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DESENHO TÉCNICO APLICADO Filipe Sousa Barbosa Desenhos de instalações de alta tensão Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a simbologia utilizada no desenho de instalações de alta tensão. Analisar o desenho de estruturas de instalações de alta tensão. Aplicar as normas técnicas relativas ao desenho de instalações de alta tensão. Introdução As instalações elétricas apresentam características diversificadas e pa- râmetros diferenciados, dentre eles potências, correntes e tensões. As tensões do sistema são estipuladas de acordo com a potência que deve ser transportada — quanto maior a potência solicitada, maior o nível de tensão. Essa regra é utilizada para evitar um aumento da corrente elétrica, reduzindo-se, assim, as perdas nos condutores elétricos. Segundo a Norma Regulamentadora nº. 10 (BRASIL, 1978), a chamada NR 10, os níveis de tensão podem ser classificados em extra baixa tensão (EBT), quando a tensão for inferior a 50 Vca, baixa tensão (BT), quando entre 50 Vca e 1.000 Vca, e alta tensão (AT), quando a tensão for superior a 1.000 Vca. Níveis diferenciados de AT podem ser utilizados em várias partes do sistema elétrico, como na geração, transmissão e distribuição primária; dentre esses níveis, podemos citar alguns dos mais utilizados por concessionárias de energia: 13,8 kV, 138 kV e 345 kV, sendo que o “k” indica que o valor está multiplicado por 1.000. Neste capítulo, você vai aprender a reconhecer a simbologia utilizada no desenho de instalações de alta tensão. Você também vai analisar o desenho de estruturas de instalações de alta tensão e verificar a aplicação das normas técnicas relativas a essas representações. Simbologia utilizada A alta tensão é utilizada em quase todas as fases do sistema elétrico de potência (SEP), fi cando de fora apenas as fases de distribuição secundária e de consumo. Sendo assim, o SEP possui muitos componentes em sua instalação e vários símbolos para representá-los. O SEP é dividido em várias etapas, sendo elas: geração, transmissão, subtransmissão, distribuição primária, distribuição secundária e consumo. Dessas divisões, apenas a distribuição secundária e o consumo não são realizadas em alta tensão. A Figura 1 representa o caminho da eletricidade desde sua geração até a chegada na residência do consumidor. Nela, pode-se observar as fases de geração, transmissão e distribuição do sistema elétrico. Figura 1. Caminho da eletricidade, da usina geradora até as residências. Fonte: MSSA/Shutterstock.com. Desenhos de instalações de alta tensão2 A Figura 2 mostra um exemplo da representação de instalações elétricas de alta tensão utilizada por concessionárias de energia elétrica. Figura 2. Ilustração de um sistema elétrico de alta tensão. G Geração Subestação SubestaçãoTransmissão Distribuição Verifica-se, nas Figuras 1 e 2, que, entre as fases de geração e transmissão, por exemplo, existe uma subestação. As subestações são instalações elétricas destinadas a alojar processos de medição, proteção e transformação e são formadas por um conjunto de equipamentos elétricos. Elas fazem parte das instalações de alta tensão, e seus componentes são representados em diagra- mas unifilares. A Figura 3 mostra um diagrama unifilar de uma subestação consumidora. 