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ESQUIZOFRENIA PROBLEMA 7 “Ainda que tenha um aspecto atraente e sedutor, disseminado pela arte e pela literatura, quando surge perto demais, a loucura exibe sua face misteriosa, que foge ao controle e, por isso mesmo, talvez pareça tão assustadora”. (Gláucia Leal) 3 OBJETIVOS ◈ Definir o que é delírio, ilusão, alucinação, psicose, delirium e surto psicótico. ◈ Discutir o polinômio da esquizofrenia. ◈ Discutir emergencial e critérios de internação com esquizofrenia. ◈ Descrever como deve ser feita a formação de vínculo entre médico paciente nesses casos. ◈ Discutir antipsicóticos. DELÍRIO x DELIRIUM x ALUCINAÇÃO x PSICOSE x SURTO PSICÓTICO ◈ Delírio: juízo patologicamente falso da realidade, que deve se apresentar como uma convicção ou crença inabalável, incompreensível para o indivíduo normal e com conteúdo fantasioso e inexplicável. ◈ Delirium: é uma alteração cognitiva definida por início agudo, curso flutuante, distúrbios da consciência, atenção, orientação, memória, pensamento, percepção e comportamento. (LÔBO, 2010) ◈ Alucinação: percepção real de um objeto inexistente, são percepções sem um estímulo externo, que podem se manifestar através de qualquer um dos cinco sentidos ◈ Psicose: patologias, independentes da sua etiologia, que associam perda da realidade e a criação de uma pseudo-realidade, dentro da qual observa-se um processo deteriorativo do “eu” (MIJOLLA, 2005) ◈ Surto psicótico: é um episódio súbito de desorganização da representação da realidade, desencadeado diante de uma vivência não significável a partir de recursos representativos possuídos pelo indivíduo, desenvolvidos em um momento crítico da neurogênese. ESQUIZOFRENIA ◈ PREVALÊNCIA ○ 1% da população mundial ○ Prevalência igual em homens e mulheres (KAPLAN) ○ Prevalência maior em homens (USP) ○ Homens apresentam mais a EIP e mulheres a EIT ◈ FISIOPATOLOGIA ○ Estresse-diátese ○ Hiperatividade dopaminérgica: liberação excessiva de DA e/ou excesso de receptores e/ou hipersensibilidade dos receptores ■ Versão I: aumento da atividade dopaminérgica nas regiões límbicas ■ Versão II: diminuição de receptores D1 no córtex frontal, causando sintomas negativos (sintomas presentes desde o início da doença) ■ Versão III: aumento da atividade dopaminérgica, alterando a percepção dos estímulos, com mudança de esquemas cognitivos pré-existentes e surgimento de sintomas psicóticos OBS: há aumento de receptores D2 pré-sinápticos estriatais e de receptores D4 no cortex entorrinal ○ Disfunção glutamatérgica: antagonistas glutamatérgicos provacam diminuição da atividade de receptores NMDA, com isso há aumento de receptores D2 (sintomas psicóticos) e diminuição da atividade dos receptores D1 (sintomas negativos), perpetuando a queda da atividade dos receptores NMDA (acentua sintomas negativos e causa sintomas cognitivos) ◈ FISIOPATOLOGIA ○ Aumento da atividade do sistema serotoninérgico: sintomas positivos e negativos ○ Diminuição da atividade do sistema noradrenérgico: anedonia ○ Alterações em neuropeptídeos: alteração dos disparos neuronais ○ Aumento de receptores nicotínicos e muscarínicos ○ Neuroanatomia: ■ Atrofia cortical ■ Dilatação ventricular ■ Perda progressiva de substância cinzenta ■ Simetria reduzida ■ Menor fluxo sanguíneo no córtex pré-frontal esquerdo e medial (diminuição da atividade dopaminérgica e sintomas negativos) ■ Aumento do fluxo sanguíneo na área de Broca (desorganização) e nas áreas límbicas (sintomas positivos) ◈ QUADRO CLÍNICO (EIP): ○ Início precoce, primeiro pico aos 25 anos, predominando em homens, e segundo pico a partir dos 45 anos, predominando em mulheres (estrogênio tem papel protetor) ○ Período pré-mórbido: ■ Atraso no DNPM ■ História de personalidade esquizoide ou esquizotípica: paciente quieto, passivo, introvertido, com