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1 Curso Ênfase © 2018 DIREITO CIVIL – CAROLINE ANDRIOTT I 60018 AULA16 - DIREITO CIVIL IV - PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA 1 DA PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA (ARTS. 1361 A 1368-A DO CC) A propriedade fiduciária é uma espécie de propriedade resolúvel, não obstante se assemelhe muito mais aos direitos reais de garantia. Por esse motivo, muitos autores preferem estudar o tema dentro dos direitos reais de garantia. O CC insere a observância das regras gerais de hipoteca, penhor e anticrese. O art. 1367 do CC remete a aplicação das normas gerais dos direitos reais de garantia à propriedade fiduciária distinguindo que essa não é plena. Art. 1.367. A propriedade fiduciária em garantia de bens móveis ou imóveis sujeita-se às disposições do Capítulo I do Título X do Livro III da Parte Especial deste Código e, no que for específico, à legislação especial pertinente, não se equiparando, para quaisquer efeitos, à propriedade plena de que trata o art. 1.231. A diferença da propriedade fiduciária com relação às demais espécies de propriedade resolúvel é o fato de que ela tem como escopo primordial a garantia de uma outra obrigação, ou seja, de uma obrigação principal. O CC, em seu art. 1.361, dispõe que a propriedade fiduciária será constituída para coisa móvel infungível. Há leis especiais que disciplinam outras espécies de propriedade fiduciária, sempre dentro de negócios jurídicos maiores, como o caso da alienação fiduciária em garantia. Portanto, há uma série de outras manifestações de vontade existentes dentro de uma alienação fiduciária em garantia, que poderá ser transferida com apenas 2 figuras. As partes são o fiduciante (devedor) e o fiduciário (credor), mas há um esquema que revela no mínimo 3 partes. Exemplo: Compra e venda de veículos financiados. O devedor, com o escopo de obter no mercado bem de consumo durável como os automóveis, não tendo os recursos para o pagamento integral, pede um empréstimo à financeira para garantir o pagamento integral da dívida. Ao adquirir da concessionária transfere a propriedade do bem que comprou diretamente ao credor fiduciário. Portanto, o devedor que quer adquirir o automóvel transfere diretamente a propriedade ao credor fiduciário que emprestou os recursos ao devedor para a quitação junto ao credor originário. Desse modo, o credor fiduciante precisa quitar a Direito Civil – Caroline Andriott i 60018 Aula16 - Direito Civil IV - Propriedade Fiduciária 2 Curso Ênfase © 2018 sua dívida de financiamento para então poder adquirir a propriedade em seu nome. Uma vez constituída a propriedade fiduciária, ele fica sendo o possuidor direto do bem. É por isso que na alienação fiduciária em garantia, uma vez realizada a transferência da propriedade para o credor fiduciário, ocorre o desdobramento da posse. O devedor fiduciante fica com a posse direta do bem, sendo um dos seus direitos usar e gozar da coisa segundo a sua destinação, mas às suas expensas e riscos. Ele não é proprietário, porém, será quando do adimplemento da obrigação principal. O credor fiduciário, o proprietário, ficará na posse indireta do bem. Art. 1.361, § 2 o Com a constituição da propriedade fiduciária, dá-se o desdobramento da posse, tornando-se o devedor possuidor direto da coisa. Nesses casos ocorre uma tradição ficta, pois a propriedade não foi transferida do possuidor direto, proprietário, para o possuidor indireto. Ao contrário, a propriedade fica com o possuidor indireto, enquanto que desde o início a posse indireta fica com o devedor fiduciante. Pode ocorrer que no caso do inadimplemento da obrigação principal a propriedade consolide-se nas mãos do credor fiduciário. Nesse caso, fala-se em convalidação da propriedade, pois a propriedade inicialmente fiduciária consolida-se com o inadimplemento nas mãos do credor fiduciário. Verifica-se que ele não pode, por força da vedação do pacto comissório. Trata-se de uma regra geral dos direitos reais de garantia, no qual precisa vender judicial ou extrajudicialmente o bem a terceiros para que com o valor da venda possa imputar no débito e eventualmente, se existir saldo, restituir