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Kamyla Jathara Rocha-2019 (TRANSPORTE DE MEMBRANA) As células devem importar nutrientes (como açucares e aminoácidos), eliminar produtos residuais metabólicos (como o CO2) e regular as concentrações intracelulares de uma série de íons orgânicos. Alguns desses solutos, como CO2 e O2, podem simplesmente difundir-se através da bicamada lipídica, mas a grande maioria, não. Em vez disso, sua transferência depende de proteínas de transporte de membrana, propiciando corredores privativos ao longo da membrana para substâncias selecionadas. OS PRINCIP IOS DO TRANSPORTE DE MEMBRANA AS CONCENTRAÇÕES IÔN ICAS DENTRO DE UMA CÉLULA SÃO MUITO D IFERENTES DAQUELAS FORA As células vivas mantêm uma composição iônica interna que é muito diferente da composição iônica do líquido à sua volta, e essas diferenças são cruciais à sobrevivência e à atividade de uma célula. A distribuição diferencial de íons dentro e fora da célula é controlada em parte pela atividade de proteínas de transporte de membrana e em parte pelas características de permeabilidade da própria bicamada lipídica. AS BICAMADAS LIPÍD ICAS SÃO IMPERMEÁVEIS A SOLUTOS E ÍONS O interior hidrofóbico da bicamada lipídica cria uma barreira à passagem da maioria das moléculas hidrofílicas, incluindo os íons. Em geral, quanto menor e mais lipossolúvel for a molécula mais rapidamente ela se difundirá ao outro lado. Moléculas apolares pequenas: se dissolvem prontamente nas bicamadas lipídicas e, portanto, se difundem rapidamente através delas exemplo: oxigênio molecular e o dióxido de carbono Moléculas polares não carregadas: se difundem rapidamente através de uma bicamada, se forem suficientemente pequenas exemplo: água e etanol Íons e moléculas carregadas: todos são altamente impermeáveis à bicamada lipídica, qualquer que seja o tamanho As membranas celulares permitem que a água e as moléculas apolares pequenas transpassem por difusão simples (passagem pela bicamada). As membranas também devem permitir a passagem de muitas outras moléculas, como íons, açúcares, aminoácidos, nucleotídeos e muitos metabólicos celulares. Essas moléculas atravessam muito lentamente pela membrana por difusão simples e as proteínas de transporte de membrana especializadas são necessárias para transferi-las eficientemente através das membranas celulares AS PROTEÍNAS DE TRANSPORTE DE MEMBRANA SE DIVIDEM EM DUAS CLASSES As proteínas de transporte de membrana podem ser divididas em duas classes principais: transportadoras e canais. Os canais distinguem principalmente com base no tamanho e na carga elétrica: se um canal está aberto, um íon ou uma molécula que é suficientemente pequena e carrega carga apropriada pode passar. Os transportadores permitem somente a passagem daquelas moléculas ou íons que se encaixam em um sítio de ligação na proteína, ele, então, transfere essas moléculas através da membrana uma de cada vez pela mudança de sua própria conformação. Os transportadores se ligam aos seus solutos com grande afinidade e é esse requisito de ligação específica que torna o transporte seletivo. OS SOLUTOS ATRAVESSAM AS MEMBRANAS POR TRANSPORTE PASSIVO OU ATIVO A direção do transporte depende das concentrações relativas do soluto. As moléculas fluirão espontaneamente “morro abaixo” de uma região com alta concentração para uma região de baixa concentração, desde que haja um caminho. Tais movimentos são denominados passivos, porque não precisam de nenhuma outra força motora Para mover um soluto contra seu gradiente de concentração, uma proteína de transporte de membrana deve efetivamente trabalhar. O movimento direcionado de solutos através da membrana é, desse modo, designado transporte ativo e é efetuado somente por tipos especiais de transportadores que podem utilizar alguma fonte de energia para o processo de transporte →transporte passivo: a favor do gradiente de concentração →transporte ativo: contra o gradiente de concentração Kamyla Jathara Rocha-2019 OS TRANSPORTADORES E SUAS AÇÕES Os transportadores