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@STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA 1 Os macrolídios são antibióticos que possuem um anel macrocíclico. Considerando o número de átomos deste anel macrocíclico (constituído de carbono, oxigênio e/ou nitrogênio), estes antibióticos podem ser divididos em três grupos: Com 14 átomos (por exemplo, eritromicina); Com 15 átomos (por exemplo, azitromicina); apresentam um nitrogênio no anel macrocíclico; Com 16 átomos (por exemplo, tilosina). Em Medicina Veterinária seu uso é limitado devido à toxicidade causada quando administrado a herbívoros por via oral e também à dor no local da administração por via intramuscular Esses antibióticos são capazes de alcançar altas concentrações no interior das células, em particular, dentro dos fagócitos, boa distribuição nos tecidos e, no caso dos macrolídios mais modernos, meia-vida longa A eritromicina foi obtida a partir de culturas de Streptomyces erythreus; é um antibiótico complexo formado por 3 componentes: as eritromicinas A, B e C, sendo que a primeira apresenta maior atividade. A espiramicina é o macrolídio de menor espectro de atividade antimicrobiana, sendo inefetivo contra micoplasma, porém apresenta melhor tolerância por via oral e maior concentração tissular do que a eritromicina. A miocamicina também apresenta boa tolerabilidade digestiva e a @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA 2 roxitromicina destaca-se pela sua longa meia-vida no soro (superior a 12 h), sendo ambos antibióticos semissintéticos. A tilosina, isolada de Streptomyces fradiae, e a tulatromicina, derivado semissintético introduzido recentemente no comércio, estão disponíveis apenas para uso veterinário. Alguns macrolídios, como a oleandomicina e carbomicina, são empregados como aditivo melhorador do desempenho zootécnico A josamicina é um macrolídio natural, obtido de culturas de Streptomyces narbonensis, destacando-se pela sua ação contra anaeróbicos. A azitromicina é um macrolídio semissintético, pertencente ao grupo das azalidas (anel macrocíclico com 15 átomos), que se caracteriza pelo maior espectro de ação, sendo capaz de atuar contra microrganismos gram- negativos, e com características farmacocinéticas mais favoráveis. Novos macrolídios têm sido estudados, procurando-se obter antibióticos com maior espectro de ação antimicrobiana e características posológicas que facilitem seu emprego terapêutico. É o caso da tilvalosina, um macrolídio bastante ativo contra bactérias gram- positivas e micoplasma, além de atuar em algumas bactérias gram-negativas; o seu principal metabólito também apresenta atividade antimicrobiana. Já a gamitromicina é um macrolídio caracterizado por apresentar concentrações séricas baixas, porém com elevadas concentrações nos tecidos, principalmente nos pulmões, e meia-vida de eliminação longa, sendo indicado para o tratamento em dose única Mecanismo de ação Os macrolídios impedem a síntese proteica bacteriana ao se ligar à subunidade 50 S do ribossomo. O local de ligação dos macrolídios no ribossomo é próximo daquele no qual se liga o cloranfenicol, podendo ocorrer antagonismo, caso sejam associados. Os macrolídios inibem a translocação do RNA transportador no sítio aceptor do aminoácido, interferindo na adição de novos aminoácidos e, dessa forma, impedindo a síntese proteica da célula do microrganismo @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA 3 Os macrolídios são antibióticos bacteriostáticos; podem ser bactericidas em altas concentrações. A ação bactericida é tempo- dependente, isto é, o fator de maior importância para determinar a eficácia é o período de tempo que a concentração plasmática fica acima da concentração inibitória mínima (CIM) de uma dada bactéria A atividade antimicrobiana da eritromicina aumenta em pH maior, apresentando efeito antibacteriano ótimo em pH 8. Por outro lado, em meio ácido, como aquele observado em abscessos, tecido necrótico e urina, é suprimida sua atividade antibacteriana. Espectro de ação A eritromicina é ativa principalmente contra bactérias gram-positivas, como estreptococos e