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Além da capacidade dos rins de controlar a pressão arterial por meio de alterações do volume do líquido extracelular, os rins têm também outro potente mecanismo de controle da pressão: o chamado sistema renina-angiotensina- aldosterona. A renina é enzima proteica liberada pelos rins quando a pressão arterial cai para níveis muito baixos. Sua resposta consiste em elevar a pressão arterial de diversos modos, contribuindo para a correção da queda inicial da pressão. Também chamado de sistema renina-angiotensina (RAS) desempenha um papel crucial na regulação da fisiologia renal, cardíaca e vascular, e sua ativação é central para muitas condições patológicas comuns, incluindo hipertensão, insuficiência cardíaca e doença renal. Quando o volume de sangue cai ou o fluxo sanguíneo para os rins diminui, as paredes das arteríolas glomerulares aferentes são menos distendidas e as células justaglomerulares dos rins secretam renina na corrente sanguínea. A estimulação simpática também estimula diretamente a liberação de renina pelas células justaglomerulares. A renina é sintetizada e armazenada em forma inativa chamada pró-renina nas células justaglomerulares (células JG) dos rins. As células JG são células musculares lisas modificadas, situadas principalmente nas paredes das arteríolas aferentes imediatamente proximais aos glomérulos. Quando a pressão arterial cai, reações intrínsecas dos rins fazem com que muitas das moléculas de pró-renina nas células JG sejam clivadas, liberando renina. A maior parte da renina é liberada no sangue que perfunde os rins para circular pelo corpo inteiro. Entretanto, pequenas quantidades de renina permanecem nos líquidos locais dos rins onde exercem diversas funções intrarrenais. Na sequência, a renina e a enzima conversora de angiotensina (ECA) atuam sobre seus substratos para produzir o hormônio ativo angiotensina II. A angiotensina II afeta a fisiologia renal de três modos principais: 1. Ela diminui a taxa de filtração glomerular, causando vasoconstrição das arteríolas glomerulares aferentes. A vasoconstrição se dá, de modo muito intenso, nas arteríolas e com intensidade muito menor nas veias. A constrição das arteríolas aumenta a resistência periférica total, elevando, dessa forma, a pressão arterial. Além disso, a leve constrição das veias promove o aumento do retorno venoso do sangue para o coração, contribuindo para o maior bombeamento cardíaco contra a pressão elevada. 2. Ela aumenta a reabsorção de Na+, Cl– e água no túbulo contorcido proximal, estimulando a atividade dos contratransportadores Na+ - H+. 3. Ela estimula o córtex da glândula suprarrenal a liberar aldosterona, um hormônio que por sua vez estimula as células principais dos ductos coletores a reabsorver mais Na+ e Cl– e a secretar mais K+. A consequência osmótica de reabsorver mais Na+ e Cl– é que mais água é reabsorvida, provocando aumento do volume sanguíneo e da pressão arterial. O experimento mostrado na Figura 1, demonstra o efeito da hemorragia sobre a pressão arterial em duas condições distintas: com funcionamento do sistema renina-angiotensina e sem seu funcionamento (o sistema foi interrompido por anticorpo bloqueador de renina). Após a hemorragia, suficiente para causar diminuição da pressão arterial para 50 mmHg, a pressão arterial se elevou novamente para 83 mmHg, quando o sistema renina-angiotensina estava funcional. Ao contrário, elevou-se apenas para 60 mmHg quando o sistema estava bloqueado. Esse fenômeno mostra que o sistema renina- angiotensina é suficientemente potente para elevar a pressão arterial, no mínimo, até a metade do normal alguns minutos após hemorragia intensa. Portanto, em alguns casos, esse pode ser o mecanismo salvador da vida para o corpo, em especial no choque circulatório. Ressalta-se também que o sistema vasoconstritor renina-angiotensina precisa de cerca de 20 minutos para ser ativado. Desse modo, seu controle da pressão arterial é mais lento que os reflexos nervosos e o sistema simpático norepinefrina- epinefrina. Figura 1. Efeito compensador da pressão do sistema vasoconstritor de reninaangiotensina após hemorragia intensa. FONTE: HALL, 2017 Entretanto, em algumas situações, são utilizados inibidores do sistema renina- angiotensina, particularmente inibidores de enzimas conversadoras de angiotensina (ECA) e bloqueadores receptores de angiotensina II, como no tratamento da hipertensão e três de suas principais complicações: infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca congestiva e doença renal crônica. O declínio da pressão arterial observada com inibidores de ECA parece ser principalmente devido à diminuição da formação de angiotensina II. REFERÊNCIAS • HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton & Hall tratado de fisiologia médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. • TORTORA, Gerard. J.; DERRICKSON, Bryan. Princípios de Anatomia e fisiologia. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. • FISHER, Naomi DL. Overview of the renin-angiotensin system. UPTODATE, 2020. • MANN, Johannes; HILGERS, Karl. Renin-angiotensin system inhibition in the treatment of hypertension. UPTODATE, 2020.
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