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Aula 04: Democracia, Cidadania e Direitos Humanos ENEM Profe. Alê Lopes Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 2 56 Sumário Introdução ............................................................................................................... 4 1. Democracia ......................................................................................................... 5 1.1. Uma perspectiva histórica da construção da Democracia ............................................. 6 1.1.1. Democracia e a Antiguidade Clássica ........................................................................................................ 6 1.1.2. Democracia a partir da Modernidade ..................................................................................................... 12 1.2. O problema da tirania da maioria ................................................................................ 14 2. A Democracia atual, ou melhor, as Democracias ................................................ 22 2.1. Teoria das Elites: Uma crítica ao instituto da soberania popular da Democracia ........ 31 2.2. Teoria da Democracia Participativa ............................................................................. 34 2.3. Democracia e desigualdade social ................................................................................ 37 2.4 Uma síntese importante ................................................................................................ 40 3. A Cidadania ........................................................................................................ 40 3.1. Movimentos Sociais e ação coletiva organizada .......................................................... 48 4. Os Direitos Humanos ......................................................................................... 53 5- Lista de questões ............................................................................................... 61 5.1 - gabarito 78 6 -Questões comentadas ........................................................................................ 78 Considerações Finais ............................................................................................ 110 http://www.estrategiavestibulares.com.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 3 56 Olá queridos e queridas alunos e alunas Que bom vê-los aqui nesta aula. Espero que estejam gostando e aproveitando bastante nosso curso de Sociologia. Antes de tudo, alerto que esta aula corresponde à do cronograma que está descrita como Direitos, Conflitos Sociais e Cidadania. Fiz um rearranjo de conteúdo porque, por opção pedagógica, Conflitos Sociais e Movimentos Sociais são assuntos que atravessam todas as discussões. Assim, é melhor o conteúdo geral abarcar Direitos Humanos e Cidadania, que é o título deste livro digital, e o conteúdo específico – que é abordado nesta aula – considerar Conflitos Social e Movimentos Sociais. OK? Quero lhes confessar que essa é uma das minhas aulas preferidas. É minha especialidade como pesquisadora. Um tema que faz meus olhos brilharem, meu estômago “borboletar” e meu coração disparar. Sim, é paixão que chama, né. É isso que desejo que vocês encontrem na vida profissional de vocês: paixão! E para tanto, sabem que podem contar comigo! S2 Então, mãos à obra, cérebro em funcionamento e vamos para mais uma aula. Pega seu café, seu caderninho de anotações e vem comigo! http://www.estrategiavestibulares.com.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 4 56 No âmbito internacional, após a 2ª Guerra Mundial, formou-se um progressivo consenso internacional sobre a importância e o valor da democracia. É claro que ainda tivemos as Ditaduras Militares na América Latina e outros Regime autoritários espalhados pelo mundo, mas, o importante aqui, é notar o aspecto de formação de um consenso em âmbito internacional. INTRODUÇÃO Nesta aula continuamos nossos estudos no campo de pesquisa das Ciências Políticas. Trataremos sobre democracia, cidadania e direitos humanos. Juntos, esses conceitos formam uma arquitetura política que se consolidou como paradigma dos Estados Ocidentais, sobretudo, pós 2ª. Guerra Mundial. No livro A Era dos Extremos, o historiador Eric Hobsbawm sugere que o século XX ocorreu de forma breve, “o breve século XX”, momento histórico em que os governos autoritários foram derrotados pelo sentido mais geral da liberdade e da democracia. Não diferente, o Cientista Político e Filósofo, Norberto Bobbio, no livro O Futuro da Democracia, nos sugere que, apesar das adversidades no século XX, a democracia venceu. Por isso, podemos considerar que, de maneira sintética, Não por menos, tratados internacionais foram estabelecidos para reafirmar a importância e o valor da democracia e da paz mundial, seja no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), seja no da Organização dos Estados Americanos (OEA), ou até mesmo – mais recentemente – no âmbito da União Europeia. Alguns desses tratados são parte dos documentos que compõe o arcabouço dos chamados Direitos Humanos. Assim, queridos e queridas, não há como tratar de direitos de cidadania e direitos humanos sem estabelecer o que é democracia. Isso porque, na prática, não há democracia sem direitos do homem reconhecidos e protegidos quer seja pela legislação interna (nacional) como no chamado Sistema Internacional. Nesse sentido, devemos estudar os conceitos e abordagens teóricas, mas já quero avisá-los: democracia, cidadania e direitos humanos são elementos concretos fruto de uma historicidade própria cujo sentido é de avanços e retrocessos. Como diria Norberto Bobbio em A Era dos Direitos: Do ponto de vista teórico, sempre defendi — e continuo a defender, fortalecido por novos argumentos — que os direitos do homem, por mais fundamentais que sejam, são direitos históricos, ou seja, nascidos em certas circunstâncias, caracterizadas por lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos de modo gradual, não todos de uma vez e nem de uma vez por todas. Diante dessas afirmações iniciais, vamos fazer um passeio histórico e conceitual nessa grande e densa área do conhecimento de maneira focada nas abordagens que são mais cobradas nas provas de Sociologia, ou ainda, de Ciências Sociais. http://www.estrategiavestibulares.com.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 5 56 Mas que direitos são esses, Profe? Imprensa Livre Alternância de Poder Partidos Políticos Eleições Periódicas Democracia no mundo contemporâneo 1. DEMOCRACIA O que exatamente estamos tratando quando falamos em democracia? Essa pergunta já moveu grande quantidade de teóricos e líderes políticos. É longa a história pela efetivação da democracia, bem como do debate teórico acerca da questão. De um modo geral, em perspectiva histórica, a democracia está relacionada com o reconhecimento e a proteção dos direitos dos homens. Calma, você verá na seção sobre Cidadania. Mas já anota aí: direitos de liberdade, igualdade e de participação política . Além disso, ao longo do Século XX, a democracia foi sendo entendida como um “método ou um conjunto de regras de procedimento para a constituição de Governo e para a formação das decisões políticas (ou seja, das decisões que abrangem a toda a comunidade)”1 Como falamos na introdução, o consenso sobre a validade e a necessidade da democracia foi expresso, do ponto de vista quantitativo, em um número maior de países com sistemas de representatividade e de alternância de poder, em que predomina o pluripartidarismopartidário e imprensa livre. Esses quatro elementos, que compõem um regime democrático, são indicadores da amplitude da democracia no mundo. Veja o esquema É preciso compreender, então, como a democracia se construiu e se constrói, quais são os principais conceitos contemporâneos de democracia, quais as posições políticas e as polêmicas em torno da ideia e da prática da democracia. Para tanto, a fim de construirmos uma base mais sólida, vamos resgatar um pouquinho das origens da democracia, só para aquecer e refrescar o cérebro. Em seguida, passaremos o foco para o século XX e, mais do que nunca, ao jovem século XXI. Vamos lá!! 1 BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política, p. 326. http://www.estrategiavestibulares.com.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 6 56 Art. 1º Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum. (...) Art. 4º A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo: assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Esses limites apenas podem ser determinados pela lei. (...) Art. 6º A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou através de mandatários para a sua formação. Ela deve ser a mesma para todos, seja para proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos. (Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, 1789. Disponível em: www.direitoshumanos.usp.br. Acesso em 15 /04/2020) 1.1.1. Democracia e a Antiguidade Clássica “Democracia” é, como se sabe, uma palavra grega. A segunda metade da palavra significa “poder” ou “governo” [...]