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Educação Especial e Inclusiva Aula 1 Unidade 1 Educação Especial e Inclusiva Aula 1 Sumário Aula 01 Educação Especial e Inclusiva Objetivos da Unidade Conteúdos da Unidade O grande problema do educador não é discutir se a Edu- cação pode ou não pode, mas é discutir onde pode, como pode, com quem pode, quando pode; é reconhecer os limites que sua prática impõe. É perceber que o seu trabalho não é individual, é social e se dá na prática de que ele faz parte. Paulo Freire in Carvalho (2004, p9) A Educação é um dos mais importantes ins- trumentos de inclusão social, essencial para a redução das desigualdades no Brasil. De acordo com Carvalho (2004, p.10), a reali- dade educacional brasileira aponta severos limites, para refleti-la é necessário repensar o real significado de di- versidade, como também sobre a prática pedagógica (acesso ao currículo, avaliações,...) nas várias escolas. Historicamente, no século passado, havia um olhar positivista, tendo a igualdade como padrão, como uniformidade, precisão e clareza. Esta ideia trouxe uma prática escolar, e na sociedade, de ex- clusão. O parâmetro colocado foi quem pode mais, quem pode igual, quem pode menos, uma prática que norteou o pensamento da competência, da justiça em avaliação educacional, e, a comparação e a seleção. Ca- tegorias classificatórias foram criadas, e socialmente a dimensão de aprovado/reprovado, incluído/excluído. A Constituição Federal, de 1988, incorpora ban- deiras e traz avanços consideráveis dos pontos de vista jurídicos, normativo e institucional para a garantia dos direitos sociais. Apresenta uma concepção ampla de Educação, tratando-a como direito social inalienável e fundamental para o exercício da cidadania, asseguran- 4 do o acesso ao ensino como direito público subjetivo, impondo a co-responsabilidade dos entes federados por sua implementação e garantindo a aplicação de percentuais mínimos da receitas provenientes de im- postos, para sua manutenção e desenvolvimento. Para Pensar A escola, espaço educativo e legítimo, é onde é possível construir identidade, cidadania, deve exercer o seu papel para a sociedade. Calar-se ou omitir-se diante da exclusão da criança com deficiência ou dificuldade em aprendi- zagem, nos diversos espaços sociais, seria contribuir para o crescimento e desenvolvimento destas pessoas e para uma sociedade mais humana? ”...Somos diferentes. Essa é a nossa condição humana. Pensamos de jeitos diferentes, agimos de formas diferentes, sentimos com intensidades diferentes. E tudo isso porque vivemos e apreen- demos o mundo de forma diferente.” Carvalho (2004, p.10) Portanto, pensar na perspectiva da inclusão sig- nifica tomar consciência e valorizar a diversidade dos alunos, relativizar o certo/errado, repensar os proble- mas e rediscutir as classificações. Existem diversas formas de aprender e apre- ender as questões do mundo que nos cerca, como há saberes e saberes, e também experiências múlti- 5 plas. Valorizar a diversidade implica em possibilitar ao outro vir a ser no seu tempo e a seu tempo, cui- dando, acolhendo,compartilhando diferentes jeitos de aprender.Trata-se de desigualar condições para igualar possibilidades. Freire fala in Carvalho, (2004, p.11): “... é por isso que este desrespeito à criança e a sua identidade, este desrespeito ao mundo e ao mundo em que a criança está se fazendo pelo fato mesmo de estar tocando neste mundo, re- vela indiscutivelmente uma ideologia elitista e au- toritária da escola. Quer dizer, a escola é elitista entre outras coisas porque só aceita como válido o saber já montado, o saber pseudamente termi- nado. Aí há um erro científico, também um erro epistemológico. E que não há saber nenhum que esteja pronto e completo. O saber tem historici- dade pelo fato de se construir durante a história e não antes da história nem fora dela.” Seguindo as ideias de Mantoan (2003, p.13),... “a inclusão não prevê a utilização de práticas de ensino escolar específicas para esta ou aquela deficiência, e ou dificuldade de aprender. Os alunos aprendem nos seus limites e se o ensino for, de fato, de boa qualidade, o professor levará em conta esses limites e explorará convenientemente as possibilidades de cada um.” Acredito ser importante fundamentar esta re- flexão a partir do conceito de paradigmas. Para Mantoan (2003, p14), paradigmas são um 6 conjunto de regras, normas, crenças, valores, princí- pios que são partilhados por um grupo em um deter- minado momento histórico e que norteiam o nosso comportamento, até entrarem em crise, porque não nos satisfazem mais, não dão conta dos problemas que temos de solucionar. Para Pensar A crise educacional, em que vivemos, nos re- mete a suscitar novas bases teóricas que não são fá- ceis de haver, pois implica em mexer com princípios, crenças enraizadas culturalmente e arriscando aqui, cientificamente. Toda crise é tomada de incertezas, de