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1 CONTEXTUALIZANDO AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL Karla Saraiva NESTE CAPÍTULO VOCÊ IRÁ APRENDER: ● A analisar criticamente o histórico das políticas públicas no Brasil. ● A avaliar a articulação das normas constitucionais nacionais com as práticas educativas. INTRODUÇÃO O capítulo inicia com uma breve historicização das políticas educacionais brasileiras, mostrando sua emergência nos anos 1930 e traçando de modo sucinto sua trajetória até 1988, quando é promulgada a Constituição atual. Esta primeira seção visa a constituir um pano de fundo para uma melhor compreensão das políticas atuais. 2 A seguir, serão apresentados os principais aspectos relativos à educação presentes na Constituição de 1988, que funcionam como as linhas-mestras das políticas educacionais brasileiras. O capítulo se encerra apresentando as principais normas jurídicas relacionadas com a educação nacional, que serão estudadas com maiores detalhes nos capítulos posteriores. Bons estudos! DESENVOLVIMENTO DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL Embora já houvesse escolas jesuítas no Brasil desde o século XVI, não é possível considerar que existisse uma política educacional, tendo em vista que eram iniciativas restritas a esta ordem religiosa, sem intervenção estatal. Já a Constituição de 1827 trazia a garantia de que todos os cidadãos teriam direito à escola primária gratuita, porém isto não se concretizou. Ao longo do século XIX e no início do século XX, surgiram algumas iniciativas estaduais de instituição de escolas públicas, porém sem uma articulação nacional (ARANHA, 2006). Deste modo, é possível afirmar que foi apenas no primeiro Governo de Getúlio Vargas, que passaram a existir políticas educacionais nacionais. Em 1930, foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública, dando início à regulamentação do sistema educacional. Já em 1931, foi instituído o Conselho Nacional de Educação (CNE), órgão consultivo integrado por membros da sociedade civil e do governo, que, até hoje, subsidia a 3 construção das políticas nacionais. No mesmo ano, foi criado o Estatuto das Universidades e foi regulamentado o ensino secundário. O ensino primário ainda não foi regulamentado nesta ocasião, continuando a cargo dos estados. Getúlio Vargas. Fonte: Wikimedia Commons Em 1932, foi lançado o Manifesto dos Pioneiros da Educação, assinado por diversos intelectuais - como Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Afrânio Peixoto e Cecília Meireles - preocupados com a precariedade da educação no Brasil. Ele foi um marco de renovação da escola brasileira, lançando fundamentos para um plano de reconstrução educacional. A Constituição de 1934 trouxe orientações sobre a educação nacional que conciliavam as ideias mais arrojadas dos pioneiros com aquelas mais tradicionais de grupos católicos (SAVIANI, 2004). 4 Anísio Teixeira, um dos pioneiros da educação. Fonte: Wikimedia commons Foi, no entanto, em 1942, sob o comando do Ministro da Educação Gustavo Capanema, que ocorreu uma ampla estruturação do sistema educacional brasileiro. A chamada reforma Capanema consiste em um conjunto de leis que regulamentaram o ensino primário e o ensino secundário, bem como o ensino comercial, industrial, agrícola e normal. Foi estabelecido que o ensino primário teria duração de cinco anos e que o ensino secundário estaria dividido em duas etapas: o ginasial, com duração de quatro anos, e o colegial, com duração de três anos. O colegial era subdividido em clássico, com ênfase nas disciplinas de humanas e no estudo de línguas, e científico, com ênfase nas ciências da natureza e na matemática. Outra possibilidade de formação após o ginasial era o curso normal, que tinha por finalidade formar professoras e professores para a escola primária. A reforma Capanema também instituiu o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), bem como o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas 5 Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Este órgão, ligado ao MEC, existe até os dias de hoje, e é responsável pelos exames nacionais, como o ENEM e o ENADE, e pela gestão de dados educacionais. Seu nome é uma homenagem a um dos pioneiros da educação, já mencionado anteriormente. (ARANHA, 2006). Ministro Gustavo Capanema. Fonte: Wikipedia Apesar de o ensino primário ter sido regulamentado em termos federais apenas em 1940, desde 1931 havia um dispositivo legal que determinava que para o ingresso no ginásio o aluno deveria ser aprovado em um exame de admissão, que ficava a cargo do poder público. Ele era constituído por provas escritas e orais de Português e Matemática, e também por provas orais de Geografia, História do Brasil e Ciências Naturais. O exame de admissão refletia uma visão elitista e excludente de educação, em que o ensino secundário estaria reservado a uma minoria, em geral com condições econômicas privilegiadas (ABREU; MINHOTO, 2012). 6 Na sequência, a Constituição de 1946 estabeleceu ser prerrogativa da União fixar as diretrizes e bases da educação nacional. Pouco depois, o Ministério da Educação encaminhou para o Congresso Nacional a proposta de uma primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN). A tramitação foi bastante longa, sendo aprovada e promulgada apenas em 1961. No geral, esta lei preservou a estrutura da Reforma Capanema, com alguns pequenos ajustes. Em 1964, aconteceu o golpe militar no Brasil. Apesar de os militares terem realizado uma série de adequações no funcionamento da educação para alinhá-la a seus princípios, tornando-a mais tecnicista e rígida, não houve uma imediata reformulação da legislação. Em 1968, uma lei instituiu a reforma universitária, que proclamou a autonomia universitária e a indissociabilidade entre ensino e pesquisa, atendendo aos anseios da comunidade acadêmica. Porém, esta mesma lei determinou que a organização dos cursos superiores não seria mais na forma seriada, ou seja, com uma matrícula anual que abrangeria todas as disciplinas daquele período. A partir de então, o ensino superior passou a ter matrícula semestral, por disciplina, como acontece até hoje na maioria dos cursos. Esta nova forma de organização enfraquecia os vínculos entre os estudantes, tendo em vista que a cada dia estariam convivendo com colegas diferentes. A mudança visava a dificultar a organização do movimento estudantil, que fazia forte oposição ao regime militar (SAVIANI, 2004). 7 Cena do golpe militar: tanques na Avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro, em 2 de abril de 1964. Fonte: Wikipedia Em 1971, é feita uma reforma na LDBEN de 1961, sendo considerada esta a segunda LDBEN, mas que ficou conhecida como A Reforma. A estrutura da educação básica vai ser reformulada, passando a ser dividida em primeiro grau, com oito anos, e segundo grau, com três. Esta nova estrutura suprime o exame de admissão, criado em 1931. O segundo grau era unificado e tinha caráter profissionalizante obrigatório. De acordo com a Agência Senado (2017, online), para o então Ministro da Educação Jarbas Passarinho, era necessário “abandonar o ensino verbalístico e academizante para partir, vigorosamente, para um sistema educativo de 1º e 2º grau voltado às necessidades do desenvolvimento”. A formação profissionalizante compulsória tinha por objetivo qualificar mão- de-obra para o chamado “milagre brasileiro”, período de grande 8 desenvolvimento econômico, com expressivo crescimento da indústria e da construção civil, mas também de grande endividamento do país. Além disto, com a generalização da formação profissionalizante, o Governo tinha a intenção de reduzir as pressões crescentes para o aumento de vagas no ensino superior, dando continuidade a uma tradição em que apenas as classes mais privilegiadastinham acesso a este nível de formação. Cabe destacar que mesmo sendo obrigatória a formação profissionalizante, ele poderia ocorrer em dois níveis: auxiliar técnico, com uma carga horário menor de ensino profissionalizante, dando maior ênfase ao ensino propedêutico (preparatório para estudos posteriores), ou técnico, em que a ênfase seria na formação profissionalizante. Ministro Jarbas Passarinho. Fonte: Wikipedia Esta obrigatoriedade trouxe uma série de problemas, em especial a resistência das escolas privadas e a falta de estrutura para atender ao 9 solicitado nas escolas públicas. Gradativamente, ela vai desaparecendo até que seja oficialmente extinta em 1982. Os novos currículos da educação básica, instituídos em 1971, suprimiram as disciplinas de Filosofia e Sociologia e tornaram obrigatórias disciplinas com forte caráter doutrinador: Educação Moral e Cívica, no 1º grau; Organização Social e Política Brasileira (OSPB), no 2º grau; e Estudo de Problemas Brasileiros (EPB), no ensino superior. Embora Moral e Cívica tenha sido criada no Governo Getúlio Vargas e OSPB no Governo João Goulart, os militares deram a elas um caráter de exaltação à pátria, a valores tradicionais e ao regime político, bem como de alerta contra o que seriam os perigos do comunismo (FILGUEIRAS, 2006). Nos anos 1980, aconteceu a redemocratização do país. Em 1987, é realizada uma eleição para composição de uma assembleia constituinte. Os representantes foram eleitos com o objetivo específico de construírem uma nova constituição para o país. Inspirada pelos ventos da democracia, em 1988 foi promulgada uma nova carta magna, conhecida como Constituição Cidadã (BRASIL, [2020]), por apresentar uma visão progressista de sociedade. Entre outros pontos, ela criou o Sistema Único de Saúde (SUS), reconhecendo o direito de todos à saúde pública. O SUS é um dos maiores programas de saúde pública do mundo, tanto pelo número de usuários, quanto pela abrangência de suas funções. A educação também foi tocada por princípios democratizantes. 