. Démos era uma palavra de múltiplas significações, entre as quais “o conjunto do povo” (ou, para ser mais preciso, o corpo de cidadãos.) (Moses I. Finley. Democracia antiga e democracia moderna, 1976) Segundo a professora Cristina Costa2, desde a invenção da agricultura e do surgimento da propriedade privada a sociedade humana conta com diferentes tipos de desigualdades e de formas de dominação. A marca das relações sociais seria, no que diz respeito ao poder, a concentração nas mãos de poucos. Nesse sentido, surgiram as mais variadas formas de revoltas e de sublevações como reação à concentração de poder e aos privilégios. Lembro das revoltas religiosas, durante o século XVI, que motivaram verdadeiras guerras no centro da Europa em defesa da liberdade de escolher a própria crença e de afirmá-la publicamente. Depois de décadas de lutas, em 30 de abril de 1598, o Rei Francês Henrique IV promulgou o Édito de Nantes, documento que garantia liberdade de culto aos cristãos. 65 anos depois, o documento foi outorgado e o huguenotes foram novamente perseguidos. Esse foi o motivo que expulsou grupos protestantes da Europa que acabaram por fundar as 13 colônias, na América do Norte. Outro exemplo clássico foi a Revolução Francesa, a partir de 1789, que pôs fim ao Antigo Regime na França, marcado por privilégios, e deu início a um longo processo das revoluções liberais burguesas. Nesse momento histórico também existiu um documento reconhecendo determinados direitos. Veja o que dizia a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, ao proclamar a liberdade e os direitos fundamentais do homem. 2 COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à Ciência da Sociedade. 4ª Ed. São Paulo: Ed. Moderna. 2010. p. 148-174. 1.1. UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA DA CONSTRUÇÃO DA DEMOCRACIA http://www.estrategiavestibulares.com.br/ http://www.direitoshumanos.usp.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 7 56 (...) no governo democrático, que chamamos isonomia (...) não é permitido nenhum dos abusos inerentes ao Estado monárquico. O magistrado é eleito por sorte, e torna-se responsável pelos seus atos administrativos, sendo todas as deliberações tomadas em comum (...), pois todo poder emana do povo. (Heródoto)3 Sobre a história da democracia grega, é válida a crítica de autores e pensadores mais rigorosos que argumentam não ter havido na Grécia democracia verdadeira, mas uma democracia elitista, restrita. Nesse sentido, percebe que é possível falarmos que a construção da democracia se insere em uma larga história marcada por disputas entre grupos sociais, castas, minorias étnicas, partidos políticos, entre outras. Por isso, como regra, o conceito de democracia e sua aplicação prática foram construídos como alternativa ao uso da força e da dominação baseada em privilégios para grupos minoritários. Na Antiguidade Clássica foi assim. Vejamos Em algumas cidades-estados da Grécia Antiga, com destaque para Atenas, a organização democrática da vida comum predominou. Por volta de 600 a.C., quando as atividades agrárias, o artesanato e o comércio contribuíram para a prosperidade de Atenas, grupos sociais passaram a cobrar a participação no poder político das decisões da polis. Com Sólon (630-560 a.C), foram feitas leis que asseguraram a noção de demokratia, o poder do povo ou o poder exercido pelos cidadãos. Mas foi em 510 a.C, com as Reformas de Clístenes é que vemos a promoção da democracia por meio de leis que garantiam a igualdade política entre os cidadãos. Isso foi possível porque ele fez uma reforma nas instituições e ampliou a participação política no governo. Sangue e riqueza já não eram mais critérios para participar da política. A Grécia foi, então, o berço da democracia, principalmente, Atenas, onde o povo, reunido no Ágora, para o exercício direto e imediato do poder político, transformava a praça pública “no grande recinto da nação”, cuja principal arma era a palavra, o discurso, a retórica. Mas, lembre-se, da democracia ateniense estavam excluídos: Mulheres Escravos Estrangeiros Em termos quantitativos, em Atenas, de um total de 320 mil pessoas, 40 mil eram consideradas cidadãs e tinham acesso às instâncias de poder. A democracia ateniense, no que diz respeito à participação na decisão política, se resumia a presença dos cidadãos nas Assembleias públicas, discussão e deliberação. Ou seja, uma forma de democracia direta, participativa. Mais adiante na história, com os romanos, o exercício da democracia passou a existir na fase da República Romana. Assim como nos gregos, em Roma, a cidadania também era restrita, pois 3 HERÓDOTO, História, Livro III. 1957, p.248-249. http://www.estrategiavestibulares.com.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 8 56 mulheres, escravos, artesãos, camponeses e estrangeiros não participavam das decisões. Em relação aos gregos, os romanos aprimoraram a ideia de República (“coisa pública”). A ampliação das riquezas, fruto das conquistas territoriais, em um contexto desigualdades sociais e políticas gerou muita tensão entre plebeus e patrícios. Ao longo da história esses conflitos, acabaram por gerar um conjunto de leis conhecidas como “leis plebeias”. De um modo geral, elas representam um alargamento da cidadania por meio leis que garantiam igualdade jurídica ou proteção social Pegue o sentido dessa articulação entre história, sociologia e ciência política: Lutas sociais e conquistas da plebe As desigualdades econômicas e políticas entre patrícios e plebeus causavam uma situação tensa em Roma. Apesar de o poder não estar completamente concentrado no grupo dos patrícios, como vimos acima, estes detinham diversos privilégios não acessíveisaos plebeus. Perry Anderson afirma que a estrutura de poder não era exatamente oligárquica na forma - em relação às instituições - e sim profundamente aristocrática no conteúdo das leis e da política, “pois atrás dela configura-se uma estratificação econômica da sociedade romana de ordem bastante diversa” (1989, p. 56). Portanto, por mais que houvesse previsão para participação política de diferentes grupos sociais, a questão da desigualdade social impactava a disputa equilibrada de interesses. Assim, patrícios conseguiam continuar aprovando leis que os beneficiavam. Um exemplo disso é a existência da escravidão por dívidas, até 326 a.C., que assolava o plebeu mais empobrecido. Na ampla maioria das vezes essas dívidas eram contraídas com os patrícios. Contudo, o funcionamento e a proteção militar da cidade dependiam dos plebeus, já que eles garantiam a superioridade numérica das forças militares em Roma. Por isso, nas primeiras décadas republicanas, nesse contexto conflituoso, os plebeus foram percebendo sua importância para a cidade e iniciaram uma série de lutas sociais e políticas que durariam mais de cem anos. Vejamos como começou: Em 494 a.C., portanto 15 anos após a queda da monarquia, os plebeus fizeram uma espécie de greve (paralisação coletiva de atividade profissional). Essa mobilização ficou conhecida como Revolta do Monte Sagrado. Todos os plebeus saíram da cidade deixando-a desprotegida e desabastecida. Subiram uma montanha chamada Monte Sagrado. De lá, emitiram exigências pedindo ampliação na participação política dos plebeus nas instituições políticas da República. Caso não fossem atendidos, construiriam uma nova cidade. O desfecho desse conflito foi a criação do cargo TRIBUNO DA PLEBE. Era um cargo no SENADO a ser ocupado por um Plebeu, eleito entre os mesmos. Lembra-se de que, até antes da Revolta, no Senado, só podiam participar os patrícios? Então, agora, os plebeus também podiam! Eram 2 vagas http://www.estrategiavestibulares.com.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 9 56 de Tribuno da Plebe. Eles tinham a função de vetar leis que fossem inapropriadas para a classe que representavam. Em diversos outros momentos, alguns mais tensos e outros menos, houve Revoltas Plebeias. Acompanhe abaixo a cronologia e o significado de cada uma dessas conquistas, cujo sentido histórico foi aumentar a participação política dos plebeus, bem como garantir mais direitos de cidadania a esse grupo. Se liga aí!! 450 a.C.: Lei das 12 Tábuas – até então, o direito era oral e baseado nas tradições populares. Assim, havia situações em que a aplicação do direito dependia dos interesses e dos poderes das pessoas envolvidas. Com a Lei das 12 Tábuas, as leis passaram a ser escritas. Foi feita a compilação e harmonização das leis ao princípio da igualdade. Essa situação possibilitou que as leis se tornassem mais acessíveis a parcelas mais amplas da população. 445 a.C.: Lei da Canuleia – essa norma tornava legal o casamento entre grupos sociais distintos, ou seja, patrícios e plebeus podiam se casar. Isso potencializou a ascensão social dos plebeus enriquecidos. Com o tempo, essa relação matrimonial entre esses dois grupos sociais deu origem a um terceiro grupo conhecido como nobilitas. 367 a.C.: Lei de Licínia – essa lei marcou outro momento importante da história política das lutas dos plebeus por maior participação nas instituições da República. A partir dela, os Plebeus puderam ocupar o maior cargo da Magistratura, o de Cônsul. Em 366 a.C. foi eleito o primeiro Consul Plebeu. Além disso, a mesma lei definiu que as terras conquistadas em guerra deveriam ser distribuídas. 326 a.C.: Lei de Poetélia – garantiu direitos civis aos plebeus, pois aboliu a possibilidade de escravidão por dívida. Com isso, os plebeus não ficavam completamente submetidos aos grupos mais ricos. 