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Eduarda Michelin Entrevista Motivacional Sabe-se que um dos pontos críticos da ligação forte entre médico e paciente são as formas de comunicação. Século XX – houve o avanço na cura de doenças agudas. o Aumento da expectativa de vida → uma das principais consequências; o Diálise, transplantes, cirurgias que possibilitam a melhor sobrevida e qualidade de vida da nossa população... o Isso tudo nos leva a questionar se as populações estão realmente mais saudáveis. Século XXI – os jovens adultos de hoje talvez sejam a primeira geração da história moderna a ser menos saudável que a de seus pais. o Comportamento X Estilo de Vida → estamos nos deparando com situações onde hábitos de vida e comportamento das pessoas estão influenciando diretamente na sua saúde, qualidade de vida e até expectativa de vida. AS COISAS SÃO MUDAM, O QUE MUDAM SÃO AS PESSOAS! Tenha em mente: • O que os pacientes querem? Do que eles precisam? • Como eles pensam que podem conseguir isso? • Como eles veem a situação: problemas, bem como as oportunidades? • Quais valores querem maximizar? • Como eles conseguiram sobreviver assim até agora? O que faz as pessoas mudarem? • Somente ter informação não é suficiente. • É importante não persuadir, não discutir e não confrontar → quando nós temos esse tipo de comportamento como profissionais da saúde, a tendência natural é que o paciente comece a procurar vários motivos para não fazer a mudança de comportamento. Eduarda Michelin • As mudanças não podem ser impostas de fora para dentro → a motivação é um fator intrínseco; podemos auxiliar para instigar no sentido da mudança, mas não podem impor. “As pessoas mudam quando elas mesmas decidem que querem mudar” MOTIVAR é ajudar o próprio paciente a descobrir quais são suas razões para mudar e que está disposto a realizar tais mudanças. Motivação → “é a arte de fazer com que as pessoas façam o que você quer que elas façam porque elas querem”. Uma pessoa pode fazer aquilo que você considera importante, que você definiu conjuntamente que é importante para a saúde dela, a partir de um desejo dela de mudar aquela situação. Esse conceito só corrobora que o desejo, a capacidade, as razões e as necessidades de mudar dependem de motivações intrínsecas de cada pessoa. Na escala de 0 a 10, tem-se a probabilidade de a pessoa fazer um movimento de mudança de um hábito de vida que ela deseja modificar. Nos números de 0 a 3, é improvável que ela faça essa mudança; já na escala de 4 a 7, ela está insegura quanto a esse processo de mudança; e, nas escalas mais elevadas, de 8 a 10, é provável que a pessoa faça um movimento na direção da mudança. Nós somos impulsionados por diferentes forças → aquelas nos puxam no sentido de probabilidade de mudança e forças que puxam no sentido contrário, onde a mudança não é provável. Podemos, ainda, estar no meio, inseguros ou ambivalente – anjinho e diabinho - ao processo de mudança. → Importância e Confiança são fatores que aparecem principalmente quando estamos inseguros, em estado de ambivalência. Eduarda Michelin Crenças sobre Motivação (V ou F?) • Até que uma pessoa esteja motivada para mudar, não há muito que possamos fazer → FALSO → embora a motivação seja intrínseca, você deve entender em que momento a pessoa está, pois há muito o que nós como profissionais da saúde podemos fazer e contribuir nesse momento para inclinar a balança para o lado da mudança. • Geralmente é necessário um problema sério (“fundo do poço”) para motivar uma pessoa a mudar → FALSO → ou seja, não necessariamente as pessoas que atingem uma condição de saúde muito séria vão encontrar uma motivação para mudar nesse momento. Às vezes, é muito importante que de alguma forma nós oportunizemos para que a pessoa faça uma reflexão no cenário de mudança antes de que chegue em uma situação como essa. Além disso, o “fundo do poço” é acompanhado por um sentimento de desesperança que pode não ser favorável ao cenário de mudança. • A motivação é influenciada pelas conexões humanas → VERDADEIRO → ou seja, quanto