são necessários à movimentação de quase todas as moléculas orgânicas pequenas através das membranas celulares, com exceção das moléculas solúveis em gordura e de moléculas não carregadas pequenas que podem passar diretamente através da bicamada lipídica por difusão simples. Cada membrana celular contém um conjunto de diferentes transportadores apropriados àquela membrana específica OS GRADIENTES DE CONCENTRAÇÃO E AS FORÇAS ELÉTRICAS D IRECIONAM O TRANSPORTE PASSIVO Os solutos podem atravessar a membrana por transporte ativo ou passivo – e os transportadores são capazes de facilitar ambos os tipos de movimentos. Um exemplo simples de um transportador que medeia o transporte passivo é o transportador de glicose encontrado na membrana plasmática das células hepáticas de mamíferos e de muitos outros tipos celulares. Acredita-se que o transportador possa adotar pelo menos duas conformações, alterando-se reversível e aleatoriamente entre elas. Em uma conformação o transportador expõe sítios de ligação para a glicose ao exterior, na outra, ele expõe esses sítios ao interior da célula O fluxo de glicose pode, assim, seguir qualquer caminho, de acordo com a direção do gradiente de concentração da glicose através da membrana; para dentro, se a glicose está mais concentrada fora da célula do que dentro, e para fora, se o oposto for verdade. Os transportadores desse tipo, que permitem um fluxo de soluto, mas não desempenham nenhum papel na determinação de sua direção efetuam o transporte passivo. Embora passivo, o transporte é altamente seletivo Para a glicose, que é uma molécula não carregada, a direção do transporte passivo é determinada somente por seu gradiente de concentração. Para moléculas eletricamente carregadas, tanto íons orgânicos pequenos como íons inorgânicos, uma força adicional entra em ação. A maioria das membranas celulares possui uma voltagem através delas, uma diferença no potencial elétrico em cada lado da membrana, a qual é denominada potencial da membrana. O lado citoplasmático da membrana plasmática tem normalmente um potencial negativo em relação ao lado de fora, e isso tende a puxar os solutos positivamente carregados para dentro da célula e a impelir aqueles negativamente carregados para fora. Ao mesmo tempo, um soluto carregado também tenderá a se mover de acordo com o seu gradiente de concentração. A força líquida que impele um soluto através da membrana é, portanto, uma combinação de duas forças, uma que se deve ao gradiente de concentração e outra que se deve à voltagem através da membrana. Essa força motora líquida é denominada gradiente eletroquímico de um dado soluto. Para alguns íons, a voltagem e o gradiente de concentração funcionam na mesma direção, criando um gradiente eletroquímico relativamente alto. Esse é o caso do Na+, que é positivamente carregado e ocorre em uma concentração mais alto do lado de fora das células do que em seu interior. Se, no entanto, a voltagem e os gradientes de concentração tiverem efeitos opostos, o gradiente eletroquímico resultante pode ser pequeno. Esse é o caso do K+, um íon positivamente carregado que está presente em uma concentração muito mais alta dentro das células do que em seu exterior, por isso há pouco movimento líquido de K+ através da membrana. O TRANSPORTE ATIVO MOVE SOLUTOS CONTRA SEUS GRADIENTES ELETROQUÍMICOS O transporte ativo de solutos contra seu gradiente eletroquímico é essencial para manter a composição iônica intracelular das células e para importar solutos que estão em uma concentração mais baixa do lado de fora do que de dentro da célula. As células executam o transporte ativo por meio de três modos principais. Os transportadores acoplados ligam o transporte desfavorável de um soluto através da membrana ao transporte favorável de outro.Bombas movidas por ATP acoplam o transporte desfavorável à hidrólise de ATP. As bombas movidas à luz, as quais são encontradas principalmente em células bacterianas, acoplam o transporte desfavorável a uma entrada de energia oriunda da luz Como