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Políticas Públicas e Legislação Educacional Aula 1 Políticas Públicas e Legislação Educacional Aula 1 Sumário Aula 01 Políticas Públicas e Legislação Educacional 1 – Conceito de educação – considerações iniciais 2 – Etapas da Educação Básica 2.1 – A Educação Infantil 1 – Conceito de educação – considerações iniciais “Sempre é difícil nascer. A ave tem que sofrer para sair do ovo, isso você sabe. Mas volte o olhar para trás e pergunte a si mes- mo se foi de fato tão penoso o caminho. Difícil apenas? Não terá sido belo também?” (Hermann Hesse) Existe, ainda, uma ideia equivocada que atribui à educação a transmissão do conhecimen- to constituído. Porém, em virtude das pluralida- des culturais, torna-se difícil retomar esse velho conceito e tentar levar para as escolas uma pe- dagogia tradicionalista. O conceito de educação e especialmente o de educar ganha contornos diversifi cados no cenário do ensino básico bra- sileiro. Hoje, o conceito de educação equipara ao grau de funcionalidade que o termo apresenta. De acordo com Libâneo, “educar” (do latim, educare) carrega o signifi cado de conduzir de um estado a outro, signifi ca provocar mudan- ças de direção, de rumo. O ato pedagógico em si, deve ser defi nido como uma atividade sistemáti- 4 ca de interação entre os seres humanos, tanto no nível intrapessoal, como no interpessoal. Libâ- neo (1990, p. 97): [...] presume no ato pedagógico de três compo- nentes: um agente (alguém, um grupo, um meio social etc.), uma mensagem transmitida (conte- údos, métodos, automatismos, habilidades etc.) e um educando (aluno, grupos de alunos, uma geração etc). Com isso, se quer dizer que o pedagógi- co se encontra entre a mensagem e o educando. Ainda, segundo o autor, como instância media- dora, a ação pedagógica possibilita a relação de reciprocidade entre indivíduo e sociedade. Isso nos leva a pensar na educação dentro de um con- texto histórico-social concreto, sendo a prática social o ponto de partida e de chegada da ação pedagógica. Entretanto, quando o aluno inicia seu processo de aprendizagem apresenta uma expe- riência social confusa e fragmentada, que deve ser conduzida ao estágio superior de organização. Para Demerval Saviani (1996, p. 120) a educação 5 “é um processo que se caracteriza por uma ativi- dade mediadora no seio da prática social global.” Nesse sentido, não há como dissociar educação de ensino e vice-versa. Pensem bem: “Como poderíamos edu- car alguém sem informá-lo sobre o mundo em que vive? A partir da consciência de sua própria ex- periência e da experiência social o homem adquire condições de se formar um ser político e social- mente envolvido, moralmente formado. Toda a informação ao ser assimilada pelo educando, in- terfere na sua concepção de mundo. Não há in- formação neutra, pois mesmo que pretensamente assim se apresente, está carregada de valores, uma vez que a educação não pode ser compreendida à margem da história, mas no contexto em que os homens estabelecem entre si as relações de pro- dução de sua própria existência. A partir dessas considerações, podemos dizer que a educação deve ser um instrumento de crítica dos valores herdados e dos novos valo- res que estão sendo propostos. Nesse interjogo, devemos tomá-la como um processo formativo, de modo que socialize a cultura herdada, dele- gando a todos os instrumentos de crítica dessa 6 mesma cultura, ou seja, a educação existe com o propósito de instrumentalizar o homem como um ser capaz de agir sobre o mundo e, ao mesmo tempo, compreender a ação exercida. A escola, nesse caso, não se resume numa entidade que pressupõe transmitir um sa- ber acabado e defi nitivo, não devendo separar teoria e prática, educação e vida. Os professores integram o processo educativo, sendo importan- tes para a formação das futuras gerações e para os padrões de sociedade que almejamos. Libâneo (1994, p. 19) ressalta o papel social da educação e o modo como seus conteúdos objetivos são de- terminados pelas sociedades, pela política e ideo- logia predominantes: [...] desde o início da história da humanidade, os indivíduos e grupos travavam relações recíprocas diante da necessidade de trabalharem conjunta- mente para garantir sua sobrevivência. Portanto, a educação escolar consiste em um sistema de instrução e ensino de objetivos intencionais, sistematizados e com alto grau de organização. As práticas educativas podem de- terminar as ações da escola, sendo