ao devedor fiduciante que ficou desprovido do bem, já que inadimpliu a sua obrigação principal. O CC dispõe ainda sobre os elementos indispensáveis a constar do título que institui a propriedade fiduciária no art. 1.362: Art. 1.362. O contrato, que serve de título à propriedade fiduciária, conterá: I - o total da dívida, ou sua estimativa; II - o prazo, ou a época do pagamento; III - a taxa de juros, se houver; IV - a descrição da coisa objeto da transferência, com os elementos indispensáveis à sua identificação. Direito Civil – Caroline Andriott i 60018 Aula16 - Direito Civil IV - Propriedade Fiduciária 3 Curso Ênfase © 2018 O CC dispõe que será apenas de coisa móvel e infungível, portanto, é indispensável que se especifique a coisa objeto da garantia, o valor da dívida principal, forma de juros, entre outros. Ainda, o CC fala a respeito dos direitos e deveres do devedor fiduciante, em seu art. 1.363: Art. 1.363. Antes de vencida a dívida, o devedor, a suas expensas e risco, pode usar a coisa segundo sua destinação, sendo obrigado, como depositário: I - a empregar na guarda da coisa a diligência exigida por sua natureza; II - a entregá-la ao credor, se a dívida não for paga no vencimento. O devedor fiduciante na posse direta é considerado depositário para todos os fins legais. São 2 os deveres básicos do devedor fiduciante, bem como o direito de usar a coisa e, ao final, tendo inadimplido a obrigação principal, tem direito ao saldo da venda judicial ou extrajudicial do bem, evitando-se o enriquecimento sem causa do credor fiduciário, já que o montante total excedeu a obrigação inadimplida. Em relação à faculdade de usar a coisa, às suas expensas e riscos, conforme o art. 1.363, há jurisprudência no sentido de que eventual perecimento do bem seria suportado pelo devedor fiduciante que não teria mais direito à coisa, podendo ainda ser-lhe exigido o pagamento integral da dívida principal. “O perecimento do objeto não exime o devedor fiduciante de solver o débito existente, que é passível de ser exigido nos próprios autos da ação de depósito.” (REsp 508.810/MG, Rel. Ministro BARROS MONTEIRO, QUARTA TURMA, julgado em 02/06/2005, DJ 15/08/2005, p. 318) Como novidade legislativa há ainda a alteração pela Lei 13.043/14 inserindo o art. 1.368-B e parágrafos no CC para disciplinar o direito real de aquisição do devedor fiduciante do cessionário ao seu sucessor, uma vez adimplida a obrigação principal, integrando-se a propriedade ao seu patrimônio. O parágrafo único do art. 1.368-B estabeleceu que o credor fiduciário, uma vez imitido na posse direta daquele determinado bem, como de busca e apreensão, fica responsável às despesas relativas ao bem. Art. 1.368-B. A alienação fiduciária em garantia de bem móvel ou imóvel confere direito real de aquisição ao fiduciante, seu cessionário ou sucessor. Parágrafo único. O credor fiduciário que se tornar proprietário pleno do bem, por efeito de realização da garantia, mediante consolidação da propriedade, Direito Civil – Caroline Andriott i 60018 Aula16 - Direito Civil IV - Propriedade Fiduciária 4 Curso Ênfase © 2018 adjudicação, dação ou outra forma pela qual lhe tenha sido transmitida a propriedade plena, passa a responder pelo pagamento dos tributos sobre a propriedade e a posse, taxas, despesas condominiais e quaisquer outros encargos, tributários ou não, incidentes sobre o bem objeto da garantia, a partir da data em que vier a ser imitido na posse direta dobem. Trata-se das diversas formas de consolidação da propriedade, antes fiduciária e agora plena, nas mãos do credor fiduciário. Portanto, no momento em que ele será imitido na posse direta do bem por força da execução de algumas das tutelas disponíveis para persegui-lo, ele será responsável por todos os encargos tributários relativos à propriedade do bem do qual agora é proprietário consolidado, ou seja, não mais fiduciário. Com relação à necessidade de registro para a constituição do direito real, há uma grande polêmica que foi recentemente pacificada nos Tribunais Superiores, com relação ao art. 1.361, §1º: Art. 1.361 § 1 o Constitui-se a propriedade fiduciária com o registro do contrato, celebrado por instrumento público ou particular, que