insegurança, mas também de muita liberdade de criação, de ousadia para buscar alternativas, outras formas de leitura das coisas, fatos que nos cercam, novos olhos, novos sentidos. Neste cenário, no centro de tensão esta a escola onde se faz urgente a ruptu- ra de padrões organizacionais, comportamentos para se haver com o contexto atual. A partir desta visão, não é difícil perceber que os velhos paradigmas da modernidade não compõem mais “matéria-prima” da educação escolar. As diferenças culturais, sociais, étnicas, religiosas, de gênero, estão sendo defendidas nos documentos nacionais e internacionais, como os direitos humanos e a democracia tornam-se im- prescindíveis para que busquemos novas concepções de mundo, de homem, de planeta.Novas redes de ações,parcerias,conhecimentos são gerados pela velo- cidade das tecnologias,comunicações e informações. Manter as posturas tradicionais compromete o 7 Para Pensar movimento do mundo globalizado, dinâmico e margi- naliza as diferenças. Mantoan (2003, p. 17) coloca que a comunida- de acadêmica não pode continuar a pensar que só há um único modelo de cientificidade e uma única epis- temologia. A escola abriu as portas para a deficiência, a novos grupos sociais, mas não aos novos conheci- mentos quando não cria possibilidade de diálogo en- tre diferentes lugares epistemológicos. A fragmentação do conhecimento em discipli- nas é uma prática que dificulta a articulação dos as- suntos, temas desenvolvidos, como também, a pos- sibilidade de se ter uma visão da essência e do todo. Qual a diferença entre Educação Especial e Educação inclusiva? De acordo com Raiça (2006, p.13), Educação Especial e educação inclusiva, na legislação brasileira, estão cada vez mais próximas, embora, do ponto de vista histórico e estrutural, as duas modalidades pos- sam nos parecer significativamente antagônicas. Historicamente, Educação Especial e Educação inclusiva são modelos de conhecimentos socialmente aceitos em determinada época. Por esta óptica, os dois modelos podem num dado momento, coexistir e ao mesmo tempo exercer influência em determinado meio social. Hoje, estamos diante de vários paradigmas, que vão da segregação, à integração e até à inclusão. A inclusão aparece como ramificação da Edu- 8 cação Especial, tal como é formada nas diretrizes legislativas brasileiras, de outro, surge como um mo- vimento opositivo às concepções paradigmáticas da Educação Especial focada nos déficits e na separação. Para Pensar Sobre a função da Educação inclusiva - seria mesmo do eixo da Educação Especial, ou seria mais coerente situá-la como aprimoramento dos serviços educati- vos regulares? Muitos profissionais relacionam a inclusão à presença de alunos com deficiência nas classes regu- lares. É comum escutar queixas nas escolas, os profes- sores sentem-se despreparados para trabalhar com alu- nos deficientes em suas turmas, alguns concordam que eles têm direito à escola opinam que, igualmente, têm direito à presença de especialistasque os atendam em classes especiais ou que ofereçam supervisão aos pro- fessores; consideram falta de respeito aos alunos e aos seus professores incluí-los no ensino regular. Reivindi- cam que as escolas sejam adaptadas para esse trabalho, seja na arquitetura ou nas atitudes. Alguns sentem-se inseguros,mas desejam enfrentar o desafio que não é simples,nem impossível, pois, reconhecem vantagens na inclusão de deficientes,nos aspectos sociais e nos cognitivos na medida em que preconceitos serão eli- minados na convivência,no cotidiano escolar. A inte- gração social desses alunos gera solidariedade entre os colegas que se sentem sensibilizados e estimulados para ajudar na aprendizagem. Nas reflexões de professores que se mostram receptivos, estes entendem que, para 9 enfrentar o desafio é necessário (Carvalho-2004, p.133): Revisão da metodologia didática atualmente adotada,intensificação da relação família/escola, oferta de mais cursos para os professores, redução do número de alunos por turma. É importante lembrar que alunos com dificul- dades de aprendizagem não são, necessariamente, de- ficientes. Observação importante, pois muitos são en- caminhados, marcados em sua trajetória escolar como tal, como deficiente, sem diagnóstico real. É possível observar também, entre os profes- sores, que quando o tema é inclusão, as referências aparecem, apenas, em relação aos alunos com defici- ência, particularmente a mental. Para se evitar tal erro, pois estamos contaminados por uma formação exclu- dente, devemos observar e perceber mecanismos que favorecem tal prática em nossas atitudes, mesmo que sejamos defensores da inclusão. Segundo Carvalho (2004, p.137), na fase de transição para o novo paradigma (inclusão), as mu- danças devem estar nas atitudes dos educadores fren- te às diferenças e na conscientização da força social de seu papel, para as práticas de significação dos conteú- dos curriculares e para a leitura crítica do mundo. Para ela, escolas inclusivas para todos e com todos, capazes de promover a integração e de remover as barreiras para a aprendizagem e para a participação de qual- quer aprendiz, deve vir com atitudes proativas, com acolhimento e compromisso da equipe pedagógica. 