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CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO em PRECEPTORIA EM SAÚDE unidade 2 O Ensino e as Atividades Práticas no Hospital Escola Maria da Conceição de Mesquita Cornetta Elaine Cristina Alves AMBIENTE HOSPITALAR: ENSINO NA PRÁTICA UNIDADE 2: O ENSINO E AS ATIVIDADES PRÁTICAS NO HOSPITAL ESCOLA AULA 1: Os saberes do preceptor para a integração ensino-serviço no Hospital Escolao AULA 2: Estratégias pedagógicas para ensino em serviço no cenário hospitalar AULA 3: Os projetos de extensão e a humanização do cuidado: suas vantagens na aquisição de habilidades no ambiente hospitalar 3 UNIDADE 2 – O ENSINO E AS ATIVIDADES PRÁTICAS NO HOSPITAL ESCOLA O objetivo desta unidade é refletir sobre os saberes do preceptor para o ensino na saúde; discutir estratégias para ensinar enquanto presta ser- viço à comunidade; reconhecer nos projetos de extensão espaço para o ensino de habilidades de comunicação e humanização. 4 AULA 1 - OS SABERES DO PRECEPTOR PARA A INTEGRAÇÃO ENSINO-SERVIÇO NO HOSPITAL ESCOLA Nesta aula, vamos falar um pouco sobre a função do preceptor e seus saberes para facilitar o processo de ensino em serviço no ambiente hospitalar. Iremos revisitar algumas das definições e atribuições para a atividade de preceptor colocada pela literatura e pelo Módulo de Intro- dução à Preceptoria deste curso, bem como a importância articuladora do profissional de saúde-preceptor para a integração ensino em serviço em um Hospital Escola (HE). O termo preceptoria tem sido utilizado com distintos significados, mas, de um modo geral, refere-se ao exercício sistemático de acompanha- mento e orientação profissional na educação em serviço (CECCIM, 2003). Deve-se compreender que ser preceptor é algo desafiador e importante, pois ele colabora de forma ativa na preparação dos futuros profissionais para atuarem em cenários complexos, com a exigência de diferentes téc- nicas e metodologias de prestação de cuidados, além do compromisso ético e político. Esse mediador do ensino em serviço estimula o apren- diz a fazer suas próprias descobertas no ambiente de trabalho (PAICE; HEARD; MOSS, 2002). Muitas vezes, os preceptores servem de modelo para o desenvolvimen- to e crescimento pessoal dos recém-graduados e ainda auxiliam na formação ética dos novos profissionais durante determinado período de tempo (TRINDADE, 2000). Entre as características mais importantes de um bom preceptor, estão o compromisso com a aprendizagem do aluno, o conhecimento do papel do preceptor como um formador e a capacida- de de incentivar o aluno em sua aprendizagem (RIBEIRO, 2008). Ensinar a clinicar por meio de instruções formais e com determinados objetivos e metas é uma das principais funções do preceptor (ARMITA- GE; BURNARD, 1991; RICER, 1998; STUART, 1985). Portanto, ele deve ter o conhecimento, a habilidade e a atitude para desempenhar os pro- cedimentos clínicos e poder transmiti-los aos estudantes, favorecen- do nestes a aquisição de habilidades e atitudes para a construção de suas competências em situações clínicas reais, além da atribuição de avaliar, a qual é inerente a sua função de educador nesse processo de ensino-aprendizagem. 5 Barreto et al. (2011) dizem que o preceptor possui um papel fundamental na apropriação, por parte dos estudantes, de competências para a vida profissional, incluindo conhecimentos, habilidades e atitudes. Soares et al. (2013) complementam com a necessidade também de sua capaci- dade de mediação para o aprendizado. Mills et al. (2005) definem o preceptor como um profissional que não é da academia, mas possui um importante papel na inserção e socializa- ção dos estudantes no ambiente de trabalho. Tem o papel de aproximar a teoria e a prática, integrando o mundo acadêmico ao mundo do traba- lho. Auxilia o discente em formação e/ou em treinamento na construção do seu conhecimento por meio de situações clínicas observadas e viven- ciadas no cenário prático, promovendo a reflexão e favorecendo a ação de aprender a fazer, fazendo, como mostra Silva e Silva (2005). E dessa forma desenvolve a confiança e a segurança em suas atividades (ARMI- TAGE; BURNARD, 1991). Sachdeva (1996) e Botti e Rego, (2008) elencaram algumas atividades do preceptor como: ensinar, orientar, dar suporte, desenvolver habilidades práticas, compartilhar experiências, entre outras, e salientam que o pre- ceptor atua dentro do ambiente de trabalho e de formação e tem o obje- tivo de auxiliar o aluno ou recém-graduado em seu progresso clínico. Peixoto, Melo Tavares e Queiroz (2014) identificaram que, na atividade de ensino em serviço, o preceptor aciona os seus conhecimentos da formação acadêmica/técnica, de sua experiência de