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PROPEDÊUTICA GINECOLÓGICA Dr. Giuliano Tosello 8º termo - 2021.2 ETAPAS DA PROPEDÊUTICA GINECOLÓGICA 1) Anamnese 2) Exame físico das mamas 3) Exame físico do abdome 4) Exame pélvico 5) Palpação bimanual - é mais realizada para examinar pacientes em trabalho de parto 6) Exame retovaginal INDICAÇÕES PARA O EXAME FÍSICO GINECOLÓGICO ● Presença de qualquer sintoma vulvar ou vaginal ● Suspeita de gravidez ou pré-natal ● Exposição à DST ● Rastreamento de CA de colo uterino ● Orientações sobre puberdade e anticoncepção, etc. ANAMNESE Etapas da Anamnese: ● Identificação: nome, idade, etnia, profissão, estado civil, procedência, etc. ○ A idade é um dado importante, considerando que existem doenças que são mais características de determinadas faixas etárias. ● Queixa e duração: principal motivo que levou a paciente a buscar o atendimento ○ Podem existir queixas específicas, porém é bastante comum que as mulheres busquem o ginecologista para realização de exames anuais, como o preventivo e a mamografia. ● HPMA: descrever aquilo que a paciente te conta com relação ao que consta na queixa e duração, seja a consulta por uma queixa específica ou por rotina. ● Antecedentes Pessoais: doenças sistêmicas, uso de medicamentos, cirurgias prévias, internações prévias, etc. ● Antecedentes Familiares: história de doenças sistêmicas na família, como por exemplo HAS, DM, cânceres, eventos tromboembólicos, doenças cardiovasculares, etc. ○ É importante pesquisar história de câncer na família, sempre questionando a idade do diagnóstico e o órgão acometido. ○ Quanto mais precoce o diagnóstico de câncer em um familiar, mais provável de que haja uma mutação genética e, consequentemente, há uma maior predisposição de que essa paciente desenvolva câncer também ● Antecedentes Menstruais: características relacionadas à menstruação ○ Data da primeira menstruação e data da última menstruação ○ Características do ciclo: regularidade, tempo de duração, intensidade do fluxo, se há dismenorreia (cólica) ○ As duas principais causas de cólicas menstruais são a endometriose e a adenomiose. ● Antecedentes Sexuais: quando foi a primeira relação, se há um parceiro fixo, como são as relações (se há dor, sangramento…), se faz uso de preservativo ou outros métodos contraceptivos, etc. ○ Se a paciente não teve relação previamente à consulta, não vamos colher o papanicolaou ○ É importante nessa etapa orientar com relação às DSTs caso a paciente não tenha parceiro fixo e quanto aos métodos anticoncepcionais caso não haja interesse de ter filhos nesse momento ● Antecedentes Obstétricos: ○ Determinar a paridade → GPA ○ Se gestações anteriores: questionar quanto ao pré-natal e parto → cesárea, natural, prematuridade, à termo, se houveram doenças relacionadas à gestação (hipertensão, diabetes, etc)… ■ Parto a termo é aquele que ocorre a partir das 37 semanas ● Leucorréias/Corrimento: se houver queixa, devemos questionar sobre as características do corrimento (início, coloração…) e se há sintomas associados (prurido, hiperemia, ardor…) ○ Uma grande de causa de prurido vaginal é a candidíase ● Sintomas Mamários: dor, prurido, nodulações, descarga papilar, etc, e se houver queixas, questionar sobre características relacionadas às mesmas (lateralidade, duração, intensidade, etc) ● Sintomas Urinários: disúria, polaciúria, hematúria, incontinência urinária, etc ○ Diante da suspeita de infecção urinária, podemos tratar sem solicitar urocultura ● Sintomas Intestinais: como são os hábitos intestinais, frequência de evacuação, se há diarréia, hemorróidas e etc. ○ É muito comum que as mulheres sofram de constipação, é importante orientar com relação aos hábitos alimentares, aumentar a ingestão de fibras e etc. Características do Ciclo Menstrual: ● Ciclo Eumenorreico: é o considerado normal ○ A menstruação normal tem duração entre 3 e 5 dias e o ciclo entre 28 e 30 dias ○ Para avaliar o fluxo, a gente vai questionar com relação a quantidade de absorventes que ela usa por dia durante a menstruação ■ Em termos de volume, é considerado normal entre 100 e 150 mL ● Alterações Menstruais: podem ser de duração, quantidade e intervalo ○ Duração: ■ Se < 2 dias → hipomenorreia ■ Se > 5 dias → hipermenorreia ○ Quantidade: ■ Pouca → oligomenorreia ■ Muita → menorragia (coágulos) ○ Intervalo: ■ A cada 20 a 25 dias → Proiomenorreia ■ A cada 15 dias (2x/mês) → Polimenorréia ■ A cada 35 a 40 dias → Opsomenorréia ■ A cada 2-3 meses → Espaniomenorreia Termos Técnicos e Queixas: ● Amenorréia: ausência de menstruação ○ Amenorréia Primária: a paciente nunca menstruou ○ Amenorréia Secundária: a paciente menstrua e de repente para ■ A principal causa é a gravidez ● Metrorragia: perda sanguínea prolongada atípica (geralmente fora do período menstrual) ● Dismenorreia: cólica menstrual ● Dispareunia: dor durante o ato sexual ○ Causas: moléstia inflamatória (bactérias que colonizam a vagina e migram para o útero e trompas) e endometriose ● Sinusorragia: sangramento durante relação sexual ● Menarca: primeira menstruação ● Menopausa: última menstruação (estar na menopausa = 12 meses sem menstruar) ● Menacme: período fértil da mulher (entre a menarca e a menopausa) ● Climatério: período de transição do período reprodutivo para o não reprodutivo ● Paridade: ○ Nulípara: nenhuma gestação anterior ○ Primigesta: uma única gestação EXAME FÍSICO DAS MAMAS Inspeção: paciente sentada e examinador à sua frente, preferencialmente na altura das mamas. ● Estática e dinâmica, sempre buscando assimetrias, abaulamentos, retrações, alterações de pele e alterações de mamilo. ● Atenção para Doença de Paget: é caracterizada por prurido, sangramento e formação de crostas no mamilo, e em casos mais avançados por destruição completa do mamilo e da aréola. É um tipo de câncer em que não há formação de nódulos palpáveis, sendo diagnosticada somente pela inspeção. ● O Carcinoma Inflamatório é outro tipo de câncer que vai alterar somente o aspecto da mama, não sendo detectado pela palpação. Cursa com edema e hiperemia, sendo que a mama adquire um aspecto de casca de laranja, com proeminência dos folículos pilosos. Palpação: paciente em decúbito dorsal e os braços elevados atrás da cabeça, o examinados se posiciona no lado direita dela. ● É importante palpar os 4 quadrantes da mama, não tem uma técnica exata, mas dá-se preferência para fazê-la das bordas da mama em direção ao mamilo. ● Palpar também o mamilo (faz uma compressão), o prolongamento mamária axilar e as cadeias linfonodais (supraclavicular e axilar) ● Encontrando um nódulo, este deve ser descrito quanto à localização, formato, tamanho, delimitamento, consistência, mobilidade e sensibilidade. Expressão Papilar: pinçamento mamilar em duas direções utilizando os dedos polegar e indicador, preferencialmente somente quando houver queixa de descarga papilar. EXAME FÍSICO ABDOMINAL Os 04 quadrantes devem ser examinados, mas dá-se mais destaque para o abdômen inferior, onde estão localizados os ovários e a bexiga. O exame deve seguir a propedêutica normal, com inspeção, palpação, percussão e ausculta, sempre buscando irregularidades (presença de massas, distensões, endurecimentos, etc). EXAME DA PELVE A paciente deve ser colocada em posição ginecológica, com os pés ou panturrilhas apoiados sobre o estribo, os glúteos na beirada da mesa e bem relaxados, de forma a tentar diminuir o desconforto durante o exame. É importante tomar o cuidado de cobrir as pernas da paciente com um campo, mas sempre abaixá-lo para se comunicar com ela e observar suas expressões. Inspeção da Genitália: ● É importante avaliar todas as estruturas: monte de vênus, grandes e pequenos lábios, clitoris, região perineal e região anal. ● Observar distribuição de pelos, características de pele, contornos, presença de lesões, hiperemia, etc. ● Hiperemia de vulva → dermatite: é comum em pacientes com incontinência urinária, que precisam fazer uso de fraldas, porque a uremia da urina causa uma irritação da pele, determinando a dermatite. ● Presençade lesões na região de transição do epitélio vaginal é sugestivo de doenças sexualmente transmissíveis (úlceras indolores, verrugas, inflamações…) Papanicolaou: ● Também chamado de preventivo ou citopatológico, é o exame de colo uterino para detecção precoce de câncer. ● O câncer de colo uterino é causado pelo vírus HPV, o qual é transmitido através de relações sexuais. ○ As indicações para a realização do exame variam de acordo com as diretrizes de cada país, mas por tratar-se de uma doença que está vinculada a um vírus de transmissão sexual, o ideal seria iniciar o rastreamento a partir do início da vida sexual. ● Vale ressaltar que após uma histerectomia total, não há necessidade de realização do papanicolaou, considerando que tal cirurgia consiste na remoção tanto de corpo quanto de colo uterino. ○ Existe uma segunda modalidade