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Farmacologia Camila Abreu – MED 100 Anti-inflamatórios não esteroidais - AINEs São também conhecidos como anti-inflamatórios não hormonais. ANTI-INFLAMATÓRIOS Grupo de fármacos quimicamente heterogêneos que se diferenciam por sua atividade antipirética, analgésica e anti-inflamatória. Se dividem basicamente em: derivados do ácido salicílico, do grupo acético, do paraminofenol, do ácido propiônico, do ácido enólico, do fenamatos e do inibidor seletivo da COX-2. Atuam, principalmente, inibindo as enzimas que catalisam a produção de prostanoides, notadamente das prostaglandinas. Esses fármacos vão se diferenciar principalmente pela sua atividade antipirética no combate à febre, pela sua atividade analgésica no combate a dor e sua atividade anti-inflamatória, no combate aos efeitos indesejáveis da inflamação. INFLAMAÇÃO É a resposta a um estímulo prejudicial, caracterizada por: vasodilatação local, infiltração de leucócitos e células fagocíticas e regeneração tecidual. É uma resposta natural do organismo à qualquer estímulo nocivo, seja ele um trauma, uma queimadura, uma infecção, que vai ser caracterizada por alterações teciduais e celulares, que têm como intuito, provocar a regeneração daquele tecido lesado. Resposta inflamatória LESÃO CELULAR — LIBERAÇÃO DE MEDIADORES — ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS E VASCULARES — Resumindo então, essa resposta ao estímulo nocivo, que provoca lesão tecidual ou celular, vai desencadear a liberação de mediadores, e esses mediadores vão provocar diversas alterações morfológicas e vasculares, para facilitar a chegada de células de defesa, que vão ajudar no combate ao estímulo nocivo, e vão atuar no reparo daquele dano causado. Essa figura esquemática demostra bem o local de atuação dos anti-inflamatórios não esteroidais. Farmacologia Camila Abreu – MED 100 Durante o processo inflamatório, nós vamos ter na cascata do ácido aracdônico a enzima fosfolipase A agindo sobre os fosfolipídeos de membrana celular, convertendo esses fosfolipídeos em ácido aracdônico que, por sua vez, vai ser precursor de duas vias – a via da lipoxigenase (vai produzir principalmente leucotrieno como mediador inflamatório – o leucotrieno é um mediador inflamatório que está mais envolvido nos processos das doenças alérgicas) e a via da ciclooxigenase ( vai produzir também alguns mediadores inflamatórios, e no nosso caso, o que interessa pra gente notadamente, as prostaglandinas). A seta vermelha ela indica o local de atuação dos anti-inflamatórios não esteroidais. Eles vão atuar inibindo a ciclooxigenase, que por sua vez, vai diminuir a produção de prostaglandinas. VIAS DE FORMACAO DOS MEDIADORES INFLAMATÓRIOS Via da Ciclooxigenase Produz eicosanoides (prostaglandinas, tromboxanos e prostaciclinas) COX-1 enzima construtiva COX-2 ativa nos processos inflamatórios. — Produz eicosanoides através das duas isoformas da ciclooxigenase, que é a COX- 1 (que participa mais dos processos constituitivos, como proteção gástrica, agregação plaquetária, homeostase vascular) e a COX-2 (apesar de também participar pouco dos processos constituitivos, ela vai ser bastante ativa nos processos inflamatórios). Via da Lipoxigenase Produz leucotrienos Mais importantes em doenças alérgicas Montelucaste, zileutona, zafirlucaste — Produz leucotrienos, que vão estar mais relacionados aos processos das doenças alérgicas. Ali nós temos exemplos de medicações que irão atuar inibindo a ação dos leucotrienos. O montelucaste é um antagonista dos leucotrienos, então ele atua inibindo a resposta alérgica/inflamatória causada pelos leucotrienos, no paciente asmático, por exemplo. MECANISMOS DE AÇÃO Tradicionalmente, a maioria das classes dos anti-inflamatórios inibem tanto a enzima COX-1 quanto a enzima COX-2. COX-1 Constitucional Secreção do muco gástrico, filtração glomerular, vasodilatação e antiagregação plaquetária. — São liberadas em pequenas quantidades, atuando em vários tecidos de maneira constitutiva. COX-2 Processos inflamatórios Estimulada como componente da resposta imune — É a enzima que vai estar mais presente durante a resposta aos processos inflamatórios. Também possui um papel constitucional, em menor quantidade, com menor presença em tecidos como ossos, rins, o