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Medicina UNEB – Turma XIII P á g i n a | 1 Antibióticos inibidores da síntese proteica As tetraciclinas são ATB bacteriostáticos de amplo espectro que penetram nos microrganismos, parte por difusão passiva e parte por transporte ativo. Uma vez dentro da célula, as tetraciclinas se ligam de maneira reversível à subunidade 30S do ribossomo bacteriano, bloqueando a ligação do RNAt ao sítio aceptor no complexo RNAm-ribossomo, o que impede a adição de aminoácidos ao peptídeo em crescimento. As tetraciclinas são ativas contra muitas bactérias G+ e G-, inclusive determinados anaeróbios, riquétsias, clamídias e micoplasmas. A atividade antibacteriana é similar na maioria das tetraciclinas, exceto pelo fato de que as cepas resistentes à tetraciclina podem ser sensíveis à doxiciclina, à minociclina e à tigeciclina, que são substratos fracos para a bomba de efluxo se ela for o mecanismo da resistência. 1. Influxo comprometido ou efluxo aumentado → bomba proteica transportadora ativa. As espécies G- que expressam a bomba de efluxo Tet(AE) são resistentes às antigas tetraciclinas, doxiciclina e minociclina, mas são sensíveis à tigeciclina, que não é um substrato para essas bombas. De modo Medicina UNEB – Turma XIII P á g i n a | 2 semelhante, a bomba de efluxo Tet(K) dos estafilococos confere resistência à tetraciclina, mas não à doxiciclina, à minociclina ou à tigeciclina. Porém, a tigeciclina é um substrato para as bombas de efluxo codificadas por cromossomo das espécies de Proteus e Pseudomonas aeruginosa para múltiplos fármacos, responsáveis por sua resistência intrínseca a todas as tetraciclinas. 2. Proteção do ribossomo → produção de proteínas que interferem na ligação da tetraciclina com o ribossomo. As espécies G+ que expressam a proteína de proteção ribossomal Tet(M) são resistentes à tetraciclina, doxiciclina e minociclina, mas são sensíveis à tigeciclina. 3. Inativação enzimática (os mais importantes são os dois acima). Clortetraciclina tem absorção por VO de aproximadamente 30%; tetraciclina, oxitetraciclina, demeclociclina e metaciclina de 60 a 70%; doxiciclina e minociclina de 95 a 100%. A tigeciclina é mal absorvida por VO e deve ser administrada por via IV. Uma parte da dose da tetraciclina administrada por VO permanece no lúmen intestinal, altera sua flora e é excretada nas fezes. A absorção é prejudicada por alimentos (exceto doxiciclina e minociclina), cátions bivalentes (Ca2+, Mg2+, Fe2+, Al3+), laticínios e antiácidos, que contêm cátions multivalentes, e pH alcalino. Há soluções de tetraciclina especialmente tamponadas preparadas para administração IV. As tetraciclinas distribuem-se amplamente por tecidos e líquidos orgânicos, exceto pelo LCS. Elas atravessam a placenta também são excretadas no leite. Em consequência da quelação com o cálcio, as tetraciclinas se ligam – e lesionam – dentes e ossos em crescimento. Por conta disso, nenhuma deve ser administrada por VO com leite, antiácidos ou sulfato ferroso. Carbamazepina, fenitoína, barbitúricos e ingestão crônica de álcool podem encurtar a meia-vida da doxiciclina em 50% por meio da indução das enzimas hepáticas que metabolizam o fármaco. São excretadas principalmente na bile e na urina. Parte do fármaco excretado na bile é reabsorvido no intestino (circulação entero-hepática) e pode contribuir para a manutenção dos níveis séricos. Parte é excretada por filtração glomerular e parte é excretada nas fezes. A doxiciclina e a tigeciclina, são eliminadas por mecanismos não renais, não se acumulam de forma significativa e não precisam de ajuste de dose na insuficiência renal. Ação curta → meia-vida 6-8h: clortetraciclina, tetraciclina, oxitetraciclina; Ação intermediária → meia-vida 12h: demeclociclina e metaciclina; Ação longa → meia-vida 16-18h: doxiciclina e minociclina. Tigeciclina tem meia-vida 36h. Uma tetraciclina é o fármaco de escolha no tratamento de infecções provocadas por riquétsias. Também são excelentes para tratamento de Mycoplasma pneumoniae, clamídias e de algumas espiroquetas. São empregadas em combinação com outros medicamentos no tratamento para