10 EDUCAÇÃO E A CONSTITUIÇÃO CIDADÃ A Constituição de 1988 (BRASIL, [2020]), promulgada após o longo período de ditadura militar, reconhece, em seu artigo 6°, a educação como um direito de todos. A Constituição nacional, também chamada de carta magna, é o conjunto de normas jurídicas hierarquicamente superiores a todas as outras. É a lei máxima de um país. No Brasil, ela pode ser modificada por meio de emendas constitucionais, que devem ser aprovadas por, no mínimo, dois terços de cada casa legislativa: Câmara Federal e Senado. Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Constituinte. Fonte: Wikimedia commons. A primeira menção na Constituição à educação dá-se no seu artigo 22, que define as áreas sobre as quais legislar é competência exclusiva da União. O inciso XXIV traz que compete à União estabelecer as leis de diretrizes e bases da educação nacional. 11 Porém, é a seção I do capítulo III que trata especificamente da educação. Esta seção compreende os artigos 205 a 214. O artigo 205 determina que a educação é dever do Estado e da família. Já o artigo 206 apresenta os princípios que devem nortear a educação nacional, dentre os quais destacam-se a igualdade de condições de acesso e permanência (sinalizando a importância da inclusão escolar); a liberdade para aprender, ensinar e pesquisar; a gratuidade do ensino público; e a valorização dos profissionais da educação. Emendas posteriores estabeleceram o piso salarial para professores de escolas públicas (em 2006) e o direito à aprendizagem ao longo da vida (2020). O artigo 207 estabelece a autonomia universitária e que as universidades devem pautar-se pela indissociabilidade de ensino, pesquisa e extensão. Já o artigo 208 apresenta deveres do Estado em relação à educação, entre eles a obrigatoriedade de escolarização dos quatro aos 17 anos (emenda constitucional de 2009). Também, de acordo com este mesmo artigo, é dever do Estado garantir acesso gratuito a todas as etapas da Educação Básica; atendimento especializado para as pessoas com deficiência, preferivelmente em escolas regulares; transporte escolar, material didático e alimentação aos estudantes da Educação Básica; atendimento de crianças até cinco anos na Educação infantil; universalização do Ensino Médio; oferta de ensino noturno. Um dos deveres do Estado enunciados na Constituição é especialmente problemático: garantir “acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um”, tendo em vista que a definição desta capacidade é amplamente subjetiva. 12 Segundo o artigo 209, a iniciativa privada poderá oferecer serviços educacionais, desde que cumpra a legislação vigente. O artigo 210 estabelece que no Ensino Fundamental o ensino religioso é de oferta obrigatória e matrícula facultativa nas escolas públicas. Ainda traz que esta etapa da Educação Básica será ministrada em língua portuguesa, exceto para comunidades indígenas, que poderão utilizar suas línguas maternas. O artigo 211 distribui competências da educação entre União, Estados e municípios. A União está encarregada de financiar as instituições federais de ensino, que consistem basicamente de universidades, institutos federais tecnológicos e escolas militares. Já os Estados devem se encarregar do Ensino Médio e os municípios, do Ensino Fundamental e Educação Infantil. Na prática, a responsabilidade sobre o Ensino Fundamental é compartilhada entre Estados e municípios. O artigo 212 determina a aplicação de 18% dos impostos arrecadados pela União em educação e de 25% para Estados e municípios, havendo um detalhamento sobre o uso de recursos. De acordo com o artigo 213, instituições educacionais privadas de Educação Básica, mas sem fins lucrativos, podem receber aportes de verbas públicas (por meio da oferta de bolsas em escolas onde houver falta de vagas na rede pública, mas reiterando o compromisso com a expansão da rede para estes casos). Já, o artigo 214 determina que sejam desenvolvidos planos decenais para a educação, que deverão definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento da educação nacional. 13 Deste modo, já está posto na Constituição, a necessidade de que a União estabeleça uma lei de diretrizes e base para a educação nacional, conforme o artigo 22, e que crie planos nacionais para estabelecer objetivos e metas, conforme o artigo 214. Embora após a promulgação da Constituição de 1988 continuasse válida da LDBEN de 1971, criada durante a ditadura, era urgente sua reformulação para alinhá-la com a nova ordem jurídica. Em 1996, foi promulgada a terceira LDBEN. Ela reitera o que já está posto na Constituição sobre a necessidade de um plano nacional de educação (PNE). Em 2001, foi promulgado o primeiro PNE aprovado no Congresso Nacional. Na próxima seção, serão apresentados sucintamente estas duas normas jurídicas que se desdobram diretamente da Constituição, bem como outros documentos legais de destaque para a educação brasileira. PRINCIPAIS NORMAS LEGAIS PARA A EDUCAÇÃO Conforme foi assinalado na seção anterior, a Constituição determina que a União deve legislar sobre as diretrizes e bases da educação nacional e deve estabelecer planos para a educação, surgindo daí a LDBEN, em 1996, e o Plano Nacional de Educação (PNE), em 2001. Porém, além destas leis cuja existência já era prevista na carta magna, outras normas se desdobraram da LDBEN, de 1996: as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Portanto, os dispositivos legais mais importantes em relação às políticas educacionais brasileiras são a LDBEN, as DCNs, o PNE e a BNCC. 14 No quadro abaixo, apresenta-se umabreve linha de tempo das principais normas jurídicas ligadas à educação nacional vigentes em 2020 que serão estudadas nos próximos capítulos. Cabe notar a presença entre estas normas do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), promulgado em 1990, ainda antes da LDBEN. Embora não seja uma política estritamente educacional, tendo um escopo mais amplo, é importante conhecê-lo, pois traz disposições que se atravessam na educação. 1988 Constituição cidadã 1990 Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) 1996 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) 2010 Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCNs) 2014 Plano Nacional de Educação (PNE) 2017/18 Base Nacional Comum Curricular (BNCC) 15 REFERÊNCIAS ABREU, Geysa; MINHOTO, Maria Angélica. Política de admissão ao ginásio (1931-1945): conteúdos e forma revelam segmentação do primário. Revista HISTEDBR, n.46, p. 107-118, jun. 2012. Disponível em: <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/histedbr/article/view/8640 074>. Acesso em: 20 nov. 2020. AGÊNCIA SENADO. Reforma tornou ensino profissional obrigatório em 1971. Publicado em 03 out. 2017. Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arquivo-s/reforma-tornou- ensino-profissional-obrigatorio-em-1971/reforma-tornou-ensino- profissional-obrigatorio-em-1971>. Acesso em: 20 nov. 2020. ARANHA, Maria Lúcia. História da Educação e da Pedagogia. São Paulo: Moderna, 2006. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20 nov. 2020. FILGUEIRAS, Juliana. A Educação Moral e Cívica e sua produção didática. Dissertação (Mestrado em Educação). PUCSP. São Paulo, 2015. Disponível em: <https://sapientia.pucsp.br/bitstream/handle/10549/1/Dissertacao%20Julian a%20Miranda%20Filgueiras.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2020. 16 SAVIANI, Dermerval. A escola pública brasileira no longo século XX (1890- 2001). In: III Congresso Brasileiro de História da Educação: comunicações coordenadas. Curitiba: PUCPR, 2004. Disponível em: <http://sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe3/Documentos/Coord/Eixo3/483.p df>. Acesso em: 20 nov. 2020. 1 DOCUMENTOS NORTEADORES DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS: LDBEN, ECA e PNE Karla Saraiva NESTE CAPÍTULO VOCÊ IRÁ APRENDER: ● A contextualizar as políticas de assistência e amparo à infância e relacioná-las com o campo educacional. ● A relacionar as práticas docentes e curriculares com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. ● A analisar as práticas educativas a partir dos indicadores e metas estabelecidos pelo Plano Nacional de Educação. INTRODUÇÃO Este capítulo apresenta, sucintamente, três leis que se colocam como norteadoras das políticas educacionais brasileiras. Ele inicia apresentando 2 o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de 1990, primeira legislação que tem por objetivo a proteção e o amparo à criança e ao adolescente, entendidos como sujeitos de direitos. Embora não seja uma legislação especificamente educacional, é relevante, pois estabelece articulações com este campo. Além disso, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) estabelece que ele deva ser trabalhado com os alunos da Educação Básica, sendo necessário, portanto, que os professores o conheçam. A seguir, é apresentada a LDBEN, que data de 1996. Esta é a lei hierarquicamente superior a todas as outras na área de Educação. Ou seja, toda a legislação restante será desenvolvida a partir do que consta na LDBEN. O capítulo se encerra com a apresentação do atual Plano Nacional de Educação (2014-2023), mostrando como foi elaborado, com quais objetivos e quais os mecanismos de monitoramento previstos. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA) A preocupação com a infância desvalida no Brasil vem desde a época do Império, pelo viés da filantropia. Em 1927, foi instituído o Código de Menores, uma legislação fortemente repressiva, que tinha por alvo crianças e adolescentes em situação de abandono ou inseridos em famílias em situação de pobreza. O Código visava, sobretudo, a reprimir as condutas inadequadas e a estimular o gosto pelo trabalho, tendo em vista que as 3 classes populares eram consideradas potencialmente perigosas e com dificuldades de educar seus filhos de acordo com princípios morais (RIZZINI, 2009). Contudo, o Código, apesar de seu caráter repressivo, ainda assim foi um avanço, pois tornava os menores inimputáveis. Ou seja, não sofreriam condenações judiciais, ainda que pudessem receber punições corretivas diversas (WESTIN, 2015). Em 1941, foi criado o Serviço Nacional de Assistência ao Menor (SAM), também voltado para a repressão de condutas inadequadas, em especial a vadiagem e a delinquência, inclusive apelando para a reclusão dos infratores. Em 1964, após uma crescente insatisfação com o SAM, foi criada a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM), com foco na família e na integração social do menor e com propósitos educativos. Porém, gradativamente, voltou-se mais uma vez para a internação. E em 1968, em pleno regime militar, é reeditado o Código de Menores, que continuará em vigor até 1990, quando foi promulgado o ECA (RIZZINI, 2009). O Código de Menores, de 1927, era instrumento de repressão dos menores. Fonte: Pixabay. 4 Deste modo, é possível observar que até 1990, as políticas públicas não eram voltadas para crianças e adolescentes, mas para menores. Ou seja, para crianças e adolescentes potencialmente perigosos e delinquentes, com o intuito de reprimi-las, e não de protegê-las. A legislação dirigida aos menores de idade vinha a legitimar o objetivo de manter a ordem almejada, à medida que, ao zelar pela infância abandonada e criminosa, prometia extirpar o mal pela raiz, livrando a nação de elementos vadios e desordeiros, que em nada contribuíam para o progresso do país (RIZZINI, 2009, p. 139). O ECA foi instituído pela Lei Federal n. 8.069/1990 (BRASIL, 1990), e é o marco legal e regulatório dos direitos de crianças e adolescentes vigente no país. Criado logo após a promulgação da Constituição de 1988, representa uma inflexão política, pois seu objetivo primeiro já não está voltado para a repressão, mas para a proteção integral da criança e do adolescente, que passam a ser considerados sujeitos prioritários para as políticas sociais. ECA e os direitos de crianças e adolescentes. Fonte: União Popular pela Vida 5 Visando a prover uma estrutura que garanta os direitos destes sujeitos, o ECA criou os conselhos tutelares, cujos membros são eleitos pela comunidade. Este Estatuto é considerado, internacionalmente, uma das melhores legislações da área, ainda que existam muitas falhas a serem superadas para sua completa efetivação. Seu capítulo IV é intitulado “Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer”. De acordo com o art. 53, crianças e adolescentes têm direito a uma educação voltada para a formação integral da pessoa, para o exercício da cidadania e para a preparação para o trabalho. Também lhes devem ser garantidas condições para acesso e permanência na escola; o respeito por parte de seus educadores; o direito de contestar processos avaliativos; o direito de organização e participação em entidades estudantis; e o acesso a uma escola pública próxima a sua residência, no mesmo estabelecimento em que outros irmãos estejam matriculados na mesma etapa de ensino. O art. 54 lista os deveres do Estado em termos educacionais, a maioria deles contemplados também na Constituição ou nas Diretrizes Curriculares. Já o art. 55 determina que os responsáveis têm obrigação de matricular filhos/pupilos na rede regular de ensino, o quetorna a educação domiciliar, frequentemente chamada homeschooling, uma prática ilegal no Brasil. Atualmente, isto vem sendo motivo de disputas judiciais e o atual Governo do Presidente Jair Bolsonaro propôs, em 2019, um projeto de lei (PL) para sua regulamentação, cumprindo uma promessa de campanha (BRASIL, 2019). 6 Os estabelecimentos de ensino, segundo o art. 56, devem reportar ao conselho tutelar maus-tratos evidenciados nos alunos, bem como problemas de evasão e repetência elevados. Neste sentido, a escola torna- se uma instituição de proteção de crianças e adolescentes, visto que maus- tratos e, até mesmo, abusos sexuais, em grande parte das vezes, são cometidos por familiares. A institucionalização do homeschooling representaria a perda deste mecanismo protetivo. Embora o objetivo do ECA seja o de proteção, também prevê a imposição de medidas socioeducativas a adolescentes infratores, sendo considerados adolescentes aqueles que têm entre 12 e 17 anos. É denominado ato infracional o que seria caracterizado como crime ou contravenção penal quando cometido por maiores de 18 anos. O capítulo V prevê as seguintes medidas: I - advertência; II - obrigação de reparar o dano; III - prestação de serviços à comunidade; IV - liberdade assistida; V - inserção em regime de semiliberdade; VI - internação em estabelecimento educacional. A medida socioeducativa a ser aplicada está relacionada com a gravidade da infração e será estabelecida por um juiz da infância e da adolescência. Adolescentes submetidos à internação devem ter seu direito à educação garantido. Após a criação do ECA, em 1990, foi promulgada a terceira LDBEN, em 1996, alinhada com os princípios da Constituição Cidadã, de 1988. 7 LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL (LDBEN) Logo após a promulgação da Constituição, em 5 de outubro de 1988, iniciou- se, no Congresso Nacional, a tramitação de um projeto para uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN). Naquele momento, o país era governado pelo Presidente José Sarney. Este projeto era fruto de uma ampla discussão com diversos setores da sociedade civil e a relatoria na Câmara estava a cargo do deputado Jorge Hage (PMDB). Houve amplos debates, foram propostas 1.263 emendas, aconteceram atos públicos em defesa da proposta, mas não houve avanços. Em 1991, já no Governo Fernando Collor de Mello, a relatoria passou para o deputado Edvaldo Alves (PDS), que foi acusado de desvirtuar o caráter democrático da proposta. Os debates seguiram-se acirrados e o projeto estava cada vez mais desfigurado com as emendas, até que houve consenso no Congresso de que não seria mais viável votá-lo. No final de 1992, o senador Darcy Ribeiro (PDT), antropólogo que foi Ministro da Educação no Governo João Goulart no início dos anos 1960, apresentou um novo projeto, que passou por novas negociações. Por fim, em 1994, Darcy Ribeiro apresentou um terceiro projeto, que após ter passado também por debates e alterações, foi aprovado em 17 de dezembro de 1996, no Governo Fernando Henrique Cardoso. A crítica a este projeto aprovado é que não leva em conta as contribuições da sociedade civil que estavam no projeto original (FGV, 2000). 8 A terceira LDBEN foi estabelecida pela lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Ela é constituída por 92 artigos e sofreu diversas alterações após sua aprovação, conforme é possível observar no site em que o Governo Federal a disponibiliza (BRASIL, 1996). Ali, estão assinaladas todas as modificações sofridas ao longo do tempo. Darcy Ribeiro, senador que apresentou o projeto da LDBEN. Fonte: Wikipedia. Ela divide a educação nacional em dois níveis: a Educação Básica e o Ensino Superior. Em seu art. 2º, define que A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1996, online) 9 O art. 22, que se refere especificamente à Educação Básica, determina ainda que esta assegure meios para progredir em estudos posteriores. O art. 3º trata de 13 princípios a serem assumidos pela educação nacional, dos quais destaco a igualdade de condições para acesso e permanência na escola; a liberdade de aprender, pesquisar e ensinar; o apreço à tolerância; a valorização do profissional da educação escolar; e a gestão democrática do ensino público. A Educação Básica é dividida, em linha com a Constituição, em Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. A Educação Infantil divide-se em creche, para crianças de até três anos, e pré-escola, para crianças de quatro e cinco anos. Deverá ter no mínimo 800 horas anuais e 200 dias letivos. É prevista uma avaliação de acompanhamento do desenvolvimento das crianças, sem objetivo de promoção. O Ensino Fundamental, na redação original, tinha duração de oito anos, com ingresso na idade de sete anos. Uma alteração realizada em 2006 fez com que passasse a ter nove anos, iniciando-se aos seis anos de idade. A LDBEN reitera aspectos já presentes na carta constitucional em relação ao Ensino Fundamental: ele será ministrado em língua portuguesa, sendo, contudo, direito das comunidades indígenas a utilização de suas línguas maternas. O ensino religioso é de oferta obrigatória em escolas públicas desta etapa da Educação Básica, com matrícula facultativa, devendo respeitar a diversidade religiosa. Desde 2007, prevê que seja inserido no currículo discussões sobre o ECA. 10 Quanto ao Ensino Médio, houve uma remodelagem profunda em 2017, com o chamado Novo Ensino Médio, instituído pela lei 13.415/17. Ele continua tendo duração de três anos, mas a carga horária, que era de 2400 horas (800 horas por ano), passou a 3000 (1000 horas por ano). Mais detalhes serão discutidos no próximo capítulo, quando tratarmos da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Anteriormente a 2013, o art. 4º da LDBEN estabelecia como etapa obrigatória o Ensino Fundamental, que compreendia alunos dos seis aos 14 anos, caso não estivessem em situação de atraso escolar. Em 2013, este artigo foi alterado, tornando a escolarização obrigatória dos quatro aos 17 anos. Portanto, abrange desde a pré-escola até o Ensino Médio, no caso de alunos sem distorção idade-série, ou seja, alunos que não estejam em situação de atraso escolar. O índice de distorção idade-série, em 2020, estava em 16,2% para o Ensino Fundamental e 26,2% no Ensino Médio. Ou seja, no Ensino Médio, cerca de um a cada quatro alunos está atrasado em relação ao nível de escolarização que seria esperado para sua idade (INEP, 2020). Esta taxa só não é maior porque existe uma elevada evasão nesta etapa final da Educação Básica. De acordo com o IBGE, 7,6% dos jovens entre 15 e 17 anos estão fora da escola, sendo que esta taxa se eleva para 11,8% entre as famílias mais pobres e de apenas 1,4% entre as famílias mais ricas, mostrando a profunda desigualdade educacional que assola o país (IBGE, 2019). Portanto, muitos jovens não finalizam a Educação Básica no período de escolarização obrigatória. 