vida, das experiências práticas de ensino e de sua personalidade, e o conjunto desses irão formatar a sua atividade de preceptoria e a construção dos seus saberes pedagógicos. Landim, Batista e Silva (2010) já colocavam que o preceptor do ambiente hospitalar tem como uma de suas atribuições, e digo até desafios, a inte- gração de conhecimentos (interdisciplinaridade), a criação de estratégias que aproximem a equipe multiprofissional, promovendo a interação e o diálogo (interprofissionalidade), além de desenvolver nos alunos habili- dades e atitudes, ao longo do seu curso de formação, contribuindo para a construção de sua identidade profissional. E a relação entre o preceptor e o discente no processo de ensino-aprendizagem? Rego (1994) apontou que a função mediadora do preceptor entre teo- ria e prática evidencia a necessidade de estabelecer relações pedagógi- cas, ou seja, relações que conduzem a aprendizagem prática do aluno. Barreto et al. (2011) relatam a necessidade de uma relação horizontal, em que o ato de pensar e de construir hipóteses e/ou soluções para as demandas tem que ser estimulado pelo preceptor, provocando no dis- cente a reflexão crítica sobre a relevância do trabalho coletivo. 6 Reibnitz e Prado (2006) mostram que o preceptor deve perceber o seu espaço de trabalho como um território de oportunidades de aprendiza- gem, criando, a partir dele, estratégias que favoreçam a aprendizagem dos discentes sob sua supervisão, destacando o ensino prático-reflexivo como possibilidade de união entre os dois mundos, da educação e do trabalho (SCHÖN, 2001). Donald Schön, estudioso da pedagogia, trouxe um modelo baseado no trinômio “teoria-aplicação-estágio”, chamado reflexão sobre a prática para o aprendizado organizacional e na eficácia profissional. Esse mode- lo é baseado na valorização do conhecimento prévio do aluno no proces- so de sua própria aprendizagem, tendo a “reflexão na experiência”, ou seja, não basta ao profissional apenas o conhecimento prévio do qual se apropriou durante a universidade, é necessário que ele crie “soluções” para os problemas com os quais se defronta por meio da reflexão, sendo mediada pelo educador (SCHÖN, 2000). Segundo o raciocínio de Schön, é importante o facilitador do processo de aprendizagem adotar a seguinte postura: Combater os efeitos das crenças que permeiam o saber acadêmico e se deixar surpreender pelo estudante Ouvir o que os discentes sabem e o que têm a dizer Refletir sobre o ocorrido durante o processo de ensino-aprendizagem Sempre que necessário, reformular o problema proposto e efetuar uma experiência para testar sua nova hipótese 1 2 4 3 Para trabalhar uma prática reflexiva, o preceptor, além de trazer expe- riências práticas (passadas), correlaciona conteúdos teóricos de forma interdisciplinar. É importante estimular a reflexão por meio do incentivo 7 à busca de respostas em livros e artigos, ao invés de continuar no “achis- mo” ou apenas reproduzir o que lhe foi ensinado em sala de aula, sem questionar. Propicie a metacognição desses alunos. Procure ensinar na perspectiva de não dar a resposta pronta, quan- do questionado pelo discente, devolva perguntas de forma reflexiva: o que você acha que tem que fazer? Aguarde a resposta, para expor seu posicionamento, quepode ser afirmativo ou então pergunte ao dis- cente quais desdobramentos sobre o que ele está propondo poderia acontecer para o caso? Indague sobre a possibilidade de fazer de alguma maneira melhor. Enfim, estimule os alunos sob a sua supervisão a pensarem de forma crítico-re- flexiva, mobilizando a interdisciplinaridade e a resolução da situação-pro- blema de forma interprofissional, quando for necessário para o caso. Essa postura educacional também irá propiciar as discussões de caso, pois o aluno se sente mais à vontade para expor a sua opinião sobre possíveis diagnósticos, dinâmica dos atendimentos e terapêutica, permi- tindo-se ser coautor do próprio processo de ensino-aprendizagem. As ações interdisciplinares e interprofissionais, provenientes de sua postura profissional, serão muito importantes nas reuniões e discussões, pois poderão estimular um maior aprofundamento em questões que transpassam a prática tecnicista, tão evidente em um hospital (MEDINA, 1999). Isso porque, nesse espaço, discentes, tutores e preceptores poderão discutir um projeto terapêutico para o paciente, vendo todas as possibilidades da clínica ampliada, com a participação de várias categorias profissionais para atenção e cuidado do paciente, com uma visão holística que relacione aspectos biológicos, sociológicos, políticos, morais, psicológicos e pedagógicos, que no caso de um HU contemplam a prática assistencial e educacional. Assim, você, preceptor