uma substância tem que ser carregada “morro acima” antes de fluir “morro abaixo” as diferentes formas de transporte ativo estão necessariamente ligadas. Assim, na membrana plasmática de uma célula animal, uma bomba movida por ATP transporta NA+ para fora da célula contra seu gradiente eletroquímico, e esse NA+ pode então fluir de volta para dentro, de acordo com seu gradiente eletroquímico. Como Kamyla Jathara Rocha-2019 o íon flui através de transportadores acoplados a NA+, o influxo de NA+ propicia uma fonte de energia que direciona o movimento ativo de muitas outras substâncias para dentro da célula contra seus gradientes eletroquímicos. A bomba de NA+ movida por ATP desempenha um papel central no transporte de membrana nas células animais AS CÉLULAS ANIMAIS USAM ENERGIA DA HIDRÓL ISE DE ATP PARA BOMBEAR NA+ PARA FORA Nas células animais, a bomba de NA+ movida por ATP faz a hidrólise de ATP em ADP para transportar Na+ para fora da célula; essa bomba, portanto, não é só um transportador, mas também uma enzima – ATPase. Ao mesmo tempo, a proteína acopla o transporte de Na+ para fora ao transporte de K+ para dentro. Portanto, a bomba é comumente conhecida como ATPase de NA+-K+ ou bomba de NA+-K+ Esse transportados desempenha um papel central na economia de energia das células animais. Ela opera de modo ininterrupto para expelir o Na+ que está constantemente entrando através de outros transportadores e canais iônicos. Dessa maneira, a bomba mantém a concentração de NA+ no citosol cerca de 10-30 vezes mais baixa do que no líquido extracelular e a concentração de K+ de 10-30 vezes mais alta O NA+ presente no exterior da célula, no lado desfavorável do seu gradiente eletroquímico, representa um estoque muito grande de energia. Ainda que se interrompa artificialmente a operação da bomba de NA+-K+ com uma toxina, como o glicosídeo vegetal ouabaína, a energia desse entoque é suficiente para sustentar por muitos minutos ou outros processos de transporte que são direcionados pelo fluxo favorável de NA+ A situação é diferente para o K+. A força motora líquida para o movimento de K+ através da membrana é próxima a zero: a força elétrica que puxa o K+ para dentro da célula é quase inteiramente balanceada pelo gradiente de concentração que tende a conduzi-lo para fora A BOMBA DE NA +-K+ É MOVIDA PELA ADIÇÃO TRANSITÓRIA DE UM GRUPO FOSFATO A bomba funciona em um ciclo. Cada etapa do ciclo depende da anterior, de modo que, se ocorrer o impedimento de qualquer uma das etapas individuais, todas as funções da bomba serão interrompidas. Esse acoplamento firme assegura que a bomba opere somente quando os íons apropriados estão disponíveis para o transporte, evitando, com isso, a hidrólise desnecessária de ATP. A BOMBA DE NA +-K+ AJUDA A MANTER O BALANÇO OSMÓTICO DAS CÉLULAS ANIMAIS Se a concentração total de solutos for baixa em um lado da membrana e alta no outro, a água tenderá a se mover através dela até que as concentrações de soluto sejam iguais. O movimento da água de uma região de baixa concentração de soluto para uma região de alta concentração de soluto é denominada osmose. As células contêm canais especializados em água (denominadas aquaporinas). A força motora para o movimento da água é equivalente a uma diferença em pressão de água e é denominada pressão osmótica. Na ausência de qualquer pressão contrária, o movimento osmótico da água para dentro de uma célula ocasionará seu intumescimento. Nos tecidos do corpo animal, as células são banhadas por um líquido que é rico em solutos, especialmente Na+ e Cl-. Isso equilibra a concentração de solutos orgânicos e inorgânicos confinadas dentro da célula. A bomba de NA+-K+ ajuda a manter o potencial de membrana. Esse potencial de membrana tende a impedir a entrada de Cl-, o qual é negativamente carregado e precisaria se mover contra p gradiente elétrico gerado pela bomba para entrar na célula. As paredes celulares resistentes das células vegetais impedem que as mesmas intumesçam. A parede celular exerce uma pressão contrária que