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Material elaborado por Andréa Paula Oliveira MÓDULOS REGULARES DIREITO PROCESSUAL PENAL Professora: Lorena Ocampos Aula IV Parte 1/4 Olá, pessoal. Tudo bem? Estamos na nossa aula IV dos cursos regulares, na parte de Processo Penal. Vamos dar sequência aos temas com atenção ao PACOTE ANTICRIME sancionada em 24 dezembro de 2019 e em vigor desde 02 de janeiro de 2020. Terminamos a parte de investigação criminal e outros temas importantes. Com o cuidado de sempre, tentarei fazer um paralelo com o instituto do JUIZ DAS GARANTIAS. Hoje vamos tratar da AÇÃO PENAL (art. 24 CPP). Antes disso, dentro do capítulo de AÇÃO PENAL, precisamos conversar sobre o ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL-ANPP. Analisar todas as suas características, a sua forma de realização da justiça criminal negocial (semelhante à transação penal, que também ocorre na fase pré processual). Desse modo, antes do oferecimento da Denúncia, o titular da ação penal deverá analisar a incidência do art. 28-A do CPP e da possibilidade de realização do ANPP. O ANPP é um instituto novo que merece toda atenção pela potencialidade de questionamentos nas provas a partir de 2020. Material elaborado por Andréa Paula Oliveira Ademais, apesar de ser um Instituto novo no CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, já tinha sido previsto na resolução do CNNP. Seu objetivo é a realização de um acordo para evitar a deflagração de uma ação penal. Temos um único artigo, cheio de parágrafos e incisos. É um tema novo (que apesar de já subsistir anteriormente em Resolução do CNNP, não era efetivamente aplicado, nem possuía análise prática para que nesse momento fosse possível dimensionar a sua aplicabilidade no Processo Penal). Diante disso, ainda temos muitas dúvidas sobre as disposições legais e a aplicabilidade do instituto. É algo que ocorre na fase pré-processual, ou seja, quando ainda não há processo. Se constitui em mais uma ferramenta disponibilizada ao titular da ação penal para realização da Justiça criminal negocial. Possui semelhança ao disposto no art. 76 da Lei 9.099/95, que já é um instituto que é bastante explorado em provas de concurso e de toda a jurisprudência correlata, que pode também ser aplicada aqui para o ANPP, por analogia. Desse modo, vale ressaltar que temos, ainda, o instituto da suspensão condicional do processo, que ocorre durante a tramitação do processo e diante de certas imposições legais específicas. No mesmo sentido, subsiste a colaboração premiada, que está disciplinada em lei especifica. Todos esses institutos são formas de mitigação do princípio da obrigatoriedade da ação pública. Material elaborado por Andréa Paula Oliveira Assim, o ANPP é, então, mais uma alternativa visando impedir a deflagração de um processo, em razão de sua inadequação a certos crimes, resguardando a atuação estatal para crimes de maior relevância, com penas mais graves para casos de reincidência, criminosos habituais que necessitam de maior reprimenda do Estado. Ademais, já tínhamos a Resolução do CNNP nº 181, que foi alterada pela Resolução nº 183 de 2018. Ambas foram objeto de análise de vários doutrinadores, precipuamente questionando a sua constitucionalidade. Nesse sentido, tivemos, então, duas ações perante o STF, ADI Nº 5790, 5793, suscitando a análise da constitucionalidade da Resolução do CNMP quanto à segurança jurídica, ao princípio da legalidade, da reserva legal, bem como suscitando se o CNNP poderia dispor desse instituto de justiça criminal negocial, por meio de uma Resolução, e não por lei de iniciativa do Congresso Nacional. Atualmente, com a vigência da Lei nº 13. 964/19, perdeu totalmente o objeto das referidas ações de inconstitucionalidade, visto que o instituto fora incluído no CPP. Restando, portanto, superada a discussão. Temos, então, algumas diferenças entre o ANPP da Resolução do CNNP e do pacote anticrime. ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL O acordo de não persecução penal (ANPP) foi criado pela Resolução 181 do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), e alterado pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018. Material elaborado por Andréa Paula Oliveira Teve a Constitucionalidade questionada pela Associação dos Magistrados Brasileiros – AMB (ADI 5790) e pela Ordem dos Advogados do Brasil – OAB (ADI 5793). O projeto anticrime (Lei 13.964/19), portanto, abraça o acordo de não persecução penal. Instituto de justiça criminal negocial (transação penal; suspensão condicional do processo; colaboração premiada). Mitigação do princípio da obrigatoriedade do art. 24 do CPP – o Ministério Público deve agir buscando a solução mais promissora para o nosso sistema de justiça criminal, a depender da política criminal adotada. Pré-processual; Evita a deflagração da ação penal; Incidência ampla: pena mínima inferior a 4 anos, tais como: receptação, estelionato, apropriação indébita, furto simples e qualificado, corrupção passiva e ativa, peculato. A pena máxima cominada é irrelevante. Quando cabível a transação penal, o acordo não é aplicável (art. 28-A, § 2º, I) – infrações de menor potencial ofensivo - juizado especial criminal. Material elaborado por Andréa Paula Oliveira RESOLUÇÃO 181/17 ALTERADA PELA RESOLUÇÃO 183/17 - CNMP ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL Art. 18. § 1º. Não se admitirá a proposta nos casos em que: V – o delito for hediondo ou equiparado e nos casos de incidência da Lei. 11.340/2006. § 2º. A confissão detalhada dos fatos e as tratativas do acordo serão registrados pelos meios ou recursos de gravação audiovisual, destinados a obter maior fidelidade das informações, e o investigado deve estar sempre acompanhado de seu defensor. § 7º. O acordo de não persecução poderá ser celebrado na mesma oportunidade da audiência de custódia. § 8º. É dever do investigado comunicar ao Ministério Público eventual mudança de endereço, número de telefone ou e-mail, e comprovar mensalmente o cumprimento das condições, independentemente de notificação ou aviso prévio, devendo ele, quando for o caso, por iniciativa própria, apresentar imediatamente e de forma documentada eventual justificativa para o não cumprimento do acordo. § 12. As disposições deste capítulo não se