300 a.C.: Lei de Ogúlnia – essa norma dizia respeito a outro elemento fundamental da vida social e dos direitos civis dos cidadãos: o direito à igualdade religiosa. Na Roma Antiga, os plebeus não podiam adorar diretamente os deuses mais importantes. O historiador Fustel de Coulanges afirma sobre as religiões politeístas da antiguidade que: “Não somente não oferecia à adoração dos homens a um único deus, mas ainda seus deuses não aceitavam a adoração de todos os homens”4. Na prática, isso significava que plebeus não podiam ocupar postos religiosos mais relevantes. Essa Lei concedeu igualdade religiosa a todos, permitindo que os plebeus, enfim, alcançassem altos cargos sacerdotais. 287 a.C.: Lei de Hortênsia – estabeleceu que as decisões da Assembleia tinham força de lei. Assim, as decisões dos plebeus eram válidas não somente para eles, mas também para todo o povo de Roma, sem obrigatoriedade do sufrágio dos senadores. Plebis scitum era como se chamava o novo princípio legal que os plebeus acrescentaram ao Direito Romano a partir da Lei de Hortênsia. Essa "lei imposta pelo povo" é o modelo de todos os "plebiscitos”. Com a imposição do plebis scitum em 287 a.C., terminaram as lutas sociais em Roma e iniciou-se uma época áurea para a cidade. Nesse contexto de disputa por espaços, se na Grécia Antiga predominou a democracia direta, em Roma predominou a forma representativa de exercício da política. Isso porque, o modo 4 Fustel de Coulanges. A cidade antiga. http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/cidadeantiga.html.Acesso em 4-02-2019. http://www.estrategiavestibulares.com.br/ http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/cidadeantiga.html.Acesso Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 10 56 de vida romano, seja em função da extensão territorial, seja em função do controle da inserção da plebe na política, ou mesmo do processo de formação de Roma, priorizou um sistema representativo. Sobre a formação de Roma, lembre-se de que no início da formação de Roma, os patriarcas das famílias (os chefes dos clãs), que se reuniam em um Conselho de Anciãos para governarem o território, optaram por eleger um rei com funções religiosas, militares e judiciais. Esses patriarcas eram conhecidos como PATRÍCIOS e eram os membros do Conselho de Anciãos. Proprietários de terras, os patrícios formavam uma verdadeira aristocracia. Eles foram personagens importantes na história romana porque existiram praticamente em todos os três períodos: durante a Monarquia; na República; e no Império. Posteriormente, ainda sob a Monarquia, o Conselho de Anciãos se transformou em uma organização política mais complexa, o SENADO. Por sinal, Senado significa, literalmente (do latim), Conselho de Anciãos. Com efeito, durante a Monarquia, as atividades mais importantes do Senado eram a de escolher os reis e a de aconselhar o monarca. Então veja, querido e querida aluna, os mecanismos da democracia, na Antiguidade Clássica, caminhavam para aprimoramentos, porém, mantendo uma característica comum: a exclusão de grandes setores da sociedade. De toda forma, algumas expressões chaves daquele período da Antiguidade merecem ser guardadas, pois são elas que estarão na base da democracia moderna. Olha só: Para finalizar essa parte sobre a importância histórica da Antiguidade, vamos ler um trecho sobre a extensão do direito de cidadania em Roma: O mérito das instituições romanas (...) consiste em ter definido a comunidade por elas regida com base num vínculo jurídico e numa ordem política estritamente determinada. Por causa disso, a res publica ganha uma outra consciência: formada por experiência e por reflexão, é também (...) a expressão da lei natural. A cidade ecumênica [Roma] pode ser assim compreendida, enquanto concede progressivamente o direito de cidadania e faz com que os povos conquistados se http://www.estrategiavestibulares.com.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEMAula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 11 56 beneficiem das garantias do direito romano, como núcleo de uma organização universal que faz de cada indivíduo um cidadão do mundo, um cosmopolita5 (FUVEST-2001) “Em verdade é maravilhoso refletir sobre a grandeza que Atenas alcançou no espaço de cem anos depois de se livrar da tirania... Mas acima de tudo é ainda mais maravilhoso observar a grandeza a que Roma chegou depois de se livrar de seus reis.” (Maquiavel, Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio). Nessa afirmação, o autor a) critica a liberdade política e a participação dos cidadãos no governo. b) celebra a democracia ateniense e a República romana. c) condena as aristocracias ateniense e romana. d) expressa uma concepção populista sobre a antiguidade clássica. e) defende a polis grega e o Império romano. Comentário Essa passagem de Nicolau Maquiavel aborda com precisam cirúrgica a tensão da disputa entre reis romanos do período monárquico e o Senado. O Senado saiu vitorioso da disputa de poder e constituiu a República. Uma forma de você pensar rápido e responder essa questão, sem entrar muito na história é: em Roma, o que veio depois dos reis? Pronto, não poderia ser o Império, pois este se formou após a República. Ah, para você não esquecer: Gabarito: B 5 CHÂTELET, François. DUHAMEL, Olivier. KOUCHNER-PISIER, Évelyne. História das ideias políticas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990. p 24-25. http://www.estrategiavestibulares.com.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 12 56 1.1.2. Democracia a partir da Modernidade Como o advento da Idade Média, as possibilidades democráticas se perderam. Isso porque uma sociedade estamental, cujas funções, acesso de privilégios e deveres, não pode ser democrática. Não há participação, não há direitos. O poder estava nas mãos dos senhores proprietários de terras, o senhor feudal. O fato é que essa sociedade estamental permaneceu existente durante toda a Era Moderna. O Estado Moderno do tipo Absolutista era caracterizado pelo poder político concentrado nas mãos do monarca e, no máximo, era exercido no sistema de cortes pela nobreza palaciana. Assim, entre os séculos XV e XVIII, essa sociedade foi marcada por exclusão, sistema de privilégios e a negação de muitos tipos de direitos, como a liberdade religiosa, a desigualdade jurídica, o abuso do poder de tributar, entre outros. Vimos na nossa aula de Poder, Política e Estado que os indivíduos eram simplesmente tratados como súditos, obrigados a deveres apenas. O monarca era considerado o Soberano, Leviatã, como denominava Hobbes. Ser soberano significa, na prática, aquele que é detentor de direitos e poderes. Um dos principais exemplos de luta precedente contra a tirania dos déspotas soberanos foram as lutas religiosas. Conforme nos ensina Bobbio, é por meio dessas lutas eu o direito de resistência à opressão vai sendo desenhando e, ao longo do tempo, afirmando-se. Isso porque as pessoas passam a perceber que possuem um direito substancial e originário, o direito do indivíduo a não ser oprimido e de se aceitar em qualquer que seja a religião sem depender da aprovação do soberano. Assim, a partir do século XVIII, as monarquias europeias eram um entrave para o desenvolvimento do capitalismo e para a inclusão de novas demandas dos diferentes grupos sociais. No geral, as instituições políticas vigentes não davam conta de responder à complexidade social que se formava: mais dinâmica, expansiva, com exigência de mobilidade social, dentre outros. Nesse contexto, o resgate de valores democráticos, aqueles já levantados pelos Gregos, os quais foram reforçados pelos iluministas, estimulou a luta contra os abusos do poder real e contra os privilégios da nobreza. A teses liberais promoveram uma inversão na concepção de soberania de modo a colocar os indivíduos no centro da política. Conforme Norberto Bobbio No plano histórico, sustento que a afirmação dos direitos do homem deriva de uma radical inversão de perspectiva, característica da formação do Estado moderno, na representação da relação política, ou seja, na relação Estado/cidadão ou soberano/súditos: relação que é encarada, cada vez mais, do ponto de vista dos direitos dos cidadãos não mais súditos, e não do ponto de vista dos direitos do soberano [...] Foi um momento das revoluções liberais burguesas: Revolução (Independência dos Estados Unidos), 1776 Revolução Francesa, 1789 Revoluções do século XIX http://www.estrategiavestibulares.com.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 13 56 E quais eram os lemas que impulsionaram a construção dessa democracia moderna? Sim, acertou: LIBERDADE, IGUALDE, FRATERNIDADE e solidariedade. Diante disso, o mais adequado, então, é falarmos em um conjunto complexo de democracias em surgimento, pois cada país estabeleceu um tipo de arranjo a partir de seus valores criados. De toda forma, se formos pensar em um denominador comum para uma definição crítica do surgimento das democracias modernas e possível de ser aplicada a todos os países, seria: A democracia é a instituição nacional historicamente constituída que congrega os meios pelos quais as elites econômicas dominantes e ascendentes legitimam suas reivindicações num jogo complexo de influências, em que essas reivindicações passam a ser defendidas como se fossem demandas de toda a população. Pela complexidade do capitalismo moderno e pela importância crescente do mercado na vida social, essa nova versão de democracia implica sempre a diminuição dos entraves político em favor da livre circulação de mercadorias e da acumulação de capital6. Perceba, então, que o surgimento da democracia moderna estava, por um lado, intimamente ligado ao surgimento do capitalismo, por outro, em oposição à organização política do Antigo Regime. Essa circunstância história, inclusive, fez com que muitos estudiosos da política, no século XX, identificassem a viabilidade da democracia em economias mais avançadas, enquanto os países de economias periféricas teriam dificuldades em reconhecer e proteger os direitos dos homens. Tudo o que estudamos sobre poder, política e Estado na aula 03 é fundamental aqui. Fique de olho!! Bem, ainda sobre a relação entre o surgimento da democracia e o capitalismo industrial em ascensão, convém explicitar quais elementos essa dobradinha ajudou a superar: fim da escravidão, das relações de servidão, dos privilégios do Antigo Regime. 