Helicobacter pylori. Podem ser utilizadas em diversas infecções por bactérias G+ e G-, inclusive infecções por Vibrio, desde não seja resistente. Elas permanecem eficazes na maioria das infecções por clamídia, inclusive as sexualmente transmitidas. As tetraciclinas são por vezes utilizadas no tratamento ou na profilaxia de infecções por protozoários, p.ex., Plasmodium falciparum. Os outros usos incluem tratamento de acne, crises de bronquite, PAC, doença de Lyme, febre recidivante, leptospirose e algumas infecções por micobactérias não tuberculosas (p. ex., Mycobacterium marinum). As tetraciclinas já foram usadas no tratamento de diversas infecções comuns, inclusive gastrenterite bacteriana e ITUs. Contudo, muitas dessas cepas de bactérias tornaram-se resistentes, e outros agentes se mostraram mais eficazes. Medicina UNEB – Turma XIII P á g i n a | 3 Doxiciclina + ceftriaxona → alternativa para o tratamento de doença gonocócica. Uma tetraciclina + outro antibiótico → tratamento de peste, tularemia e brucelose. Minociclina →pode erradicar o estado de portador meningocócico, mas, em razão dos efeitos colaterais e da resistência de muitas cepas meningocócicas, dá-se preferência à rifampicina. Demeclociclina → inibe a ação do ADH no túbulo renal e tem sido utilizada no tratamento da secreção inadequada de ADH ou peptídeos similares por determinados tumores. Tigeciclina → possui várias características peculiares em relação às tetraciclinas mais antigas. Muitas cepas resistentes às tetraciclinas são suscetíveis à tigeciclina, já que ela não é afetada pelos determinantes comuns da resistência. Seu espectro de ação é muito amplo, mas deve ser reservada para situações em que não haja a possibilidade de tratamentos alternativos. Como as concentrações do medicamento ativo na urina são relativamente baixas, não é efetiva para as ITUs. São sensíveis à tigeciclina, com exceção de Proteus sp. e P. aeruginosa (intrinsicamente resistentes): o Estafilococos coagulase-negativos e o Staphylococcus aureus, inclusive cepas resistentes à meticilina, cepas intermediárias e resistentes à vancomicina; o Estreptococos, sensíveis e resistentes à penicilina; o Enterococos, inclusive as cepas resistentes à vancomicina; o Bastonetes G+; o Enterobactérias; o Cepas de Acinetobacter sp. resistentes a múltiplos fármacos; o Anaeróbios G+ e G-; o Riquétsias, Chlamydia sp. e Legionella pneumophila; o Micobactérias de crescimento rápido. Reações de hipersensibilidade (febre medicamentosa, erupções cutâneas) são incomuns. Muitos efeitos colaterais se devem à toxicidade direta do fármaco ou à alteração da flora microbiana. Náusea, vômitos e diarreia são os motivos mais comuns de interrupção das tetraciclinas. Esses efeitos são atribuíveis à irritação local direta do TGI e podem ser controlados com a administração do fármaco com alimento, com redução da dose ou com suspensão do medicamento. Também alteram a microbiota normal, com supressão dos coliformes sensíveis e crescimento excessivo de pseudomonas, Proteus, estafilococos, coliformes resistentes, clostrídeos e Candida. Isso pode resultar em distúrbios funcionais Na cólera, as tetraciclinas interrompem rapidamente a disseminação dos vibriões, mas houve resistência ao medicamento durante epidemias. Medicina UNEB – Turma XIII P á g i n a | 4 intestinais, prurido anal, candidíase vaginal ou oral, ou colite associada ao Clostridium difficile. Entretanto, o risco de colite por C. difficile talvez seja menor comas tetraciclinas do que com outros antibióticos. Ligam-se de imediato ao cálcio depositado no osso ou no dente recentemente formado em crianças pequenas. Quando uma tetraciclina é administrada durante a gravidez, ela pode se depositar nos dentes fetais, causando fluorescência, alteração na cor e displasia de esmalte. Também pode se depositar nos ossos onde é possível que cause deformidade ou inibição do crescimento. Para evitar a deposição nos dentes ou ossos em crescimento, as tetraciclinas devem ser evitadas nas mulheres grávidas e em crianças com menos de 8 anos. Podem comprometer a função hepática, principalmente durante a gravidez, em pacientes com insuficiência