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Síndrome Paraneoplásica 1. Elucidar os sinais e sintomas da Síndrome Paraneoplásica LONGO, D. L. Síndromes Paraneoplásicas: Endocrinológicas/Hematológicas. In: LONGO, D. L. Hematologia e oncologia de Harrison. 2. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. P. 508-514. Efeitos Remotos do Câncer Síndromes Paraneoplásicas: Endocrinológicas/Hematológicas Além da invasão tecidual local e da ocorrência de metástases, as células neoplásicas podem produzir diversas substâncias que estimulam reações hormonais, hematológicas, dermatológicas e neurológicas. Síndromes paraneoplásicas é o termo utilizado para indicar distúrbios que acompanham tumores benignos ou malignos, mas que não estão relacionados diretamente com o efeito de massa ou com a invasão do tumor primário. Os tumores de origem neuroendócrina, como o carcinoma pulmonar de pequenas células (CPPC) e os tumores carcinoides, produzem uma ampla variedade de hormônios peptídios e são causas comuns de síndromes paraneoplásicas. Entretanto, quase todos os tipos tumor têm potencial para produção de hormônios ou citocinas ou para induzir respostas imunológicas. Estudos criteriosos sobre a prevalência das síndromes paraneoplásicas indicaram que elas são mais comuns do que se supunha. Os sinais e sintomas bem como as alterações metabólicas associados aos distúrbios paraneoplásicos podem passar despercebidos no contexto de um câncer e seu tratamento. Consequentemente, manifestações clínicas atípicas em pacientes com câncer devem levantar suspeitas sobre uma possível síndrome paraneoplásica. As síndromes endocrinológicas e hematológicas mais comuns associadas a neoplasias subjacentes serão discutidas neste capítulo. SÍNDROMES PARANEOPLÁSICAS ENDÓCRINAS • ETIOLOGIA Os hormônios podem ser produzidos por fontes eutópicas ou ectópicas. O termo eutópico refere-se à expressão de um hormônio a partir de seu tecido normal de origem, enquanto ectópico refere-se à produção de hormônio a partir de uma fonte tecidual atípica. Por exemplo, o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) é expresso eutopicamente pelas células corticotróficas da adenoipófise, mas pode ser expresso ectopicamente no CPPC. Muitos hormônios são produzidos em baixos níveis a partir de uma ampla variedade de tecidos, além de suas fontes endócrinas clássicas. Assim, a expressão ectópica refere- -se, com frequência, a uma alteração quantitativa e não a uma alteração absoluta na expressão tecidual. Entretanto, o termo expressão ectópica está firmemente arraigado e expressa uma fisiologia anormal associada à produção de hormônios por células neoplásicas. Além dos altos níveis de hormônio, a expressão ectópica caracteriza-se pela regulação anormal da produção hormonal (p. ex., defeito do controle por feedback) e do processamento de peptídios (resultando em precursores grandes e não processados). Uma ampla variedade de mecanismos moleculares foi sugerida como causa da produção hormonal ectópica. Em casos raros, rearranjos genéticos explicam a expressão hormonal aberrante. Por exemplo, a translocação do gene do paratormônio (PTH) pode resultar em níveis elevados de expressão de PTH em outros tecidos além da glândula paratireoide, aparentemente porque o rearranjo genético coloca o gene do PTH sob controle de elementos reguladores atípicos. Há um fenômeno relacionado bem documentado ocorrendo em várias formas de leucemia e linfoma em que rearranjos genéticos somáticos produzem vantagem no crescimento e alteram a diferenciação e a função celulares (Cap. 15). Embora rearranjos genéticos possam produzir alguns casos de produção hormonal ectópica, esse mecanismo é provavelmente raro, uma vez que muitos tumores estão associados à produção excessiva de diversos peptídios. A desdiferenciação celular provavelmente está por trás da maioria dos casos de produção hormonal ectópica. Muitos tipos de câncer são pouco diferenciados, e certos produtos tumorais, como gonadotrofina coriônica humana (hCG), proteína relacionada com o paratormônio (PTHrP) e alfafetoproteína, são típicos da expressão gênica em estágios mais precoces do desenvolvimento. Por outro lado, a propensão que determinados cânceres têm de produzir hormônios específicos (p. ex., os carcinomas de células escamosas produzem PTHrP) sugere que a desdiferenciação seja parcial ou que algumas vias seletivas estejam liberadas. Tais perfis de expressão provavelmente refletem alterações na repressão da transcrição, alterações na metilação do DNA e outros fatores que determinam a diferenciação celular. No CPPC, a via de diferenciação foi relativamente bem definida. O fenótipo neuroendócrino é ditado em parte pelo fator de transcrição basic-helix-loop-helix (bHLH), homólogo humano de achaete- -scute 1 (hASH-1), expresso em níveis anormalmente altos no CPPC associado ao ACTH ectópico. A atividade do hASH-1 é inibida pelo hairy enhancer of split 1 (HES-1) e pelas proteínas Notch, que também são capazes de induzir a interrupção do crescimento. Portanto, a expressão anormal desses fatores de transcrição relacionados