estafilococos, incluindo os estafilococos resistentes aos antibióticos betalactâmicos, Arcanobacterium pyogenes, Bacillus spp., Corynebacterium spp., Rhodococcus equi, Erysipelothix rhusiopathiae e Listeria spp. São suscetíveis à eritromicina as bactérias gram-negativas aeróbicas Actinobacillus spp., Brucella spp., Campylobacter spp. e Leptospira spp. Dentre as bactérias anaeróbicas suscetíveis à eritromicina encontram- se Actinomyces spp., Clostridium spp. e Bacteroides spp., exceto B. fragilis. Esse antibiótico é ativo também contra Chlamydia spp. e Mycoplasma spp. e possui atividade moderada contra enterococos, Pasteurella spp., Bordetella spp., Ehrlichia spp., Haemophilus spp. e Legionella spp. São resistentes à eritromicina as Enterobacteriaceae, Pseudomonas spp., Nocardia spp., Mycobacterium spp. e algumas Mycoplasma spp. A tilosina tem espectro de atividade semelhante ao da eritromicina, sendo, de modo geral, menos ativa contra @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA 4 bactérias e mais ativa contra Mycoplasma spp. A espiramicina tem espectro de ação menor do que aquele da eritromicina e é menos efetiva contra Mycoplasma do que a tilosina. A tilmicosina tem atividade antibacteriana e antimicoplasma entre a eritromicina e a tilosina. A atividade antimicrobiana da tulatromicina parece ser semelhante àquela da tilmicosina. Dentre os macrolídios mais modernos, a azitromicina e a claritromicina têm amplo espectro de ação; a primeira apresenta o maior espectro in vitro contra bactérias gram-negativas, incluindo atividade moderada contra Salmonella entérica, e a claritromicina é a mais ativa contra Rhodococcus equi. Resistência bacteriana A resistência bacteriana aos macrolídios é geralmente mediada por plasmídeos, porém mutações cromossômicas que modificam ribossomos também já foram observadas. Três são os mecanismos que levam a resistência bacteriana aos macrolídios: (1) modificação no sítio de ligação; (2) efluxo ativo; e (3) síntese de enzimas bacterianas que hidrolisam o anel de lactona. Os dois primeiros mecanismos são os mais frequentes. A modificação no local de ligação (metilação do sítio receptor) pode levar a resistência cruzada entre macrolídios, lincosamidas e estreptograminas, pois todos esses antibióticos se ligam na subunidade 50 S do ribossomo Características farmacocinéticas Os macrolídios são bases fracas, com pK entre 6 e 9. Dentre os macrolídios, o maior número de estudos farmacocinéticos foi feito com a eritromicina. A eritromicina base é pouco absorvida quando administrada por via oral, sendo inativada no pH gástrico. Por esse motivo foram desenvolvidas formulações como estolato ou estearato de eritromicina e de liberação entérica para melhorar sua absorção e tolerabilidade. Essas formulações têm melhor biodisponibilidade pelo fato de reduzirem a destruição da eritromicina no meio ácido. Há também formulações desenvolvidas para serem misturadas a ração ou água das aves e suínos. Após a administração oral do sal, a eritromicina se dissocia no intestino, sendo absorvida na forma livre. Administração subcutânea ou intramuscular de eritromicina pode causar irritação tecidual e dor; portanto, prefere-se, @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA 5 quando possível, a administração oral da eritromicina A tilosina é bem absorvida no trato gastrintestinal e nãonecessita de formulações especiais para manter sua estabilidade no estômago. Já a tilmicosina tem baixa absorção Os macrolídios tendem a concentrar- se em algumas células por causa de seu caráter básico, sendo então captados por células que apresentam o pH mais ácido do que o plasma. As concentrações teciduais de eritromicina, tilosina e tilmicosina são maiores que as concentrações plasmáticas, particularmente, nos pulmões, sendo, por isso, indicadas para o tratamento de infecções pulmonares As concentrações de eritromicina são iguais ou superiores àquelas do plasma em vários líquidos do organismo, como a bile, nos líquidos prostático, seminal, pleural e peritoneal, bem como em vários tecidos, como no fígado, no baço, nos rins etc. A eritromicina não atravessa a barreira hematencefálica