6 COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à Ciência da Sociedade. 4ª Ed. São Paulo: Ed. Moderna. 2010. p. 151. Em comum, as revoluções liberais burguesas estavam baseadas na ampliação da cidadania, na aplicação de leis, na limitação de poderes, em um sistema formal de justiça (a partir de Constituições) e na afirmação dos nacionalismos. http://www.estrategiavestibulares.com.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 14 56 Basta pensarmos nas reivindicações dos trabalhadores ingleses, alemães, franceses, norte- americanos, na virada do século XIX para o XX, por mais justiça social. Assim, essas novas desigualdades demandavam o reconhecimento de novos direitos que, historicamente foram sendo elencados na esfera da discussão sobre igualdade de oportunidades e riqueza. A luta pela criação de uma lei e limitação da jornada de trabalho é uma das primeiras lutas de caráter social. 1.2. O PROBLEMA DA TIRANIA DA MAIORIA Veja, então, que uma multidão de pessoas, os cidadãos, passava a ser livre e desimpedida para novos processos econômicose políticos. Os indivíduos passaram à condição de consumidor, assalariado, sujeitos políticos portadores do direito ao voto, entre outros. Claro, não de uma vez, e nem da mesma forma em todos os países. Digo isso, de uma perspectiva ampla e histórica. OK? Já no que dizia respeito à efetivação da democracia enquanto um modelo de sociedade a ser perseguido, a combinação de LIBERDADE e IGUALDADE sempre esteve no centro das discussões. Isso porque, embora o capitalismo tenha proporcionado certas liberdades – principalmente as de mercado – não se atingiu a igualdade de condições e oportunidades. Na verdade, o nascente mundo urbano-industrial capitalista passou a contar com novas desigualdades proporcionadas pelo padrão de acúmulo de riquezas. Efetivamente a discussão de igualdade era, inicialmente, um reconhecimento de que todo homem nasce livre e igual - tal como afirmado na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Isso, na prática significava que todo mundo tinha o mesmo direito de liberdade. Isso era igualdade jurídica. Contudo, as péssimas condições de vida e trabalho, a falta de dignidade humana em diversas situações laborais, acabou gerando mobilizações e lutas sociais que extrapolaram as ideias iniciais de liberdade e igualdade do campo político do jusnaturalismo e passaram a desenvolver a ideia de justiça social. Sobre o dilema entre LIBERDADE e IGUALDADE, alguns pensadores se destacaram, como o inglês John Stuart Mill (1806-1873) e o francês Alex de Tocqueville (1805-1859). São pensadores da filosofia política muito importantes para entendermos a democracia atual. Stuart Mill e Alex de Tocqueville reconheceram que as ameaças à LIBERDADE não estariam somente no Estado (absolutista e/ou despótico), mas nas massas (na população) que, a depender da forma com que absorvessem as possibilidades da LIBERDADE, poderiam levar a uma imposição da maioria. Com as revoluções burguesas os direitos à liberdade e à igualdade, somados ao repúdio a governos opressores, assumiram a forma de leis protetivas de direitos. Uma das proteções mais destacadas e que você precisa guardar é o direito à propriedade privada, à liberdade, à vida, entre outros. http://www.estrategiavestibulares.com.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 15 56 A grande pergunta reflexiva para Tocqueville era se seria possível a humanidade caminhar para a igualdade social sem ferir as bases da liberdade dos indivíduos. Interessante dilema, não é mesmo? Para o pensamento tocquevilliano, a liberdade depende da vontade e da ação da ação humana, sendo que o “igualitarismo crescente pode constituir uma temível ameaça à liberdade dos homens”8. Isso porque a homogeneização da sociedade, causada pelo igualitarismo levaria a uma fatal limitação da liberdade e, com isso, desenvolver-se-ia a conformação de um despotismo da maioria. “Diz Tocqueville que a possibilidade do despotismo aumenta nas sociedades modernas, que ele chama de democráticas, nas quais a “igualdade de condições” poderia levar os indivíduos não à associação e à ação em comum, mas ao isolamento.”7 (p 10) De um lado, Mill e Tocqueville temiam a “tirania da maioria”, do outro, fizeram duras objeções ao egoísmo proporcionado pelas sociedades burguesas. A questão, então, seria achar um equilíbrio. Tocqueville analisou o desenvolvimento de algumas sociedades de seu tempo, principalmente os Estados Unidos. Fruto de suas pesquisas ele escreveu o livro Democracia na América, no qual, a partir da análise dos valores, dos hábitos e dos costumes, bem como das instituições políticas em formação nos Estados Unidos, identificou a IGUALDADE como uma característica das democracias modernas. Isso porque, juntamente com a LIBERDADE, a IGUALDADE só seria possível de ser realizada em democracias, justamente porque estava amparada pela liberdade civil e política. Nesse sentido, Tocqueville exalta o modelo de democracia norte-americano. Em A democracia na América há uma passagem que evidencia seu método: “Para conhecer a legislação e os costumes de um povo, é preciso então começar pelo estudo de sua situação social.” Agora, apesar desse entusiasmo, o pensador francês também identificou um problema: o de a democracia possa levar a uma situação em que a maioria imponha suas vontades, isto é, “a tirania da maioria”. Por esse motivo, Alexis de Tocqueville não concordava com o programa socialista de sociedade, pois, para ele a igualdade socialista levaria ao sufocamento do indivíduo, na medida em que um dos fundamentos da liberdade seria minado, o da propriedade privada. Conforme o autor, 7 WEFFORT, Francisco C. (org.). Os clássicos da política. Vol 2. Editora Ática, São Paulo: 2012, p. 10. 8 REGO, Walquiria Domingues Leão. Indivíduo, liberdade e igualdade no pensamento liberal e em Marx. In: Perspectivas – Revista de Ciências Sociais, V 11, São Paulo:1988, pp 1-19. http://www.estrategiavestibulares.com.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 16 56 “a democracia visa à igualdade na liberdade. O socialismo deseja a igualdade na limitação e na servidão”. Com essa crítica de Tocqueville ao socialismo, podemos dizer que ele antecipa um visão crítica dos Estados Socialistas que se formaram no Bloco Comunista, liderado pela URSS no século XX, qual seja: a crítica de que o Estado comunista/socialista, a partir de um regime de partido único, impõe medidas totalitárias contrárias à liberdade individual. Para harmonizar, então, LIBERDADE e IGUALDADE, a democracia de Tocqueville só seria viável enquanto forma plena se medidas fossem tomadas contra a possibilidade da tirania de um lado e, do outro, contra o individualismo que o próprio sistema capitalista desperta nas pessoas a partir do consumo. Assim, segundo o francês, uma democracia deveria contar com: • espírito da cidadania; • solidariedade; • participação política; • organização da sociedade civil para a vida pública (República); • uma sociedade sem classes. Para este pensador francês, esse tipo de sociedade estaria nascendo nos Estados Unidos. No mesmo sentido de Tocqueville, John Stuart Mill temia a “tirania da maioria”. Para ele, o governo eleito selecionaria as diferentes visões de mundo da maioria da população e, uma vez estabelecidas, essas visões poderiam tender a oprimir a minoria. Assim, a “tirania da maioria” significa a possibilidade de um governo, mesmo que justamente eleito, tornar-se tirano e com isso proporcionar danos à sociedade9. O risco seria ainda maior diante de uma sociedade, de um povo, com baixa instrução para a democracia, ou seja, um povo sem CULTURA DEMOCRÁTICA. Nesse sentido, a opinião pública, distorcida não seria capaz de compreender o que, de fato, é uma democracia. Consequentemente, essa opinião majoritária e distorcida colocaria visões de mundo já distorcidas no próprio governo. Ou seja, esse é o risco de ter um possível “governo da maioria”. Segundo a professora Elizabeth Balbachevsky, “Ao tempo de Stuart Mill, a questão candente que desafiava a imaginação das elites políticas inglesas era a incorporação “pacífica” da massa de trabalhadores depauperados pela industrialização, que batiam às portas do sistema político.”10 9 KELLU, Paul (et all). John Stuart Mill. In: O livro da Política. São Paulo: Ed. Globo, 2013, p. 176-181 10 BALBACHEVSKY ,Elizabeth. Stuart Mill: liberdade e representação In: WEFFORT, Francisco C. (org.). Os clássicos da política. Vol 2. Editora Ática, São Paulo: 2012, p 193. http://www.estrategiavestibulares.com.