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Fadiga, perda de peso e anemia Prob 2 – “Acelerado...” DEFINIR AS PRINCIPAIS CAUSAS DE EMAGRECIMENTO INVOLUNTÁRIO COM AUMENTO DE APETITE • Câncer = perda de peso involuntária pode ser a única manifestação da doença em muitos casos. Os gastos energéticos e a anorexia parecem ser mediados por citocinas como TNF-a, IL-6 e por proteína C-Reativa. Outros fatores contribuem para o quadro: o próprio tratamento com quimioterápicos e radioterapia que por si induzem anorexia, náuseas e vômitos, sintomas da própria doença como disfagia, dor abdominal, empaxamento por hepatoesplenomegalia ou massas abdominais, distensão abdominal por ascite, má-absorção por invasão tumoral ou ressecção cirúrgica de segmentos intestinais. • Endocrinopatias = na insuficiência adrenal, a deficiência de glicocorticóides gera anorexia, náuseas e perda de peso; casos de hiperparatireoidismo que cursam com hipercalcemia levam a perda de peso por anorexia (porém, isso é mais freqüente em pacientes com câncer em que os níveis de cálcio tendem a ser maiores); pacientes idosos com hipertiroidismo podem, paradoxalmente, apresentar perda de apetite junto com a perda de peso; há casos de diabete com perda de apetite por gastroparesia diabética e por episódios de diarréia desencadeados por neuropatia autonômica intestinal; em gestantes pode ocorrer hiperêmese gravídica por aumento da secreção da gonadotropina coriônica humana. • Infecções crônicas = pacientes com quadros febris persistentes têm aumento da demanda metabólica e, conseqüentemente, do consumo de energia. Parasitoses intestinais ainda são freqüentes nas áreas mais carentes de nosso país. Endocardite bacteriana, principalmente em apresentações subagudas, infecções com curso prolongado como tuberculose e micoses sistêmicas tipicamente vêm com perda de peso. Pacientes com HIV têm perda de massa corpórea pela própria doença, perdas mais pronunciadas na vigência de infecções oportunistas e ainda há os efeitos colaterais da terapia anti-retroviral, competindo para facilitar a perda de peso • Doenças crônicas = nesse grupo incluímos diversas doenças. Pacientes com insuficiência cardíaca e doença pulmonar obstrutiva crônica avançadas têm quadros de caquexia pelo aumento metabólico associado a níveis aumentados de TNF-a e da atividade autonômica simpática. Doenças do conectivo como lúpus e artrite reumatóide cursam com anorexia e esclerodermia podendo evoluir com dismotilidade esofágica. A uremia em pacientes renais crônicos leva a anorexia. Quadros neurológicos como seqüelas pós-AVC dificultando a ingesta ou a busca por alimento, quadros de parkinsonismo que cursam com disfagia, alteração da salivação e quadros demenciais como Alzheimer também são causas importantes de perda de peso com diminuição da ingesta. • Doenças gastrointestinais = sintomas associados a diversas doenças gastrintestinais podem se relacionar a queda na ingesta, como disfagia, empaxamento, náuseas e vômitos, dor abdominal. Doenças inflamatórias intestinais podem cursar com dor abdominal, gerando desconforto e perdas por má-absorção. Doença péptica cursa muitas vezes com dores importantes que levam a diminuição na ingesta. Disfagia pode ter origem em tumores de cavidade oral, neoplasia esofágica ou por dismotilidade secundária a megaesôfago chagásico. Náuseas e vômitos são comuns com doença calculosa biliar crônica, úlcera péptica e neoplasias compressivas de estômago, pâncreas ou vias biliares. Gastrite atrófica é outra causa de perda de apetite. Pacientes com ressecção de segmentos do trato gastrintestinal também tendem a perder peso. • Doenças psiquiátricas = perda de mais de 5% do peso em um mês sem outra explicação é um dos critérios para diagnóstico de depressão, pacientes em mania podem simplesmente esquecer de comer pela hiperatividade, quadros psicóticos, esquizofrenia e catatonia podem gerar perda de peso por falta de procura por alimento. Há quadros de caquexia desencadeados por parada no uso crônico de neurolépticos. • Drogas e medicações = etilistas crônicos diminuem a ingesta de alimento seja pela carga calórica fornecida pelo álcool seja por condições psiquiátricas e gastrintestinais associadas. https://www.medicinanet.com.br/pesquisas/insuficiencia_cardiaca.htm https://www.medicinanet.com.br/pesquisas/insuficiencia_cardiaca.htm https://www.medicinanet.com.br/pesquisas/doenca_pulmonar_obstrutiva_cronica.htm https://www.medicinanet.com.br/pesquisas/doenca_pulmonar_obstrutiva_cronica.htm Fumantes tendem a ter baixo peso, tanto por inibição do apetite quanto por perda no prazer de comer por inibição das fibras olfatórias pela fumaça. Usuários de opióides também têm seus centros do apetite inibidos, bem como diminuição da motilidade intestinal e das secreções gástrica, biliar e pancreática. Anfetamina e Cocaína são anorexígenos por ação no centro da saciedade. Inibidores da recaptação de serotonina como fluoxetina e sertralina, biguanidas (metformin), digoxina, levodopa, antiinflamatórios não-hormonais, quimioterápicos e anti-retrovirais são outros exemplos de medicamentos ligados à perda de peso. CONHECER AS ENDOCRINOPATIAS QUE LEVAM Á PERDA DE PESO • Insuficiência adrenal • Hiperparatireoidismo • Idosos com hipertireoidismo • Diabetes FISIOLOGIA DA TIREOIDE A tireoide é um órgão folicular - seus folículos possuem uma área central preenchida por coloide e são revestidos por células foliculares que delimitam esse conteúdo coloidal. Os vasos sanguíneos de menor calibre que penetram no parênquima da tireoide passam por entre os folículos. As células foliculares produzem dois hormônios: tiroxina, também chamada de tetraiodotironina (T4), pois contém quatro átomos de iodo, e triiodotironina (T3), que contém três átomos de iodo. T3 e T4 juntas também são chamadas de hormônios da tireoide. Entre os folículos, podem ser encontradas algumas células chamadas de células parafoliculares ou células C. Elas produzem o hormônio calcitonina (CT), que ajuda a regular a homeostasia do cálcio. A glândula tireoide é a única glândula endócrina que armazena seu produto secretório em grandes quantidades – normalmente o suficiente para cerca de 100 dias. SINTESE, ARMAZENAMENTO E LIBERAÇÃO A síntese e a secreção de T3 e T4 ocorrem da seguinte forma: 1. Retenção de iodeto. As células foliculares da tireoide retêm íons iodeto (I–), transportando-os ativamente do sangue para o citosol. Por conta disso, em geral, a glândula tireoide contém a maioria do iodeto corporal. 