com o desenvolvimento parece fornecer um elo entre proliferação e diferenciação celulares. Se não resultasse em manifestações clínicas, a produção hormonal ectópica seria apenas um epifenômeno associado ao câncer. A produção excessiva e desregulada de hormônios, como ACTH, PTHrP ou vasopressina, pode gerar morbidade substancial e complicar o plano de tratamento oncológico. Além disso, as endocrinopatias paraneoplásicas às vezes são a manifestação de apresentação do câncer subjacente, podendo levar à investigação de um tumor oculto. Um grande número de síndromes endócrinas paraneoplásicas foi descrito, associando a produção excessiva de hormônios específicos a determinados tipos de tumores. Entretanto, certas síndromes recorrentes surgem a partir desse grupo (Quadro 52.1). Entre as síndromes endócrinas paraneoplásicas mais comuns, estão a hipercalcemia por produção excessiva de PTHrP e outros fatores, a hiponatremia em razão do excesso de vasopressina e a síndrome de Cushing causada pela produção ectópica de ACTH. • HIPERCALCEMIA CAUSADA PELA PRODUÇÃO ECTÔPICA DE PTHrP Etiologia A hipercalcemia humoral do câncer (HHC) ocorre em até 20% dos pacientes portadores da doença, sendo mais comum nos cânceres de pulmão, cabeça e pescoço, pele, esôfago, mama e trato geniturinário bem como no mieloma múltiplo e nos linfomas. Embora haja diversas causas humorais distintas de HHC, o fenômeno está mais frequentemente associado à produção excessiva de PTHrP. Além de atuar como fator humoral circulante, muitas metástases ósseas (p. ex., metástases do câncer de mama, mieloma múltiplo) podem produzir PTHrP, ocasionando osteólise local e hipercalcemia. O PTHrP está estruturalmente relacionado com o PTH e liga- - se ao seu receptor, o que explica as características bioquímicas semelhantes entre a HHC e o hiperparatireoidismo. O PTHrP desempenha um papel fundamental no desenvolvimento ósseo além de regular a proliferação e a diferenciação celulares em outros tecidos, como pele, medula óssea, mama e folículos pilosos. O mecanismo de indução do PTHrP no câncer não está completamente compreendido; entretanto, os tecidos tumorais comumente associados à HHC normalmente produzem PTHrP durante o desenvolvimento ou a renovação celular. A expressão de PTHrP é estimulada pelas vias de sinalização hedgehog e por fatores de transcrição Gli que são ativos em muitos cânceres. O fator de crescimento transformador beta (FTC-13), produzido por muitos tumores, também estimula o PTHrP, em parte ao ativar a via de transcrição Gli. Mutações em determinados oncogenes, como o Ras, também podem ativar a expressão do PTHrP. No linfoma de células Tem adultos, a proteína Tax transativadora produzida pelo vírus linfotrópico II de células T humanas (HTLV-1) estimula a atividade do promotor do PTHrP. As lesões ósseasmetastáticas são mais propensas a produzir PTHrP do que as metástases para outros tecidos, sugerindo que o osso produza fatores (p. ex., FCT-13) que aumentam a produção de PTHrP, ou que as metástases produtoras de PTHrP p ossuam uma vantagem de crescimento seletivo no osso. Portanto, a produção de PTHrP pode ser estimulada por mutações n os oncogenes, expressão alterada dos fatores de transcrição virais ou celulares e fatores de crescimento locais. Outra causa relativamente comum de HHC é a produção excessiva de 1,25-diidroxivitamina D. Assim como os distúrbios granulomatosos associados à hipercalcemia, os linfomas podem produzir uma enzima que converte a 25-hidroxivitamina D na forma mais ativa, 1,25- diidroxivitamina D, aumentando a absorção gastrintestinal de cálcio. Outras causas de HHC são a produção de citocinas osteolíticas e mediadores inflamatórios mediada pelo tumor. Manifestações clínicas A apresentação típica da HHC é a de um paciente com diagnóstico de câncer em que a hipercalcemia é um achado em exames laboratoriais de rotina. Com menor frequência, a hipercalcemia é o sinal inicial de apresentação do câncer. Em especial quando os níveis de cálcio se mostram acentuadamente aumentados(> 3,5 mmol/L [> 14 mg/dL]), os pacientes podem apresentar fadiga, alterações do estado mental, desidratação ou sintomas de nefrolitíase. Diagnóstico Entre as características que reforçam a hipótese de HHC, em oposição ao hiperparatireoidismo primário, estão câncer diagnosticado, hipercalcemia de início recente e níveis séticos de cálcio muito elevados. Assim como n o hiperparatireoidismo, a hipercalcemia causada pelo PTHrP é acompanhada por hipercalciúria e hipofosfatemia. Os pacientes com HHC caracteristicamente apresentam alcalose metabólica e não a acidose hiperclorêmica encontrada n o hiperparatireoidismo. A medição do PTH é útil para excluir o hiperparatireoidismo primário; o nível de PTH deve se encontrar suprimido na HHC. Um nível elevado de PTHrP confirma o diagnóstico, tendo sido constatado aumento em cerca de 80% dos pacientes hipercalcêmicos com câncer. Os níveis de 1,25-diidroxivitamina D podem estar aumentados nos pacientes com linfoma. TRATAMENTO Hipercalcemia humoral dos cânceres O tratamento da HHC se inicia com a retirada do excesso