poucos amigos, sem interesses românticos ou em atividades de equipe ○ Período prodrômico: sintomas inespecíficos ou negativos ■ Alterações no afeto: desconfiança, depressão, ansiedade, tensão e irritabilidade ■ Alterações na cognição: ideias bizarras, dificuldade de concentração e distração ■ Alterações na sensopercepção: alterações sensoriais, aumento de percepções usuais e aumento da sensibilidade perceptiva ■ Queixas somáticas: distúrbios do sono e do apetite, perda de energia e motivação, entre outros.. ■ Mudança no comportamento: isolamento social, queda no rendimento e comportamento peculiar ◈ QUADRO CLÍNICO (EIP): ○ Em 30 – 40% dos pacientes, o período prodrômico culmina no primeiro episódio psicótico ■ Estados mentais de risco para progressão para o surto psicótico: sintomas positivos breves, intermitentes e limitados, sintomas positivos atenuados e risco genético e deterioração recente ○ Surto psicótico: ■ Dimensão psicótica: delírios e alucinações que refletem ideias, crenças e interpretações de estímulos do paciente (persecutórias, grandiosas, religiosas ou somáticas) ■ Desorganização do pensamento e da conduta: frouxidão de associações, incoerência, fuga de ideias, abstração e afeto inapropriado ■ Disfunção cognitiva: desatenção, comprometimento da memória de trabalho e episódica e comprometimento da função executiva ■ Dimensão deficitária ou negativa: embotamento afetivo-volitivo ■ Impulsividade, violência, pensamentos suicidas e homicidas ■ Insight pobre OBS: durante o período de psicose não tratada ocorrem disfunções neurobiológicas importantes, possivelmente relacionadas a alteração da plasticidade sináptica, acarretando alterações neurofuncionais e neuroanatômicas no sistema nervoso central, que correspondem à deterioração clínica comumente observada nesse período ◈ QUADRO CLÍNICO (EIP): ○ Após o primeiro episódio inicia-se a fase progressiva do transtorno ■ Geralmente o paciente está em tratamento, mas ainda pode apresentar delírios, alucinações, embotamento afetivo-volitivo e alterações no afeto, na cognição e no comportamento ○ Finalmente ele evolui para a fase crônica ou de estabilidade, ainda sujeito a recaídas e, usualmente, com disfunção sócio-ocupacional ○ Outras comorbidades: achados neurológicos como disdiadococinesia, estereognosia, reflexos primitivos e destreza diminuída, movimento sacádico, apraxia, obesidade, DM, doenças cardiovasculares, HIV, DPOC a artrite reumatoide ○ Na EIT os sintomas são muito parecidos, contudo, há menor gravidade de sintomas como o embotamento afetivo-volitivo e de transtornos de pensamento, mas as alucinações visuais, táteis, e olfatórias, bem como os delírios, ambos persecutórios, são mais comuns Sintoma s negativo s: detectad os desd e o início Sintomas positivos: ocorrem durante o surto 15 HALES, R.E,2012. SUBTIPOS de significância clínica PARANOIDE Primeiro episódio ocorre em idade mais avançada; preocupação com um ou mais delírios ou alucinações auditivas frequentes, delírios de perseguição ou grandeza, menor regressão das faculdades mentais; indivíduos tensos, desconfiados, cautelosos, que podem se tornar hostis e agressivos DESORGANIZADO Início precoce, ocorrendo antes dos 25 anos de idade; regressão acentuada para um comportamento primitivo, desinibido e desordenado e ausência de sintomas que satisfaçam o critério para o tipo catatônico; transtorno de pensamento pronunciado; indivíduos ativos, mas de uma forma não produtiva CATATÔNICO Raro; distúrbio acentuado da função motora, que pode envolver estupor, negativismo, rigidez, excitação ou posturas bizarras, e também podem ocorrer estereotipias e maneirismos INDIFERENCIADO Não podem ser enquadrados em um subtipo específico RESIDUAL Evidências contínuas do transtorno na ausência de um conjunto completo de sintomas ativos