tende a equilibrar a pressão osmótica criada pelos solutos na célula e, assim, limita o movimento de água para dentro da célula. A osmose, juntamente com o transporte ativo de íons para dentro da célula, resulta em uma pressão de turgor que mantém as células vegetais dilatadas com água, com sua parede celular tensa. A pressão de turgor tem várias funções. Ela mantém os caules das plantas rígidos e as folhas estendidas. Ela também desempenha um papel na regulação das trocas gasosas por meio dos estômatos. Em alguns protozoários que vivem na água doce o excesso de água que flui continuamente para dentro da célula por osmose é coletado em vacúolos contráteis que descarregam periodicamente seu conteúdo no exterior Kamyla Jathara Rocha-2019 AS BAIXAS CONCENTRAÇÕES INTRACELULARES DE CA2+ SÃO MANTIDAS POR BOMBAS DE CA2+ O Ca2+, assim como o Na+, também é mantido a uma baixa concentração no citosol. O movimento de Ca2+ através das membranas celulares, entretanto, é crucialmente importante, porque o Ca2+ pode ligar-se muito firmemente a uma série de proteínas na célula, alterando suas atividades Quanto menor a concentração basal de Ca2+ livre no citosol, mais sensível é a célula a um aumento de Ca2+ citosólico. As células eucarióticas em geral mantêm concentrações muito baixas de Ca2+ livre em seu citosol, apesar das concentrações extracelulares de Ca2+ muito mais altas. Essa enorme diferença de concentração é obtida principalmente por meio de bombas Ca2+ movidas por ATP OS TRANSPORTADORES ACOPLADOS EXPLORAM GRADIENTES PARA ADQUIRIR NUTRIENTES ATIVAMENTE O movimento favorável do primeiro soluto ao longo do seu gradiente fornece energia para direcionar o transporte desfavorável do segundo. Os transportadores que realizam isso são denominados transportadores acoplados. Se o transportador desloca os dois solutos na mesma direção através da membrana, ele é denominado simporte. Um transportador que transporta somente um tipo de soluto através da membrana (e, portanto, não é um transportador acoplado) é denominado uniporte Em células animais, um papel especialmente importante é desempenhado pelos simportes que usam o influxo de Na+ a favor de seu elevado gradiente eletroquímico para direcionar a importação de outros solutos para dentro da célula. As células epiteliais que revestem o intestino, por exemplo, transferem glicose do intestino através do epitélio intestinal. Como o gradiente eletroquímico para Na+ é elevado, quando o Na+ se move para dentro da célula a favor de seu gradiente, o açúcar é, de certo modo, “dragado” para dento da célula com ele. Como a ligação de Na+ e glicose é cooperativa ambas as moléculas devem estar presentes para que o transporte acoplado ocorra. Contudo, se as células epiteliais intestinais possuíssem apenas esse simporte, elas nunca poderiam liberar glicose para o uso das outras células do corpo. Essas células, portanto, possuem dois tipos de transportadores de glicose. No domínio apical (dento do intestino) da membrana plasmática, o qual se volta para o lúmen do intestino, elas possuem os simportes de glicose- Na+, que absorvem glicose ativamente criando uma alta concentração de glicose no citosol. Nos domínios basal e lateral da membrana plasmática, elas possuem os uniportes passivos de glicose, que liberam glicose a favor de seu gradiente de concentração para o uso de outros tecidos As células do revestimento do intestino e de muitos outros órgãos, como o rim, contêm uma série de simportes em suas membranas plasmáticas que são similarmente direcionados pelo gradiente eletroquímicode Na+. Contudo, os antiportes movidos por Na+ também são importantes ao funcionamento celular. Por exemplo, o trocador de Na+-H+ das membranas plasmáticas de muitas células animais usa o influxo favorável de Na+ para bombear H+ para fora da célula, sendo um dos principais dispositivos que as células animais usam para controlar o pH em seu citosol OS GRADIENTES DE H + SÃO USADPS PARA DIRECIONAR O TRANSPORTE DE MEMBRANA EM PLANTAS, FUNGOS E BACTÉRIAS As células vegetais, os