lhe serve de título, no Registro de Títulos e Documentos do domicílio do devedor, ou, em se tratando de veículos, na repartição competente para o licenciamento, fazendo-se a anotação no certificado de registro. O CC trata da alienação fiduciária de bens móveis e infungíveis. Nesse caso, em que se insere a alienação fiduciária de automóveis, disciplinada tanto pelo CC quanto pelo DL 911/69, como não houve uma revogação expressa do DL, é possível esse diálogo dos 2 diplomas no que forem compatíveis, em aplicação conjunta, entendendo-se que o CC havia propiciado tanto a possibilidade de registo no Cartório de Títulos e Documentos como na repartição competente para licenciamento (DETRAN). Nesse caso, instaurou-se a polêmica no sentido se era necessário os dois registros ou apenas um, determinando qual deles. As associações dos notários, com base no fato de que boa parte dos contratos estavam sendo registrados unicamente nos certificados de registros dos automóveis no DETRAN, entraram com a ação arguindo a inconstitucionalidade do §1º no ponto em que permitia, no caso de veículos, que o registro ocorresse nos órgãos competentes para o licenciamento de veículos. Direito Civil – Caroline Andriott i 60018 Aula16 - Direito Civil IV - Propriedade Fiduciária 5 Curso Ênfase © 2018 Essa ação foi julgada improcedente, foi fixado o tema 349, em que o STF declarou a constitucionalidade do art. 1.361, §1º do CC e do art. 14, §7º, da Lei 11.795/08: Tema 349 - Tese: “É constitucional o § 1º do artigo 1.361 do Código Civil (...)” (RE 611639, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 21/10/2015, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe070 DIVULG 14-04-2016 PUBLIC 15-04-2016) STF declarou a constitucionalidade dos seguintes preceitos: artigo 1.361, § 1º, segunda parte, da Lei nº 10.406, de 2002, e do artigo 14, § 7º, da Lei nº 11.795, de 2008 (ADI 4333, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 21/10/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-058 DIVULG 30- 03-2016 PUBLIC 31-03-2016) . Lei 11.795/2008, art. 14, §7º. A anotação da alienação fiduciária de veículo automotor no certificado de registro (CTB) produz efeitos probatórios contra terceiros, dispensado qualquer outro registro público. Portanto, não é inconstitucional que se faça o registro apenas no órgão de licenciamento do veículo, no certificado de registro. Essa anotação é suficiente para produzir efeitos contra terceiros. Do ponto de vista da tutela judicial, uma vez notificado o devedor no caso de inadimplemento da obrigação principal, ele deve entregar voluntariamente o bem ao credor fiduciário. Não havendo essa entrega, abre-se ao credor fiduciário algumas hipóteses de tutela jurisdicional do seu direito, seja por força de reintegração de posse, já que o credor fiduciário é possuidor indireto, tendo em vista que por força expressa do CC ocorre o desdobramento da posse. Ele pode entrar com uma ação reivindicatória da propriedade, já que é o proprietário do bem para todos os efeitos, embora essa propriedade não seja plena, mas sim com o escopo de garantia da obrigação principal. O credor fiduciário encontra-se em uma posição de garantia superior às modalidades tradicionais como o penhor, justamente porque ele reserva uma série de possibilidades jurisdicionais de perseguição do seu crédito através da garantia que já é de sua propriedade. O único dado é a impossibilidade de ficar com o bem, ou seja, o bem é seu, mas deverá promover a venda para satisfazer a obrigação principal inadimplida. Pode ainda propor a ação de busca e apreensão do bem, solicitar a execução forçada nos termos do art. 778 do CPC e, ainda, a tutela de evidência baseada no pedido reipersecutório do art. 311, III, já que o credor fiduciante é considerado como Direito Civil – Caroline Andriott i 60018 Aula16 - Direito Civil IV - Propriedade Fiduciária 6 Curso Ênfase © 2018 depositário. Art. 311. A tutela da evidência será concedida, independentemente da demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo, quando: III - se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada do contrato de depósito, caso em que será decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob cominação de multa; O devedor fiduciante é depositário e a possibilidade da propositura de ação de busca e apreensão é em relação a qualquer modalidade de depósito. É o que se entende, de forma majoritária, na doutrina e na jurisprudência. Outra polêmica em relação à garantia fiduciária de bens móveis foi pacificada no julgamento repetitivo do tema 722 no STJ, com relação à continuidade da permissão ou não de purga da mora no caso de alienação em garantia de veículos no ajuizamento de ação de busca e apreensão. Na vigência da redação original do DL 911/69 houve a edição da súmula 284 do STJ, que reproduzia o texto legal vigente à época, em que se permitia a purgação da mora desde que já tivesse ocorrido o pagamento de pelo menos 40% do valor financiado, fazendo o pagamento unicamente das parcelas em atraso. Após a alteração pela Lei 10.931/04, essa possibilidade de purgação com base no pagamento de no mínimo 40% do valor financiado não se reproduziu, o que instaurou uma controvérsia sobre a permanência ou não da súmula em face da nova redação. O STJ entendeu que não é possível a purgação da mora, apesar da crítica da doutrina a respeito da pacificação do tema nesse sentido. É preciso que, uma vez intentada a busca e apreensão, só é cabível que o devedor fiduciante recuse-se à entrega do bem nos casos em que houver quitação integral da dívida. Súmula 284, STJ - A purga da mora, nos contratos de alienação fiduciária, só é permitida quando já pagos pelo menos 40% (quarenta por cento) do valor financiado. (Redação original do DL 911/69). Repetitivo STJ - Tema 722 ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. DECRETO-LEI N. 911/1969. ALTERAÇÃO INTRODUZIDA PELA LEI N. 10.931/2004. PURGAÇÃO DA MORA. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE PAGAMENTO DA INTEGRALIDADE DA DÍVIDA NO PRAZO DE 5 DIAS APÓS A EXECUÇÃO DA LIMINAR. 1. Para fins do art. 543-C do Código de Processo Civil: "Nos contratos firmados na vigência da Direito Civil – Caroline Andriott i 60018 Aula16 - Direito Civil IV - Propriedade Fiduciária 7 Curso Ênfase © 2018 Lei n. 10.931/2004, compete ao devedor, no prazo de 5 (cinco) dias após a execução da liminar na ação de busca e apreensão, pagar a integralidade da dívida - entendida esta como os valores apresentados e comprovados pelo credor na inicial -, sob pena de consolidação da propriedade do bem móvel objeto de alienação fiduciária". 2. Recurso especial provido. (REsp 1418593/MS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDASEÇÃO, julgado em 14/05/2014, DJe 27/05/2014) Não havendo o pagamento integral do valor financiado, não cabe purgação da mora e a propriedade consolida-se na mão do credor fiduciário. Outro julgado que está sendo bastante criticado pela doutrina é o noticiado no informativo 599 do STJ sobre a impossibilidade da aplicação da teoria do adimplemento substancial, que não está expressamente abarcada no CC, mas que a doutrina considera como sendo admitida no ordenamento no âmbito da teoria contratual mais moderna. O adimplemento substancial, ou seja, a existência de, do ponto de vista qualitativo e quantitativo, implicar na verificação de que aquela obrigação foi quase completamente adimplida, obstaria a busca e apreensão. Esse entendimento não prevaleceu no STJ. Prevaleceu o entendimento de que por força da natureza da alienação fiduciária e garantia, das garantias que se dão ao credor fiduciário, haveria o rompimento da boa-fé na medida em que financiou o valor total na garantia de que seria integralmente paga a dívida e, portanto, o STJ rechaçou a teoria do adimplemento substancial, pois ela serviria para impedir a resolução contratual, ocorrendo a execução da garantia previamente estabelecida da propriedade fiduciária. Apesar da crítica da doutrina, que afirma que o entendimento deve ser revisto, o STJ pacificou a questão quanto à impossibilidade da adoção da teoria do adimplemento substancial. Portanto, ainda que o devedor fiduciante tenha deixado de pagar 1 ou 2 prestações e tenha cumprido todas as demais obrigações financeiras, pecuniárias, bem como outras, seria julgada procedente a ação de busca e apreensão e a execução da quantia relativa à propriedade