mais forte a conexão, mais blindado e protegido é o vínculo entre o profissional e a pessoa, mais fortemente podemos influenciar positivamente no processo de mudança. • As pessoas escolhem se vão ou não mudar → VERDADEIRO → é importante que o médico respeite que as escolhas de mudar ou não são das pessoas; que essas escolhas têm motivos por terem sido feitas. • Criar motivação para mudança geralmente requer confrontação → FALSO → quando se faz um processo de confrontação, muitas vezes é criado um ambiente propício para que ele busque várias justificativas e sentimentos para realmente embasar e explicar o porquê que ele não faz essa mudança, tornando a convicção dele mais forte para não mudar naquele momento, diferente do que ocorreria com uma escuta mais empática e sensível entendendo os motivos de porque ele não quer mudar. Mudar é difícil! Esperamos que o hemisfério “lógico” tome as decisões; no entanto, quem o faz é o hemisfério “emocional/intuitivo”. A maneira como falamos com os pacientes sobre sua saúde pode influenciar substancialmente a sua motivação pessoal para mudar o seu comportamento. Todo profissional deseja incentivar os seus pacientes para que eles considerem a mudança de comportamento. Nesses casos, estimulados, persuadimos, incitamos, orientamos e aconselhamos, mas é importante que tenhamos a consciência que devemos apelar para o lado “emocional/intuitivo” dessa decisão → o foco é ajudar as pessoas a falar e resolver a sua ambivalência em relação à mudança do comportamento. Eduarda Michelin Por que as pessoas querem mudar comportamento? Medo das consequências: o que pode acontecer se eu não mudar? Medo da perda: emprego, relacionamento, saúde... Financeiro: esse hábito é caro! Relacionamentos: fazer a mudança por um pedido da família ou de alguém significativo... Saúde: Eu quero ter mais energia, sentir-me melhor! Barreiras para mudar • O medo do fracasso: Eu já tentei e falhei tantas vezes que desisti! • Falta de apoio: Minha vida está um caos agora! • Falta de conhecimento do porquê é importante a mudança: Meu peso não é um problema para mim! • Falta de confiança na capacidade de mudar: Mais tarde eu mudo! Quando eu quiser eu paro! Ambivalência: a chave do problema! Estado mental em que uma pessoa tem sentimentos conflitantes em relação a alguma coisa. Quero, mas não quero. O QUE É ENTREVISTA MOTIVACIONAL? É um tipo de entrevista clínica centrada no paciente, que ajuda a explorar e resolver a ambivalência sobre uma conduta ou hábito errôneo, além de promover mudanças no estilo de vida visando mais saúde. O “espírito” da Entrevista Motivacional 1. Colaborativo: em vez de uma relação de poder desigual, na qual o clínico especialista direciona o paciente passivo no que ele deve fazer, há uma conversa colaborativa ativa e um processo decisório conjunto/compartilhado. 2. Evocativo: o tratamento de saúde muitas vezes parece envolver os pacientes naquilo que eles não têm – medicação, conhecimento, visão ou habilidades. Em vez disso, na entrevista Eduarda Michelin motivacional, você deve buscar evocar dos pacientes algo que eles já possuem, trabalhando de modo alinhado com as necessidades da pessoa. 3. Respeito pela Autonomia do Paciente: existe algo na natureza humana que resiste a ser coagido e forçado a agir. Ironicamente, às vezes, o reconhecimento do direito e da liberdade do outro de não mudar é o que torna a mudança possível. É necessário fluir com a resistência, visando amenizá-la e instigar a motivação para mudar. Resumindo, cabe ressaltar que a Entrevista Motivacional é muito mais orientar do que direcionar, dançar ao invés de brigar e ouvir mais do que falar. Princípios orientadores da EntrevistaMotivacional Resistir ao reflexo de consertar as coisas → importante, pois nós como profissionais da saúde temos uma tendência a o fazer; Entender e explorar as motivações do paciente; Escutar com empatia, sem julgamento, sem crítica; Fortalecer o paciente, empoderando ele, estimulando a esperança e o otimismo; Acompanhar a resistência, fluir com a resistência. Aconselhar pode ser