Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Consiste de anamnese, exame físico geral e ginecológico (genital e mamário). Quando realizar a primeira consulta ginecológica? Consideramos que o ideal seria no início da puberdade. Eventualmente, também consultamos meninas pré-puberes devido a algumas alterações. 1. ANAMNESE GINECOLÓGICA Como em qualquer área, tem as etapas de identificação, queixa principal, HPMA, antecedentes gineco-obstétricos, antecedentes pessoais e familiares. O diferencial em relação à clinica médica geral é ênfase nos antecedentes ginecológicos e obstétricos. Importante perguntar sobre parceiros sexuais e aspectos específicos dessa relação sexual. Queixa principal ou HPMA: detalhar queixa, tempo de aparecimento, fatores de melhora ou piora, intensidade, relação com ciclo menstrual, sintomas pré-menstruais (TPM), DST’s/HIV, tratamentos realizados ou medicações. Síndrome pré-menstrual (SPM) é a denominação que se dá a um conjunto de sintomas que surgem na segunda metade do ciclo menstrual (14d – 28d) e desaparecem com a ocorrência da menstruação. Os principais são: cefaleia, mastalgia, peso no baixo ventre e nas pernas, irritação, nervosismo e insônia. Questionar sempre sobre irregularidades menstruais, dor e leucorréias. Essas são as principais queixas ginecológicas. Antecedentes Gineco-Obstétricos: inicialmente questionar o desenvolvimento puberal, qual a idade da pubarca, telarca e menarca. Em média, a menarca ocorre ~12 anos de idade, mas a faixa normal é de 8 a 16 anos. Devemos perguntar sobre o ciclo menstrual: DUM (data da última menstruação), duração, intervalo, quantidade do fluxo (quantidade de pacotes de absorventes por menstruação, por ex), idade da menopausa (após 12 meses sem menstruar). Menstruação é o sangramento cíclico que ocorre cada 21 a 35 dias, durando de 2 a 8 dias, com perda sanguínea de 50 a 200 ml. A média de dias de fluxo menstrual é de 4 dias e a duração do ciclo, 28 dias. A menopausa ocorre entre 40-55 anos, com média de 52 anos. Costumamos registrar na ordem: menarca; dias de sangramento/duração do ciclo; idade de menopausa. 12 4 d / 28 52 anos Características do ciclo menstrual: Principalmente em queixas de irregularidade do ciclo menstrual devemos detalhar o máximo possível as informações sobre o ciclo. A paciente queixa-se de ciclo “desregulado”, mas muitas vezes é normal. Menstruação aumentada: 10/28 (aumento do número de dias de sangramento), ou 4/15 (número normal de dias sangrando, mas duas vezes no mês), ou 10/15-20 (as duas coisas, menstrua por mais tempo e duas vezes no mês). Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Normalmente o aumento do sangramento está relacionado com doenças ou condições que alteram a anatomia do útero, como miomatose uterina, pólipos endometriais. São patologias que preciso da ajuda de exames de imagem, como US. Menstruação diminuída: 1/28; ou 4/60 (menstrua em quantidade normal de dias, mas a cada 2 meses); ou 4/90-120 (apenas 3 ou 4 vezes por ano). Quando a paciente menstrua em intervalos superiores a 90 dias podemos dizer que ela tem amenorréia. No caso, seria amenorréia secundária. Alterações menstruais que diminuem a frequência do ciclo estão relacionadas mais em alterações hormonais no eixo hipotálamo-hipófise-ovários. Preciso de dosagens hormonais para investigação. Polimenorreia, quando a menstruação ocorre com intervalos menores que 21 dias; Oligomenorreia, quando a menstruação ocorre com intervalos maiores que 35 dias; Amenorreia, que é a falta de menstruação por um período; de tempo maior do que três ciclos prévios; Hipermenorreia, quando a menstruação dura mais de 8 dias; Hipomenorreia, quando ela dura menos de 2 dias; Menorragia, quando há excessiva perda de sangue durante o fluxo menstrual. Às vezes, confunde-se com hipermenorreia; Metrorragia, quando a perda de sangue não obedece ao ritmo do ciclo menstrual; Dismenorreia, que é um conjunto de sintomas que podem acompanhar a menstruação. Devemos perguntas o nº de gestações, partos e via de parto. Geralmente registados como G (nº de gestações) P (nº de partos) A (nº de abortos) C (nº de cesáreas). G4 P3 A1 C1 Devemos perguntar sobre o uso de métodos anticoncepcionais (MAC). Sempre deve conter essa informação no prontuário ginecológico. Anotar o tipo, se utiliza corretamente. Questionar sobre antecedentes sexuais: coitarca, nº de parceiros, frequência de atividade sexual, dispareunia, libido, orgasmo, disfunções sexuais. A localização habitual da dor é a região pélvica. Às vezes, a dor é abdominopélvica ou lombossacra. Pode ser espontânea ou provocada pelo coito, por deambulação, por ortostatismo ou por palpação. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Pode ser contínua, paroxística ou relacionada com o ciclo menstrual. Na avaliação clínica da dor, deve-se lembrar de causas psíquicas, resultantes de somatização no aparelho genital. Antecedentes pessoais e outros aparelhos: questionar sobretudo sobre queixas mamárias (mastalgia, nódulos, secreções) e urinárias (dor ao urinar, incontinência). Perguntar dos outros sistemas também. Perguntar sobre doenças, medicamentos, cirurgias anteriores, cirurgias ginecológicas, hábitos da vida. Antecedentes familiares: doenças, fatores de risco, neoplasias (ca de mama, ovário, intestino), osteoporose. 2. EXAME FÍSICO GINECOLÓGICO Iniciamos pelo exame físico geral, como na clínica medica (principalmente exame cuidadoso do abdômen). Depois iniciamos o exame das mamas e exame ginecológico. Orientamos a paciente a retirar toda a roupa e vestir uma camisola com a abertura na frente. 2.1. EXAME FÍSICO DAS MAMAS Dividimos em inspeção estática, inspeção dinâmica e palpação. → Inspeção estática: exame das mamas com a paciente sentada e braços pendentes na lateral do corpo. Apenas observamos o tamanho, volume, simetria, contorno, retrações ou abaulamento da pele, pigmentação da aréola, alterações do mamilo, alterações na pele (“pele em casca de laranja”). O examinador deve relatar a presença de cicatrizes cirúrgicas prévias, nevos cutâneos, marcas congênitas e tatuagens. Em púberes devemos classificar o Estadiamento de Tanner nesse momento. Assimetria: pode ser genética ou mesmo na amamentação preferencial de uma mama. Polimastia: mamas muito volumosas, difícil exame de nódulos. Na foto, a paciente tem uma mama acessória na região da axila, o que é incômodo para a paciente. Mamilo invertido: bastante dificuldade na amamentação. Pode ser decorrente de uma neoplasia quando surge após idade adulta. Mastite: sinais flogísticos ao redor do mamilo indicando infecção/inflamação da mama. →Inspeção dinâmica: paciente sentada com movimentação dos braços acima da cabeça e contração do músculo Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp peitoral (com as mãos na cintura). Essas manobras realçam possíveis retrações e abaulamentos. → Palpação: deve começar pelo exame dos linfonodos das cadeias axilares, supra e infraclaviculares. A paciente deve estar sentada, com os mm peitorais bem relaxados. A mão do examinador deve estar em forma de concha, devendo penetrar bem fundo na axila. Na palpação da mama propriamente dita, devemos avaliar os 4 quadrantes da mama. A maioria dos canceres de mama aparecem no quadrante superior externo (ao lado da axila), então devemos investigar muito bem ele. Nessa região tem maior concentração de tecido glandular da mama. A paciente deve estar deitada, com as mãos abaixo da cabeça. Fazemos um movimento circular e centrípeto, palpando todos os quadrantes no sentido horário. Palpamos com as polpas digitais ou mãos espalmadas. Palpar também região próxima à axila e aréolas. Depois fazemos a expressão dos mamilos,como se fosse uma ordenha. Usando as duas mãos, espremer acima do mamilo para observar a saída de secreções. Elas podem ser fisiológicas (amamentação) ou patológicas (leitosa, aquosa, sanguinolenta, purulenta). Devemos observar o número de ductos por onde saem as secreções. Caso haja secreção, complementamos com exame de citologia na secreção para procurar possíveis células neoplásicas. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp https://www.youtube.com/watch?v=AT19FfOq4aw OBS.: existem pacientes que merecem um exame mais minucioso: gestantes, puérperas em lactação, portadoras de implantes protéticos e aquelas com história pregressa de câncer mamário. Nas mulheres submetidas à mastectomia, deve-se examinar minuciosamente a cicatriz cirúrgica e toda a parede torácica (plastrão). 2.2. EXAME GINECOLÓGICO Com a paciente ainda em decúbito dorsal, pedimos para ela escorregar na maca ginecológica até as nádegas ficarem uns 5-10cm fora da maca. Os pés devem estar apoiados numa perneira (ou os joelhos), com as pernas abertas. Devemos sempre cobrir a paciente com um lençol. A paciente deve estar relaxada e segura nesse momento, devemos assegurar isso. Só realizamos o exame ginecológico completo (com introdução do espéculo e toque) apenas em pacientes que já realizaram atividade sexual. Consiste na inspeção dos genitais externos, exame dos genitais internos, especular (canal vaginal e colo uterino), toque (útero e anexos). 