hepática preexistente e quando doses altas são administradas por via IV. Quando administradas com diuréticos podem causar nefrotoxicidade. As tetraciclinas, exceto a doxiciclina, podem se acumular até níveis tóxicos em pacientes com função renal comprometida. A injeção IV pode causar trombose venosa. A injeção IM produz irritação local dolorosa e deve ser evitada. A eritromicina é o protótipo dos macrolídeos, derivada do Streptomyces eritreus. A claritromicina e a azitromicina são os derivados semissintéticos da etritromicina. A inibição da síntese proteica ocorre por meio da ligação ao RNA ribossomal 50S, impedindo o alongamento da cadeia peptídica (transpeptidação) pelo bloqueio do túnel de saída do polipeptídeo. Ela também inibe a formação da subunidade ribossomal 50S. A eritromicina é ativa contra as cepas suscetíveis de organismos G+, principalmente: o Pneumococos; o Estreptococos; o Estafilococos; o Corinebactérias (difteria, sepse por corinebactéria, eritrasma). Também são sensíveis Mycoplasma pneumoniae, L. pneumophila, Chlamydia trachomatis, Chlamydia psittaci, Chlamydia pneumoniae, H. pylori, Listeria monocytogenes, e algumas micobactérias (Mycobacterium kansasii, Mycobacterium scrofulaceum). Cepas suscetíveis de organismos G- (Haemophilus influenzae é um pouco menos sensível): o Neisseria sp.; o Bordetella pertussis; o Bartonella henselae; o Bartonella quintana; o Algumas espécies de Rickettsia; o Treponema pallidum; o Espécies de Campylobacter. Em geral, é codificada por plasmídeo. Foram identificados três mecanismos: Medicina UNEB – Turma XIII P á g i n a | 5 1. Permeabilidade reduzida da membrana celular ou efluxo ativo; 2. Produção de esterases que hidrolisam macrolídeos (enterobactérias); 3. Modificação do sítio de ligação ribossomal (proteção ribossomal) por mutação cromossomal ou por metilase constitucional ou indutível por macrolídeo. O efluxo e a produção de metilase são os dois mecanismos de resistência mais importantes nos G+. A resistência cruzada é total entre a eritromicina e os outros macrolídeos. A produção própria de metilase também confere resistência a compostos estruturalmente desconexos, mas similares do ponto de vista mecânico, como a clindamicina e a estreptogramina B (resistência a macrolídeo-lincosamida estreptogramina ou do tipo MLS-B), que compartilham o mesmo sítio de ligação ribossomal. A eritromicina base é destruída pelo ácido gástrico e deve ser administrada com alimento. Os estearatos e os ésteres apresentam resistência razoável ao ácido e são um pouco mais bem absorvidos, sendo o estolato de eritromicina a preparação oral mais bem absorvida. Grandes quantidades da dose administrada são excretadas na bile e perdidas nas fezes, excretando-se apenas 5% na urina, não havendo necessidade de ajuste na insuficiência renal. Tem meia-vida de cerca de uma 1,5h e distribui-se amplamente, atravessando também a placenta, exceto para cérebro e LCS. A eritromicina é capturada por leucócitos polimorfonucleares e macrófagos. É o medicamento preferencial tradicional nas infecções por corinebactérias e nas infecções respiratória, neonatal, ocular ou genital por clamídias. Embora tenha sido usada no tratamento de PAC em razão do seu espectro de ação incluir pneumococos, M. pneumoniae e L. pneumophila, os novos macrolídeos atualmente são mais usados. A eritromicina também foi usada em substituição à penicilina em indivíduos alérgicos com infecção causada por estafilococos e estreptococos. O surgimento de resistência à eritromicina nos estafilococos e em cepas de estreptococos do grupo A tornou menos interessante o uso dos macrolídeos como agentes de primeira linha no tratamento de faringites e infecções de pele e tecidos moles. Anorexia, náuseas, vômitos e diarreia são comuns. A intolerância gastrintestinal, causada por estimulação direta da motilidade intestinal, é o motivo mais comum para interrupção da eritromicina e substituição por outro antibiótico. As eritromicinas, principalmente o estolato, podem produzir hepatite colestática aguda (febre, icterícia, comprometimento da função hepática), provavelmente como reação de hipersensibilidade. As