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O que é Antropologia? Prof. Dr. Lucas Pereira de Melo EERP/USP OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Definir antropologia; • Reconhecer os principais marcos históricos na constituição da antropologia como ciência; • Conhecer o objeto de estudo de antropologia – a questão do outro em antropologia (alteridade; estranhamento); • Conhecer as principais contribuições e limitações atribuídas à antropologia como disciplina científica. O que antropologia? O QUE É ANTROPOLOGIA? • Como vocês enumeraram, há uma diversidade de possibilidades de compreender o conceito de Antropologia: o Etimologicamente: anthropos = homem, logia = estudo; o “O estudo do homem inteiro” (Laplantine, 2007, p. 16); o “O estudo do homem em todas as sociedades, sob todas as latitudes em todos os seus estados e em todas as épocas” (Laplantine, 2007, p. 16); o “O estudo do homem em sua diversidade” (Laplantine, 2007, p. 20); o A disciplina do encontro, da diversidade; • Se antes, no início da disciplina, essas definições poderiam dar conta de conceituá-la, hoje há certa dificuldade em fazer essa tarefa. O QUE É ANTROPOLOGIA? • Ao propormos uma definição fechada para a Antropologia corremos o risco de reduzir a própria compreensão contemporânea de seu escopo. • Em 2000, a Associação Brasileira de Antropologia elencou algumas temáticas trabalhadas nas dissertações e teses em Antropologia produzidas no Brasil. O QUE É ANTROPOLOGIA? O QUE É ANTROPOLOGIA? • Diante disso, Santos (2010, p. 19) oferece a seguinte síntese: o “podemos iniciar pensando a Antropologia como um conjunto de teorias (nem sempre concordantes) e diferentes métodos e técnicas de pesquisa que busca explicar, compreender ou interpretar as mais diversas práticas dos homens e mulheres em sociedade”. O QUE É ANTROPOLOGIA? • Laplantine (2007, p. 19) chama a atenção para a abrangência de tudo que constitui uma sociedade e que é de interesse dessa Antropologia (social e cultural): o “seus modos de produção econômica, suas técnicas, sua organização política e jurídica, seus sistemas de parentesco, seus sistemas de conhecimento, suas crenças religiosas, sua língua, sua psicologia, suas criações artísticas”. Quais os principais marcos históricos da Antropologia? BREVE HISTÓRICO DA ANTROPOLOGIA BREVE HISTÓRICO DA ANTROPOLOGIA • Século XVI – a descoberta das diferenças pelos viajantes e a dupla resposta ideológica dada: o A recusa do estranho: o mau selvagem e o bom civilizado; o O fascínio pelo estranho: o bom selvagem e o mau civilizado. • Aqui ainda não existia uma antropologia científica. Os trabalhos eram escritos com base nos relatos dos viajantes (missionários e administradores). Um exemplo é André Thevet (1503-1592). (Laplantine, 2007; Perrone-Moisés, 1996) BREVE HISTÓRICO DA ANTROPOLOGIA Équarrissage de la victime. Scène d'anthropophagie rituelle chez les Tupinamba du Brésil. Thevet, 1557. BREVE HISTÓRICO DA ANTROPOLOGIA • Século XVIII e XIX – a invenção do conceito de homem, Positivismo e o Evolucionismo Cultural. (adaptado de Santos, 2010, p. 25) Estágios do pensamento humano: • Magia • Religião • Ciência Fases do desenvolvimento das sociedades: • Selvageria • Barbárie • Civilização Comte (França) 1798 1857 Morgan (EUA) 1818 1881 Frazer (Inglaterra) 1854 1941 As explicações que os homens dão aos fenômenos passam por três fases: • Fase teológica ou fictícia • Fase metafísica ou abstrata • Fase científica ou Positiva BREVE HISTÓRICO DA ANTROPOLOGIA • Contribuições e limitações do Evolucionismo Cultural: o Apesar da visão preconceituosa (etnocêntrica) destinada aos “povos atrasados”, sem essa teoria, empenhada em mostrar as etapas do movimento da humanidade, a antropologia não teria nascido; o Nessa época, o antropólogo raramente recolhia os materiais que estudava; o Tylor, Morgan e Frazer realizaram uma tarefa extensiva (não intensiva, como hoje) no tempo e no espaço, de todas as culturas; o Eles buscavam explicar a universalidade e a diversidade das culturas humanas; o Além disso, compararam as práticas sociais de populações infinitamente distantes; (Laplantine, 2007) BREVE HISTÓRICO DA ANTROPOLOGIA • Contribuições e limitações do Evolucionismo Cultural (continuação): o Eles extraem, com mérito, a hipótese mestra sem a qual não haveria antropologia: a unidade da espécie humana; o São eles que mostraram, pela primeira vez, que as disparidades culturais entre os grupos humanos não eram de forma alguma a consequência de predisposições congênitas, mas apenas o resultado de situações técnicas e econômicas distintas; o Uma de suas características principais é seu antirracismo; o Sem dúvida, o Evolucionismo