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Democracia

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Democracia:
Da organização da pólis à organização do Estado
Maria Paula Lima – Graduanda em Ciências Sociais na Universidade estadual de Londrina (UEL) - 2021
O que é democracia?
E para quem?
1 – O que é democracia?
Democracia: “[...] é geralmente vista como o sistema político mais capaz de assegurar a igualdade política, de proteger à liberdade e os direitos, de defender o interesse comum, de satisfazer às necessidades dos cidadãos, de promover o autodesenvolvimento moral e de permitir uma tomada de decisões eficaz que leve em consideração os interesses de todos” (Held, 1996).
O termo significa “governo do povo” (das palavras gregas demos = povo + kratein = governar), foi utilizado pela primeira vez por Heródoto, no século V a.c., para se referir a um tipo de experiência de exercício do poder que acontecer durante um determinado período, na Grécia Antiga.
Democracia direta: Tipo original de democracia praticado na Grécia antiga. Os indivíduos que fossem cidadãos, uma pequena minoria da sociedade, reuniam-se regularmente para julgar políticas e tomar grandes decisões.
 Democracia representativa: as decisões que afetam a comunidade não são tomadas pelo conjunto de seus membros, mas pelas pessoas que eles elegeram para essa finalidade. Na área do governo nacional, a democracia representativa assume a forma de eleições para os Congressos, Parlamentos ou organismos nacionais similares. Os países onde os eleitores têm a possibilidade de escolha entre dois ou mais partidos e nos quais a massa da população adulta tem direito ao voto são geralmente chamados democracias liberais.
Democracia participativa: Surgiu como alternativa de superação das deficiências do sistema representativo, uma vez que eles não são antagônicos. Ela tem uma importância limitada nas sociedades modernas, nas quais a massa da população não possui direitos políticos, sendo impossível para cada indivíduo participar ativamente da tomada que os afetem de decisões.
1 – Da organização da pólis
As concepções clássicas de "igualdade política" estavam muito distantes das ideias sobre "poder igual” para todos os adultos; a igualdade política era uma forma de igualdade para aqueles com o mesmo status (homem e nascido em Atenas) e, mesmo nesse caso, um status igual não significava, realmente, a oportunidade para influências políticas iguais. A lendária democracia era intimamente conectada ao que poder-se-ia chamar de tirania dos cidadãos.
Da cidadania ateniense:
A pólis clássica foi marcada pela unidade, solidariedade, participação e uma cidadania altamente restrita. 
Apenas os homens atenienses com mais de 20 anos podiam se tornar cidadãos. A democracia antiga era uma democracia dos patriarcas; as mulheres não tinham direitos políticos e seus direitos civis eram estritamente limitados.
Na Grécia antiga, um cidadão era alguém que participava no ato de "distribuir julgamentos e ocupar cargos públicos" (Aristóteles, A Política, p. 169). A cidadania significava a participação nos assuntos públicos. Esta definição clássica é notável em dois aspectos. Primeiro, ela sugere que os antigos gregos teriam considerado difícil localizar cidadãos nas democracias modernas, exceto, talvez, como representantes e ocupantes de cargos públicos.
2 – Dos ideais iluministas – Do contrato social
Jean Jacques Rousseau:
Rousseau via os indivíduos como envolvidos idealmente na criação direta das leis pelas quais suas vidas eram reguladas. A autoridade soberana é o povo, fazendo as regras pelas quais vive.
O papel do cidadão é o mais elevado a que um indivíduo pode aspirar. O exercício do poder pelos cidadãos é a única forma legítima na qual a liberdade pode ser sustentada. O cidadão deve criar e estar vinculado "à direção suprema da vontade geral”, a concepção publicamente gerada do bem comum (O Contrato Social, pp. 60-1).
Rousseau reconheceu que podem haver opiniões divergentes sobre o que é o "bem comum" e aceitou uma cláusula que permitisse o governo da maioria: “os votos do maior número sempre deverão se impor aos demais” (p. 153). mas o povo só é soberano na medida em que participa ativamente da articulação da "vontade geral".
Thomas Hobbes:
“Se os indivíduos abrirem mão de seus direitos transferindo-os para uma poderosa autoridade que possa forçá-los a manter suas promessas e tratados, uma esfera privada e pública, uma sociedade e um estado eficientes e legítimos podem ser formados. Assim, um contrato entre os indivíduos é essencial: um contrato social. Ele consiste de indivíduos entregando seus direitos de autogoverno a uma única autoridade (dali por diante autorizada a agir em benefício deles) com a condição de que todos os outros indivíduos façam o mesmo. Uma relação sem igual de autoridade é o resultado: a relação do soberano com o súdito. Um poder político sem igual é criado: o exercício do poder soberano, ou soberania, o uso autorizado (e, portanto, legítimo) do poder pela pessoa ou assembleia estabelecida como soberana (Benn, 1955; Peters, 1956).”