outras reações alérgicas são febre, eosinofilia e exantemas. Os metabólitos da eritromicina inibem enzimas do citocromo P450 e aumentam as concentrações séricas de inúmeros fármacos, inclusive teofilina, varfarina, ciclosporina e metilprednisolona. A eritromicina aumenta as concentrações séricas da digoxina oral ao aumentar sua biodisponibilidade. É derivada da eritromicina por adição de um grupo metila, o que aumentou a estabilidade ácida e a absorção oral. Medicina UNEB – Turma XIII P á g i n a | 6 O mecanismo de ação é idêntico ao da eritromicina. A claritromicina e a eritromicina assemelham-se em relação à atividade antibacteriana, exceto pelo fato de que a claritromicina é mais ativa contra o complexo Mycobacterium avium (comum em pessoas com AIDS). A claritromicina também apresenta atividade contra Mycobacterium leprae, Toxoplasma gondii e H. influenzae. A meia-vida mais longa da claritromicina (6 horas) em comparação com a eritromicina permite a administração duas vezes ao dia. Ela penetra bem na maioria dos tecidos, é metabolizada no fígado e o principal metabólito é a 14-hidroxiclaritromicina, que também apresenta atividade antibacteriana. Partes do fármaco ativo e este metabólito principal são eliminados na urina, recomendando-se a redução da dosagem para pacientes com insuficiência renal. A claritromicina possui interações medicamentosas similares às descritas para a eritromicina. As vantagens da claritromicina em comparação com a eritromicina são menor incidência de intolerância gastrintestinal e administração menos frequente. Seus espectros de ação, mecanismo de ação e usos clínicos são similares aos da claritromicina, sendo ativa contra o complexo M. avium e contra o T. gondii. A azitromicina é um pouco menos ativa do que a eritromicina e a claritromicina contra estafilococos e estreptococos, mas um pouco mais ativa contra o H. influenzae e bastante ativa contra espécies de Chlamydia. A azitromicina difere da eritromicina e da claritromicina principalmente nas propriedades farmacocinéticas. Ela penetra muito bem na maioria dos tecidos e nas células fagocíticas (exceto no LCS). O fármaco é liberado lentamente dos tecidos (meia-vida tecidual de 2 a 4 dias) o que resulta em uma meia-vida de eliminação de cerca de três dias. Essas propriedades peculiares permitem a administração de dose única diária e, em muitos casos, o encurtamento da duração do tratamento. Ela não inativa as enzimas do citocromo P450 e está livre das interações medicamentosas que ocorrem com a eritromicina e com a claritromicina. Os ATB macrolídeos prolongam o intervalo QT em razão do efeito sobre os canais de potássio, isso pode causar arritmia tipo torsades de pointes. Trabalhos recentes sugerem que a azitromicina pode estar associada a um pequeno aumento no risco de morte cardíaca. Os estreptocos e estafilocos resistentesà eritromicina também são resistentes à claritromicina. Medicina UNEB – Turma XIII P á g i n a | 7 A clindamicina é um derivado da lincomicina com substituição do cloro. O sítio de ligação da clindamicina na subunidade 50S do ribossomo bacteriano é idêntico ao da eritromicina. As cepas suscetíveis de organismos G+, são principalmente: o Estreptococos; o Estafilococos; o Pneumococos. Bacteroides sp. e outros anaeróbios, G+ e G-, geralmente são sensíveis. Enterococos e organismos aeróbios Gram-negativos são resistentes. A resistência à clindamicina, que geralmente confere resistência cruzada com os macrolídeos, deve-se: (1) à mutação do sítio do receptor ribossomal; (2) à modificação do receptor por uma metilase expressa em nível constitucional; (3) à inativação enzimática da clindamicina. O fármaco apresenta ligação proteica de aproximadamente 90%. A clindamicina penetra bem na maioria dos tecidos, com exceção do SNC e LCS. Ela penetra bem em abscessos e no tecido ósseo (excelente para infecções ósseas-osteomielite) e é ativamente captada e concentrada por células fagocíticas. A clindamicina é metabolizada pelo fígado; o fármaco ativo e os metabólitos ativos são excretados na bile e na urina. Nenhum ajuste de dose é necessário em caso de insuficiência renal. Na maioria das