aplicam aos delitos cometidos por militares que afetem a hierarquia e a disciplina. Material elaborado por Andréa Paula Oliveira ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL DEPOIS DA LEI 13.964/19 § 1º Para aferição da pena mínima cominada ao delito a que se refere o caput deste artigo, serão consideradas as causas de aumento e diminuição aplicáveis ao caso concreto. § 2º O disposto no caput deste artigo NÃO SE APLICA nas seguintes hipóteses: I - se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos termos da lei; II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéritas; III - ter sido o agente beneficiado nos 5 anos anteriores ao cometimento da infração, em acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do processo; e IV - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor. § 3º O acordo de não persecução penal será formalizado por escrito e será firmado pelo membro do Ministério Público, pelo investigado e por seu defensor. § 4º Para a homologação do acordo de não persecução penal, será realizada audiência na qual o juiz deverá verificar a sua voluntariedade, por meio da oitiva do investigado na presença do seu defensor, e sua legalidade. § 5º Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas as condições dispostas no acordo de não persecução penal, devolverá os autos ao MinistérioMaterial elaborado por Andréa Paula Oliveira Público para que seja reformulada a proposta de acordo, com concordância do investigado e seu defensor. § 6º Homologado judicialmente o acordo de não persecução penal, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para que inicie sua execução perante o juízo de execução penal. § 7º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos legais ou quando não for realizada a adequação a que se refere o § 5º deste artigo. § 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para a análise da necessidade de complementação das investigações ou o oferecimento da denúncia. § 9º A vítima será intimada da homologação do acordo de não persecução penal e de seu descumprimento. § 10. Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo de não persecução penal, o Ministério Público deverá comunicar ao juízo, para fins de sua rescisão e posterior oferecimento de denúncia. § 11. O descumprimento do acordo de não persecução penal pelo investigado também poderá ser utilizado pelo Ministério Público como justificativa para o eventual não oferecimento de suspensão condicional do processo. § 12. A celebração e o cumprimento do acordo de não persecução penal não constarão de certidão de antecedentes criminais, exceto para os fins previstos no inciso III do § 2o deste artigo. § 13. Cumprido integralmente o acordo de não persecução penal, o juízo competente decretará a extinção de punibilidade. Material elaborado por Andréa Paula Oliveira § 14. No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor o acordo de não persecução penal, o investigado poderá requerer a remessa dos autos a órgão superior, na forma do art. 28 deste Código. OBSERVAÇÕES IMPORTANTES: • Recomendo atenção ao inciso V da Resolução do CNMP, que trata da hipótese em que o delito for hediondo ou equiparado, e nos casos de incidência da Lei. 11.340/2006. Sem correlação com a disciplina do Pacote Anticrime. • Do mesmo modo, o § 2º da Resolução do CNMP - A confissão detalhada dos fatos e as tratativas do acordo serão registrados pelos meios ou recursos de gravação audiovisual, destinados a obter maior fidelidade das informações, e o investigado deve estar sempre acompanhado de seu defensor. Esse parágrafo não foi reproduzido no Pacote Anticrime. • A realização do ANPP em audiência de custódia disciplinado no § 7º da Resolução do CNMP - O acordo de não persecução poderá ser celebrado na mesma oportunidade da audiência de custódia - não foi reproduzido na alteração do CPP. Nesse ponto, tenho dúvidas sobre a liberdade de negociação e da autonomia de vontade, merecendo análise cuidadosa. A dúvida persiste em saber se alguém que está preso teria interesse emergente em negociar. Haveria de fato essa autonomia? Item a ser analisado em outro momento da aula, quando tratarmos especificamente desse tema. • § 8º da Resolução do CNMP, disciplinando a necessidade de o investigado manter dados atualizados, não subsiste na alteração do CPP. (§ 8º. É dever Material elaborado por Andréa Paula Oliveira do investigado comunicar ao Ministério Público eventual mudança de endereço, número de telefone ou e-mail, e comprovar mensalmente o cumprimento das condições, independentemente de notificação ou aviso prévio, devendo ele, quando for o caso, por iniciativa própria, apresentar imediatamente e de forma documentada eventual justificativa para o não cumprimento do acordo.) • § 12 da Resolução do CNMP veda o ANPP aos crimes militares e que afetem a hierarquia e disciplina - não fora contemplado na alteração do CPP. (§ 12. As disposições deste capítulo não se aplicam aos delitos cometidos por militares que afetem a hierarquia e a disciplina). Aqui, apresentamos o questionamento sobre a possibilidade de realização do ANPP em sede de JUSTIÇA MILITAR OU ATÉ NA JUSTIÇA ELEITORAL. Em momento oportuno, retornaremos a esse tema. Assim, diante das principais diferenças entre a RESOLUÇÃO DO CNMP e o CPP, iremos analisar se subsiste razoabilidade na manutenção do entendimento sobre a aplicação do ANPP e a reprodução da disciplina do CNMP no CPP. NOVAS OBSERVAÇÕES SOBRE O TEMA Quando estudamos a AÇÃO PENAL, apresentamos a divisão entre ação penal pública e ação penal privada. A ação penal será pública quando o titular do direito da ação for o próprio Estado, visando a tutela dos interesses sociais e a manutenção da ordem pública. Nesse caso, cabe ao Ministério Público promover a ação independentemente da vontade de outrem (ação penal exclusivamente pública). Material elaborado por Andréa Paula Oliveira Contudo, de acordo com o art. 100, do Código Penal: "A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido". Desse modo, haverá hipóteses em que o Ministério Público dependerá da manifestação da vontade do ofendido ou de seu representante legal para exercer a sua atividade jurisdicional. Então, nesse caso, a ação penal será pública condicionada, conforme disposição do art. 100, §1º do CP: "A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo, quando a lei o exige, de representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça". Há, ainda, a ação penal privada, que será promovida apenas pelo ofendido ou por seu representante legal, de acordo com a oportunidade e conveniência (que entenderem cabíveis), já que a infração atinge imediata e profundamente o interesse da vítima, que poderá optar em preservar a sua intimidade e não propor a ação. Entretanto, na ação penal pública incondicionada, a infração atinge imediatamente a ordem social, cabendo exclusivamente ao Ministério Público promover a ação. Ao passo que quando a ação penal pública for condicionada, o órgão jurisdicional dependerá da manifestação da vontade do ofendido que foi atingido imediatamente pela infração, para propor a ação. Ademais, dentro de cada espécie de ação penal, teremos princípios próprios aplicáveis. Na Ação Penal Pública (Legalidade, Indisponibilidade, Intranscendência; Divisibilidade e Oficialidade) e na Ação Penal Privada (Conveniência; Disponibilidade; Intranscendência; Indivisibilidade) Em síntese, na AÇÃO PENAL PÚBLICA, temos os princípios da obrigatoriedade e da indisponibilidade, que podem ser extraídos do art. 24 do Material elaborado por Andréa Paula Oliveira CPP , que disciplina que a ação será promovida pelo MP, que possui legitimidade ordinária disciplinada na constituição Federal. Temos uma ação clássica tradicional. Contudo, o princípio da obrigatoriedade sofreu uma releitura, uma revisão moderna pelo PROCESSO PENAL. Vale ressaltar que o MP irá atuar sempre de acordo com as opções legislativas que possui, pois não pode, por favorecimento, deixar de oferecer denúncia. Ele tem o dever de agir. Contudo, a visão mais moderna do princípio, traz uma visão da nova política criminal. Neste aspecto, o ANPP é uma escolha do Estado para diminuir a instauração de processos, que em certos casos não está surtindo o efeito esperado com o cumprimento de pena. É uma forma de utilização da ação consensual. Desse modo, o MP tem o dever de agir, não será apenas com a opção do oferecimento da Denúncia, deverá, então, escolher a melhor estratégia legal para o caso, até mesmo durante a fase processual. Com isso, o ANPP se apresenta em uma fase pré-processual, o art. 28 do CPP destaca esse momento como no caso de não ser de arquivamento, poderá ser proposto o acordo. Está muito clara a opção do legislador pela fase pré-processual. Nesse caso, o MP poderia deflagrar a ação, mas verificando que a situação se subsumi à disciplina legal do art. 28 CPP, deverá, então, propor a tratativa com o investigado, com o advogado, para iniciar um acordo. Material elaborado por Andréa Paula OliveiraEntão, teremos um momento pré-processual muito semelhante à transação penal. Já em relação à suspensão condicional do processo, no que tange os princípios, estamos mitigando o princípio da indisponibilidade, visto que, em tese, no curso do processo, o MP não poderia abrir mão daquele procedimento, desistir, desde a fase de conhecimento até a fase recursal. Essa é a disciplina dos arts. 42 e 576. Porém, verificando que a situação do acusado preenche os requisitos do art. 89 da Lei 9.099/95, o MP pode, portanto, oferecer a suspensão condicional do processo em mitigação ao princípio da indisponibilidade da ação penal. De outro modo, a transação penal e o ANNP, por se apresentarem em fases pré-processuais, haverá uma mitigação ao princípio da obrigatoriedade. Ademais, a proposta apresentada no art. 28 do CPP terá incidência bem ampla nas infrações penais que não forem praticadas com violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 anos. Como exemplo, temos os principais crimes contra o patrimônio, que se amoldam à nova legislação do art. 28 do CPP. Difere da transação penal (dos juizados), que leva em consideração a pena máxima não superior a 2 anos, ou para a contravenção penal. ATENÇÃO: Material elaborado por Andréa Paula Oliveira Para a suspensão do processo, disciplinado no art. 89 da Lei nº 9.099/95, a pena mínima deverá ser igual ou inferior a 1 ano. Já para o ANPP a pena deverá ser inferior a 4 anos. Desse modo, o legislador poderia ter facilitado a nossa vida e ter incluído o termo igual ou inferior a 4 anos, mas não o fez. Ele disciplinou a pena somente se inferior a 4 anos. MUITO CUIDADO COM ISSO! Ademais, a legislação prevê também que quando for cabível a transação penal, o MP não deverá cogitar sobre a proposição do ANPP. Lei nº 9.099/95. (...) Art. 89 Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal). § 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a período de prova, sob as seguintes condições: I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo; II - proibição de frequentar determinados lugares; III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz; IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades. § 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado. § 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano. § 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta. § 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade. § 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo. § 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá em seus ulteriores termos. Material elaborado por Andréa Paula Oliveira Porém, por que isso? Como a transação penal se refere apenas aos juizados especiais, sejam federais, sejam estaduais (art., 76 da Lei nº 9.099/95), o MP, verificado que a pena é mínima (menor potencial ofensivo), privilegia a transação penal, porque é específica para infrações de menor potencial ofensivo. Em caso contrário, será, então, utilizado o ANNP na fase pré-processual. Na comparação entre os dois institutos, qual teria mais benéfico? A transação penal ou o ANPP? Sem dúvida, o ANPP, que seria aplicado na fase pré-processual. A suspensão do processo ocorre no curso da ação penal e está atrelada ao período de prova de suspensão de 2 a 4 anos. O processo vai ficar parado e cumprindo determinadas condições, e em caso de descumprimento, será direcionado à audiência de julgamento para ser ou não condenado. No ANPP, não existe período mínimo para o cumprimento da pena, pode ocorrer em menos de 2 anos, no caso de o indiciado já ter reparado o dano, prestado serviço