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O sistema circulatório compreende o coração, os vasos sanguíneos e os vasos linfáticos. Os vasos sanguíneos, que consistem em artérias, capilares e veias, formam um sistema contínuo no qual o sangue circula pelo corpo. O sangue transporta oxigênio e outras moléculas necessárias para o metabolismo celular normal, para tecidos e, na volta, transporta produtos celulares dos tecidos para o fígado, os rins e o pulmão para seu metabolismo e excreção. Nos mamíferos domésticos, com exceção do gato, o volume sanguíneo é cerca de 6 a 8% do peso corporal, enquanto no gato ele representa apenas 4% do peso do corpo. Os vasos sanguíneos incluem as artérias que transportam o sangue a partir do coração, enquanto as veias o conduzem de volta. Quando as artérias se ramificam e se dividem, elas formam arteríolas, de diâmetro menor, que levam aos capilares, os quais apresentam o menor diâmetro dentre todos os vasos sanguíneos e permitem a passagem de células e nutrientes para os tecidos. Os capilares desembocam nas vênulas, que por sua vez se tornam veias e retornam o sangue para o coração. A circulação sistêmica é maior e conduz sangue oxigenado do coração para todos os órgãos do corpo e transporta o sangue desoxigenado de volta para o coração. A circulação pulmonar é menor e transporta o sangue desoxigenado do coração para o tecido de troca dos pulmões, onde ele é oxigenado antes de ser devolvido ao coração. Com início no átrio esquerdo, o sangue oxigenado passa tanto passivamente quanto por meio de contração atrial para o ventrículo esquerdo. A contração muscular do ventrículo esquerdo envia o sangue para a aorta. Da aorta emergem artérias que se ramificam em arteríolas e finalmente correm para os leitos capilares dos diferentes órgãos por onde circula o sangue. A partir dos leitos capilares, o sangue desoxigenado é coletado por vênulas menores que se tornam veias e finalmente veias principais (veia cava cranial e veia cava caudal) que conduzem o sangue até o átrio direito do coração. As veias dos membros pélvicos e da parte caudal do tronco desembocam na veia cava caudal; as veias da cabeça, dos membros torácicos e da metade cranial do tronco são coletadas pela veia cava cranial. O sangue venoso dos órgãos ímpares no interior do abdome passa pela veia porta e pelo fígado antes de alcançar o átrio direito com a veia cava caudal. A partir do átrio direito, o sangue passa para o ventrículo direito (passivamente e por meio da contração atrial), de onde segue para o tronco pulmonar e para as artérias pulmonares, as quais conduzem o sangue desoxigenado para os alvéolos pulmonares, onde ocorre a troca gasosa. As veias pulmonares transportam o sangue oxigenado de volta para o átrio esquerdo. Os vasos linfáticos formam um sistema de drenagem que retorna uma fração importante do fluido dos tecidos do interstício para o sangue. A drenagem linfática se inicia com os capilares linfáticos de terminação cega, os quais formam plexos extensos, espalhando-se pela maioria dos tecidos. Esses capilares coletam líquido intersticial, incluindo moléculas grandes, como proteínas, que não conseguem penetrar os vasos sanguíneos menos permeáveis. Os vasos linfáticos maiores se originam desses plexos e finalmente convergem em alguns troncos maiores que se esvaziam nas veias principais dentro do tórax. O segundo componente do sistema linfático compreende uma variedade de agregações amplamente espalhadas de tecido linfoide, por onde passa a linfa. O CORAÇÃO O coração é o órgão central do sistema circulatório. Ele é composto principalmente de músculo cardíaco, o miocárdio (myocardium), o qual forma uma bolsa dividida em quatro câmaras: átrio direito, átrio esquerdo, ventrículo direito e ventrículo esquerdo. O coração é envolvido pelo pericárdio e forma parte do mediastino, a divisão que separa as duas cavidades pleurais. PERICÁRDIO O pericárdio é a cobertura fibrosserosa do coração. Trata-se essencialmente de um saco com invaginação profunda com seu lúmen, a cavidade pericárdica (cavum pericardii), que se reduz a uma fenda capilar. Essa fenda contém uma pequena quantidade de um fluido seroso, o líquido pericárdico (liquor pericardii), o