inserido no processo de educação em saúde e de ensino em serviço, deve buscar sincronismo entre o conteúdo que com- partilha com os discentes, sua postura profissional e o método de ensi- no empregado, pois, como conversamos anteriormente, toda atividade, seja prática, seja teórico-prática, necessita de uma intenção educacional clara e definida, em relação aos seus objetivos de aprendizagem. Caso vá trabalhar as temáticas sobre como exercer a humanização e a hospitalidade por meio da habilidade de comunicação, por exemplo, o preceptor deve ensiná-las se portando como tal, no diálogo com o paciente, familiares e com a equipe de saúde. Parece algo óbvio, mas, como já falamos, o preceptor se torna muitas vezes o exemplo para seus discentes (DA SILVA CRUZ; DA SILVA LIMA, 2018), e bons exemplos devem ser seguidos. Empenhe-se em dar o seu melhor no trato com as pessoas, você estará ajudando a formar melhores profissionais. 8 Silva e Silva (2005) mostram que, no ambiente hospitalar, a interação e o diálogo entre os pares, a habilidade de comunicação é primordial, seja com a equipe, seja com o paciente e seus familiares, seja com os discentes. Embora insuficientemente discutida e trabalhada durante a formação aca- dêmica de muitos profissionais, essa habilidade é vital para fortalecer as relações de dialogicidade entre o preceptor e o educando no processo de ensino-aprendizagem, por propiciar uma formação crítico-reflexiva que se traduz em uma prática profissional mais resolutiva (CARRARO et al., 2012). Portanto, nós, preceptores inseridos no Hospital Escola temos como res- ponsabilidade e compromisso formativo o desenvolvimento da habilida- de de comunicação, pois esta possibilita aos profissionais de saúde e ao paciente delinearem as necessidades a serem atendidas, ajudando no cuidado e fazendo com que o paciente se sinta um ser humano digno e com autonomia, visando à promoção, manutenção e recuperação de sua saúde física e mental, além de discutir novas possibilidades diante de uma situação não programada. Podemos, dessa forma, trabalhar a humanização do cuidado de maneira compartilhada e fomentar a cultu- ra da segurança do paciente (STEFANELLI, 1993). Procure estabelecer em suas atividades de ensino em serviço momentos em que os discentes possam praticar o diálogo, observe como se portam e procure fazer um feedback construtivo, para estimular o desenvolvi- mento dessa habilidade tão essencial para quem cuida de pessoas, uma vez que esse cuidado depende de vários atores. Assim, o preceptor necessita exercer a sua função de educador critica- mente, conhecendo o seu papel nesse cenário de aprendizagem, cons- ciente da sua importância no processo formativo, buscando ferramen- tas para exercer uma preceptoria com capacidade crítica de aprender e ensinar e de encorajar ao aprender (FREIRE, 2011). Assim, precisa conse- guir dispensar a devida atenção que essa atividade requer. Podemos observar, nesta breve discussão, o quanto é complexa a sua atividade de profissional de saúde-preceptor; quantos conhecimentos e habilidades são necessários para a criação da sua competência como educador. Dedicamos uma parte importante do nosso trabalho para orientar e direcionar o aluno em sua formação acadêmica, ética, profis- sional e pessoal, em alguns momentos. Estamos diante da necessidade de formar profissionais aptos a “aprender a aprender” e comprometidos com o enfrentamento dos gra- ves problemas da nossa sociedade, além da necessidade do estímulo ao raciocínio clínico ampliado, tendo em vista a integralidade da atenção à saúde e a rede de cuidados (FERNANDES, 2007). 9 E é nessa situação que identificamos a necessidade de um olhar espe- cial sobre como os preceptores são preparados, treinados para darem o suporte necessário que a academia necessita para a integração ensi- no-serviço, o treinamento e desenvolvimento das habilidades e atitudes no ambiente hospitalar. Será que esses preceptores são orientados a ensinar o que está previsto no projeto pedagógico do curso, ou eles sim- plesmente ensinam o que “acham” que o aluno deve saber? Como os preceptores veem a sua responsabilidade social no processo formativos dos profissionais de saúde? A integração academia e serviço não é apenas encaminhar alunos para os serviços, como vimos na situação-problema da aluna de fisioterapia Maria Clara e do preceptor Edvaldo. Qual é a responsabilidade e a con- trapartida que a instituição tem com os preceptores? Vemos muitas funções e atribuições para os preceptores, mas quem os ensinou a desempenhá-las? Qual a responsabilidade que as unidades formadoras têm com esses educadores em serviço? Eles estão ensinando os alunos a fazer, a ser, mas quem ensinou os pre- ceptores a ensinar? Esses são alguns pontos que precisamos discutir quando falamos sobre os saberes dos preceptores. Temos que identificar onde começa a cons- trução destes e qual a responsabilidade educacional, e até social, que nós, preceptores, temos na formação dos novos profissionais de saúde. Vamos em frente, estamos abrindo um novo capítulo na Rede EBSERH. 