cérebro. Porém, é a enzima clássica da resposta inflamatória. Ela é estimulada como um componente da resposta imune. Farmacologia Camila Abreu – MED 100 — Em um cenário ideal, seria interessante apenas inibirmos a COX-2, já que a inibição da COX-1 leva a maioria dos efeitos adversos colaterais que nós conhecemos dos anti-inflamatórios. Nós temos até uma classe específica, que são os inibidores seletivos da COX-2, porém, até mesmo essa classe no uso prolongado, causa alguns efeitos adversos bastante indesejáveis. PROSTAGLANDINAS São eicosanóides (grupo de mediadores fisiológicos derivados do ácido aracdônico liberado pelas células) Participam ativamente de processos constituitivos e da resposta inflamatória Os AINEs irão atuar suprimindo a resposta inflamatória, através da inibição das enzimas que produzem as protaglandinas. Essas enzimas onde os AINEs atuam são a ciclooxigenase 1 e 2 (COX-1 e COX- 2) Outros mediadores: leucotrienos, tromboxanos, lipoxinas, resolvinas, histamina, óxido nítrico, bradicininas, citocinas. — Quando os anti-inflamatórios atuam inibindo essa ciclooxigenase, eles vão provocar a diminuição das prostaglandinas. E o que seriam as prostaglandinas? São substâncias que vão sofrer a ação do efeito anti-inflamatório justamente pela inibição da enzima que atua na produção delas. Nós temos também outros mediadores inflamatórios, mas nós iremos focar na prostaglandina. INFLAMAÇÃO — Lembrando dos sinais clássicos do processo inflamatório, que é o calor (aumento da temperatura local), o rubor (hiperemia, vermelhidão, mudança de coloração principalmente causada pela vasodilatação), o tumor (edema, inchaço, extravasamento de líquido inflamatório), a dor (é causada tanto pelo estímulo nocivo atuando como fator lesivo nas terminações nervosas, como pela liberação de substâncias nociceptivas) e a perda de função (pode ser temporária ou pode ser definitiva, dependendo do grau de lesão que aquele tecido sofreu). — Quando nós fazemos o uso do anti-inflamatório, objetivando inibir a ciclooxigenase e assim a produção dos mediadores inflamatórios, principalmente as prostaglandinas, nós estamos querendo diminuir principalmente esses sinais clínicos no paciente. USO TERAPÊUTICO — Assim, as indicações terapêuticas para o uso dos anti-inflamatórios não esteroidais seriam sua ação analgésica, como anti-pirético e, obviamente, em ações anti-inflamatórias. Ação analgésica Eficazes contra dores leves à moderadas Pouco eficazes nas dores neuropáticas, por questões de diferenças na fisiopatologia desse tipo de dor Coadjuvantes no tratamento de dores fortes – geralmente vão ser associados a outras classes de analgésicos, como os opióides. Ação anti-pirética Recolocam o “termostato”de volta ao normal — Irão atuar inibindo algumas prostaglandinas que atuam a nível de SNC ou aumentando o termostato do controle da nossa temperatura, ou seja, aumentando a temperatura corporal. Farmacologia Camila Abreu – MED 100 — O uso desses anti-inflamatórios vai inibir essas prostaglandinas, e a tendência é recolocar a temperatura corporal de volta ao normal. — É uma ação importante porque só vai ter realmente um efeito anti-pirético em um paciente que está com febre. Em pacientes com a temperatura normal, esse reajuste não existe, o anti-inflamatório não provoca o reajuste da temperatura em paciente que já está com a temperatura normal. Ação anti-inflamatória Diminuem a formação de prostaglandinas — Vão inibir a formação das prostaglandinas e todos os efeitos indesejáveis causadospor essas prostaglandinas vão ser atenuados. OUTROS USOS Uso cardiovascular Inibição da agregação plaquetária — Uso na prevenção de eventos isquêmicos cardiovasculares. Aqui nós falamos notadamente do ácido acetilsalicílico, conhecido como AAS, que vai atuar inibindo principalmente a agregação plaquetária e, portanto, inibindo os eventos isquêmicos indesejáveis naqueles pacientes com fatores de risco cardiovasculares. Uso externo Tratamento de acne, calosidades e verrugas Uso local em inflamação — Outro tipo de uso seria o uso tópico/local. Algumas formulações de ácido acetilsalicílico também são usadas para o tratamento da acne, de calosidades e de verrugas. Existem também algumas formulações em forma de gel ou de spray que são usadas para o tratamento de processos inflamatórios