fungos (incluindo a levedura) e as bactérias não possuem bombas de Na+-K+. Elas dependem principalmente de um gradiente eletroquímico de H+ para direcionar o transporte de solutos para dentro da célula. O gradiente é criado por bombas de H+ na membrana plasmática, as quais bombeiam H+ para fora da célula e, assim, estabelecem um gradiente eletroquímico de prótons. Durante o processo, a bomba de H+ também cria um pH ácido no meio circundante à célula. A absorção de muitos açúcares e aminoácidos para o interior das células bacterianas, então, é direcionada por simportes de H+, os quais usam o gradiente eletroquímico de H+ ao longo da membrana plasmática Em algumas bactérias fotossintéticas, o gradiente de H+ é criado pela atividade de bombas de H+ movidas à luz, como a bacteriorrodopsina. As plantas, os fungos e muitas outras bactérias estabelecem seu gradientes de H+ por meio de ATPase em suas membranas plasmáticas que usam a energia da hidrólise de ATP para bombear H+ para fora da célula Um tipo diferente de ATPase de H+ é encontrado nas membranas de algumas organelas intracelulares, como os lisossomos das células animais e o vacúolo central das células de plantas e fungos. A sua função é bombear H+ do citosol para dentro da organela, ajudando, desse modo, a manter o pH do citosol neutro e o pH do interior da organela ácido. O ambiente ácido é crucial para o funcionamento de muitas organelas. Para que a concentração de Na+ no citosol seja mantida baixa, o Na+ que entra na célula, via o simporte de glicose movido por Na+, é bombeado para fora por bombas de Na+-K+ Kamyla Jathara Rocha-2019 CANAIS IÔNICOS E O POTENCIAL DE MEMBRANA O modo mais simples de permitir que uma pequena molécula hidrossolúvel atravesse de um lado ao outro de uma membrana é criar um canal hidrofílico. Os canais desempenham essa função nas membranas celulares, formando poros aquosos transmembrânicos que permitem o movimento passivo de pequenas moléculas hidrossolúveis para dentro ou para fora da célula ou organela. Alguns canais formam poros relativamente grandes: por exemplo, as proteínas que formam as junções comunicantes entre duas células adjacentes e as porinas que formam canais na membrana externa das mitocôndrias e de algumas bactérias. A maioria dos canais na membrana plasmática das células animais e vegetais possui poros estreitos e altamente seletivos. Um canal especializado, denominado aquaporina, facilita o fluxo de água através da membrana plasmática. A estrutura dessa proteína permite passagem rápida de moléculas não carregadas de água, ao passo que proíbe o movimento de íons, incluindo o H+. Contudo, a maioria dos canais da célula possibilita o transporte de íons inorgânicos OS CANAIS IÔNICOS SÃO SELETIVOS E CONTROLADOS Duas propriedades distinguem os canais iônicos de orifícios simples na membrana. Primeiro, exibem seletividade iônica, permitindo que alguns íons inorgânicos passem mas outros não. Um canal iônico é suficientemente estreito em certos lugares para forçar o contato dos íons com a parede do canal, de modo que somente aqueles de tamanho e carga apropriados são capazes de passar. Segunda distinção importante entre poros simples e canais iônicos é que os canais iônicos não estão continuamente abertos. A maioria dos canais iônicos é controlada: um estímulo específico os aciona para que alternem entre um estado fechado e um estado aberto por uma mudança em sua conformação. Como um canal iônico aberto não precisa sofrer mudanças conformacionais com cada íon que passa por ele, os canais iônicos têm uma grande vantagem em relação aos transportadores com respeito à sua taxa máxima de transporte. Os canais não podem acoplar o fluxo de íons a uma fonte de energia para realizar transporte ativo. A função da maioria dos canais iônicos é apenas tornar a membrana transitoriamente permeável a íons inorgânicos selecionados, principalmente Na+, K+, Ca2+ ou Cl-, permitindo que eles se difundam rapidamente a favor de seus gradientes eletroquímicos. Graças ao transporte ativo de bombas