fiduciária, através de uma venda judicial ou extrajudicial do bem. Outra questão, mais antiga, que possui súmula vinculante e súmula do STJ trata- se da impossibilidade de prisão civil do depositário infiel. Não obstante haja uma série de impossibilidades com relação à tutela processual na alienação fiduciária em Direito Civil – Caroline Andriott i 60018 Aula16 - Direito Civil IV - Propriedade Fiduciária 8 Curso Ênfase © 2018 garantia, é inadmissível a prisão civil do depositário por força da internalização do Pacto de São José da Costa Rica. Súmula Vinculante 25 É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito. SÚMULA N. 419 STJ Descabe a prisão civil do depositário judicial infiel. Outra nota importante é a vedação ao pacto comissório. Os arts. 1.364 e 1.365 do CC tratam da questão, que é comum nas disposições gerais em relação aos direitos reais de garantia. Art. 1.364. Vencida a dívida, e não paga, fica o credor obrigado a vender, judicial ou extrajudicialmente, a coisa a terceiros, a aplicar o preço no pagamento de seu crédito e das despesas de cobrança, e a entregar o saldo, se houver, ao devedor. Art. 1.365. É nula a cláusula que autoriza o proprietário fiduciário a ficar com a coisa alienada em garantia, se a dívida não for paga no vencimento. Parágrafo único. O devedor pode, com a anuência do credor, dar seu direito eventual à coisa em pagamento da dívida, após o vencimento desta. O parágrafo único traz uma mitigação à vedação do pacto comissório ao prever que o devedor poderá (faculdade), com a anuência do credor, dar o seu direito eventual à coisa ao pagamento da dívida após o vencimento desta. Ou seja, após o vencimento da dívida e não paga no seu prazo, o devedor pode, desde que o credor aceite, dar o seu direito eventual à coisa em pagamento. Seria uma dação em pagamento de um direito para o fim de quitar. A regra geral é a necessidade de venda dos bens a terceiros, imputando no valor da dívida e das despesas com a cobrança e, se houver saldo, restituindo ao devedor fiduciante para que não haja enriquecimento sem causa, já que a garantia foi superior ao valor da obrigação principal acrescida das despesas. A regra do art. 1.368 do CC dispõe: Art. 1.368. O terceiro, interessado ou não, que pagar a dívida, se sub-rogará de pleno direito no crédito e na propriedade fiduciária. Direito Civil – Caroline Andriott i 60018 Aula16 - Direito Civil IV - Propriedade Fiduciária 9 Curso Ênfase © 2018 O terceiro, interessado ou não, toma para si a propriedade fiduciária em garantia quando realizar o pagamento ao credor fiduciário originário. Além da alienação fiduciária de bens móveis e infungíveis dispostos no CC, bem como a alienação de bens móveis em geral do DL 911/69, existem outras modalidades de propriedades fiduciárias inseridas em contratos de alienação fiduciária em garantia de outros bens como, por exemplo, de bens imóveis (Lei 9.514/97 e Lei 10.931/04); bens móveis, mercado financeiro e de capitais (Lei 4.785/65, DL 911/69 e Lei 10.931/04); e aeronaves (Lei 7.565/86). O art. 1.368-A do CC afirma que fora os casos previstos nas leis especiais, o CC poderá ser aplicado, desde que não seja incompatível com as leis especiais. Há subsidiariedade do CC em relação às outras espécies de alienação fiduciária previstas no ordenamento jurídico. Art. 1.368-A. As demais espécies de propriedade fiduciária ou de titularidade fiduciária submetem-se à disciplina específica das respectivas leis especiais, somente se aplicando as disposições deste Código naquilo que não for incompatível com a legislação especial. Houve decisão do STJ com relação à alienação fiduciária de bens imóveis para entender pela possibilidade da constituição de propriedade fiduciária de bens imóveis fora do escopo do sistema financeiro imobiliário (SFI). Ou seja, apesar de originalmente a propriedade fiduciária de bens imóveis ter surgido com a regulação do SFI, a ele não se limita. Informativo nº 574/STJ: constituição de alienação fiduciária de bem imóvel para garantia de operação de crédito não vinculada ao Sistema Financeiro Imobiliário (SFI). (L. 9.514/1997 e 10.931/2004) “verifica-se que é possível afirmar que a lei não exige que o contrato de