localizados, como traumas. Você aplica no local que sofreu um trauma/pancada, a fim de tentar diminuir aquele efeito indesejável do processo inflamatório. FARMACOCINÉTICA Boa absorção por via oral, com rápida ação A maioria atinge boa concentração no SNC Biotransformação hepática Excreção renal Não são removidos facilmente por hemodiálise — Alguns pontos da farmacocinética dos anti-inflamatórios no geral merecem ser ressaltados. Geralmente, a grande maioria desses anti-inflamatórios estão presentes no mercado em formulações para uso oral. Então, eles são medicações pra tratar processos inflamatórios, dolorosos. São, então, medicações que possuem uma rápida ação. Eles têm uma boa absorção por via oral e, geralmente, têm um pico de ação rápido. — Eles sofrem, na sua grande maioria, metabolismo hepático e eliminação por via renal. — Muito cuidado na prescrição para o paciente renal crônico, principalmente aquele paciente que está em hemodiálise. EFEITOS ADVERSOS — Apesar de serem drogas relativamente seguras e de uso corriqueiro na prática clínica, os anti-inflamatórios podem causar efeitos adversos bastante indesejáveis. Gastrointestinais Desde dispepsia leve até eventos hemorrágicos mais graves Farmacologia Camila Abreu – MED 100 Cardiovasculares Risco de eventos trombóticos no uso crônico — Os inibidores seletivos da COX-2, ao inibirem somente a COX-2, eles deixam livre a COX-1, que vai produzir o tromboxano A2, que é uma substância inflamatória pró agregante plaquetário, então isso aumenta o risco de eventos trombóticos, principalmente no paciente de mais risco cardiovascular. Renais Retenção de sódio e líquido Podem diminuir efeitos anti-hipertensivos Plaquetários Aumento do risco de sangramento — Por inibirem, em sua grande maioria, a COX-1, isso vai acabar inibindo a agregação das plaquetas e, portanto, aumentando o risco de eventos hemorrágicos. Hipersensibilidade Desde rinite vasomotora até edema de glote. Toxicidade Náuseas, vômitos, hiperventilação, confusão mental e tontura, insuficiência respiratória, coma. — Temos como exemplo clássico os salicilatos, que podem provocar graus de intoxicação leves. Gestação Devem ser evitados no terceiro trimestre (fechamento prematuro do ducto arterial) Síndrome de Reye Febre em síndrome viral (crianças e adolescentes). — Talvez um dos quadros mais desesperadores. A síndrome de Reye é um quadro de encefalopatia associado à lesão hepática, que é mais comum em crianças e adolescentes, que nós temos quando prescrevemos em uma criança com síndrome viral associada à febre alguns anti-inflamatórios. Então, pode ser um quadro grave. Felizmente é raro, mas vale citar. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS — Nós devemos atentar, também, às interações medicamentosas dos anti- inflamatórios. Toda vez que nós fomos prescrever, devemos perguntar as medicações que ele faz uso. 80 a 90% dos salicilatos são ligados às proteínas plasmáticas e podem deslocar outros fármacos. — Se nós tivermos uma droga que esteja ligada à essa proteína plasmática, os salicilatos podem deslocar essa droga daquele sítio de ligação, e a droga vai ficar livre no sangue. Lembrando das aulas de farmacocinética e farmacodinâmica, lembramos que a droga potencialmente ativa é a droga livre, a droga que está ligada à proteína plasmática é a droga inativa. Então, ele pode potencializar o efeito de algumas drogas. Varfarina e fenitoína, por exemplo, aumentam sua concentração plasmática ao serem deslocados. — A varfarina é um anticoagulante. Quando o anti-inflamatório desloca a varfarina, você aumenta a porção livre dela no sangue, portanto a chance dela apresentar efeitos adversos. No caso da varfarina, a gente tem um aumento do risco de sangramento. AINEs podem atenuar a eficácia dos IECAs. Farmacologia Camila Abreu – MED 100 AINEs com corticóides aumentam as chances de efeitos adversos no TGI. SALICILATOS Ácido acetil salicílico (AAS), olsalazina, sulfassalazina, ácido salicílico. AAS causa inibição irreversível da ciclooxigenase — O AAS vai atuar causando a inibição irreversível da ciclooxigenase, ao contrário dos outros anti-inflamatórios, que geralmente causam uma inibição reversível. Analgésico, anti-pirético e anti-inflamatório — depende da dose. — Possui uma ação anti-plaquetária em doses menores, então é