11 O mesmo art. 4º coloca que alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação têm direito a atendimento especializado, preferencialmente nas escolas regulares, afirmando o direito de todos a uma escola inclusiva. A LDBEN dispõe das diretrizes e bases que devem orientar a educação nacional. Porém, é necessário monitorar se ela e todo o restante da legislação se efetivam em termos práticos, consolidando o direito à educação de qualidade para todos os cidadãos. Isto se dá por meio do Plano Nacional de Educação. PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO (PNE) A LDBEN determina, em seu art. 87, que deveser estabelecido um plano de educação, com diretrizes e metas a serem alcançadas nos dez anos seguintes. O PNE é desenvolvido pelo Conselho Nacional de Educação, que, conforme foi comentado no capítulo anterior, é um órgão que assessora o Ministério da Educação, formulando e avaliando as políticas públicas nacionais da área. Em de 9 de janeiro de 2001, foi aprovada a lei nº 10.172, que instituiu o PNE (2001-2010). Este foi o primeiro plano aprovado pelo Congresso Nacional, diferente dos anteriores, que eram apenas normativas do MEC. Sendo uma lei, seu cumprimento torna-se obrigatório, reforçando o compromisso com as metas estabelecidas. Entretanto, como mostram Valente e Romano (2002), o plano aprovado foi uma imposição do Poder Executivo, derrotando outra proposta construída 12 democraticamente. Os autores também mostram como vetos do Presidente Fernando Henrique Cardoso tornaram inviáveis atingir as metas propostas. Esta discussão é corroborada pela análise posterior dos resultados do plano, conforme Zanferari, Guill e Almeida (2017). Um novo PNE deveria ter sido aprovado em 2011. Ele já havia sido elaborado pelo CNE, porém, por falta de interesse do Governo Dilma Rousseff, ele só foi aprovado em 2014 (ZANFERARI; GUILL; ALMEIDA, 2017), sendo instituído pela Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014 (BRASIL, 2020). Ele traz um número mais enxuto de metas: enquanto o anterior era composto por 295 metas, o que dificultava sua implantação e acompanhamento, o atual tem 20 metas. O site do Plano é de fácil navegação e muito interativo. Ali, podemos encontrar as 20 metas e, clicando sobre cada uma, ver os indicadores associados a ela. Observe-se que as metas são melhorias que se traduzem em dados quantitativos, assim como os indicadores. 13 O PNE estabelece indicadores e metas para a melhoria da educação brasileira. Fonte: Freepik. Em 2014, o MEC elaborou um documento para apresentar o Plano, em que, além de detalhar as metas, faz uma discussão sobre o processo de construção e os princípios que a subsidiaram (BRASIL, 2014). A publicação mostra que as metas foram elaboradas a partir de cinco eixos: direito à educação básica com qualidade (metas 1, 2, 3, 5, 6, 7, 9, 10 e 11); redução das desigualdades e valorização da diversidade (metas 4 e 8); valorização dos profissionais da educação (metas 15 a 18); e metas para o Ensino Superior (metas 12 a 14). As metas 19 e 20 estão relacionadas com o fortalecimento da gestão democrática da educação e com a expansão do investimento público em educação, prevendo que seja 10% do PIB em 2023. A legislação estabelece, além das metas, a necessidade de monitoramento, que deverá gerar relatórios a cada dois anos (2016, 2018, 2020, 2022). o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), uma autarquia vinculada ao MEC, publicará relatórios para aferir o cumprimento parcial das metas estabelecidas. Estes relatórios podem ser acessados na mesma página. O relatório do terceiro ciclo foi publicado em julho de 2020. Em 2024, será publicado o relatório final. O monitoramento do cumprimento das metas é importante para verificar a necessidade de intervenções. REFERÊNCIAS 14 BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em 26 nov. 2020. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF: Presidência da República, 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em 26 nov. 2020. BRASIL. Ministério da Educação. Planejando a próxima década: conhecendo as 20 metas do Plano Nacional de Educação. Brasília: MEC, 2014. Disponível em: <http://pne.mec.gov.br/images/pdf/pne_conhecendo_20_metas.pdf>. Acesso em 26 nov. 2020. BRASIL. Ministério da Educação. Bolsonaro assina projeto que regulamenta educação domiciliar. Publicado em 12 abr. 2019. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/component/content/article?id=75061:educacao- domiciliar>. Acesso em 26 nov. 2020. BRASIL. Plano Nacional de Educação - lei n° 13.005/2014. Disponível em: <http://pne.mec.gov.br/18-planos-subnacionais-de-educacao/543-plano- nacional-de-educacao-lei-n-13-005-2014>. Acesso em 26 nov. 2020. 15 FGV. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN). Disponível em: <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete- tematico/lei-de-diretrizes-e-bases-da-educacao-nacional-ldben>. Acesso em 26 nov. 2020. IBGE. Abandono escolar é oito vezes maior entre jovens de famílias mais pobres. Publicado em 19 nov. 2019. Disponível em: <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de- noticias/noticias/25883-abandono-escolar-e-oito-vezes-maior-entre-jovens- de-familias-mais-pobres>. Acesso em 26 nov. 2020. INEP. Indicador apresenta distorção idade-série para ensino fundamental e médio. Publicado em 28 fev. 2020. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/artigo/- /asset_publisher/B4AQV9zFY7Bv/content/indicador-apresenta-distorcao- idade-serie-para-ensino-fundamental-e- medio/21206#:~:text=A%20taxa%20de%20distor%C3%A7%C3%A3o%20 para,Educacionais%20An%C3%ADsio%20Teixeira%20(Inep)>. Acesso em 26 nov. 2020. RIZZINI, Irene. Crianças e menores: do pátrio poder ao pátrio dever. Um histórico para a legislação da infância. In: RIZZINI, Irene; PILOTTI, Francisco. A arte de governar crianças: a história das políticas sociais, da legislação e da assistência à infância no Brasil. São Paulo: Cortez, 2011. VALENTE, Ivan; ROMANO, Roberto. PNE: Plano Nacional de Educação ou carta de intenção? Educação & Sociedade, v. 23, n. 80, p. 96-107, set. 2002. 16 Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101- 73302002008000007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 26 nov. 2020. WESTIN, Ricardo. Crianças iam para a cadeia no Brasil até a década de 1920. Agência Senado. Publicado em 07 jul. 2015. Disponível em <https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2015/07/07/criancas-iam- para-a-cadeia-no-brasil-ate-a-decada-de-1920>. Acesso em 26 nov. 2020. ZANFERARI, Talita; GUILL, Thales Fellipe; ALMEIDA; Maria de Lourdes. Plano Nacional de Educação (2001-2011/2014-2024): uma análise das metas para educação superior. XIII Congresso Nacional de Educação. Anais... Curitiba: PUCPR, 2017). Disponível em: <https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2017/24575_13816.pdf>. Acesso em 26 nov. 2020. 1 DOCUMENTOS NORTEADORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA: DCNs e BNCC Karla Saraiva NESTE CAPÍTULO VOCÊ IRÁ APRENDER: ● A articular as práticas curriculares com as DCNs da Educação Básica; ● A planejar as práticas docentes e curriculares em alinhamento com as orientações da BNCC. INTRODUÇÃO Este capítulo apresenta duas importantes normas legais que orientam a Educação Básica no país. A primeira seção trata do conjunto de Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) da Educação Básica, regulamentação já prevista na LDBEN. Para uma melhor compreensão do contexto em que estas normas foram produzidas, é apresentado um breve histórico, mostrando que, entre os anos 1998 e 2000, foram homologados as 2 primeiras DCNs da Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, bem como aquelas relacionadas com a Educação de Jovens e Adultos (EJA), Ensino técnico de nível médio, Formação de professores na modalidade normal e Educação indígena. Em seguida, é discutida a revisão destas normas, entre os anos de 2009 e 2012, que resultaram nas DCNs em vigor. Neste processo, foram criadas as DCNs Gerais da Educação Básica, que não existiam anteriormente, além de DCNs para cada uma das três etapas da Educação Básica.Além destas, também foram criadas específicas para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio, para as escolas do campo, para a Educação Especial, para o EJA para jovens e adultos em privação de liberdade, para a Educação Escolar Indígena, para crianças, adolescentes e jovens em situação de itinerância (grupos como nômades como ciganos), e para Educação Escolar Quilombola. Tendo em vista os limites de extensão do texto, são realizados comentários apenas em relação às DCNs Gerais da Educação Básica. Além disto, são apresentados os princípios do Novo Ensino Médio, promulgado em 2017, que modificou tanto a LDBEN, quanto as DCNs. Na seção seguinte, estudaremos a Base Nacional Comum Curricular, apresentando sua estrutura geral e suas propostas em relação às aprendizagens para cada uma das etapas da Educação Básica. Bons estudos! 