em tempo menor. Terá sua extinção da punibilidade sem necessitar aguardar a suspensão de 2 a 4 anos. Entre todos esses institutos de negociação processual, tanto na transação penal, quando cumpridas as condições extingue a punibilidade, sem condenação, sem reincidência, sem maus antecedentes. Na suspensão condicional do processo, após o cumprimento dos requisitos, e ao fim do período de prova, com todas as obrigações satisfeitas, será extinta a punibilidade. Ademais, no ANPP, o resultado também será a extinção da punibilidade. Material elaborado por Andréa Paula Oliveira Vale ressaltar que nas 3 modalidades, haverá anotações na folha de antecedentes, mas não para considerar como desfavorável, e sim para impedir nova concessão em período anterior a 5 anos, do mesmo modo que a transação penal. Foi estendido esse entendimento pelo STJ, por analogia. Essa regra já está na própria disciplina legal do ANPP. Aqui encerramos o primeiro bloco, voltaremos com análise do art. 28- A do CPP. Parte 2/4 Pessoal, voltando agora para o bloco nº 2, continuamos falando do ANPP. Vale destacar que há uma comparação substancial ente o ANPP e a suspensão condicional do processo. No ANPP, é exigida a confissão formal, e de acordo com a correção da nomenclatura pela doutrina, o termo seria na verdade uma confissão circunstanciada, apresentando detalhes do fato, demonstrando de forma circunstanciada a prática do ato, com descrição de dia, local, etc. o que não é exigido em sede de suspensão condicional do processo. Esse é um ponto crucial para análise estratégica da defesa, se entender pela continuidade do processo ou não. O critério da confissão é bastante criticado pela doutrina, em razão de que o descumprimento do ANPP pode acarretar em dificuldade de reversão da defesa durante o processo. Material elaborado por Andréa Paula Oliveira Aqui, como nos demais benefícios (art. 76, 89), sempre se fala do Ministério Público, como se esses acordos e benéficos só fossem possíveis na ação penal pública. Diante disso, subsiste a indagação: os acordos só são possíveis em ação penal pública? A resposta é negativa, pois, sendo uma benesse legal, temos que estender à ação penal privada e a vítima precisará do advogado com capacidade postulatória, para informar da possibilidade de acordo. Esse entendimento, já fora estendido aos outros benefícios da transação penal e da suspensão do processo pela jurisprudência. Temos julgados anteriores determinando essa possibilidade, como no AgRg no REsp 1356229/PR. Ação penal privada: Por ser um benefício legal, não resta dúvida quanto à sua extensão ao crime de ação penal privada, cabendo ao querelante propor o ANPP. Contudo, não há óbice na oferta pelo MP, a título de custos legis (art. 257, II do CPP), diante da recusa do particular. Pela aplicação de transação penal e suspensão condicional do processo em infrações penais de ação penal privada (STJ, AgRg no REsp 1356229/PR). Enunciado de número 112 do FONAJE: na ação penal de iniciativa privada, cabem transação penal e a suspensão condicional do processo, mediante proposta do Ministério Público. Material elaborado por Andréa Paula Oliveira Sendo possível o acordosem a manifestação expressa da defesa, pode o MP, como custus legis, ou seja, como fiscal da lei, apresentar a proposta, Que deverá ser adotado para o ANPP de forma analógica. Nesse ponto, temos também o Enunciado de número 112 do FONAJE, que é muito cobrado em concursos, dependendo do cargo e da banca. Temos outra questão sobre o direito intertemporal em relação ao ANPP, precisamente sobre o art. 2º do CPP, do qual já fizemos a análise das disposições gerais do código, em havendo caráter híbrido com o direito material. Apesar de alterar o processo penal brasileiro, trata também de extinção de punibilidade, direito material penal. Ele tem caráter material com ampliação da pena mínima, que, em outros casos, não receberam benefícios algum, devendo ser estendido esse direito. A lei fala em investigados, mesmo que o fato seja praticado antes da vigência. Mesmo os casos em curso, de processo com pena mínima inferior a 4 anos que não recebeu transação ou suspensão do processo, deverá fazer jus ao ANPP, se preenchidas demais condições que iremos analisar posteriormente. Entendemos pela possibilidade da a aplicação para os processos sentenciados. Em verdade, temos a Súmula nº 337 do STJ, que é analogicamente aplicável na transação penal e na suspensão condicional do processo, inclusive com condenação transitada em julgado (art. 66, I da LEP e Súmula 611 do STF), competindo ao Juízo de execução, abrir vista ao órgão do MP, com atribuição para a proposição, devendo ser estendido também para o ANPP. Em síntese - Direito intertemporal: Material elaborado por Andréa Paula Oliveira Natureza híbrida ou mista do ANPP, considerando seu eventual cumprimento como causa extintiva de punibilidade (§ 13º), prevalecendo sua característica penal (STF, RHC 115.563/MT) com a obrigatória retroatividade (5º, XL da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988). O ANPP abarca as investigações e os processos em curso até o recebimento da denúncia, porque a lei usa a expressão “investigado”. Deve alcançar também processos nos quais haja desclassificação ao seu cabo, por ex., de roubo para furto simples (incide súmula n. 337 do STJ, analogicamente – aplicável na transação penal e suspensão condicional do processo), inclusive com condenação transitada em julgado (art. 66, I da LEP e súmula 611 do STF), competindo ao Juízo de execução abrir vista ao órgão do MP com atribuição para o propor. Verificando também que houve uma desclassificação de furto para roubo, com os demais requisitos legais, poderá ocorrer o oferecimento do benefício do ANPP. Do mesmo modo, há quem defenda a aplicação também na fase de execução penal, devendo remeter ao MP da execução penal, para análise. Por se tratar de um instituto mais benéfico, devendo retroagir para atingir fatos praticados anteriormente, mesmo que esses fatos já tenham sido julgados. PRESCRIÇÃO Material elaborado por Andréa Paula Oliveira Além da alteração no CPP, tivemos alteração das causas suspensivas e impeditivas da prescrição do art. 116 do Código Penal, com a inclusão de uma causa: quando da vigência do ANPP, suspende a prescrição e no momento