Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
BIOQUÍMICA FISIOLÓGICA Distúrbi� d� equilíbri� ácid� bas�⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ Acid�� metabólic� ➔ Déficit primário de bicarbonato ➔ Diminuição da concentração sérica de bicarbonato abaixo de 24 mmol/L - Variação normal: 24 a 28 mmol/L; pode estar associada com diminuição do pH sanguíneo (variação normal: 7,35 a 7,45) Acidose metabólica pode ocorrer em 3 circunstâncias 1. Aumento na produção de ácido não volátil [H+] > HCO3- ➔ Cetoacidose (diabetes, alcoolismo, inanição) ➔ Acúmulo de ácido graxo ou acidose láctica - secundária a uma insuficiência circulatória ou respiratória, choque hipovolêmico de qualquer tipo causam hipóxia (sistema anaeróbico aumentado, aumenta [ ] de ácido láctico) - Fármacos que estimulam a lipólise (adrenérgicos) - Leucemia (nas doenças malignas, o metabolismo anaeróbico dentro das massas mal vascularizadas pode originar ácido láctico) e infecções graves (produz ácido lático devido ao aumento no metabolismo de carboidratos) ➔ Intoxicação por metanol (produz metabólitos ácidos) 2. Redução da excreção de ácidos pelos rins Causa mais comum de acidose metabólico crônica ➔ Insuficiência renal crônica ➔ Acidose tubular (tipo 1) (redução na excreção renal de H+) ➔ Hipoaldosteronismo (perda renal de Na+ não troca com H+ 3. Perda ou consumo das bases ➔ Perda de bicarbonato pela urina e fezes: a perda de secreções alcalinas do pâncreas e árvore biliar e as diarreias induzidas ou não por laxantes ➔ Perda de cloreto de sódio e amônia (não recupera o bicarbonato) ➔ Excesso de ingestão de ácidos (consumo aumentado de base) ex: AAS ➔ Acidose tubular renal (tipo 2) (perda de bases) Compensação da acidose metabólica ➔ Neutralização pelas bases do sistemas tampões (1º defesa rápida) ➔ Hiperventilação (acidez estimula centros respiratórios) (2º defesa rápida) - Quimiorreceptores centrais e periféricos ➔ Rim aumenta a excreção do ácido, em forma de amônia e fosfato (3º defesa lenta) Como saber se a acidose metabólica foi causada por acréscimo de ácido ou perda de base? ➔ Cálculo do anion gap: - Ag plasmático = [Na+] - ([Cl-] + [HCO3-]) - Normal: 12± 4 (8-16) ➔ Acidose metabólica hiperclorêmica (ânion gap normal): devido à perda de bicarbonato ➔ Acidose metabólica normoclorêmica (ânion gap aumentado): devido ao acréscimo de ácido Manifestações clínicas e laboratoriais ➔ A contratilidade do miocárdio é afetada e pode progredir para choque circulatório ➔ A respiração se torna anormal, mais profunda e então mais frequente (respiração de Kussmaul) ➔ A depressão do SNC evolui para o coma ➔ Dor abdominal e náusea podem estar presentes ➔ Hipercalemia ou hiperpotassemia é uma complicação da acidose, que resulta em potencial risco de vida ➔ Diminuição da glicólise por inibição da fosfofrutoquinase pelo pH intracelular reduzido, diminuindo a produção de ATP Obs: Respiração de Kussmaul é um padrão respiratório profundo e trabalhoso associado com acidose metabólica grave, particularmente com a cetoacidose diabética, mas também com a insuficiência renal. Diagnóstico laboratorial ➔ Redução do bicarbonato plasmático e do pH sanguíneo ➔ Redução do pCO2 (hiperventilação) na compensada ➔ Hiperpotassemia (troca com o H+ extracelular) para manter a eletroneutralidade ➔ Aumento do cálcio ionizado (hipercalcemia); reduz a ligação do cálcio com a albumina e diminui a reabsorção de cálcio (hipercalciúria) Investigações relevantes: ➔ Gasometria arterial (essencial para estabelecer o diagnóstico) ➔ Glicemia ➔ Raio X de tórax ➔ ECG ➔ Provas de função hepática (enzimas hepáticas) ➔ Lactato, uréia e creatinina séricas Resultados da gasometria arterial permitem o diagnóstico da acidose metabólica ➔ pH inferior a 7,35 ➔ pCO2 está normal ➔ bicarbonato real está baixo, inferior a 22mEq/l ➔ Déficit de bases, -2 mEq/l Complicações tardias: Lesão cerebral pode resultar de complicações agudas, como parada cardíaca ou excessiva administração de bicarbonato de sódio Tratamento: ➔ Remoção das causas do distúrbio ➔ Corrigir déficits de volemia antes da administração de alcalis ➔ Administração de bicarbonato de sódio, enquanto a remoção da causa primária é providenciada ➔ os casos de parada respiratória ou pH menores que 7,2, podemos administrar 1 a 2 mEq de bicarbonato de sódio por quilograma de peso a cada 15 ou 30 minutos Acid�� respiratóri� ➔ Redução da eliminação do dióxido de carbono ao nível das membranas alvéolo-capilares dos pulmões ➔ Pode ser principalmente devido a hipoventilação ➔ Sem a eliminação do CO2, eleva-se o nível de ácido carbônico, maior quantidade de H+ ➔ Velocidade e profundidade da respiração controlam a concentração de CO2 no sangue Causas da acidose respiratória ➔ DPOC ➔ Distúrbios neuromusculares controladores da respiração ➔ Desordens do sono (apneia) ➔ Obesidade-hipoventilação alveolar (Síndrome Pickwick) ➔ Inibição dos centros respiratórios (tronco cerebral) por drogas ➔ Asma grave, parada cardíaca (queda do fluxo de sangue para as trocas gasosas) ➔ Fraqueza dos músculos respiratórios (ex poliomielite, esclerose múltipla) ➔ Deformidades no tórax Consequências da acidose respiratória: elevação da pressão intracraniana; CO2 relaxa a musculatura lisa dos vasos aumentando o fluxo sanguíneo cerebral Sintomatologia ➔ Cefaleia ➔ Confusão mental ➔ Agitação ➔ Coma Diagnóstico clínico: o médico pode chegar ao diagnóstico pela anamnese e pelo exame físico Diagnóstico laboratorial ➔ ↑ PaCO2 (> 47mmHg) (hipercapnia) com uma redução do pH ➔ Geralmente os médicos diagnosticam rapidamente e acidose respiratória, através dos resultados da determinação do pH sanguíneo com a concentração de dióxido de carbono de uma amostra de sangue arterial Tratamento ➔ É dirigido à causada hipoventilação alveolar, mantendo uma oxigenação e ventilação adequadas: manutenção das vias aéreas livres, correção da hipóxia, remoção de secreções e tratamento das infecções respiratórias quando presentes ➔ A administração de O2 deve ser cuidadosamente ajustada para os pacientes com doença pulmonar obstrutiva grave e retenção crônica de CO2 que estão respirando espontaneamente ➔ Um erro frequente é a administração de bicarbonato de sódio com base apenas no valor do pH Prevenção ➔ Prevenir-se contra os problemas que podem levar a uma DPOC ➔ Prevenir a obesidade ➔ Evitar o uso de fármacos opiáceos, anestésicos e barbitúricos (depressores do SNC) podendo diminuir ventilação Alcal�� metabólic� ➔ Excesso de bicarbonato no plasma ➔ Aumento de bicarbonato e pressão parcial de gás carbônico normal, aumento da razão bicarbonato/gás carbônico (superior a 20:1) Causas ➔ Excreção de H+ (desloca a reação para direita) - CO2 + H2O → H2CO3 → H+ + HCO3- ➔ Vômitos prolongados ou aspiração nasogástrica, ocorre perda de H+ ➔ Tratamento com diuréticos: perdas renais de H+ se relacionam ao uso de diuréticos de alça ou tiazídicos, que promovem aumento do aporte distal de sódio e