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 17 56 Um bom exemplo para entender o argumento de Stuart Mill sobre liberdadee democracia é o uso do cigarro. Pense no seguinte: 1 – cada um é livre para fumar, inclusive em lugares públicos, pois o dano é causado a própria pessoa que escolheu esse caminho de fumar; 2- a partir do momento em que pesquisas comprovaram que fumar próxima a outras pessoas causa danos coletivos, essa escolha individual, o ato de fumar, passou a sofrer restrições em locais públicos. A totalização da sociedade por determinadas visões de mundo majoritárias seria um risco para a LIBERDADE dos indivíduos. Para Mill, a individualidade é o alicerce de uma sociedade. A questão, então, é como defendê-la. Ele tentou buscar uma fórmula para definir o equilíbrio entre a autonomia dos indivíduos e a interferência governamental. Uma de suas premissas é que o governo só tem legitimidade para interferir nas liberdades dos indivíduos para coibir/impedir que uns causem danos aos outros. Conforme o pensador inglês: “A liberdade do indivíduo deve ser, portanto, limitada; ele não pode fazer de si mesmo uma perturbação para outros”. Essa perspectiva é a que influenciara as democracias liberais do século XX, pois ela permite uma concretização de um bem estar coletivo. Nesse contexto, uma passagem de seu livro Sobre a Liberdade, nos ajuda a entender melhor o que ele defende em termo de liberdade e a sistematizar três tipos de liberdade, “(...) o indivíduo deve ser totalmente livre em sua consciência, ou seja, ele deve possuir total soberania sobre si mesmo, e nenhuma instância (Estado, escola, religião) deve interferir na livre consciência do cidadão. Outro direito do cidadão é ser diferente dos demais; consagrando-se aqui a importância da livre opinião e da individualidade. Por fim, Mill defende a liberdade de associação, ou seja, as pessoas devem ser livres para tomar posições comuns em conjunto. Stuart Mill foi um filósofo inglês do século XIX, que foi considerado o pensador mais importante de uma abordagem em Ética chamada de "utilitarismo". Para o utilitarismo, o bem de uma ação depende não tanto da intenção, mas das consequências que ela tem. Uma conduta só pode ser avaliada como boa se for útil, no sentido de fazer bem ao maior número possível de pessoas e mal ao menor número possível. Uma ação pode ser muito bem-intencionada, mas ela será ruim se acabar sendo prejudicial aos outros. Obras: Sobre a liberdade, de 1859 Utilitarismo, de 1865 A sujeição das mulheres, de 1869. http://www.estrategiavestibulares.com.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 18 56 Em seu pensamento, conforme destaca o filósofo-político Norberto Bobbio, o elogio à fecundidade do conflito e do dissenso ressaltam o conjunto de interações entre grupos e indivíduos, o pluralismo. Dessa forma, o dissenso possibilitado por governos democráticos favorece a neutralização do poder organizado segundo um plano unitário11, ou seja, evita tiranias. Na prática, isso quer dizer que as minorias e suas opiniões têm tanta importância quanto as maiorias. Sua existência e livre e igual participação na vida política garante que nenhuma maioria e nenhum deposta possa transformar o sistema política em uma tirania opressora. Esta forma de conceber a liberdade direcionada para a cidadania, ou seja, por aspectos positivos, titulou John Stuart Mill como um dos principais representantes do pensamento liberal democrático do século XIX. Este pensador mudou o viés conservador do liberalismo defensor, dentre outras restrições, do voto censitário e da cidadania restrita. Mill apresentou uma agenda que se estendia do voto universal à emancipação da mulher. Para o pensamento liberal-democrático de Mill, a participação política não seria um privilégio de poucos, pois as questões públicas diziam respeito a todos. Assim, o Estado precisaria institucionalizar uma participação ampliada e o voto seria uma forma de poder que também deveria ser ampliada, principalmente para que os cidadãos pudessem defender seus direitos e interesses – liberdade positiva. 11 BOBBIO, Norberto. O Futuro da Democracia. Paz e Terra. São Paulo: 2011, p 122. http://www.estrategiavestibulares.com.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 19 56 Ora, mas porque a melhoria da capacidade cultural dos indivíduos seria do Estado e não dos próprios indivíduos, você poderia me perguntar. Segundo o liberal inglês, há uma responsabilidade compartilhada. Os Estado oferece e o indivíduo executa. Vamos pensar sobre se as pessoas analfabetas podem ou não votar. Segundo o pensamento de Stuart Mill, qual resposta você daria? Não!!!! Essa seria a resposta de Mill. Mas o Estado pode responder não, criar uma lei que proíba, virar as costas e ir “fazer obras da Copa” (brincadeirinha )? Também Não! Então, a teoria de Mills nos permite afirmar que tem que ter o critério da alfabetização, mas tem que o estado que garantir que todos possam estudar sob as mesmas condições para que os votos tenham a mesma qualidade. Entenderam a mobilização da teoria do Mill em um problema concreto? O pensador inglês enxergava na participação popular uma forma de a liberdade inglesa não ficar presa ao egoísmo da classe média em ascensão. Incorporar os segmentos populares era uma forma de preservação da liberdade de todos em relação aos interesses egoístas das classes prósperas. Agora, vejam, se para ele o risco da participação é o despreparo ou falta de cultura, e não a simples participação em si, a saída encontrada seria o Estado proporcionar o sistema de educação como forma de impedir que as massas de trabalhadores permanecessem ignorantes em relação à política, à cultura e às questões que dizem respeito a todos os cidadãos. Vejam, portanto, que Mill está advogando, já no século XIX sobre o papel do estado como promotor de direitos sociais. De toda forma, só uma democracia vai incorporar os problemas das massas dos trabalhadores entre suas prioridades e buscar encontrar respostas. É por isso que, segundo Stuart Mill, o governo democrático é melhor porque nele é possível encontrar as condições que favorecem o desenvolvimento das capacidades de cada cidadão. (ENEM 2017) O povo que exerce o poder não é sempre o mesmo povo sobre quem o poder é exercido, e o falado self-government [autogoverno] não é o governo de cada qual por si mesmo, mas o de cada qual por todo o resto. Ademais, a vontade do povo significa praticamente a vontade da mais numerosa e ativa parte do povo – a maioria, ou aqueles que logram êxito em se fazerem aceitar como a maioria. MILL, J. S. Sobre a liberdade. Petrópolis: Vozes, 1991 (adaptado). No que tange à participação popular no governo, a origem da preocupação enunciada no texto encontra-se na http://www.estrategiavestibulares.com.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 20 56 Por fim, pensando em uma aproximação entre esses dois pensadores, Stuart Mill e Tocqueville, podemos apresentar o seguinte: “Como Tocqueville, ele tinha bastante desconfiança da burguesia moderna para afirmar, contra uma visão utilitarista do liberalismo que propõe a liberdade política como uma derivação da liberdade econômica, a ideia da liberdade política como um valor em si. Diferente da concepção liberal de uma liberdade “negativa”, na qual o indivíduo é livre apenas na medida em que não é oprimido pelo Estado, eles recuperaram a noção, da Antiguidade clássica, segundo a qual a liberdade política se realiza na participação dos homens na comunidade política, isto é, nos assuntos públicos ou nos assuntos do Estado.”12 Aproveitando, a importância do pensamento do inglês Stuart Mill, deixo uma dica de filme para vocês compreenderema luta pelo sufrágio feminino na Inglaterra. As mulheres conquistaram o direito ao voto somente em 1928. 12 WEFFORT, Francisco C. Idem, p 10. a) conquista do sufrágio universal. b) criação do regime parlamentarista. c) institucionalização do voto feminino. d) decadência das monarquias hereditárias. e) consolidação da democracia representativa. Comentários A democracia representativa significou, quando da sua constituição, uma novidade na organização política. Assim, uma das questões era estabelecer quem poderia governar e de que forma, para que o regime político não se voltasse contra a própria comunidade política. Gabarito: E http://www.estrategiavestibulares.com.