10 AULA 2 - ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS PARA ENSINO EM SERVIÇO NO CENÁRIO HOSPITALAR Iremos, nesta aula, conversar com você sobre algumas atividades desen- volvidas no âmbito hospitalar que podem ser sistematizadas como estra- tégias de ensino no cenário prático de um Hospital Escola. Elas se mos- traram efetivas, pois propiciam o aprender “fazendo” e otimiza o tempo do preceptor no seu processo de assistência e de ensino. Nos Hospitais Universitários (HU), temos as enfermarias e os ambulatórios como os cenários práticos mais utilizados para o ensino clínico, sendo este um componente essencial para a formação na área da saúde (BORGES et al., 2015). As vivências nesses locais propiciam a aplicação do conhecimen- to teórico e uma oportunidade para o desenvolvimento de habilidades clínicas, de comunicação, ética, atitude humanística e profissionalismo. Portanto, nós, preceptores inseridos em um Hospital Escola (HE), preci- samos lançar mão de algumas estratégias de ensino-aprendizagem ine- rentes a esses cenários práticos, como, por exemplo, as visitas à beira de leito e a discussão de casos clínicos, com a construção de projetos terapêuticos com a equipe de saúde, oportunidades que iremos discutir um pouco com vocês nesta aula. 11 2.1 - VISITAS À BEIRA DO LEITO COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO A visita à beira do leito do paciente é uma atividade com um grande potencial educativo, permite trabalhara interdisciplinaridade, praticar importantes habilidades e atitudes, tornando-se um momento de apren- dizado prático e reflexivo. Nessa estratégia educacional, é possível ver, ouvir e sentir o paciente, estimulando o raciocínio clínico, a postura ética e humana, bem como o comportamento e respeito ao paciente e fami- liares, como apontam Ribeiro e Amaral (2008). Grinberg (2006) mostra que a visita à beira do leito contempla infinitas combinações, com diferentes intensidades de morbidades, são identi- ficados os fatores biopsicossociais (o exame clínico e o exame psicos- social). Esses fatores irão compor o processo de tomada de decisão, em que este deve alinhar o saber acadêmico à circunstância clínica e psicossocial analisada à beira do leito. Essa conduta apresenta diversas interpretações, dependendo da relação profissional de saúde-paciente e profissional de saúde-profissional de saúde. Essa atividade requer sensibilidade, empatia, equilíbrio quanto a expres- sões de individualidade e de solidariedade. É uma vivência em que tanto os profissionais de saúde como os discentes passam a entender melhor certas “realidades dos pacientes”, ou seja, o que a ciência classifica como clinicamente benéfico e o que cada paciente aceita para seu cuidado, passam a compreender e a empregar valores éticos até então teóricos no seu processo formativo (GRINBERG, 2010). Além disso, favorece o exercício do diálogo e a aproximação com a equi- pe multiprofissional, pois promove a discussão do caso e proporciona o 12 compartilhamento dos saberes. Também favorece a interação e participa- ção da família com o processo de cuidar (LANDIM; BATISTA; SILVA, 2010). É uma oportunidade para promover a cultura da segurança do paciente nas instituições hospitalares, promovendo maior consciência dos profissionais, com o compromisso ético no gerenciamento de risco, acarretando conse- quente incorporação da segurança para si e para os pacientes atendidos, pois no momento da visita irão favorecer o empoderamento do paciente e/ou familiares em relação a sua situação clínica e condutas, contribuindo para a formação de uma barreira de proteção contra possíveis eventos adversos/danos consequentes da assistência (CLARO et al., 2011). Outro aspecto bem interessante, além do grande potencial pedagógi- co dessa estratégia de ensino em serviço, é que os pacientes adoram o ensino à beira do leito, gostam da atenção dispensada a eles pela equipe de saúde, veem como uma oportunidade de fazer perguntas, sentirem- -se vivos, participantes, interessados e relatam compreender melhor a finalidade da instituição como Hospital Escola (LOPES, 1998). Temos nessa ferramenta a possibilidade de praticar uma infinidade de temáticas, sejam elas relacionadas ao conhecimento técnico-científico aplicado, das diversas áreas profissionais, sejam aos temas transversais, como a humanização, segurança do