água, possibilitando a indução de excreção aumentada de H+ ➔ Depleção severa de potássio no sangue: potássio sai da célula tubular e o íon H+ entra e é excretado ➔ No hiperaldosteronismo, no qual o excesso de mineralocorticóides estimula a bomba H-ATPase e estimula reabsorção de Na+, tornando a luz tubular mais eletronegativa, minimizando a reabsorção dos íons H+, aumentando a excreção final de ácido ➔ Adição de bicarbonato ao líquido extracelular: pode ocorrer devido à ingestão crônica ou excessiva de antiácidos ou infusão excessiva de bicarbonato ou precursores - bicarbonato costuma ser administrado de forma endovenosas depois de uma parada cardíaca Compensação da alcalose metabólica ➔ A alta concentração de bicarbonato eleva o pH ➔ Respiração reduz em função do pH elevado ➔ Ocorre retenção de dióxido de carbono ➔ Há aumento da PaCO2 ➔ Diminuição do pH ➔ Redução da respiração causa hipóxia ➔ Geralmente a PaCO2 fica limitada a 60 mmHg Diagnóstico laboratorial ➔ Ocorre aumento do bicarbonato e pH plasmáticos ➔ Cloretos e sódio urinários elevados (causa: diuréticos) ➔ Renina e aldosterona plasmáticas (elevados para compensar a perda desais e água) Consequências da alcalose metabólica ➔ Aumento da atividade muscular por incremento da ligação dos íons cálcio as proteínas ➔ Elevação da reabsorção renal de cálcio por falta de cálcio ionizado ➔ Perda renal de potássio (troca de H+) e consequente hipocalemia ➔ Aumento da glicólise por estímulo da fosfofrutoquinase pelo pH intracelular elevado Tratamento ➔ É crucial o tratamento tanto da doença de base quanto de seus efeitos deletérios ➔ Se houver hiperaldosteronismo primário, estenose da artéria renal ou síndrome de Cushing, a correção da causa subjacente reverterá a alcalose ➔ Quando a alcalose resulta de perda gástrica excessiva, o distúrbio deverá ser tratado a partir da correção da hipovolemia e da hipocloremia, com solução de NaCl 0,9% (solução fisiológica) ➔ A correção da hipocalemia comumente associada por meio da administração de cloreto de potássio ➔ A perda de H+ pelo estômago ou pelos rins pode ser reduzida pelo uso de inibidores da bomba de prótons ou pela suspensão dos diuréticos Alcal�� respiratóri� ➔ Concentração baixa de dióxido de carbono no sangue (hiperventilação) ➔ Levando a uma redução na PCO2 ➔ Consequente aumento do pH arterial ➔ Diminuição de bicarbonato no sangue (compensação) Causas de alcalose respiratória ➔ Ansiedade grave (estimula o centro respiratório) ➔ Desordens pulmonares: pneumonia, asma, embolia pulmonar, fibrose ➔ Desordens cardiovasculares: hipotensão e cianose de etiologia cardíaca; hipoxemia (estimula os centros respiratórios) ➔ Desordens metabólicas: recuperação de uma acidose metabólica (diabética, renal ou láctica) ➔ Desordens do SNC: hiperventilação psicogênica (ex: síndrome do pânico) ➔ Fármacos estimuladores da respiração (agonistas adrenérgicos) ➔ Anemia ➔ Envenenamento por salicilato Compensação ➔ Fase aguda Queda de bicarbonato plasmático (2-4mmol/L), nos primeiros 10 minutos da diminuição da PaCO2 ➔ Fase crônica Após queda da concentração de bicarbonato o valor de pH é mantido pela retenção dos íons hidrogênio pelo rim (a regeneração do bicarbonato é mais lenta que nos estados nor mais) Sintomatologia ➔ Hiperventilação ➔ Sensação de formigamento em torno dos lábios ➔ Tetania com sinal de trousseau (carpo) e de Chvostek (facial); diminuição do cálcio ionizado ➔ Câimbra nos pés e mãos ➔ Dispnéia, taquicardia, arritmia