartilhada não implica ausência de pagamento de pensão alimentícia. Assim como abarca como justificativa: São duas situações distintas: guarda compartilhada refere-se às diretrizes de criação e educação do menor de forma geral, ao passo que a pensão alimentícia decorre da necessidade x possibilidade x probabilidade. 5. CONCLUSÃO Nota-se o avanço no Direito de Família no que concerne a guarda compartilhada. Percebe-se que os doutrinadores destacam o melhor interesse da criança e do adolescente, assim como os benefícios para os filhos, sobretudo na manutenção dos vínculos de forma saudável e salutar, sobretudo nos laços de afetividade em detrimento dos efeitos do processo de divórcio/separação ou dissolução da união estável. Por outro lado, pondera-se que não há lugar para esse instituto quando houver relações conflituosas entre os genitores, podendo ser prejudicial ao desenvolvimento biopsicossocial da criança e do adolescente. Desta forma, a guarda compartilhada de forma consensual está atrelada a estabilidade emocional dos genitores, a responsabilidade paterna e materna e igualdade em face dos direitos e responsabilidade parentais. Por conseguinte, cabe ao magistrado estabelecer atribuições e definir os períodos de convivência, com subsídio de parecer técnico da equipe multidisciplinar, em caso de hipótese de a guarda compartilhada ser determinada judicialmente. No estudo em tela, nota-se a questão dos alimentos aplicada em cada caso concreto, estão atreladas as situações em que o magistrado estabelece o quantum de acordo com as condições de necessidade, possibilidades e proporcionalidade de ambos os pais. Por fim, verifica-se que na maioria das decisões jurisprudenciais a fixação da Guarda Compartilhada cumulada com a fixação dos alimentos, considera-se o melhor interesse da criança, a moradia base e de referência, as atividades laborativas dos pais, seus proventos, tempo de convivência equilibrado, divisão de tarefas e funções na qualidade dos afetos e cuidados, assim como a divisão do ônus do poder familiar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACOSTA, Ana Rojas e VITALE, Maria Amalia Faller. Família: redes, laços e políticas públicas. – 5. ed. – São Paulo: Cortez: Coordenadoria de Estudos e Desenvolvimento de Projetos Especiais – PUC/SP, 2010. BRASIL.Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Data de acesso: 25/03/2019. _______. Lei n. 10.406, 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm. Acesso em: 23 de março 2019. _______. Estatuto da Criança e do Adolescente, Câmera dos Deputados, Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. DOU de 16/07/1990 – ECA. Brasília, DF. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm. Acesso em 23 de março de 2019. CASTRO, Flávia Lages de. História do direito: geral e Brasil. – 9.ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,2011. CORTEZ, Luís Francisco Aguilar Cortez. As Mudanças Sociais da Família e o Direito. In: FILHO, Arnaldo Lemos (organizadores). Sociologia Geral e do direito. 5 ª ed. – Campinas, SP: Editora Alínea,2012. DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. -12. ed. ver. atual. e ampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017. DINIZ, Maria Helena. Código Civil anotado. – 16. Ed.- São Saulo: Saraiva, 2012. ENGELS, Friedrich. 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