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1 Infâncias, juventudes e relações de gênero e sexualidades 2 Apresentação Este é o nosso Caderno de Estudos - Infâncias, juventudes e relações de gênero e sexualidades, material elaborado com o objetivo de contribuir para a realização e o desenvolvimento de seus estudos, assim como para a ampliação de seus conhecimentos. Os conteúdos foram organizados em unidades de estudo, subdivididas em capítulos de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, serão indicadas também fontes de consulta para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. ÍCONES Apresentamos inicialmente ícones que tem como função pedagógica e objetivam chamar a atenção do(a) aluno(a) para os conteúdos ou ações que o(a) mesmo(a) deverá desenvolver durante seus estudos, através desse material didático. 3 Provocação Apresentamos através desse ícon, textos que levam o(a) aluno(a) a fazer reflexões sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor/conteudista. Para refletir Questões e tópicos inseridos no decorrer do estudo, que tem por objetivos propiciar ao aluno(a) momentos de pausa e reflexão sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do/a aluno/a. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 4 Saiba mais Informações complementares que contribuem na construção das sínteses/conclusões sobre os conteúdos abordados. Sintetizando Texto que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo(a) aluno(a) sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos e conteúdos que o autor/conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo. Avaliação Questionário com 05 questões objetivas e/ou subjetivas, baseadas nos objetivos do curso e nos objetivos da disciplina, que oportunizam a verificação da aprendizagem dos capítulos e das unidades desse material didático. Para não finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o(a) aluno(a) a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 5 INTRODUÇÃO /PROVOCAÇÃO Como o próprio título da seção aponta, nosso objetivo será o de apresentarmos alguns conceitos existentes sobre adolescência. Para isso, relembramos autores como CAVALCANTI (apud VITIELLO, 1988), que afirma ser o conceito da adolescência variável de uma sociedade para outra, na medida em que os grupos humanos decidem, cada um em sua época, sobre como é “o agir adolescente”, ainda que, numa mesma cultura, esse referencial possa sofrer transformações ao longo do tempo. Margareth Mead (1945), ao pesquisar adolescentes samoanos, buscou verificar se as perturbações que afligiam os adolescentes americanos se deveriam à natureza do adolescente, ou aos efeitos da civilização. Essa autora, em seus estudos sob uma ótica antropológica, buscou confirmar que a adolescência não acontecia de modo igual em todas as culturas. Assim, características do comportamento adolescente não podem ser consideradas como inatas, pois deverão estar presentes no comportamento de indivíduos de um país e ausentes em outro, sendo, portanto, fruto de construção cultural. 6 Como você pôde perceber, dependendo da cultura de cada povo, do seu momento histórico, a adolescência poderá “chegar mais cedo ou mais tarde”. Por essa razão, o conceito não pode ser visto como universal, conforme também nos coloca o GTPOS – Grupos de Trabalhos e Pesquisa em Orientação Sexual (apud GEVAERD, 1999), pois o conceito do qual estamos falando, no momento, refere- se apenas “(...) à compreensão do fenômeno da adolescência, produzido pelas sociedades ocidentais, a partir do final do século XVIII”. Convém ressaltar ainda que “para analisar o comportamento desses indivíduos de forma mais precisa, é necessário situá-lo nos contextos de região geográfica, momento histórico, classe social, cultura, raça e gênero”. (p.36) Também ARIÈS (1986) vem confirmar que o conceito de adolescência surge em nossa cultura (ocidental) no século XVIII e que é, na realidade, concomitante ao momento em que também surge o conceito de infância, pois os sentimentos sobre a infância, a adolescência e até sobre família não existiam até o final desse século. Com base nas idéias expostas até aqui, você ficou sabendo que o conceito de adolescência, como o entendemos atualmente, é algo recente também em nossa cultura, e vários autores, ao transitarem na busca desses conceitos, não deixam de mencionar a necessidade de rever a história como elemento significativo para a compreensão do que se pensa acerca do adolescente hoje. É provável que você tenha utilizado acima algumas afirmações acerca dessa fase adolescente, usando expressões que comumente ouve em seu cotidiano. Nesse sentido, lembramos o que nos aponta a adolescência: que essa é a “idade da rebeldia”, do “aborrescente” etc. A autora chama-nos a atenção de que não podemos tomar essas expressões trazidas do senso comum como verdades fechadas sobre o adolescente, alertando-nos ainda de que nós, educadores, devemos cuidar com os rótulos, evitando, assim, discriminações e generalizações. 7 Nesse sentido, ARAÚJO (1993) também nos coloca que “a intensidade da crise do adolescente está ligada às tipicidades da cultura na qual se insere, à dinâmica de seu núcleo familiar e a sua história de vida”. Insistimos, portanto, na necessidade de olharmos a adolescência partindo do contexto socioeconômico- cultural em que se vive. Ementa: Este material didático discute a infância como construção histórica e social, na interface com o desenvolvimento infantil na atualidade e alguns dos principais aspectos a ele pertinentes, tais como sexualidades e construção de gênero na infância. Objetivos- - Discutir sobre as relações entre sexualidade, juventude e educação em uma perspectiva emancipatória; - Sugerir reflexões aos educadores para trabalharem através da ressignicação do conceito de sexualidade na escola a partir da realidade do aluno. 8 Unidade I - Juventudes e infâncias na escola: reflexões acerca da sexualidade Capítulo 1- Sobre a adolescência e sexualidade Achamos interessante apresentar, através do quadro que segue, vários outros olhares trazidos por diferentes autores: OUTROS OLHARES SOBRE A ADOLESCÊNCIA WUSTHOF, Roberto (1994) “Dizer que a adolescência ocorre entre os dez e os vinte anos seria uma forma muito simplista. Na verdade, compreende todo o tempo necessário para a criança se transformar em adulto, não apenas do ponto de vista biológico, mas também em termos psíquicos e sociais. Enquanto o jovem depender de seus pais, não terá concluído ainda a adolescência, que se caracteriza pela conquista da autonomia. Já para um menino de rua, a adolescência pode representar algo totalmente abstrato. Ele se vê obrigado a pular de maneira brusca para um mundo dos adultos em que reinam duras leis de sobrevivência” (p. 24). RAPPAPORT,Clara (2002) “Vergonha, dúvidas, desconhecimento, irreverência... A adolescência é marcada por fortes emoções e intensas transformações” (p.12). ROCHA, Gabriela (2002) “A adolescência é um processo que ocorre durante o desenvolvimento evolutivo do indivíduo, caracterizado por uma revolução bio-psico-social, e marcando a transição do estado infantil para o estado adulto”. (sd) ARATANGY, Ligia R (2002) “Não consigo imaginar maneira mais adequada de descrever a adolescência do que “período de confusão”: comportamento” (p. 94). TIBA, Içami (1994) Esse segundo parto vai ser a adolescência, na qual a criança nasce da família para a sociedade (p. 21). OLIVEIRA, Marta (2002) “A adolescência é um jeito da cultura ler a puberdade e estabelecer práticas e marcações”. (sd) Agora que já conversamos um pouco mais sobre a adolescência, sabemos que essa fase do desenvolvimento precisa ser pensada sempre como uma construção cultural. Vamos encerrar essa etapa da nossa conversa com o que nos aponta CAVALCANTI, citado por MELO e POCOVI, (2002): 9 Não é, portanto, a adolescência apenas uma forma determinada faixa etária com suas mudanças biológicas, já que idade e tempo são apenas pontos de referência, uma espécie de pano de fundo onde o fato social ocorre. Atentando para a importância sociocultural desta mesma fase de vida, alerta-nos, ainda o mesmo autor que “é impossível compreender o adolescente sem considerar o background cultural em que ele vive, da mesma forma que é impossível se entender a cultura sem conhecer os indivíduos que a praticam (p.16). Nesta citação, você pode observar uma afirmação de que a adolescência não é apenas uma fase de mudanças biológicas, ainda que ocorram. Mas, paralelo ao entendimento do que seja adolescência (construto social), temos de aprofundar, também, um pouco o conceito de PUBERDADE, como nos apontam MELO e POCOVI, (2002) que afirmam que “o que é comum a todos os jovens, em todas as épocas, em todas as culturas, é o que denominamos “puberdade”, que é a maturação do plano biológico” (p.16). PUBERDADE E A ADOLESCÊNCIA O corpo infantil vai se transformando em corpo de homem jovem ou mulher jovem. Tudo isso acontece por causa dos hormônios sexuais que começam a agir durante essa fase, e que, dentre outras mudanças, estimulam os ovários e amadurecem os óvulos e os testículos a produzirem os espermatozóides. Segundo WÜSTHOF (2002): Como o beijo do Príncipe que despertou a Bela Adormecida, os hormônios sexuais entram em ação para acabar com a hibernação do corpo infantil. Durante toda a infância, os ovários e os testículos pareciam adormecidos. De repente, com a chegada da puberdade, começam a dar sinais de vida. Na verdade, mesmo as crianças pequenas produzem hormônios sexuais, só que em níveis tão baixos que não provocam efeitos visíveis. (p. 24). O autor nos permite pontuar que, independentemente da fase cronológica do ser humano, somos sempre sujeitos sexuados. Porém, é na puberdade que o desejo sexual começa a se manifestar intensamente, tornando as manifestações da sexualidade mais explícitas nesse aspecto. 