3 DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA (DCNs) Logo após a promulgação da LDBEN, o CNE iniciou os trabalhos para produção das DCNs. Elas não são instituídas por meio de leis, mas por meio de resoluções do CNE. Portanto, não são discutidas no poder legislativo e são de estrita responsabilidade do Conselho, órgão de assessoramento do MEC. Aquelas relativas à Educação Básica são elaboradas pela Câmara de Educação Básica do CNE. Em síntese, elas são orientações sobre a estrutura geral da Educação Básica que devem ser obrigatoriamente observadas pelas escolas públicas e privadas. As primeiras DCNs relacionadas com a Educação Básica foram aprovadas ainda nos últimos anos do século XX. Em 1998, foram aprovadas as DCNs do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Em 1999, às da Educação Infantil, do Ensino técnico de nível médio, da Formação de professores por cursos normais de nível médio e da Educação indígena. Em 2000, foram aprovadas as DCNs do Ensino de Jovens e Adultos (EJA). Os documentos legais relacionados à Educação Básica, tanto os em vigência, quanto os anteriores após 1996, estão organizados em uma página do site do MEC, facilitando quando se necessita acessar algum conteúdo. Além disto, os pareceres e resoluções referentes às diretrizes e bases da Educação Básica produzidos no fim do século XX foram compilados pelo CNE em uma publicação de 2001 (BRASIL, 2001). Como as DCNs são orientações para estruturar a educação brasileira, é necessário que sejam atualizadas periodicamente. As primeiras a sofrerem 4 uma revisão foram as DCNs da Educação Infantil, que tiveram uma nova versão homologada em 2009. Neste processo de revisão, o CNE percebeu ser necessário estabelecer diretrizes mais amplas, o que não havia sido feito anteriormente. Em 2010, foram aprovadas as DCNs gerais da Educação Básica e, também, novas diretrizes específicas do Ensino Fundamental. Em 2012, foram aprovadas as DCNs do Ensino Médio. Estas resoluções sofreram algumas alterações posteriores. Em especial, a do Ensino Médio, que teve uma importante atualização em 2018, tendo em vista alterações que criaram o que é conhecido como Novo Ensino Médio, conforme já mencionado. Todas as DCNs relacionadas com a Educação Básica válidas em 2013 foram compiladas em uma única publicação (BRASIL, 2013). Aí, podemos ver que além das DCNs gerais e de cada uma das etapas da Educação Básica, existem DCNs específicas para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio, para as escolas do campo, para a Educação Especial, para o EJA para jovens e adultos em privação de liberdade, para a Educação Escolar Indígena, para crianças, adolescentes e jovens em situação de itinerância (grupos como nômades como ciganos), e para Educação Escolar Quilombola. Além destas modalidades especiais de educação, existem DCNs relativas à Educação Ambiental, à Educação em Direitos Humanos e à Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Devido às limitações da extensão deste texto, serão apresentados apenas alguns elementos de destaque das DCNs gerais da Educação Básica e as modificações que foram introduzidas pelo Novo Ensino Médio. 5 As DCNs gerais da Educação Básica foram aprovadas pela resolução CNE/CEB nº 4, de 13 de julho de 2010. Todas as outras DCNs relacionadas com a Educação Básica estão subordinadas a ela. Trata-se de um documento extenso, com mais de 70 páginas. Suas seções iniciais colocam os marcos teóricos e os princípios que deverão nortear a construção dos currículos das instituições de Educação Básica. É importante registrar que estas diretrizes expressam uma visão de educação democrática, baseada no diálogo, na gestão democrática, na pluralidade de saberes e de culturas, na inclusão e no acolhimento das diferenças, conforme sua seção 2.1, intitulada “Referências conceituais”. Apesar destes princípios serem explicitados nesta seção, eles perpassam todo o texto, sendo o excerto abaixo apenas um exemplo das múltiplas passagens em que são evidenciados: A educação destina-se a múltiplos sujeitos e tem como objetivo a troca de saberes, a socialização e o confronto do conhecimento, segundo diferentes abordagens, exercidas por pessoas de diferentes condições físicas, sensoriais, intelectuais e emocionais, classes sociais, crenças, etnias, gêneros, origens, contextos socioculturais, e da cidade, do campo e de aldeias. Por isso, é preciso fazer da escola a instituição acolhedora, inclusiva, pois essa é uma opção “transgressora”, porque rompe com a ilusão da homogeneidade e provoca, quase sempre, uma espécie de crise de identidade institucional (BRASIL, 2013, p. 25). Embora estas orientações mais conceituais sejam muito importantes, pela limitação de espaço, vamos centrar nossa atenção em aspectos mais formais. A seção 2.5.1 das DCNs gerais da Educação Básica define suas etapas, alinhada com a LDBEN: Educação Infantil, subdividida em creche (crianças até 3 anos e 11 meses) e pré-escola (crianças de quatro e cinco anos), Ensino 6 Fundamental, subdividido em duas fases: anos iniciais (do 1º ao 5º) e anos finais (do 6º ao 9º), e Ensino Médio. Já a seção 2.4.2 apresenta diretrizes para a construção do currículo escolar, que deverá ter, na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, carga horária anual mínima de 800 horas, com pelo menos 200 dias letivos. Determina, ainda, que pelo menos 20% da carga horária seja voltada para projetos interdisciplinares no Ensino Fundamental. Também prevê a criação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Para finalizar, algumas palavras sobre o Novo Ensino Médio (BRASIL, 2020a), instituído pela Resolução nº 3, de 21 de novembro de 2018, do CNE (BRASIL, 2018), que modifica as disposições da LDBEN em relação a esta etapa da Educação Básica. As principais modificações foram a alteração da carga horária anual de 800 para 1000 horas e a determinação de que a chamada parte diversificada (ver seção seguinte sobre a BNCC), que ocupa 40% da carga horária, deva oferecer aos estudantes a possibilidade de escolher entre cinco itinerários formativos, sendo quatro áreas para aprofundamento de estudos (Matemática, Linguagens, Ciências Humanas e Ciências da Natureza) e uma quinta relativa à formação técnica e profissional. Deste modo, os itinerários formativos vão ocupar 1200 horas do currículo do Ensino Médio, liberando 1800 horas para a formação geral que será orientada pela BNCC. Para aqueles alunos que optarem pela formação técnica e profissional, que serão, via de regra, os mais desfavorecidos, a carga horária dedicada a estudos que os capacitam para dar continuidade aos estudos será reduzida em relação às 2400 horas previstas na versão anterior. Importante notar que este quinto itinerário reconhece como parte da carga horária experiências no setor produtivo, abrindo brechas para colocar no mercado uma mão-de-obra de baixo custo e, simultaneamente, fragilizar, ainda 7mais, a formação destes alunos. Por estas razões, é possível afirmar que o Novo Ensino irá aumentar as desigualdades educacionais. A precarização da formação no Ensino Médio reduzirá as chances dos alunos advindos de famílias em situação socioeconômica menos favorável possam dar sequência em seus estudos em nível superior. De certo modo, este Novo Ensino Médio estaria reproduzindo as políticas educativas do regime militar, que, conforme o Capítulo 1, buscou reduzir a demanda das classes populares por vagas no ensino superior por meio do ensino profissionalizante. Outro ponto muito criticado é que os docentes deste itinerário não necessitam, necessariamente, ser graduados. Os itinerários formativos são complementares à formação geral dada pela BNCC no Ensino Médio. Na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, a parte diversificada vai ser determinada pelos sistemas municipais e estaduais de ensino, bem como pelas escolas. BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC) A BNCC já estava prevista na LDBEN, o que foi reforçado pelo item 2.4.2 das DCNs gerais da Educação Básica e por algumas metas do PNE. Porém, foi somente em 2015 que sua construção foi iniciada. A portaria 592/15, do Ministério da Educação (BRASIL, 2015), instituiu uma comissão de especialistas responsáveis pela redação da primeira versão da BNCC, que foi disponibilizada para consulta pública em setembro de 2015. A consulta ficou aberta a qualquer interessado durante seis meses, recebendo mais de 12 milhões de sugestões até 15 de abril de 2016. Em 5 de maio do mesmo ano, o MEC apresentou uma segunda versão, incorporando as sugestões. A partir 8 daí, o CNE deveria analisar o documento e encaminhar seminários para discuti- lo com as Secretarias Estaduais de Educação para estabelecer a terceira e última versão do documento. Até 10 de agosto de 2016, foram realizados 27 seminários estaduais. Feito isto, foi iniciada a redação da terceira versão da BNCC (BRASIL, 2020b). Contudo, em 31 de agosto de 2016, a Presidente Dilma Rousseff sofreu um impeachment