e outros transportadores, a maioria das concentrações iônicas está longe de um equilíbrio ao longo da membrana. O fluxo de íons muda a voltagem ao longo da membrana – o potencial da membrana – alterando, assim, as forças motoras eletroquímicas dos movimentos transmembrânicos de todos os outros íons. O distúrbio de atividade elétrica resultante pode disseminar-se rapidamente de uma região à outra da membrana celular, transmitindo um sinal elétrico. Esse tipo de sinalização elétrica não é restrito aos animais, ele ocorre também em protozoários e plantas. O potencial de membrana é a base de toda atividade elétrica das células sejam elas células vegetais, animais e protozoárias, OS CANAIS IÔNICOS ALTERNAM ENTRE ESTADOS ABERTO E FECHADO DE MODO REPENTINO E ALEATÓRIO A medida de mudanças na corrente elétrica é o principal método usado para estudas os movimentos iônicos e os canais iônicos em células vivas. É possível detectar e medir a corrente elétrica que flui através de uma única molécula do canal. O procedimento para isso é conhecido como técnica de registro de patch-clamp, e ela fornece uma imagem direta e surpreendente de como canais iônicos individuais se comportam. A técnica torna possível registrar a atividade de canais iônicos em todos os tipos celulares. A capacidade de expor a membrana a diferentes voltagens torna possível examinar como as mudanças no potencial de membrana afetam a abertura e fechamento dos canais na membrana. Os instrumentos elétricos modernos são suficientemente sensíveis para revelar o fluxo iônico através de um único canal, detectado como uma corrente elétrica muito pequena. O estado das conformações é regulado por condições do interior e exterior da célula, mas os canais iônicos alternam entre as conformações aberta e fechada de modo repentino e aleatório mesmo quando as condições em cada lado da membrana são mantidas constante isso porque quando as condições apropriadas mudam, o comportamento aleatório continua, mas com a probabilidade muito modificada. DIFERENTES TIPOS DE ESTÍMULOS INFLUENCIAM A ABERTURA E O FECHAMENTO DOS CANAIS IÔNICOS Os canais iônicos diferem uns dos outros primariamente com respeito à sua seletividade iônica e ao seu controle. Para um canal controlado por voltagem, a probabilidade de ser aberto é controlada pelo potencial da membrana. Para um canal controlado por ligante, a probabilidade de ser aberto é controlada pela ligação de alguma molécula (o ligante) ao canal. Para um canal controlado por estresse, a abertura é controlada por uma força mecânica aplicada ao canal. OS CANAIS IÔNICOS CONTROLADOS POR VOLTAGEM RESPONDEM AO POTENCIAL DE MEMBRANA Os canais iônicos controlados por voltagem desempenham o papel principal na propagação dos sinais elétricos nas células nervosas. Os canais iônicos controlados por voltagem possuem domínios proteicos carregados especializados denominados sensores de voltagem que são extremamente sensíveis a mudanças no potencial de membrana. Uma mudança no potencial de membrana não afeta a amplitude de abertura de canal, mas altera a probabilidade de que ele seja encontrado em sua conformação aberta. Kamyla Jathara Rocha-2019 Para avaliar a função dos canais iônicos controlados por voltagem em uma célula viva, temos de considerar o que controla o potencial de membrana. A resposta simples é que os próprios canaisiônicos o controlam, e a abertura e o fechamento desses canais provocam sua mudança O POTENCIAL DE MEMBRANA É GOVERNADO PELA PERMEABILIDADE DA MEMBRANA A ÍONS ESPECÍF ICOS As cargas negativas das moléculas orgânicas confinadas dentro da célula são em grande parte balanceadas por K+, o íon positivo predominante no interior da célula. A alta concentração intracelular de K+ é em grande parte gerada pela bomba de Na+-K+, sendo a concentração de K+ muito maior dentro da célula do que fora. Contudo, a membrana plasmática também contém um conjunto de canais de K+ conhecidos como canais de vazamento (ou canais de escape) de K+. Esses canais oscilam de forma aleatória entre os estados