de cálcio da diet a, dos medicamentos ou das soluções intravenosas. Deve-se administrar fósforo por via oral (p. ex., Neutra- -Phos 250 mg 3 a 4 vezes/dia) até que o seu nível sérico esteja > 1 mmol/L (> 3 mg/dL). A reidratação com solução salina é utilizada para diluir o cálcio sérico e promover a calciurese. O incentivo à diurese com furosemida ou outros diuréticos de alça pode aumentar a excreção de cálcio, mas tem relativamente pouco valor, excet o na hipercalcemia que ameace a vida. Os diuréticos de alça devem ser administrados apenas após reidrat ação completa e com monitoração cuidadosa do equilíbrio hídrico. Os bifosfonatos, como o pamidronato ( 60 a 90 mg IV), o zoledronato (4 a 8 mg IV) e o etidronato (7,5 mg/ kg/dia VO durante 3 a 7 dias consecutivos), podem reduzir o cálcio sérico em 1 a 2 dias e suprimir a liberação de cálcio por várias semanas. Infusões de bifosfonatos podem ser repetidas, ou bifosfonatos orais usados no trat amento crônico. A possibilidade de diálise deve ser considerada nos casos com hipercalcemia grave quando a hidratação com solução salina e os trat amentos com bifosfonatos não forem possíveis ou tenham resultados muito lentos. Os agentes usados antigamente, como a calcitonina e a mitramicina, têm pouca utilidade atualmente após a introdução dos bifosfonatos. A calcitonina (2 a 8 U/kg SC a cada 6 a 12 h) deve ser considerada quando for necessária correção rápida de hipercalcemia grave. A hipercalcemia associada a linfomas, mieloma múltiplo ou leucemia pode responder ao tratamento com glicocorticoides (p. ex., 40 a 100 mg de prednisona VO fracionados em 4 doses). • VASOPRESSINA ECTÕPICA: SIADH ASSOCIADA A TUMOR Etiologia A vasopressina é um hormônio antidiurético normalmente produzido pela neuroipófise. A produção ectópica de vasopressina por tumores é uma causa comum da síndrome de secreção inapropriada de hormônio antidiurético (SIADH), ocorrendo em pelo menos met ade dos pacientes com CPPC. A SIADH também pode ser causada por diversas doenças não neoplásicas, incluindo traumatismo do sistema nervoso central (SNC), infecções e medicamentos. As respostas compensatórias à SIADH, como diminuição da sede, podem minorar o aparecimento de hiponatremia. Contudo, com a produção prolongada da vasopressina em excesso, é possível que o sensor de osmolalidade (osmostat) controlador da sede e secreção de vasopressina hipotalâmica sejam zerados. Além disso, é possível que a ingestão de água livre, por via oral ou intravenosa, rapidamente agrave a hiponatremia em razão da redução da diurese renal. Os tumores com características neuroendócrinas, como o CPPC e os tumores carcinoides, são as fontes mais comuns de produção ectópica de vasopressina, mas também ocorrem em outras formas de câncer de pulmão e nas lesões do SNC, nos cânceres de cabeça e pescoço, bem como nos cânceres geniturinários, gastrintestinais e ovarianos. O mecanismo de ativação do gene da vasopressina em tais tumores é desconhecido, mas frequentemente envolve a expressão concomitante do gene da ocitocina adjacente, sugerindo a desrepressão desse locus. Manifestações clínicas A maioria dos pacientes com secreção ectópica de vasopressina é assintomática e identificada em razão da presença de hiponatremia nos testes bioquímicos de rotina. Os sintomas podem incluir fraqueza, letargia, náuseas, confusão, depressão do estado mental e convulsões. A gravidade dos sintomas reflete a rapidez da instalação assim como a extensão da hiponatremia. A hiponatremia geralmente se desenvolve lentamente, mas pode ser exacerbada por hidratação intravenosa ou pela instituição de novos medicamentos. Diagnóstico As características diagnósticas da produção ectópica de vasopressina são as mesmas que as de outras causas de SIADH. Ocorrem hiponatremia e diminuição da osmolalidade sérica quando a osmolalidade urinária se encontra inapropriadamente normal ou aumentada. A excreção urinária de sódio está normal ou aumentada a menos que haja depleção de volume. Devem ser afastadas outras causas de hiponatremia, como as disfunções renal, suprarrenal ou tireóidea. As fontes fisiológicas de estimulação da vasopressina (lesões do SNC, doença pulmonar, náuseas) e os mecanismos circulatórios adaptativos (hipotensão, insuficiência cardíaca, cirrose hepática), assim como fármacos, incluindo vários agentes quimioterápicos, também devem ser considerados causas possíveis de hiponatremia. A dosagem da vasopressina geralmente é desnecessária para definir o diagnóstico. TRATAMENTO Vasopressina ectópica: SIADH associada a tumor A maioria dos pacientes com produção ectópica de vasopressina desenvolve hiponatremia ao longo de algumas semanas ou meses. O distúrbio deve ser corrigido gradualmente, a não ser que o estado mental se encontre alterado ou que haja risco de convulsões. O tratamento do câncer subjacente pode reduzir a produção ectópica de vasopressina, mas essa resposta, caso ocorra, é lenta. A restrição hídrica para um volume inferior ao débito urinário, somado às perdas insensíveis, costuma ser suficiente para corrigir a hiponatremia parcialmente. Entretanto, é