perigoso • Dar conselhos pode atrapalhar mais do que ajudar; • Aprender a NÃO aconselhar pode ser uma luta; • Você pode não ter todas as informações; • Você pode não saber a real situação; • Conselhos podem ter voz paternal e acabar com o vínculo de confiança com a pessoa; • Faz com que alguém não encontre suas próprias soluções ou resolva problemas futuros sozinho, ou seja, nós estamos dando a nossa forma, o nosso jeito, de resolver aquela situação. Alternativas para aconselhar • Pergunte suas ideias sobre como resolver o problema. • O que você já tentou fazer? • Em que outras alternativas você já pensou? • Como você costumava lidar com situações como essa? • O que você diria para alguém que lhe perguntasse a mesma coisa? CONSIGA MAIS INFORMAÇÕES – FAÇA PERGUNTAS ABERTAS Eduarda Michelin Armadilhas • Armadilha da Avaliação (preencher uma série de fichas, protocolos e testes); desempodera o paciente e dá o recado de que nós estamos totalmente no controle da situação e que vamos obter as informações que queremos; • Armadilha do Especialista (dar a impressão que você tem todas as respostas); • Armadilha da Rotulação (o seu problema com a bebida, a sua dificuldade com o hábito de fumar; antes que a pessoa traga isso como realmente um problema...); • Armadilha do Foco Prematuro (ao invés de priorizar a aliança terapêutica, tenta rapidamente liquidar a questão da mudança de um hábito); • Armadilha da Culpa (trabalhar sentimentos de culpa pode ser irrelevante e toma muito tempo); Entender e Explorar as Motivações do Paciente Você deve perguntar aos pacientes por que eles gostariam de fazer uma mudança e como poderiam fazê-la, no lugar de dizer a eles o que deveriam fazer → o que você quer, o que você deseja, o que você espera, o que você pode ou poderia fazer, porque você quer fazer essa mudança e qual a importância dessa mudança na sua vida e o quanto você precisa dela. É o paciente, e não você, que deve verbalizar os argumentos em favor da mudança comportamental. Expressar Empatia • Com ela nos comunicamos melhor com o paciente e mostramos a ele que lhe entendemos; • Os aceitamos e os respeitamos, mas não necessariamente aprovamos os seus hábitos; • Pode se expressar com palavras e gestos; Eduarda Michelin Pré-contemplação = não tem problema nenhum → “de alguma coisa vou morrer” ou “meu vizinho fumou a vida toda e morreu aos 96 anos”; Contemplação = tem um problema, mas está pensando em mudar dentro dos 6 meses seguintes → “eu gostaria de deixar de fumar, mas...”; Preparação = está pensando em mudar dentro do 1 mês seguinte → “no dia do meu aniversário, deixarei de fumar” ou “depois do ano novo, vou diminuir o consumo...”; Ação = realizando a mudança por um período de 6 meses; Manutenção = mantém a mudança por mais de 6 meses; Técnica de Entrevista Motivacional • Construindo a motivação para a mudança → perguntas abertas; escuta reflexiva; resumo; reconhecimento de quais são os desejos, capacidades e necessidade da pessoa -; provocar afirmações automotivadoras – provocar o paciente a expressar os argumentos para a mudança -. Eduarda Michelin • Escuta Reflexiva = repetir, parafrasear, compreender os sentimentos envolvidos nesse processo de mudança, usar a técnica do silêncio e analisar alguns comentários contraditórios – reflexo da ambivalência -. • Como lidar com a resistência → evitar culpados, usar a escuta reflexiva para lidar com o problema e fluir com a resistência – automaticamente diminui a resistência -. • Perguntas abertas → não podem ser respondidas com SIM/NÃO; têm poucos pressupostos. Proporcionam que o paciente fale sobre seu hábito ou aquilo que ele gostaria de mudar e, ao falar sobre isso, normalmente ele vai fazendo reflexões e já analisando os prós e contras desse hábito. Normalmente, não se faz perguntas seguidas para o paciente não se sentir interrogado. • Provocar afirmações automotivadoras → Eduarda Michelin Referência: Entrevista Motivacional no Cuidado da Saúde – Ajudando Pacientes a Mudar o Comportamento – Stephen Rollnick.
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