paciente e o exercício da bioética na assistência à saúde. Além de praticar a capacidade de diagnóstico, tera- pêutica e profissionalismo nos discentes. Agora, vamos elencar alguns aspectos para montar, sistematizar e exe- cutar uma visita à beira do leito como uma estratégia educacional PR OGR AMAÇÃO GRUPOSSELEÇÃO Escolher de forma criteriosa os casos para serem discutidos DISC USSÃO MED IAÇÃO HU MANIZAÇÃO Identificar um profissional competente capaz de incentivar o ra- ciocínio clínico e de solucionar dúvidas Realizar a visita em horários e dias predeterminados no cronograma curricular e de acordo com o processo de trabalho do cenário Estabeler rotina de discussão ao lado do paciente e, a posteriori, numa sala estruturada que fomente a discussão em grupo Formar pequenos grupos de discentes Incluir temas de cunho social e cultural no debate 13 VISITA À BEIRA DO LEITO Montar a Equipe Multiprofissional: (Preceptores, discentes da graduação e profissionais em treinamento/residentes) Iniciar uma anamnese sumária. (Lembre-se de chamar o paciente pelo nome) Manter o elo entre paciente-profissional de saúde. (Elucidações do agravo em um momento posterior) Realizar o exame clínico e exame psicossocial. (Buscar informações decisivas para o diagnóstico e para o tratamento) Ampliar a abordagem do caso fora da enfermaria Apresentar-se ao paciente (Explicar-lhe o que será feito ao lado dos alunos) Informar ao paciente sobre o contexto da discussão clínica (Ele tem o direito de saber) Como executar uma vista à beira do leito Portanto, ao tratar a visita à beira do leito como uma estratégia educa- cional, é preciso completar o ciclo no processo de ensino-aprendizagem, sendo necessária uma discussão fora da enfermaria, onde o mediador, no caso o preceptor, fará uma breve revisão dos principais pontos identificados durante a visita, poderá iniciar a discussão pelo diagnóstico diferencial, observará os exames pertinentes, dará enfoque para questões de caráter preventivo, a fim de incutir nos discentes e residentes ideais de transformação pessoal e promoção de saúde (LANDIM; BATISTA; SILVA, 2010). Poderá abordar aspectos relacionados à internação, evolução, prognóstico e à contribuição de cada categoria profissional para a construção de um plano terapêutico para o paciente visitado. 14 2.2 - DISCUSSÃO DE CASOS CLÍNICOS COMO FERRAMENTA DE APRENDIZAGEM NO CENÁRIO PRÁTICO O estudo de caso clínico é um método amplo que permite ser aplicado a uma grande variedade de problemas e contribui, de forma consisten- te, para o desenvolvimento do conhecimento de forma crítico-reflexiva, envolvendo a equipe de saúde e os discentes presentes no cenário práti- co, sendo utilizado como uma estratégia pedagógica teórico-prática com o objetivo de ter uma situação (real) observada. A sistematização e o uso desse método é relevante para favorecer a aprendizagem no cená- rio prático (TARCINALE, 1987; JOHNSON; PURVIS, 1987; BOCCHI, 1996). Lüdke e Meda (1986) dizem que o estudo de caso pode ser definido como uma exploração de um sistema delimitado ou de um caso, obtido por meio de uma detalhada coleta de dados, envolvendo múltiplas fontes de informações. É um estudo aprofundado de uma unidade, grupo ou indi- víduo, em sua complexidade e em seu dinamismo próprio, fornecendo informações relevantes para a tomada de decisão. Essa ferramenta permite a observação, o entendimento, a análise crítica e a descrição de uma determinada situação clínica ou biopsicossocial real, envolvendo o profissional na aquisição de conhecimento científico 15 e experiência, os quais serão úteis para a tomada de decisão, em situ- ações futuras. Consiste em um método de investigação, que tem um grande envolvimento do profissional, pois possui diversas etapas: coleta de informações, pesquisa de evidências científicas, processamento do pensamento, análise dos dados, discussão e determinação de soluções (NAUMES, NAUMES, 1999; TARCINALE, 1987). Galdeano, Rossi e Zago (2003) relatam que o surgimento desse método reflete o interesse da profissão em organizar o seu trabalho, baseando o estabelecimento de suas ações na análise da história do paciente. Para a construção de um caso clínico, é necessária a elaboração de um roteiro para guiar o profissional de saúde e os discentes quanto aos aspectos mais importantes relacionados ao caso selecionado, bem como assegu- rar que não sejam esquecidos ou omitidos dados considerados essen- ciais (NAUMES, NAUMES, 1999), além de incentivar a reflexão acerca dos resultados encontrados e fornecer uma “sequência” para a apresenta- ção do estudo de caso e a elaboração do relatório/apresentação. Para ajudar no direcionamento da construção de um caso clínico, vamos sistematizar alguns aspectos relevantes para essa estratégia pedagógica teórico-prática utilizada em cenários práticos. 