3Desenhos de instalações de alta tensão Figura 3. Esquema unifilar básico de uma subestação. Fonte: Adaptada de Mamede Filho (2017). Alimentação da concessionária Posto de medição Posto de entrega Posto de proteção Posto de transformação Barra de baixa tensão CCM1 CCM2 kW/kWh kVAr A QDL1 QDL2 Os desenhos de sistemas elétricos podem ser representados em diagramas multifilares ou unifilares. O diagrama unifilar (somente um fio) é o diagrama que representa de forma simplificada todos os componentes de um sistema elétrico de potência, informando os dados mais importantes desse sistema. Desenhos de instalações de alta tensão4 A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), responsável pela elaboração das normas brasileiras, não dispõe mais de uma norma específica com simbologias para utilização em sistemas elétricos, indicando a adoção das normas europeias da International Electrotechnical Commission, conhecidas como normas IEC. No Quadro 1 alguns símbolos comumente adotados na representação das instalações de alta tensão, conforme a IEC 60617. Símbolo Descrição Sentido do fluxo — pode ser energia, sinal ou informação. Conexão — pode ser mecânica, ótica, funcional, hidráulica ou pneumática. Terra — símbolo geral. 3 Cabo condutor — se a linha possuir mais de um cabo condutor, estes podem ser indicados pelo número de condutores. Símbolo geral de máquinas elétricas. O “*” deve ser substituído pela letra da máquina correspondente; por exemplo: G — Gerador. GS — Gerador síncrono. M — Motor. MS — Motor síncrono. Transformador de força de dois enrolamentos. Transformador de corrente, para medição ou proteção do sistema. Quadro 1. Simbologia de instalações de alta tensão, conforme a norma IEC 60617 (Continua) 5Desenhos de instalações de alta tensão O Quadro 1 não apresenta toda a simbologia existente utilizada em instalações elétricas de alta tensão, devendo-se, sempre que necessário, recorrer à norma para sanar dúvidas. Além disso, algumas concessionárias e empresas podem utilizar simbologia própria para a criação de desenhos de instalações elétricas de alta tensão. Fonte: Adaptado de Internacional Electrotechnical Commission (2012). Símbolo Descrição Transformador de potencial, para medição ou proteção do sistema. Fusível — símbolo geral. Chave fusível unipolar. Centelhador. Quadro 1. Simbologia de instalações de alta tensão, conforme a norma IEC 60617 (Continua) Desenhos de instalações de alta tensão6 A simbologia inserida em um desenho completo se torna uma leitura prática do que está acontecendo em uma instalação de alta tensão. A Figura 4 apresenta um sistema de uma subestação simples, que possui uma chave seccionadora, dois disjuntores a óleo, dois para-raios e um transformador de força. Mostrando a implementação dos elementos de proteção, medição, alarme e controle da subestação, o diagrama da Figura 5 consiste em um desenho completo do sistema. Para tanto, ele indica a quantidade de cada elemento, quando diferente de uma unidade. Além disso, inclui as linhas de atuação da proteção, as linhas de sinalização e de alarme, e, por fim, os registros dos principais dados técnicos nominais dos componentes. Figura 4. Desenho unifilar de uma subestação simples. 7Desenhos de instalações de alta tensão Figura 5. Desenho unifilar de uma subestação simples com as proteções e medições indicadas. 69 kV - 34 - 60 Hz - 10kA SM 50 50N 51N51 A W V 27 59 87 3x1 / C# 240mm2 Desenho de estruturas de instalações de alta tensão O desenho completo das instalações de alta tensão deve compreender todos os elementos envolvidos no funcionamento do sistema. Na Figura 6, temos a representação do sistema unifi lar de um gerador da usina hidroelétrica de Belo Monte. Na fi gura, são indicados os disjuntores, o transformador, as chaves seccionadoras e as lâminas de terra. Desenhos de instalações de alta tensão8 Figura 6. Painel de controle da usina de Belo Monte, no Pará. Subestação Barra A Unidade 1 - Uni�lar Geral 89A-1 89AC-1 89CB-1 89BC-189LC-2 57LC-2 TE1 RLC1 89B-1 Barra B TEXU1 13,8kV 52B-1 89CA-189-LC1 57-LC1 52A-1 52C-1 Tensão AB Frequência 519,85kV 59,99kV UG2 DISJ Excitação 59,99Hz Frequência Tensão de Campo Corrente de Campo 488,44V 2580,78AMedições Serviços Auxiliares A Figura 6 demonstra um sistema com uma estrutura de barra dupla de disjuntor e meio (DJM). O barramento funciona como um nó de conexão central entre todos os circuitos ligados a uma subestação e tem a função de coletar a energia dos alimentadores de entrada e distribui-la entre todos os alimentadores de saídado sistema. Para Frontin (2013), o termo configuração de barras é entendido como a conectividade elétrica da subestação. Uma barra de subestação pode ser visualizada na Figura 7. 