vezes, ela é usada como alternativa terapêutica quando se tem alergia a penicilinas e macrolídeos, mas ela pode ser usada como primeira escolha para casos de fasciíte necrotizante, por conta de S. pyogenes. A clindamicina está indicada para tratamento de infecções cutâneas e de tecidos moles provocadas por estreptococos e estafilococos, assim como germes anaeróbios. Com frequência, é ativa contra cepas de S. aureus resistentes à meticilina adquiridas na comunidade, causa cada vez mais comum de infecções na pele e em tecidos moles. A clindamicina também está indicada para tratamento de infecções anaeróbias causadas por Bacteroides sp. e outros anaeróbios. Em combinação com um aminoglicosídeo ou com cefalosporina, é empregada para tratar lesões perfurantes do abdome e do intestino, infecções no trato genital feminino (p. ex., aborto séptico, abscessos pélvicos ou doença inflamatória pélvica) e abscessos pulmonares. Os comuns são diarreia, náuseas e exantema cutâneo. Por vezes ocorrem comprometimento da função hepática (com ou sem icterícia) e neutropenia. A administração de clindamicina representa fator de risco de diarreia e colite causada por C. difficile. Espécies G- apresentam resistência intrínseca em razão da baixa permeabilidade da membrana externa. Medicina UNEB – Turma XIII P á g i n a | 8 São a quinupristina (estreptogramina B) e dalfopristina (estreptogramina A). As estreptograminas compartilham o mesmo sítio de ligação ribossomal com os macrolídeos e com a clindamicina, inibindo a síntese proteica de maneira idêntica. Essa associação forma um agente bactericida de ação rápida contra a maioria dos organismos sensíveis, com a exceção do Enterococcus faecium, que é eliminado lentamente. As cepas suscetíveis de organismos G+, são principalmente: o Estafilococos resistentes e sensíveis à meticilina; o Estreptococos resistentes a diversos fármacos; o S. pneumoniae resistentes à penicilina; o E. faecium (mas não contra o Enterococcus faecalis). A resistência deve-se à modificação do sítio de ligação da quinupristina (resistência do tipo MLS-B), inativação enzimática da dalfopristina ou efluxo. A quinupristina e a dalfopristina são metabolizadas rapidamente, com meias-vidas de 0,85 e 0,7 hora, respectivamente. A eliminação ocorre sobretudo por via fecal. Não há necessidade de ajuste de dose em caso de insuficiência renal. No entanto, pacientes com insuficiência hepática podem não tolerar o fármaco nas doses usuais. Inibem de modo significativo a CYP3A4, que metaboliza a varfarina, o diazepam, o astemizol, a terfenadina, a cisaprida, os inibidores não nucleosídeos da transcriptase reversa e a ciclosporina, entre outros fármacos. A associação quinupristina-dalfopristina está aprovada para tratamento das infecções provocadas por estafilococos ou por cepas de E. faecium resistentes à vancomicina. As principais toxicidades são os eventos relacionados com a infusão, como dor local e uma síndrome de artralgia-mialgia. Cloranfenicol é um antibiótico bacteriostático de amplo espectro ativo contra organismos G+ e G- aeróbios e anaeróbios. Também é ativo contra Rickettsiae, mas não contra Chlamydiae. H. influenzae, Neisseria meningitidis, e algumas cepas de bacteroides são altamente sensíveis; no caso destes organismos, o cloranfenicol pode ser bactericida. A resistência clinicamente significativa se deve à produção de cloranfenicol acetiltransferase, uma enzima codificada por plasmídeo que inativa a substância. O palmitato de cloranfenicol é um profármaco hidrolisado no intestino que libera cloranfenicol livre. Para uso parenteral é usado um profármaco, o succinato de cloranfenicol, que é hidrolisado liberando cloranfenicol livre e produzindo níveis sanguíneos um pouco mais baixos do que a administração VO. O cloranfenicol distribui-se amplamente em quase todos os tecidos e líquidos orgânicos, inclusive SNC e LCS, de modo que a concentração de cloranfenicol no tecido cerebral pode ser igual àquela no soro. O fármaco penetra de imediato nas membranas celulares. A maior parte do fármaco é metabolizado no fígado. O cloranfenicol ativo (cerca de 10% da dose total administrada) e seus produtos