16 Questões norteadoras Como escolher um caso clínico: Observe um problema que merece um estudo mais aprofundado ESTUDO DE CASO CLÍNICO 1 2 345 6 7 Identifique (Local e a pessoa para o estudo) Resuma os problemas ou alterações identificados Fundamentação teórica Alternativas ou propostas Ações implementadas ou recomendadas Discussão Roteiro para a montagem e discussão do Estudo de Caso Clínico, adaptado de Galdeano e colaboradores (2003) 17 Atenção Para deixar mais claro cada etapa! Vamos descrever cada uma a seguir. 1 – Questões norteadoras São as questões que darão a intencionalidade ao caso discutido e, ao final do estudo de caso, todas essas questões devem ser esclarecidas/respondidas. Usamos os questionamentos: Quem é a pessoa envolvida no caso? Qual é o lugar que está sendo estudado? O que aconteceu? Ou qual é o problema? Como aconteceu (é importante seguir uma ordem cronológica)? Por que aconteceu? Quais as alternativas para solucionar ou amenizar os proble- mas identificados? Que soluções ou alternativas estão sendo propostas? 2 – Identificação Coleta de informações, utilizando diversas fontes de informação (entrevista, observação, exame físico, prontuário do paciente, familiares etc.). Respondendo as seguintes perguntas: Quem? Qual? E o quê? 3 – Resumo dos problemas ou alterações identificadas Analisa e categoriza os dados coletados para definir o caso- -problema do estudo em questão, com as seguintes perguntas: como? E por quê? 4 – Fundamentação teórica Busca na literatura sobre a fisiopatologia e demais informações que justifiquem as alterações e a sua relação com o diagnóstico do caso clínico. Embasados na literatura, responderemos: como? E por quê? 5 – Alternativas ou propostas Identifica evidências científicas das estratégias ou alternativas existentes para a resolução dos problemas e ajuda na tomada de decisões, respondendo: quais? E o quê? 18 6 – Ações implementadas ou recomendas Consiste na descrição e justificativa da alternativa esco- lhida para reverter ou amenizar os problemas identificados, respondendo: por quê? 7 – Discussão Corresponde à apresentação do estudo de caso, tendo por obje- tivo envolver os profissionais no caso estudado, incentivando uma análise crítico-reflexiva, troca de experiências, levantando discussões que contribuirão para outras propostas/alternativas, resultando em um processo de decisão e avaliação. Nessa estratégia educacional, é fundamental a elaboração de um “relatório/ apresentação”, em que se descreva todo o percurso na construção do caso clínico. E para ajudar na instrumentalização desse método, temos a seguir um modelo de estudo e discussão de caso clínico empregado em conjunto pelo Programa de Residência Multiprofissional e o de Residência Médica em Neonatologia da Maternidade Escola Januário Cicco/UFRN. 19 Quadro 1 - Estudo de caso clínico de insuficiência renal em recém-nascido pré-termo. Estudo de caso clínico Assunto: Insuficiência renal em recém-nascido pré-termo. Etapas Abordagem do “passo a passo” para um estu-do de caso/problema Profissões sugeridas para a discussão 1ª Etapa Identificação/Formulação/ Descrição do caso-problema (Referencial Teórico) Quais os aspectos biopsicossociais da puérpera (quem) e como foi o seu trabalho de parto? Assistente Social Psicólogo Médico Obstetra Qual a fisiopatologia e como é o diagnóstico da insuficiência renal em recém-nascido e em pré-termo? Médico Neonatologista Quais as alterações e o porquê das complicações do recém-nascido (RN)? Equipe Multiprofissional Quais as repercussões dessa doença para o RN, como e por que acontecem? Equipe Multiprofissional (categorias profissionais envolvidas e com contribui- ções significativas para o caso) 2ª Etapa Resolução do caso/problema: momento da investigação – referencial teórico. Quais as condutas e orientações que a equipe de saúde ofereceram ao RN e a sua mãe e por quê? Equipe Multiprofissional (categorias profissionais envolvidas e com contribui- ções significativas para o caso) Qual o prognóstico para o RN? Equipe Multiprofissional Quais os possíveis nós críticos para a assistên- cia do RN? Equipe Multiprofissional (relacionar com a rede de atenção à saúde) 3ª Etapa Discussão do Problema. Debate sobre o que foi construído para o caso clínico. Troca de experiências e compartilhamento. Discentes e preceptores AVALIAÇÃO Voltada para as competências, traduzidas no desempenho da resolução do caso/problema e na relação interprofissional. Fonte: Instrumento de Estudo de Caso Clínico do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde com área de concentração em Terapia Intensiva Neonatal da Maternidade