10 Vamos perceber que, na literatura, quando buscamos uma determinação cronológica para o início dessas mudanças biopsicológicas, encontramos variações de afirmações, o que nos permite apontar que, em média, os hormônios começam a agir no corpo da menina entre 10 e 12 anos e no do menino entre 12 e 14 anos. Mas essas mudanças não acontecem ao mesmo tempo para todos, e é muito importante que os púberes tenham clareza desse fato, evitando que se sintam “diferentes” dos colegas que já entraram nessa fase. Como nos coloca SUPLICY (1998, p.19), “não faz diferença para o funcionamento sexual futuro, se você se desenvolveu cedo ou tarde”. Alguns autores destacam as dificuldades pelas quais o púbere passa, pois seu corpo sofre modificações amplas e desordenadas com o crescimento acelerado (que pode chegar a 10 cm num ano) que fazem com que ele se sinta perdida em relação a esse corpo. Por não estarem ainda muito adaptados ao novo corpo, os púberes podem apresentar uma desorientação espacial e podem tornar- se desajeitados, estabanados, derrubando tudo, tropeçando em todos. Com base em autores como SUPLICY (1998), RAPPAPORT (2002), WÜSTHOF (2002) e TIBA (1993), elaboramos o quadro a seguir com as principais mudanças biológicas características da puberdade em meninos e meninas: PUBERDADE NOS MENINOS PUBERDADE NAS MENINAS Nos meninos, as mudanças físicas mais marcantes são: Nas meninas, as mudanças físicas mais marcantes são: O início do crescimento dos testículos e da bolsa escrotal; O crescimento dos seios; O nascimento dos pêlos pubianos; O aparecimento de pêlos pubianos; As primeiras mudanças na voz; As mudanças no contorno do corpo: alargamento dos quadris; A primeira ejaculação; A menarca, nome dado à primeira menstruação. O aparecimento de pêlos axilares e da barba. 11 Outro aspecto que achamos importante destacar aqui se refere às mudanças no intelecto do jovem durante a puberdade. A teoria de Jean Piaget, biológico e fundador de uma epistemologia genética, que estudou a origem das estruturas cognitivas, em suas aplicações sobre o desenvolvimento da inteligência, afirma que, nessa fase, inicia-se a passagem do pensamento concreto para o pensamento abstrato. Conforme MENDES (et. al, 2002, p.27), trata-se do período operatório formal, que corresponde à fase dos 11 aos 15 anos. Nessa fase, parece haver uma série de acréscimos no rendimento psíquico. O intelecto pode apresentar maior eficácia, rapidez e elaborações mais complexas, a atenção pode se apresentar com aumento da concentração e melhor seleção de informações, a memória pode adquirir melhor capacidade de retenção e evocação, a linguagem pode tornar-se mais completa, com o aumento do vocabulário e da expressão. Já para VYGOTSKY (1996), na adolescência a fantasia irá ocupar lugar primordial para o pensamento, pois o adolescente, nessa fase de transição, passa a separar a imaginação subjetiva e objetiva, onde uma parte da fantasia se colocará a serviço da sua vida emocional, surgindo, assim o pensamento exclusivo para si. Podemos dizer que, na adolescência, há uma nova forma de organização do mundo psicológico, onde o pensamento e a imaginação emancipam-se dos limites que são característicos na criança. Dado a avançado momento de incorporação da cultura a seu funcionamento cognitivo, o adolescente agora pode pôr fantasia a serviço da sua vida emocional, constituindo-se, assim, novas formas de compreender e atuar no mundo, mais conscientes e deliberadas. Algumas pesquisas vêm sendo realizadas com intuito de compreender a questão da adolescência “precoce”. Tais pesquisas destacam, como algumas das possíveis causas dessa precocidade, as hipóteses a seguir: 12 • O bombardeio de imagens eróticas pelas multimídias; • A indústria de consumo com muitos de seus produtos voltados especificamente para essa fase. Autores como LEVISKY (1998) reforçam a questão da influência de imagens eróticas pela mídia no desenvolvimento “precoce” da adolescência, fazendo-nos refletir a partir da seguinte indagação: “Se a propaganda da Coca-cola e da Xuxa aumentam o poder de vendas, por que este volume de cenas violentas e eróticas não irá causar algum grau de influência no comportamento de criança e do adolescente para não dizer de todos nós?” (p.155) Existem também alguns estudos que apontam para a possibilidade de estar sendo precoce também a puberdade, em nossos dias. Muitos colocam como uma possível causa dessa precocidade, a ser estudada, a influência da alimentação rica em hormônios e outros produtos químicos. Relacionamos aqui apenas algumas das hipóteses existentes referentes às várias transformações vivenciadaspelos jovens com a chegada da puberdade e da adolescência, já que ambas, hoje, vêm sendo alteradas na cronologia que parecia ser o padrão até então. REFLETINDO UM POUCO SOBRE A QUESTÃO DE GÊNERO Durante muito tempo as diferenças físicas/biológicas entre homens e mulheres foram utilizadas para justificar as desigualdades nos papéis sexuais e nas relações sociais entre os mesmos. As diferenças sexuais, ou seja, o sexo biológico, determinava os papéis sexuais. Aos homens eram determinados os papéis de fortes, corajosos, determinados, responsáveis, seguros, menos emotivos etc. Para as mulheres, os papéis eram os voltados à submissão, delicadeza, sensibilidade, maternagem, fraqueza etc. 13 As diferenças físicas/biológicas expressas em papéis sexuais determinados, foram fazendo com que as desigualdades sociais nas relações entre homens e mulheres passassem a ser consideradas “naturais”. A partir de alguns movimentos sociais, dentre eles o Feminismo, as mulheres começaram a questionar essa “naturalização” dos papéis instituídos a partir do sexo biológico. Contribuindo com esses questionamentos, estão os estudos etnográficos de antropólogos, dentre eles Margaret Mead. Em seu livro Sexo e Temperamento, MEAD (1988), ao estudar a cultura de diferentes tribos da Nova Guiné, identificou que os papéis considerados “naturais” em homens e mulheres na cultura americana, não puderam ser identificados na cultura de algumas destas tribos, desconstruindo, assim, essa “naturalização” dos papéis sexuais. As feministas, questionando a “natural” inferioridade das mulheres, introduziram, nas ciências humanas e sociais, uma nova proposta de estudo das relações entre homens e mulheres, denominada gênero. Segundo MEDRADO (1997), o conceito de gênero surge como tentativa de aglutinar interesses comuns e ampliar a compreensão das relações entre os sexos, apoiando-se na idéia de que existem machos e fêmeas na espécie humana, mas, principalmente que a qualidade de ser homem e ser mulher é definida em termos da relação entre ambos e do contexto sócio-histórico mais amplo, em que coexistem outras categorias, tais como raça, idade, classe social. (p.25) Os estudos de gênero vieram nos esclarecer que as diferenças entre homens e mulheres são construídas a partir de um corpo biológico que é significado na cultura. Isto vai determinar e ser determinado ao mesmo tempo, pelo modo de vestir, de falar, de andar, de se comportar etc., esperados por homens e mulheres em uma dada cultura, em um momento histórico específico. “... O termo ‘gênero’ torna-se uma forma de indicar ‘construções culturais’ – a criação inteiramente social de idéias sobre os papéis adequados aos homens e às mulheres”. (SCOTT apud MEDRADO, 1997, p.31). 14 Na caminhada de reflexões que estamos fazendo com você, é preciso reforçar que o entendimento do que seja gênero vai além das diferenças físicas entre meninos e meninas, pois a partir dessas diferenças físicas se constroem saberes que vão REPRODUZIR ou TRANSFORMAR as relações entre masculino e feminino, procurando determinar socialmente os papéis sexuais de cada um. Esse construto sociocultural seria a base do conceito dinâmico de gênero. Então, a partir das diferenças sexuais construídas historicamente, buscaremos entender o que acontece com nossos adolescentes em seu contexto social, pois sabemos que, culturalmente, existem diferentes expectativas em relação ao comportamento de meninos e meninas. Por exemplo, na cultura ocidental, se formos buscar a literatura a respeito da puberdade, veremos que há um número maior de referências à questão da puberdade das meninas do que dos meninos. Isso nos permite dizer que, de certa forma, fala-se pouco hoje, por exemplo, sobre as transformações do corpo do menino durante a puberdade, dando a falsa impressão de que ele estaria mais “seguro” do que as meninas. No entanto, os garotos ficam tão curiosos e apreensivos quanto elas também precisam de informações e apoio nessa passagem de um corpo de criança para um corpo de adulto jovem. Aqui nos deparamos com um problema: a maioria dos pais/mães e dos professores parecem não ter informações suficientes para orientar os adolescentes hoje. É raro o pai, a mãe ou professor que consiga explicar, por exemplo, a razão da polução noturna dos meninos. As mães ou professoras, na maioria das vezes, sabem menos ainda. Muitas não se sentem à vontade para falar sobre questões como masturbação e ejaculação, entre tantas outras. Além disso, muitas dessas transformações fisiológicas podem passar despercebidas pelas mães, por serem menos visíveis nos meninos. Há, ainda, a hipótese de que algumas mães tendem a tendem a infantilizar seus filhos, o que lhes favorece muito, pois não tem de enfrentar as mudanças e curiosidades provocadas nesta fase. 15 Destacamos, também, a pressão que os meninos sofrem da sociedade, que espera deles, ao passarem por todas essas transformações, que sejam fortes e “machos”. Ao viverem sob a pressão da virilidade e do poder, os meninos, muitas vezes, ficam prejudicados na sua liberdade de expressão e acabam deixando as questões da afetividade em segundo plano. Falam com tranqüilidade sobre “sexo”, “mulher pelada” etc. Porém, dividir seus medos, ansiedades e angústias é muito difícil e complicado, como podemos perceber em RIBEIRO (1990): “muita gente fala que o menino (homem) é superior, melhor que a menina (mulher). Que ele, (...), é mais esperto, corajoso e inteligente. ‘Homem se vira em qualquer lugar!’ (p. 14).” Afirmações como essas, segundo POLLACK (1999), colocam os garotos e os homens “numa camisa-de-força sexual que constrange não só a ele, mas a todos como seres humanos (...)” (p.30), fazendo com que garotos se tornem “insensíveis”, incapazes de entrar em contato com os seus próprios sentimentos. Com relação às garotas, existem preocupações diferentes, como já mencionamos. Uma delas é a não aceitação, por parte do mundo adulto, de que a partir dessa fase, elas terão despertado o interesse pela vivência do sexo. Nesse sentido, há todo um processo de “educação sexual”, através do qual, na maioria das vezes, as meninas são educadas para reprimirem seu desejo sexual e ainda para controlarem o desejo do garoto. Isso acaba gerando temores e culpas, por exemplo, com relação a sua primeira transa, que acontece quase sempre às escondidas, culminando, muitas vezes, com a impossibilidade por parte das garotas de se prevenirem contra DSTS/AIDS e contra a gravidez não planejada. Isso porque, ainda dentro desse processo de “educação sexual”, ainda recai sobre as garotas, o peso e a responsabilidade do uso dos métodos contraceptivos. 16 Os poucos aspectos que procuramos ressaltar com relação às diferentes expectativas entre garotos e garotas, relacionados às questões de gênero já apontadas, acabam por evidenciar a necessidade de nós, educadores, termos, cada vez mais, clareza sobre essas questões para podermos convidar os adolescentes a refletirem sobre elas e a se darem conta das possibilidades de superação das desigualdades sociais geradas por essas diferenças sexuais. Mas não podemos pensar a possibilidade de superação desses entraves junto os adolescentes sem compreendermos um pouco melhor a constituição da sua identidade, para, a partir daí, cada vez mais, investirmos em um diálogo franco que possa qualificar ainda mais nossa convivência com eles. Isso é o que propomos a você no próximo capítulo: refletir um pouco sobre a construção da identidade adolescente. CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE X MANIFESTAÇÕES DA SEXUALIDADE ADOLESCENTE Compreender a construção da identidade do adolescente, também significa buscar entender um pouco mais o conceito de identidade, aquilo que se configura ser identidade de um sujeito no mundo. No DicionárioUniversal da Língua Portuguesa (s/d), encontramos o significado da palavra identidade como “originada do latim, cujo significado refere- se à qualidade do que é idêntico; paridade absoluta; analogia; conjunto de elementos que permitem saber quem uma pessoa é.” O conceito de identidade apontado pelo dicionário vem reforçar a ideia que tínhamos sobre a existência de uma única identidade para todos, fato questionado por Drumond no poema que você leu, quando este desconfia desta “igualdade”, concluindo com a afirmação: “Ninguém é igual a ninguém. Todo ser humano é um estranho ímpar”. 17 Atualmente, nas Ciências Humanas e Sociais há uma tendência a considerar que somos portadores de várias identidades, como nos aponta LAGO (1999), afirmando que “vários cientistas sociais dão como tácita a noção de que somos portadores, cada um de nós, na condição pós-moderna, de inúmeras identidades” (p. 120). Mas esta autora, ao fazer alusão a esses cientistas, discorda dos mesmos, apontando que a noção de muitas identidades para um único sujeito poderia negar a existência de uma identidade singular presente em cada sujeito histórico e social. Com essas colocações, percebemos que falar de construção da identidade adolescente será, pois, atentar para as várias identificações presentes nessa fase do desenvolvimento (os costumes, o modo de se vestir, falar, agir, etc.), mas sem perder de vista a compreensão de singularidade do adolescente. Consideramos importante, enquanto educadores, termos, no mínimo, essa clareza, evitando, assim, que continuemos a reforçar estereótipos do senso comum, que consideramos os adolescentes como sendo todos iguais. Não podemos negar as semelhanças entre os membros deste grupo, os fatores de identificação entre eles, sem, no entanto, deixar de considerar a dimensão única de cada sujeito ao se constituir. E é o que faremos ao aprofundarmos a reflexão sobre a adolescência. Certamente é nessa fase que, a partir da puberdade, com suas mudanças biológicas e seus reflexos, vão ser explicitadas cada vez mais as questões relacionadas à inclusão do adolescente no mundo adulto (sexualidade, escolha da carreira e/ou entrada no mundo do trabalho, etc). Essa inclusão no mundo adulto pode vir a caracterizar o que para ERIKSON (1987), em nossa cultura chamamos de “crise”. Este autor afirma que a adolescência é um período de crise, o ponto de desenvolvimento em que há a necessidade de optar por uma direção ou outra, buscando os recursos para o crescimento e o início da vida adulta. ERIKSON cita 18 ainda JAMES(s/d), que aponta para identidade enquanto aquela voz interna que diz “isto é o que realmente eu sou” (p.17); o adolescente já não possui mais um corpo de criança, nem tão pouco o de um adulto; não é e não será mais reconhecido como criança, porém, muitos ainda não encontraram culturalmente espaço para serem tratados como sujeitos adultos. Outro autor que vem nos auxiliar na compreensão da adolescência é HUERRE (1998) que, ao olhar a identidade do adolescente, afirma ser esta fase de desenvolvimento uma travessia em que o adolescente, mesmo diante do desejo de uma navegação solitária, precisa que o acompanhem. Vivência, assim, o paradoxo de querer ser ouvido em suas reivindicações e a expectativa de que não levem suas intenções tão a sério. Para esse autor, é importante que o adolescente possa ter em seus pais (e/ou responsáveis) referencial diante das suas experiências, e sentir a confiança destes em suas transformações, dando- lhes, também, limites. Alerta-nos que, na atualidade, diante do ritmo das transformações socioeconômica-culturais, os adolescentes correm o risco de ficar sem referencias, sem modelos a serem seguidos. Ao seu ver, o passado auxilia o adolescente a realizar suas escolhas no presente. Portanto, conhecer a história da geração de seus familiares contribui na construção da sua história pessoal. Gostaríamos de lembrar que precisamos entender melhor a construção da identidade, como um processo que ocorre em cada um de nós; desde o nosso nascimento até a nossa morte. E, deixamos a sugestão que você leia o livro de ERIK ERIKSON, Identidade, juventude e crise. (Rio de Janeiro: Guanabara, 1987), como sugestão. Como já apontamos acima, uma das questões importantes presentes na construção da identidade do adolescente está relacionada a sua sexualidade. Nesse sentido, destacamos a dificuldade dos adultos, presente no cotidiano dos adolescentes, de lidarem com a possibilidade destas vivenciarem o sexo e de falarem abertamente sobre suas dúvidas. Cabe-nos salientar aqui que, na 19 qualidade de educadoras (professores/as, pais, mães, responsáveis), há a necessidade da superação dessas dificuldades, pois é de suma importância um diálogo sempre aberto sobre as possíveis dúvidas e receios dos adolescentes. A escola acaba sendo um desses espaços concretos, em que aparecem, mais claramente nas manifestações da sexualidade do adolescente. Pensamento na construção da identidade adolescente, a partir das várias transformações físicas, psíquicas e emocionais presentes nessa fase de desenvolvimento, quais são as manifestações da sexualidade mais comuns escolar? Como nós educadores poderíamos estar tentando lidar com essas manifestações de uma maneira mais tranqüila? 