9Desenhos de instalações de alta tensão Figura 7. Barramento de uma subestação. Fonte: CHAIYA/Shutterstock.com. As instalações de alta tensão podem ser divididas conforme as diversas formas de apresentação de suas estruturas. O Quadro 2 mostra os principais tipos de estruturas das instalações de alta tensão e uma descrição de sua utilização. Desenhos de instalações de alta tensão10 Configuração Descrição LT-1 TR-1 TR-2 LT-2 Barra simples — BS Trata-se de uma das mais simples configurações de barra, que pode ser utilizada em subestações de pequeno porte em média e alta tensão ou aplicada em subestações de distribuição ou subestações industriais para atendimento a cargas específicas. LT-1 TR-1 TR-2 BP BT LT-2 Barra principal e transferência — BP+T Essa configuração consiste em duas barras, sendo que, em condições normais de operação, apenas a barra principal (BP) é utilizada. Em caso de falhas ou manutenção, é utilizada a barra de transferência (BT). É aplicada em subestações de média e alta tensão. Quadro 2. Configurações de barramentos de subestações de alta tensão (Continua) 11Desenhos de instalações de alta tensão Configuração Descrição LT-1 BP1 BP2 BT LT-3 LT-4TR-1 TR-2 LT-1 Barra principal seccionada e transferência — BPS+T Para subestações que foram projetadas sem a perspectiva de evolução e tiveram aumento considerável do número de circuitos conectados, aumentando, com isso, seu grau de importância no sistema, pode-se inserir (se houver espaço) um bay de seccionamento na barra principal. A flexibilidade para a manutenção das secções de barras tem uma sensível melhora, mantendo-se a subestação parcialmente em operação. LT-1 TR-1 TR-2 LT-4 B1 B2 LT-2 LT-3 Barra dupla com disjuntor simples a três chaves — BD3 Nessa configuração, cada circuito do sistema pode ser conectado em qualquer das duas barras, mediante o uso das chaves seletoras de barras. As duas barras operam normalmente, melhorando a disponibilidade da subestação para falhas em barras. Quadro 2. Configurações de barramentos de subestações de alta tensão (Continua) (Continuação) Desenhos de instalações de alta tensão12 Configuração Descrição LT-1 TR-1 TR-2 LT-4 B1 B2/BT LT-2 LT-3 Barra dupla com disjuntor simples a quatro chaves — BD4 Nessa configuração, acrescenta-se uma chave de baypass (passagem alternativa) em cada bay (vão do disjuntor), de forma que todo disjuntor possa ser liberado para manutenção e reparos sem que seja necessário desligar o circuito correspondente. Assim, aproveita-se a vantagem da operação normal em barra dupla e, em emergências para disjuntores, uma das barras é utilizada como BT. Somente é possível liberar (transferir) um disjuntor de cada vez. LT-1 TR-2 LT-2 TR-1 Anel simples — AN Observa-se que os quatro circuitos são conectados por meio de um laço elétrico formado pelos equipamentos do pátio de manobras. Essa configuração, embora econômica e flexível, tem o inconveniente de expor o sistema elétrico, devido a falhas externas ao pátio em segundas contingências. Quadro 2. Configurações de barramentos de subestações de alta tensão (Continua) (Continuação) 13Desenhos de instalações de alta tensão Fonte: Adaptado de Frontin (2013). Configuração Descrição LT-1 B1 B2 LT-2 LT-3 LT-4 AT-1 AT-2 Barra dupla com disjuntor e meio — DJM Essa configuração se torna estável com a existência do segundo laço elétrico, como mostrado. Mesmo com a saída das duas barras de operação, em situações envolvendo contingências duplas, a perda da configuração