Escola Januário Cicco/EBSERH/UFRN.FIM QUADRO] 20 Saiba mais Estudo de Caso – 5.Ed.: Planejamento e Métodos Por Robert K. Yin Parte superior do formulário Parte inferior do formulário LINK: https://books.google.com.br/books?id=EtOyBQAAQBAJ&l- pg=PR1&ots=-k6nooBZAu&dq=discussoes%20de%20caso%20 clinico&lr&hl=pt-BR&pg=PA1#v=onepage&q=discussoes%20 de%20caso%20clinico&f=false 21 AULA 3 - OS PROJETOS DE EXTENSÃO E A HUMANIZAÇÃO DO CUIDADO: SUAS VANTAGENS NA AQUISIÇÃO DE HABILIDADES NO AMBIENTE HOSPITALAR A Política Nacional de Humanização – HumanizaSUS (PNH) foi criada pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2004) e propõe uma troca de saberes, incluin- do os dos usuários e sua rede social, o diálogo entre os profissionais por meio do trabalho em rede e com equipes multiprofissionais, identificando as necessidades, os desejos e interesses dos envolvidos, contemplando o reconhecimento de gestores, trabalhadores e usuários como protagonis- tas das ações de saúde no Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com Pessini e Bertachini (2004), para humanizar, é preciso constituir, sobretudo, a presença solidária do profissional, com compre- ensão e olhar sensível ao cuidado do ser humano, despertando uma relação de confiança e solidariedade. E um dos pontos que temos que trabalhar é a horizontalidade nas relações, pautada na liberdade de ser, pensar, falar, divergir, propor, reconhecendo o exercício da autonomia. Para Mota, Martins e Véras (2006), o movimento de humanização nos hospitais é voltado para o processo de educação e treinamento dos profissionais de saúde e também em intervenções estruturais, no intui- to de tornar a experiência da hospitalização a mais confortável para o paciente. É necessário para isso, o desenvolvimento de sensibilidade e competência, com mudanças nas práticas profissionais, reconhecendo a singularidade dos pacientes, encontrando, junto a eles, estratégias que facilitem a compreensão e o enfrentamento do momento vivido (BACKES; LUNARDI; LUNARDI FILHO, 2006). Essa discussão sobre a humanização no ambiente hospitalar surge em razão da formação tecnicista, da dissociação da teoria com a prática, da centralidade na doença como o objeto do saber científico, além da frag- mentação da atenção hospitalar especializada (PEREIRA; LAGES, 2013). Temos situações em que a dignidade do ser humano fica em um segun- do plano, o que não se deve fazer, pois a dimensão humana é a base de qualquer processo de intervenção na saúde, principalmente no que diz respeito à pretendida assistência humanizada em um hospital. 22 Essa prática, contudo, não é algo intencional, e sim automática, fomos trei- nados na academia para saber sobre a doença, tivemos poucas oportu- nidades de sermos treinados para saber sobre o paciente, a pessoa que está sob nosso cuidado. Esse fato se deve aos projetos pedagógicos dos cursos, que não foram construídos para trabalhar o desenvolvimento da habilidade de comunicação e hospitalidade, por exemplo, fomos forma- dos por um currículo que não era, ou não é, baseado em competências. Mas e agora? O que você COMO profissional de saúde-preceptor pode fazer? Vamos pensar em alguns aspectos dessa discussão! Como promover mudanças no processo de reorientação da formação dos futuros profissionais de saúde, no ambiente de ensino em serviço em que estou inserido? Como ensinar a humanização para discentes, quandoestou inserido em um ambiente tão cheio de atribuições e com demandas tão complexas? Como disponibilizar atividades com objetivo educacional que trate o paciente como corresponsável pelo seu cuidado? Como facilitar a construção de espaços para que possa ocorrer a troca de saberes entre pacientes, alunos e profissionais de saúde em um cenário vivo? Assim, Dias, De Lima e Teixeira (2013) mostram que, para a reorienta- ção no processo de educação dos profissionais da saúde, é necessária a criação de cenários de aprendizagem que aproximem os estudantes da realidade da comunidade e da sociedade. Dessa forma, diversas ativi- dades formativas, como aulas práticas, estágios, vivências e projetos de extensão, têm sido fortemente incentivadas (BATISTA, 2006). Nessa perspectiva de oportunizar a vivência de atividades práticas volta- das para a humanização, uma das alternativas possíveis em um Hospital Escola é vincular os discentes a projetos de extensão, pois estes con- templam usuários, equipe de saúde e discentes. Essa potente estratégia educacional pode proporcionar cenários para o trabalho em equipe, de 23 forma multiprofissional e, em algumas situações, poderemos exercitar até a interprofissionalidade, dependendo dos objetivos do projeto de extensão, e com práticas voltadas para a promoção, educação