20 Texto de apoio Sexualidade Na Adolescência INTRODUÇÃO O tema escolhido foi “Educação Sexual – Sexualidade na Adolescência”, tendo como problemática “Como trabalhar a sexualidade dos jovens na adolescência”? Para Santos (1994), a pertinência da extensão enquanto função, ou seja, numa situação ideal, a relação com a realidade social já estaria presente na prática do ensino e da pesquisa. Percebemos em nosso dia a dia o anseio da comunidade em orientar os jovens com relação à sexualidade. Por isso sentimos a necessidade de pesquisar e buscar alternativas para colaborar com a formação integral dos adolescentes da comunidade. Alem disso, pretendemos ajudá-los a esclarecer suas duvidas para que adquira maior confiança em si próprio. Ainda nos dias de hoje, é tão difícil falar sobre sexo e sexualidade, mesmo estando este tema estampado em programas de televisão, músicas, revistas e tantas outras maneiras, que fazem parte do dia a dia e da nossa realidade. As famílias não oferecem formação a seus filhos, deixando-os que aprendam tudo na escola, ou muitas vezes com pessoas de má intenção, tendo a possibilidade de aprenderem de maneira extremamente errada, causando nestes jovens preconceitos e tabus, para isso foi necessário que chegássemos bem próximos destes alunos para sabermos suas reais curiosidades, deixando ai 21 sugestões e atividades de como poderá ser trabalhada a sexualidade nas escolas e até mesmo dentro do seio familiar. Mesmo a sexualidade sendo um assunto proibido para diversos adultos, não podemos cobrar deles mais informações, porque a educação que eles receberam sobre sexualidade leva-os a não se sentirem à vontade para falar sobre o assunto. Alguns pais não falam sobre sexualidade por medo, por não considerarem assunto para crianças e por outras razões diversas, muitas vezes pela própria educação que tiveram. A confusão forma-se na cabeça das crianças, quando os pais escondem ou inventam algo sobre o sexo, muitas vezes evitando falar sobre o assunto, criando verdadeiros tabus. Meninos e meninas acabam procurando respostas para suas curiosidades, das diversas maneiras nem sempre corretas, através de revistas, filmes e conversas com determinados “amigos” não obtendo na maioria das vezes respostas corretas e objetivas. Segundo Tiba (1998, p. 32) “ensinar é um gesto de generosidade, humanidade e humildade”. É necessário que os pais e professores se conscientizarem que independente da idade, a sexualidade está presente e as dúvidasdevem ser esclarecidas e discutidas, de maneira objetiva, simples com humildade, pesquisando quando as questões apresentadas pelos filhos e alunos fugirem ao conhecimento dos pais. Para tanto, com esse projeto queremos contribuir na formação do sujeito, como ser completo, não apenas no conhecimento intelectual, mas que ele possa se perceber como ser integral, com suas emoções, comportamentos, e que o mesmo possa a vir somar com as experiências e questionamentos do nosso projeto, mudando a sua trajetória de vida, não se deixando levar apenas por emoções, fantasias, ou impulsos que mais tarde poderá acarretar em danos para sua personalidade, criando gravidez indesejada, doenças e etc. Em decorrência deste bairro, também se observa que os jovens são levados para outros caminhos que não são adequados para sua idade e nem pra vida de qualquer ser humano, como criminalidade e outros. Já na escola o comportamento destes jovens e 22 adolescentes é bastante prematuro, pois estão sempre voltados à promiscuidade, com palavrões, gestos obscenos. Objetivou-se buscar alternativas de orientação aos jovens no sentido de suprir os questionamentos levantados por eles, pesquisar conjuntamente novas maneiras de abordar a temática da sexualidade com os adolescentes, orientar os jovens com relação ao reconhecimento sexual, colaborando com a formação integral dos adolescentes da comunidade. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A discussão sobre a inclusão da sexualidade no currículo das escolas tem se intensificado a partir da década de 70, por ser considerada importante na formação global do indivíduo. As manifestações de sexualidade afloram em todas as faixas etárias. Ignorar, ocultar ou reprimir são as respostas mais habituais dadas pelos profissionais da escola. Estas práticas se fundamentam na idéia de que o tema deva ser tratado exclusivamente pela família. Os PCNs definiram a orientação sexual como um dos temas transversais que devem perpassar toda concepção e estruturação do ensino fundamental e médio em nosso país. A educação sexual escolar sempre foi objeto de polêmica em nossa tradição educacional. A escola brasileira pública e privada, sempre manteve este tema distante de seus procedimentos curriculares e responsabilidades institucionais. (NUNES, 2000, p. 13). De acordo com Sampaio (1995), a sexualidade deve ser orientada de forma a preparar o individuo para a vida, porém para educar é preciso que o educador esteja preparado para tal tarefa. Busca se considerar a sexualidade como algo inerente a vida e a saúde, que se expressa desde cedo no ser humano. Engloba o papel do homem e da mulher, o respeito por si e os estereótipos atribuídos e vivenciados em seus relacionamentos, o avanço da AIDS e da gravidez indesejada na adolescência, entre outros que são problemas atuais e 23 preocupantes. Todos esses fatores denotam uma necessidade cada vez maior da inclusão da temática sexual no currículo escolar. Para a sexóloga Suplicy (1983), é no lar que o ser humano deveria ter sua primeira educação sexual, uma criança falante e curiosa pode começar a mostrar interesse pelo sexo aos dois ou três anos, mesmo sem o uso da palavra. A maioria o fará com quatro ou cinco anos de idade. Nesta fase o que a criança quer saber é muito pouco, não é preciso explicar detalhes, mas também não minta, não brigue, não desconverse, explique o básico na linguagem que ela puder entender. Segundo Freud (1939), a teoria do inconsciente permitiu o entendimento da formação de traumas no indivíduo, na investigação da origem dos traumas ele estudou a criança e descobriu que o início das neuroses está na repressão sexual sofrida pelos indivíduos ainda na fase infantil da vida. Podemos entender a repressão mental como processo que exclui da consciência sensações ou lembranças desagradáveis que são remetidas ao inconsciente. O instinto sexual de todos os instintos humanos é o mais reprimido pela cultura e também o que mais amplamente se manifesta seja por via neurótica ou sadia, tamanha é a sua força. Para tanto, [...] O modo de proceder dos doentes em nada facilita o reconhecimento da justeza da tese que estamos aludindo. Em vez de nos fornecerem prontamente informações sobre a vida sexual, procuram por todos os meios ocultá-la. Em matéria sexual os homens são em geral insinceros. Não expõem a sua sexualidade francamente; saem recobertos de espesso manto, tecido de mentira, para se resguardarem, como se reunissem um temporal terrível no mundo da sexualidade. E não deixam de ter razão; o sol e o ar em nosso mundo civilizado não são realmente favoráveis a atividade sexual (FREUD, 1970, p. 38-39). Fagundes (1995) acredita que se uma criança não tem desde cedo um esclarecimento sobre assuntos ligados ao sexo, não compartilha seus medos e ansiedade com seus pais. E os pais não lhe dão apoio nas suas descobertas, certamente ela será um adolescente carregado de dúvidas buscando em revistas e conversas com amigos o entendimento deste processo e, provavelmente, um adulto com complexos, culpas e preconceitos, a sexualidade infantil estabelece as 24 bases para sexualidade na adolescência e para a sexualidade na vida adulta. Para Souza (1991) Educação Sexual é: Oferecer condições para que um ser assuma seu corpo e sua sexualidade com atitudes positivas, livre de medo e culpa, preconceito, vergonha, bloqueios ou tabus. É um crescimento exterior e interior, onde há respeito pela sexualidade do outro, responsabilidade pelos seus atos, direito de sentir prazer, se emocionar, chorar, curtir sadiamente a vida. É ter direito a esse crescimento com confiança, graças às respostas obtidas aos seus questionamentos, podendo criticar, transformar valores, participar de tudo de forma sadia e positiva, sempre buscando melhores relacionamentos humanos. (p. 18) A questão dos preconceitos que envolvem a sexualidade não tem origem na criança, mas no mundo e sociedade onde esta criança vive. É muito difícil trabalhar a sexualidade, pois mexemos com a nossa sexualidade, com nossos conceitos em relação a ela. A educação sexual passa pela educação do educador. O professor deve estar consciente da beleza e dignidade do sexo. Deve encarar com tranqüilidade a curiosidade da criança. A ausência de uma atitude, uma fala natural sobre a sexualidade vai gerar na criança a ansiedade de saber que o fará buscar a satisfação de suas curiosidades em outras fontes nem sempre recomendáveis. A criança usa muito seu corpo para expressar os seus desejos, seus anseios, seus sentimentos relacionando-se com o ambiente ao seu redor. Porto (1995, p 25) diz: É com o corpo que sou capaz de ver, ouvir, falar, perceber e sentir as coisas. O relacionamento com a vida e com os outros corpos dá-se pela comunicação e pela linguagem que o corpo é e possui. Esta é a minha existência, na qual tenho consciência do meu eu no tempo e no espaço. O corpo ao expressar seu ser sensível, torna-se Todo o sujeito tem seu mundo construído a partir de suas próprias experiências corporais. As brincadeiras ou jogos sexuais entre as crianças são muito importantes, pois servem para atender às necessidades sexuais das mesmas. Nas crianças as brincadeiras sexuais são freqüentes e satisfazem a sua curiosidade de ver e tocar o corpo do outro, de ver se é de outro sexo ou de conferir, se o corpo do outro é igual ao seu. Esta descoberta dá prazer físico e emocional. É uma fase transitória e normal entre crianças da mesma idade e não dever ser punida. 