qual facilita o movimento do coração contra o pericárdio. O pericárdio pode ser dividido em uma parte fibrosa central e uma parte serosa interna e externa. POSIÇÃO E TAMANHO DO CORAÇÃO O coração se situa no mediastino, sendo que a parte maior (60%) se posiciona à esquerda do plano mediano. Ele se prolonga entre a 3a e a 6a costelas (7a no gato e no cão). A base do coração se localiza aproximadamente em um plano horizontal em uma linha que corta o meio do tórax. Grande parte da superfície do coração é coberta pelo pulmão, mas o coração pode ser facilmente auscultado e sentido pela parede torácica (batimento do ápice). A incisura cardíaca dos pulmões permite que o coração fique em contato próximo com a parede torácica lateral, separado apenas pelo pericárdio, pelo mediastino e pela pleura. Em geral, o coração corresponde a cerca de 0,75% do peso corporal. COMPARTIMENTOS DO CORAÇÃO O coração é dividido internamente por um septo interventricular (septum interventriculare) longitudinal em lado esquerdo e lado direito (Figs. 12-2, 12-5, 12-6 e 12-12). Por sua vez, cada lado é dividido incompletamente por um septo transverso nos átrios (atrium cordis) que recebem sangue e nos ventrículos (ventriculus cordis) que bombeiam sangue. ÁTRIOS DO CORAÇÃO O átrio direito forma a parte direita, dorsocranial da base do coração e recebe sangue da veia cava cranial, da veia cava caudal e do seio coronário (sinus coronarius), o qual coleta por si o sangue venoso da maior parte do coração. Ele se divide em uma parte principal, o seio das veias cavas (sinus venarum cavarum), e uma parte de terminação cega, a aurícula do átrio direito (auricula dextra). Ele se separa do átrio esquerdo por um septo interatrial (septum interatriale). O tubérculo intervenoso (tuberculum intervenosum), uma crista transversa de tecido entre as aberturas das duas veias cavas, projeta-se para o interior do átrio direito e direciona o fluxo de sangue através do óstio atrioventricular (ostium atrioventriculare dextrum). Imediatamente caudal a esse tubérculo, no septo interatrial, há uma área com uma depressão, a fossa oval, um vestígio do forame oval do desenvolvimento fetal. A superfície interna da parede da aurícula do átrio direito é fortalecida por músculos pectíneos (musculi pectinati) entrelaçados que formam cristas irregulares na superfície. Átrio esquerdo forma a parte esquerda dorsocaudal da base do coração. Ele recebe o sangue oxigenado das veias pulmonares e se assemelha ao átrio direito quanto à forma e estrutura. O átrio esquerdo se abre para o ventrículo esquerdo através do óstio atrioventricular esquerdo. Várias aberturas marcam a entrada das veias pulmonares no átrio esquerdo. VENTRÍCULOS DO CORAÇÃO Os ventrículos constituem a maioria da massa do coração. Eles são separados dos átrios por um septo transverso incompleto, o qual é indicado na superfície pelo sulco coronário. O ventrículo direito possui formato de meia-lua em secção transversal e molda-se à superfície do ventrículo esquerdo cônico. Ele não se prolonga até o ápice do coração, o qual normalmente é formado apenas pelo ventrículo esquerdo. O ventrículo direito recebe o sangue desoxigenado do átrio direito e o bombeia através do cone arterial para o tronco pulmonar (truncus pulmonalis), o qual transporta o sangue para o pulmão. O cone arterial é a parte em forma de funil do ventrículo direito, que se separa da câmara principal pela crista supraventricular (crista supraventricularis) e é contido pela aurícula do átrio direito externamente. A crista supraventricular é uma elevação de músculos posicionada obliquamente que se projeta ventralmente entre a origem docone arterial e o óstio atrioventricular. No óstio atrioventricular direito, encontra-se a valva atrioventricular direita ou valva tricúspide (valva atrioventricularis dextra seu tricuspidalis). Ela possui três válvulas que se fixam perifericamente aos anéis fibrosos do esqueleto cardíaco que circunda o óstio atrioventricular. As válvulas são fusionadas em sua fixação, mas se voltam para o centro da abertura. Cada válvula é reforçada por fios fibrosos, as cordas tendíneas (chordae tendinae). As cordas tendíneas emergem das projeções musculares cônicas, os