ou de sintomas suficientes para satisfazer o diagnóstico de outro tipo de esquizofrenia; embotamento emocional, retraimento social, comportamento excêntrico, pensamento ilógico e frouxidão leve das associações são comuns nesse tipo ◈ PROGNÓSTICO: ○ Ao longo do período de 5– 10 anos após a primeira hospitalização apenas 10 – 20% têm desfecho positivo ○ 50% desses pacientes têm hospitalizações repetidas, piora dos sintomas, transtornos do humor e tentativa de suicídio ○ Cerca de 30% dos pacientes continua a apresentar sintomas moderados mesmo com o tratamento 18 ◈ DIAGNÓSTICO (DSM-V): ○ Dois ou mais dos itens a seguir, sendo que pelo menos um deles deve ser 1, 2 ou 3. 1. Delírios 2. Alucinações 3. Discurso desorganizado 4. Comportamento grosseiramento desorganizado ou catatônico 5. Sintomas negativos (expressão emocional diminuida ou avolia) ○ Nível de funcionamento interpessoal, acadêmico, profissional e/ou de autocuidado abaixo do nível alcançado antes do início do quadro ○ Sinais contínuos de perturbação persistem durante, pelo menos, seis meses. Esse período deve incluir pelo menos um mês de sintomas (ou menos se tratados com sucesso) e pode incluir períodos de sintomas prodrômicos ou residuais ○ Transtorno esquizoafetivo e transtorno depressivo ou transtorno bipolar com características psicóticas são descartados ○ A perturbação não pode ser atribuída aos efeitos fisiológicos de uma ou a outra condição médica ○ Se há história de transtorno do espectro autista ou de um transtorno da comunicação iniciado na infância, o diagnóstico adicional de esquizofrenia é realizado somente se delírios ou alucinações proeminentes, além dos demais sintomas exigidos de esquizofrenia, estão também presentes por pelo menos um mês (ou menos, se tratados com sucesso). ◈ DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: ○ Na infância: transtorno afetivo bipolar (TAB) e transtorno invasivo do desenvolvimento (TID) ■ TAB: presença de delírio persecutório e alucinações, mas há ressonância afetiva, a criança busca contato com outras pessoas e mantém o afeto preservado, porém têm mais oscilações de humor e, geralmente, volta para o padrão anterior de funcionamento acadêmico e social ■ TID: a criança avita contato visual, apresenta problemas de linguagem e comunicação, tem tendência ao isolamento e muitas vezes apresenta movimentos estereotipados como balanceio do tronco, flapping e andar na ponta dos pés ○ No adulto: outros transtornos psicóticos e outros transtornos delirantes, como transtorno psicótico breve, trantornos esquizofreniforme, transtorno esquizoafetivo, transtorno catatônico devido a uma condição médica geral ou transtorno psicótico induzido por substâncias, ainda pode-se realizar o diagnóstico diferencial com simulação e transtornos factícios, transtornos do humor (depressão psicótica), transtornos da personalidade (esquizoide, esquizotípica e borderline) ◈ TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO: ○ Psicoterapia (TCC) ○ Treino de habilidades sociais ○ Psicoeducação ○ Terapia ocupacional ○ Eletroconvulsoterapia (ECT) ◈ TRATAMENTO FARMACOLÓGICO: ○ 70% dos pacientes alcançam algum grau de remissão ○ Prioriza-se os antipsicóticos atípicos/ 2a geração, que são antagonistas de serotonina e dopamine ○ As fases do tratamento são: ■ Tratamento da psicose aguda: controle dos sintomas psicóticos mais graves (4 – 8 semanas) ■ Tratamento de manutenção: prevenção de recaída e melhora do nível de funcionamento (pelo menos 5 anos) ■ Tratamento dos efeitos colaterais ◈ TRATAMENTO FARMACOLÓGICO: ○ Monoterapia por 4 – 6 semanas com um antipsicótico atípico/ 2a geração ■ Se houver resposta continuar com esse medicamento para o tratamento de manutenção ○ Segunda tentativa de monoterapia por mais 4 – 6 semanas com um antipsicótico atípico/ 2a geração ■ Se houver