em quantidade suficiente para uso terapêutico, porém cruza a barreira placentária e alcança concentrações terapêuticas no feto A biotransformação dos macrolídios é feita pelas enzimas microssomais hepáticas e sua eliminação é pela bile e pelas fezes. A eritromicina sofre desmetilação pelas enzimas hepáticas, perdendo grande parte da sua atividade antimicrobiana. Essas enzimas podem ser induzidas, por exemplo, pelo fenobarbital; portanto, pacientes tratados com fenobarbital e eritromicina podem ter prejuízo na resposta ao antimicrobiano, devido ao aumento da sua biotransformação. Grande parte da eritromicina biotransformada no fígado (90%) é eliminada pela bile e apenas cerca de 2 a 5% são excretados inalterados pela urina; portando, disfunção renal não tem efeito significativo na meia- vida de eliminação da eritromicina. Toxicidade e efeitos adversos A incidência de efeitos colaterais com o uso dos macrolídios é relativamente baixa, sendo os relatos mais comuns na espécie humana do que nos animais. O efeito adverso mais importante provavelmente seja a irritação tecidual que eles acarretam, levando a dor, quando da administração intramuscular, tromboflebites e periflebites, quando da administração por via intravenosa, além de reações inflamatórias após administração intramamária. @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA 6 Distúrbios gastrintestinais (náuseas, vômito, diarreia, cólica intestinal) ocorrem na maioria dos animais que recebem estes antibióticos, sendo bastante sérios em coelhos e equinos; nesta última espécie animal foram relatados até mesmo óbitos A administração oral de eritromicina não é recomendada também para ruminantes devido a sua reduzida absorção e a promoção de grave diarreia. Em cães e gatos a eritromicina causa poucos efeitos adversos, tendo sido relatado vômito, particularmente, em cães. Embora a eritromicina possa causar diarreia grave em equinos, é indicada, associada à rifampicina, para o tratamento da pneumonia causada por Rhodococcus equi em potros. Como a eritromicina é um inibidor das enzimas microssomais hepáticas, pode reduzir a biotransformação de substâncias que usam essa mesma via metabólica, como teofilina, ciclosporina, digoxina e varfarina. Na presença da eritromicina, a concentração plasmática desses medicamentos pode aumentar, potencializando os efeitos farmacológicos e tóxicos. @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA 7 As lincosamidas são também denominadas de lincomicinas e lincocinamidas. Embora tenham estrutura química diferente daquela dos macrolídios, as lincosamidas apresentam espectro antimicrobiano e mecanismo de ação semelhante a estes. Os principais representantes desse grupo são a lincomicina e a clindamicina Além destes, recentemente foi introduzida no comércio a pirlimicina, de uso intramamário em bovinos A lincomicina é usada também como aditivo em animais de produção A lincomicina foi isolada de culturas de Streptomyces lincolnensis. A clindamicina é um derivado semissintético que possui espectro de ação antimicrobiano um pouco maior que o da lincomicina e é melhor absorvida quando administrada por via oral. Mecanismo de ação As lincosamidas inibem a síntese proteica da célula bacteriana ao se ligar na subunidade 50 S do ribossomo, da mesma forma que fazem os macrolídios As lincosamidas são antibióticos bacteriostáticos; podem ser bactericidas em altas concentrações. A ação bactericida é tempo- dependente Espectro de ação As lincosamidas, de modo geral, têm espectro de ação semelhante ao dos macrolídios. A clindamicina difere dos macrolídios e da lincomicina por sua maior atividade contra bactérias anaeróbicas, incluindo anaeróbicos gram-negativos como Bacteroides spp. Resistência bacteriana Os microrganismos podem desenvolver resistência apenas às lincosamidas, porém é mais comum a resistência cruzada entre lincosamidas, macrolídios e estreptograminas Características farmacocinéticas As lincosamidas são antibióticos de caráter básico, com valores de pK em torno de 7,6; são bastante lipossolúveis A clindamicina, quando administrada por via oral, tem maior absorção no trato