músculos papilares (mm. papillares), e se projetam até a margem livre e a face ventricular adjacente da valva atrioventricular direita. De modo geral, há três músculos que se projetam das paredes ventriculares e do septo interventricular para o interior da câmara, sendo que o maior de todos (m. papillaris magnus) posiciona-se na parede ventricular direita livre. As cordas tendíneas se dispõem de tal forma que conectam cada músculo a duas válvulas e cada válvula a dois músculos. Essa disposição impede o prolapso da valva para o átrio quando os ventrículos se contraem. A valva atrioventricular direita é a valva de entrada para o ventrículo direito e impede que o sangue retorne do ventrículo para o átrio direito durante a fase sistólica do ciclo cardíaco. Durante a diástole, o refluxo do sangue do tronco pulmonar para o ventrículo direito é impedido pela valva do tronco pulmonar (valva trunci pulmonalis). A valva do tronco pulmonar se situa na raiz do tronco pulmonar e compõe- se de três válvulas semilunares (valvulae semilunares), cujo lado arterial é oco. As extremidades livres das válvulas semilunares são espessadas com um nódulo no meio (nódulo das válvulas semilunares) que acelera o fechamento da valva. O lúmen do ventrículo direito é cruzado por uma faixa ramificada ou simples, a trabécula septomarginal (trabecula septomarginalis), que passa do septo interventricular para a parede externa. A parte ventral do ventrículo direito é marcada por várias ondulações miocárdicas, as trabéculas cárneas (trabeculae carneae), que se projetam principalmente da parede externa. Acredita-se que elas reduzam a turbulência no sangue. O ventrículo esquerdo é cônico, sendo que seu ápice forma o ápice do coração. Ele recebe o sangue oxigenado dos pulmões através das veias pulmonares e do átrio esquerdo e bombeia o sangue para a maior parte do corpo, através da aorta. As paredes do ventrículo esquerdo são mais espessas que as paredes do ventrículo direito; no entanto, o volume dos dois ventrículos é o mesmo. No gato, há duas faixas musculares que cruzam o interior do ventrículo desde a parede externa para o septo interventricular, as trabéculas septomarginais. O óstio atrioventricular esquerdo (ostium atrioventriculare sinistrum) é ocupado pela valva atrioventricular esquerda (valva atrioventricularis sinistra), também chamada de valva mitral ou bicúspide. Sua estrutura é semelhante à da valva atrioventricular direita quanto à forma, mas compõe-se de duas válvulas. De forma correspondente, há apenas dois músculos papilares no ventrículo esquerdo. O óstio da aorta (ostium aortae) é a abertura do ventrículo esquerdo para a aorta ascendente. Ele sofre oclusão pela valva da aorta (valva aortae) durante a diástole. A valva da aorta assemelha-se à valva do tronco pulmonar, mas os espessamentos nodulares nas margens livres das válvulas aórticas costumam ser mais evidentes. Perifericamente a cada uma das válvulas semilunares da valva da aorta, a parede da aorta dilata- se para o formar os três seios da aorta (sinus aortae). O alargamento da base da aorta ascendente formado pelos seios da aorta é o bulbo da aorta (bulbus aortae). As artérias coronárias direita e esquerda deixam os seios da aorta direito e esquerdo. ESTRUTURA DA PAREDE CARDÍACA O endocárdio é uma camada lisa e delgada que reveste as câmaras cardíacas, cobre as aurículas dos átrios e é contínuo com o revestimento dos vasos sanguíneos. O epicárdio é parte do pericárdio. O miocárdio, ou músculo cardíaco, compõe a maior parte da parede cardíaca. Ele consiste em fibras de músculo estriado modificado, as quais se caracterizam por possuírem núcleos basais. Essas fibras formam anastomoses umas com as outras através de suas extremidades, o que resulta em um padrão de entrelaçamento com faixas mais leves que marcam a junção entre as células, os discos intercalares (disci intercalares). Ao contrário do músculo estriado convencional, os miócitos não sofrem fadiga e são regulados pelo sistema nervoso autônomo. O miocárdio dos átrios é delgado e geralmente se dispõe em arcos, formando alças ao redor da veia cava e das veias pulmonares quando elas desembocam nos átrios. A musculatura atrial se fixa à base fibrosa