2. Síntese de tireoglobulina. Ao mesmo tempo que retêm I–, as células foliculares também sintetizam tireoglobulina (TGB), uma grande glicoproteína produzida no retículo endoplasmático rugoso, modificada no complexo de Golgi e armazenada em vesículas secretoras. As vesículas sofrem exocitose, o que libera TGB para o lúmen do folículo. https://www.medicinanet.com.br/pesquisas/anfetamina.htm https://www.medicinanet.com.br/pesquisas/fluoxetina.htm https://www.medicinanet.com.br/pesquisas/sertralina.htm 3. Oxidação de iodeto. Parte dos aminoácidos na TGB consiste em tirosinas que se tornarão iodadas. Entretanto, íons iodeto com carga elétrica negativa não conseguem se ligar à tirosina até que sofram oxidação (remoção de elétrons) para iodeto: 2I- → I². Na medida em que os íons iodeto são oxidados, eles atravessam a membrana para o lúmen do folículo. 4. Iodação da tirosina. Conforme moléculas de iodo (I2) se formam, elas reagem com as tirosinas integrantes das moléculas de tireoglobulina. A ligação de um átomo de iodo produz monoiodotirosina (T1) e a de dois produz diiodotirosina (T2). A TGB com átomos de iodo fixados é um material viscoso que se acumula e é armazenado no lúmen do folículo da tireoide, chamado de coloide. 5. Acoplamento deT1 e T2. Durante a última etapa da síntese dos hormônios da tireoide, duas moléculas de T2 se juntam para formar T4 ou uma de T1 com uma de T2 se unem para formar T3. 6. Pinocitose e digestão de coloide. Gotículas de coloide penetram de novo nas células foliculares por pinocitose e se juntam aos lisossomos. Enzimas digestivas nos lisossomos degradam a TGB, separando moléculas de T3 e T4. 7. Secreção de hormônios da tireoide. Como são lipossolúveis, T3 e T4 se difundem através da membrana plasmática para o líquido intersticial e, em seguida, para o sangue. Em geral, T4 é secretada em maior quantidade que T3, mas T3 é muitas vezes mais potente. Além disso, depois que a T4 entra no corpo celular, a maioria dela é convertida a T3 por remoção de um iodo. a. O T3 é o hormônio de fato biologicamente ativo, mas a maior parte da secreção tireoidiana é composta de T4. A tireoide libera mais tiroxina pois, uma vez lançado no organismo, esse hormônio só será captado e convertido em T3 a depender da necessidade metabólica momentânea de determinado tecido. Assim, se o tecido muscular está mais ativo e precisa de mais T3 que o tecido nervoso, por exemplo, a captação de T4 será maior pelas células musculares, havendo conversão de T4 em T3 em seu interior. A liberação de T3 no organismo em maior quantidade que T4 faria com que todos os tecidos que entrassem em contato com o hormônio fossem estimulados, alterando a homeostase do metabolismo de uma forma geral. 8. Transporte no sangue. Mais de 99% de T3 e T4 se combinam a proteínas transportadoras no sangue, principalmente à globulina transportadora de tiroxina (TBG), mas tem também a Transtirretina (TTR), e albumina. AÇÃO DOS HORMONIOS Os efeitos de T3 e T4 no organismo são múltiplos, mas, de forma geral, aumentam a taxa metabólica basal dos tecidos. Isso significa que o consumo de oxigênio e nutrientes é mais elevado (o que leva a efeitos respiratórios, cardiovasculares e metabólicos associados), a produção de calor aumenta, o desenvolvimento dos tecidos é fomentado (logo, tecidos relacionados ao crescimento como ossos, cartilagens e colágeno são estimulados), dentre outros. A calcitonina é um hormônio produzido pelas células parafoliculares (também chamadas de “células C”) da tireoide que tem como função principal a formação óssea (deposição de cálcio no osso). Como ela atua removendo cálcio do sangue para mineralizar os ossos, pode-se dizer que ela atua reduzindo a calcemia (hormônio hipocalcemiante) - por isso, fica claro entender que um dos estímulos mais fortes para sua secreção são os altos níveis de cálcio sérico. Sua atuação também envolve o bloqueio da atuação do paratormônio (hormônio que aumenta a reabsorção de cálcio, aumentando sua concentração no sangue) e dos osteoclastos. 1. Os hormônios da tireoide aumentam a taxa metabólica basal (TMB), que consiste no consumo de oxigênio em condições basais ou padrão (acordado, em repouso e jejum) por meio da estimulação do uso de oxigênio celular na produção de ATP. Quando a taxa metabólica basal aumenta, o metabolismo celular dos carboidratos, lipídios e proteínas se torna mais intenso. 2. Outro efeito importante dos hormônios da tireoide é o de estimular a síntese de bombas adicionais de sódio e potássio (Na+K+ATPase), o que utiliza grandes quantidades de ATP para continuamente ejetar íons sódio (Na+) do citosol no líquido extracelular e íons potássio (K+) do líquido extracelular no citosol. Com a produção e a utilização de mais ATP pelas células, mais calor é liberado e a temperatura corporal sobe. Esse fenômeno é chamado de efeito calorigênico. Dessa maneira, os hormônios da tireoide têm participação importante na manutenção da temperatura corporal normal. Mamíferos normais são capazes de sobreviver a temperaturas muito baixas, mas aqueles cuja glândula tireoide foi removida não conseguem. 3. Na regulação do metabolismo, os hormônios da tireoide estimulam a síntese de proteína e aumentam o uso de glicose e ácidos graxos para a produção de ATP. Além disso, intensificam a lipólise e a excreção de colesterol, reduzindo, desse modo, o nível de colesterol sanguíneo (pois aumenta o receptor de LDL no fígado). 4. Os hormônios da tireoide intensificam algumas ações das catecolaminas (norepinefrina e epinefrina), pois promovem a suprarregulação dos receptores beta (β). Por essa razão, os sinais/sintomas do hipertireoidismo incluem frequência cardíaca aumentada, batimentos cardíacos mais fortes e pressão arterial elevada. 