necessário monitoramento rígido da quantidade e da qualidade dos líquidos consumidos ou administrados por via intravenosa para que a restrição hídrica seja eficaz. Comprimidos de sal e solução salina não são úteis, a não ser que haja depleção de volume. A demeclociclina ( 150 a 300 mg VO, 3 a 4 vezes/dia) pode ser usada para inibir a ação da vasopressina no túbulo distal renal, mas o início de ação é relativamente lento (1 a 2 semanas). A conivaptana,um antagonista do receptor não peptídio V2, pode ser administrado pelas vias oral (20 a 120 mg 2 vezes/dia) ou intravenosa (10 a 40 mg) e é particularmente efetivo quando usado em combinação com restrição hídrica na hiponatremia euvolêmica. A hiponatremia grave (Na< 115 mEq/L) ou os casos com alterações do estado mental podem exigir tratamento com solução salina hipertônica (a 3%) ou solução salina normal juntamente com furosemida para aumentar a depuração de água livre. A taxa de correção de sódio deve ser lenta (0,5 a 1 mEq/L por hora) para evitar alterações hídricas rápidas e a possível ocorrência de mielinólise central da ponte. • SíNDROME DE CUSHING CAUSADA PELA PRODUÇÃO ECTÕPICA DE ACTH Etiologia A produção ectópica de ACTH representa 10 a 20% dos casos de síndrome de Cushing. A síndrome é particularmente comum nos tumores neuroendócrinos. O CPPC (> 50%) é a fonte mais comum de ACTH ectópico, seguido pelo tumor carcinoide do timo (15%), pelos tumores de células da ilhota (10%), carcinoide brônquico (10%), outros tumores carcinoides (5%) e feocromocitomas (2%). A produção ectópica de ACTH é causada por aumento da expressão do gene da proopiomelanocortina (POMC), que codifica o ACTH, juntamente com hormônio estimulador dos melanócitos (MSH), betalipotrofina e vários outros peptídios. Em diversos tumores, há expressão abundante, porém aberrante do gene POMC a partir de um promotor interno, proximal ao terceiro éxon, que codifica o ACTH. Entretanto, como esse produto não possui a sequência de sinalização necessária ao processamento da proteína, não é secretado. Já o aumento da produção de ACTH acontece com a expressão menos abundante, mas não regulada, de POMC a partir do mesmo sítio promotor usado na hipófise. Entretanto, como os tumores não possuem várias das enzimas necessárias para processar o polipeptídio POMC, este é normalmente liberado como múltiplos fragmentos grandes e biologicamente inativos juntamente com quantidades relativamente pequenas de ACTH ativo e totalmente processado. Raramente, o hormônio de liberação de corticotrofina ( CRH) é produzido por tumores das células das ilhotas pancreáticas, CPPC, câncer medular da tireoide, tumores carcinoides ou carcinoma da próstata. Quando seus níveis são suficientemente altos, o CRH pode causar hiperplasia da hipófise pela corticotrofina e síndrome de Cushing. Os tumores produtores de CRH algumas vezes também produzem ACTH, aumentando a possibilidade de um mecanismo parácrino para a produção de ACTH. Um mecanismo distinto para a síndrome de Cushing independente do ACTH envolve a expressão ectópica de vários receptores acoplados à proteína G nos nódulos suprarrenais. A expressão ectópica do receptor do peptídio inibidor gástrico (GIP) é o exemplo mais bem caracterizado de tal mecanismo. Nesse caso, as refeições induzem à secreção de GIP, que inapropriadamente estimula o crescimento suprarrenal e a produção de glicocorticoides. Manifestações clínicas As manifestações clínicas de hipercortisolemia são detectadas apenas em uma pequena fração dos pacientes com produção ectópica de ACTH comprovada. Os pacientes com síndrome de ACTH ectópico geralmente manifestam de forma menos evidente o ganho de peso e a redistribuição centrípeta da gordura provavelmente porque a exposição aos glicocorticoides em excesso é relativamente recente e porque a caquexia reduz a propensão ao ganho de peso bem como à deposição de gordura. A síndrome de ACTH ectópico está associada a várias manifestações clínicas que a distinguem de outras causas de síndrome de Cushing (p. ex., adenomas hipofisários, adenomas da suprarrenal, excesso iatrogênico de glicocorticoides). As manifestações metabólicas da síndrome de ACTH ectópico são caracterizadas por retenção hídrica e hipertensão arterial, hipopotassemia, alcalose metabólica, intolerância à glicose e, ocasionalmente, psicose causada por esteroides. Os níveis muito elevados de ACTH frequentemente causam hiperpigmentação, e a atividade do hormônio estimulador dos melanócitos (MSH), derivada do peptídio precursor POMC, também se mostra aumentada. Os níveis extraordinariamente altos de glicocorticoides em pacientes com fontes ectópicas de ACTH podem acarretar fragilidade cutânea acentuada e formação fácil de equimoses. Além disso, altos níveis de cortisol frequentemente sobrepujam a enzima renal 1113-hidroxiesteroide desidrogenase tipo II, que normalmente inativa o cortisol e o impede de se ligar aos receptores renais de mineralocorticoides. Em consequência, além do excesso de mineralocorticoides secundário à estimulação pelo ACTH da glândula suprarrenal, os altos níveis de cortisol exercem