gastrintestinal do que a lincomicina. As lincosamidas sofrem biotransformação hepática, sendo a bile a principal via de eliminação; cerca de 20% são eliminados de forma intacta pela urina. Devido ao caráter básico, as lincosamidas podem ser captadas por tecidos que apresentem o pH mais @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA 8 baixo do que o plasma, como o úbere e a próstata. A grande ligação com proteínas plasmáticas e a eliminação relativamente rápida impedem que esses antibióticos alcancem concentrações terapêuticas no líquido cerebrospinal. Toxicidade e efeitos adversos O efeito tóxico mais importante das lincosamidas refere-se à capacidade de elas produzirem diarreia grave, podendo ser fatal, em seres humanos, equinos, coelhos (além de cobaias e hamsters) e outros herbívoros. Em equinos, a administração parenteral ou oral de lincosamidas causa colite hemorrágica e diarreia, conduzindo ao óbito; isto se deve à proliferação no cólon de cepas de Clostridia resistentes às lincosamidas. Em cães e gatos, as lincosamidas são pouco tóxicas, ocorrendo raramente vômitos e diarreia As lincosamidas causam bloqueio neuromuscular e efeitos depressores cardíacos, não devendo ser administradas com agentes anestésicos e rapidamente por via intravenosa. A injeção intramuscular de clindamicina causa dor local. A tiamulina e a valnemulina são derivados semissintéticos do antibiótico diterpeno pleuromutilina, o qual é produzido pelo fungo Clitopilus passeckerianus. As pleuromutilinas são ativas principalmente contra bactérias gram- positivas e apresentam atividade moderada contra alguns bacilos gram- negativos e Mycoplasma. Esses antibióticos são empregados exclusivamente em Medicina Veterinária, principalmente em suínos Mecanismo de ação As pleuromutilinas inibem a síntese proteica da bactéria ao se ligar à subunidade 50 S do ribossomo. @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA 9 As pleuromutilinas podem competir com os macrolídios e as lincosamidas pelo sítio de ligação no ribossomo Espectro de ação A tiamulina e a valnemulina têm importante atividade contra bactérias anaeróbicas (Fusobacterium necrophorum, Brachyspira hyodysenteriae) e Mycoplasma; são ativas contra algumas bactérias gram- positivas aeróbicas como Staphylococcus spp., Arcanobacterium pyogenes e alguns estreptococos. A tiamulina é inativa contra Enterobacteriaceae. Resistência bacteriana Pode haver resistência cruzada das pleuromutilinas com os macrolídios e as lincosamidas, pois esses antibióticostambém se ligam na subunidade 50 S do ribossomo, e também resistência moderada à espectinomicina (aminoglicosídeo) e ao cloranfenicol. Características farmacocinéticas Há poucas informações sobre as características farmacocinéticas das pleuromutilinas A tiamulina é uma base orgânica fraca, lipofílica, com pK de 7,6. Esse antibiótico é bem absorvido após a administração oral em monogástricos, mas pode ser inativado pela microbiota do rúmen quando administrado por essa via em ruminantes; em bezerro (bovino pré- ruminante) é rapidamente absorvido. Em suínos, a administração da tiamulina na ração reduz sua absorção e, consequentemente, a sua concentração sérica. Já a biodisponibilidade da valnemulina em suínos excede 90% quando administrada na ração. A tiamulina penetra no interior das células e também pode ser encontrada no leite de vacas com mastite em concentração 1,2 vez superior àquela do pico plasmático após a administração por via intramuscular em bovinos. As concentrações de tiamulina nos pulmões, no fígado e nos rins de bovinos 1 h após a administração intravenosa é 4 a 7 vezes superiores àquelas do plasma. Em cães, a meia-vida da tiamulina após a administração intramuscular é de 4,7 h e as concentrações plasmáticas são superiores e mantidas por um período de tempo maior, quando comparada com a administração por via subcutânea Toxicidade e efeitos adversos A tiamulina e a valnemulina não devem ser associadas aos ionóforos, como a monensina, a nasarina e a salinomicina, pois podem causar redução grave do crescimento, ataxia, paralisia e morte, de maneira dose- dependente @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA 10 Os suínos e aves não devem receber o ionóforo por pelo menos 5 dias antes ou após o tratamento com pleuromutilinas. Em equinos as pleuromutilinas não devem ser administradas por causa do potencial risco de causar desequilíbrio na microflora colônica e da predisposição a enterocolite A injeção intramuscular de algumas preparações de tiamulina pode causar irritação local. Foi relatado que a administração de tiamulina por via intravenosa em bovino causou neurotoxicidade e morte As estreptograminas (ou sinergistinas) constituem um grupo de antibióticos formados por uma mistura de duas classes de componentes quimicamente distintos, designados estreptograminas A (macrolactonas) e B (hexadepsipeptídios). Há estreptograminas naturais (virginiamicina, pristinamicina), produzidas como metabólitos secundários por Streptomyces spp., e as semissintéticas (quinupristina/dalfopristina). A virginiamicina foi desenvolvida para uso como aditivo melhorador do desempenho zootécnico, é uma combinação da pristinamicina IIA (virginiamicina M1) e virginiamicina S1 A pristinamicina e a quinupristina/dalfopristina foram desenvolvidas para uso clínico na espécie humana. Esta última é uma estreptogramina semissintética injetável, resultante da mistura de quinupristina e dalfopristina, que, por sua vez, são derivados semissintéticos de pristinamicina IA (estreptogramina B) e pristinamicina IIA (estreptogramina A). As estreptograminas inibem a síntese proteica bacteriana devido a sua ligação irreversível à subunidade 50 S do ribossomo. As estreptograminas do grupo A e aquelas do grupo B se ligam a sítios distintos da subunidade 50 S do ribossomo; as primeiras induzem mudança conformacional que aumenta a afinidade do ribossomo pelas estreptograminas do grupo B. @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA 11 Isoladamente, cada componente apresenta moderada atividade bacteriostática, mas a combinação mostra efeito sinérgico bactericida. Essa atividade sinérgica tende a reduzir o aparecimento de resistência bacteriana A resistência às estreptograminas pode ser cromossômica ou mediada por plasmídeos. A virginiamicina é ativa principalmente contra bactérias gram-positivas aeróbicas e anaeróbicas Há poucos dados disponíveis sobre as propriedades farmacocinéticas desse antibiótico em animais As tetraciclinas são antibióticos produzidos por diversas espécies de Streptomyces e algumas são semissintéticas Mecanismo de ação As tetraciclinas são antibióticos bacteriostáticos que inibem a síntese proteica dos microrganismos sensíveis, ligando-se aos ribossomos. Estes antibióticos, após penetrarem no interior da bactéria por um processo mediado por carreador, ligam-se reversivelmente à subunidade 30 S do ribossomo do microrganismo, impedindo que o RNA- transportador (RNAt) se fixe ao ribossomo e, com isto, a síntese proteica é inibida Embora as tetraciclinas tenham maior afinidade pela subunidade 30 S do ribossomo microbiano, podem ligar-se também à subunidade 40 S do ribossomo dos animais superiores, explicando algumas reações adversas decorrentes do seu uso terapêutico Espectro de ação São classificadas como antibióticos de amplo espectro de ação antimicrobiana. As tetraciclinas atuam em bactérias gram-positivas e gram-negativas, incluindo micoplasmas, Ehrlichia/anaplasma, clamídias, riquetsias, e até em alguns protozoários parasitas como Plasmodium falciparum, Entamoeba histolytica, Giardia lamblia, Leishmania major, Trichomonas spp. e Toxoplasma gondii. Doxiciclina e minociclina, de modo geral, são mais ativas contra Staphylococcus aureus que a tetraciclina. Resistência bacteriana A resistência adquirida às tetraciclinas é comum entre as bactérias e Mycoplasma, fato que reduziu sua utilização terapêutica. Por outro lado, é rara a resistência para os patógenos intracelulares, como Clamydia, Chlamydophila, Ehrlichia e Anaplasma. A resistência às tetraciclinas pode ser mediada por três mecanismos: efluxo @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA 12 das tetraciclinas por mecanismo dependente de energia, o que reduz sua concentração no interior do