e a redação final foi realizada na gestão do Presidente Michel Temer, que, após assumir, revogou a nomeação dos membros anteriores da CNE e nomeou novos, mais alinhados com a tendência neoliberal de seu governo. Aguiar (2019) mostra como grupos privados interessados em dar forma à BNCC, que já tiveram forte influência desde sua concepção no Governo Dilma, foram ainda mais privilegiados nesta mudança. Além disso, a terceira versão da base teve restrições à ação dos especialistas e tornou-se muito mais conservadora. A nova composição do CNE foi fundamental para a aprovação desta nova versão. Em dezembro de 2017, foi aprovada a parte da Educação Infantil e do Ensino Fundamental. Já a parte relativa ao Ensino Médio foi aprovada apenas em dezembro de 2018, tendo em vista que foi modificada de modo mais substancial. A BNCC (Brasil, 2018) é o documento que estabelece as aprendizagens mínimas a serem desenvolvidas pelos alunos da Educação Básica. Pelo menos, 60% da carga horária anual deve ser ocupada por suas determinações. Os outros 40% constituem a chamada parte diversificada, que poderá seguir orientações dos sistemas de ensino estadual ou municipal, bem como escolhas das próprias escolas. A BNCC está baseada em dez competências gerais, apresentadas em seu primeiro capítulo, que deverão ser desenvolvidas ao 9 longo da Educação Básica. Ela define competência como a articulação entre conhecimentos, habilidades, atitudes e valores. A estrutura geral da BNCC é apresentada na Figura 1. Como se pode observar, a Educação Infantil é dividida em três faixas: bebês (0 a um ano e seis meses); crianças bem pequenas (um ano e seis meses a três anos) e crianças pequenas (quatro e cinco anos). Portanto, a etapa creche, definida nas DCNs, foi subdividida em dois diferentes grupos etários. Nesta etapa da Educação Básica, serão trabalhados cinco campos de experiência: O eu, o outro e o nós; Corpo, gestos e movimentos; Traços, sons, cores e formas; Escuta, fala, pensamento e imaginação; e Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. A BNCC detalha, para cada uma das subdivisões da Educação Infantil e para cada um dos campos de experiência, as aprendizagens mínimas, expressas para esta etapa como objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. 10 Estrutura geral da BNCC. Fonte: (BRASIL, 2018, p. 24). 11 Já o Ensino Fundamental, que se divide em anos iniciais e finais, terá as aprendizagens distribuídas em áreas de conhecimento, e estas, por sua vez, em componentes curriculares, conforme a Figura 2. A área de Linguagens tem como componentes curriculares Língua Portuguesa, Artes, Educação Física e, para os anos finais, Língua Inglesa. A área de Matemática tem apenas a própria Matemática como componente curricular, e a área de Ciências da Natureza tem apenas Ciências. A área de Ciências Humanas é composta pelas componentes História e Geografia. Já a área de Ensino Religioso, que tem também uma única componente curricular com o mesmo nome, de acordo com o previsto na LDBEN, é de oferta obrigatória pela escola, mas de matrícula facultativa para o aluno. Para cada ano do Ensino Fundamental, as componentes curriculares são divididas em unidades temáticas e cada unidade temática compreende um conjunto de objetos de conhecimento e um conjunto de habilidades a serem desenvolvidas, que constituem as aprendizagens desta etapa de ensino. 12 Ensino Fundamental. Fonte: (BRASIL, 2018, p. 27). 13 Quanto ao Ensino Médio, esta é a etapa com a base curricular menos definida. A versão aprovada foi construída de modo concomitante com o desenvolvimento do Novo Ensino Médio (BRASIL, 2017), com profundas modificações em relação à segunda versão. Como mostra a Figura 3, ele compreende quatro áreas do conhecimento: Linguagens e suas tecnologias; Matemática e suas tecnologias; Ciências da Natureza e suas tecnologias; Ciências Humanas e suas tecnologias. Entretanto, detalha apenas as componentes curriculares de Português e Matemática. Além destes componentes, a LDBEN determina o estudo da Língua Inglesa. Para cada uma das áreas de conhecimento, são definidas competências a serem desenvolvidas ao longo do Ensino Médio, sem detalhar em que ano isto deva acontecer. Portanto, as competências podem ser vistas como sendo transversais a toda esta etapa. Cada competência desdobra-se em um conjunto de habilidades a serem desenvolvidas. Apenas as componentes curriculares Língua Portuguesa e Matemática têm um detalhamento próprio. Isto não quer dizer que os conhecimentos de outras áreas não sejam contemplados, mas a delimitação é difusa. Para desenvolver as habilidades previstas em Ciências da Natureza e suas tecnologias, por exemplo, é necessário trabalhar conteúdos de biologia, química e física. A dificuldade é justamente determinar as responsabilidades de cada docente. A BNCC, no que parece ser um esforço de superar críticas relacionadas à exclusão de alguns componentes curriculares, explicita que, entre outras habilidades, a área de Linguagens e suas tecnologias deve desenvolver a capacidade de apreciar e participar de manifestações artísticas e culturais, remetendo à necessidade de inclusão de aprendizagens relacionadas com a 14 área de Artes. Também determina a “incorporação da Filosofia e da Sociologia” (BRASIL, 2018, p. 472) na área de Ciências Humanas e suas tecnologias. Ainda em relação ao Ensino Médio, a BNCC traz que deve ser orientado para a construção do projeto de vida dos alunos e que devem ser desenvolvidas competências relacionadas com as tecnologias digitais. Ela também retoma a discussão sobre os itinerários formativos que são propostos pelo Novo Ensino Médio, apresentando alguns detalhes adicionais. 15 Ensino Médio.Fonte: (BRASIL, 2018, p. 32). 16 REFERÊNCIAS AGUIAR, Márcia. Reformas conservadoras e a “nova educação”: orientações hegemônicas no MEC e no CNE. Educação e Sociedade, v. 40, p. 1-24, 2019 . Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101- 73302019000100204>. Acesso em 07 dez. 2020. BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais Educação Básica. Brasília: Ministério da Educação, 2001. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me002630.pdf>. Acesso em 07 dez. 2020. BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica. Brasília: Ministério da Educação, 2013. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/docman/julho-2013-pdf/13677-diretrizes- educacao-basica-2013-pdf/file>. Acesso em 07 dez. 2020. BRASIL. Ministério da Educação. Portaria n. 592, de 17 de junho de 2015. Institui Comissão de Especialistas para a Elaboração de Proposta da Base Nacional Comum Curricular. DOU, n. 114, p. 16, 18 jun. 2015. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download &alias=21361-port-592-bnc-21-set-2015-pdf&Itemid=30192>. Acesso em 07 dez. 2020. BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução nº 3, de 21 de novembro de 2018. Disponível em: <https://www.in.gov.br/materia/- 17 /asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/51281622>. Acesso em 07 dez. 2020. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Ministério da Educação, 2018. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_ver saofinal_site.pdf>. Acesso em 07 dez. 2020. BRASIL. Ministério da Educação. Novo Ensino Médio. Disponível em: <http://novoensinomedio.mec.gov.br/>. Acesso em 07 dez. 2020a. BRASIL. Ministério da Educação. Histórico da BNCC. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/historico>. Acesso em 07 dez. 2020b. 1 FORMAÇÃO DE PROFESSORES INICIAL E CONTINUADA Karla Saraiva NESTE CAPÍTULO VOCÊ IRÁ APRENDER: ● A contextualizar historicamente a formação de professores no Brasil; ● A analisar o processo de formação docente a partir dos marcos legais; ● A reconhecer a importância da formação continuada para o exercício da docência. INTRODUÇÃO Neste capítulo, estudaremos os processos de formação docente no país. Ele se inicia com uma breve contextualização histórica, que permite uma melhor compreensão do cenário atual. A seguir, é discutida a Resolução CNE/CP Nº 2, de 20 de dezembro de 2019, conhecida como BNC- Formação, que dispõe sobre a formação inicial de professores. O capítulo é finalizado tratando da Resolução CNE/CP nº 1, de 27 de outubro de 2020, que vem sendo chamada de BNC-Formação continuada, que trata dos 2 processos de formação continuada de professores na escola e em cursos de extensão, aperfeiçoamento, especialização e pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado). Bons estudos! Formação de professores inicial e continuada – trajetória no Brasil A formação de professores no Brasil iniciou-se com a criação da primeira escola normal, em 1835, no Rio de Janeiro. Durante o Império, foram fundadas, pelo menos, 22 instituições deste tipo, porém com grande heterogeneidade de currículos. A formação variava entre dois e quatro anos e não havia nenhuma regulamentação nacional (PRADO, 2020). Os currículos proporcionavam uma formação precária. As poucas escolas públicas da época, à cargo das Províncias (antigo nome dos Estados), em geral não exigiam esta formação, sendo suficiente a aprovação em exames aplicados aos candidatos ao cargo de professor. Entretanto, nas últimas duas décadas do Império, este quadro começou a se modificar, havendo uma valorização da educação e, por conseguinte, melhorias nos currículos das escolas normais (TANURI, 2000). Em 1889, foi proclamada a república. As escolas normais não sofreram mudanças significativas com a nova forma de governo e continuam em expansão. Na década de 1920, elas são numerosas, com currículos mais consistentes, podendo