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 21 56 Trecho do panfleto “Por que mulheres não devem votar”, de 1908, da Liga Nacional de Mulheres Anti-Sufrágio, no Reino Unido. “Há muitas razões para recusar o voto parlamentar para mulheres, razões cuja força cumulativa é esmagadora. Em primeiro lugar, a extensão dos direitos políticos a mulheres colocaria sobre elas uma obrigação de cumprimento de algo que elas não tem, genericamente falando, capacidade ou prazer. A conduta da política demanda certas qualidades da mente com as quais as mulheres são menos contempladas do que os homens. (...) Mulheres são mais facilmente tomadas por emoções, menos abertas à razão, menos lógicas, propensas à intuição, mais sensíveis que os homens. No contexto do século XIX, então, a participação na política é redefinida como manifestação da liberdade particular que, indo além do direito de exprimir a própria opinião, de reunir-se ou de associar-se para influir na política do país, compreende também ainda o direito de eleger representantes para o Parlamento e de ser eleito, ou seja, o sufrágio. Dessa breve perspectiva história da democracia a partir da modernidade, já com os pés na contemporaneidade, convém frisar a lição do pensador francês Claude Lefort (1924-2010), segundo o qual, em A invenção democrática, livro de 1983, considerar a democracia como algo exclusivamente burguês seria uma aberração. Isso pode parecer meio óbvio hoje, mas nem sempre foi assim, como vimos.... Não é assim porque, houve muita luta para que os povos mais pauperizados – os de baixo da pirâmide social, os oprimidos – fizessem-se ouvidos. Tornar-se presentes e terem a legitimadade participar do jogo político também foi um longo e conflituoso processo histórico. A elite econômica e política, em geral membros da burguesia e dos setores mais burocráticos do Estado, de uma forma geral, ao longo da história, procuraram criar obstáculos no sentido de incorporar anseios e interesses que não fossem os dela. Por isso, foi preciso uma luta para acabar com a escravidão, para estabelecer o sufrágio universal, inclusive para mulheres, ou para que o direito de greve fosse reconhecido aos trabalhadores. Em suma, ainda conforme Lefor, a democracia é a uma luta continua por novos direitos. No mesmo sentido, e para encerrarmos esta seção, Rosa Luxemburgo (1871-1919), uma revolucionária socialista alemã, dizia que não existem liberdades burguesas, mas simplesmente, liberdade dos cidadãos. Sufrágio é o direito conferido ao cidadão para que possa validamente participar da formação da vontade estatal. Traduz-se no direito de votar e ser votado. Diz-se que o sufrágio, ou seja, os direitos políticos, são universais porque não podem ser criados critérios, obstáculos e óbices para que o sufrágio seja exercido. Porém, Somente as pessoas que preencherem os requisitos constitucionais poderão exercer o direito ao voto e o direito de ser votado. http://www.estrategiavestibulares.com.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 22 56 Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos. (Winston Churchill, 11 /9/1947) A democracia no mundo contemporâneo está fundada na soberania popular, a qual é efetivada por meio dos institutos da representação e do voto. Diferentemente do que vimos na Antiguidade Clássica, momento em que predominou a democracia direta, estamos em um contexto de prevalência de democracia indireta, ou seja, exercida por meio de representantes. Dessa forma, podemos ter: Democracia indireta: uso exclusivo de representante no exercício de poder Democracia semidireta: um “mix” em que, apesar do predomínio da democracia indireta, há elementos de democracia direta (plebiscito, referendo etc.). O Brasil está nesta classificação. No que diz respeito à democracia indireta, Norberto Bobbio afirma que, os debates do século XIX – de Benjamin Constant, passando por Tocqueville e Stuart Mill, até chegar a Max Weber, já na virada para o século XX – caminharam para identificar a forma representativa como a mais praticável por ser compatível com o Estado liberal. A reunião de todos os cidadãos em Assembleias, como queria Jean Jacques Rousseau, por exemplo, ao resgatar o formato dos gregos, não seria viável. A sociedade se tornou mais complexa, inviabilizando uma democracia em que o povo se autogoverne. De acordo com o professor Paulo Bonavides, Razões de ordem prática há que fazem do sistema representativo condição essencial para o funcionamento no Estado moderno de certa forma de organização democrática do poder. O Estado moderno já não é o Estado-cidade de outros tempos, mas o Estado-nação, de larga base territorial, sob a égide de um princípio político severamente unificador, que risca sobre todas as instituições sociais o seu traço de visível supremacia.13 13 BONAVIDES, Paulo. Ci ..... p. 350. 2. A DEMOCRACIA ATUAL, OU MELHOR, AS DEMOCRACIAS http://www.estrategiavestibulares.com.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 23 56 Nesse sentido, começamos a definição da democracia atual como um sistema governamental formado pela livre escolha de governantes (os representantes) pela maioria da população, por meio de votações. Você sabia? # em 1889, com a instalação do Brasil República, o voto deixou de ser censitário, isto é, por renda mínima. Porém, seguia a proibição aos menores de 21 anos, mulheres, analfabetos, soldados rasos, indígenas e integrantes do clero; # o voto secreto no Brasil foi adotado em 1932, com o primeiro Código Eleitoral. Em 1955, as eleições passaram a envolver cédulas e um título eleitoral com foto. Quanto ao voto universal, ou seja, aquele que é estendido a todos os cidadãos sem possibilidades de restrição por renda, cor da pele, crença religiosa, foi conquistado em boa parte dos países do mundo. Diante dessa constatação inicial de que dois elementos são importantes, a representação e o voto universal, ainda conforme Norberto Bobbio, podemos estabelecer que a democracia contemporânea está fundada em três grandes tradições do pensamento político. Vamos acompanhar: a teoria clássica, divulgada como teoria aristotélica, das três formas de Governo, segundo a qual a Democracia, como Governo do povo, de todos os cidadãos, ou seja, de todos aqueles que gozam dos direitos de cidadania, se distingue da monarquia, como Governo de um só, e da aristocracia, como Governo de poucos; a teoria medieval, de origem "romana, apoiada na soberania popular, na base da qual há a contraposição de uma concepção ascendente a uma concepção descendente da soberania conforme o poder supremo deriva do povo e se torna representativo ou deriva do príncipe e se transmite por delegação do superior para o inferior; a teoria moderna, conhecida comoteoria de Maquiavel, nascida com o Estado moderno na forma das grandes monarquias, segundo a qual as formas históricas de Governo são essencialmente duas: a monarquia e a república, e a antiga Democracia nada mais é que uma forma de república (a outra é a aristocracia), onde se origina o intercâmbio característico do período pré-revolucionário entre ideais democráticos e ideais republicanos e o Governo genuinamente popular é chamado, em vez de Democracia, de república14. 14 BOBBIO, Norberto. Democracia. In: Dicionário de Política. 11ª Ed. Brasília: Ed. UnB, 1998, p. 319-320 http://www.estrategiavestibulares.com.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 24 56 A luta de Edmund Burke era direcionada contra os homens do rei, os quais pregavam a eliminação dos partidos. Essa corrente sim teria as características de uma facção. Os representantes da Coroa entendiam que todas as ligações políticas eram facciosas (no sentido pejorativo, prejudicial ao Reino). Na verdade, Edmund Burke identificava que o Rei (a Coroa Inglesa) estava contra as ligações políticas entre os membros da nobreza e, para o pensador, na política, seria impossível os homens não se associarem. Do ponto de vista empírico, Burke percebeu a movimentação dos pequenos partidos na Câmara dos Comuns no contexto da segunda metade do século XVIII. Além do voto e da representação, outra característica das democracias atuais é a existência de Partidos Políticos que atuam no sistema de governos e no sistema de competição pelos votos. De acordo com Alexis de Tocqueville: “os partidos são um mal inerente aos governos livres.” Partido Político para a Ciência Política e para a história das ideias políticas possui uma gama de definições, que vem desde facções políticas – referência negativa às organizações políticas dos homens na Idade Média - até o sentido mais contemporâneo. Nesse sentido, com o irlandês Edmund Burke (1729-1797), os partidos são respeitáveis e são um instrumento de governo livre, fundamentados em princípios comuns. A definição de Burke é: “o partido é um grupo de homens unidos para a promoção, pelo seu esforço conjunto, do interesse nacional com base em algum princípio com o qual todos concordam”16. 15 Câmara dos Deputados. A história do voto no Brasil – da primeira eleição ao voto secreto. Disponível em: https://www.camara.leg.br/radio/programas/439742-a-historia-do-voto-no-brasil-da-primeira-eleicao-ao-voto-secreto/. Acesso em: 20/04/2020. 16 Apud SARTORI, Giovanni. Partidos e Sistema Partidários. Zahar e Editora UnB. Rio de Janeiro: 1982, p. 29. # o direito ao voto feminino, só veio em 1932. # os analfabetos adquiriram o direito ao voto com a Constituição de 1988. O cientista político Paulo Kramer avalia que a principal mudança no perfil das eleições do Brasil está na ampliação gradativa do número de participantes no processo eleitoral: "Na República Velha, de 1889 a 1930, só para ter um exemplo, não participavam nem 10% da população nas eleições. Voto feminino ainda não havia sido aprovado. O que você tem de 1930, 32 mais precisamente, quando foi aprovado o primeiro código eleitoral, já permitindo voto feminino, e com mais força, do final da Segunda Guerra, de 1945, com a redemocratização, e do fim do Estado Novo para cá? Esse eleitorado só tem feito crescer acompanhando a tendência à urbanização, industrialização do país."15 # em 1960, o índice de eleitores correspondia a 18% da população # em 1980, 47% da população podia votar. # em 2006, cerca de 70% dos brasileiros podiam votar. http://www.estrategiavestibulares.com.br/ http://www.camara.leg.br/radio/programas/439742-a-historia-do-voto-no-brasil-da-primeira-eleicao-ao-voto-secreto/ http://www.camara.leg.br/radio/programas/439742-a-historia-do-voto-no-brasil-da-primeira-eleicao-ao-voto-secreto/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 25 56 A Constituição Federal do Brasil adotou o princípio da liberdade de organização partidária. Como