5. ↑ frequência respiratória, ↑ ventilação por minuto e ↑ eritropoetina renal 6. Junto com o hormônio do crescimento e com a insulina, os hormônios da tireoide aceleram o crescimento corporal, sobretudo o crescimento dos sistemas nervoso e esquelético. A deficiência de hormônios da tireoide durante o desenvolvimento fetal ou infância causa grave retardo mental e restrição do crescimento ósseo. CONTROLE DA SECREÇÃO DE HORMONIO DA TIREOIDE O hormônio liberador de tireotrofina (TRH) do hipotálamo e o hormônio tireoestimulante (TSH) da adenohipófise estimulam a síntese e a liberação dos hormônios da tireoide: • Níveis reduzidos de T3 e T4 ou taxa metabólica baixa estimulam o hipotálamo a secretar TRH. • O TRH entra nas veias portohipofisárias e flui para a adenohipófise, onde estimula os tireotrofos a secretar TSH. • O TSH estimula praticamente todos os aspectos da atividade celular dos folículos da tireoide, inclusive captação de iodeto, síntese e secreção de hormônio e crescimento das células foliculares. • As células foliculares da tireoide liberam T3 e T4 no sangue até que a taxa metabólica volte ao normal. • O nível elevado de T3 inibe a liberação de TRH e TSH (inibição por feedback negativo). • Condições que aumentam a demanda de ATP – ambiente frio, hipoglicemia, altitude elevada e gravidez – também intensificam a secreção dos hormônios da tireoide DIFERENCIAR TIREOTOXICOSE E HIPERTIREOIDISMO Embora, corretamente, ambos os termos (tireotoxicose e hipertireoidismo) sejam usados como sinônimos para descrever a síndrome de excesso de hormônios tireoidianos, cumpre esclarecer que tal prática não corresponde ao fenômeno fisiopatológico. Hipertireoidismo refere-se a hiperatividade tireoidiana, enquanto tireotoxicose refere- se a síndrome causada por excesso de hormônio tireoidiano. Por razões didáticas, julgamos conveniente dividir a tireotoxicose em decorrente de hipertireoidismo e não-associada ao hipertireoidismo. TIREOTOXICOSE A tireotoxicose é qualquer estado clínico resultante do excesso de hormônios da tireoide nos tecidos. Embora na maior parte das vezes seja causada por hiperfunção tireoidiana (hipertireoidismo), encontramos síndromes de tireotoxicose associadas à função normal ou diminuída da tireoide, como ocorre na tireotoxicose factícia (causada pelo uso abusivo de hormônio tireoidiano exógeno), nas tireoidites (em que a lesão tecidual libera os hormônios tireoidianos previamente estocados), na produção ectópica de hormônios da tireoide, exemplo de metástase funcionante de carcinoma folicular; inflamação subaguda da tireóide, em que ocorre destruição da glândula com liberação de hormônios pré-formados; bem como pode ser secundária a drogas como o iodo e a amiodarona. Sinais oculares como retração palpebral, olhar fixo ou assustado e sinal de lid-lag são decorrentes da hiperatividade adrenérgica e podem ser observados em qualquer quadro de tireotoxicose. São também achados frequentes: pele quente e úmida, taquicardia sinusal, hipertensão arterial sistólica, fibrilação atrial (mais em idosos), tremor fino de extremidades, fraqueza muscular proximal, hiperreflexia, arritmia, ICC, angina e bócio. HIPERTIREOIDISMO Hipertireoidismo é definidocomo hiperfunção da glândula tireoide, ou seja, um aumento na produção e liberação de hormônios tireoidianos (levotiroxina e triiodotironina). O hipertireoidismo leva à tireotoxicose. A hiperfunção tireoidiana manifesta-se, principalmente, como Doença de Graves (em cerca de 80% dos casos), tumor trofoblástico (mola hidatiforme, coriocarcinoma) e adenoma hipofisário produtor de TSH. A ocorrência de hipertireoidismo é 20 vezes mais frequente em mulheres do que em homens. As manifestações cardíacas (arritmia, ICC, angina) podem predominar nos idosos com tireotoxicose. Bócio pode ser encontrado na tireotoxicose por amiodarona, mas é incomum na tireotoxicose factícia. De modo geral, é observada uma correlação entre os níveis hormonais e a apresentação clínica, sendo que os sinais e sintomas secundários ao estímulo adrenérgico, como taquicardia e ansiedade, são mais evidentes em pacientes jovens e com bócios volumosos. São manifestações clínicas comumente encontradas no hipertireoidismo os seguintes sinais e sintomas: nervosismo, tremor, bócio, sudorese excessiva, intolerância ao calor, pele quente e úmida, palpitação e taquicardia, fadiga, perda de peso, dispneia, aumento do apetite, queixas oculares, edema de membros inferiores. COMPREENDER A EPIDEMIOLOGIA, ETIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLINICO, DIAGNOSTICO (LABORATORIAL E IMAGEM), DIAGNOSTICO DIFERENCIAL E TRATAMENTO FARMACOLÓGICO (MECANISMO DE AÇÃO) E NÃO FARMACOLÓGICO (IODOTERAPIA E CIRURGIA) DO HIPERTIREOIDISMO ETIOLOGIAS As principais causas de hipertireoidismo/tireotoxicose são: • doença de Graves • bócio uni ou multinodular tóxico • liberação excessiva de T3 e T4 (por destruição dos folículos) como nas tireoidites subagudas • ingestão excessiva de T3 ou T4 ou de iodo ou amiodarona. As causas menos frequentes são: • produção ectópica de T3 e T4 (struma ovarii ou metástase funcionante de carcinoma folicular) • carcinoma folicular tóxico • produção excessiva de TSH (tumor hipofisário – tireotropinoma) • resistência hipofisária a T3/T4 • estimulação anormal da tireoide pela gonadotrofina coriônica humana (mola hidatiforme, coriocarcinoma). DOENÇA DE GRAVES (BOCIO TOXICO DIFUSO) A doença de Graves é uma síndrome caracterizada por hipertireoidismo, oftalmopatia, dermopatia localizada (mixedema pré-tibial) e, raramente, acropaquia (deformidades em dedos em banqueta de tambor). Em geral, o bócio e o excesso de hormônio tireoidiano são os aspectos predominantes. Usualmente, a doença de Graves inclui duas categorias principais de manifestações clínicas, as específicas da doença de Graves causadas pela auto- imunidade (exoftalmo, estimulação e aumento da tireóide e alterações dermatológicas) e as provocadas pelo hipertireoidismo. Epidemiologia A doença de Graves predomina cerca de 10 vezes mais em mulheres do que em homens, talvez, em parte, pelos efeitos moduladores dos estrógenos no sistema imunitário. Sugere- se que certos eventos adversos (como perda de um ente querido, divórcio, perda de emprego) podem desencadear a doença. O tabagismo tem sido bastante relacionado à ocorrência de