da rescisão do ANPP, a prescrição volta a correr. ✓ Prescrição: A prescrição não corre enquanto o acordo não for cumprido ou rescindido (CP, art. 116, III). Trata-se de nova causa suspensiva ou impeditiva da prescrição trazida pela Lei nº. 13.964/2019. Também tivemos alteração na legislação especial da Lei n° 8.038/90, que trata das investigações relativas a ações penais originárias, de competência dos tribunais. O ANPP não é aplicável somente para autoridades da primeira instância, mas também para autoridade com foro por prerrogativa de função. ✓ Ações penais originárias: O ANPP é também aplicável às investigações relativas a ações penais originárias, de competência dos tribunais, conforme inclusão pela Lei nº. 13.964/2019 (art. 1°, §3°, da Lei n° 8.038/90). REQUISITOS PARA O OFERECIMENTO DO ANPP previsto no caput do art. 28- A: ❖ a) que não seja caso de arquivamento da investigação; Material elaborado por Andréa Paula Oliveira ❖ b) crime praticado sem violência ou grave ameaça à pessoa; ❖ c) crime punido com pena mínima inferior a 4 anos; ❖ d) confissão formal e circunstanciada; ❖ e) necessidade e suficiência do acordo para a reprovação e prevenção do crime. ANÁLISE DOS REQUISITOS: a) que não seja caso de arquivamento da investigação (justa causa, casos de denúncia, não de arquivamento): Trata da justa causa no processo penal. Nesse ponto, temos a investigação, que é um gênero em que temos várias espécies, dentre elas, o inquérito policial, que recebe tratamento próprio no processo penal, com suas especificidades, até chegar ao MP, no caso de ação pública. Vale relembrar que com a implementação do Juiz de Garantia, tramitará diretamente entre Delegado e MP sem a intermediação do Juiz, no caso de arquivamento ou não. Assim, quando o MP recebe o inquérito, ele pode pedir diligência (art. 16), oferecer a denúncia (art. 41CPP) ou ARQUIVAR. Agora temos o arquivamento na própria estrutura do MP, EM CONSONÂNCIA COM UMA ESTRUTURA ACUSATÓRIA, COM O SISTEMA ACUSATÓRIO DO 3º A (temos que estudar o sistema anterior e o sistema do Pacote Anticrime, porque, por ora, o sistema do ART. 28 do pacote anticrime está suspenso por decisão do Material elaborado por Andréa Paula Oliveira Ministro Luiz FUX, no dia 20 de janeiro de 2020, mas nós sabemos que o MP possui essas opções). Do mesmo modo, entendendo pela falta de justa causa (suporte probatório mínimo) para a denúncia, faltará justa causa para o acordo. O ANPP é uma alternativa ao oferecimento da denúncia, não uma alternativa ao arquivamento. O acordo não será possível se incidir excludentes de tipicidade, de ilicitude, de culpabilidade ou de punibilidade. b) crime praticado sem violência ou grave ameaça à pessoa: A finalidade da norma é a não existência de grave ameaça ou violência à pessoa. Não se aplicando aos casos de roubo, de estupro e de homicídio doloso. Já os delitos cometidos com violência à coisa (furto qualificado com rompimento de obstáculo ou destruição da coisa) são passíveis do acordo. Também temos uma discussão sobre a possibilidade de acordo nos crimes culposos. A doutrina entende ser cabível em crimes culposos, mesmo se ocorrendo violência ou grave ameaça no resultado. O importante é analisar se nesses crimes culposos, não apresentaram violência ou grave ameaça no momento da conduta, no momento da intenção, no momento do dolo do agente. c) crime punido com pena mínima inferior a 4 anos: Aqui, valem as observações feitas em comparação com o art. 89 da Lei 9.099/99: “Inferior a quatro anos” e não “igual ou inferior a quatro anos”. Devem ser consideradas as causas de aumento e de diminuição de pena. Material elaborado por Andréa Paula Oliveira No caso de aumento, deverá acrescentar o mínimo previsto. No caso de diminuição, deverá diminuir o máximo legal. § 1º Para aferição da pena mínima cominada ao delito a que se refere o caput deste artigo, serão consideradas as causas de aumento e diminuição aplicáveis ao caso concreto. APLICAÇÃO DA CAUSA DE AUMENTO E CAUSA DE DIMINUIÇÃO DA PENA MÍNIMA 1º. Se tenho um apena mínima e tenho que aplicar uma causa de aumento. Devo aumentar o máximo ou devo aumentar o mínimo? R- Aumento o mínimo Ex.: Tenho determinado delito e existe uma causa de aumento de 1/3 a 2/3. Quando for aumentar a pena mínima desse delito, tenho que aumentar, pelo mínimo, nesse exemplo, 1/3, para verificar a pena mínima. 2º. Quando trato de causa de diminuição, ex. causa de diminuição de 1/3 a 2/3, no momento de diminuir da pena mínima, devo diminuir pelo máximo para análise da pena mínima. • ATENÇÃO: Tratandode crime de tráfico de drogas, em regra, é impossível aplicar o ANPP, porque na forma simples (art. 33 da Lei 11.343/2006) é incompatível com Material elaborado por Andréa Paula Oliveira o instituto, por cominar pena mínima de 5 anos de reclusão; mas é cabível no caso de tráfico privilegiado (art. 33, §4°) com aplicação de causa de diminuição. CONCURSO FOMAL E CONTINUIDADE DELITIVA Temos, também, aqui no ANPP, de levar em consideração as causas de exasperação da pena. Na suspensão condicional do processo, temos dois entendimentos sumulados importantes: Súmula 723 do STF, analogicamente não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma da pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano. Súmula 243 do STJ Também por analogia, o benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano. Muita atenção! Não é correto afirmar que crime continuado é causa de aumento, porque é uma fase de unificação de pena, ou seja, não é terceira fase da dosimetria, apesar de ser uma fração de aumento. Material elaborado por Andréa Paula Oliveira Como é uma fração de aumento, seguindo a lógica anterior, devo aumentar pela fração mínima, que é 1/6 no crime continuado. É por esse motivo que a Súmula 723 do STF afirma isso. Ainda, sendo aplicável na Suspensão condicional do processo, deverá também ser aplicado de forma analógica no ANPP, do mesmo modo que a disciplina a Súmula 243 do STJ. Seja em concurso material (devemos somar as penas dos delitos do concurso material), seja em concurso formal impróprio (somar as penas mínimas dos delitos do concurso formal impróprio), seja em concurso formal próprio (exasperar a pena mínima do delito que está em concurso formal próprio), na continuidade delitiva (exasperar a pena