em saúde e cuidado integral à população assistida. A extensão universitária traz grandes contribuições para o ensino e para a assistência, pois considera a comunidade, amplifica o processo educa- tivo não formal de aprendizagem, em que o discente é instigado a uma experiência construtiva do conhecimento integrado às atividades viven- ciadas, ou seja, ele tem a oportunidade de aplicar a teoria vista em sala de aula na prática, desenvolvendo habilidades (ABDALA; MONTEMOR, 2016; RODRIGUES et al., 2013). Além de não se limitar a uma única área profissional, o que possibilita a troca de saberes (interdisciplinaridade), contribuindo tanto para o desen- volvimento pessoal quanto profissional dos estudantes, a troca de saberes agrega membros acadêmicos e da comunidade sob uma linha horizontal do conhecimento nas atividades de extensão (ALMEIDA, 2011; CALIPO, 2009). Jenize (2004) e Severino (2007) discutem a relação da universidade com a sociedade para a formação de profissionais competentes, comparando a interação do ensino-pesquisa-extensão, como um alicerce para forma- ção humana/profissional/cidadã. O fortalecimento da relação socieda- de-universidade proporciona melhoria na qualidade de vida do cidadão, quando ocorre o rompimento das barreiras da sala de aula e o compar- tilhamento de informações. A vivência extensionista possibilita ao futuro profissional a experimenta- ção e a intervenção na realidade, contribuindo para o desenvolvimento do seu processo de trabalho de maneira crítico-reflexiva, superando o conhecimento “bancário” da formação tradicional, valorizando a inter- disciplinaridade, os aspectos humanísticos, além da efetivação de ser- viços de saúde resolutivos, voltados para as necessidades de saúde da população (GURGEL, 1998). A imersão de estudantes em projetos de extensão, com atividades de atenção à saúde, produz ricas possibilidades para o aprendizado do cui- dado, da organização dos processos de trabalho e da gestão. Macêdo et al. (2006) afirmam que espaços de construção do conhecimento e de reflexão sobre a realidade de vivências e desenvolvimento de atitudes proporcionam oportunidades de atuar na saúde de forma crítica e de se relacionar com os usuários, ao tempo em que produzem o compromis- so social, em suas diversas dimensões, e fortalecem o SUS. Esse é um contraponto que muitas vezes encontramos no Hospital Universitário, com um ambiente recortado de práticas fechadas que podem induzir à especialização precoce e acarretar visão distorcida da rede de servi- ços de atenção à saúde, gerando apreensão desfocada da realidade das necessidades da população. 24 RESUMINDO... Potencialidades das ações de extensão no ambiente hospitalar e seus objetivos educacionais. Processo Formativo Desenvolver Habilidades (diante de questões sociais) Articulação Teórico-prática Reorientação das Práticas de Saúde Articulação ensino e a pesquisa Interação de saberes Experiência e inserção na realidade social Contextualização com a realidade local e regional Implementação de estratégias alternativas de aprendizagem e produção de conhecimento Conhecimento e a análise da atenção e da gestão do SUS Atitude ética e cidadã Organização do sistema de saúde Intensificar a atuação interdisciplinar Implementação de ações de educação em saúde Severino (2002) discute o quanto é essencial que a formação em saúde não se limite à qualificação puramente técnica e que a extensão deve estar imbricada ao processo pedagógico formativo universitário para a construção de uma nova consciência social dos profissionais de saúde. Segundo Hennington (2005), os programas de extensão podem ajudar na criação de um espaço diferenciado para novas experiências de qualificação da atenção à saúde, quando se integram à rede assistencial. Também possibilitam o desenvolvimento de processos de ensino- aprendizagem a partir de práticas cotidianas, envolvendo o ensino e a pesquisa e o encontro da teoria com o mundo real (L’ABBATE, 1995). Portanto, podemos abordar e treinar no ambiente hospitalar diversas temáticas relacionadas à educação em saúde, segurança do paciente, humanização, por meio de projetos de extensão, como uma ferramenta de intervenção viável, efetiva e de baixo custo, considerada uma tecnolo- gia leve, em algumas situações, e que pode lançar mão de ferramentas 25 lúdicas para trabalhar habilidades, como a comunicação, o acolhimento ao usuário, o vínculo, a autonomia, o empoderamento, fatores relacionados para a reorientação na gestão dos processos assistenciais nesse tipo de serviço de saúde. Aproveite esta oportunidade para incrementar as suas ações voltadas para o ensino em serviço em seu ambiente de trabalho!
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