alienação fiduciária se vincule ao financiamento do próprio imóvel. Ao contrário, é legítima a sua formalização como garantia de toda e qualquer obrigação pecuniária, podendo inclusive ser prestada por terceiros”. (REsp 1.542.275- MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 24/11/2015, DJe 2/12/2015). Portanto, a alienação fiduciária de garantia em bens imóveis não diz respeito apenas àquelas hipóteses, embora sejam as mais comuns, de aquisição do próprio bem imóvel que é objeto da garantia em questão. Direito Civil – Caroline Andriott i 60018 Aula16 - Direito Civil IV - Propriedade Fiduciária 10 Curso Ênfase © 2018 Na penúltima jornada de direito civil organizadas pelo CJF, a doutrina reunida aprovou 2 enunciados relativos à alienação fiduciária em garantia de bens imóveis, quais sejam, nº 506 e nº 591. O enunciado 506 diz respeito à possibilidade de que se constitua propriedades fiduciárias consecutivas. Ou seja, é possível que, além de uma propriedade fiduciária inicial sobre determinado bem imóvel, seja constituída uma segunda propriedade fiduciária sobre o bem imóvel já alienado fiduciariamente, quando do pagamento da obrigação principal e da constituição da propriedade sobre o devedor fiduciante. Considera-se que essa propriedade tenha efeito ex tunc, ou seja, constituída desde o momento inicial. Essa segunda propriedade fiduciária constitutiva dependeria da sorte da primeira, devendo constar do registro para que seja oponível contra terceiros. Já o enunciado 591 expõe que a reintegração de posse em favor do credor fiduciário poderá ser proposta desde o momento em que se considerarconvalidada a propriedade em sua mão. Ou seja, desde o momento em que haja o inadimplemento da obrigação principal com relação à propriedade fiduciária imóvel, não dependendo da sorte dos futuros leilões. No momento em que houver a convalidação da propriedade ao credor fiduciário é possível a reintegração de posse daquele determinado imóvel. O informativo 629 (agosto de 2018) do STJ (Resp 1667227/RS - 3ª T) diz respeito à alienação fiduciária de bens móveis. O caso concreto tratava de veículos e aplicou o título das pertenças aos equipamentos de monitoramento instalados em um determinado caminhão objeto de alienação fiduciária em garantia, permitindo a sua retirada pelo devedor fiduciante, pois considerado pertença, parte acessória que possui independência em relação ao bem principal que foi alienado fiduciariamente ao credor fiduciário. 2 QUESTÃO T RF1 – XV Concurso/ 2013 37. A respeito da propriedade f iduciária, disciplinada no Código Civil, assinale a opção correta. (a) Qualquer bem móvel por natureza, durável e consumível, pode ser objeto do contrato de alienação f iduciária. Direito Civil – Caroline Andriott i 60018 Aula16 - Direito Civil IV - Propriedade Fiduciária 11 Curso Ênfase © 2018 (b) O devedor f iduciante pode valer-se das ações possessórias contra terceiros, mas não manejá-las contra o credor f iduciário em razão de ser eventual o direito. (c) Não há óbice à efetivação da penhora do bem alienado f iduciariamente por dívidas do devedor f iduciante. (d) O credor f iduciário se transformará em proprietário do bem em caso de inadimplemento absoluto da dívida. (e) Ao terceiro não interessado que pagar a dívida garantida é permitido sub-rogar-se no crédito, tendo os privilégios do credor originário. COMENTÁRIOS: (a) Errada. Art. 1.361 do CC afirma que é bem móvel infungível, aquele que não pode ser alterado por outro de mesma quantidade e qualidade. (b) Errada. Há o desdobramento da posse e o devedor fiduciante é possuidor direto. O credor fiduciário é possuidor indireto e é possível, havendo a maculação da posse caracterizada, a propositura de ação possessória com relação ao credor fiduciário. (c) Errada. Há óbice, pois o bem alienado fiduciariamente pelo devedor fiduciante não está em seu patrimônio e não pode sofrer penhora, sendo bem do credor fiduciário. (d) Errada. Há vedação do pacto comissório, expressamente no art. 1.365 do CC. (e) Certa. Art. 1.368 do CC. Tem todos os privilégios do credor originário, inclusive a própria propriedade fiduciária. GABARITO: LETRA E.
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