mínima do delito que está em continuidade delitiva). Se desse resultado, a pena ultrapassar o limite legal, isto é, não for mais inferior a 4 anos, o ANPP não vai ser mais possível. Do mesmo modo, se mesmo após os cálculos anteriores, a pena continuar inferior a 4 anos, será possível o ANPP. Já falamos também da Súmula 337 do STJ. Analogicamente é cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão punitiva. Esse entendimento também deve ser aplicado para o ANPP. Nesse caso, o juiz deve demonstrar ao MP que houve a desclassificação, para que o MP possa efetuar análise da aplicação do ANPP. O mesmo ocorre com a procedência parcial da pretensão punitiva. Temos, ainda, como requisito do ANPP, a confissão formal e circunstanciada. d) confissão formal e circunstanciada: Material elaborado por Andréa Paula Oliveira Confissão é a admissão, no todo ou em parte, da imputação penal. Circunstanciada é a apresentação dos elementos da confissão, já falamos sobre eles na aula de hoje. Temos, na doutrina, aquela classificação da confissão simples e qualificada. No ANPP, a doutrina entende que basta a confissão simples. Na confissão qualificada, o indiciado assume o delito, mas apresenta argumentos para retirar a sua responsabilidade, então, ele não estaria assumindo a responsabilidade e, desse modo, não serve para fins de acordo. E se ele ficar em silêncio? Não serve para a confissão, ele precisa expor os elementos da confissão. A principal crítica é de que a obrigação de confessar imposta pela lei fere o princípio da presunção da inocência. O indiciado terá apresentado detalhes valiosos ao MP, o que dificultaria a sua defesa em uma fase processual. Outro questionamento importante que subsistiu em razão da comparação entre a Resolução do CNMP e o pacote anticrime foi sobre a possibilidade de aplicação do ANPP em crimes hediondos e equiparados. Não há vedação legal para crimes hediondos ou afins, desde que se adequem aos requisitos diversamente do que dispunha a Resolução 181/2017 do CNMP, alterada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018, daquele Conselho. Contudo, deverá o MP analisar se para a reprimenda e prevenção dos crimes hediondos é suficiente a utilização do ANPP ou se também entende pela vedação em razão da parte final da Resolução. Encerramos, aqui, o segundo bloco. Voltamos, em seguida, para continuar falando do ANPP. Parte 3/4 Material elaborado por Andréa Paula Oliveira Bom, pessoal, voltamos para o bloco nº 3, em que continuaremos a falar sobre ANPP. Antes de continuar o tema e passar a estudar as obrigações que podem ser impostas no benefício, acordos disciplinados nos incisos do artigo 28-A, vamos analisar a disposição que constava na Resolução 181 do CNMP, mas que não foi reproduzida no 28-A do CPP: Registrados pelos meios ou recursos de gravação audiovisual: A Resolução do CNMP determina que a confissão detalhada dos fatos e as tratativas do acordo devem ser registrados pelos meios e recursos de gravação audiovisual, destinados a obter maior fidelidade das informações. A Lei nº. 13.964/2019 não exigiu tais formalidades, mas que merecem ser observadas, na medida do possível. Apesar de não estar prevista na alteração do CPP, é uma conduta que deve ser adotada, até mesmo para o procedimento de confissão formal e circunstanciada, podendo constar no sistema áudio visual como forma de demonstrar que não houve uma imposição para o acordo, que subsistiram conversa, negociações e que o investigado não foi pressionada para celebração do acordo, e também para comprovar a regularidade das tratativas como forma de análise da voluntariedade no momento da homologação pelo juiz, para fins de validade daquilo que está sendo homologado por decisão judicial. O ideal é que realmente seja efetuada a gravação de todos os atos. A próxima questão se refere às obrigações/condições a serem cumpridas no ANPP e que estão dispostas nos incisos de I a V do art. 28-A: Material elaborado por Andréa Paula Oliveira Obrigações/condições (art. 28-A, incisos): I- Reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo: II-Renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito do crime; III-prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); IV- pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito. V-cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que proporcional e compatível com a infração penal imputada. Vale ressaltar que esse rol de obrigações é meramente exemplificativo, dependendo do crime, das condições habituais do investigado, podendo o MP apresentar outras proposições, tendo, portanto, discricionariedade na formulação dessas obrigações para serem ajustadas entre o investigado e sua defesa técnica. Material elaborado por Andréa Paula Oliveira Apenas será necessário ter cuidado com o disposto no inciso V, que, segundo a doutrina, serve como limite da discricionariedade do MP, que poderá apresentar outras condições, desde que compatíveis com o prazo estabelecido no inciso V, não podendo ser superior ao prazo estabelecido pelolegislador, como condição a ser cumprida no ANPP. 1- Reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo: O autor pode não dispor de recursos financeiros para tanto ou a coisa pode ter sido destruída, perdida ou transferida a outrem. A reparação/restituição poderá ser feita pelo autor do crime ou por terceiro em seu favor (pais, parentes) ou por quem retenha a coisa objeto do crime, de boa ou má-fé, visto que não se trata de pena. É possível a fixação de dano moral? A resposta deve ser positiva, em razão da mesma problemática já ter sido solucionada com relação à fixação do quantum mínimo na sentença penal condenatória. Temos, então, alguns parâmetros na jurisprudência para fixação do valor devido pelo dano moral e, tratando de acordo, pode ser conversado entre o investigado e sua defesa técnica. 2- Renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito do crime: É o Confisco aquiescido, ou seja, voluntariamente aceito pelo investigado: Material elaborado por Andréa Paula Oliveira • de objetos utilizados para executar a infração penal (instrumentos do crime); • de objetos conseguidos diretamente com a atividade criminosa (produto do crime); • de bens conseguidos com a utilização do produto criminoso (proveito do crime). 3- Prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); Esse tema lembra a disciplina do art. 44 e seguintes do CP, tratando de penas alternativas, penas restritivas de direito que substituem a pena privativa de liberdade. Vale ressaltar que o fato de incluir a prestação de serviços à comunidade no ANPP não deve ser estendido à vara de execuções penais, o acordo não representa uma pena. É um momento pré-processual. Nesse ponto, o legislador foi atécnico e esse problema deverá ser solucionado em sede jurisprudencial 4- Pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito. Material elaborado por Andréa Paula Oliveira A jurisprudência possui entendimento firmado de que não há óbice a que se estabeleçam em acordo (como no caso da suspensão condicional do processo), no prudente uso da faculdade judicial disposta no art. 89, § 2º, da Lei n. 9.099/1995, obrigações equivalentes, do ponto de vista prático, a sanções penais (tais como a prestação de serviços comunitários ou a prestação pecuniária), mas que, para os fins do benefício, se apresentam tão somente como condições para sua incidência. (Tese julgada pelo STJ sob o rito do art. 543-C do CPC/73 - TEMA 930 - AgRg no RHC 085835/PR; AgRg no RHC 083810/PR; RHC 084350/MG; RHC 064083/RS; HC 386626/SP; RHC 067813/RS; REsp 1498034/RS). Contradição ao dizer que será executado pelo juiz da execução penal: Condições e não sanção penal. Equívoco do legislador ao prever que o acordo deverá ser executado no juízo da execução penal. A sua execução deve ficar a cargo do Ministério Público ou do juízo de conhecimento. V- Cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que proporcional e compatível com a infração penal imputada. Material elaborado por Andréa Paula Oliveira O rol não é taxativo, mas exemplificativo, já que o MP poderá propor outras condições não previstas expressamente em lei, desde que proporcionais e compatíveis com a infração penal. O acordo está vedado para os seguintes casos (§2º): a) se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos termos da lei; b) se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéritas; c) ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infração, em acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do processo; d) os crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor. a) se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos termos da lei; Tratando-se de infração de menor potencial ofensivo (art. 61, Lei 9099/95): Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa. Material elaborado por Andréa Paula Oliveira b) se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéritas; Reincidente em crime doloso e culposo? “Conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéritas”. São questões subjetivas que precisam ser analisadas na prática. Certamente teremos grandes problemas de interpretação. c) ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infração, em acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do processo; Anotação na folha de antecedentes penais: não há reincidência nem maus antecedentes. Art. 76, § 4º, Lei 9.099/95: § 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos. d) os crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor. Material elaborado por Andréa Paula Oliveira Se aplicam aos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar (pouco importa, portanto, o sexo da vítima), como também aos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar contra a mulher. Quanto às infrações penais no contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher, há vedação de outros benefícios/acordos em razão da inaplicabilidade da Lei nº 9.099/95 a casos da Lei nº 11.343/06 (Lei Maria da Penha) (art. 41, Lei nº 11.343/06, STJ, Súmula 536; STF, ADI 4424 e ADC 19), razão pela qual a vedação se justifica. A vedação aos casos da Lei Maria da Penha para vedação de institutos despenalizadores é plenamente justificável face ao seu objetivo de reprimenda. Do mesmo modo, é incompatível a realização do ANPP. Ademais, a vítima não participa de nenhuma tratativa. Justiça Especializada (Militar e Eleitoral): A Resolução 181 do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), alterada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018, vedava o ANPP nos crimes militares que afetassem a hierarquia e a disciplina. Nos demais, o autorizava. A Lei nº. 13.964/19 não trata do assunto. Procedimento (§ § 3º e 4º): O acordo de não persecução penal será formalizado por escrito e será firmado pelo membro do Ministério Público, pelo investigado e por seu defensor, cuja homologação será realizada em audiência na qual o juiz deverá verificar a sua legalidade e voluntariedade, por meio da oitiva do investigado na presença do seu defensor. Material elaborado por Andréa Paula Oliveira O advogado é indispensávelà formalização do acordo (ampla defesa no processo penal – autodefesa e defesa técnica). Haverá, então, uma dupla aceitação defensiva. Primeiro, nas tratativas com o MP, e, em seguida, na audiência de homologação com o Juiz. Outro ponto polêmico é a possibilidade de o juiz recusar a homologação, ou se o MP se recusar a propor o ANPP, o juiz aplicará o art. 28, CPP (§ 14). Sugere a doutrina que se utilize, por analogia, o artigo 28, CPP. Vamos encerrar o bloco 3 e daqui a pouco voltamos para continuar falando sobre o ANPP. Parte 4/4 Bom, pessoal, voltamos, então, para o bloco 4. Antes, vimos como era a proposta, vimos a necessidade de uma homologação judicial, quando haverá uma audiência para verificação da voluntariedade, com a presença ou não do MP, pois a lei não a exige. Na prática, é feita com todos presentes, com a verificação dos requisitos legais subsistindo, então, a homologação pelo Juiz. Quando o juiz recebe essa formalização escrita do acordo, terá a opção de homologação, mas essa não é a única opção que a legislação estabelece, Veremos nos parágrafos seguintes: Ao analisar o ANPP, o juiz pode: a) Homologar o ANPP, devolvendo para início da execução no juiz da execução (§6º); Material elaborado por Andréa Paula Oliveira b) Se considerar inadequadas, insuficientes e abusivas as condições dispostas no ANPP, devolver os autos ao MP para que seja formulada a proposta do acordo, com concordância do investigado e seu defensor (§ 5º), ou o