atividade por meio do receptor de mineralocorticoides, ocasionando hipopotassemia grave. Diagnóstico O diagnóstico da síndrome do ACTH ectópico geralmente não é difícil de ser feito no contexto de um câncer diagnosticado. Os níveis urinários de cortisol livre oscilam, mas normalmente estão duas a quatro vezes acima do normal, e o nível plasmático de ACTH geralmente é> 22 pmol/L (> 100 pg/mL). O achado de ACTH em níveis de supressão exclui o diagnóstico e indica uma causa independente do ACTH para a síndrome de Cushing (p. ex., glicocorticoides suprarrenal ou exógeno). Ao contrário do que ocorre com as fontes hipofisárias de ACTH, a maioria das fontes ectópicas deste hormônio não responde à supressão com glicocorticoides. Portanto, a administração de altas doses de dexametasona (8 mg VO) suprime o cortisol sérico às 8 h (diminuição de 50% com relação ao valor basal) em cerca de 80% dos adenomas hipofisários produtores de ACTH, mas não suprime o ACTH ectópico em cerca de 90% dos casos. Os tumores carcinoides brônquicos e outros tumores carcinoides são exceções comprovadas para essas diretrizes gerais, uma vez que tais fontes ectópicas de ACTH podem apresentar regulação do tipo feed back indistinguível da observada nos adenomas hipofisários, como a supressão por altas doses de dexametasona e a resposta do ACTH ao bloqueio suprarrenal com metirapona. Se necessário, o cateterismo do seio petroso pode ser usado para investigar um paciente com síndrome de Cushing dependente de ACTH quando a origem do ACTH não for evidente. Após estimulação com CRH, uma relação de 3:1 entre o ACTH no seio petroso e o na periferia é altamente sugestiva de uma fonte hipofisária de ACTH. Os exames radiológicos também são úteis na avaliação de lesões carcinoides suspeitas, permitindo a biópsia e a caracterização da produção hormonal usando corantes especiais. TRATAMENTO Síndrome de Cushing causada pela produção ectópica de ACTH A morbidade associada à síndrome do ACTH ectópico pode ser substancial. É possível que os pacientes se apresentem com depressão ou com alterações da personalidade em razão de níveis excessivos de cortisol. Os transtornos metabólicos, como o diabetes melito e hipopotassemia, podem agravar a fadiga. A dificuldade de cicatrização e a predisposição às infecções podem complicar o tratamento cirúrgico dos tumores, e as infecções oportunistas, causadas por microrganismos como Pneumocystis carinii e micoses, muitas vezes são a causa da morte nos pacientes com produção ectópica de ACTH. De acordo com o prognóstico e o planejamento do tratamento do câncer subjacente, com frequência indicam-se medidas para redução dos níveis de cortisol. O tratamento do câncer subjacente pode reduzir os níveis de ACTH, mas raramente de forma suficiente para normalizar o cortisol. A adrenalectomia não é uma medida prática para a maioria dos pacientes, mas deve ser considerada se o tumor subjacente não for passível de ressecção e o prognóstico for favorável (p. ex., tumor carcinoide). O tratamento clínico com cetoconazol (300 a 600 mg VO 2 vezes/dia), metirapona (250 a 500 mg VO 6/6 h), mitotano (3 a 6 g VO fracionados em 4 doses tituladas para manter uma baixa produção de cortisol)ou outros agentes capazes de bloquear a síntese ou a ação dos esteroides é, com frequência, considerado a estratégia mais prática para tratar o hipercortisolismo associado à produção ectópica de ACTH. A reposição de glicocorticoides deve ser realizada para evitar a insuficiência suprarrenal. Infelizmente, em muitos pacientes a doença evolui a despeito do bloqueio clínico. • HIPOGLICEMIA INDUZIDA POR TUMOR E CAUSADA POR PRODUÇÃO EXCESSIVA DE IGF-11 Tumores mesenquimais, hemangiopericitomas, tumores hepatocelulares, carcinomas suprarrenais e vários outros grandes tumores podem produzir quantidades excessivas do precursor do fator de crescimento semelhante à insulina tipo II (IGF-II), que se liga fracamente aos receptores de insulina e fortemente aos receptores IGF-I, e produz efeitos semelhantes aos da insulina. O gene IGF-II localiza-se em um locus no cromossomo llpl5 normalmente excluído por impressão gênica (isto é, expressa-se exclusivamente o alelo de um único genitor). A expressão bialélica do gene IGF-II ocorre em um subgrupo de tumores, sugerindo perda da metilação e da impressão como um mecanismo de indução do gene. Além da produção aumentada de IGF-II, a biodisponibilidade de IGF-II mostra-se aumentada em razão de alterações complexas nas proteínas de ligação circulantes. O aumento de IGF-II suprime o hormônio do crescimento (GH) e a insulina, resultando em redução da proteína 3 de ligação ao IGF (IGFBP-3), IGF-I e da subunidade acidolábil (LAS). A redução nas LAS e IGFBP-3, que normalmente sequestram IGF- -II, faz este último deslocar-se para um pequeno complexo circulante o qual tem maior acesso aos tecidos alvo da insulina. Por esse motivo, o nível circulante de IGF-II pode não estar muito elevado e, ainda assim, causar hipoglicemia. Além da hipoglicemia mediada por IGF-II, os tumores podem ocupar uma porção do fígado suficiente para causar diminuição