regra, diz-se que há democracia se o sistema previr o pluripartidarismo. Um pouco de história sobre o sistema partidário no Brasil Já para uma definição do Direito, Partido Político é uma pessoa jurídica de direito privado, que se destina a assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos fundamentais definidos na Constituição. É importante reforçar que, no Brasil, os partidos políticos, até o final da República Oligárquica, em 1930, reuniam elites oligárquicas locais e regionais. Havia apenas uma exceção, o Partido Comunista do brasil (PCB), fundado em 1922, o qual representava a voz dos trabalhadores e parte dos membros de baixa patente do exército. Não por menos, o líder do movimento tenentista Luís Carlos Prestes acabou virando liderança do PCB. Além disso, desde o Brasil Imperial (1822-1889), passando pela República Oligárquica, até o final da Era Vargas (1930-1945) predominavam partidos regionais (por exemplo, Partido Republicano Paulista). Lembrem-se que na 1ª. República (1889-1930) predominava a “Política dos Governadores” que se beneficiava desses sistema partidário regionalista e, depois, entre 1937 e 1945, ocorreu a ditadura do Estado Novo de Vargas, quando os partidos políticos foram extintos. No período da Democracia Liberal, de 1946 até 1964, três partidos nacionais dominavam a cena política: União Democrática Nacional (UDN), que representava a burguesia industrial e as classes médias urbanas; o Partidos Social Democrático (PSD), representante dos setores rurais; o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), representante do movimento trabalhista. O PCB foi cassado em 1947 e, na prática, só voltou a atuar legalmente na redemocratização pós-1985. Durante o Regime Militar brasileiro (1964-1985), pluripartidarismo foi proibido e passou a viger o bipartidarismo, com a Aliança Renovadora Nacional (Arena) e o Movimento Democrático 17 SARTORI, Giovanni. Partidos e Sistema Partidários. Zahar e Editora UnB. Rio de Janeiro: 1982. 18 Idem, p. 33. Segundo o Cientista Político Giovani Sartori, o pensamento de Burke sugere que os partidos seriam o meio adequado que permitiria aos homens a prática da política17, mas só no âmbito do Parlamento. Apesar da importância de Edmund Burke para uma teoria dos partidos políticos, somente no início do século XIX os partidos começariam a se estruturar no Reino Unido. Nos EUA, Thomas Jefferson foi o pioneiro a organizar “ligações” em território americano. Ele estimulou o primeiro partido moderno, o Partido Republicano, contrário aos federalistas. Diz o italiano Sartori, “se a moderna ideia do partido foi primeiro identificada em Burke, o primeiro partido moderno tornou-se realidade, ainda que para desintegrar-se pouco depois, nos Estados Unidos sob a liderança de Jefferson.”18 Nos dias atuais, os Partidos além de atuarem na esfera do Estado, no Parlamento, também promovem ações junto à sociedade civil. http://www.estrategiavestibulares.com.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 26 56 Além desses elementos basilares das democracias contemporâneas, há outros. Vamos sistematizá-los a partir de dois autores já citados, Norberto Bobbio e Paulo Bonavides. Brasileiros (MDB). Após a Ditadura, o pluripartidarismo volta e, atualmente, o Brasil conta com mais de 30 partidos políticos. Um dado importante: diferentemente de outros tempos, atualmente, só é possível constituir partidos de caráter nacional. OK? Ou seja, não dá para montar o Partido Republicano do Estado X. Com o italiano Bobbio, podemos fixar um conjunto de características que ajudam a definir o Regime Democrático Contemporâneo19,sem esse conjunto não seria possível falar em legitimidade democrática: 1) o órgão político máximo, responsável pela função legislativa, deve ser composto de membros direta ou indiretamente eleitos pelo povo; 2) junto do supremo órgão legislativo deverá haver outras instituições com dirigentes eleitos, como os órgãos da administração local ou o chefe de Estado 3) todos os cidadãos que tenham atingido a maioridade, sem distinção de raça, de religião, de censo e possivelmente de sexo, devem ser eleitores; 4) todos os eleitores devem ter voto igual; 5) todos os eleitores devem ser livres em votar segundo a própria opinião formada o mais livremente possível, isto é, numa disputa livre de partidos políticos que lutam pela formação de uma representação nacional; 6) devem ser livres também no sentido em que devem ser postos em condição de ter reais alternativas 7) tanto para as eleições dos representantes como para as decisões do órgão político supremo vale o princípio da maioria numérica; 8) nenhuma decisão tomada por maioria deve limitar os direitos da minoria, de um modo especial o direito de tornar-se maioria, em paridade de condições; 9) o órgão do Governo deve gozar de confiança do Parlamento ou do chefe do poder executivo, por sua vez, eleito pelo povo. Nos dizeres de Paulo Bonavides, por sua vez, a democracia atual (contemporânea) se diferencia dos sistemas históricos anteriores porque ela reúne de forma conjunta: 19 BOBBIO, Norberto. Op. Cit., p. 327. http://www.estrategiavestibulares.com.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 27 56 (UFU 2018) A personagem Mafalda do cartunista Quino está reagindo à primeira definição de democracia nessa charge. Tal reação é oportuna pela diversidade de desdobramentos e pelos usos que a democracia foi e está sendo utilizada ao longo dos séculos. Mesmo passando tanto tempo desde a primeira definição de democracia, algumas afirmações permanecem válidas. Assinale a alternativa correta. a) A democracia deve ser estabelecida pela igualdade jurídica nas eleições, uma segurança pública militarizada e o nacionalismo integral ou ultranacionalismo. 1) a soberania popular como fonte de legitimação do poder; 2) o sufrágio universal combinado com uma pluralidade de candidatos e de partidos; 3) os poderes estão organizados de forma separadas, possibilitando o controle de um sobre o outro (Poder Executivo, o Legislativo e o Judiciário); 4) a igualdade de todos perante a lei; 5) a representação como base das instituições políticas; 6) -o poder dos governantes é limitado (basta pensar na possibilidade do mecanismo do impeachment) e existe a temporalidade dos mandatos eletivos (um princípio republicano); 7) há o Estado de Direito, no qual existem proteções às liberdades públicas, abrangendo as manifestações de pensamento livre (liberdade de opinião, de reunião, de associação e de fé religiosa); 8) as minorias políticas podem se fazer presentes. http://www.estrategiavestibulares.com.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 28 56 Há diversos centros de pesquisa pelo mundo que buscam identificar índices, variáveis, capazes de compor um cenário de identificação das melhores e das piores democracias do mundo. A título de exemplo, peguemos o Democracy Index, da revista britânica The Economist. Elaborado anualmente, o Democracy Index avalia critérios como Aí você pode me fazer, novamente, a mesma pergunta feita mais acima na aula: Alê, mas isso ainda é muito pouco, cadê a participação plena, a igualdade, etc.? Sim, você tem razão, esses arranjos formais, institucionais, procedimentais, não garantem a plena democracia. Por isso, logo mais já apresento umas críticas importantes par contrabalancear a análise. OK? Antes, vamos a um ssunto igualmente importante: Como medir a Democracia? São, ao todo, 60 indicadores. Em 2019, dos 167 países pesquisados, apenas os 20 primeiros foram classificados como "totalmente democráticos", enquanto os demais são "democracias imperfeitas" (caso do Brasil, que caiu um degrau no ranking e agora ocupa a 50 posição), "regime híbridos" ou "autoritários". processo eleitoral e pluralismo; funcionamento do governo; participação política; cultura política democrática; liberdades civis. b) Em um sistema democrático, o poder pode ser atribuído com base em eleições livres em que ocorra a participação política ampla e a concorrência justa pelos cargos eletivos. c) Em uma democracia liberal, o governo eleito expressa a vontade do povo e, para isso ser possível, esse governo deve possuir poderes ilimitados sem regulações. d) A democracia deve ser estabelecida com o braço forte do Estado para permitir a uma pessoa ou a um grupo o poder político necessário para se conduzir o país ao progresso. Comentários A democracia corresponde ao poder do povo. Independentemente das configurações possíveis dos sistemas de governo, para que ele seja democrático são necessárias eleições periódicas com participação ativa e soberana dos cidadãos. Assim, o governo não pode possuir poderes ilimitados e o Estado não pode se sobrepor às vontades do povo. Gabarito: B http://www.estrategiavestibulares.com.