MP reabre as negociações ou oferece a denúncia-crime. c) Se entender que não é o caso de acordo, devolverá os autos ao MP para análise da necessidade de complementação das investigações ou o oferecimento da denúncia (§ 8º). Porém, se o MP discordar do juiz e insistir no ANPP, ele não quer oferecer denúncia. A Lei nº. 13.964/19 escolheu um caminho inconstitucional ao prever que recusando o juiz a homologação (§ 7º) as partes poderão interpor recurso em sentido estrito (art. 581, XXV, CPP). Viola o sistema acusatório (art. 3º-A, CPP) e a independência do MP (art. 129, CF). Essa previsão recursal é criticada pela doutrina, como por Rogério Sanches, alguns artigos do Conjur. Migalhas, Paulo Queiroz, etc. Eles criticam essa possibilidade de o juiz recusar efetivar a homologação por não concordar com o acordo no caso concreto. No sistema acusatório o Juiz poderá se imiscuir nesse mérito e dizer que não é o caso de acordo e quere obrigar que o MP ofereça Denúncia? No caso de recusa, o juiz deveria aplicar o caso do art. 28 e encaminhar para a própria Instituição MP decidir internamente, e não em fase judicial. Redação semelhante temos a do § 14. A qual, teria a mesma aplicação. Nesse caso, seria em sentido contrário, ou seja, o MP recusando efetivar o ANPP. Sabemos que a homologação se dá em audiência, mas o § 4º disciplina de forma genérica. Então, temos a seguinte indagação: Material elaborado por Andréa Paula Oliveira É admissível que o ANPP seja negociado e homologado na audiência de custódia (do art. 287 e art. 310 do CPP)? Temos, então, o § 7º do art. 18 da Resolução 181 do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), alterada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018, daquele Conselho, que previa expressamente a possibilidade de o acordo de não persecução penal, a ser celebrado na mesma oportunidade da audiência de custódia. Contudo, na atual redação do art. 28-A da Lei nº. 13.964/2019 não consta tal previsão. Alguns doutrinadores entendem que sim, visto que o Pacote Anticrime disciplinou genericamente o termo de audiência, sendo, então, possível na audiência de custódia. Nesse ponto, questionamos se de fato haveria a liberdade de negociar e autonomia da vontade no momento de euforia da prisão? Poderia negociar? Outro questionamento é se o acordo será feito ao longo da investigação, será que não seria necessário um tempo para negociação, e não no momento de até 24h da prisão? (ADPF 347, Res.213 CNJ, inserção do art. 310 pelo Pacote Anticrime). Ainda devemos aguardar a realização na prática. CONCURSO DE AGENTES: Material elaborado por Andréa Paula Oliveira Quando houver concurso de agentes (CP, art. 29), o acordo poderá ser firmado com todos os coautores e partícipes do crime ou somente com alguns deles. O ANPP poderá, portanto, tramitar simultaneamente com a ação penal. Comunicação do ato à vítima: § 9º A vítima será intimada da homologação do acordo de não persecução penal e de seu descumprimento. A vítima não participa das tratativas e da audiência de homologação, mas pode ser que, na prática, seja convocada para participar no caso de reparação, por exemplo, ou para analisar as condições do acordo, que será analisado caso a caso, para também evitar a revitimização. Será informada, do mesmo modo, quando houver arquivamento pelo MP, quando, nesse caso, poderá apresentar razões contra o arquivamento. O acordo não gera reincidência nem antecedentes criminais ao investigado e só será anotada para impedir a realização de novo acordo em 05 anos. A celebração e o cumprimento do acordo de não persecução penal não constarão de certidão de antecedentes criminais, exceto para os fins previstos no art. 28-A, §2º, III: III - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infração, em acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do processo; e Material elaborado por Andréa Paula Oliveira § 13. Cumprido integralmente o acordo de não persecução penal, o juízo competente decretará a extinção de punibilidade. Assim como ocorre na transação penal e na suspensão condicional do processo. Art. 28-A § 10 e 11 § 10. Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo de não persecução penal, o Ministério Público deverá comunicar ao juízo, para fins de sua rescisão e posterior oferecimento de denúncia. § 11. O descumprimento do acordo de não persecução penal pelo investigado também poderá ser utilizado pelo Ministério Público como justificativa para o eventual não oferecimento de suspensão condicional do processo. Vale ressaltar que o termo “poderá” do § 11 denota uma faculdade do MP, que dependerá do caso concreto para ser efetivado. Como a validade do acordo exige decisão judicial, a sua rescisão também exigirá decisão que assegure o contraditório. Desse modo, havendo descumprimento, deverá ser comunicado ao Juiz para que esse promova a rescisão do acordo. Além disso, será observado, nesse caso, os princípios do contraditório e da ampla defesa constitucionalmente determinados. A análise da rescisão Descumprimento e rescisão: Material elaborado por Andréa Paula Oliveira pressupõe a oitiva do investigado e da defesa técnica, e o acordo poderá continuar ou não, dependendo das justificativas apresentadas no caso concreto. Com a rescisão, volta a correr a prescrição. A rescisão poderá ser utilizada como justificativa para o eventual não oferecimento de suspensão condicional do processo pelo MP. Há possibilidade de Rescisão após decisão declaratória de extinção de punibilidade? Havendo a descoberta superveniente do descumprimento de alguma condição, após a decisão declaratória da extinção de punibilidade (§ 13º), pode haver rescisão? Sim, a decisão apenas reconhece um fato gerador que inexistiu. Situação parecida na suspensão condicional do processo do art. 89, § 5º da Lei 9.099/95 (STF, HC 95.683/GO; STJ, RHC 95.804/DF). Após a rescisão do acordo, o tempo de cumprimento das condições pode servir de detração penal? Não, visto que as condições do ANPP não possuem natureza de sanção penal. Ademais, a perda do referido tempo é consequência natural da desídia do investigado. Tratamos na aula de hoje de Acordo de Não Persecução Penal-ANPP, na próxima aula continuaremos conversando.Muito obrigada. Bons estudos a todos.
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