da gliconeogênese. Na maioria dos casos, o tumor causador de hipoglicemia é clinicamente evidente (geralmente> 10 cm), e a hipoglicemia ocorre em jejum. O diagnóstico é feito pela comprovação de baixos níveis glicêmicos com supressão de insulina em associação a sintomas de hipoglicemia. Os níveis séricos de IGF-II podem não estar aumentados (os ensaios de IGF-II podem não detectar os precursores de IGF-II). Na maioria desses tumores é encontrado aumento na expressão do mRNA do IGF-II. As medicações que possam estar associadas à hipoglicemia devem ser eliminadas. Quando possível, o tratamento da neoplasia maligna subjacente pode reduzir a predisposição à hipoglicemia. Refeições frequentes e a administração de glicose IV, especialmente durante o sono ou o jejum, frequentemente são necessárias para prevenir hipoglicemia. Glucagon e glicocorticoides também foram utilizados para aumentar a produção de glicose. • GONADOTROFINA CORIÕNICA HUMANA (HCG) A hCG é composta das subunidades a e 13, podendo ser produzida como hormônio completo e biologicamente ativo, ou como subunidades não combinadas biologicamente inertes. A produção ectópica de hCG completa ocorre mais frequentemente em associação a tumores embrionários de testículo, tumores de células germinativas, germinomas extragonadais, câncer de pulmão, hepatoma e tumores das ilhotas pancreáticas. A produção eutópica de hCG ocorre nas neoplasias malignas trofoblásticas. A produção da subunidade a do hCG é particularmente comum no câncer pulmonar e no câncer das ilhotas pancreáticas. Nos homens, níveis elevados de hCG estimulam a esteroidogênese e a atividade da aromatase nas células testiculares de Leydig, resultando em aumento da produção de estrogênio e desenvolvimento de ginecomastia. A puberdade precoce em meninos ou a ginecomastia em homens devem levar à medição do hCG e à consideração acerca da presença de tumor testicular ou sobre outra fonte de produção ectópica de hCG. A maioria das mulheres é assintomática. A hCG é facilmente dosada. O tratamento deve ser direcionado para o câncer subjacente. • OSTEOMALACIA ONCOGÉNICA A osteomalacia oncogênica hipofosfatêmica, também denominada osteomalacia induzida por tumor (OIT), caracteriza-se por níveis de fósforo acentuadamente reduzidos e perda renal de fosfato, resultando em fraqueza muscular, dor óssea e osteomalacia. Os níveis séricos de cálcio e PTH são normais, e o de 1,25-diidroxivitamina D é baixo. A osteomalacia oncogênica geralmente é causada por tumores mesenquimais benignos, como os hemangiopericitomas, fibromas e tumores de células gigantes, frequentemente de extremidades ou da cabeça. Também foi descrita relacionada com sarcomas e nos pacientes com cânceres da próstata e do pulmão. A ressecção do tumor reverte o distúrbio, o que confirma sua base humoral. O fator fosfatúrico circulante é chamado de fosfatonina - fator que inibe a reabsorção tubular renal de fosfato e a conversão renal de 25-hidroxivitamina D em 1,25-diidroxivitamina D. A fosfatonina foi identificada como fator do crescimento de fibroblastos 23 (FGF23). Os níveis de FGF23 mostram-se aumentados em alguns pacientes com osteomalacia osteogênica. O distúrbio apresenta características bioquímicas semelhantes às presentes nas mutações inativadoras do gene PHEX, a causa da hipofosfatemia hereditária ligada ao X. O gene PHEX codifica uma protease que inativa o FGF23. O tratamento envolve remoção do tumor, se possível, e suplementação com fosfato e vitamina D. O tratamento com octreotida reduz a perda de fosfato em alguns pacientes com tumores que expressam o subtipo 2 do receptor de somatostatina. As cintilografias com octreotida também podem ser úteis para detectar esses tumores. SINDROMES HEMATOLÓGICAS O aumento nas contagens de granulócitos, plaquetas e eosinóftlos que ocorre na maioria dos pacientes com distúrbios mieloproliferativos é causado pela proliferação de elementos mieloides em razão da doença subjacente, não podendo ser considerado uma síndrome paraneoplásica. Nos pacientes com tumores sólidos, as síndromes paraneoplásicas hematológicas não estão tão bem caracterizadas quanto as síndromes endócrinas, uma vez que o(s) hormônio(s) ectópico(s) ou as citocinas responsáveis ainda não foram identificados na maioria desses tumores (Quadro 52.2). A extensão das síndromes paraneoplásicas acompanha a evolução do câncer. • ERITROCITOSE A produção ectópica de eritropoietina pelas células neoplásicas causa a maior parte da eritrocitose paraneoplásica. A eritropoietina produzida em local ectópico estimula a produção de eritrócitos na medula óssea e eleva o hematócrito. Outras linfocinas e hormônios produzidos pelas células neoplásicas podem estimular a liberação de eritropoietina, mas não foi comprovado que causem eritrocitose. A maioria dos pacientes com eritrocitose apresenta elevação do hematócrito (> 52% em homens;> 48% em mulheres) detectada durante um hemograma de rotina. Aproximadamente 3% dos pacientes com carcinoma renal, 10% daqueles com hepatoma e 15% dos pacientes com hemangioblastoma cerebelar apresentam eritrocitose. Na maioria