resposta continuar com esse medicamento para o tratamento de manutenção ■ Se não houver resposta às duas tentativas o paciente é considerado refratário ○ Administrar clozapina, que pode alcançar até a dose máxima de 900mg/dia ■ Se houver resposta continuar com esse medicamento para o tratamento de manutenção ■ Se não houver resposta realizar a potencialização da clozapina com eletroconvulsoterapia ■ Realizar hemograma e análise do perfil lipídico antes de iniciar o tratamento, pois pode ocorrer agranulocitose ○ A resposta só pode ser analisada após 4 – 8 semanas e é feita por meio de escalas de avaliação psicopatológicas OBS: em todas as fases considerer risco de suicídio, catatonia ou síndrome neuroléptica maligna, agitação/violência, falta de adesão, depressão ou sintomas de humor, abuso de subtâncias, fase prodrômica ou primeiro episódio e efeitos colaterais induzidos CRITÉRIOS PARA INTERNAÇÃO PSIQUIÁTRICA ◈ A hospitalização é indicada para fins de diagnóstico; estabilização da medicação; segurança do paciente devido a ideação suicida ou homicida; e comportamento flagrantemente desorganizado ou inadequado, incluindo a incapacidade de cuidar das necessidades básicas, como alimentação, vestuário e abrigo ◈ Hospitalizações curtas de 4 a 6 semanas são tão eficazes quanto as longas 26 Vias dopaminérgicas a) Via nigroestriatal: Subst. Negra ao Stiatum> Controle motor b) Via mesolímbica: Área tegumentar para o Nacc.> vígilia., memória, processamento de estímulos, atividade locomotora, comportamento motivacional. c) Via mesocortical: Área tegumentar para córtex frontal> cognição, comunicação, atividade social, aprendizado e memória. d) Via tuberoinfundibular: do hipotálamo para a hipófise > controle da secreção de prolactina. 27 ANTIPSICÓTICOS ◈ Antipsicóticóticos típicos/ 1a geração: bloqueio de receptores dopaminérgicos D2 nas quatro vias dopaminérgicas (mesocortical, mesolímbica, tubero-infundibular e nigrostriatal), sendo que a eficácia está relacionada a ação na via mesolímbica; melhoram sintomas positivos, os sintomas negativos têm menos chance de melhora significative e podem parecer se agravar, porque esses fármacos produzem constrição da expressão facial e acinesia, efeitos colaterais que imitam os sintomas negativos. ○ Os ARDs também bloqueiam os receptores noradrenérgicos, colinérgicos e histaminérgicos, sendo que fármacos diferentes apresentam efeitos diferentes sobre esses sistemas de receptores ○ Efeitos colaterais mais comuns: sonolência, ganho de peso, hipotensão postural, xerostomia, retenção urinária, constipação, visão borrada, ginecomastia, amenorreia, distonia.. ANTIPSICÓTICOS ◈ Antipsicóticos atípicos/ 2a geração: antagonismo de receptores dopaminérgicos D2, Principalmente na via mesolímbica, e serotoninérgicos 5HT2A, melhorando sintomas positivos e negativos ○ Efeitos colaterais: os mesmos, mas menos efeitos extrapiramidais ○ Antes de utilizá-los os seguintes fatores devem ser considerados: 1. História pessoal e familiar de obesidade, diabetes, dislipidemia, hipertensão e doença cardiovascular; 2. Peso e altura (de forma que o índice de massa corporal possa ser calculado); 3. Circunferência da cintura (na altura do umbigo); 4. Pressão arterial; 5. Nível de glicose plasmática em jejum; 6. Perfil de lipídeos em jejum. 31 32 Médico e paciente ◈ Fase Aguda ○ O paciente se apresentará no momento da crise; ○ Primeira consulta; ○ Atender antes o paciente e depois o familiar; ○ Trabalhar o vínculo; ○ Não importa como ele se apresenta; ○ É a primeira oportunidade; ○ Consulta longa; ○ A internação deve ser a mais curta possível; ◈ Fase de estabilização ○ Manter o Tto; ○ Usar todos os recursos; ○ Mostrar a importância da medicação; ○ Confrontar o delírio; ○ Aceitação da doença; 33 34 FI M
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