de histerectomia, que é a subtotal, na qual a retirada é apenas do corpo uterino, nestes casos, existe sim a necessidade de manutenção do rastreamento, pois o colo permanece e o surgimento do câncer independe da presença do corpo. ● Pacientes de baixo risco (viúvas que não mantenham relação sexual ou mulheres com somente 01 parceiro fixo) podem parar de fazer o papanicolaou aos 70 anos. ○ Evidentemente, se a mulher fica viúva ou se divorcia, e começa um novo relacionamento, o exame se torna necessário novamente. ● Com relação à técnica para coleta: ○ A lavagem das mãos e o uso de luvas são necessários (item importante no OSCE) ○ Materiais: luvas, foco de luz, espéculo vaginal, lâmina, grafite, espátula de Ayre, escovinha e fixador ■ Na presença de leucorréia, utilizamos alguns outros materiais para avaliação do conteúdo e identificação do agente: fita de pH, solução de KOH (teste das aminas) e microscópico para avaliação a fresco. ■ Diante da suspeita de DST: swab e tubete (kit de culturete) - coleta secreção do fundo vaginal e orifício externo do colo uterino e envia para o laboratório para isolar o agente e diagnosticar. ○ É importante lembrar de orientar a paciente até o vestuário para colocar o avental, solicitar que esvazie a bexiga, sempre pedir licença e avisar sobre o que está fazendo e tomar todos os cuidados para reduzir o desconforto para a paciente (cobrir as pernas com um campo para diminuir a exposição, permitir um acompanhante se for da vontade dela, posicionar corretamente o bumbum no limite da mesa, etc.) ○ Antes de iniciar o papanicolaou, é importante fazer a inspeção e a palpação da glândula de Bartholin. Para palpar faz-se uma pinça com o indicador e o polegar. ○ Feita a inspeção e palpação, pode-se inserir o espéculo totalmente fechado, usando a mão não dominante para promover a abertura dos grandes lábios. ○ Com espéculo inserido, ele deve ser aberto até a total visualização do colo uterino, onde será realizada a coleta: ■ Ectocérvice: corresponde aos lábios anterior e posterior do colo uterino. A coleta é realizada utilizando a extremidade menor da espátula de Ayre em um giro de 360º, sendo que a extremidade maior fica apoiada no orifício externo. O epitélio normal da região é o escamoso. ■ Endocérvice: corresponde ao orifício externo do colo uterino. A coleta é realizada utilizando a escovinha, que deve ser inserida no orifício. O epitélio normal da região é o glandular. ■ A região de maior importância é a zona de transição epitelial - chamamos de JEC (junção escamo-colunar) -, pois é onde ocorre a transformação das células normais em uma infecção por HPV, o que vai dar origem ao câncer. ○ O conteúdo coletado deve ser transferido para uma lâmina previamente identificada. ○ Havendo queixa de corrimento/leucorréia, seguimos com a coleta da secreção e análise para determinação da causa (vaginose, tricomoníase e candidíase) ■ Fita de pH: o pH normal da vagina é ácido, a depender da doença vai ocorrer uma alcalinização. ■ Testes das Aminas: é feito com o KOH, que quando em contato com a secreção se liberar um odor fétido semelhante a peixe podre é sugestivo de vaginose bacteriana. ■ Análise microscópica a fresco: ○ Coletado o papanicolau, faz-se uma pequena tração no espéculo para que as pás liberem o colo uterino, só então podemos fechar totalmente e removê-lo. ○ Para finalizar essa etapa, é importante orientar a paciente com relação à possibilidade de um pequeno sangramento devido ao exame. Palpação Bimanual: é mais realizada nos centros obstétricos com a finalidade de detectar se a paciente gestante está em trabalho de parto, se o colo uterino está apresentando dilatação e etc. Em pacientes não grávidas pode ser utilizada para determinação do tamanho do útero e palpação dos anexos. ● Os 2º e 3º dedos da mão dominante devem ser introduzidos na vagina da paciente e a mão não dominante deve ser posicionada no abdômen. ● Com os dedos da mão dominante, o examinador vai empurrar o útero e anexos com o objetivo de palpá-los com a mão não dominante na parede do abdome. ● É possível determinar os contornos e avaliar a presença de massas e tumorações. Exame Retovaginal: para esta etapa insere-se um dedo na vagina e outro no ânus da paciente, com o objetivo de avaliar o septo retovaginal, a superfície uterina posterior, as estruturas anexiais, os ligamentos uterossacros e o fundo de saco posterior.
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