dos casos, a eritrocitose é assintomática. Os pacientes com eritrocitose causada por carcinoma renal, hepatoma ou câncer do SNC devem ter a massa eritrocitária medida. Se a massa eritrocitária estiver elevada, deverá ser determinado o nível sérico de eritropoietina. Diz-se que os pacientes com câncer e níveis elevados de eritropoietina sem outra explicação para a eritrocitose (p. ex., hemoglobinopatia que cause aumento da afinidade pelo 0 2; Cap. 2) são portadores de síndrome paraneoplásica. TRATAMENTO Eritrocitose A ressecção bem-sucedida do câncer geralmente resolve a eritrocitose. Se o tumor não puder ser ressecado ou tratado de maneira eficaz com radioterapia ou quimioterapia, a flebotomia talvez p ossa controlar alguns sintomas relacionados com a eritrocitose. • GRANULOCITOSE Cerca de 30% dos pacientes com tumoressólidos apresentam granulocitose (contagem de granulócitos > 8.000/µ..L). Em cerca de metade dos pacientes com granulocitose e câncer, é possível identificar uma etiologia não paraneoplásica para a granulocitose (infecção, necrose tumoral, administração de glicocorticoides, etc.). Nos demais, são identificadas proteínas na urina e no soro que estimulam o crescimento de células da medula óssea. Os tumores e as linhagens de células tumorais de pacientes com cânceres de pulmão, ovário e bexiga produzem o fator estimulador de colônia de granulócitos (G-CSF), o fator estimulador de colônias de granulócitos-macrófagos (GM-CSF) e/ou interleucina 6 (IL-6). Entretanto, na maioria dos casos, a etiologia da granulocitose ainda não está bem caracterizada. Os pacientes com granulocitose são quase todos assintomáticos, e a contagem diferencial de leucócitos não mostra desvio para as formas imaturas de neutrófilos. Ocorre granulocitose em 40% dos pacientes com cânceres de pulmão e gastrintestinal, 20% das pacientes com câncer de mama, 30% dos pacientes com tumores cerebrais e câncer de ovário, 20% daqueles com doença de Hodgkin e 10% daqueles com carcinoma renal. Os pacientes com doença em estágio avançado são mais propensos à granulocitose que aqueles com doença incipiente. A granulocitose paraneoplásica não requer tratamento, desaparecendo quando o câncer subjacente é tratado. • TROMBOCITOSE Cerca de 35% dos pacientes com trombocitose (contagem plaquetária > 400.000 /µ..L) têm algum câncer subjacente. A IL-6, molécula candidata à etiologia da trombocitose paraneoplásica, estimula a produção de plaquetas in vitro e in vivo. Alguns pacientes com câncer e trombocitose apresentam níveis plasmáticos de IL-6 elevados. Outra molécula candidata é a trombopoietina, hormônio peptídico que estimula a proliferação de megacariócitos e a produção de plaquetas. Na maioria dos casos, a etiologia da trombocitose não pode ser determinada. Os pacientes com trombocitose são quase todos assintomáticos. Não se comprovou associação evidente entre trombocitose e trombose em pacientes com câncer. A contagem de plaquetas está aumentada em 40% dos pacientes com cânceres de pulmão e gastrintestinal, em 20% de mulheres com cânceres de mama, endométrio e ovário, bem como em 10% dos pacientes com linfoma. Os pacientes com trombocitose têm maior probabilidade de apresentar doença em estágio avançado e pior prognóstico do que aqueles sem trombocitose. A trombocitose paraneoplásica não requer tratamento. • EOSINOFILIA A eosinofilia está presente em cerca de 1 % dos pacientes com câncer. Os tumores e as linhagens celulares tumorais de pacientes com linfomas ou leucemias podem produzir IL-5, que estimula a produção de eosinóftlos. A ativação da transcrição de IL-5 em linfomas e leucemias pode envolver a translocação do braço longo do cromossomo 5, no qual residem os genes da IL-5 e outras citocinas. Os pacientes com eosinoftlia são assintomáticos. A eosinoftlia está presente em 10% dos pacientes com linfoma, 3% daqueles com câncer pulmonar e esporadicamente em pacientes com cânceres de colo do útero, gastrintestinal, renal e mamário. Os pacientes com contagens acentuadamente elevadas de eosinóftlos (> 5.000/µ../L) podem manifestar dispneia e sibilos. A radiografia de tórax pode revelar infiltrados pulmonares difusos em razão da infiltração e ativação de eosinófilos nos pulmões. TRATAMENTO Eosinofilia O tratamento definitivo é dirigido contra o câncer subjacente; os tumores devem ser ressecados ou tratados com radioterapia ou quimioterapia. Na maioria dos pacientes que apresentam dispneia relacionada com a eosinofilia os sintomas desaparecem com o uso de glicocorticoides administrados por via oral ou por meio de inalação. TROMBOFLEBITE A trombose venosa profunda e a embolia pulmonar são os distúrbios trombóticos mais comuns nos pacientes com câncer. A tromboflebite migratória ou recorrente pode ser a manifestação inicial do câncer. Quase 15% dos pacientes que apresentam trombose venosa profunda ou embolia pulmonar são diagnosticados com câncer (Cap. 21). A coexistência de trombose venosa periférica e carcinoma visceral, especialmente o câncer pancreático, é denominada síndrome de Trousseau. Patogenia Os pacientes com câncer estão predispostos a