Cultural deu o impulso para a Antropologia se tornar científica a partir do final do século XIX. (Laplantine, 2007) Qual o objeto/escopo da Antropologia? A QUESTÃO DO “OUTRO” EM ANTROPOLOGIA • Como vimos, a história da Antropologia como disciplina científica se construiu em torno do encontro com o Outro. • O encontro com o Outro suscita duas operações fundamentais em Antropologia: o A alteridade – é a experiência de tornar-se Outro. Na medida em que me encontro/me relaciono com o outro que é diferente de mim, estabelece-se as condições para contrastar essas diferenças. Ao conhecer a diferença do outro, conheço a mim mesmo na minha diferença. o O estranhamento – a reação humana diante da diferença do outro ou da situação que se lhe apresenta. A QUESTÃO DO “OUTRO” EM ANTROPOLOGIA • Disso decorre algumas posturas próprias d@s antropólog@s em suas pesquisas : o A curiosidade pelos contrastes e surpresas sempre à espreita do pesquisador em trabalho de campo; o O destemor em explorar o mundo em que vivemos; o O colocar-se em perspectiva; o A negação de demarcação de fronteiras intelectuais; o A disposição a nos expor ao imponderável e a vulnerar nossa própria cosmologia. (Peirano, 2014) A QUESTÃO DO “OUTRO” EM ANTROPOLOGIA • São por essas posturas que, segundo Peirano (2014), a Antropologia sempre é enriquecida e pode vislumbrar um futuro criativo. • Nas palavras de Lévi-Strauss (1962, p. 26): o “enquanto as maneiras de ser ou de agir de certos homens forem problemas para outros, haverá lugar para uma reflexão sobre essas diferenças que, de forma sempre renovada, continuará a ser o domínio da antropologia”. (Peirano, 2014) Quais as contribuições e limitações da Antropologia? CONTRIBUIÇÕES E LIMITES DA ANTROPOLOGIA • Principais contribuições ou “virtudes” da Antropologia como disciplina científica: o O reconhecimento da diversidade das culturas – hoje um fato banal; o A ênfase na comparação que dá sentido à “unidade psíquica da humanidade”; o A combinação do universal e da diversidade (via fato social total); o Nos constantes empréstimos que atravessam outros modos de conhecimento (biologia, linguística, filosofia, psicanálise, etc.); o No resultado fundamental da pesquisa de campo: o despertar de realidades/agências desconhecidas no senso comum, especialmente no senso comum acadêmico. (Peirano, 2014) CONTRIBUIÇÕES E LIMITES DA ANTROPOLOGIA • Principais limites ou “pecados” da Antropologia como disciplina científica: o As relações de poder desigual entre pesquisadores e seus, então, nativos; o O suposto exotismo dos não ocidentais; o A fabricação dos especialistas regionais (africanistas, americanistas, oceanistas, etc.); o O financiamento politicamente direcionado; o A vinculação, no início da disciplina, com interesses colonialistas e imperialistas. (Peirano, 2014) CONCLUSÕES • Após esta exposição dialogada, vocês conseguem perceber o porquê se estudar Antropologia num curso de Enfermagem? • Quais as possíveis contribuições desta disciplina para a formação profissional de vocês? REFERÊNCIAS • Chauí M. Convite à filosofia. São Paulo:Ed. Ática; 2000. p. 367-78. • Diniz D. O que é isso que chamamos de antropologia da saúde no Brasil? Rev Bras Pós-grad Cienc Soc 1997; 1(1): 213-34. • Laplantine F. Introdução: o campo e a abordagem antropológicos. In: ____. Aprender antropologia. São Paulo: Ed. Brasiliense; 2007. p. 13-33. • Melo LP. Enfermagem e antropologia no Brasil: relações, dilemas e desafios. Cultura de los Cuidados 2013;XVII(36):66-76. • Melo LP, Gualda DMR. Ciências sociais e enfermagem no Brasil. In: Melo LP, Gualda DMR, Campos EA (orgs.). Enfermagem, antropologia e saúde. Barueri: Manole;2013. p. 1-30. • Minayo MCS. Construção da identidade da antropologia na área de saúde: o caso brasileiro. In: Alves PC, Rabelo MC (orgs.). Antropologia da saúde: traçando identidade e explorando fronteiras. Rio de Janeiro: Relume Dumará; 1998. p. 29-46. • Minayo MCS. Contribuições da antropologia para pensar a saúde. In: Campos GWS et al., orgs. Tratado de saúde coletiva. 2 ed. São Paulo-Rio de Janeiro: HUCITEC; Ed. Fiocruz; 2009. p. 189-218. • Peirano M. Etnografia não é método. Horizontes Antropológicos 2014;20(42):377-91. • Perrone-Moisés L. Alegres trópicos: Gonneville, Thevet e Léry. Rev USP 1996;30:84-93. • Queiroz MS, Canesqui AM. Antropologia da medicina: uma revisão teórica. Rev. Saúde Pública 1986a; 20(2): 152-64. • Queiroz MS, Canesqui AM. Contribuições da antropologia à medicina: uma revisão de estudos no Brasil. Rev. Saúde Pública 1986b;20(2): 141-51. • Santos RJ. Antropologia para quem não vai ser antropólogo. Porto Alegre: Tomo Editorial; 2010.
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