do coração. A musculatura dos ventrículos, como a de qualquer outro órgão oco, se divide nas camadas longitudinal profunda, circular média e longitudinal superficial. Todas as fibras musculares se originam e se inserem na base fibrosa do coração. Os fascículos musculares da camada superficial correm em direção ao ápice, com um giro no sentido horário. No ápice do coração, eles se viram e passam em direção à base de forma que assumem uma posição perpendicular às fibras superficiais descendentes. Algumas das fibras superficiais que passam em direção à base terminam nos músculos papilares. Algumas fibras penetram o ápice cardíaco e se unem a fibras da camada média. A camada média compõe-se da maior parte das paredes ventriculares e consiste em músculos espirais ou circulares que se entrelaçam entre as duas câmaras. A espessura e a estrutura das paredes cardíacas espelham a carga a que cada parte do coração está sujeita. Como possuem a função de compartimentos receptores de sangue com pouca função contrátil, as paredes dos átrios são finas. Por constituírem a câmara de bombeamento principal, as paredes dos ventrículos são espessas, sendo que a parede do ventrículo direito (circulação pulmonar) é mais delgada que a do ventrículo esquerdo (circulação sistêmica). O músculo cardíaco pode hipertrofiar-se e/ou dilatar-se após doenças como estenose valvular ou insuficiência valvar e miocardiopatia dilatada. Pode-se visualizar o aumento ventricular por meio de radiografia ou ultrassonografia. VASCULARIZAÇÃO DO CORAÇÃO O coração é bastante vascularizado e recebe cerca de 5% da emissão do ventrículo direito em humanos e um percentual ainda mais elevado em animais, dependendo da condição do animal. A irrigação do coração é feita pelas artérias coronárias e por seus ramos. Elas se originam de dois ou três seios acima das válvulas semilunares na raiz da aorta. A artéria coronária esquerda (Figs. 12-8 e 12-10) costuma ser maior e emerge do seio esquerdo do bulbo da aorta. Ela passa entre a aurícula do átrio esquerdo e o tronco pulmonar até o sulco coronário, onde se divide no ramo interventricular paraconal (ramus interventricularis paraconalis) e o ramo circunflexo (ramus circumflexus). O ramo interventricular paraconal segue o sulco de mesmo nome em direção ao ápice do coração e irriga as paredes do ventrículo esquerdo e maior parte do septo. O ramo circunflexo continua no sulco coronário em direção à face caudal do coração, onde termina próximo ao sulco interventricular subsinuoso (equino e suíno) ou prossegue até o ápice do coração (carnívoros e ruminantes). A artéria coronária direita (Fig. 12-8) emerge do seio direito do bulbo da aorta e passa entre a aurícula do átrio direito e o tronco pulmonar até o sulco coronário. Ela prossegue ao redor da face cranial da base do coração e então se afunila em direção à origem do sulco interventricular subsinuoso (carnívoros e ruminantes) ou se volta para ele. A artéria coronária direita se prolonga até o ápice do coração nas espécies em que a artéria coronária esquerda não irriga essa área (equino e suíno). Há uma grande variação no padrão dasartérias coronárias em indivíduos, o que não é clinicamente importante na medicina veterinária. Em contrapartida, essas diferenças assumem grande importância clínica na medicina humana no que se refere à cirurgia de infarto. As artérias coronárias são denominadas artérias finais porque não formam anastomoses. Portanto, a oclusão vascular de um ramo não pode ser tolerada e acarreta infarto local do músculo cardíaco. O fenômeno clínico de infartos agudos do miocárdio, a causa mais comum de óbitos no mundo ocidental, não ocorre em nenhuma espécie animal. A maioria das veias coronárias desemboca na veia cardíaca magna (v. cordis magna), que corre paralelamente à artéria coronária esquerda (Fig. 12-7). Ela retorna ao átrio direito através de um tronco curto e amplo, o seio coronário. Pouco antes de se abrir no seio coronário, ela se une à veia cardíaca média (v. cordis media), a qual ascende no sulco interventricular subsinuoso. Muitas veias cardíacas mínimas (vv. cordis minimae) se abrem diretamente nas cavidades do coração.
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