de degradação inativos são eliminados na urina. Uma pequena quantidade do fármaco ativo é excretada na bile e nas fezes. A dose sistêmica de cloranfenicol não precisa ser modificada na insuficiência renal, porém deve ser bastante reduzida na insuficiência hepática. Os neonatos com menos de uma semana de vida e os lactentes prematuros também depuram o cloranfenicol de maneira menos apropriada, precisando fazer redução da dose. Medicina UNEB – Turma XIII P á g i n a | 9 Em razão do seu potencial tóxico, resistência bacteriana e disponibilidade de muitas outras alternativas efetivas, o cloranfenicol raramente é empregado nos EUA. O medicamento pode ser considerado no tratamento de infecções graves por riquétsias, como tifo e febre maculosa das montanhas rochosas. É uma alternativa aos antibióticos β-lactâmicos no tratamento da meningite bacteriana em pacientes que apresentem reações de hipersensibilidade graves à penicilina. É usado topicamente no tratamento de infecções oculares considerando seu amplo espectro e sua penetração nos tecidos oculares e no humor aquoso. Ocasionalmente, os adultos evoluem com distúrbios gastrintestinais, inclusive náuseas, vômitos e diarreia (raros em crianças). É possível ocorrer candidíase oral ou vaginal em consequência de alteração na microbiota normal. Comumente, o cloranfenicol produz supressão reversível da produção de eritrócitos relacionada à dose. A anemia aplásica, uma consequência rara, por qualquer via, é uma reação idiopática não relacionada à dose, embora ocorra com mais frequência em função do uso prolongado. Quando os neonatos recebem doses maiores que as suportadas, o fármaco pode se acumular, resultando na síndrome do bebê cinzento, com vômitos, flacidez, hipotermia, coloração acinzentada, choque e colapso vascular. O cloranfenicol inibe as enzimas microssomais hepáticas que metabolizam diversos fármacos. As meias-vidas são prolongadas, e as concentrações séricas da fenitoína, tolbutamida, clorpropamida e varfarina, aumentadas. A linezolida é um membro das oxazolidinonas, uma nova classe de antibióticos sintéticos. É ativa contra G+, inclusive estafilococos, estreptococos,enterococos, cocos anaeróbios G+ e bastonetes G+ como as corinebactérias, Nocardia sp., e L. monocytogenes. Trata-se de um agente primariamente bacteriostático, mas com ação bactericida contra estreptococos. Também é ativa contra o Mycobacterium tuberculosis. A linezolida inibe a síntese proteica ao impedir a formação do complexo ribossomal que a inicia. Seu sítio de ligação peculiar, localizado no RNA ribossomal 23S da subunidade 50S, faz não haver resistência cruzada com outras classes de fármacos. A resistência é causada por mutações do sítio de ligação da linezolida no RNA ribossomal 23S. Linezolida apresenta biodisponibilidade de 100% após administração oral com meia-vida de 4 a 6 horas. É metabolizada pela via oxidativa, proporcionando dois metabólitos inativos. Não é indutora nem inibidora das enzimas do citocromo P450. A linezolida está aprovada para as infecções por E. faecium resistentes à vancomicina, pneumonia associada aos serviços de saúde, PAC e infecções de pele e tecidos moles complicadas ou não complicadas por bactérias G+ sensíveis. Entre as indicações não indicadas na bula (off label) estão tratamento de tuberculose multirresistente e de infecções por Nocardia. A principal toxicidade da linezolida é hematológica; os efeitos são reversíveis e geralmente leves. A trombocitopenia é a manifestação mais comum, em particular quando o medicamento é administrado por Medicina UNEB – Turma XIII P á g i n a | 10 mais de 2 semanas. Também é possível ocorrer anemia e neutropenia, com maior frequência em pacientes com predisposição à ou supressão subjacente da medula óssea. Casos de neuropatia óptica e periférica e de acidose láctica foram relatados com cursos prolongados de linezolida. Acredita-se que esses efeitos colaterais estejam relacionados à inibição da síntese proteica mitocondrial induzida pela linezolida. Esses agentes são úteis principalmente contra microrganismos aeróbios Gram-negativos. Mecanismo de ação → Os aminoglicosídeos são inibidores