2 – Dos ideais iluministas: John Locke 
Em meados do século XVI, surgiu a ideia de autonomia do indivíduo, que deu origem ao individualismo e ao liberalismo político. 
Com isso, a democracia deixou de estar ligada diretamente a ideia da igualdade e passou a se relacionar primordialmente com a ideia de liberdade. Assim, o principal dilema político fundamentava-se na limitação do poder do soberano e na ampliação das liberdades individuais, como direito a dispor da propriedade material e a defender-se judicialmente.
John Locke:
Acredita que as regras do governo e sua legitimidade são sustentadas pelo consentimento de indivíduos. 
Contudo, Locke parece ter pensado que o consentimento ativo dos indivíduos é crucial apenas para a inauguração de um estado legítimo. Nesse sentido, o consentimento deveria seguir as decisões da maioria dos representantes "do povo", na medida em que estes, os depositários do governo, mantivessem o contrato original e seus acordos para garantir a "vida, a liberdade e o Estado".
Locke não impõe como condição para o governo legítimo, ou o governo por consentimento, a existência de eleições periódicas de uma assembleia legislativa e, muito menos, o sufrágio universal. Ele pensava que o poder político era detido "em confiança" por e para o povo, mas não conseguiu especificar adequadamente quem deveria ser considerado "o povo" e sob que condições essa "confiança" deveria ser entregue.
3 – A Divisão dos 3 poderes: Montesquieu
Montesquieu:
Analisou várias condições de liberdade, mas aquela que é mais notável em sua obra relaciona-se à maneira como as constituições poderiam definir limites invioláveis à ação do estado. Defendeu o governo constitucional como o mecanismo central para garantir os direitos do indivíduo (homem, adulto, dono de propriedades). Nas palavras do autor:
Como no país da liberdade, todo homem que é supostamente, um agente livre, deveria ser seu próprio governante; o poder legislativo deveria residir nas mãos do povo como um todo. Mas, uma vez que isto é impossível em grandes estados e, em pequenos estados, está sujeito a muitos inconvenientes, é justo que o povo utilize de seus representantes para efetuar as transações que não puder efetuar por si mesmo. (O Espírito das Leis, p. 71)
Montesquieu distinguiu, de forma mais precisa que Locke, o executivo, o legislativo e o judiciário. Adotou a noção de que não haveria qualquer liberdade digna desse nome
"onde o mesmo homem ou o mesmo grupo, sejam eles nobres ou do povo, exercessem os três poderes, o poder de promulgar as leis, o poder de executar as resoluções públicas e o poder de julgar as causas dos indivíduos”.
O executivo deveria ter o poder de vetar legislações inaceitáveis (legislações que considerassem como interferências em seu poder), regular as reuniões do corpo legislativo (seus horários e duração) c controlar, entre outras coisas, o exército pois, "pela própria natureza da coisa, seus negócios consistem mais em ação do que em deliberação" (p. 70-4).
Por outro lado, os poderes domonarca devem ser restritos pela lei. Para atingir este fim, é vital que o corpo legislativo detenha não apenas o direito de deliberar a política, emendar e alterar a lei, mas também o direito de vetar o executivo por razão de atos ilegais, de restringir a esfera de ação do executivo retendo o controle da base fiscal do estado e, se necessário, debandar o exército ou controlá-lo pela provisão de finanças em uma base anual (p. 74).
Enquanto Locke tinha pensado no judiciário como um braço do executivo, Montesquieu julgava que sua independência era crucial para a proteção dos direitos dos indivíduos. 
Sem um judiciário independente, as pessoas poderiam ter de enfrentar o aterrador poder de um executor, legislador, juiz e júri combinados em uma só pessoa e, nesse caso, os direitos certamente não poderiam ser garantidos.
A liberdade, escreveu Montesquieu, "é o direito de fazer tudo que a lei permite". As pessoas são livres para se dedicarem a suas atividades dentro da estrutura da lei.
Mas Montesquieu considerava que poucas pessoas poderiam ser eleitores em potencial; ele não concebeu que os legisladores ou os representantes tivessem de prestar contas ao eleitorado e ao monarca vastos poderes, inclusive a capacidade de dissolver o legislativo.
Além disso, ele ignorou questões importantes que tinham sido centrais para Locke: o direito dos cidadãos de dispensarem seus "representantes" ou alterar sua forma de governo, caso houvesse necessidade. No pensamento de Montesquieu, o governo continuava a ter que, em última instância, prestar contas apenas aos governantes.