25 O contexto e a valorização das atividades sexuais dependem das condições socioeconômicas e socioculturais, divergindo entre adolescentes do sexo masculino e feminino. Nos adolescentes masculinos, freqüentemente, se aceita que eles tenham um forte instinto sexual e a necessidade de fazer experiências na área sexual. Quase não existem restrições,pelo fato de que as conseqüências não desejadas só aparecem nas mulheres. A sociedade, genericamente, aprova as atividades sexuais das jovens mulheres casadas com menos de 20 anos de idade. A gravidez é desejada, sendo o objetivo principal ter filhos e criá-los. Porém, na maioria das sociedades desaprova-se as atividades sexuais antes do casamento. Neste caso, a gravidez não é desejada. No período entre a menarca e o casamento é de praxe controlar as atividades sexuais e possíveis conseqüências indesejadas, com ajuda de uma série de regras e hábitos. O desaparecimento dos valores tradicionais, as atrações do mundo consumista urbano e as condições econômicas reais nas cidades favorecem tanto as relações sexuais pré-matrimoniais com diferentes parceiros quanto a prostituição juvenil. A melhoria das possibilidades de educação para os adolescentes, como também as razões econômicas resultam no aumento da idade para o casamento. Daí aumentam as relações pré-matrimoniais com as suas conseqüências negativas: gravidez não desejada e aborto. Cada vez mais a escolha do parceiro, anteriormente assunto acordado entre as famílias, é assumida pelos próprios jovens. Isto, por sua vez, favorece que se tenham relações sexuais com diferentes parceiros para encontrar o certo. METODOLOGIA Para que nos fosse possível buscar respostas ao problema colocado, realizamos uma investigação qualitativa que o propósito fundamental da pesquisa 26 qualitativa é a compreensão, explanação e especificação do fenômeno social. O foco desta pesquisa é a construção do significado. “Ela se preocupa, nas ciências sociais com o nível de realidade que não pode ser quantificado.” Minayo (2001, p.21). Segundo LÜDKE E ANDRÉ (1986), a pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador, como o seu principal instrumento. A pesquisa qualitativa supõe o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo investigada. A pesquisa foi desenvolvida através de uma pesquisa participativa. Pesquisa-ação. Para THIOLLENT (2000), a pesquisa ação e um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo. A abordagem desta pesquisa qualitativa refere-se ao ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como principal instrumento. Há neste tipo de pesquisa maior preocupação com o processo do que o produto, a análise e a interpretação dos dados tendem a seguir um processo indutivo. A pesquisa foi realizada na Comunidade Castelo Branco localizada na cidade de Júlio de Castilhos, Rio Grande do Sul, envolvendo jovens que freqüentam a escola daquele bairro. Esta pesquisa teve como um dos instrumentos de coleta de dados, a entrevista, desenvolvida de uma forma dinâmica, através de uma caixinha para tirarem suas dúvidas, onde os alunos escreveriam seus questionamentos e colocariam dentro da caixinha para posteriormente serem analisadas. Para LAKATOS (2003, p.37) “entrevista é um encontro entre duas pessoas, afim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional”. Nesta pesquisa foi definida à entrevista estruturada que para LIMA (2001, p.42) “caracteriza-se pelo fato de, no momento da entrevista, o entrevistador e o contato se orientar por um roteiro previamente elaborado e conhecido. Esse roteiro deve ser enviado antecipadamente para o entrevistado e preparar-se para responder as questões propostas” e a semi- 27 estruturada “que visa explorar amplamente uma questão sem necessariamente impor limites e direção à comunicação estabelecida entre o pesquisador e o contato”. É importante que as questões das crianças tenham espaço para serem colocadas e respondidas com clareza, simplicidade, à medida que esta curiosidade vai surgindo, vamos tentar saná-las de modo que possam adquirir confiança em nós. Para isso foi oferecida uma palestra com uma enfermeira de Santa Maria, na intenção de colaborar com estes jovens e adolescentes, sanando suas dúvidas e curiosidades. RESULTADOS E DISCUSSÕES Conforme explicitado na introdução deste trabalho, este item, destinado à apresentação e discussão dos resultados obtidos a partir da aplicação dos instrumentos da pesquisa, segue-se a seguinte estrutura: em um primeiro momento sentimos um certo receio em concluir esta pesquisa, devido os alunos dizer saber tudo sobre sexo, não querendo sequer escrever algumas dúvidas, diziam saber tudo. Com isto tivemos de ter uma conversa mais informal, estimulando-os e explicando, que nós éramos adultos e tínhamos muitas dúvidas, imaginem se eles também não iriam ter. Também ressaltamos que as perguntas eram secretas e que ninguém a não sermos nós ficaríamos sabendo. Já num segundo momento a resposta deles para contribuição de nossa pesquisa foi bárbaro e muito gratificante para realização deste projeto. Aí foi que deixamos a caixinha no corredor da escola para que cada aluno formulasse sua pergunta e depositasse na caixinha. Os dados, quanto ao nível das perguntas, reforçam que eles têm diversas dúvidas e que deve ser sanado o mais rápido possível. Os alunos da 5ª série, por volta de 12 anos, apresentaram preocupação de como se faz sexo, tendo dúvidas de como faz o sexo em si e abrangendo curiosidades sobre o uso correto da camisinha. 28 O resultado da pesquisa na 6ª série por volta dos 13 anos aponta para a curiosidade maior sobre as funções do corpo, preocupando-se com a menstruação, doenças sexualmente transmissíveis, masturbação e gravidez. Persistem ainda, muitos equívocos dos pais, na forma como eles lidam com esta questão. É comum encontrarmos pais que se espantam ao se defrontarem com seus filhos se masturbando, ou que explicam com meias palavras e verdades as clássicas perguntas infantis sobre a origem dos bebês. A masturbação é uma atividade sexual que traz prazer e alívio de tensões, além de concorrer para o conhecimento do próprio corpo, consiste na autoestimulação dos genitais em busca de prazer, do orgasmo. Segundo CALDERONE, & RAMEY (1986) “Crianças de tenra idade experimentam um certo prazer através do ato de urinar ou defecar, podendo querer brincar com sua urina ou fezes. Podem também apreciar, examinar seus próprios genitais ou de seus amiguinhos” (p.31). De acordo com BARROSO, & BRUSCHINI (1985) “A criança brinca com seu próprio corpo desde pequenina, explora cada parte dele e por sua vez, se detém nos genitais. Descobre que o corpo é fonte de prazer e gosta das sensações que obtém” (p.29). Logo, estas experiências precoces serão à base de uma sexualidade sadia no futuro. A masturbação não provoca nenhum efeito físico significativamente diferente das outras atividades sexuais, é um processo normal de maturação sexual e aceitação de si mesmo como seres sexuais. A professora deve transmitir ao aluno, que se masturba na sala de aula, que esta é uma atividade particular e privada. O conhecimento do corpo através do prazer é um direito da criança, mas é necessário aprender também, a enfrentar a realidade e à frustração, compreendendo que os “desejos” não podem ser sempre satisfeitos. Quanto às curiosidades dos alunos da 7ª série, por volta dos 13 a 14 anos, percebemos que a maior preocupação é com gravidez e métodos contraceptivos, eles já sabem o que é relação sexual e as possíveis causas da gravidez. 29 O que nos chamou a atenção nos alunos da 8ª série é que as preocupações deles eram muito semelhantes à dos alunos da 7ª série, distinguindo-se apenas com relação ao tamanho do pênis, e se este iria crescer. Tendo como referência as análises e respostas das crianças pode-se dizer que as maiorias das crianças apresentaram curiosidadesque inicia com aspectos voltados no ato sexual em si e os problemas de gravidez, métodos para o controle da natalidade. Precisamos urgentemente debater na sociedade a sexualidade na adolescência, preparando o jovem para a liberação de crenças e tabus sanando suas dúvidas, recuperando a sua autoconfiança. Os temas transversais nas escolas não são trabalhados de forma correta, devido insegurança e medo de alguns professores ao falar da sexualidade. Atualmente o tema sexualidade ainda é visto por muitas pessoas como algo sujo e feio, deixando nossos jovens com muitos tabus e preconceitos criados por nós mesmos. No passado, os princípios sobre a Educação Sexual falharam, porque a sexualidade humana era colocada como uma coisa à parte, o indivíduo era educado como se o sexo não existisse. Aprendia-se sobre sexualidade, com os mais “sabidos” e carregavam-se falhas e deficiências, às vezes para toda a vida. Atualmente, é preciso pensar nas crianças e adolescentes, que constituem a maior parte da atual população. Estamos na atualidade, vivendo um momento de transição, no que se refere a normas e padrões morais. Saímos de uma etapa onde o indivíduo, vivia sob um padrão moral rígido, alicerçado em princípios que desabonava tudo que se referisse à sexualidade. CONCLUSÕES A temática da sexualidade sempre nos chamou a atenção. No momento da idealização deste projeto este tema mostrou-se adequado, não somente por possibilitar um trabalho que viesse ao encontro das necessidades e curiosidades dos nossos queridos adolescentes, mas que desse suporte pedagógico aos 30 professores que tanto discutem a maneira de como trabalhar a sexualidade com estes alunos. O exercício da sexualidade faz parte do processo de desenvolvimento biológico dos seres humanos. Entretanto, em muitos lares e escolas, as questões – e questionamentos - sexuais dos jovens são negligenciados ou empurrados para debaixo do tapete, por pais e professores, como se fossem elementos estranhos ao que conhecemos por Educação. Se, pelos mais diversos motivos (ignorância, vergonha, despreparo), o (a) adolescente não recebe, em casa, a necessária orientação sobre os riscos e precauções inerentes a uma vida sexual ativa, é obrigação de a Escola fazê-lo. O trabalho escolar