microrganismo; proteção ribossômica, na qual as tetraciclinas não se ligam mais ao ribossomo bacteriano; e modificação química necessitando de oxigênio, NADPH e catálise por enzimas. Os dois primeiros mecanismos são os mais comuns. Características farmacocinéticas As tetraciclinas podem ser administradas tanto por via oral, sendo absorvidas no sistema digestório, como por vias parenterais. A injeção intramuscular provoca dor local. A presença de alimentos no sistema digestório pode prejudicar a absorção das tetraciclinas administradas por via oral, com exceção da minociclina e da doxiciclina. As tetraciclinas formam quelatos insolúveis com o cálcio, o magnésio, o zinco, o ferro e o alumínio. A presença de leite e derivados, as preparações vitamínicas, os antiácidos e os catárticos podem reduzir a absorção das tetraciclinas. As concentrações plasmáticas máximas são alcançadas cerca de 1 a 3 h após a administração oral. A distribuição pode variar com a lipossolubilidade das diferentes tetraciclinas; a doxiciclina e a minociclina são mais lipossolúveis do que a tetraciclina e a oxitetraciclina, e, por isso, penetram nos tecidos com mais facilidade. As tetraciclinas penetram em vários tecidos e líquidos corpóreos, exceto o líquido cefalorraquidiano. Esses antibióticos atravessam a barreira placentária e atingem o feto; são secretadas no leite, no qual alcançam concentrações próximas daquelas do plasma. Todas as tetraciclinas, exceto a minociclina e a doxiciclina, são excretadas na sua forma ativa pela urina ou, em menor proporção, pela bile A filtração glomerular é o processo responsável pelo mecanismo de excreção renal destes antibióticos. A minociclina parece ser parcialmente biotransformadano organismo e eliminada pelos rins e fezes. A eliminação da doxiciclina não envolve a excreção renal, o que permite que seja empregada em infecções sistêmicas em cães e gatos com insuficiência renal. As tetraciclinas são antimicrobianos tempo-dependentes Em relação às interações medicamentosas, a absorção das tetraciclinas é reduzida na presença @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA 13 de antiácidos contendo alumínio, cálcio ou magnésio, por preparações contendo ferro e sais de bismuto. Por outro lado, há sinergismo entre tetraciclinas e tilosina contra Pasteurella e a associação com polimixinas pode resultar em efeitos sinérgicos pelo fato de facilitar a sua entrada no interior da célula bacteriana. Efeito sinérgico foi também observado com a associação doxiciclina com rifampicina ou com estreptomicina no tratamento da brucelose. Toxicidade e efeitos adversos As tetraciclinas causam irritação tecidual. Este efeito pode provocar manifestações gastrintestinais (náuseas, vômito, diarreia), quando administradas por via oral e, quando administradas por vias intramuscular ou subcutânea, dor no local da injeção. Distúrbios da microbiota intestinal podem ocorrer mesmo quando as tetraciclinas são administradas por vias parenterais, uma vez que podem ser eliminadas pelas fezes. Devido à capacidade que as tetraciclinas têm em ligar-se com o cálcio, podem provocar efeitos cardiovasculares (arritmias), além da deposição no tecido ósseo e dentes. Por causa destes últimos efeitos deve-se evitar a administração de tetraciclinas em animais jovens ou em fase de crescimento, ou mesmo em fêmeas prenhes, uma vez que estes antibióticos atravessam a barreira placentária, podendo produzir deformidades ósseas no feto. As tetraciclinas podem também causar efeitos tóxicos em células hepáticas (infiltração gordurosa) e renais (necrose em túbulos proximais). Dano em túbulos renais pode também ser causado pela administração de tetraciclinas com prazo de validade vencido, quando se formam produtos de degradação que são tóxicos. Em equinos, relata-se com frequência a interferência na microbiota intestinal, permitindo a superinfecção por Salmonella resistente a estes antibióticos; este efeito pode conduzir a grave diarreia, podendo levar a óbito. @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA 14 Fazem parte desse grupo o cloranfenicol, o tianfenicol e o florfenicol. O cloranfenicol produzido