oftalmopatia e ao hipertireoidismo5,6. Em ambientes iodo- deficientes, a exposição ao iodo suplementar pode precipitara doença de Graves em alguns indivíduos, mediante o fenômeno denominado iodo-Basedow. A doença de Graves representa 70 a 80% dos portadores de hipertireoidismo. A incidência anual em mulheres é de 0,5 a cada 1.000, com maior risco de ocorrência entre 40 e 60 anos; é 8 a 10 vezes menos freqüente em homens e incomum em crianças. A prevalência de doença de Graves é semelhante em asiáticos e brancos, e menor em negros. Patogênese O principal fator causal de hipertireoidismo é de natureza auto-imune causada pela produção de imunoglobulinas ou anticorpos estimuladores da tireóide (TSI), dirigidos diretamente ao receptor de TSH (TSHR) nos tireócitos. A produção das TSI é dependente das células T e vários epítopos no domínio extracelular do TSHR são por elas reconhecidos. Essas TSI mimetizam a ação do TSH ativando a proteína G (G alfa-s) acoplada ao receptor, o sistema adenilciclase e, conseqüentemente, a produção de AMP cíclico, provocando o excesso de produção de hormônio tireoidiano, hiperplasia e hipertrofia dos folículos tireóideos. Ao contrário do que se observa com o TSH, o efeito causado por esses auto-anticorpos não é bloqueado por concentrações elevadas de hormônio tireoidiano, levando à hiperprodução hormonal crônica. Na fase ativa da doença, concentrações elevadas de TRAb podem ser observadas ao redor de 99% dos pacientes afetados, sendo esse o marcador patognomônico da doença de Graves. Não está determinado se a doença de Graves é iniciada por clones anormais de linfócitos T auxiliares auto-reativos (produzidos por ausência genética clonal de linfócitos T supressores) ou se pela apresentação de antígeno anormal às células foliculares tireoidianas, independentemente ou em resposta a citocinas (interleucina-1, interferon-gama e fator alfa de necrose tumoral) liberadas por células T ou pelas células dendríticas ou macrófagos infiltrados na glândula. • Anticorpos Antitireoperoxidase (anti-TPO) • Anticorpos Antitireoglobulina (Anti-Tg) • Anticorpos Anti-receptores de TSH (TRAb) Manifestações extra tireóideas A oftalmopatia clinicamente evidente ocorre em cerca de 50% dos pacientes com doença de Graves. *olhar fisiopatologia da oftalmopatia Dermopatia ou mixedema pré-tibial tem como localização a área pré-tibial e o dorso dos pés. A deposição de glicosaminoglicanos na derme dessa região pode promover prurido e, às vezes, dor. A pele é infiltrada pelos linfócitos T, onde os fibroblastos possuem TSHR; esses linfócitos liberam citocinas que estimulam a produção do ácido hialurônico (ácido hialurônico). O aumento tecidual de ácido hialurônico causa edema e raramente é observado linfedema. A lesão é caracterizada pelo espessamento da pele com pápulas ou placas elevadas hiperpigmentadas violáceas. Os pacientes com dermopatia tireóidea exibem níveis elevados de TRAb por motivo ainda não esclarecido. Na doença de Graves existe associação de baqueteamento e osteoartropatia dos dedos das mãos e dos pés, em 2% dos casos, esses dois fenômenos constituem a acropaquia da doença de Graves10. As lesões afetam predominantemente a porção distal dos ossos, e a reação dos tecidos moles é firme, indolor e sem rubor e calor locais. A dermopatia tireóidea é sugestiva de doença tireóidea auto-imune severa, enquanto a acropaquia sugere forma ainda mais séria. Quadro clinico As manifestações clínicas da doença de Graves podem ser divididas entre as usuais a qualquer forma de hipertireoidismo e as específicas da doença de Graves (Tabela II). A intensidade, a duração da doença de Graves e a idade do paciente determinam a apresentação do distúrbio. Em indivíduos mais jovens (20-50 anos), manifestações clínicas como nervosismo, fatigabilidade fácil, palpitações, hipercinesia, diarréia, intolerância ao calor, sudorese e perda de peso estão presentes em mais da metade dos pacientes com a doença, sinais de comprometimento exoftálmico (proptose, retração palpebral ou exoftalmopatia podem estar presente). Perda de peso é um achado frequente, no entanto alguns pacientes, especialmente os mais jovens, podem relatar ganho ponderal devido ao aumento do apetite. Em pacientes pré-adolescentes existe crescimento linear rápido com aceleração da maturação óssea. Com o aumento da idade, perda de peso e de apetite está menos exacerbada, enquanto a irritabilidade e a intolerância ao calor ficam menos freqüentes, a miopatia é bastante severa, com perda de massa muscular, impedindo a deambulação. A fibrilação atrial é rara em pacientes commenos de 50 anos, mas ocorre em cerca de 20% dos idosos. Em torno de 90% dos pacientes com idade inferior a 50 anos exibem bócio difuso, de consistência firme e elástica, com tamanho variável. A presença de comorbidades também pode afetar a queixa principal. O termo “tireotoxicose apática” é utilizado para descrever o paciente idoso assintomático, exceto pela presença de fraqueza e astenia. A piora da labilidade emocional em portador de doença psiquiátrica preexistente ou piora da angina ou insuficiência cardíaca em indivíduo com doença coronária pode ser a pista para a ocorrência de hipertireoidismo sobreposto. O hipertireoidismo pode piorar a intolerância à glicose em paciente diabético insulino-dependente, por aumentar a necessidade de insulina, e, raramente, pode provocar hipoglicemia. O hipertireoidismo pode precipitar crise adrenal em indivíduos predispostos. A ocorrência de outras doenças autoimunes no paciente ou em familiares pode sugerir o diagnóstico. O diagnóstico de paralisia periódica hipocalêmica (especialmente em tireotoxicose induzida por amiodarona) indica a necessidade de excluir a existência de doença de Graves precipitante. Diagnostico laboratorial • O diagnóstico de hipertireoidismo de Graves pode ser estabelecido com relativa segurança em pacientes com quadro moderado ou grave de tireotoxicose, oftalmopatia de início recente e bócio difuso, não sendo necessários exames adicionais para investigação etiológica. • A suspeita clínica de tireotoxicose deve ser confirmada por meio da determinação concomitante dos níveis séricos do TSH e hormônios tireoidianos (B). A maioria dos pacientes com tireotoxicose apresenta TSH baixo ou indetectável. Níveis elevados de T4L e/ou T3 confirmam o diagnóstico de tireotoxicose. O hipertireoidismo da doença de Graves pode ser clínico e laboratorialmente estabelecido, bem como apresentar-se de forma subclínica. Todos os pacientes apresentam níveis de TSH diminuídos ou suprimidos, associados a níveis elevados de T4 livre. A medida do TSH por ensaio sensível é um excelente parâmetro de triagem do hipertireoidismo, pois pequenos incrementos na produção de hormônio tireoidiano suprimem os níveis circulantes de TSH. Se o TSH é baixo e o T4 livre encontra-se normal, recomenda-se medir o T3 livre, pois 10% dos pacientes podem apresentar elevação dos níveis de T3 total e livre, concentração sérica normal de T4 livre seguido de nível de TSH suprimido, condição essa chamada de “tireotoxicose por T3”. • A combinação de um T4L elevado e um TSH suprimido completa o diagnóstico de hipertireoidismo. • Cerca de 5% dos pacientes apresentam um T4L normal e níveis séricos elevados de T3, uma situação denominada tireotoxicose por T3 • Além disso, uma doença de Graves muito leve pode ocasionar níveis séricos de T4L e T3 dentro da faixa de normalidade, porém são elevados o suficiente para ocasionarem supressão dos níveis de TSH, uma situação clínica denominada hipertireoidismo subclinico. o Indicações para tratamento do hipertireoidismo subclínico: ▪ Idosos > 65 anos ▪ Mulheres pos menopausa ▪ TSH muito baixo < 0,01 • Caso o T4L e o TSH encontrem-se elevados e a captação de IR também esteja elevada, deve-se considerar um tumor hipofisário secretor de TSH ou síndromes de resistência hipofisária ou generalizada. • Pacientes gravemente enfermos podem apresentar níveis séricos de TSH baixos e também níveis baixos de T4L sérico e de T3 (a denominada síndrome do eutireóideo doente). • Na condição denominada hipertiroxinemia disalbuminêmica familiar, uma albumina anormal encontra-se presente no soro que se liga preferencialmente ao T4, e não ao T3. Isso resulta em uma elevação do T4 e do T4IL e, frequentemente, do T4L quando medido pelos ensaios clínicos de T4 livre análogos, porém o T4L geralmente está normal na diálise de equilíbrio, assim como o T3 e o TSH séricos. É importante diferenciar este estado eutireoide do hipertireoidismo verdadeiro. Além da ausência de achados clínicos de hipertireoidismo, níveis séricos normais de T3 e TSH excluem a presença de hipertireoidismo • Caso os sinais oculares estejam presentes, o diagnóstico de doença de Graves pode ser feito sem a necessidade de outros exames. • Caso não haja sinais oculares e o paciente seja hipertireóideo com ou sem a presença de bócio, deve ser realizado um teste de captação de IR. Uma captação elevada é típica da doença de Graves. Em contrapartida, uma captação baixa é vista em pacientes com várias formas de hipertireoidismo de resolução espontânea, como na tireoidite subaguda ou na tireoidite silenciosa, também denominada tireoidite pós-parto (ver discussão adiante). Uma baixa captação de iodo radiativo também é encontrada em pacientes saturados de iodo ou que estejam recebendo terapia com T4 - ou raramente em associação com struma ovarii, no qual o tecido tireóideo ectópico encontra-se localizado no interior de um teratoma ovariano. • Os autoanticorpos tireóideos - contra a tireoglobulina e o TPO – geralmente encontram-se presentes no soro tanto na doença de Graves como na tireoidite silenciosa, uma variação da tireoidite de Hashimoto, porém o TSAb é relativamente específico para a doença de Graves. Isso pode consistir em um teste diagnóstico útil no paciente que se apresenta com exoftalmia uni ou bilateral sem sinais óbvios ou manifestações laboratoriais de doença de Graves (denominada doença de Graves eutireóidea). A cintilografia e a captação de 24 horas com I131 não são importantes para o diagnóstico da doença de Graves e devem ser solicitadas apenas quando se planeja o tratamento com iodo radioativo, e quando se suspeita de outras causas de tireotoxicose, como nódulo autônomo ou ingestão de hormônios tireoidianos. • O iodo é um elemento fundamental para síntese dos hormônios tireoidianos, sendo a captação de iodo um excelente indicador da função tireoidiana. A taxa de captação de iodo pela tireoide pode ser avaliada utilizando- -se iodo radioativo (131I ou 123I) e permite diferenciar as causas de tireotoxicose associadas ao aumento da captação (hipertireoidismo) daquelas com captação baixa ou ausente (Tabela 2) (11) (B). A captação de iodo é geralmente elevada em pacientes com DG ou bócio multinodular tóxico (BMNT), estando praticamente ausente nas tireoidites ou na tireotoxicose factícia. A captação também diminui em indivíduos que usaram contrastes radiológicos iodados nos 30 a 60 dias prévios ou que possuem dieta muito rica em iodo (alimentos como algas marinhas). No entanto, de modo interessante, a captação de iodo pode estar presente em usuários de amiodarona, apesar de a droga ser altamente iodada. A realização da medida para TRAb também tem importância em situações especiais, como avaliar mulheres grávidas com história passada ou presente de doença de Graves, avaliar o risco de disfunção tireóidea fetal ou neonatal ou investigar a etiologia do hipertireoidismo, quando o diagnóstico não é clinicamente óbvio. Em pacientes cuja cintilografia revela captação irregular com áreas autônomas (“quentes”) e áreas “frias”, a presença de títulos elevados de TRAb pode ser a única evidência de coexistência de doença de Graves (em um bócio multinodular preexistente) em oposição a um bócio multinodular tóxico, especialmente, em pacientes idosos. Diagnóstico por imagem Os exames de TC e RM das órbitas revelam aumento dos músculos extraoculares na maioria dos pacientes com doença de Graves, mesmo quando não existe evidência clínica de oftalmopatia. Em pacientes com oftalmopatia clínica, o aumento dos músculos orbitais pode se acentuar. Diagnostico diferencial O diagnóstico da doença de Graves é simples em paciente com tireotoxicose bioquimicamente confirmada, bóciodifuso à palpação, oftalmopatia e, com frequência, história pessoal ou familiar de distúrbios