1- Inspeção dos genitais externos Com a paciente posicionada adequadamente, devemos utilizar luvas descartáveis não estéreis. Confirmar se todo o material necessário está na mesa auxiliar para não precisar deixar a sala. Observar a pilificação, se está adequada para idade e sexo. Classificar o tanner. Em pacientes com hirsutismo, a pilificação tem caráter mais masculina, como losango na linha média. https://www.youtube.com/watch?v=AT19FfOq4aw Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Avaliar a vulva, observando alterações de coloração da pele, eritemas, discromias, pápulas, úlceras, atrofias. Separamos os pequenos lábios se for preciso e avaliamos o meato uretral também. Pedimos para a paciente tossir para observar se há perda de urina (queixas de incontinência). Em pacientes que já iniciaram a vida sexual, veremos a membrana himenal rompida e com carúnculas himenais (restos). Isso é normal. Ao lado temos dois orifícios que não são visíveis normalmente, são as glândulas de Bartholin. Em caso de obstruções nesses orifícios podemos ver pequenos cistos nessa região. Deve-se palpar a região das glândulas de Bartholin; e palpar o períneo, para avaliação da integridade perineal. Em pacientes mais idosas há menos pregas na vulva e a coloração fica rosa pálido. Isso é causado pela atrofia vaginal. Em alguns casos pode haver prolapso uterino, que é a queda do útero para fora do intróito vaginal pela perda do trofismo da musculatura do assoalho pélvico com a idade. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 2- Inspeção dos genitais internos Avaliamos os genitais internos por meio do espéculo e toque vaginal. Existem espéculos de aço inox e descartáveis. Preferimos os descartáveis (se houver), pois a temperatura do aço inox pode deixar a paciente desconfortável. Os espéculos possuem 3 numerações (1-P, 2-M e 3-G). O que muda é o comprimento e a largura das abas do espéculo. Usualmente, utilizamos tamanho médio. Em pacientes nulíparas usamos tamanho pequeno e para grandes multíparas usamos tamanho grande. O espéculo é introduzido fechado. Apoia-se o espéculo sobre a fúrcula, ligeiramente oblíquo a 45º (para evitar lesão uretral), e faz-se sua introdução lentamente; antes de ser completamente colocado na vagina, quando estiver em meio caminho, deve ser rodado, ficando as valvas paralelas às paredes anterior e posterior; posição que ocupará no exame. A extremidade do aparelho será orientada para baixo e para trás, na direção do cóccix, enquanto é aberto. Na abertura do espéculo, a mão esquerda segura e firma a valva anterior do mesmo, para que a mão direita possa, girando a borboleta para o sentido horário, abri-lo e expor o colo uterino. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Abrimos o suficiente para ter boa exposição do colo uterino. Abrir o mínimo necessário para ver o colo. https://www.youtube.com/watch?v=Lke4vMDZ-ng Colo uterino normal: o orifício pode estar mais aberto (como na ovulação, com saída de muco cervical translúcido), puntiforme (mulheres que nunca tiveram parto vaginal), em fenda (após parto vaginal). Observar a vagina, como está o trofismo vaginal, as pregas, a coloração (rósea), se há secreção (há uma quantidade fisiológica pequena). Descrever aspectos da secreção. Medir o Ph da vagina por meio de uma fita segurada pela pinça cheron e encostamos na parede vaginal. O normal é entre 3,8 a 4,5 (ph ácido pelos bacilos de Doderlein). Alterações no Ph também podem indicar presença de agentes patológicos. Fazemos o teste das aminas (ou do cheiro/Whiff). Com a pinça cheron pegamos um algodão e limpamos as secreções. Coloco 1 a 2 gotas de KOH 10% no algodão. Alguns patógenos que podem colocar a flora vaginal liberam cheiros característicos nesse teste (ex. vaginose bacteriana tem cheiro de peixe). https://www.youtube.com/watch?v=Lke4vMDZ-ng Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp • COLETA DE PAPANICOLAU A paciente não pode estar menstruada, não ter usado creme vaginal nas ultimas 48h e não ter relações sexuais nas ultimas 24h. O exame de Papanicolau é importante para prevenir o ca de colo uterino. É o 3º câncer mais frequente nas mulheres. O exame promove uma detecção precoce de lesões pré-neoplásicas e câncer de colo uterino inicial. O exame é feito dos 25 aos 64 anos se tiver atividade sexual. Anualmente, mas se tiver 2 exames consecutivos normais podemos espaçar os internos para colher a cada 3 anos (as alterações são lentas). O colo uterino em o epitélio externo que é escamoso e o interno, que é glandular. A zona de transformação separa um epitélio do outro, sendo um local onde há maior incidência do ca de colo uterino. Então, devemos colher as células dessa região da junção escamocolunar (JEC). Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Para coletar é preciso do espéculo, espátula de ayres (coleta do material ectocervical, 360º), escovinha (coleta do material de dentro do canal cervical (360º), lâmina histológica. Fixo o material com polietilenoglicol e encaminhamos para o exame citológico. A coleta será efetuada em duas lâminas. A primeira utilizará a espátula de Ayre com sua extremidade fenestrada, que será adaptada ao orifício cervical externo, fazendo uma rotação de 360º, possibilitando o raspado sobre a JEC na maior parte das vezes, principalmente na paciente pré menopáusica. A seguir, será utilizada uma escova endocervical, que será introduzida nos primeiros 2 cm do canal, rotando várias vezes no canal cervical; esta coleta é imprescindível na mulher pós-menopáusica que tem a JEC interiorizada no canal endocervical. Nas duas modalidades de coleta, o material deverá ser colocado sobre a lâmina de forma tênue e continuada em toda sua extensão, sendo imediatamente fixado com “fixador citológico” (polietilenoglicol). Outro teste realizado na rotina ginecológica (sempre após o Papanicolau) é o teste de Schiller. Permite a identificação de áreas suspeitas de alteração neoplásicas do colo uterino. Utilizamos solução de lugol que contém iodo. As células normais do colo uterino contem glicogênio que quando entram em contato com o lugol elas ficam marrom. Em zonas com alteração na quantidade de glicogênio ou atróficas não coram em marrom, então chamamos Teste de Schiller Positivo. Branda deOliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Teste de Schiller Negativo: normal, todas as células se coram fortemente, nenhuma área sem corar. Teste de Schiller Positivo: áreas com células alteradas que não se coram pelo iodo (não ficam marrom escuro). São chamadas iodo-negativas. As células normais do epitélio endocervical não se coram pelo lugol, então é normal ali dentro. Contudo, na ultima foto tem uma exposição do epitélio glandular no colo uterino e por isso não corou (essa exposição não é normal). Descrevemos o teste no prontuário, muitas vezes com desenhos esquemáticos. RESULTADOS DO EXAME DE PAPANICOLAU Podemos ter 4 tipos de resultados: normal (esperado), lesões de baixo grau, lesões de alto grau, câncer. EXAME DE TOQUE VAGINAL Examinamos o colo do útero, o útero e anexos. É examinado com luvas não estéreis. Introduzimos o dedo indicador e o dedo médio na vagina. Passar lubrificante. O examinador deve apoiar o pé ipsilateral à mão que realiza o exame em um no segundo degrau da escadinha, e o braço deve ficar apoiado sobre o joelho para não transferir seu peso para a vagina. O polegar, o 4º e 5º dedos da mão examinadora farão o afastamento dos grandes e pequenos lábios da vulva, dando a abertura suficiente para que o 2º e 3º dedos entrem na vagina sem carregar contaminação (em algumas situações, por questão de conforto da paciente utiliza-se só o indicador), os quais devem dirigir-se ao fundo de saco e identificar o colo. Este deve ser mobilizado láterolateralmente, ântero-posteriormente e superiormente, buscando avaliar a mobilidade do útero e, principalmente, se estas manobras provocam dor. O examinador procede ao exame de toque dos fundos de saco posterior e anterior, deslizando também nas porções mais superiores e laterais da vagina. Ali, busca por nódulos, retrações, espessamentos ou tumorações. A seguir passa-se ao toque bimanual, no qual a utiliza-se a palpação associada da pelve. Colo uterino: avaliar a consistência cartilaginosa do colo (em não gestantes; quando gestantes ele fica amolecido), orifício externo fechado, volume e posição. Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp Útero: é preciso realizar toque bimanual. Com a mão esquerda palpo o abdômen para sentir o tamanho uterino (~8-10cm longitudinalmente). Avaliar formato e consistência também. Anexos: também com palpação bimanual avaliamos os ovários e trompas, analisando o tamanho, consistência e presença de dor.
Compartilhar