deve aproximar mais no caso específico da sexualidade. Os professores também têm uma responsabilidade muito grande no sentido de planejar ações nesta necessidade das crianças. Para tanto a pesquisa participativa- ação pareceu à metodologia mais adequada, pois permitiu que colhêssemos dados qualitativos, havendo uma maior preocupação com a resolução de problemas coletivos. Através dos instrumentos, buscava-se conhecer as curiosidades dos alunos para posterior sabermos lidar com este tema dentro das escolas. Em 1998, o Ministério da Educação incluiu a Orientação Sexual nos Parâmetros e Referenciais Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental. Lá, afirma-se que, a partir da 5ª série, é importante que a escola possa oferecer um espaço específico (uma hora-aula semanal) para orientar, debater e tirar as dúvidas dos alunos sobre a sexualidade. Entretanto, como o tema tem caráter transversal, isto é, de aplicação desejável, porém não obrigatória, sua implantação definitiva na grade curricular por vezes esbarra no pensamento retrógrado e tacanho de que essa matéria poderia incentivar ou antecipar o relacionamento íntimo entre os jovens. Uma mentalidade típica daqueles que querem tapar o sol com a peneira. Diante destes resultados, sugere-se a implantação de debates de temas sobre saúde sexual e reprodutiva nas escolas, voltado para alunos, pais e professores, de forma a fornecer subsídios suficientes para diminuir as dúvidas 31 dos adolescentes e preparar os pais e professores para melhor orientar e conviver com este grupo etário. Neste sentido podemos sugerir que as atividades propostas para o trabalho na escola deveriam partir das curiosidades das crianças e adolescentes. Também sugerimos, portanto, algumas atividades como: mudança no currículo escolar, mudança no pensamento de pais e professores para expor o assunto com seus filhos e alunos de uma maneira objetiva e clara. O desejo que fica em cada um de nós é que estes resultados não se percam no tempo, servindo como mais uma pesquisa já realizada. É preciso saber ouvir a verdade e as curiosidades dos jovens e adolescentes. É preciso que pais e professores abram suas almas e enxergue os adolescentes como parte integrante da sociedade, que tem seus sonhos, dúvidas e curiosidades. REFERÊNCIAS LAKATOS, Maria; MARCONI, Martina de Andrade. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de dados. 4 ed. São Paulo: Atlas, 1999. FREIRE, Paulo. Política e Educação. São Paulo: Cortez, 1997. RAMOS, Nara Vieira, SOCAL, Eliane. Pesquisa - Crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social em Santa Maria.ed.Palloti 2003. THIOLLENT, M.; ARAUJO, T; SOARES, R. Metodologia e Experiência em projetos de extensão. Niterói: ed. UFF, 2000. NUNES, Cezar, SILVA, Edna: A educação sexual da criança. São Paulo, editora autores associados, 2000. FAGUNDES, Tereza: Educação Sexual, construindo uma nova realidade. Salvador, UFBA, 1995. SAMPAIO, Simaia: Educação sexual para além dos tabus. Salvador, UFBA, 1996. SUPLICY, Marta: Conversando sobre sexo. Petrópolis, Rio de Janeiro, Vozes, 1983. 32 TIBA, Içami.1998. Ensinar aprendendo: como superar os desafios do relacionamento professor-aluno em tempos de globalização. São Paulo: Gente. FREUD, S. 1970. Cinco lições de psicanálise. Rio de Janeiro: Imago. BARROSO, Carmen; BRUSCHINI, Cristina.1985. Sexo & Juventude. 2. ed. São Paulo: Brasiliense. CALDERONE, Mary S.; RAMEY, James W.1986. Falando com seu filho sobre sexo. 3. ed. São Paulo: Summus. LÜDKE, M.; ANDRÉ, M.E.D.A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. Autor: Zuleica dos Santos Pereira Fonte:http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_5552/artigo_sobre_sexualidade_na_adolescencia Capítulo 2- ALGUMAS MANIFESTAÇÕES DA SEXUALIDADE ADOLESCENTE NO ESPAÇO ESCOLAR 1. Revistas pornográficas na escola. O que costumamos fazer? Ficamos desconcertados, chocados e, muitas vezes, acabamos por convidar o aluno a se retirar da sala de aula e até da escola. Indignados, tiramos a revista das mãos do aluno e a entregamos para a Direção da escola e/ou ainda chamamos os pais, fazendo um grande alarde sobre a situação. O que podemos fazer? Sugestões... Procurar compreender: essa curiosidade é natural nessa fase. http://artigos.netsaber.com.br/artigos_de_zuleica_dos_santos_pereira 33 Buscar refletir com o aluno sobre a inadequação do material para sua faixa etária, caso seja menos de 18 anos, e para o espaço escolar, focalizando a diferença entre o espaço público e o privado. Solicitamos, ainda, o adolescente que a leve de volta e não a traga mais o espaço escolar. Oferecer a ele algumas opções de leitura adequadas a sua faixa etária. Aproveitar a oportunidade para, a partir das disciplinas, abordar mais explicitamente o tema sexualidade, enfocando questões como: corpo e a mídia, padrões de beleza através dos tempos, autoerotismo, questões de gênero e a curiosidade diante de revistas pornográficas etc. 2. Desenhos dos órgãos genitais na sala (quadro de escrever, carteiras, cadernos, murais, paredes etc.). O que costumamos fazer? Ficamos muito incomodados e acabamos punindo o aluno das variadas formas: retirando-os de sala; mandando anotações para os pais; chamando a Direção etc. O que podemos fazer? Sugestões... Procurar utilizar o desenho do aluno e, a partir deste, convidar a classe para um diálogo explícitosobre o tema sexualidade, sem punições ou reprimendas. Incluir no cotidiano escolar o estudo de desenhos e figuras dos órgãos genitais de ambos os sexos, aproveitando para verificar e aprofundar o nível de conhecimento dos alunos sobre o assunto, desmistificando a questão. 3. Situações de piadinhas, risinhos, cochichos, silêncio ou outras expressões em que os alunos procuram deixar o professor embaraçado em sala de aula, com relação a questões voltadas à sexualidade. 34 O que costumamos fazer? Ficamos, muitas vezes, embaraçados, outras vezes, irritados, sem saber como lidar com a situação e acabamos por repreender ou punir nossos alunos. O que podemos fazer? Sugestões... Procurar lembrar nosso tempo de aluno, e entender que esse comportamento pode ser comum, independente até da faixa etária. Tentar manter a calma, compreendendo que essas questões geralmente não são tratadas abertamente e que essa atitude poderá estar expressando as dificuldades dos próprios alunos em lidar com essa temática. Essas atitudes também demonstram a necessidade urgente do tema sexualidade ser tratado de forma explícita e mais freqüente em todos os espaços curriculares possíveis. 4. O uso de roupas consideradas inadequadas ao espaço escolar (sensuais em demasia). O que costumamos fazer? Geralmente, esse tipo de preocupação acontece mais na escola em relação às garotas. Muitas vezes, acabamos fazendo com que elas voltem para casa, ou ainda oferecemos outra peça do uniforme para cobrir o corpo das alunas. O que podemos fazer? Sugestões... Procurar deixar claro, através de uma conversa franca com as alunas, que certas roupas podem constranger outras pessoas no espaço escolar, que é um espaço público, onde o bom senso deve preponderar. Aproveitar o ensejo para conversar com os alunos sobre a necessidade do estabelecimento participativo de regras e limites num espaço coletivo. Vale lembrar, também, que a vivência em grupo pressupõe acordos sobre o que pode e o que não pode ser feito nesse grupo, bem como que as sanções decididas para 35 serem aplicadas a quem transgride o combinado deve ser cumpridas, até que se decida pela mudança das regras. Salientar ainda ao grupo de alunos a necessidade de pensarem que sua autonomia diante da sexualidade não significa “um tudo pode”. Trabalhar, também, com o grupo, as questões de que as escolhas, também no modo de vestir, devem ser conscientes e feitas por decisões pessoais e não por fruto de “modismo” imposto pela sociedade de consumo. 5. E quando encontramos nossos alunos “grudados” aos beijos pelos corredores e pátios da escola. O que costumamos fazer? Geralmente, fazemos um escândalo! Muitas vezes, “gritamos” e chamamos a atenção dos alunos, apontando-os como “indecentes”. Outras vezes os deixamos constrangidos e envergonhados. O que podemos fazer? Sugestões... De forma compreensiva e afetuosa, valorizar o beijo e o namoro enquanto expressões saudáveis da sexualidade humana. Procurar, também, refletir com os alunos a respeito do que convém ao espaço público e o que convém no espaço privado. Deixa-se, assim, claro os limites do espaço escolar, buscando a compreensão e cumplicidade dos alunos sobre o tema. Dessa forma, a tendência será a diminuição dessas ocorrências no espaço escolar. Como vimos até agora, podem ser várias as manifestações da sexualidade adolescente no espaço escolar durante o processo de desenvolvimento de construção de sua identidade. Além das manifestações acima expostas, também é muito comum o jovem manifestar-se através de inúmeras perguntas sobre o tema, o que é muito saudável e demonstra a confiança deles nos adultos que os cercam. 