aberto e fechado, independentemente das condições presentes no interior ou no exterior celular e, quando estão abertos, permitem que o K+ se mova livremente. Portanto, o K+ tem uma tendência a fluir para fora da célula através dos canais a favor de seu gradiente de seu elevado gradiente de concentração. Contudo, qualquer transferência de carga positiva ao exterior deixa para trás cargas negativas desequilibradas dentro da célula, criando, desse modo, um campo elétrico ou potencial de membrana. O potencial de repouso de membrana é o potencial de membrana em tais condições de estado estacionário, nas quais o fluxo de íons positivos e negativos através da membrana plasmática é precisamente balanceado. O potencial de membrana é medido como uma diferença de voltagem através da membrana. O valor real do potencial de membrana de repouso em células animais é principalmente um reflexo do gradiente de concentração de K+ através da membrana plasmática, pois, em repouso, essa membrana principalmente permeável a K+, e o K+ é o principal íon positivo dentro da célula. Qualquer mudança na permeabilidade da membrana a íons específicos causa uma mudança no potencial de membrana. O potencial de membrana, portanto, é determinado tanto pelo estado dos canais iônicos na membrana como pelas concentrações iônicas nos meios citosolíco e extracelular. Os canais iônicos são mias importantes no controle do potencial de membrana. OS CANAIS IÔNICOS E A S INAL IZAÇÃO EM CÉLULAS NERVOSAS Independentemente do significado do sinal que um neurônio carrega a forma do sinal sempre é a mesma: ela consiste em mudanças no potencial elétrico através da membrana plasmática do neurônio. OS POTENCIA IS DE AÇÃO PROP IC IAM A COMUNICAÇÃO RÁPIDA À LONGA DISTÂNCIA Um neurônio é estimulado por um sinal transferido a um sítio localizado em sua superfície. Esse sinal inicia uma mudança no potencial de membrana naquele sítio. Para transmitir o sinal adiante, entretanto, a mudança no potencial tem de propagar- se a partir desse ponto até os terminais do axônio, que retransmitem o sinal para próximas células da rota. Os neurônios resolvem o problema da comunicação à longa distância pelo emprego de um mecanismo ativo de sinalização: um estímulo elétrico local de força suficiente desencadeia uma explosão de atividade elétrica na membrana plasmática. Essa onda itinerante de excitação elétrica, conhecida como potencial de ação ou impulso nervoso, pode carregar uma mensagem, sem o enfraquecimento do sinal, de uma extremidade de um neurônio a outra. Os potenciais de ação são uma consequência direta das propriedades de canais iônicos controlados por voltagem na membrana da célula nervosa. OS POTENCIA IS DE AÇÃO SÃO NORMALMENTE MEDIADOS PRO CANAIS DE NA + CONTROLADOS POR VOLTAGEM Um potencial de ação de um neurônio é tipicamente desencadeado por uma súbita despolarização local da membrana plasmática – ou seja – por uma alteração no potencial de membrana para um valor negativo. Um estímulo que causa uma despolarização suficientemente grande, a ponto de ultrapassar um certo valor limiar, causa prontamente a abertura temporária dos canais de Na+ controlados por voltagem naquele local. O influxo de carga positiva despolariza ainda mais a membrana (ou seja, torna o potencial de membrana menos negativo) abrindo, desse modo, mais canais de Na+ controlados por voltagem, os quais admitem mais íons Na+ e ocasionam uma despolarização ainda maior. Os canais de Na+ possuem um mecanismo automático de inativação, o qual faz com que eles adotem rapidamente uma conformação inativa especial, na qual o canal não é capaz de se abrir novamente. Mesmo que a membrana ainda esteja despolarizada, os canais de Na+ permanecerão nesse estado inativado até alguns milissegundos após o potencial de membrana retornar ao seu valor negativo inicial. A membrana também é auxiliada a retornar ao seu valor de repouso pela abertura de canais K+ controlados por voltagem. Kamyla Jathara Rocha-2019 Esses canais também se abrem em resposta à despolarização da membrana, mas