indicado no caso de prevenção dos eventos isquêmicos cardiovasculares. Boa absorção no TGI, com pico plasmático em 1hr. Atravessa a barreira hematoencefálica, barreira placentária, sinóvias (motivo pelo qual já foi muito utilizado como anti-inflamatório nas dores articulares). Metabolismo no TGI e hepático Excreção urinária — O tipo de ação vai depender da quantidade da dose administrada: Doses anti-agregastes plaquetárias (81 – 325 mg/dia) Inibe a formação de TXA2 mediada pela COX-1, reduzindo a agregação das plaquetas, consequentemente inibindo eventos trombóticos cardiovasculares. Doses analgésicas (325 mg – 2g / dia) — 500 mg de 6/6 hrs Doses anti-inflamatórias (2 – 4 g/dia) — até 1g de 6/6 hrs Uso tópico: tratamento de verrugas DERIVADOS PARAMINOFENOL Paracetamol (acetaminofeno) Efeitos analgésicos e anti-piréticos (anti-inflamatório fraco) Formulação oral tem excelente biodisponibilidade, alcançando rapidamente o seu início de ação quando administrado. Pico plasmático em 1 hora. Eliminação renal Baixa incidência de efeitos colaterais, apesar de possuir um metabólito intermediário potencialmente tóxico. Tylenol — 500 e 750 mg Conta-indicações: insuficiência hepática, insuficiência renal e hipersensibilidade. DERIVADOS DO ÁCIDO PROPIÔNICO Ibuprofeno, cetoprofeno, naproxeno, fenoprofeno. Inibidores não seletivos da COX Absorvidos rapidamente via oral com metabolismo hepático Uso terapêutico: processos inflamatórios em geral (artrite) Ibuprofeno (Advil, Alivium, Buscofem) e cetoprofeno (Profenid) Efeitos adversos: cefaléia, visão embaçada, tontura, trombocitopenia, agranulocitose, hipersensibilidade. DERIVADOS DO ÁCIDO ACÉTICO Diclofenaco (Voltaren, Cataflam, Tandrilax) Bem absorvidos com metabolismo hepático Farmacologia Camila Abreu – MED 100 Eliminados pelo rim (65%) e bile (35%) Formulações orais, tópicas, parenterais e retal (supositório) Efeito adversos: mais frequentes no TGI (20%) DERIVADOS DA PIRAZOLONA Dipirona (Novalgina, Anador, Benegripe, Dorflex) Potente ação analgésica e anti-pirética Inibição não seletiva da COX, dessensibilizam nociceptores Efeitos adversos: náuseas, vômitos, diarreia, dor epigástrica, sangramentos gastrointestinais, mielotoxicidade. Formulações orais, parenterais e retal (supositório). DERIVADOS DO INDOL Indometacina (Indocid) Inibidores potentes da COX Uso clínico: artrite reumatoide, osteoartrite, artrite gotosa, espondilite Boa absorção e biodisponibilidade Efeitos colaterais: alta incidência (25 a 50%). Efeitos no TGI, cefaleia intensa, tontura e confusão mental. Hepatitee pancreatite. Formulação oral, retal e parenteral. DERIVADOS ENÓLICOS (OXICANS) Tenoxican (Tilatil, Piroxican (Feldene) e Meloxicam (Melocox) Efeitos prolongados. Dose única diária Meloxican possui alguma seletividade para COX-2, o que diminuiria um pouco a chance de efeitos adversos. Metabolismo hepático e excreção nas fezes e urina Efeitos adversos: até 20% apresentam. Trato gastrointestinal, reações cutâneas, cefaleia, prurido, hipersensibilidade. FENAMATOS Ácido mefenâmico (Ponstan) Inibidores da COX e inibidores das protaglandinas Indicação clínica clássica: dismenorreia (cólica menstrual) Efeitos adversos: cutâneos e gastrointestinais (mais comuns) DERIVADOS DA FENOXIMETANOSSULFANILIDA Fraco efeito anti-inflamatório (inibidores fracos das PG) Potentes analgésicos (efeito central aumentando a noradrenalina) Efeitos colaterais: TGI e pele Nimesulida (Arflex retard, Scaflan, Nisulid) INIBIDORES SELETIVOS DA COX-2 Celecoxibe (celebra), Etoricoxibe (Arcoxia) Inibem seletivamente a COX-2 Reduzem os efeitos colaterais pela inibição da COX-1 Aumentam o risco cardiovascular a longo prazo Farmacologia Camila Abreu – MED 100 — Há um predomínio da ação da COX-1, portanto há um aumento na produção de tromboxanos, que são substâncias endógenas pró-agregante plaquetárias e, portanto, aumentam a chance de efeitos trombóticos. — Por isso, os inibidores seletivos da COX-2, quando utilizados a longo prazo, acabam aumentando o risco de doença isquêmica cardiovascular. Metabolismo hepático e eliminação renal Efeito prolongado diminui a densidade óssea — Dificultando muitas vezes a consolidação de fraturas, por exemplo. Esse efeito é mais comum em homens e de idades mais avançadas.
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