pelo Streptomyces venezuelae, também pode, atualmente, ser obtido por síntese laboratorial. O tianfenicol e o florfenicol são análogos do cloranfenicol. O cloranfenicol e o tianfenicol têm espectro de atividade antimicrobiana semelhante, e o florfenicol tem espectro maior. Mecanismo de ação Os anfenicóis inibem a síntese proteica dos microrganismos sensíveis, ligando-se irreversivelmente à subunidade 50 S do ribossomo bacteriano e, deste modo, interferem na formação do peptídeo pelo bloqueio da enzina peptidiltransferase, impedindo o alongamento da cadeia polipeptídica São antibióticos bacteriostáticos. Estes antibióticos inibem também a síntese proteica mitocondrial das células da medula óssea dos mamíferos de maneira dose- dependente. Espectro de ação Os anfenicóis são considerados antibióticos de amplo espectro de ação, atuando em bactérias gram- positivas, gram-negativas, riquetsias, espiroquetas e micoplasma. De modo geral, o tianfenicol é uma a duas vezes menos ativo quando comparado ao cloranfenicol, enquanto @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA 15 o florfenicol é levemente menos ativo que o cloranfenicol. Resistência bacteriana O mecanismo de resistência bacteriana ao cloranfenicol mais frequentemente encontrado é a inativação do antibiótico Foram descritos também outros mecanismos de resistência, como sistemas de efluxo, inativação de fosfotransferases e mutação de sítios- alvo ou barreiras de permeabilidade. Há resistência cruzada entre o cloranfenicol e outros antibióticos, como os macrolídios e lincosamidas. Características farmacocinéticas Em animais monogástricos o cloranfenicol é bem absorvido no sistema digestório; em ruminantes é destruído pela microbiota ruminal. Liga-se às proteínas plasmáticas e distribui-se relativamente bem por todos os tecidos (é lipofílico), atravessando inclusive a barreira placentária. O cloranfenicol se difunde bem no leite e nos líquidos pleural e ascítico. O cloranfenicol é biotransformado no fígado, sendo eliminado conjugado com o ácido glicurônico. Isto faz com que apresente meia-vida diferente nas várias espécies animais. Assim, em equinos é de 1 h e de 5 a 6 h em gatos. Parte do cloranfenicol pode ser excretada de forma intacta pela urina, pela filtração glomerular, sendo 10% em cães, 20% em gatos e quase ausente em herbívoros. Os metabólitos inativos são eliminados principalmente pela urina e pequena parte através da bile Em relação às interações medicamentosas, foi observado antagonismo entre cloranfenicol e penicilina G no tratamento de meningite e endocardite em seres humanos. A associação de cloranfenicol com fluorquinolonas também não é recomendada, uma vez que a inibição proteica induzida pelo cloranfenicol interfere na produção de autolisinas necessárias para lise celular após a fluorquinolona interromper o superenrolamento do DNA. Deve ser salientado também que o cloranfenicol age no mesmo sítio do ribossomo que os macrolídios Toxicidade efeitos adversos Na União Europeia, EUA, Canadá, Brasil e em outros países, o uso de cloranfenicol é proibido em animais utilizados para consumo humano, devido ao risco da ocorrência de anemia aplásica em seres humanos que vierem a consumir alimentos com resíduo deste antibiótico. @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA 16 A depressão da medula óssea, ocasionando anemia hipoplásica e redução da síntese de anticorpos, são efeitos adversos relacionados com a dose e a duração do tratamento, sendo os gatos mais sensíveis que os cães. A suspensão do tratamento faz com estes sinais desapareçam. Manifestações digestivas, como vômito e diarreias, são ocasionalmente descritas em cães e gatos, bem como reações alérgicas. @STDSELVAGEM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA 17 SPINOSA, H. S., et al. (2017). Farmacologia aplicada à Medicina Veterinária. 6ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara. Koogan Capítulo 39 – Antibióticos Bacteriostáticos que Interferem na Síntese Proteica: Macrolídios, Lincosamidas, Pleuromutilinas, Estreptograminas, Tetraciclinas e Anfenicóis.
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