autoimunes. Para pacientes com tireotoxicose que carecem dessas características, o diagnóstico costuma ser estabelecido por cintilografia com radionuclídeos ( 99mTc , 123I , 131I) e captação da tireoide, que diferencia a captação difusa e alta da doença de Graves da tireoidite destrutiva, tecido tireoidiano ectópico e tireotoxicose factícia. A cintilografia constitui o exame complementar preferido; todavia, pode-se utilizar a determinação do TRAb para avaliar a atividade autoimune. No hipertireoidismo secundário devido a tumor hipofisário secretor de TSH, existe também um bócio difuso. A presença de um nível de TSH não suprimido e o achado de tumor hipofisário na TC ou na ressonância magnética (RM) sugerem esse diagnóstico. As manifestações clínicas da tireotoxicose podem simular certos aspectos de outros distúrbios, incluindo ataques de pânico, mania, feocromocitoma e perda de peso associada à neoplasia maligna. O diagnóstico de tireotoxicose pode ser facilmente excluído se os níveis de TSH e de T4 e T3 livres estiverem normais. Um TSH normal exclui também a doença de Graves como causa do bócio difuso. Tratamento O excesso de hormônios tireoidianos secundário ao hipertireoidismo de Graves pode ser controlado por meio da inibição da síntese hormonal, utilizando-se drogas antitireoidianas (DAT), destruição de tecido tireoidiano com iodo radioativo (131I) ou tireoidectomia total (TT). Os três tratamentos apresentam vantagens e desvantagens, sendo que os dois últimos são considerados tratamentos definitivos. Agentes antitireoideos (DAT) • As tionamidas metimazol (MMI) e propiltiuracil (PTU) e carbimazol são os agentes de escolha para o tratamento da doença de Graves e outras formas de tireotoxicose. • Metimazol age inibindo a organificação do iodeto na glândula tireóide e o propiltiuracil inibe a captação do iodeto pela glândula. Ambas agem inibindo a síntese de hormônio tireoidiano e o propiltiuracil, em concentrações elevadas, bloqueia a enzima 5’-desiodase, que converte T4 a T3 perifericamente; no entanto, devido aos efeitos hepatotóxicos do PTU e à redução da eficácia do 131I em possível terapia no futuro (vide abaixo), a utilização dessa droga como primeira opção terapêutica deve ser restrita aos casos de hipertireoidismo grave, crise tireotóxica e no primeiro trimestre da gestação. Esse efeito pode ser vantajoso em pacientes muito tóxicos, porém a meia-vida mais longa do metimazol permite utilizar doses menores favorecendo a aderência e conseqüente melhora da eficácia do tratamento. • Os agentes antitireóideos têm efeitos imunosupressivos desejáveis no tratamento da doença de Graves, promovendo diminuição dos títulos de TRAb e de moléculas imunologicamente importantes (moléculas de adesão, receptores da IL-2 e IL-6, HLA classe II entre outras), bem como diminuição da infiltração linfocítica tireoidiana, porém sua ação molecular ainda não está bem esclarecida. • Os aspectos considerados favoráveis ao uso de agente antitireoidiano são: sexo feminino, idade de 20 a 40 anos, títulos elevados de anti-TPO, bócio pequeno, hipertireoidismo em grau moderado e TRAb < 30 U/L. • Os desfavoráveis são: presença de oftalmopatia, bócio volumoso e paciente jovem. • O propiltiuracil é, habitualmente, introduzido com dose de 100 a 150 mg a cada 8 horas, e a dose reduzida a 50 mg, duas ou três vezes ao dia, quando é atingido o eutireoidismo. O metimazol é, usualmente, iniciado com 5 a 15 mg, duas vezes ao dia, podendo atingir 30 mg, duas vezes ao dia, em pacientes muito tóxicos; a dose de manutenção varia entre 5 e 10 mg/dia. • Recomenda-se o uso do agente antitireoidiano por 12 a 18 meses, antes de determinar se houve remissão imunológica. • O monitoramento da função tireoidiana deve ser feito com medida de T4L e T3 total após aproximadamente quatro a seis semanas do início do tratamento e depois em intervalos de quatro a oito semanas até que o eutireoidismo seja alcançado com a menor dose do medicamento. Nesse momento, a avaliação clínica e laboratorial pode ser realizada a cada dois a três meses. O TSH pode permanecer suprimido por meses após o início do tratamento e não deve ser utilizado para monitorização na fase inicial • Após 12 a 24 meses de tratamento, a DAT deve ser descontinuada. A taxa de remissão da DG varia de 30% a 50% (35,36) (B,A). Pacientes com doença de longa duração, bócio volumoso e níveis elevados de T3 (> 500 ng/dL) têm maior probabilidade de recidiva (33,34,37) (B). Como a maioria das recidivas ocorre nos primeiros meses após a suspensão da DAT, é recomendado que a função tireoidiana seja monitorada mensalmente nos primeiros seis meses, depois a cada três meses e, após o primeiro ano de remissão, o paciente deve ser monitorado anualmente por tempo indeterminado. • Em até 13% dos usuários, os agentes antitireoidianos podem provocar efeitos colaterais como prurido, reações urticariformes, artralgias, febre, aftas, náusea e icterícia, que desaparecem com a suspensão do agente. Em 0,2 a 0,5% dos usuários ocorrem reações graves como agranulocitose, anemia aplástica, vasculite e hepatotoxicidade, especialmente com o propiltiura cil31,32. Pode haver reação cruzada entre os agentes antitireoidianos em cerca de 50% dos indivíduos. Radioiodo • O tratamento da tireotoxicose com radioiodo é considerado um recurso seguro, eficiente e com excelente relação custo-benefício produzindo eutireoidismo em seis a oito semanas. • O I131 é indicado como primeira escolha terapêutica nos casos de pacientes com contraindicações para o uso de DAT e/ou cirurgia, ou recidiva do hipertireoidismo após tratamento com DAT. Também deve ser considerado como terapia inicial em casos em que o controle definitivo e rápido do hipertireoidismo é desejado, como em pacientes cardiopatas e idosos, e mulheres em idade fértil que planejam gravidez no futuro, evitando os riscos do hipertireoidismo para a gestação e puerpério. O tratamento é contraindicado na gestação, lactação, na presença de lesão suspeita ou confirmada de câncer de tireoide, e em mulheres com planos de gestação em período inferior a quatro a seis meses. Deve ser solicitado exame para exclusão de gravidez a todas as mulheres em idade