a escolari- 7 zação o processo principal para oferecer a um contingente sua real possibilidade de ser livre e buscar nesta mesma medida participar das lutas democráticas. Guiomar Namo de Melo (apud Libâneo, op.cit., p. 35) destaca que “a escolaridade básica constitui instrumento indispensável à construção da sociedade democrática”. Isso se confi rma no artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases (Lei n.9394/96): A Educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convi- vência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e or- ganizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. Esse conceito abarca a plenitude da vida cultural que se refl ete na escolaridade básica. Diante do que já pontuamos, o aluno acumula conhecimentos e experiências que vivencia em seu meio, e com o qual conta para dar sentido a seu processo de aprendizagem. Nesse processo, a aprendizagem vivenciada se articula à aprendi- zagem instituída, por meio do intelecto. O fun- 8 cionamento da inteligência signifi ca um modo particular de vivenciar os processos de formação de valores, condutas e saberes apreendidos e re- produzidos com os propósitos educacionais de cada época, de cada cultura, de cada etnia. Isso nos leva a refl etir a necessidade de a escola caminhar articulada aos interesses ob- jetivos e subjetivos da formação humana. O contexto educacional apregoa que a escola de- verá atentar-se para o modo como lida com a formação dos alunos, e que terá de seguir um modelo aberto, fl exível e contextualizado. Prin- cipalmente, a meta educacional “deverá vincular- -se ao mundo do trabalho e à prática social” e a relação educação e trabalho precisa ser discutida e aprofundada nos fundamentos legais das dire- trizes curriculares educacionais. O art. 22 da LDB assegura isso: A educação básica tem por fi nalidades desen- volver o educando, assegurar-lhe a formação co- mum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. 9 E sobre a proposta curricular para a edu- cação básica o artigo 27 da Lei garante que: Os conteúdos curriculares da educação básica observarão, ainda, as seguintes diretrizes: I – a difusão de valores fundamentais ao interes- se social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática; II – consideração das condições de escolaridade dos alunos em cada estabelecimento; III – orientação para o trabalho; IV – promoção do desporto educacional e apoio às práticas desportivas não formais. São etapas correspondentes a diferentes momentos constitutivos do desenvolvimento educacional: a Educação Infantil, que compreen- de: a creche, englobando as deferentes etapas de desenvolvimento da criança até 3 (três) anos e 11 (onze) meses, e a pré-escola, com duração de 2 (dois) anos; o Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, com duração de 9 (nove) anos organi- zado e tratado em duas fases: a dos 5 (cinco) anos iniciais e a dos 4 (quatro) anos fi nais; e o Ensino 2– Etapas da Educação Básica 10 Médio, com duração mínima de 3 (três) anos. 2.1– A Educação Infantil Considerada a primeira etapa da Edu- cação Básica, do nascimento aos três anos, as crianças têm direito a atendimento em creches; dos quatro aos cinco anos, em pré-escola, com- petindo aos municípios oferecê-la gratuitamente. De acordo com Mariza Abreu (2004),a educação infantil cresce de forma acelerada no mundo in- teiro em função: • da necessidade da família de uma instituição que se encarregue do cuidado e da educação de seus fi lhos pequenos; • dos argumentos advindos das ciências que in- vestigam o processo de desenvolvimento huma- no que indicam a primeira infância como perío- do crítico desse processo; • da compreensão de que o ser humano tem direito ao cuidado e à educação desde o nasci- mento, sendo a educação elemento constitutivo da pessoa; • do direito dos trabalhadores, pais ou responsá- veis, à educação de seus fi lhos e dependentes de zero a cinco anos. 11 No contexto do projeto nacional – polí- tico, econômico e social – assumido pelas instân- cias governamentais e pelos movimentos sociais, a Educação infantil ganha maior compreensão no contexto educacional. De acordo com o Pa- recer do Conselho Nacional de Educação e Con- selho de Educação Básica/ n° 04/00, a educação infantil visa propiciar a integração dos aspectos físicos, afetivos, cognitivos, sociais e cultu- rais das crianças, respeitar a expressão e as compe- tências infantis, garantindo a identidade, a autono- mia e a cidadania da