fenômenos tromboembólicos, uma vez que quase sempre estão acamados ou imobilizados, e os tumores podem obstruir ou reduzir o fluxo sanguíneo. Os cateteres intravenosos de longa permanência também predispõem à formação de coágulos. Além disso, coágulos também podem ser formados pela liberação de procoagulantes ou citocinas a partir de células tumorais ou células inflamatórias associadas, ou, ainda, pela adesividade ou agregação plaquetária. As moléculas específicas promotoras de tromboembolismo ainda não foram identificadas. Além de o câncer ser um possível causador de trombose secundária, é possível que haja associação entre doenças trombofílicas primárias e câncer. Por exemplo, a síndrome do anticorpo antifosfolipídio está associada a uma grande variedade de manifestações patológicas. Cerca de 20% dos pacientes com esta síndrome são portadores de câncer. Entre os pacientes com câncer e anticorpos antifosfolipídios, 35 a 45% desenvolvem trombose. Manifestações clínicas Os pacientes com câncer que sofrem trombose venosa profunda geralmente apresentam-se com edema ou dor na perna, e o exame físico revela hipersensibilidade, aumento da temperatura local e rubor. Os pacientes com embolia pulmonar exibem dispneia, dor torácica e síncope, e o exame físico mostra taquicardia, cianose e hipotensão. Cerca de 5% dos pacientes sem história de câncer e com diagnóstico de trombose venosa profunda ou embolia pulmonar terão câncer diagnosticado no prazo de 1 ano. Entre os cânceres mais comumente associados a episódios tromboembólicos, estão o pulmonar, o pancreático, o gastrintestinal, o mamário, o ovariano, o geniturinário, os linfomas e os tumores cerebrais. Os pacientes com câncer submetidos a procedimentos cirúrgicos com anestesia geral apresentam um risco de 20 a 30% de evoluírem com trombose venosa profunda. Diagnóstico Nos pacientes com câncer, o diagnóstico de trombose venosa profunda é feito por meio de pletismografia de impedância ou ultrassonografia com compressão bilateral das veias da perna. Os pacientes com segmento venoso incompressível apresentam trombose venosa profunda. Se a ultrassonografia com compressão for normal e houver forte suspeita clínica de trombose venosa profunda, a flebografia deve ser realizada para pesquisar se há defeito de enchimento da luz. A elevação do dimero D não é tão preditiva de trombose venosa profunda nos pacientes com câncer como naqueles não portadores desta doença; observam-se elevações em pacientes com mais de 65 anos de idade sem evidências concomitantes de trombose, provavelmente como consequência do aumento no depósito de trombina e do turnover relacionado com o envelhecimento. Os pacientes com sinais e sintomas sugestivos de embolia pulmonar devem ser avaliados com radiografia de tórax, eletrocardiograma, gasometria arterial e cintilografia de ventilação- perfusão. Os pacientes com desigualdade na perfusão segmentar apresentam êmbolo pulmonar. Os que apresentam achados duvidosos na ventilação-perfusão devem ser investigados para trombose venosa profunda nas pernas, conforme descrito anteriormente. Caso seja detectada trombose venosa profunda, esses pacientes devem receber tratamento com anticoagulante. Se não for detectada trombose venosa profunda, deve-se considerar a realização de angiografia pulmonar. Os pacientes sem diagnóstico de câncer e que se apresentem com episódio inicial de tromboflebite ou embolia pulmonar não necessitam de exames adicionais para a pesquisa de câncer, exceto a anamnese e o exame físico detalhados. Em razão dos váriospossíveis locais primários, os exames diagnósticos em pacientes assintomáticos representam um desperdício. Entretanto, se o coágulo for refratário ao tratamento padrão, se apresentar localização incomum, ou se a tromboflebite for migratória ou recorrente, estará indicada a investigação para detectar um câncer subjacente. TRATAMENTO Tromboflebite Os pacientes com câncer e diagnóstico de trombose venosa profunda ou embolia pulmonar devem ser tratados inicialmente com heparina não fracionada ou heparina de baixo peso molecular intravenosa no mínimo por 5 dias, devendo a varfarina ser instituída em 1 ou 2 dias. A dose de varfarina deve ser ajustada para que a razão normalizada internacional (INR) fique entre 2 e 3. Os pacientes com trombose venosa profunda proximal e contraindicação relativa para anticoagulação com heparina (metástases cerebrais hemorrágicas ou derrame pericárdico) devem ser considerados para a instalação de um filtro na veia cava inferior (filtro de Greenfield), com o objetivo de prevenir embolia pulmonar. A varfarina deve ser administrada por 3 a 6 meses. Uma alternativa é o uso de heparina de baixo peso molecular por 6 meses. Os pacientes com câncer submetidos a um procedimento cirúrgico de grande porte devem ser considerados para o tratamento profilático com heparina ou uso de botas pneumáticas. As pacientes com câncer de mama submetidas a quimioterapia e os pacientes com cateteres implantados devem ser considerados para profilaxia ( 1 mg/ dia de varfarina).
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