ventricular e/ou atrial ➔ Alterações gastrointestinais ➔ Vasoconstrição cerebral o que reduz o fluxo de sangue e a pressão intracraniana com sonolência, vertigens, irritabilidade e outros Diagnóstico laboratorial ➔ pH superior a 7,45 ➔ pCO2 menor que 35 mmHg Consequências da alcalose respiratória ➔ Estimulação da atividade da fosfofrutoquinase (glicólise) ➔ Sonolência (vasoconstrição do cérebro) ➔ Hipocalemia moderada (troca com H+ celular) ➔ Tetania (redução do cálcio ionizado plasmático/intracelular com aumento do cálcio ligado miofibrilas) ➔ Hipofosfatemia transitória (fosfato utilizado pela fosfofrutoquinase) Tratamento ➔ Reduzir a frequência respiratória ➔ Correção da causa pré-existente ➔ Em formas mais graves administrar ventilação mecânica ➔ Pacientes com síndrome de hiperventilação podem beneficiar-se com a tranquilização, a respiração dentro de um saco de papel durante os episódios sintomáticos e a atenção para o estresse psicológico subjacente Distúrbi� mist� ➔ Não é raro mais de um distúrbio ácido-básico ➔ Um paciente pode estar tanto com uma acidose metabólica quanto com uma acidose respiratória ➔ Exemplifica-se a situação acima em um paciente com bronquite crônica que desenvolve um problema renal ➔ Neste paciente com uma [H+] aumentada, a pCO2 estará aumentada e a concentração de bicarbonato estará baixa. Ambos os resultados esperados de uma acidose respiratória primária e uma acidose metabólica primária ➔ Quando duas condições ácido-básicas forem antagonistas na forma de como afetam a [H+] um dos distúrbios reproduz a resposta compensatória ➔ Um paciente pode apresentar-se com acidose metabólica e uma alcalose respiratória simultânea, como ocorre frequentemente em casos de dose excessiva de salicilato (ex: AAS) - Neste caso, o distúrbio respiratório pode parecer simplesmente uma resposta compensatória ➔ São exemplos corriqueiros de distúrbios ácidos-básicos mistos: - Paciente com DPOC causando acidose respiratória, com a depleção de potássio induzida por tiazida (grupo de fármacos diuréticos), e em consequência alcalose metabólica (troca com íons H+ que entra nas células) - Hiperventilação causando alcalose respiratória, com sucção nasogástrica prolongada, que causa alcalose metabólica Observação: sendo um problema respiratório, o defeito primário se manifesta no valor da pCO2. A baixa pCO2 empurra o equilíbrio do bicarbonato para a esquerda abaixando a [H+] e aumentando portanto, o pH Casos clínicos Valores de referência: Potássio: 3,5 - 5,0 mEq/L Glicose: 70 - 100 mg/dL Uréia: 12 - 47 mg/dL Creatinina: 0,6 - 1,2 mg/dL pH: 7,35 - 7,45 pO2: 80 - 100 mmHg pCO2: 35 - 45 mmHg Bicarbonato: 21 - 30 mEq/L 1) Paciente de 70 anos em pós operatório de cirurgia abdominal queixa-se de cãibras e prostração. Ao exame clínico minucioso observam-se abalos musculares e drenagem elevada pela sonda nasogástrica (2000mL/24h). Gasometria arterial: pH = 7,62; PaCO2 = 40 mmHg; PaO2 = 80 mmHg; SatO2 = 90%; BR = 36 mM/L; BE = +8 2) I. M H, 59 anos, diagnosticada com diabetes melito tipo I foi internada no Hospital Universitário apresentando intensa dispnéia, tonturas e mal estar geral. Referiu estar apresentando perda de peso, náuseas, vômitos, poliúria e dor abdominal há 5 dias. A paciente citou não seguir a dieta terapêutica indicada pelo médico. Exames: Potássio = 6,2 mEq/L; Glicose = 708 mg/dL; Ureia = 71 mg/dL; Creatinina 2,02 mg/dL; pH = 7,08; pO2 133 mmHg; pCO2 25 mmHg; Bicarbonato = 12 mEq/L
Compartilhar