criança em desenvolvimento. Nesse sentido, o Projeto Pedagógico de- verá ser construído de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais e as Diretrizes Operacio- nais para Educação Infantil, e as normas do res- pectivo sistema de ensino, além dos Referencias Curriculares para Educação Infantil, publicados pelo Ministério da Educação (MEC), garantindo a participação dos educadores, das famílias e das comunidades. O compromisso da Educação infantil para crianças de 0 a 3 anos concentra-se nas formas de expressão, entre elas a linguagem 12 verbal e a corporal. É um período em que a criança vivencia a realidade através das fantasias que cria e dos jogos simbólicos. É o período do faz de conta. A – O trabalho pedagógico na educação infantil A rotina de trabalho na educação infantil deverá vincular-se a afetos e aprendizagens nas mais diversas atividades que compõem o cotidia- no da criança, que deverá organizar-se para que elas ampliem seus conhecimentos. Tendo como eixo principal a criança e seus interesses, a prática de ensinar deve ser pau- tada na práxis pedagógica para que o educador possa ressignificá-la sempre que necessário. Diante disso, o professor de educação infantil deverá desempenhar sua função junto ao grupo de crianças, planejando e executando si-tuações voltadas à construção da autoconfiança, iniciativa, autonomia e potencialidades inerentes à condição humana. Com essas considerações, algumas inda-gações merecem ser revistas: • Que fi losofi a fundamenta a prática dos profi s- sionais que atuam nas instituições de educação 13 infantil? • Quais os seus objetivos? • São simplesmente professores, recreadores ou educadores? • Esses educadores conhecem bem o processo de desenvolvimento infantil? • Conhecem a teoria epistemológica de Piaget sobre o desenvolvimento intelectual da criança? • Conhecem a relação afetividade e cognição? • Sabem perceber a criança em sua integralidade? • Sabem que pressupostos e objetivos permeiam a educação infantil? • Estarão comprometidos com uma educação que dê oportunidades para que as crianças manifestem livremente seus sentimentos e emoções, satisfa- çam sua curiosidade natural, decidam, critiquem, escolham, opinem, desabrochem suas potenciali- dades, reinventem o conhecimento, sintam prazer, perseverança, iniciativa, sejam felizes? • De suas mãos sairão crianças criativas, inventi- vas, refl exivas? É elementar que o professor repense a organização do espaço e do tempo na escola, de maneira que possibilite desafi ar a iniciativa da criança, levando em consideração a faixa etária, a 14 quantidade de alunos na turma, a necessidade e interesses do grupo, e como interagem os cole- gas entre si. É preciso que se considerem também as necessidades biológicas das crianças, que di- zem respeito aos cuidados básicos que se reali- zam em horários pré-determinados pela escola, como hora das refeições, higiene, repouso etc. Vale destacar que essa rotina gera disciplina, o que permite à criança a formação de hábitos re- lacionados ao espaço e ao tempo. Diante dessas colocações, a educação in- fantil necessita de educadores que tenham uma filosofia de vida e de educação voltada para as questões da infância, cujo fazer pedagógico seja coerente com suas crenças e valores; que enten- dam de metodologias, de processos de desenvol-vimento infantil; sejam estimuladores da criati-vidade e promotores de situações desafiadoras; saibam interagir com a criança e acolhê-la em seu momento real. Enfim, os profissionais da edu-cação infantil precisam saber em que consiste a ação educativa. B – O brincar na educação infantil A brincadeira que a criança desenvolve é 15 uma forma de descobrir o mundo, desenvolver capacidades como atenção, criatividade e ima- ginação, além de organizar as emoções e iniciar os primeiros relacionamentos no meio de con- vivência. A criança que brinca é mais feliz, mais espontânea, vive de fato a infância. Por sua função humanizadora e cultural, a brincadeira confi gura-se de práticas, conheci- mentos e artefatos construídos e acumulados pe- los sujeitos, nos contextos históricos e sociais em se inserem, ou seja, a criança, do mesmo modo que aprende a se comunicar e a expressar seus desejos e vontades, aprende a brincar. No entanto, na escola, o brincar deve fazer parte de um projeto educativo planejado, em que o professor seja o participante e obser- vador das brincadeiras, o que lhe proporcionará uma maior proximidade dos alunos e da vivência