não tão prontamente como os canais de Na+, e ficam abertos contanto que a membrana permaneça despolarizada. Consequentemente, quando o potencial de ação alcança seu pico, os íons K+ começam a fluir para fora da célula através desses canais de K+ a favor de seu gradiente eletroquímico, estando temporariamente desimpedidos pelo potencial de membrana negativo que os retêm na célula em repouso. O fluxo rápido de K+ através dos canais de K+ controlados por voltagem traz a membrana de volta ao estado de repouso mais rapidamente do que poderia ser atingido pelo fluxo de K+ através dos canais de vazamento de K+ isoladamente. O potencial de ação se propaga externamente como uma onda itinerante a partir do ponto inicial de despolarização, alcançando, finalmente, as extremidades do axônio. Defrontadas com as consequências dos fluxos de Na+ e K+ causados pela passagem de potencial de ação, as moléculas de ATPase de Na+-K+ trabalham continuamente, a fim de restaurar os gradientes iônicos através da membrana plasmática de axônio. OS CANAIS DE CA2+ CONTROLADOS POR VOLTAGEM CONVERTEM SINAIS ELÉTR ICOS EM SINAIS QUÍMICOS NOS TERMINAIS NERVOSOS Quando um potencial de ação alcança os terminais nervosos na extremidade de um axônio, o sinal deve, de algum modo, ser retransmitido às células-alvo. O sinal é transmitido às células- alvo em junções especializadas conhecidas como sinapses. Na maioria das sinapses, as membranas plasmáticas das células transmissoras e receptoras são separadas uma das outras por uma estreita fenda sináptica, a qual não pode ser atravessada pelo sinal elétrico. Para a mensagem ser transmitida de um neurônio ao outro, o sinal elétrico é convertido em um sinal químico, na forma de uma pequena molécula sinalizadora conhecida como neurotransmissor. Quando o potencial de ação alcança o terminal, os neurotransmissores são liberados a partir da terminação nervosa por exocitose. O elo entre o potencial de ação e a secreção envolve a ativação de um outro tipo de canal de cátion controlado por voltagem. A despolarização da membrana plasmática do terminal nervoso, causada pela chegada do potencial de ação, abre transitoriamente os canais de Ca2+ controlados por voltagem, os quais se concentram na membrana plasmática do terminal nervoso pré-sináptico. Como a concentração de Ca2+ no exterior da célula é mais de 1000 vezes mais elevada do que a concentração de Ca2+ livre no citosol, o Ca2+ penetra rapidamente no terminal nervoso através dos canais abertos. O aumento resultante da concentração de Ca2+ no citosol da célula pré-sináptica desencadeia a fusão de algumas vesículas sinápticas com a membrana plasmática, liberando o neurotransmissor na fenda sináptica. OS CANAIS CONTROLADOS POR TRANSMISSOR NAS CÉLULAS-ALVO CONVERTEM SINAIS QUÍMICOS NOVAMENTE EM SINAIS ELÉTRICOS O neurotransmissor liberado se difunde rapidamente através da fenda sináptica e se liga aos receptores do neurotransmissor concentrados na membrana pós-sináptica da célula-alvo. A ligação do neurotransmissor aos seus receptores causa uma mudança no potencial de membrana da célula-alvo, o que pode fazer com que a célulaacione um potencial de ação. O neurotransmissor é, então, removido rapidamente da fenda sináptica. Essa remoção rápida do neurotransmissor limita o sinal e assegura que, quando a célula pré-sináptica não é excitada, a célula pós-sináptica também não será excitada. Os receptores de neurotransmissores podem ser de vários tipos. As respostas rápidas dependem de receptores que são canais iônicos controlados por transmissor e a sua função é converter o sinal químico carregado por um neurotransmissor novamente em sinal elétrico. Os canais se abrem transitoriamente em resposta à ligação do neurotransmissor, alterando, assim, a permeabilidade iônica da membrana pós- sináptica. Isso, por sua vez, causa uma mudança no potencial da membrana; se a mudança for suficientemente grande, ela pode desencadear um potencial de ação na célula pós-sináptica.
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