leva à separação dos circuitos, isto é, à perda de sincronismo nessa barra do sistema, porém mantendo-se a continuidade nos circuitos. LT-1 B1-A B1-B B2-BI-ABT LT-2 LT-3 LT-4 TR-1 TR-2 TR-3 LT-5 Barra dupla seccionada com disjuntor simples a quatro chaves — BDS4 Para subestações de transmissão, em que os cenários de longo prazo são de difíceis previsões, é importante que, durante a fase de planejamento e projeto da subestação, sejam previstas facilidades para que, no futuro, a subestação possa ter seu desempenho melhorado. As quatro seções de barras interligadas, operando cada uma com sua própria proteção diferencial, em operação normal, evitam grande perda de circuitos para falhas em seções de barras. Quadro 2. Configurações de barramentos de subestações de alta tensão (Continuação) Desenhos de instalações de alta tensão14 O Quadro 2 não esgota as configurações de estruturas utilizadas em subestações de alta tensão, apenas apresenta os modelos mais utilizados. Normas técnicas relativas ao desenho de instalações de alta tensão O projeto das instalações de alta tensão é orientado por normas brasileiras e internacionais, além das especifi cações da concessionária local e da empresa contratante. As normas técnicas mais utilizadas para referenciar desenhos de instalações de alta tensão são: ABNT NBR 5444 — Símbolos gráficos para instalações elétricas prediais. Criada em 1961 para atender a uma demanda do mercado por padronização da simbologia utilizada em projetos elétricos, a norma vigorou, em sua última atualização, de 1989 até 2014, quando foi can- celada, sem apresentar substituição. A norma continua sendo utilizada por concessionárias, empresas e autores, já que não possui substituta (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1989). A ABNT informa em seu catálogo que, atualmente, o setor utiliza os símbolos do banco de dados da IEC 60617. IEC 60617 — Graphical symbols for diagrams. Criada em 2012, essa norma internacional traz a simbologia gráfica para uso em diagramas eletrotécnicos. Dentre as diversas áreas abordadas pela norma, os símbo- los de alta tensão são abordados no banco de dados nas seguintes seções: componentes passivos básicos; produção e conversão de energia elétrica; aparelhagem, mecanismos de controle e dispositivos de proteção; ins- trumentos de medição (INTERNATIONAL ELECTROTECHNICAL COMMISSION. 2012). 15Desenhos de instalações de alta tensão ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 5444: símbolos gráficos para instalações elétricas prediais. Rio de Janeiro, 1989. BRASIL. Ministério do Trabalho. Norma reguladora NR 10: segurança em instalações e serviços em eletricidade. Brasília, DF, 1978. Atualizada em 2016. Disponível em: <http:// trabalho.gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR-10-atualizada-2016.pdf>. Acesso em: 22 ago. 2018. FRONTIN, S. O. Equipamentos de alta tensão: prospecção e hierarquização de inovações tecnológicas. Brasília: Goya, 2013. INTERNATIONAL ELECTROTECHNICAL COMMISSION. IEC 60417: graphical symbols for diagrams. Genebra, 2012. MAMEDE FILHO, J. Instalações elétricas industriais: de acordo com a norma brasileira NBR 5419:2015. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2017. Leituras recomendadas GEBRAN, A. P.; RIZZATO, F. A. P. Instalações elétricas prediais [recurso eletrônico]. Porto Alegre: Bookman, 2017. MARSON, J. P. Metodologia de análise de arranjos de barras em subestações de alta tensão. 2017. 92 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de Engenharia Elétrica) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2017. Desenhos de instalações de alta tensão16 http://trabalho.gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR-10-atualizada-2016.pdf Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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