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 29 56 (UERJ 2016) No dia 15 de março de 1985, a presidência da República no Brasil foi assumida por um civil após 21 anos de governos militares. Nos trinta anos posteriores, houve um conjunto de mudanças destinadas a pôr fim às práticas autoritárias até então vigentes. A partir da análise do gráfico, a tendência observável na opinião pública resulta de uma nova conjuntura caracterizada por: 20 The Economist: dos oito países mais democráticos do mundo, cinco são escandinavos. In: Scandinavianway, 9/jan/2019. Disponível em: https://scandinavianway.com.br/the-economist-dos-oito-paises-mais-democraticos-do-mundo-cinco-sao- escandinavos/. Acesso em 20/04/2020. Segundo os dados de Democracy Index (2019), os países mais democráticos são: Noruega, Islândia, Suécia, Nova Zelândia, Dinamarca, Canadá, Irlanda, Finlândia, Austrália e Suíça. O último lugar está com a Coreia do Norte. A Noruega mantém a primeira posição no ranking há oito edições consecutivas. Esse país tem uma carga tributária considerada alta: os impostos correspondem a 41% do produto interno bruto (PIB), contra, a título de comparação, a carga tributária do Brasil de 32% do PIB. Rico em petróleo, a Noruega tem uma das maiores rendas per capita do mundo. E, na política, os oito partidos que compõem o Parlamento norueguês precisam sempre formar coalizões para poderem governar. Não há, assim, um protagonismo isolado dos vencedores das eleições20. http://www.estrategiavestibulares.com.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM a) regularidade das eleições b) extinção do unipartidarismo c) fortalecimento do poder executivo d) valorização da liberdade de expressão Comentários O contexto apresentado pelo gráfico faz referência ao período de redemocratização no Brasil. Nesse momento, as pessoas puderam reaver seu direito de liberdade de expressão, intimamente relacionado ao exercício da democracia. A questão procura enfatizar exatamente esse aspecto, em detrimento de outros fatores políticos igualmente relevantes. Gabarito: D (UNISC 2012) A América Latina é um continente com breve tradição democrática. Golpes militares e regimes autoritários foram comuns ao longo do século XX. A partir da década de 1980, aconteceu um processo de redemocratização, restabelecendo o direito de voto e liberdades democráticas, que se mantêm até hoje. A seguir são apresentados resultados de pesquisas deopinião na América Latina, entre os anos de 2002 e 2011, realizadas pelo instituto Latinobarómetro, as quais indicam a preferência dos cidadãos entre democracia e governos autoritários. A coluna central apresenta os percentuais de preferência pela democracia. A coluna à direita apresenta os percentuais de eventual concordância com governos autoritários e de indiferença. Fonte: http://www.latinobarometro.org/latino/LATContenidos.jsp Assinale a alternativa condizente com os dados apresentados na tabela. Aula 02 – Sociedade e Estado 30 www.estrategiavestibulares.com.br 56 http://www.latinobarometro.org/latino/LATContenidos.jsp http://www.estrategiavestibulares.com.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 31 56 2.1. TEORIA DAS ELITES: UMA CRÍTICA AO INSTITUTO DA SOBERANIA POPULAR DA DEMOCRACIA Os teóricos da chamada Teoria das Elites, Gaetano Mosca e Vilfredo Pareto, afirmam que a soberania popular apreendida pelas teorias democráticas é um ideal-limite, pois ela jamais correspondeu ou poderá corresponder a uma realidade de fato. Isso porque, em qualquer regime político, qualquer que seja a "fórmula política" sob a qual os governantes e seus ideólogos o representem, é sempre uma minoria de pessoas que detém o poder efetivo. No mesmo sentido, Joseph Schumpeter (1883-1950), autor da obra Capitalismo, socialismo e Democracia (1942), contrapõe à doutrina clássica da Democracia21, que é a baseada na soberania do povo ou na vontade geral do povo, uma doutrina diversa de Democracia segundo a qual há uma elite que governa. Segundo Schumpeter, existe uma democracia quando há vários grupos em concorrência pela conquista do poder por meio de uma luta que tem por objeto o voto popular. Dessa forma, não há um governo pelo povo, mas um governo aprovado pelo povo. Em suma, em democracias é sempre uma minoria que governa. Parte dessa situação se justifica porque os cidadãos são apáticos (indiferentes) à política. Nesse contexto, Schumpeter se preocupa mais com o método da democracia, por exemplo, pela concorrência organizada da disputa pelos votos, do que com a maior ou menor validade em si da soberania popular (o sufrágio universal). 21 Por teoria clássica, Schumpeter entende-a como “o arranjo institucional para se chegar a decisões políticas que realiza o bem comum fazendo o próprio povo decidir as questões através da eleição de indivíduos que devem reunir-se para realizar a vontade desse povo” (SCHUMPETER, Joseph A. Capitalismo, socialismo e democracia. Rio: Zahar. 1984) a) O povo está decepcionado com a democracia e perdeu a esperança na política. b) Os grandes problemas sociais, a corrupção e a violência levam o povo a querer a volta dos militares ao poder. c) A cada ano que passa, aumenta a preferência pela democracia. d) Para o povo, tanto faz democracia ou governo autoritário. e) A opção da maior parte dos cidadãos vem sendo em favor da democracia, mas muitos concordam com o retomo dos militares ao poder ou são indiferentes. Comentários A questão exige do aluno uma leitura correta da tabela e dos dados ali contidos. Entre 2002 e 2011, a preferência pela democracia e a conivência em relação aos regimes autoritários se manteve. Apesar disso, a preferência pela democracia ainda continua sendo maior. Sendo assim, a única alternativa que está de acordo com esses dados é a E. Todas as outras apresentam afirmativas que não são sustentadas pelos dados da tabela. Gabarito: E http://www.estrategiavestibulares.com.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 32 56 um regime democrático exige consenso em relação aos meios (as regras do jogo) para que possa existir dissenso a respeito dos fins24. Por isso, é comum afirmar Schumpeter é o autor da democracia como método para se chegar a decisões. Conforme Carole Pateman, “na teoria de Schumpeter, os únicos meios de participação abertos ao cidadão são o voto para o líder e a discussão”22. A democracia é um método político, ou seja, um certo tipo de arranjo institucional para se alcançarem decisões políticas - legislativas e administrativas -, e, portanto, não pode ser um fim em si mesma, não importando as decisões que produza sob condições históricas dadas. (SCHUMPETER, Capitalismo, socialismo e democracia, 1961)23 Dessa forma, é através do procedimento eleitoral que o cidadão controla o eleito podendo retirá-lo do cargo na eleição seguinte. Na perspectiva schumpeteriana a participação assume contornos menores e a massa eleitoral – caso participe ativamente da vida política - é vista como um potencial estouro de boiada. Isso porque, as massas são avessa à política e não são preparadas. Schumpeter também não considerava necessário o voto universal. No caso de Norberto Bobbio, autor que já me referi, ele também concorda, em partes, com a crítica de Schumpeter e fala na democracia como um jogo. Para Bobbio, então, as regras do jogo democrático são importantes. Se voltarmos à sistematização feita logo acima, veremos que os pontos apresentados por Bobbio reforçam essa ideia de jogo. De toda forma, vejamos a definição de Bobbio: A democracia é um conjunto de regras e procedimentos para a formação de decisões coletivas, em que está prevista e facilitada a participação mais ampla possível dos interessados. (...) Em outras palavras, a democracia pode ser considerada um conjunto de regras (primárias ou fundamentais) que estabelecem quem está autorizado a tomar as decisões coletivas e por meio de quais procedimentos, com vistas a solução pacífica dos conflitos que poderão surgir entre os diferentes grupos políticos.(BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia: uma defesa das regras do jogo. 1986, p. 15- 18) Diante disso, a fim de resumirmos esta visão crítica em uma expressão, podemos assim expressar: 22 PATEMAN, Carole. Participação e Teoria Democrática. Paz e Terra, São Paulo: 1992, p. 14. 23 24 AMANTINO, Antônio K. Democracia: a concepção de Schumpeter. Revista Teor. Evid. Econ., Passo Fundo, v. 5, n. 10, maio/1998, p. 127-140. http://www.estrategiavestibulares.com.br/ Profe Ale Lopes Aula de Ciências Sociais para ENEM Aula 02 – Sociedade e Estado www.estrategiavestibulares.com.br 33 56 E por que você disse que a crítica caba parcialmente no Brasil, profe? Porque, querido e querida aluna, o Brasil já viveu bons momentos de efervescência democrática nos quais o povo participou muuiiito da vida política do país. Vou citar alguns momentos: # 1946-1964: após a Ditadura de Getúlio Vargas, o Brasil viveu uma efervescência democrática a ponto de, no governo João Goulart, a participação ser tão intensa que havia protestos de multidões para que direitos sociais fossem assegurados. Não diferente, o plebiscito de 1963, sobre se o sistema de governo no Brasil seria parlamentarista ou presidencialista, moveu “mentes e corações”. # Década de 1980: aqui, após um longo período de Regime Militar, no qual a população não participava, os cidadãos votaram a cumprir protagonismos. Houve a Campanha Diretas Já! o processo da Constituinte e da Constituição de 1988, as eleições d 1989, etc. A crítica que se encaixa parcialmente ao BRASIL Essa percepção de que há uma elite governante em Democracias, de modo que o povo fica afastado das decisões é parcialmente valida ao Brasil. Não por menos, o sociologo brasileiro Jessé Souza escreveu o livro A elite do atraso. O Estado brasileiro tem sido, na maior parte de sua história, privatizado em benefício dos mais poderosos. A esse fenômeno, os sociólogos dão o nome de "patrimonialismo clientelista". Vejamos o que quer dizer essa expressão e como o entendimento dela permite compreender o grave problema da corrupção. O poder do Estado está na
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