ter uma duração de até cinco anos. Mas foi apenas 3 no final da década de 1930 que surgiram os primeiros cursos de licenciatura, integrando a formação de professores ao Ensino Superior. Escola Normal Modelo (MG, instituída em 1906). Fonte: Wikipedia A LDBEN de 1971 transformou o curso normal em Habilitação Específica para o Magistério (HEM), uma das opções profissionalizantes, conforme tratamos no Capítulo 1. Ela permitia que professores com HEM lecionassem da 1ª a 4ª série do 1º Grau. Para lecionar da 5ª a 8ª série, seria necessária uma licenciatura curta, que eram cursos com duração de dois anos. Já para lecionar no 2º Grau, era necessária a licenciatura plena, com duração de 4 quatro anos. A Educação Infantil só foi regulamentada em 1996, com a 3º LDB, não havendo exigências relativas à formação de professores. Com a supressão do ensino profissionalizante obrigatório, os cursos normais foram reabilitados em 1983. Também na década de 1980, os cursos de Pedagogia ganham força, havendo um crescente número de docentes graduados atuando nos anos iniciais. A LDBEN de 1996 suprimiu a chamada licenciatura curta e estabeleceu em seu art. 62 que a docência em todo Educação Básica exigiria formação em curso de licenciatura, sendo admitida a formação em curso normal de nível médio para atuar nos cinco primeiros anos do Ensino Fundamental e na Educação Infantil. Como já foi mencionado em capítulos anteriores, é esta lei que irá regulamentar pela primeira vez a Educação Infantil no país, tirando-a do lugar da assistência social. Portanto, é somente em 1996 que passa a haver exigência de formação para atuar nesta etapa educacional (TANURI, 2000). A partir da LDBEN, a legislação para formação de professores foi reformulada. Em 2002, foram instituídas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, que foram reformuladas em 2015. Em 2019, foram publicadas novas orientações para a formação inicial e, em 2020, para a formação continuada, que serão estudadas de modo mais detalhado adiante. Além das diretrizes curriculares para a formação de professores, foram desenvolvidas diretrizes curriculares para os diversos cursos de graduação. 5 DIRETRIZES CURRICULARES PARA OS CURSOS DE GRADUAÇÃO Até 1996, cada curso de graduação era orientado por uma resolução do CNE, que detalhava minuciosamente os conteúdos e a duração do curso. A partir de então, visando um alinhamento com a nova LDBEN, estas resoluções foram substituídas por outras que estabelecem as diretrizes curriculares dos cursos de graduação. Estas novas normativas já não são pautadas por exaustivas listas de conteúdos, mas pelo desenvolvimento de competências, podendo haver indicações. O detalhamento destas diretrizes varia bastante de curso para curso. Em geral, elas contêm, além das competências que devem ser desenvolvidas pelos egressos, indicações gerais sobre os conteúdos e sobre a estrutura do curso. Em relação a áreas que tenham cursos de bacharelado e licenciatura, ambos serão tratados na mesma resolução. A maioria destas diretrizes foram estabelecidas nos primeiros anos do século XXI, mas as dos cursos de Educação Física foram reformuladas em 2018. A conclusão de um curso de licenciatura concede ao egresso o título de licenciado. As diretrizes curriculares são estabelecidas por meio de resoluções da Câmara de Ensino Superior (CES) do CNE, que remetem aos pareceres deste Conselho, que é onde realmente elas estão detalhadas. Alguns cursos têm suas diretrizes estabelecidas em um parecer conjunto. Cabe notar que em alguns casos podem haver pareceres posteriores com alguma retificação. A documentação legal completa para cada curso de graduação está reunidaem uma página do MEC. 6 Além das diretrizes específicas de cada curso, existem diretrizes curriculares nacionais para a formação de professores, que sofreram múltiplas transformações desde as primeiras homologadas em 2001. Estas diretrizes são instituídas por resoluções do Conselho Pleno (CP) do CNE, formado pelos membros da Câmara de Educação Básica (CEB) e da Câmara de Ensino Superior (CES). Atualmente, encontram-se em vigor a Resolução CNE/CP Nº 2, de 20 de dezembro de 2019 (BRASIL, 2019), que institui as DCNs para a formação inicial de professores para a Educação Básica e a Base Nacional Comum para a formação inicial de professores da Educação Básica (BNC-Formação), e a Resolução CNE/CP nº 1, de 27 de outubro de 2020 (BRASIL, 2020), que normatiza a formação continuada. Estas duas resoluções substituem a Resolução nº 2, de 1º de julho de 2015, que tratava tanto da formação inicial, quanto da formação continuada. FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES A Resolução CNE/CP Nº 2, de 20 de dezembro de 2019 (BRASIL, 2019), que instituiu as DCNs para a formação inicial de professores para a Educação Básica e a BNC-Formação, reformulou as diretrizes homologadas em 2015 sob a justificativa de que seria necessário um alinhamento com a BNCC. Contudo, analisando ambas as resoluções, é possível perceber que as transformações foram muito mais profundas, ressignificando o processo de formação docente no Ensino Superior. De acordo com artigo de Felipe (2020), publicado pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa 7 em Educação (ANPED), esta regulamentação promove um enfraquecimento da formação e desmantela as regras de 2015, construídas democraticamente, por meio do diálogo como as entidades de classe e pesquisadores, uma vez que foram propostas e votadas por membros do CNE nomeados pelo Governo. Críticas no mesmo sentido estão em outro artigo, de Taffarel (2019), publicado pela Associação Nacional pela Formação de Profissionais da Educação (ANFOPE). De acordo com esta Resolução, a formação de professores deve ser orientada para garantir as aprendizagens essenciais previstas na BNCC. Ela determina que os docentes devem desenvolver dez competências gerais, que estão associadas com as dez competências gerais da BNCC. Também devem desenvolver competências específicas, distribuídas em três dimensões: I - conhecimento profissional; II - prática profissional; e III - engajamento profissional. Em relação ao conhecimento profissional, as competências a serem desenvolvidas referem-se aos objetos de conhecimentos específicos e o modo como ensiná-los; ao conhecimento sobre os estudantes e sobre o modo como aprendem; à capacidade de reconhecer os contextos de vida dos estudantes; e ao conhecimento sobre a organização dos sistemas educacionais. Em relação à dimensão da prática profissional, as competências a serem desenvolvidas estão relacionadas com a capacidade de planejar ações de ensino que produzam uma aprendizagem efetiva; de criar e gerir ambientes de aprendizagem; de avaliar as aprendizagens e o ensino; e de conduzir 8 práticas pedagógicas adequadas aos objetos de conhecimento e às competências e habilidades a serem desenvolvidas. Por fim, a dimensão do engajamento profissional compreende competências relacionadas com o comprometimento com seu desenvolvimento profissional; com a aprendizagem dos estudantes; com o desenvolvimento do projeto pedagógico e com a construção de valores democráticos; e com o engajamento com as famílias e com a comunidade visando melhorar o ambiente escolar. A BNC-Formação destaca que no processo de formação docente a ênfase deve estar na prática. Embora isso apareça em diversas partes da Resolução, isto fica particularmente explícito no art. 7º, inciso VIII, ao colocar que um dos princípios norteadores deve ser a “centralidade da prática por meio de estágios que enfoquem o planejamento, a regência e a avaliação de aula”. Este é um dos pontos criticados por pesquisadores e entidades de classe, pois a Resolução não destaca a importância de uma formação teórica voltada para um exercício profissional crítico. Em relação à estrutura dos cursos de licenciatura, detalhada no Capítulo IV, a BNC-Formação determina que tenham uma carga horária mínima de 3200 horas, assim divididas: 9 Grupo I 800 horas Formação Pedagógica Grupo II 1600 horas Conteúdos específicos do curso (BNCC) Grupo III 800 horas Prática 400 horas: estágios em escolas 400 horas: práticas no curso Segundo o documento, a formação pedagógica deve abranger estudos sobre o currículo e seus marcos legais; sobre didática; sobre práticas de ensino específicas para os conteúdos; sobre gestão escolar; sobre Educação Especial; sobre avaliações externas; sobre cultura escolar; sobre fundamentos históricos, sociológicos e filosóficos da educação; sobre as teorias de desenvolvimento e aprendizagem; sobre o sistema educacional brasileiro; sobre os contextos socioculturais dos estudantes. Em relação ao Grupo II, haveria três tipos de curso: I - formação de professores multidisciplinares da Educação Infantil; II - formação de professores multidisciplinares dos anos iniciais do Ensino Fundamental; e III - formação de professores dos anos finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Referente ao Grupo III, a BNC-Formação traz que “a prática deve estar presente em todo o percurso formativo do licenciando, com a participação de toda a equipe docente da instituição formadora”. Quanto aos estágios, estes devem ser realizados, preferencialmente em escolas e instituições públicas. 