10 Torna-se fundamental a ressignificação do papel do professor que, em vez de ser profissional do ensino, deve assumir-se como profissional da aprendizagem, com enorme responsabilidade social e política. O mundo, em que vivemos, exige que os educadores de- sempenhem papéis que vão muito além de transmitir conhecimentos e cultura. A base conceitual do que fazemos é da maior importância, pela competência técnica que nos ofere- ce como também a competência política. O aspecto atitudinal pode acarretar mudanças duradouras e con- sistentes, mas as atitudes não mudam com o piscar dos olhos, geralmente, é sofrido, com obstáculos afetivos, cognitivos, organizacionais a serem superados. Estu- dar as atitudes humanas, analisar conceitos, é uma for- ma favorável para que nossas ações não sejam impul- sivas e passionais, mas teoricamente fundamentadas. Na sociedade, o paradigma da inclusão não se modifica pela imposição da lei. Para isso, são ne- cessárias transformações nas concepções de homem e de educação, por parte das pessoas envolvidas no processo em relação às crianças com deficiência, para que estas ao serem matriculadas em classes regulares, não continuem sendo excluídas das oportunidades de desenvolvimento social e pedagógico. As matrículas das crianças com deficiência, nas classes regulares do ensino, não significa inclusão, elas podem estar ali, mas excluídas do processo pedagógi- co e até mesmo das relações sociais no grupo no qual estão inseridas. Cabe às escolas especiais reestruturar suas con- cepções principalmente em relação ao apoio às escolas 11 regulares. Há escolas especiais **que realizaram a entra- da à diversidade de público, diversas deficiências e para as crianças ditas normais, e desta forma conseguem manter uma postura inclusiva. Citando estes exemplos, não são somente as escolas regulares que precisam mu- dar suas posturas, as escolas especiais precisam e de- vem ajustarem-se aos novos desafios da inclusão. Para isso, são necessários os serviços técnicos especializados tanto na área da saúde como na edu- cação. Compromissos comunitários de toda a socie- dade para promover a causa da inclusão. Dificuldades de acesso e aprimoramento do conhecimento, não se restringem, apenas, a população com deficiência. É importante defender a escola pública de qualidade para todos, negros, pobres, mulheres, índios,..., pois esta beneficiará todas as crianças que de alguma forma são tocadas pela exclusão. Mudanças na concepção e prática pedagógica no cotidiano escolar, considerando as múltiplas inteligências, as diversas áreas de saber, as formas de aprendizagem, tendem a promover o aten- dimento às diferenças e necessidades de aprendizagem. Raiça (2006, p.19) relaciona algumas caracterís- ticas predominantes no paradigma da Educação Es- pecial e no paradigma inclusivo. 12 Paradigma Especial Foco nos déficits da criança. Ênfase no treinamento da criança visando a que ela se ajuste ao meio escolar. Diagnóstico baseado em testes de inteligência, realizado por psicólogo e médico. O objetivo do diagnóstico é identificar o quociente intelectual (QI) e as limitações para que se possa estabelecer o tipo de escola especializada, assim como o nível do agrupamento apropriado à criança. Atendimento em classe ou escola especializada, isto é, separado das demais crianças. Escolas preparadas para receber os alunos com uma especificidade de problema. Por exemplo: escola só para deficientes mentais moderados; escolas que só recebem surdos etc. Professores especialistas em determinada deficiência. Objetivo educacional centrado no treinamento, com o intuito de favorecer a adaptação social da pessoa. 13 Paradigma Inclusivo Foco nas ilhas de inteligência que estão preservadas. Ênfase na mudança do ambiente para proporcionar a todas as crianças melhores condições de aprendizagem e desenvolvimento. Diagnóstico multidisciplinar, realizado por médico, psicólogo, assistente social, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, pedagogo, professores, entre outros. O objetivo do diagnóstico é identificar habilidades prévias e necessidades de apoio, com a finalidade de elaborar um programa educacional individualizado. Atendimento em classe regular junto a seus pares de idade; apoio especializado com suporte ao professor. Escolas preparadas para educar na diversidade. Educadores preparados para oferecer ensino de qualidade a qualquer criança. Objetivo educacional centrado na aprendizagem significativa, favorecendo a aquisição de habilidades pessoais, sociais profissionais, que contribuam para a inclusão social da pessoa com deficiência. 14
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