real de cada um, e do modo como lidam com as situações cotidianas. Assim, o ato de brincar da criança vai se tornando complexo na medida em que ela avança em seus estágios de desenvolvi- mento intelectual. Cabe, portanto, considerar que a brinca- deira é a ação que a criança desempenha ao con- cretizar as regras do jogo, ao mergulhar na ação 16 lúdica. O compromisso do adulto é coordenar o brincar fazendo com que se torne um processo educativo para crianças de diferentes idades. C- Sexualidade da criança Freud (1970) estuda a sexualidade infan- til, distinguindo-a da pura genitalidade, compre- endendo que ela também pressupõe um modo de constituição psíquica. A criança vive a sua se- xualidade desde que nasce, em situações de ama- mentação, percepção do próprio corpo ao tocar- -se ou ser tocada e na curiosidade crescente, em que o corpo passa a ser o seu universo sexual. Para ele, a criança vai vivenciando diferentes pe- ríodos na constituição da sua sexualidade. O primeiro, estágio oral – aproximada- mente os primeiros dois anos de vida -, em que a concentração da sexualidade está na zona oral. A seguir, o estágio anal – do primeiro ao tercei- ro ano de vida -, tem como aspecto relevante a maturação neuromuscular sobre os esfíncteres, permitindo maior controle sobre a retenção e expulsão das fezes e urina, o que caracteriza maior domínio sobre o próprio corpo. O estágio fálico – por volta do terceiro ao quinto ano -, tem as primeiras teorias sobre a sexualidade sen- 17 do formuladas pelas crianças, isto, na tentativa de responder perguntas como: de onde vêm os bebês, como serão os órgãos genitais dos que as rodeiam e como se dá a relação sexual dos pais. Diante dessas primeiras curiosidades infantis, Rousseau (1992, p.223) escreve: A maneira mais curta que uma mãe imagina para se desobrigar, sem enganar o fi lho, é impor-lhe o silêncio... é o segredo das pessoas casadas, lhe dirá: as crianças não devem ser tão curiosas. Eis que resolve muito bem o problema da mãe: mas que saiba que despeitado com o ar de desprezo, o menino(a) não terá um minuto de descanso en- quanto não tiver descoberto o segredo das pes- soas casadas e não tardará em descobri-lo. Para Nunes (2000, p.55), constitui-se tarefa pedagógica satisfazeras curiosidades da criança respeitando os seus limites de entendi- mento e a especifi cidade da dúvida que ela apre- senta. Nesse sentido, querer olhar os produtos do seu corpo, os próprios órgãos e interessar-se pela genitália dos companheiros são comporta- mentos naturais que requerem a compreensão e 18 intervenção adequada do adulto com vistas à su- peração do sexismo1 e dos estereótipos sexuais. D – Adaptação da criança à escola infantil A fase de adaptação escolar pode gerar confl itos, medos e inseguranças tanto nas crian- ças como nos pais, pois, ao sair do núcleo fami- liar para se inserir nesse novo ambiente, muitas coisas passam pela cabeça da família. Nesse momento, é fundamental que a escola possa ser concebida enquanto instituição capaz de oferecer às crianças uma infi nidade de novas possibilidades. Para tanto, família e escola devem trabalhar juntas, a fi m de tornar esse mo- mento uma descoberta saudável. O educador tem como função, nesse pe- ríodo, tornar esse novo meio interessante para a criança, conhecendo o aluno, suas particularida- des evolutivas, necessidades básicas, a família e sua rotina e tendo informações específi cas sobre suas condições de saúde, higiene e nutrição, pois 1 Sexismo é um termo que se refere ao conjunto de ações e ideias que pri- vilegiam entes de determinado gênero. Por exemplo, mulheres que acham que o sexo feminino é superior ao masculino e vice-versa. Também se adéqua no que toca a orientações sexuais: heterossexuais que se julgam superiores a homossexuais e vice-versa. 19 o conjunto de suas características pessoais e fa- miliares precisa ser respeitado e valorizado. Tais informações devem estar contem- pladas no planejamento das brincadeiras, dos jo- gos e das atividades lúdicas oferecidas às crianças como estratégia para o processo de adaptação de cada uma. Ainda, é preciso considerar que a en- trada da criança na escola é a primeira de tantas outras adaptações que irão acontecer no decorrer da vida escolar. Desse modo, sempre que aconte- cer troca de turma, de professor, mudanças fami- liares, entre outros, os princípios da adaptação, anunciados acima, precisam ser reconduzidos. 20
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