36 Pela importância desse tipo de manifestação, que é o perguntar jovem, e pela dificuldade que ainda temos em lidar com sensibilidade e competência com as respostas que eles merecem receber, optamos por tratar especificamente do assunto na seção seguinte. PROCURANDO RESPONDER O ADOLESCENTE A partir das nossas experiências nesses trabalhos com os jovens, imaginamos que você deva ter concluído que as dúvidas que você teve no seu período de adolescência não são muito diferentes daquelas que ouviu de sua entrevistada. Apesar de toda exploração desse tema atualmente, alguns dos fantasmas que nos amedrontavam, ainda hoje amedrontam nossos adolescentes. Se, em nossa adolescência, muitos de nós fomos educados sexualmente através do silêncio, hoje, muitas vezes, é pelo excesso de informações que se educa. É importante relembrar aqui que essas informações vêm, na maioria das vezes, através dos meios de comunicação de massa, pois, como já sabemos, geralmente, a família e a escola ainda encontram muitas dificuldades para conversar com os jovens sobre esse tema com tranqüilidade e coerência. Portanto, não podemos negar que nossos jovens têm muito mais informações do que tínhamos com essa mesma idade. Mas então, como explicar o aumento da gravidez na adolescência, a iniciação sexual precoce, as dúvidas que se repetem ou a resistência ao uso do preservativo, por exemplo? Vários são os fatores que interferem nessa problemática. Mas parece-nos ser claro que poderemos estar pelo menos chegando a uma conclusão: somente a informação não basta! Confirmamos essa afirmação, trazendo a fala de SAYÃO (1997) quando afirma que “esse é apenas um dos indicadores do buraco negro 37 que existe entre o acesso às informações e a utilização delas” (p.99). SAYÃO coloca-nos ainda que: “a forma como estão sendo veiculadas essas informações está fazendo com que elas sejam inócuas, irrelevantes, esquecidas, deturpadas ou, pior, nefastas” (p.99). Pios bem, sabemos que só a informação não basta! Mas lembramos, também, que isso não significa que ela não deva acontecer. Aproveitamos para trazer a importante colocação de LORENCINI JR, citado em AQUINO (1997) afirma que: Tudo leva a crer que, quando mais conhecemos e compreendemos a sexualidade, maior será a capacidade de ampliar o seu sentido e, ao mesmo tempo, aumentar a amplitude do “livre-arbítrio”, para tomadas de decisões autônomas no que tange ao desejo, ao prazer e ao amor. (p.87) Há, portanto, de se fazer junto aos jovens um trabalho de formação intencional através de uma educação sexual compreensiva para que se possa estar efetivamente contribuindo para uma verdadeira mudança de comportamento! Mas, sobre isso, conversaremos com mais profundidade nem capítulo específico. Neste momento, queremos apenas estar chamando sua atenção para algumas das perguntas dos adolescentes e algumas sugestões de como podemos estar respondendo-lhes, com o intuito de minimizar os prejuízos dessa deseducação sexual de que a maioria de nós é fruto. Vamos procurar ver agora de que forma podemos estar passando essas informações, bem como algumas sugestões de como responder alguns dos muitos questionamentos desses jovens numa perspectiva emancipatória. Antes, porém, de entrarmos nas questões que mais angustiam os adolescentes, consideramos importante reafirmar dois pontos básicos: 38 a) Não estamos, aqui, dando nenhuma receita de como responder a essas questões; b) Precisamos estar sempre atentos para nossa atitude diante das questões trazidas pelos adolescentes, conforme sugerem os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs, 1997) sobre a postura do educador. Veja no quadro a seguir. Postura do Educador segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, p.123/124) ➢ Entrar em contato com questões teóricas, leituras e discussões sobre as temáticas específicas de sexualidade e suas diferentes abordagens. ➢ Conduzir o processo de reflexão que possibilitará ao aluno autonomia para eleger seus valores, tomar posições e ampliar seu universo de conhecimento. ➢ Deve ter discernimento paranão transmitir seus valores, crenças e opiniões como sendo princípios ou verdades absolutas. ➢ É necessário que se estabeleça uma relação de confiança entre os alunos e o professor. ➢ O professor deve se mostrar disponível para conversar sobre as questões apresentadas, não emitir juízos de valor sobre as colocações feitas pelos alunos e responder às perguntas de forma direta e esclarecedora. ➢ Ao orientar todas as discussões, deve, ele próprio, respeitar a opinião de cada aluno e ao mesmo tempo garantir o respeito e a participação de todos. A MASTURBAÇÃO CAUSA ALGUM MAL? VICIA? COSTA (1986) nos relembra que o termo masturbação tem origem duvidosa, e significa mão (manus) e profanar (stuprare), ou seja, profanar com a mão. Esse autor coloca que, na Antiguidade, a masturbação era considerada uma prática saudável de obtenção de prazer, inclusive na infância. Já o povo greco- romano desestimulava essa prática entre os homens até 21 anos de idade, por considerar prejudicial “o desperdício de energia vital ainda não pronta e elaborada para reprodução” (p. 41). A partir da Idade Média, novos valores éticos – morais e 39 religiosos foram sendo adotados e fazendo com que essa prática fosse condenada, usando-se dos mais variados argumentos na intenção de inibi-la. Afirmações como: dá pêlo na mão; gasta o sêmen; deixa louco; deixa frígida; vicia; afina o pênis; causa impotência; causa cegueira; dá espinhas etc. foram sendo utilizadas ao longo do tempo. A ênfase na repressão era especialmente masculina, pelo fato da mulher ser muito mais reprimida e, conseqüentemente, aparentemente, fazer menos uso dessa prática. Fruto dessa construção histórica, ainda hoje, encontramos muitos desses mitos presentes em nosso cotidiano. Por isso, nas discussões atuais acerca da sexualidade, utiliza-se hoje mais o termo autoerotismo, para referir à prática da masturbação sem a conotação repressora. Mas, afinal, que males poderá trazer a masturbação ou o autoerotismo? Em princípio, não causa nenhum mal físico nem emocional. Acontece em todas as fases da vida, é uma forma saudável de obtenção de prazer e de conhecimento próprio do corpo. SUPLICY (1998) aponta que “a masturbação só atrapalha ou faz mal quando provoca culpa ou vergonha na pessoa, passando a ser fonte de conflito e de baixa autoestima” (p.109). Outro aspecto salientado por essa autora se refere à frequência do autoerotismo. De acordo com ela, a quantidade poderá variar de pessoa para pessoa; só poderemos considerar demais “quando a pessoa passa a maior parte do dia se masturbando. É o mesmo “demais” que seria uma pessoa passar o dia todo comendo, vendo TV ou lendo, sem conseguir ter outras atividades ou interesses” (p.109). Salientamos, ainda, que nesse diálogo com os adolescentes, será importante ficar claro que o autoerotismo, mesmo sendo uma prática saudável, pressupõe espaços adequados, considerando o que é de ordem pública e privada. Isso significa dizer que devemos preservar nossa intimidade, bom como o espaço do outro. 40 O QUE SIGNIFICA O MENINO ACORDAR COM A CUECA MELADA OU MOLHADA? De acordo com RIBEIRO (1992), isso é normal, é o que chamamos de polução noturna ou sonho molhado, porque acontece com os garotos na maioria das vezes durante a noite, no período do sono. É o sinal de que o garoto já está produzindo espermatozóides e, se transar com uma garota, poderá engravidá-la. PEGUEI MINHA MELHOR AMIGA COM OUTRA GAROTA, SERÁ QUE ELAS SÃO SAPATONAS? “Sapatona” é um dos termos utilizados no senso comum para mencionar a homossexualidade feminina VASCONCELOS (apud RIBEIRO, 1993) nos ajuda a compreender outro termo – lésbica – também utilizado para designar as homossexuais femininas, que tem origem no nome da cidade de Lesbos, capital de uma ilha grega, onde, há mais ou menos 2.600 anos, nasceu e viveu Safos, revolucionária que, além de famosa poetisa, fundou uma escola social da mulher. Em seus poemas, Safos enaltecia o amor entre as mulheres e a paixão por suas companheiras. A partir daí, o termo lésbica passou a designar mulheres que amam mulheres (p. 356). Na adolescência, é comum ocorrerem manifestações de carícias e curiosidades acerca do seu próprio corpo e de colegas, o que não pode ser considerado uma experiência final, definitiva ou “propensão” à homossexualidade, apesar de ser uma prática entre pessoas do mesmo sexo. Para reforçar o que apontamos anteriormente, buscamos MELO e POCOVI (2002), que nos chamam a atenção para o fato de que atos como a exploração do corpo ou dos órgãos genitais de amigos, embora comuns na adolescência, nada dizem de definitivo sobre a orientação sexual desses jovens, não sugerindo “uma necessária conduta homossexual na idade adulta”. 