irreversíveis da síntese proteica, mas não se conhece o mecanismo exato para a atividade bactericida. Dentro da célula, eles se ligam a proteínas ribossomais específicas da subunidade 30S. Foram definidos três mecanismos de resistência principais: (1) produção de uma enzima transferase ou de enzimas que inativam o aminoglicosídeo por adenilação, acetilação ou fosforilação → principal tipo de resistência encontrado clinicamente; (2) impedimento da entrada do aminoglicosídeo na célula → pode ser genotípico, resultando de mutação ou deleção de uma proteína porina ou de proteínas envolvidas no transporte e na manutenção do gradiente eletroquímico; ou fenotípico, decorrendo de condições de crescimento sob as quais o processo de transporte dependente de oxigênio acima descrito não esteja funcional; (3) a proteína receptora na subunidade ribossomal 30S pode ser deletada ou alterada em consequência de uma mutação. Farmacocinética → são muito mal absorvidos no TGI, e quase a totalidade da dose oral é excretada nas fezes após administração oral, sendo geralmente administrados por via parenteral. No entanto, os fármacos podem ser absorvidos quando há ulcerações. A meia-vida normal dos aminoglicosídeos no soro é de 2-3h, aumentando para 24-48h nos pacientes com insuficiência renal. São compostos muito polarizados que não penetram de imediato nas células, sendo em grande parte excluídos do SNC e dos olhos. Mesmo após a administração parenteral, as concentrações dos aminoglicosídeos não são altas na maioria dos tecidos, excetuando-se o córtex renal. A concentração na maioria das secreções também é baixa; na bile, pode alcançar 30% do nível sanguíneo. Com terapia prolongada, a difusão para o interior do líquido pleural ou sinovial pode resultar em concentrações de 50 a 90% da concentração plasmática. Os aminoglicosídeos apresentam a propriedade de morte dependente da concentração, quando em concentrações mais altas matam uma proporção maior de bactérias com maior velocidade. Também apresentam um efeito pós-antibiótico significativo, de forma que a atividade antibacteriana persiste além do período em que o medicamento está presente em quantidade mensurável. O efeito pós-antibiótico dos aminoglicosídeos pode durar várias horas. Quando administrados com um antibiótico ativo contra a parede bacteriana (um β-lactâmico ou a vancomicina), os aminoglicosídeos apresentam um efeito de morte sinérgica contra determinadas bactérias. O efeito combinado dos fármacos é maior do que o previsto para cada medicamento isoladamente. Esta sinergia é importante em determinados quadros clínicos, como na endocardite. Como dependem de tempo e concentração, é pouco provável que reações adversas ocorram antes que se alcance um determinado limiar de concentração, mas, uma vez atingida essa concentração, o tempo além desse limiar se torna crítico. Em doses clinicamente relevantes, o tempo total acima do limiar é maior com múltiplas doses menores do fármaco do que com uma única dose maior. Inúmeros estudos clínicos demonstram que uma dose única diária de aminoglicosídeo é tão efetiva – e provavelmente menos tóxica – do que múltiplas doses menores. Por conseguinte, muitos especialistas hoje em dia recomendam que os aminoglicosídeos sejam administrados como uma dose única diária em diversas situações clínicas. Medicina UNEB – Turma XIII P á g i n a | 11 Efeitos colaterais → são ototóxicos e nefrotóxicos. É mais provável a ocorrência de ototoxicidade e de nefrotoxicidade quando a terapia continua por mais de 5 dias, em doses mais elevadas, nos idosos e no quadro de insuficiência renal. O uso concomitante com diuréticos de alça ou outros agentes antimicrobianos nefrotóxicos (p. ex., vancomicina ou anfotericina) pode potencializar a nefrotoxicidade, devendo ser evitado, quando possível. A ototoxicidade pode manifestar-se como comprometimento auditivo, resultando em zumbido e perda da audição de alta frequência, ou como lesão vestibular, evidenciado por vertigem, ataxia e perda do equilíbrio. A nefrotoxicidade resulta em níveis séricos crescentes de creatinina ou em depuração reduzida da creatinina. Infecções por micobactérias → Agente de segunda linha para tratamento da tuberculose. Possui administração por via IM ou IV. Deve ser empregada apenas em combinação com outros agentes, já que a resistência ribossomal à estreptomicina desenvolve-se com rapidez, limitando sua função como agente isolado. Infecções não tuberculosas → Agente de segunda linha para tratamento da tuberculose. Possui administração por via IM ou IV. Deve ser empregada apenas em combinação com outros agentes, já que a resistência ribossomal à estreptomicina desenvolve-se com rapidez, limitando sua função como agente isolado. Na peste, na tularemia e, por vezes, na brucelose, é administrada por via IM em combinação com tetraciclina oral. A penicilina associada à estreptomicina é eficaz para endocardite enterocócica e para tratamento por duas semanas da endocardite por estreptococos viridans. A gentamicina substituiu em grande parte a estreptomicina nessas indicações. A estreptomicina permanece sendo útil no tratamento das infecções enterocócicas, porque alguns dos isolados enterocócicos resistentes à gentamicina serão sensíveis à estreptomicina. Efeitos colaterais → Febre, erupções cutâneas e outras manifestações alérgicas podem resultar de hipersensibilidade (mais comum em tratamentos prolongados, como tuberculose). A toxicidade vestibular tende a ser irreversível. A estreptomicina administrada durante a gravidez pode causar surdez no neonato e está contraindicada. Ela é ativa isoladamente, mas também tem efeito sinérgico com antibióticos β-lactâmicos, contra bastonetes Gram-negativosque podem ser multirresistentes. Como todos os aminoglicosídeos, a gentamicina não tem atividade contra anaeróbios. Os estreptococos e os enterococos são relativamente resistentes à gentamicina em razão de sua incapacidade de penetrar na célula. Contudo, a gentamicina em combinação com a vancomicina ou com penicilina produz um potente efeito bactericida que se deve, em parte, ao aumento na captação do fármaco que ocorre com a inibição da síntese da parede celular. As bactérias G- resistentes à gentamicina comumente são sensíveis à amicacina, que é muito mais resistente à atividade da enzima modificadora. A enzima enterocócica que modifica a gentamicina é uma enzima bifuncional que também inativa a amicacina, a netilmicina e a tobramicina, mas não a estreptomicina. A última é modificada por outra enzima. Isso acontece porque alguns enterococos resistentes à gentamicina são sensíveis à estreptomicina. Administração im ou iv → A gentamicina é usada principalmente nas infecções graves causadas por bactérias G- com probabilidade de serem resistentes a outros fármacos, em especial P. aeruginosa, Enterobacter sp., Serratia marcescens, Proteus sp., Acinetobacter sp., e Klebsiella sp. Geralmente, ela é empregada em combinação com um segundo agente já que um aminoglicosídeo isolado pode não ser A neomicina, a canamicina e a amicacina são os agentes mais ototóxicos. A estreptomicina e a gentamicina são os mais vestibulotóxicos. Neomicina, tobramicina e gentamicina são os mais nefrotóxicos. Medicina UNEB – Turma XIII P á g i n a | 12 efetivo para infecções fora do trato urinário. A gentamicina, em combinação com um antibiótico ativo contra a parede celular, também está indicada no tratamento da endocardite provocada por bactérias Gram-positivas (estreptococos, estafilococos e enterococos). Adm tópica e ocular → Cremes, pomadas e soluções com sulfato de gentamicina têm sido empregados para o tratamento de queimaduras, feridas ou lesões cutâneas infectadas e na tentativa de evitar infecções por cateter intravenoso, mas a gentamicina tópica é parcialmente inativada por exsudatos purulentos. Efeitos colaterais → A nefrotoxicidade geralmente é reversível e requer ajuste da posologia, devendo levar à reconsideração imediata da necessidade do fármaco, sobretudo quando há um agente alternativo menos tóxico. A ototoxicidade, que tende a ser irreversível, manifesta-se principalmente na forma de disfunção vestibular, mas também é possível haver perda da audição. Fonte: Katzung, 13ª Ed; Antibioticoterapia, SanarFlix.
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