fértil, antes da administração da dose. • A administração do I131 é realizada por via oral e este pode ser dissolvido em água ou em cápsula, sendo prontamente absorvido e organificado pelas células foliculares da tireoide. A radiação induzida pelo 131I provoca uma resposta inflamatória seguida de destruição local e fibrose progressiva, contribuindo para a redução do volume da glândula, mais pronunciada no primeiro ano após a dose (43) (D). • Não é necessário recomendar uma dieta especial, mas apenas deve ser evitada a ingestão de quantidades excessivas de iodo (por exemplo, compostos contendo multivitaminas). O uso prévio de betabloqueadores deve ser considerado em pacientes muito sintomáticos e/ou com risco aumentado para complicações no caso de piora do quadro de tireotoxicose • É prudente evitar usar radioiodo em indivíduos jovens com menos de sete anos de idade • Os fatores que influenciam a resistência ao radioiodo e implicam dose mais elevada são: idade superior a 40 anos, sexo feminino, hipertireoidismo severo, bócio com volume médio ou grande (> 40 g; visível), tratamento prévio com agente antitireoidiano (especialmente com propiltiuracil). • Aproximadamente 20% dos pacientes tratados com 131I apresentam falha terapêutica. As características associadas a uma maior taxa de falha são a presença de bócio volumoso (> 50 ml), captação de iodo elevada (> 90%) e níveis séricos de T3 elevados (> 500ng / mL) no diagnóstico. Cirurgia • As indicações consideradas absolutas são bócio volumoso com sintomas compressivos, nódulo suspeito ou maligno, gestante que não obtém controle com DAT, recusa ao tratamento com 131I, mulher planejando gravidez dentro de seis a 12 meses e intolerância a DAT. As indicações relativas são bócio volumoso, oftalmopatia grave, pouca aderência e ausência de resposta ao tratamento com DAT. • As vantagens da tireoidectomia sobre as demais formas de tratamento incluem a rápida normalização da disfunção hormonal e maior efetividade nos casos com sintomas compressivos (42) (D). As desvantagens são o custo, a necessidade de internação hospitalar, o risco anestésico, e os riscos inerentes ao ato cirúrgico (hipoparatireoidismo, lesão do nervo recorrente, sangramento, infecção, cicatriz e hipotireoidismo) • A opção cirúrgica para doença de Graves está indicada em casos especiais como: indivíduos tireotóxicos alérgicos às tionamidas e impossibilidade de submeter-se ao radioiodo por gravidez, coexistência de nódulo tireóideo de natureza indeterminada, tiromegalia com sintomas compressivos, por serem muito jovens ou por escolha própria. • Após a definição pelo tratamento cirúrgico, alguns cuidados pré e pós-operatórios são essenciais. o Deve ser considerada a administração prévia de DAT associada ou não à administração de betabloqueador, na tentativa do controle da função tireoidiana para diminuir o risco de crise tireotóxica, que pode ser desencadeada pelo estresse cirúrgico, anestesia ou manipulação da glândula (66) (B). o A administração pré-operatória, por sete a dez dias antes da cirurgia, de iodeto de potássio ou solução saturada de iodeto de potássio pode ajudar a diminuir o fluxo sanguíneo intraglandular, a vascularização e reduzir a perda sanguínea durante a cirurgia. o Iodeto inibe a síntese e a liberação dos hormônios, tem ação mais rápida • A incidência das complicações depende, essencialmente, da habilidade do cirurgião. Hipotireoidismo e hipoparatireoidismo permanentes, e lesão do nervo recorrente laríngeo são as possíveis complicações cirúrgicas, e a taxa de mortalidade é < 1% nos grandes centros O tratamento com betabloqueadores deve ser considerado em pacientes sintomáticos, com suspeita ou diagnóstico de tireotoxicose. Esses medicamentos diminuem a frequência cardíaca, a pressão arterial, os tremores, a labilidade emocional e a intolerância aos exercícios (18) (D). O betabloqueador não seletivo propranolol é o mais utilizado, com melhora dos movimentos hipercinéticos, tremores finos de extremidades e mãos úmidas (19) (B), mas também podem ser prescritos betabloqueadores cardiosseletivos (atenolol, metoprolol) ou com meia-vida mais curta (esmolol) (19,20) (B,C). A dose oral habitual de propranolol ou atenolol varia de 20 a 80 mg a cada 6 a 12 horas e 50 a 100 mg uma vez ao dia, respectivamente, e deve ser ajustada conforme a resposta clínica (21) (D). Os bloqueadores de canais de cálcio, verapamil e diltiazem, administrados oralmente, podem ser utilizados nos casos de contraindicação ao uso de betabloqueadores. BOCIO MULTINODULAR TOXICO Vários fatores etiológicos contribuem para a formação do bócio multinodular autônomo e, eventualmente, tóxico: a heterogeneidade funcional inerente dos nódulos tireóideos, fatores de crescimento, agentes bociogênicos, disponibilidade de iodo e anormalidades genéticas. Ao longo do período de evolução, esses nódulos podem tornar- se autônomos, e raramente são observados em região iodo- suficiente. É a segunda causa mais comum de hipertireoidismo. A tireotoxicose pode ser precipitada pelo aumento da oferta de iodo a pacientes com bócio multinodular, tanto pela mudança para zona urbana com maior consumo de alimentos rico em iodo e sal iodado como por via medicamentosa ou contraste iodado, levando ao fenômeno conhecido iodo-basedow. A sintomatologia nesses casos é discreta, mas com predominância de manifestações cardíacas, como fibrilação atrial, talvez em razão da faixa etária dos afetados, geralmente mulheres acima dos 50 anos. O bócio multinodular não se associa a oftalmopatia ou dermopatia, mas os bócios tendem a ser volumosos e podem provocar sintomas compressivos. Diagnostico O diagnóstico clínico do bócio multinodular tóxico evidencia sintomas de instalação geralmente insidiosa, e a maioria dos pacientes são assintomáticos ou pouco tóxicos, com predomínio de manifestações cardíacas, como taquicardia sinusal, arritmias cardíacas e insuficiência cardíaca congestiva. Pacientes idosos podem apresentar queixas de fadiga muscular, perda de apetite, cansaço, fraqueza, inapetência e depressão, caracterizando uma apresentação clínica atípica, conhecida como hipertireoidismo apático. Ao exame físico verificam-se a presença de