41 Nesse sentido, várias são as hipóteses sobre as causas da homossexualidade feminina (lésbicas, entendidas, sapatonas...) ou masculina (gays, bichas, veados...); não há, no entanto, um consenso entre os pesquisadores na área. O que achamos importante ressaltar, dentro das leituras que realizamos sobre esse assunto, é que não se trata de doença nem de uma opção sexual, e sim de uma orientação do desejo, que poderá ser hetero, homo, bissexual e outros. A orientação sexual de cada pessoa deve ser respeitada. O BEIJO TRASMITE AIDS? Precisamos mencionar, em princípio, o que significa a sigla AIDS, termo oriundo do inglês “Adcquired Immune Deficiency Syndrome”, que em português significa Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - SIDA. AIDS é uma doença provocada pelo vírus HIV, que ataca os glóbulos brancos do sangue, que são responsáveis pela defesa do organismo. Uma vez estando a pessoa infectada pelo vírus HIV, as defesas do seu corpo ficam enfraquecidas, deixando-a mais facilmente vulnerável às infecções. A pessoa pode contrair o vírus HIV, ser soropositivo, sem manifestar a doença, ou seja, a AIDS. Para contrair o vírus HIV, a pessoa terá de ter entrado em contado com os fluidos corporais de alguém já infectado, como sangue, esperma ou secreção vaginal e o leite materno. Ou seja, a pessoa poderá contrair o HIV através da relação sexual sem preservativo (camisinha), transfusão de sangue não testado, compartilhamento de seringas de injeções descartáveis, tatuagem, acupuntura e outros pequenos ferimentos causados por objetos cortantes ou perfurantes que foram usados por pessoas infectadas, ou ainda de mãe para filho durante o período de gestação, no momento do parto ou durante a amamentação. Por ser uma questão polêmica e pelo fato de pesquisas no campo da AIDS ainda não estarem esgotadas, achamos prudente não afirmar categoricamente se 42 há ou não riscos de contaminação através do beijo. Enfim, manter-se sempre informado é a melhor prevenção! Segundo nossas pesquisas nos vários sites indicados abaixo, a chance de contaminação através do beijo é praticamente igual a zero. Abaixo, iremos reproduzir alguns trechos de sites pesquisados, para que você possa perceber que não existem respostas fechadas sobre essa questão. “O risco da transmissão do vírus HIV por saliva foi avaliado em vários estudos laboratoriais e epidemiológicos. Esses estudos mostram que a concentração e a infectividade dos vírus da saliva de indivíduos portadores do HIV são extremamente baixa”. http://www.geocities.com/Augusta/6320/5.html “Não há nenhuma prova de que o beijo profundo tenha transmitido a doença. Na própria saliva existem determinadas substâncias (fibronectina e glicoproteínas), capazes de neutralizar o vírus. A única possibilidade de contágio é se alguém infectado estiver com ferida na mucosa e o parceiro também”. http://www.aids.org.br/smartsite.asp?PaginaID=10&Faqld=17 “A chance é praticamente igual a zero. A concentração do vírus HIV na saliva é mínima, e só há alguma chance de contaminaçãose a boca estiver com algum tipo de sangramento. Até hoje, só foi registrado um caso em que se acredita que a contaminação ocorreu com um beijo”. http://www.terra.com.br/saude/aids/ ESCLARECENDO CONCEITOS Relembrando o que é paradigma, registramos a conceituação que dele faz Azobeiro, dialogando com Morin (apud MELO e POCOVI, 2002, p.29), quando afirma: http://www.geocities.com/Augusta/6320/5.html http://www.aids.org.br/smartsite.asp?PaginaID=10&Faqld=17 http://www.terra.com.br/saude/aids/ 43 chamamos paradigmas as estruturas de pensamento que, de modo quase que inconsciente, comandam nosso modo de ser, de olhar, de viver, de fazer, de falar sobre as coisas e sobre nós mesmos. São os nossos sistemas mentais, que filtram toda a informação que recebemos: ignoramos, censuramos, rejeitamos, desintegramos o que não queremos saber. Não os entendemos como modelos rígidos e acabados, mas como horizontes, que ampliam e se modificam a cada passo dado, ou teias de significados, sempre se re-tecendo e rearticulando. Pois bem, esse é um conceito muito interessante de paradigma. Precisamos, agora, esclarecer um pouco mais o conceito de emancipatório. Fomos procurar no dicionário FERREIRA (1999) o conceito de emancipatório, e encontramos a definição de emancipado: “que é senhor de seus próprios atos, de sua pessoa; livre; independente” (p.730). Unindo esses dois conceitos, podemos afirmar que um paradigma emancipatório é um modelo de “verdade” que nos possibilita sermos senhores de nossos atos e escolhas, sermos livres. É um modelo de uma verdade que não se fecha em si mesma. Historicamente, a sexualidade foi sendo construída a partir de “modelos de verdades” que não nos permitem sermos senhores de nossos atos, sermos livres, independentes, como nos aponta o conceito de emancipado. Por essa razão, adotamos com relação à educação sexual, uma proposta emancipatória e possibilitar, assim, a construção de um novo olhar para sexualidade. Segundo NUNES (1996), a sexualidade emancipatória é aquela que nos dá condições de compreender a dinamicidade, a complexidade, a riqueza única da sexualidade humana. (p.227) Esse autor afirma, ainda, que a sexualidade emancipatória tem como conceito fundamental a liberdade. Liberdade de tomada de decisões e ações com responsabilidade e respeito ao outro. É comum encontrarmos equívocos na compreensão da proposta de uma educação sexual compreensiva numa perspectiva emancipatória, relacionando-a com a liberdade geral, com um “tudo pode”, e nesse sentido, NUNES (1996) nos aponta que “a sexualidade numa visão emancipatória supõe também normas, 44 limites como marcos de sujeitos plenos e não sanções, pecados e medos. (...) Não há sociedade sem a normatização da sexualidade” (p.228-229). Para efetivarmos essa proposta de uma educação sexual compreensiva pautada num paradigma emancipatório, precisamos compreender que os conceitos de paradigma e emancipatório vêm nos oferecer a possibilidade de rever olhares e posturas frente à sexualidade. A partir dessa perspectiva, poderemos construir um projeto de educação sexual intencional e compreensiva na escola (ou em casa!), ancorado nos direitos sexuais como direitos humanos, como nos aponta a Declaração dos Direitos Sexuais como Direitos Humanos Universais, no respeito às diferenças e à diversidade, objetivando a busca de relações mais humanas e igualitárias. Dentro da Declaração dos Direitos Sexuais como Direitos Humanos, temos os artigos 9º e 10º que nos garantem o direito à informação baseada no conhecimento científico e o direito a uma educação sexual compreensiva; direitos estes que a escola tem dever e o compromisso de estar promovendo. Mas afinal, o que seria uma educação sexual compreensiva? Como, efetivamente, poderíamos ter uma certa clareza e segurança de que a estamos realizando? Respondemos a essas questões chamando a sua atenção para a caminhada que buscamos traçar com você ao ler esta apostila ao e fazer esta “conversa” sobre a sexualidade adolescente. Durante esta caminhada de leituras e reflexões, tentamos mostrar que estamos efetivando um trabalho de educação sexual compreensiva quando: ➢ Não damos receitas prontas, por entendermos que as ações precisam ser construídas pelos educadores e educandos em seus espaços de convivência; 45 ➢ Convidamos o adolescente a refletir sua sexualidade e a sexualidade do outro, a partir de referenciais de liberdade com respeito, responsabilidade e cumplicidade; ➢ Responsabilizamos esses adolescentes por suas atitudes, apoiando- os em seus processos de descobertas e tomadas de decisões; ➢ Possibilitamos a superação do senso comum, revendo mitos, tabus e preconceitos, através do diálogo, leituras etc.; ➢ Propomo-nos a rever nossas posturas teórico-metodológicas frente às questões da sexualidade; ➢ Buscamos, no respeito à diversidade, um novo olhar para lidar com as diferenças em relação aos comportamentos e expressões da sexualidade; ➢ Colocamo-nos abertos a uma escuta atenta e isenta de julgamentos morais junto ao adolescente; ➢ Enfim, explicamos a necessidade de compreensão de que somos sujeitos de uma sexualidade histórico-cultural, dinâmica e em permanente processo de construção e reconstrução. Capítulo 3 - Educação sexual no mundo: alguns registros Um breve “bosquejo histórico” da educação sexual no ocidente talvez permita dimensionar sua pertinência, apontando fatos e autores que influenciaram ou que têm contribuído para a temática se construa/solidifique enquanto um dos aspectos fundamentais do plano desenvolvimento humano, que constitui a 46 chamada educação integral, dando sentido/significado a uma educação sexual “política” (Goldberg, 1988 e Figueiró, 1996), “transformadora” (Cabral, 1995) e/ou “emancipatória” (Vasconcelos, 1971; Nunes, 1996). Cada um de deles são, sem dúvida, pioneiros não só na forma de estudos que realizaram, mas porque representam um esforço muito grande e uma contribuição à compreensão da sexualidade humana. Como tantos outros que se têm aventurado nestes estudos, simbolizam a valentia que, pretende explorar zonas proibidas pelo dogmatismo e pela hipocrisia. A história da ciência é repleta de “heróis” que avançaram na busca de realidades diferente às preestabelecidas e reconhecidas como “inamovíveis”. Os nomes de Képler, Giordano Bruno, Miguel Servet entre outros, representam apenas um número reduzidíssimo dentre aqueles que em todos os tempos podem chegar a “beber o veneno, com grande dignidade” para defender o que consideram como verdades, mesmo que transitórias, que o ser humano deve conhecer e viver. O estudo da sexualidade humana, não obstante os diversos estudos significativos neste último século, continua sendo um campo cheio de dificuldades emanadas de tradições perversas, que a serviço dos mais variados interesses, tem mantido a sexualidade no domínio do “sujo”, “pecaminoso” e “desprezível”. Talvez possamos considerar o século XVIII como um marco da educação sexual quando na Suécia (1770) aconteceram as primeiras ocorrências públicas sobre as “funções sexuais” e que foram precocemente suspensas na repressão vitoriana do século XIX. A partir da segunda metade de 1800 instala-se um período fértil de estudo e publicações sobre sexualidade. Neste período surgem, na Europa, “os primeiros movimentos – favoráveis ou desfavoráveis” à educação sexual, “a consciência de 47 que a sexualidade se tornou um problema” (Werebe, 1977:46), assim como se acentua “a repressão sexual (em progressão desde o século XVI), (...) Essa repressão fundar-se-á na ideologia familiar, estabelecida à volta desta trindade que se tornou inseparável: sexualidade-casamento-reprodução. (Op.cit. p.46). Originam-se neste período os estudos de alguns dos expoentes da
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