10 A Resolução trata, ainda, da formação para atividades de administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a Educação Básica em seu Capítulo VII, que poderá se dar por meio de um acréscimo de 400 horas nos cursos de Pedagogia ou por meio de cursos de pós-graduação. Para exercer estas funções é necessário, além de formação, experiência docente. Após a homologação das normas para a formação inicial de professores, foram instituídas, em 2020, normas para a formação continuada. FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA As diretrizes curriculares para formação de professores de 2015 tratavam tanto da formação inicial, quanto da formação continuada de modo integrado. As normas vigentes atualmente separaram estas etapas formativas. Em 2020, por meio da Resolução CNE/CP nº 1, de 27 de outubro (BRASIL, 2020), foram estabelecidas as diretrizes curriculares e a base nacional comum para formação de professores da Educação Básica (BNC- Formação Continuada). Esta resolução assume que a formação continuada é componente essencial para a atuação profissional dos docentes. Em seu art. 6º, aponta as instituições de ensino da Educação Básica como o contexto a ser privilegiado neste processo, fortalecendo a articulação entre ensino e pesquisa. Já no art. 7º, destaca a importância de um processo formativo continuado, alertando para a pouca eficácia de formações curtas. Neste sentido, existe uma orientação de que as escolas e os sistemas de ensino 11 proporcionem condições para o desenvolvimento contínuo dos professores em serviço, estimulando sua atualização e o desenvolvimento de pesquisas com potencial de aprimorar a ação docente. O capítulo III da BNC-Formação Continuada está voltado especificamente para a discussão dos cursos de formação continuada. Em seu art. 9º, estão apresenta as modalidades de cursos, assim distribuídas: I – Cursos de atualização, com um mínimo de 40h; II – Cursos de extensão, com carga horária determinada em função do projeto, tendo pro propósito o aprofundamento de um determinado tema; III – Cursos de aperfeiçoamento, com um mínimo de 180h; IV - Cursos de pós-graduação lato sensu, que são os cursos de especialização(incluindo os MBAs), com um mínimo de 360h; V - Cursos de pós-graduação stricto sensu, que se dividem em dois níveis: mestrado e doutorado. Os cursos de atualização e aperfeiçoamento diferem entre si basicamente pela carga horária. Eles visam atualizar e aprimorar as competências profissionais em um campo específico, porém não têm uma regulamentação mais detalhada. Podem ser ministrados por qualquer entidade, não necessitando cadastramento junto ao MEC. Sua ocorrência é eventual, não havendo necessariamente uma regularidade de oferta. Não existe obrigatoriedade de avaliação da aprendizagem. Os cursos de extensão geralmente são ministrados por universidades e também têm caráter eventual. Eles diferem dos cursos anteriores por terem foco em temas específicos, sendo, em geral, ligados a um projeto mais 12 amplo para disseminar conhecimento naquela temática. Estas três modalidades podem ser ministradas presencialmente ou a distância. Já os chamados cursos de pós-graduação dividem-se em lato e stricto sensu. Os cursos lato sensu são as especializações, sendo regulamentados pela Resolução nº 1, de 6 de abril de 2018 (BRASIL, 2018). Eles não precisam ser autorizados pelo MEC, mas só podem ser ministrados por instituições credenciadas: instituições de ensino superior, instituições de pesquisa reconhecidas e instituições de reconhecida qualidade na formação profissional. Pelo menos, 30% do corpo docente deverá ter título de mestre ou doutor; sua carga horária será de, no mínimo, 360 horas; e devem prever avaliação da aprendizagem dos alunos. Assim como nos casos anteriores, não existe uma necessária regularidade de oferta. Os que concluem uma especialização, recebem um certificado. Cabe destacar que certificados não concedem titulação, apenas diplomas. Portanto, em termos legais, não existe o título de especialista. Os cursos stricto sensu possuem uma regulamentação bem mais complexa, baseada em um maior número de regras emitidas principalmente pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Os cursos de mestrado podem ser acadêmicos, com maior ênfase na formação para pesquisa, ou profissional, com maior articulação com o mercado de trabalho. A conclusão de qualquer uma destas modalidades habilita a dar continuidade no doutorado. A duração destes cursos não é em termos de carga horária, mas de extensão temporal: os cursos de mestrado têm duração de dois anos e os 13 de doutorado, de quatro. Estes cursos estão vinculados a um Programa de Pós-Graduação (PPG), composto por linhas de pesquisa que articulam os professores-pesquisadores que constituem o corpo docente, uma vez que cursos stricto sensu são indissociáveis da pesquisa. Todos docentes dos PPGs devem ter título de doutor e ainda cumprir exigências relacionadas com a pesquisa. Os cursos de mestrado e doutorado exigem que se cursem disciplinas e que se realize uma pesquisa que resultará em uma dissertação (no caso do mestrado) ou em uma tese (no caso do doutorado). Estes trabalhos são desenvolvidos sob a supervisão de um orientador. Os concluintes de cursos stricto sensu recebem um diploma, o que lhes concede o título de mestres ou doutores. A Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) mantém uma variada oferta de cursos de pós-graduação lato sensu na modalidade presencial em seus campi. Na modalidade a distância, oferece diversos cursos de extensão, muitos deles gratuitos (veja a oferta dos cursos de extensão), e cursos de especialização (veja a oferta de especializações). A ULBRA também mantém cursos de mestrado e doutorado presenciais no campus Canoas, entre eles os cursos do PPG em Educação e do PPG em Ensino de Ciências e Matemática (veja a oferta completa aqui). 14 REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CNE/CP nº 1, de 27 de outubro de 2020. Disponível em: <https://tinyurl.com/y2n6zhdl>. Acesso em: 18 jan. 2020. BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CNE/CP nº 2, de 20 de dezembro de 2019. Disponível em: <https://tinyurl.com/yb6dtyhj>. Acesso em: 18 jan. 2020. BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CNE/CS nº 1, de 6 de abril de 2018. Disponível em: <https://tinyurl.com/yyapfax7>. Acesso em: 18 jan. 2020. FELIPE, Eliana. Novas Diretrizes para a Formação de Professores: continuidades, atualizações e confrontos de projetos. ANPED, 29 jul. 2020. Disponível em: <https://tinyurl.com/yxn26snz>. Acesso em: 18 jan. 2020. PRADO, Douglas. Escolas normais no Brasil no período imperial (1835- 1889). Curitiba: Instituto Federal do Paraná, 2020. Disponível em: <https://tinyurl.com/y447hhxj>. Acesso em: 18 jan. 2020. TAFFAREL, Celi. Base Nacional Comum para Formação de Professores da Educação Básica (BNC-Formação): Ocultar, silenciar, inverter para o capital dominar. ANFOPE, 27 nov. 2020. Disponível em: <https://tinyurl.com/y4hvuwnr>. Acesso em: 18 jan. 2020. 15 TANURI, Leonor. História da formação de professores. Revista Brasileira de Educação, n. 14, p. 61-88, ago. 2000. Disponível em: <https://tinyurl.com/y28lm2ev>. Acesso em: 18 jan. 2020. 1 GESTÃO EM ESPAÇOS ESCOLARES E INSTITUIÇÕES EDUCATIVAS Karla Saraiva NESTE CAPÍTULO VOCÊ IRÁ APRENDER: ● A contextualizar historicamente o surgimento da gestão em ambientes educativos; ● A planejar processos de gestão em escolas e ambientes não escolares; ● A reconhecer a importância do planejamento e da gestão para o bom funcionamento dos ambientes educativos. INTRODUÇÃO Este capítulo trata da gestão em ambientes educativos. Ele começa fazendo uma breve discussão sobre o significado e a origem do conceito de administração, como este conceito aportou na área de Educação e como ele acaba por se transformar em gestão. 2 Após esta contextualização, o capítulo apresenta algumas diretrizes para a gestão escolar, tomando como base a ferramenta de gestão PDCA (planejar-implementar-monitorar-agir), destacando a importância do planejamento para o processo de gestão em suas múltiplas dimensões. O capítulo se encerra com algumas considerações sobre gestão em ambientes não escolares. Tendo em vista a multiplicidade de instituições que cabem nesta definição, são apontados os princípios gerais, que convergem para os princípios da gestão escolar. Bons estudos! GESTÃO EM ESPAÇOS ESCOLARES E NÃO ESCOLARES A noção de administração surge no início do século XX, no contexto da chamada segunda Revolução Industrial. Nesta época, vai se desenhando uma concepção de que as atividades produtivas só poderiam ser bem sucedidas a partir do desenvolvimento de um planejamento e da execução deste plano. O estadunidense Frederick Winslow Taylor é considerado o “pai da Administração” e suas obras inspiraram o modelo fordista de produção industrial, implantado em 1914, que consistia na decomposição da produção em tarefas simples, organizadas em uma linha de montagem. Também, nesta mesma época, o francês Henri Fayol desenvolveu estudos na área, porém seu foco não era a organização da produção, mas a direção da empresa (CUNHA, 2014). 3 Fábrica de automóveis Ford com organização taylorista (1934). Fonte: pxhere Gradativamente, esta ideia vai migrando para o campo educacional, consolidando o entendimento de que as escolas só teriam um bom funcionamento e alcançariam seus objetivos com ações administrativas. No Brasil, estas discussões se iniciam a partir de 1930. Nesta época, sob a presidência de Getúlio Vargas, o país inicia a implantação de políticas públicas nacionais na área de Educação e passa por um processo de modernização, com incentivos à industrialização do país, o que demandava o uso de técnicas administrativas. É neste contexto que Anísio Teixeira faz seus primeiros escritos sobre a administração da educação. 4 Entretanto, apesar de nos anos 1930
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