bócio e, por vezes, alterações laboratoriais de função tireóidea. Os resultados podem demonstrar um TSH suprimido, com níveis normais, ou no limite superior do normal, de T3 e T4 livre. A ultrassonografia identifica a presença de pequenos nódulos, não palpáveis ao exame da tireóide, e determina suas características. A cintilografia e a captação tireoidianas são úteis no diagnóstico diferencial do hipertireoidismo, ajudando a distinguir a tireoidite do bócio multinodular tóxico ou bócio difuso tóxico. Em pacientes com bócio multinodular tóxico, a cintilografia revela distribuição heterogênea, com algumas áreas exibindo maiores e menores captações do radiotraçador. O exame também é válido para determinar a presença de extensão subesternal da glândula tireóide. A tomografia computadorizada da região cervicotoráxica permite estabelecer desvio traqueal ou compressão de outras estruturas cervicais. A TC e a RM do tórax permitem detectar bócios multinodulares mergulhantes como achados incidentais, especialmente aqueles com componente subesternal. A tomografia computadorizada com contraste iodado deve ser evitada, pela possibilidade de induzir o hipertireoidismo em indivíduos portadores de bócio multinodular simples pelo efeito iodo-basedow. ADENOMA TOXICO O adenoma tóxico funcionante autônomo é a terceira causa de hipertireoidismo. Exibe prevalência mundial variável. Aparentemente, sua maior incidência geográfica tem vinculação com a deficiência de iodo. Afeta mais mulheres que homens, preferencialmente acima de 60 anos. Os adenomas tóxicos são alterações monoclonais de tireócitos, que apresentam aumento da captação de iodo e síntese de hormônio tireoidiano, independentemente de TSH. Podem ser causados tanto por mutações somáticas ativadoras do TSHR como por mutações somáticas ativadoras da subunidade alfa da proteína G (Gs alfa), resultando na inibição da atividade da ATPase57. Ambas provocam a ativação constitutiva da adenilciclase-AMP cíclico. Nem todos os nódulos apresentam mutações do TSHR ou da proteína Gs alfa detectáveis58. Os aspectos clínicos e bioquímicos da doença não se diferenciam com a presença ou ausência da mutação. Um adenoma tóxico abrigando mutação no domínio extracelular do TSHR foi descrito em uma criança com hipertireoidismo congênito. Diagnostico A partir de 3-4 cm, os adenomas tóxicos já são palpáveis e apresentam produção hormonal suficiente para manifestações clínicas. Os sintomas clínicos apresentam-se de forma mais insidiosa comparada à doença de Graves, com predomínio de sintomas cardiovasculares nos pacientes mais idosos, e ausência de sinais oculares da oftalmopatia da doença de Graves. Quando a produção hormonal do nódulo excede o limite normal glandular, o nível de TSH será suprimido. Em adição ao T4 total ou T4 livre é importante determinar o nível de T3 total ou T3 livre, pois em alguns casos o nódulo secreta primariamente T3; nesse caso, o T4 e o T4 livre serão normaisou baixos61. Os anticorpos antitireóide e TRAb são negativos. A cintilografia é o procedimento diagnóstico preliminar. Com o uso de 99mTc, 123I ou 131I, o adenoma tóxico surge como área variável entre “morna” e “quente”, dependendo do grau de depressão do tecido tireóideo adjacente. Assim, como em qualquer outra lesão nodular solitária, o US não acrescenta nenhuma informação ao diagnóstico funcional. TUMORES TROFOBLASTICOS A mola hidatiforme e o coriocarcinoma constituem a doença trofoblástica gestacional que é uma causa rara de hipertireoidismo65. Grandes quantidades de gonadotrofina coriônica são produzidas e essa possui fraca atividade similar ao TSH, o desenvolvimento do hipertireoidismo dependerá da natureza das isoformas e, das gonadotrofinas coriônicas produzidas e, também quando o nível sérico excede a 200 UI/mL. A remoção cirúrgica da mola ou a quimioterapia apropriada do coriocarcinoma cura o hipertireoidismo. ELUCIDAR AS POSSÍVEIS COMPLICAÇÕES DO HIPERTIREOIDISMO Crise tireotrófica (tempestade tireóidea) Consiste na exacerbação aguda de todos os sinais e sintomas da tireotoxicose, com frequência apresentando-se na forma de uma síndrome que pode representar risco de morte. Ocasionalmente, a tempestade tireóidea pode ser leve e apresentar-se simplesmente como uma reação febril sem causa aparente após uma cirurgia de tireoide em um paciente que foi preparado de modo inadequado. Com maior frequência, ela ocorre em uma forma mais grave após uma cirurgia, tratamento com iodo radiativo ou após o parto em uma paciente com tireotoxicose inadequadamente controlada – ou durante uma enfermidade grave e estressante como diabetes melito descompensado, trauma, infecção aguda, reação grave a fármacos ou infarto do miocárdio. As manifestações clínicas da tempestade tireóidea consistem em hipermetabolismo acentuado e resposta adrenérgica excessiva. A febre varia entre 38ºC a 41 ºC e está associada a fogachos e sudorese. Ocorre taquicardia acentuada, com frequência, com fibrilação atrial e alta pressão de pulso; ocasionalmente ocorre insuficiência cardíaca. Os sintomas do sistema nervoso central incluem agitação, delírio e coma. Os sintomas gastrintestinais incluem náusea, vômito, diarreia e icterícia. Um desfecho fatal associa-se à presença de insuficiência cardíaca e choque. Não existem evidências de que a tempestade tireóidea seja causada pela produção excessiva de T3 Além disso, na tireotoxicose, o número de locais ligadores adrenérgicos para as catecolaminas aumenta, de modo que o coração e os tecidos nervosos possuem uma sensibilidade aumentada às catecolaminas circulantes. Além disso, há uma diminuição da ligação à TBG, com elevação do T3 e do T4 livres. Uma teoria para esta situação é que, com aumento dos locais ligadores de catecolaminas, uma enfermidade aguda, infecção ou estresse cirúrgico desencadeia uma descarga de catecolaminas, as quais, em associação com os altos níveis de T4 e T3 livres, precipitam o problema agudo. O achado clínico mais proeminente da crise tireotóxica é a hiperpirexia desproporcional aos outros achados. Os achados laboratoriais incluem elevação de T4 sérico, T4L T3, assim como uma supressão do TSH.
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