3 – A Divisão dos 3 poderes: Montesquieu
4 - Jeremy Bentham e John Stuart Mill
Jeremy Bentham: 
“Uma democracia tem como seu objeto e efeito característico proteger seus membros contra a opressão e a depredação nas mãos daqueles funcionários que ela emprega para sua defesa” (Bentham, Constitucional Code, Livro I, p. 47).
Visam assegurar as condições necessárias para que os indivíduos se dediquem a seus interesses sem o risco de interferências políticas arbitrárias, participem livremente de transações econômicas, troquem trabalho e bens no mercado e se apropriem de recursos privadamente. Contudo, é significativo que este argumento tivesse um outro lado. Atado à defesa de um estado "mínimo", cuja esfera de ação e poder deveriam ser estritamente limitados, havia um forte compromisso, de fato, com certos tipos de intervenção estatal. Por exemplo, a restrição do comportamento de desobediência, seja por parte de indivíduos, grupos ou classes.
O legado utilitarista teve forte influência na formação da política do bem-estar social. Por outro lado, como tem sido enfatizado, a concepção de Bentham e de Mill do que seria uma participação legítima na política democrática e do âmbito da mesma tem muito em comum com a visão tipicamente restritiva da tradição liberal em geral: a "política", a "esfera pública“ e os "assuntos públicos" continuavam a ser sinônimos do reino dos homens, especialmente dos homens de posses.
John Stuart Mill:
Princípio do dano: por esse princípio, cada indivíduo tem direito de agir como quiser desde que as suas ações não prejudiquem outras pessoas. Se ação afeta diretamente apenas a pessoa que está realizando, a sociedade em tese não tem o direito de intervir, mesmo que o indivíduo esteja prejudicando a si próprio. Contudo, se os indivíduos fazem algo ruim para si mesmos ou para sua propriedade podem indiretamente prejudicar a coletividade, já que ninguém vive isolado, devendo por isso ser impedidos de fazê-lo. 
Nesse sentido, a democracia se desenvolve, no sistema liberal, com o alargamento gradual do direito do voto e na multiplicação dos órgãos representativos. 
5 - Social democracia: Rosa Luxemburgo e Antônio Gramsci 
Críticas – Noberto Bobbio
Bobbio tentou estabelecer que a "retomada" da questão da democracia pelo socialismo é fundamental para o futuro político do socialismo e que a democracia nas sociedades capitalistas é, na verdade, não o resultado de estratagemas capitalistas, mas de "conquistas que custaram sangue e lágrimas ao movimento operário". (Bobbio, 1977b, 39)
A democracia está cada vez mais colocada contra a dinâmica do desenvolvimento capitalista e, portanto, representa um elemento essencial na contra transformação da sociedade capitalista. Ela caracterizou-se até agora por um desenvolvimento da burocracia, e não pelo aumento da participação (desde as grandes vitórias do voto). O problema é como construir a democracia e o socialismo sem ampliar as estruturas hierárquicas.
O socialismo, segundo a maneira como Bobbio o define, é obviamente mais democracia, pelo menos num modelo político teórico do Estado. Apesar de Marx e de cem anos de prática socialista, diz ele, o problema central para o homem moderno, um problema que ainda não foi resolvido e talvez nem possa ser solucionado, é como um indivíduo pode, ao mesmo tempo, abrir mão de sua liberdade em função da entidade política de que faz parte e ser mais livre do que antes.
Antônio Gramsci e Rosa Luxemburgo
Defendia que o sufrágio universal é apenas o ponto inicial do processo de democratização do estado, enquanto para o liberalismo é o ponto de chegada. 
Afirmam que o aprofundamento do processo de democratização na perspectiva das doutrinas socialistas ocorre por meio na crítica à democracia representativa (e da retomada de alguns temas da democracia direta) e pela ampliação da participação popular então controle do poder por meio dos chamados “conselhos operários”. 
Portanto a democracia dos conselhos reconhece ter havido um deslocamento dos centros de poder dos órgãos tradicionais do estado para grande empresa, na sociedade capitalista. Logo, o controle deve acontecer nos próprios lugares da produção, isso é, o protagonista é o trabalhador real, não cidadão abstrato da democracia formal. 
O que é democracia?
E para quem?
Bibliografias e indicações
HELD, David. Modelos de democracia. Ed. Paideia. BH, 1987.
CARNOY, Martin. Estado e Teoria política. (equipe de trad. PUCCAMP) 2ª ed. Campinas:
Papirus, 1988.
SOCIOLOGIA PARA JOVENS DO SÉCULO XXI.
Indicações de filmes e séries:
A Onda (2008);
Clube da Luta (1999);
Democracia em Vertigem (2019);
As sufragistas (2015);
Selma (2014);
A 13ª Emenda (2016).

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